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Editorial

EDITORIAL

A revista Pro-Posições está em festa! Com o número 60, comemoram-se vinte anos de publicação ininterrupta deste periódico.

O artigo das professoras Agueda Bittencourt e Elizabeth Mercuri, o primeiro deste volume, traça os principais pontos da trajetória da revista - desde o início até os dias de hoje. Ao comentar as várias fases e as mudanças que marcaram esta publicação; os problemas e as soluções encontradas para superar dificuldades diversas; a situação atual e as perspectivas para o futuro, o texto traz informações valiosas e representa uma homenagem aos colegas que a conceberam, no final da década de 80 do século XX, bem como aos que, de diferentes formas, têm contribuído para seu aprimoramento nos últimos anos. E, aqui, salientamos o apoio da diretoria da Faculdade de Educação da Unicamp, os auxílios financeiros recebidos do CNPq e da Capes e os muitos colaboradores que participam, de diferentes formas e em diversos níveis, da seleção criteriosa do conteúdo, da produção e da divulgação deste periódico. Mencionar os colaboradores significa referirmo-nos ao trabalho consciencioso dos pareceristas; às diferentes tarefas dos editores associados, que se reúnem várias vezes por ano para a discussão de questões da política editorial e, incessantemente, são consultados para ler os artigos, debater os pareceres e decidir, enfim, o que será publicado; àqueles implicados diretamente na produção do objeto "revista" e na sua difusão por meio impresso ou digital: revisores e tradutores dos textos, criador da capa e do layout, encarregados da divulgação e disponibilização da revista on-line, e estagiários designados, por um período, para a realização de uma tarefa precisa. E, de maneira especial, não poderíamos esquecer o trabalho primoroso da atual editora executiva, Carmen Lúcia Rodrigues Arruda - a nossa Malu -, que, há muitos anos, coordena esses diferentes setores e zela pela boa comunicação entre todos.

Se a revista ocupa, hoje, um lugar de destaque, uma vez que é uma das cinco da área de educação a ter sido avaliada, no início do presente ano, como pertencente à categoria A1 pelo Qualis-Capes e se, desde o ano de 2008, foi incluída no prestigioso portal SciELO, sua consolidação constituiu-se, pouco a pouco, ao longo do tempo. Criada em um momento histórico fundamental de nosso país, uma década depois dos primeiros movimentos de abertura política, pós-regime militar, quando ainda eram escassas as publicações na área de Educação1 1. Muitas outras surgiram desde então, com duração variável, e hoje, conta-se com mais de mil publicações em Educação. , Pro-Posições - nome escolhido, depois de outros sugeridos - teve, no início, a finalidade precípua de divulgar a produção de nossa Faculdade. De fato, em ofício de 1989, o Prof. Dr. José Dias Sobrinho, então diretor da Faculdade de Educação, anunciava que, em maio de 1988, havia sido designada pela direção "uma Comissão com o objetivo de esboçar o ante-projeto de uma revista que servisse como veículo para a divulgação de nossa produção acadêmica". E a revista foi apresentada, no editorial do primeiro número, redigido pelo professor-diretor da Faculdade, como "uma forma de a universidade prestar contas de seu trabalho à sociedade". Constituiu-se, pois, em seus primórdios, como uma publicação "doméstica", com um comitê de redação, mas sem conselho editorial, sem que seus artigos passassem por pareceristas. Continha 70% de textos de autoria de professores ou alunos de pós- graduação de nossa Faculdade, porém, no momento atual, esse número não passa de 25%, ou seja, aproximadamente, o mesmo percentual que têm os autores estrangeiros.

Procurando consolidar-se, a revista transformou-se e passou a seguir padrões semelhantes aos de outras publicações desse gênero; contudo, é bastante significativo que, apenas depois de cinco anos de circulação, tenha sido estabelecido um conselho editorial, contando com a participação de professores estrangeiros. Durante cerca de sete anos - do número 2 ao número 22 - teve, como editor, o Prof. Dr. José Camilo dos Santos Filho, professor do então Departamento de Administração Escolar da Faculdade - Dase.

