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Contribuições do Contra-Édipo Parental na clínica com adolescentes

Contributions of Parental Contra Oedipus in the psychotherapy with adolescents

Contributions du Contre-Œdipe Parental à l’clinique avec des adolescents

Resumo

O objetivo desta pesquisa é compreender as contribuições do conceito Contra-Édipo Parental na clínica com adolescentes. Uma revisão bibliográfica sobre o conceito é realizada para que, posteriormente, se discutam suas dimensões clínicas na adolescência. Propõe-se que a integração e a análise desse conceito possam contribuir no trabalho clínico com adolescentes e seus pais, problematizando suas noções de responsabilidade no processo adolescente, para avançar a uma visão abrangente e analítica que integre os elementos subjetivos e históricos dos pais como uma dimensão relevante da psicoterapia com adolescentes.

Palavras-chave:
adolescência; Contra-Édipo Parental; paternidade

Abstract

The aim of this research is understanding the contributions that Parental Contra Oedipus has in the adolescents psychotherapy. A literatura review is made about this concept to discuss subsequently its clinical dimensions in adolescence. An analysis of the concept could allow a problematization of the responsability idea related to the parenthood, with the aim of discussing a more analitic framework, which can include subjetives and historical elements of the parents as relevant dimension of the adolescences psychotherapy.

Keywords:
adolescence; Parental Contra Oedipus; parenthood

Résumé

L’objectif de ce travail de recherche est de comprendre les contributions apportées par le concept de Contre-Œdipe Parental à l’clinique avec des adolescents. Une analyse de la littérature existante sur ce concept est réalisée pour ensuite discuter de ses dimensions cliniques pendant l’adolescence. Cette étude avance que l’intégration et l’analyse de ce concept peuvent contribuer au travail clinique avec des adolescents et leurs parents, en soulevant les problématiques relatives aux notions de responsabilisation des parents dans le processus adolescent, pour acquérir une vision étendue et analytique qui intègre les éléments subjectifs et historiques des parents comme une dimension pertinente de la psychothérapie avec des adolescents.

Mots-clés:
adolescence; Contre-Oedipe Parental; parentalité

Resumen

El objetivo de esta investigación es comprender las contribuciones que el concepto Contra-Edipo Parental tiene en la clínica con adolescentes. Se realiza una revisión bibliográfica sobre el concepto para posteriormente discutir sus dimensiones clínicas en la adolescencia. Se propone que la integración y análisis de este concepto puede contribuir en el trabajo clínico con adolescentes y sus padres, problematizando las nociones de responsabilización de los padres en el proceso adolescente, para pasar a una mirada comprensiva y analítica que integre los elementos subjetivos e históricos de los padres como una dimensión relevante de la psicoterapia con adolescentes.

Palabras clave:
adolescencia; Contra-Edipo parental; parentalidad

Lugar dos pais na clínica com adolescentes

A adolescência implica diversas transformações e elaborações psíquicas e intersubjetivas que são construídas a partir das mudanças corporais associadas à puberdade. Nessas elaborações, o lugar dos pais foi considerado extremamente importante, seja por causa dos elementos identificadores que são colocados em jogo (Jeammet, 1995Jeammet, P. (1995). La identidad y sus trastornos en la adolescencia. Revista de la Sociedad Española de Psiquiatría y Psicoterapia del Niño y del Adolescente, (19-20), 161-177.; Rother de Hornstein, 2006Rother de Hornstein, M. (2006). Adolescencias: Trayectorias turbulentas. Buenos Aires: Paidos.), como também por causa da dinâmica psíquica (Cornejo, 2015Cornejo, R. (2015). Temporalidad psíquica y subjetivación en la adolescencia. Revista Latinoamericana de Psicopatología Fundamental, 18(1), 62-73. doi: 10.1590/1415-4714.2015v18n1p62.5
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) e intersubjetiva entre pais e filhos adolescentes no trabalho clínico (Fernández, 2018Fernández, D. (2018). Análisis psicoanalítico sobre las problemáticas en la identificación con la función parental en la adolescencia: la transición hacia la adultez como un espacio de transformación. Revista Latinoamericana de Psicopatología Fundamental, 21(4), 761-778. doi: 10.1590/1415-4714.2018v21n4p761.5
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; Marty, 2001Marty, F. (2001). Les parents face au risque de la violence des enfants et des adolescents. Le Carnet PSY, 64(4), 25-33. doi: 10.3917/lcp.064.0025
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, 2005Marty, F. (2005). Hacia una tercera anamorfosis en la teoría de la sexualidad. In A. Birraux, M. Frioni, A. Ginés, P. Huerre, L. Kancyper, D. Lauru, ... M. Viñar, Adolescentes hoy en la frontera entre lo psíquico y lo social (pp. 14-21). Montevideo: Trilce., 2009aMarty, F. (2009a). La adolescencia como experiencia límite. In A. Bilbao & I. Morlans, Subjetivación, adolescencia, institución: psicopatología clínica y social (pp. 61-86). Santiago: LOM Impresiones.; Richard, 2009Richard, F. (2009). Adolescencia y nuevo malestar en la cultura. In A. Bilbao & I. Morlans, Subjetivización, adolescencia, institución: Psicopatología clínica y social. Santiago: LOM Impresiones.).

O relato dos pais sobre a vida de seu filho e sua própria vida é relevante para pensar sobre os meios de identificação que foram propostos ao adolescente, os desejos que foram praticados com ele, as possibilidades de transmitir ou não um desejo de que ele viva e cresça. De fato, para Dolto (1981aDolto, F. (1981a). La dificultad de vivir 1: familia y sentimientos. Barcelona: Gedisa.), os possíveis distúrbios que as crianças e adolescentes apresentam são personificações de conflitos parentais: “A criança é aquela que inconscientemente suporta o peso das tensões e interferências da dinâmica emocional-sexual inconsciente de seus pais, cujo efeito de contaminação mórbida é tanto mais intenso quanto maior o silêncio e o sigilo guardado sobre elas” (p. 15). A criança e o adolescente, se tornaria o porta-voz de seus pais, assumindo as dificuldades dos pais, o que denotaria um fracasso em sua função.

A autora acrescenta que a estruturação não patológica dos pais é fundamental para o desenvolvimento adequado da criança e do adolescente, assim como o sentimento de culpa que os pais frequentemente trazem para as entrevistas preliminares: “Eles podem se sentir culpados quando, de fato, são apenas responsáveis ocasionais, assim como o motorista de um veículo que perdeu a direção por causa de um pneu furado ou de uma colisão pode causar acidentes” (Dolto, 1981aDolto, F. (1981a). La dificultad de vivir 1: familia y sentimientos. Barcelona: Gedisa., p. 32). Isso não significa que não exista um culpado, mas sim que os pais e seus filhos são participantes dinâmicos, não dissociados pelas ressonâncias inconscientes da libido.

Historicamente, os pais têm sido descritos como parte dos processos de constituição psíquica, como o espaço original do qual a criança herda não apenas um nome, mas também o material psíquico que torna possível sua filiação, assim como os elos subjacentes e os investimentos narcisistas, as declarações de proibições, a constituição de objetos, os elos de identificação e as estruturas básicas do ego e do superego (Käes, 1996Käes, R. (1996). Introducción al concepto de trasmisión psíquica en el pensamiento de Freud. In R. Käes, H. Faimberg, M. Enriquez, & J. Baranes, Transmisión de la vida psíquica entre generaciones (pp. 31-74). Buenos Aires: Amorrortu.).

Durante a adolescência, os pais continuam a ser figuras tão relevantes quanto no desenvolvimento inicial, sendo participantes dos processos de constituição psíquica de seus filhos. Dentro das funções parentais na adolescência, destaca-se o funcionamento do apoio narcisista (Marty, 2007Marty, F. (2007). Soutiens narcissiques à l’adolescence. Le Journal des Psychologues, 245(2), 22-27. doi: 10.3917/jdp.245.0022
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), bem como a função de interdição edípica (Dolto, 1973Dolto, F. (1973). El caso Dominique. Buenos Aires: Siglo XXI Editores.; 1988Dolto, F. (1988). La causa de los adolescentes. Barcelona: Editorial Seix Barral.). Tais funções têm sido relacionadas às tarefas psíquicas relacionadas à elaboração da fragilidade (Le Breton, 2012Le Breton, D. (2012). La edad solitaria: adolescencia y sufrimiento. Santiago: LOM Editores.; Piccini, Barrionuevo, & Vega, 2007Piccini, M., Barrionuevo, J., & Vega, V. (2007). Escritos psicoanalíticos sobre adolescencia. Buenos Aires: Eudeba.) e à violência puberal (Gutton, 1993Gutton, P. (1993). Lo puberal. Buenos Aires: Amorrortu.; Rassial, 1999Rassial, J. (1999). El pasaje adolescente: de la familia al vínculo social. Barcelona: Ediciones del Serbal.) enquanto processos psíquicos descritos no desenvolvimento adolescente.

No entanto, atualmente, são descritas dificuldades com relação à função dos pais, que seriam causadas pela falta de elaboração, apoio ou interdição que os pais realizariam na infância e adolescência. Para Wettengel (2009Wettengell, L. (2009). Trazando surcos: el trabajo de la parentalidad. In L. Wettengel, G. Untoiglich, G. Szyber, J. Tallis, M. Rojas, & L. Kauffmann , Patologías actuales en la infancia: bordes y desbordes en clínica y educación (pp. 35-52). Buenos Aires: Noveduc.), a transmissão da normatividade pelas figuras parentais tornou-se atualmente mais errática, comprometendo o exercício de seus papéis e funções. Assim, dentro deste cenário atual, onde surgem novas modalidades de sofrimento psíquico adolescente (Nasio, 2012Nasio, J. (2012). ¿Cómo actuar con un adolescente difícil? Consejos para padres y profesionales. Buenos Aires: Paidos.), a questão sobre os pais na clínica torna-se relevante.