Uma crise de caráter, sobretudo, econômico sobreveio na revista - entre os números 22 e 34 -, provocando perda da periodicidade. Em meio a mudanças na política da Faculdade de Educação com a diretoria eleita em 1996, formada pelos professores Luiz Carlos de Freitas e Ana Luiza B. Smolka, imprimiram-se novos rumos a essa unidade. Com a preocupação em regularizar a publicação dos números atrasados, a nova direção priorizou, naquele momento, verbas destinadas a esse fim.

Entretanto, as mudanças deram-se pouco a pouco, em vários âmbitos, e a situação foi plenamente regularizada quando a direção da Faculdade de Educação passou às mãos da Profa. Dra. Agueda Bernardete Bittencourt, que assumiu a editoria da revista. Além de colocar em dia a produção do periódico, mudanças importantes foram introduzidas, como, por exemplo, a proposta de reformulação da Comissão Editorial. Foi também no período no qual a Professora Agueda esteve à frente da revista - 2000 a 2008 - que o Conselho Editorial2 2. A partir de 2008, os membros da Comissão Editorial passaram a ser denominados Editores Associados, e o Conselho Editorial expandiu-se ainda mais. se ampliou consideravelmente, com representantes de várias regiões do Brasil e do exterior. Ao mesmo tempo, foi sendo criada uma importante infraestrutura, o que tornou possível a introdução de novas formas de produção e divulgação da revista, com a contratação de pessoal especializado. Claro está que esse conjunto de reformulações procurou também levar em conta as exigências dos órgãos responsáveis pela avaliação de periódicos, em particular da Capes e do CNPq, que foram se tornando mais rigorosos devido ao grande aumento de publicações nos últimos anos e à necessidade de criar meios para distingui-las.

Em relação ao conteúdo, depois de um período de certa instabilidade, no qual surgiram algumas seções de curta duração, cada número passou a ser constituído por quatro seções: Artigos, Dossiê, Diverso e Prosa e Resenhas. Destas, a Diverso e Prosa, introduzida no número 41, encerra certa originalidade, pois visa a publicação de textos esgotados, inéditos ou que circularam apenas em língua estrangeira, assim como diferentes tipos de documentos que possam interessar aos pesquisadores; visando contemplar diferentes gêneros, foram publicadas cartas, artigos de jornais, resenhas críticas, mas também um testamento, uma oração de paraninfo, e até mesmo - com bela introdução de Telê Ancona Lopez - um cardápio de um jantar dos escritores modernistas que teve lugar em 1925, em São Paulo (cf. n. 55, 2008).

Em suma, no decorrer do tempo e graças ao empenho de todos os envolvidos em sua elaboração, Pro-Posições passou a usufruir de um reconhecimento cada vez maior e, hoje, seu prestígio ultrapassa nossas fronteiras, tendo se tornado um veículo aberto à divulgação de trabalhos realizados não apenas em diferentes regiões do Brasil, mas também em outros países; nesse sentido, há um destaque particular para as pesquisas empreendidas na América Latina, mesmo porque, desde sua criação, a revista publica os artigos desses países, em língua espanhola.

Estamos, porém, conscientes dos inúmeros desafios a serem superados em um futuro próximo. Vive-se em uma época muito distinta daquela em que Pro-Posições foi criada, e as novas tecnologias introduziram mudanças importantes nas formas de produção e de divulgação do conhecimento; houve, inevitavelmente, uma queda nas vendas de revistas e livros, já que o material antes impresso se tornou facilmente acessível por outros meios, em particular, os digitais. As questões que se colocam agora dizem respeito às formas de preservação do espaço já conquistado e aos caminhos a serem trilhados para a superação das dificuldades vindouras.

E uma das preocupações pode ser assim enunciada: como aprimorar a qualidade do conteúdo, introduzindo regras mais precisas para seleção do material a ser publicado, e, ao mesmo tempo, conservar uma característica essencial da revista, qual seja, a de permanecer aberta a propostas originais e inovadoras?