Desse modo, surge a questão sobre o lugar dos pais na construção da subjetividade e do psiquismo de seus filhos, uma tarefa complexa que desafia os pais no dia a dia. Mannoni (1984Mannoni, O. (1984). ¿Es analizable la adolescencia? In O. Mannoni, A. Deluz, B. Gibello, & J. Hébrard (Eds.), La crisis de la Adolescencia (pp. 17-30). Barcelona: Gedisa.) é crítico sobre a ausência de acompanhamento parental em nossa sociedade, mostrando a falta de aparato sociocultural dos adultos para a passagem da infância à adolescência. A partir de um aspecto social - como porta-vozes da cultura, num nível mais pessoal, como sujeitos responsáveis pela subjetividade da criança e pela elaboração psíquica dos adolescentes - os pais são expostos como os principais responsáveis por esses processos, bem como por seus possíveis fracassos.

As instabilidades do contexto atual e as transformações da família, que vai de um modelo nuclear à ideia da diversidade de formas de construção da função parental (Rojas, 2009Rojas. M. (2009). Niñez y familia hoy: las problemáticas del desamparo. In L. Wettengel, G. Untoiglich, G. Szyber, J. Tallis, M. Rojas, & L. Kauffmann, Patologías actuales en la infancia: bordes y desbordes en clínica y educación (pp. 77-93). Buenos Aires, Noveduc.; Roudinesco, 2004Roudinesco, E. (2004). La familia en desorden. Barcelona: Anagrama.), implicam novas formas de pensar sobre o lugar dos pais (Féres-Carneiro & Seixas, 2014Féres-Carneiro, T., & Seixas, A. (2014). Transformaciones de la parentalidad: la clínica con familias separadas y con familias reconstituidas. Subjetividad y Procesos Cognitivos, 18(1), 104-121. Recuperado de https://bit.ly/3cnEmCk
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; Negri, 2006Negri, M. (2006). Nuevos lazos familiares. Anales de las Jornadas Anuales de la Escuela de Orientación Lacaniana, Buenos Aires, 15. Recuperado desde http://www.eol.org.ar/template.asp?Sec=jornadas&SubSec=jornadas_eol&File=jornadas_eol/015/apertura/negri.html
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). Dentro da abordagem destas mudanças contextuais, surge o conceito de parentalidade, um neologismo que procura analisar a função parental (Brousse, 2005Brousse, M. (2005). Un neologismo de actualidad: la parentalidad. La cause freudienne 60. Recuperado de https://bit.ly/3w27Zko
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; Martin, 2005Martin, C. (2005). La parentalidad: controversias en torno de un problema público. Revista de Estudios de Género La Ventana, (22), 7-34.), as mudanças na estrutura da família atual, assim como seus aspectos culturais (Calonne, 2016Calonne, C. (2016). Parentalité regards croisés: journée thématique du 29 janvier 2016. Recuperado de https://anpase.fr
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). A parentalidade implica um exercício complexo, que pode ser conceituado de acordo com três eixos: a prática da parentalidade, o exercício da parentalidade e a experiência da parentalidade (Houzel, 2004Houzel, D. (2004). Los retos de la parentalidad. In L. Solís-Ponton, La parentalidad: Desafío para el tercer milenio (pp. 27-31). Ciudad de México: Editorial Manual Moderno.).

Entre as contribuições destas novas concepções da função parental, destaca-se a relevância dada às próprias elaborações e subjetividades dos pais, assim como seus conflitos e história na dinâmica intersubjetiva com seus filhos. Janin (2013Janin, B. (2013). Intervenciones en la clínica psicoanalítica con niños. Buenos Aires: Centro de Publicaciones Educativas y Material Didáctico.) afirma que o vínculo dos pais com o filho é um dos vínculos humanos mais conflituosos, ambivalentes e difíceis, e que o nascimento de uma criança sempre determina uma espécie de abalo interno que implica uma reorganização representacional. Nesta reorganização este filho ocupará um lugar particular, ligado a outros significativos, mas também se trata de uma reorganização na qual a representação dos outros e de si mesmo sofrerá um impacto transformador.

Embora o conceito de parentalidade tenha sido amplamente revisado dentro da literatura atual, tanto da psicanálise (Fréjaville, 2002Fréjaville, A. (2002). Œdipe, ses complexes et notre époque. Revue Française de Psychanalyse, 66(1), 129-144. doi: 10.3917/rfp.661.0129
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; Kuras de Mauer & May, 2004) como de outras correntes de intervenções psicoterapêuticas (Araujo, 2019Araujo, C. (2019). Transition to parenthood: consequences on health and well-being: a qualitative study. Enfermería Clínica, 29(4), 225-233. doi: 10.1016/j.enfcli.2018.04.005
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; Pérez, & Santelices, 2017Pérez, F., & Santelices, M. (2017). Alianza tríadica familiar y salud mental parental. Terapia Psicológica, 35(1), 23-33. doi: 10.4067/S0718-48082017000100003
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), psicoeducacionais (Rodrigo, 2016Rodrigo, M. (2016). Qualitaty of implementation in evidence-based positive parenging programs in Spain: introduction to the special issue. Psychosocial Intervention, 25(2), 63-68. doi: 10.1016/j.psi.2016.02.004
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); Simpson & Rholes, 2015Simpson, J., & Rholes, S. (2015). Attachment theory and research: New directions and emerging themes. New York: The Guilford Press.) ou sob a figura das competências parentais (Barudy & Dantagnan, 2007Barudy, J., & Dantagnan, M. (2010). Los desafíos invisibles de ser madre o padre: manual de evaluación de las competencias y la resilencia parental. Barcelona: Gedisa.; Rosser, Suriá, & Mateo, 2018Rosser, A., Suriá, R., & Mateo, M. (2018). Problemas de conducta infantil y competencias parentales en madres en contextos de violencia de género. Gaceta Sanitaria, 32(1), 35-40. Recuperado de https://medes.com/publication/126699
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), não é o único conceito que foi desenvolvido para procurar entender em profundidade a dinâmica da função parental na clínica atual. Outro conceito que emerge, embora com menos frequência do que a ideia de parentalidade, é o do Contra-Édipo Parental, que busca integrar a dimensão psíquica dos próprios pais com relação ao exercício parental, especialmente em um determinado momento: a adolescência de seus filhos.

A adolescência seria o momento em que os adolescentes enfrentam pais que experimentam sentimentos de fragilidade (Marty, 2009aMarty, F. (2009a). La adolescencia como experiencia límite. In A. Bilbao & I. Morlans, Subjetivación, adolescencia, institución: psicopatología clínica y social (pp. 61-86). Santiago: LOM Impresiones.), havendo uma configuração particular em torno da identidade das figuras parentais, suas fantasias, desejos e história, que entra em jogo de forma dinâmica diante da adolescência de seus filhos. Os pais não são apenas participantes ativos nos processos de constituição subjetiva dos filhos, cujos efeitos no espaço psíquico são parte da subjetividade desses filhos. Sua participação nos processos de reconstrução subjetiva e de identidade durante a adolescência dos filhos é significativa, pois o surgimento do puberal reprime o infantil (Marty, 2005Marty, F. (2005). Hacia una tercera anamorfosis en la teoría de la sexualidad. In A. Birraux, M. Frioni, A. Ginés, P. Huerre, L. Kancyper, D. Lauru, ... M. Viñar, Adolescentes hoy en la frontera entre lo psíquico y lo social (pp. 14-21). Montevideo: Trilce.). Este dinamismo também se manifesta no intersubjetivo, dando lugar à questão de como a subjetividade e o psiquismo parental são reconstruídos diante do surgimento da puberdade.

O importante lugar que os pais têm na literatura sobre a adolescência dos filhos não fala apenas de um processo linear, mas de uma dinâmica sob a qual as figuras parentais enfrentam diferentes questões e processos específicos desta condição. Neste contexto, torna-se relevante rever e analisar o surgimento do conceito “Contra-Édipo Parental”, bem como suas implicações e possíveis contribuições na atual clínica com adolescentes.

Surgimento do conceito de “Contra-Édipo Parental”

Marcelli, Braconnier e Tandonnet (2018Marcelli, D., Braconnier, A., & Tandonnet, L. (2018). Adolescence et psychopathologie. Paris: Elsevier Masson.) definem o Contra-Édipo Parental como “o conjunto de pulsões, defesas, investimentos e contrainvestimentos mobilizados no inconsciente parental pelo surgimento da sexualidade no corpo das crianças” (p. 277).

Para Marty (2009bMarty, F. (2009b). ¿La psychothérapie psychanalytique d’adolescent existe-t-elle? Le Carnet PSY, 135(4), 22-29. doi: 10.3917/lcp.135.0022
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), o Contra-Édipo Parental está relacionado a como o renascimento edípico do adolescente mobilizaria a remobilização edípica por parte dos pais como a geração precedente. Esta crise edípica pode causar, agravar ou revelar deficiências na vida do parceiro parental. Um exemplo seria a ocorrência de crises conjugais em torno da crise na adolescência de um dos filhos ou filhas, situações em que o adolescente, sobrecarregado por suas próprias fantasias, não encontra no ambiente parental o apoio de suporte narcisista requerido: “Seus pais são incapazes de impedir o adolescente de viver ou fazer, levantando uma série de questões que lembram o estado de sua própria adolescência” (Marty, 2009bMarty, F. (2009b). ¿La psychothérapie psychanalytique d’adolescent existe-t-elle? Le Carnet PSY, 135(4), 22-29. doi: 10.3917/lcp.135.0022
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, p. 27). Assim, a adolescência dos filhos desperta nos pais períodos de vida ou conflitos que haviam sido reprimidos ou permanecido latentes (Dolto, 1988Dolto, F. (1988). La causa de los adolescentes. Barcelona: Editorial Seix Barral.) e os empurra para um trabalho psíquico de luto pela perda de seu filho (Gacek, 2012Gacek, M. (2012). L’adolescence des enfants a-t-elle un impact sur la sexualité du couple? Recuperado de https://bit.ly/3lVNam3
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).