De qualquer forma, não há dúvidas de que Pro-Posições se constituiu como um elemento importante do patrimônio de nossa Faculdade e, como tal, merece um tratamento cuidadoso por parte dos responsáveis por sua produção e divulgação.

O dossiê organizado pelo Professor Wenceslao Machado de Oliveira Junior, A educação pelas imagens e suas geografias, congrega textos que, a partir de perspectivas teóricas diversas e análises de linguagens variadas - cartografia, cinema, pintura, desenhos, imageamento por satélite, entre outras - comenta e discute a construção do conhecimento em Geografia. Ao abordar essas linguagens, os textos tratam de questões como leitura, signos, sentidos e significados, espaço, realidade e representação, imaginação e olhar, entre muitas outras. Pela abrangência das pesquisas e pela diversidade dos modos de tratamento desses conceitos, os estudos apresentados ultrapassam a área específica da Geografia, despertam o interesse dos que elaboram trabalhos em diferentes campos do saber e trazem uma contribuição valiosa para uma reflexão aprofundada sobre temas educacionais.

Os três artigos abordam questões de grande importância: um deles analisa aspectos da amizade entre crianças e adultos, tais como apresentados em dois filmes, um brasileiro, outro espanhol; outro trata da iniciação clownesca ou, mais especificamente, do corpo clownesco e suas implicações, a partir de práticas do Lume, grupo de pesquisas teatrais da Unicamp; um terceiro discute as noções de infância e criança e as conseqüências de uma revisão de tais noções para repensar a educação infantil.

Na sessão de Resenhas, Karin Quast, cuja tese de doutorado, defendida neste ano, levou-a a esmiuçar o bem conhecido e controvertido conceito de linguagem egocêntrica, caro a Piaget e Vygotski, demonstra que, apesar da existência de inúmeros trabalhos sobre esse tema, o livro de Karen Junefeld - Rethinking egocentric speech: towards a new hypothesis - lança novas luzes ao seu entendimento.

Neste número, a seção Diverso e Prosa inova, ao apresentar, pela primeira vez, uma entrevista; escolheu-se, para essa ocasião, a Professora Dra. Marlyse Meyer, aposentada do Instituto de Artes da Unicamp, que também dedicou muitos anos de sua vida profissional às atividades de ensino e pesquisa na Universidade de São Paulo. Com graduação e doutorado nessa instituição, lá trabalhou durante muitos anos, razão que lhe valeu o título de professora emérita, outorgado recentemente, em cerimônia solene, tendo como "padrinhos" nada menos do que os Professores Antonio Cândido e José Artur Giannotti. Em companhia da Professora Vilma Arêas, que também redigiu uma breve apresentação à entrevista, estivemos com Marlyse em sua residência em São Paulo, ocasião em que foram relembrados alguns dos múltiplos aspectos de sua carreira profissional, aliados às vicissitudes de sua vida pessoal e de circunstâncias sociais e políticas do Brasil e do mundo. Além do valor inestimável de seu trabalho que se embrenhou por diferentes áreas - Sociologia, Antropologia, Artes Cênicas, Cultura Popular e, claro, Literatura, seu campo de origem -, Marlyse representa uma geração de professores engajados política e culturalmente, em momentos difíceis da conjuntura do País, e possui também, como muitos de seus colegas e discípulos assinalaram, uma independência intelectual ímpar e um estilo de escrita peculiar, muito original. E, ao lhe perguntarem o que ela faz, ela responde: "eu digo que trabalho num eixo e esse eixo, em torno do qual circulo, é a Cultura Brasileira". Interessante que este seja o campo pelo qual transita essa senhora loira, de belos olhos verdes, filha de franceses alsacianos que se sente e é, de fato, uma autêntica brasileira.

Luci Banks-Leite

  • 1.
    Muitas outras surgiram desde então, com duração variável, e hoje, conta-se com mais de mil publicações em Educação.
  • 2.
    A partir de 2008, os membros da Comissão Editorial passaram a ser denominados
    Editores Associados, e o Conselho Editorial expandiu-se ainda mais.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      17 Set 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 2009
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