Neste momento, os pais recuperariam sua adolescência se mostrariam como frágeis, desamparados, justamente num momento em que o adolescente está vivendo pela primeira vez. Isso seria o oposto do que os filhos adolescentes esperariam, já que sua própria condição de fragilidade e desamparo os faz esperar ver seus pais vivendo a plenitude de suas vidas, engajados na vida pública, dando sentido a suas vidas. Portanto: “O importante é que o pai e a mãe façam bem o que fazem, sem prejuízo de que o adolescente desenvolva até mesmo um certo humor ou uma certa complacência divertida” (Dolto, 1988Dolto, F. (1988). La causa de los adolescentes. Barcelona: Editorial Seix Barral., p. 41).

O Contra-Édipo Parental aparece como um conceito recente na pesquisa psicanalítica. Entretanto, o surgimento de elementos edípicos e subjetivos dos próprios pais, no que se refere às experiências e desenvolvimento de seus filhos, foram previamente explorados por diferentes autores dentro da teoria psicanalítica, podendo ser considerados como referência para a compreensão e construção deste conceito. Freud (1914Freud, S. (1914). Introducción al narcisismo. In Obras completas (Vol. 14, pp. 71-8). Buenos Aires: Amorrortu.) apresenta um relato de como o nascimento do bebê reativa o narcisismo parental, que é trazido à cena nos processos de desenvolvimento precoce, em que o amor que os pais mostrariam por seus filhos responderia ao renascimento de seu próprio narcisismo e amor parental por si mesmos. Os pais alocariam na criança os seus próprios ideais -característicos da história e subjetividade dos próprios pais - com os quais a criança se identificará. Além disso, Freud (1908 [1909]Freud, S. (1908 [1909]). La novela familiar del neurótico. In Obras completas (Vol. 9, pp. 217-220). Buenos Aires: Amorrortu.) realizou vários estudos sobre os processos de transmissão da vida psíquica, destacando a transmissão das relações de objetos e identificações entre gerações, propondo a noção de um psiquismo histórico e relacionado às gerações anteriores.

Outro exemplo é o trabalho feito por Winnicott, que concentra suas teorizações em torno da mãe e expõe o conceito de preocupação materna primária (Winnicott 1956Winnicott, D. (1956). Escritos de pediatría y psicoanálisis. Barcelona: Paidos.), aludindo às modificações psicofisiológicas que a mãe sofre para estar em sintonia com o bebê, o que implica mudanças em torno de sua própria subjetividade e psiquismo. Além disso, o mesmo autor se refere ao processo de questionamento que os pais experimentam durante a adolescência de seus filhos, baseado na ideia do adolescente em relação ao seu ambiente, no confronto com os pais e na importância de os pais tolerarem esses ataques (Winnicott, 1979Winnicott, D. (1979). Realidad y juego. Barcelona: Gedisa.).

Houzel (2004Houzel, D. (2004). Los retos de la parentalidad. In L. Solís-Ponton, La parentalidad: Desafío para el tercer milenio (pp. 27-31). Ciudad de México: Editorial Manual Moderno.), ao expor a ideia dos eixos da parentalidade, descreve que um desses eixos corresponde à experiência da parentalidade. A experiência da parentalidade refere-se à experiência subjetiva consciente e inconsciente das pessoas sobre o fato de se tornarem pais e assumirem papéis parentais que envolvem muitos aspectos, que podem ser reagrupados no anseio pela criança e na transição da parentalidade ou da parentificação. Em relação ao anseio pelo filho, o autor levanta questões sobre os movimentos psíquicos e afetivos que ocorrem no desejo das pessoas de se tornarem pais. O investimento narcisista está relacionado à correspondência de elementos dos objetos que são investidos, o que inclui o filho (Houzel, 1999Houzel, D. (1999). Les enjeux de la parentalité. Paris: Editions Eres.).

Finalmente, Marty (2009bMarty, F. (2009b). ¿La psychothérapie psychanalytique d’adolescent existe-t-elle? Le Carnet PSY, 135(4), 22-29. doi: 10.3917/lcp.135.0022
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) descreve Lebovici como um precursor do conceito do Contra-Édipo Parental, embora este autor não tenha apresentado este conceito explicitamente em seus textos. No entanto, é possível encontrar fundamentos importantes no autor a respeito da dimensão subjetiva da função parental. Um exemplo é o trabalho de Lebovici (1993Lebovici, S. (1993). On intergenerational transmission: from filiation to affiliation. Infant Mental Health Journal, 13(4), 260-272. doi: 10.1002/1097-0355(199324)14:4<260::AID-IMHJ2280140402>3.0.CO;2-Z
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) sobre a transmissão intergeracional de vínculo, focalizando suas análises nos conflitos infantis paternos, incluindo as dinâmicas geracionais da criança, de seus pais e dos pais de seus pais. Nas problemáticas dos filhos surgem conflitos reprimidos da própria infância dos pais (Lebovici & Weil-Halpern, 1995Lebovici, S., & Weil-Halpern, F. (1995). La psicopatología del bebé. Ciudad de México: Siglo XXI Editores.). Sua proposta da “árvore da vida” mostra que para o autor não é possível pensar em problemáticas psíquicas se diferentes gerações familiares não forem incluídas, inserindo os avós no trabalho clínico, pois eles ajudariam a entender e resolver os conflitos edípicos dos próprios pais que são colocados em jogo na relação com seus filhos.

Neste ponto, surge o problema de pensar em que momentos históricos os pais e seus filhos viveram a adolescência, questionando-se essa vivência e passagem à vida adulta, tendo em conta as condições e mudanças socioeconômicas e culturais, além de mudanças na família, nas condições sociais do trabalho, na experiência da sexualidade, na mediatização da vida privada etc. Ao mesmo tempo, é possível notar como um fundamento relevante da ideia de Contra-Édipo Parental tem relação com a dimensão de conflito que parece surgir na relação dos pais com o psiquismo de seus filhos, o que adquire particularidades na adolescência, a partir da compreensão do processo puberal.

Contra-Édipo Parental: relação com violência puberal e fragilidade

A função da paternidade é marcada por diferentes variáveis que constituem sua particularidade, dentro das quais encontramos aspectos bastante específicos da história dos pais, bem como aspectos contextuais nos quais os pais surgiram como sujeitos. Desta forma, os pais, em seu papel de adultos que devem se manter em face da agressividade adolescente, experimentam sentimentos de fragilidade, não tanto pelo impacto de um confronto direto, mas sim porque este momento os move para sua própria história, para aquilo que os pais silenciaram em relação a sua adolescência.

Para Marty (2001Marty, F. (2001). Les parents face au risque de la violence des enfants et des adolescents. Le Carnet PSY, 64(4), 25-33. doi: 10.3917/lcp.064.0025
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), os pais desempenham um papel fundamental e insubstituível no desenvolvimento da violência na adolescência. Os pais, por sua vez, devem sobreviver aos ataques destrutivos dos adolescentes, como sugerido por Winnicott (1979Winnicott, D. (1979). Realidad y juego. Barcelona: Gedisa.), para que os adolescentes possam superar a culpa resultante de sua energia destrutiva ou violência. Quando os pais são atacados pelos adolescentes, se eles se sentem ameaçados - ou seja, se parecem frágeis - eles induzem à sensação de que esses ataques são irreparáveis, o que traz à tona a consciência de culpa para o adolescente.

A violência adolescente expressaria, no caso de os pais se mostrarem realmente afetados pela agressão adolescente, que os pais não puderam manifestar sua própria adolescência na relação com seus pais. Desta forma, a violência adolescente se referiria a seus avós, “como se a operação simbólica do assassinato do pai não tivesse sido resolvida em uma geração anterior, como se a violência puberal dos pais não tivesse sido expressa ou elaborada” (Marty, 2001Marty, F. (2001). Les parents face au risque de la violence des enfants et des adolescents. Le Carnet PSY, 64(4), 25-33. doi: 10.3917/lcp.064.0025
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, p. 29).

A violência adolescente comemoraria o desempenho, no nível do manifesto, do que os pais puderam viver em relação a seus próprios pais. Ao agredir seus pais, os adolescentes exploram um caminho diferente do que seus pais lhes ofereceram, retomando o caminho que teria sido insuficientemente desenvolvido psiquicamente por seus pais, esperando encontrar apoio narcisista para sua expressão de violência. Essa capacidade seria um sinal de que os pais podem enfrentar nesse momento o que não puderam enfrentar com seus próprios pais.

A proposta da adolescência apenas como violência puberal que deve ser contida e que busca a morte simbólica dos pais deixa de lado os aspectos mais criativos e transformadores da adolescência: “Durante a adolescência, o desenvolvimento de uma disposição progressiva para o amor é, em minha opinião, um indicador confiável de um reposicionamento libidinal e narcisista que nos fala de um processo que está indo bem. Os casos de amor adolescente, aqueles que ocorrem no decorrer de uma análise - mesmo que muitas vezes dificultem as coisas - são também um testemunho fiel de seu progresso” (Varela, 2004Varela, G. (2004). El amor en la adolescencia (Los adolescentes que no pueden amar). Revista Uruguaya de Psicoanálisis, (99), 132-152., p. 134). Isto pode mobilizar novas perspectivas de conflito nos pais.

Desta forma, a força de pulsão também pode ser entendida com base no amor, como um impulso de vida que busca transformação e criatividade. A complementaridade dessas duas forças é a base para compreender o desenvolvimento psíquico do adolescente, não apenas do ponto de vista de um impulso bastante destrutivo, o impulso da morte, mas também levando em consideração as forças criativas que entram em jogo no encontro com o outro parental e extrafamiliar.

Ambas as forças causam reações diferentes nos pais, que, muitas vezes, expressam sua surpresa, especialmente com o aparecimento de violência e agressividade no adolescente, que não é mais uma criança: “Cada pai faz o que pode nesta situação, mas, mais cedo ou mais tarde, alcança sua própria vivência do Édipo, que é impulsionada pelo que deveria ser chamado de Contra-Édipo” (Marty, 2007Marty, F. (2007). Soutiens narcissiques à l’adolescence. Le Journal des Psychologues, 245(2), 22-27. doi: 10.3917/jdp.245.0022
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, p. 23). Parece sempre difícil resolver essa questão quando os filhos não passam de desconhecidos para seus pais. Entretanto, pode-se pensar que o aparecimento do amor nos adolescentes também é vivido como uma experiência agressiva para os pais, já que os convoca à perda do amor infantil de seus filhos, deixando os pais em estado de fragilidade, assim como o adolescente.

O surgimento das elaborações típicas da adolescência descritas acima confere aos pais um papel fundamental. Este papel tem que ver não apenas com as operações de suporte, apoio ou interdição diante das mudanças e elaborações da sexualidade adolescente, mas também se refere a um papel que não é neutro e que questiona os pais em sua própria história. Isto porque o surgimento destes problemas traz de volta aos pais a lembrança de sua própria história no confronto com seus próprios pais, ou seja, sua própria violência e fragilidade como adolescentes. Esta situação, quando revela uma situação edípica não resolvida, pode tornar-se a força motriz do chamado “Contra-Édipo Parental”, o que pode significar diferentes dificuldades no processo de apoio e interdição do adolescente, resultando em relações de cumplicidade ou ausência entre os pais e seus filhos adolescentes.

Esta situação pode se tornar mais problemática quando o desenvolvimento deste Contra-Édipo, por parte dos pais, deriva das deficiências significadas como conflitos no nível do casal parental, transformando os filhos em um objeto de amor substituto para o que o casal não proporcionaria. Por esta razão, a ideia de responsabilidade dos pais, em vez da solicitação de um determinado exercício dentro de um aparelho validado de conhecimento sobre paternidade, poderia ser melhor entendida com base na responsabilidade em torno da posição como sujeitos desejosos, no que se refere a sua própria história e relacionamentos anteriores. Desta forma, a responsabilização pode ser entendida mais como uma elaboração subjetiva em torno da própria história como filho e como adolescente.

O Contra-Édipo Parental traz à tona as condições históricas únicas nas quais emerge o processo adolescente. Portanto, não é somente o desenvolvimento adolescente que está em jogo, mas também o fundamento histórico daqueles que se posicionaram como transcendentais nas elaborações adolescentes: as figuras parentais. A noção de Contra-Édipo explica o contexto histórico em que este processo dinâmico entre as figuras parentais e o sujeito adolescente começa a ser elaborado, com base no confronto, apoio e interdição. Portanto, cada uma destas operações teria uma particularidade, propiciada pela própria história e pelo próprio Édipo dos pais: as formas como eles mesmos enfrentaram sua adolescência e a própria violência, bem como sua fragilidade, que pode entrar em ação no momento específico do confronto da adolescência do filho ou da filha. Assim, surge a operação de transmissão, em relação ao que é transmitido a partir da história dos pais nestas elaborações, e que é fundamental como configurações emergentes dos pais - e não apenas repetição - em face da adolescência de seus filhos.

Desta forma, a adolescência como processo está diretamente relacionada à família, não só pela relevância que o papel dos pais adquire nesta elaboração, mas também pelas configurações que são mobilizadas nos pais - ou no Contra-Édipo Parental -, que mobilizam não só a chamada família nuclear, mas também um trabalho geracional dos pais dos pais. Como afirma Marty (2007Marty, F. (2007). Soutiens narcissiques à l’adolescence. Le Journal des Psychologues, 245(2), 22-27. doi: 10.3917/jdp.245.0022
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), a adolescência dos filhos é uma oportunidade de trabalhar em profundidade o conflito edípico dos pais, que pode ser integrado ao dispositivo clínico de forma complementar e que aprofunde a análise da problemática adolescente apresentada.

Para Bleichmar (1993Bleichmar, S. (1993). La fundación de lo inconsciente: destinos de pulsión, destinos del sujeto. Buenos Aires: Amorrortu.), o inconsciente não existe desde as origens da vida, mas é constituído, sendo um efeito residual dos grandes movimentos que determinam os destinos pulsionais, mas isto não significa que só por estar relacionado ao inconsciente dos pais, seja apenas um reflexo dele. Portanto, há um aspecto dinâmico em jogo não apenas na reprodução do pensamento do inconsciente do filho como um produto ou efeito do dos pais, mas também em ver o contexto histórico que está além desta relação e que apela para o funcionamento psíquico e simbólico deste exercício, que apela para uma configuração, também própria, de sua própria história e de seu próprio Édipo.

O Contra-Édipo Parental na construção dos processos de historicização durante a adolescência

Esta revisitação ao Édipo explica a evolução da própria família, assim como a evolução da família contemporânea em nosso contexto. A família evolui dentro de sua própria configuração, por essas mesmas elaborações presentes em seus membros em diferentes momentos, como a adolescência ou a paternidade. Ao mesmo tempo, como David (1984David. P. (1984). ¿Por qué la esquizofrenia se declara al final de la adolescencia? In O. Mannoni, A. Deluz, B. Gibello, & J. Hébrard, La crisis de la Adolescencia (pp. 43-47). Barcelona: Gedisa.) menciona, o desdobramento da família facilita a compreensão do Édipo, que implica a relevância da família, já que o que é transmitido - o que o autor descreve como a lei - passa primeiro pela família e não tanto pela sociedade global. Esta transmissão não é apenas da lei, mas dos próprios elementos históricos dos pais que entram em jogo na dinâmica intersubjetiva e psíquica com seus filhos.

Assim, o Contra-Édipo Parental está duplamente ligado à ideia de transmissão psíquica. Por um lado, este inconsciente parental é transmitido aos filhos durante a adolescência, veiculando, de forma intersubjetiva, esta montagem psíquica na dinâmica entre pais e filhos. Por outro lado, o Contra-Édipo Parental é formado pela história dos pais, que ressurge diante das mudanças corporais e psíquicas da adolescência. A história surge como um discurso que explica a importância da alteridade, como um espaço que determina os significantes históricos para cada sujeito.

A transmissão como um exercício psíquico pode ser entendida a partir das contribuições de Freud, que, através de vários conceitos e textos, procurou analisar o lugar de transmissão no psiquismo (Ciccone, 2013Ciccone, A. (2013). Transmission psychique et parentalité. Recuperado de https://bit.ly/3w24sCF
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). Freud (1912 [1913]Freud, S. (1912 [1913]). Tótem y Tabú. In Obras completas (Vol. 13, pp. 1-164). Buenos Aires: Amorrortu., 1914Freud, S. (1914). Introducción al narcisismo. In Obras completas (Vol. 14, pp. 71-8). Buenos Aires: Amorrortu.) descreve a diferença entre as transmissões psíquicas traumáticas e não traumáticas, que diferem no que diz respeito a suas consequências psíquicas. A função parental, assim como o Contra-Édipo Parental, mobiliza transmissões psíquicas inconscientes, sejam traumáticas ou não, enquanto não apenas se transmitem segredos ou traumas, mas também histórias, significantes ou discursos. Propor que a adolescência dos filhos faça surgir a adolescência dos pais implica mostrar como o conceito de Contra-Édipo Parental revela a relevância da história dos pais nos processos adolescentes, como um diálogo que procura entender e significar o que surge de conflituoso na adolescência.

De acordo com Kaës (1996Käes, R. (1996). Introducción al concepto de trasmisión psíquica en el pensamiento de Freud. In R. Käes, H. Faimberg, M. Enriquez, & J. Baranes, Transmisión de la vida psíquica entre generaciones (pp. 31-74). Buenos Aires: Amorrortu.), as transmissões psíquicas podem ser intergeracionais e transgeracionais. A transmissão intergeracional implica a transmissão de elementos assimiláveis, não-traumáticos e concebíveis, necessários para o desenvolvimento do psiquismo. A transmissão transgeracional envolve a transmissão de elementos traumáticos inconscientes que não foram elaborados e que são geracionais. As transmissões intergeracionais e transgeracionais surgem como significações para a história da família e são produções que tomam não apenas o psiquismo do filho, mas também o dos pais, como aspectos que são repensados ou elaborados diante da adolescência dos próprios filhos. Como mencionado anteriormente, não é apenas a representação concreta do ambiente como pais, mas sim sua representação simbólica, ou seja, seu exercício em nível psíquico e transformador. As transformações inerentes à adolescência, em sua interpelação aos pais, bem como aos suportes identificatórios que foram mantidos na infância, propiciam um trabalho particular em torno da história do adolescente e também em torno da história dos próprios pais.

O Contra-Édipo Parental implica a transmissão da história dos pais a respeito de seu próprio Édipo e de sua adolescência, que pode ser pensada - seguindo a releitura de Käes sobre a ideia de Freud de transmissão - como intergeracional, assim como transgeracional, o que poderia levar a conflitos no relacionamento do casal, assim como entre pais e filhos, adquirindo particularidades na adolescência. Desta forma, o que os pais experimentaram, reprimiram ou historializaram tem um papel fundamental na estruturação psíquica da criança, muitas vezes presentificando aos filhos algo da ordem do que foi desmentido nos pais, e o filho incorporou não apenas o conteúdo como uma defesa do narcisismo, repetindo os mecanismos de ação dos pais (Janin, 2013Janin, B. (2013). Intervenciones en la clínica psicoanalítica con niños. Buenos Aires: Centro de Publicaciones Educativas y Material Didáctico.).

Este papel fundamental apela para os caminhos dos pais, sua própria história e seu próprio Édipo que são configurados de uma forma particular, a partir do Contra-Édipo Parental, diante da adolescência de seus filhos. As lacunas na estrutura pré-edípica e edípica dos pais são fundamentais para entender sua estrutura inconsciente e seu funcionamento parental.

A transmissão não é, portanto, apenas a transmissão de algo, mas também o suporte no qual os vínculos se tornam conflitivos e revelam o desejo dos sujeitos. A transmissão facilita a compreensão da relevância da presença dos outros, em nível psíquico, e como ela imprime sobre cada assunto as exigências do trabalho psíquico: “As vicissitudes da conformação dos sujeitos também se baseiam na transmissão familiar, que em sua dimensão ligada ao narcisismo da vida dá bases para o psiquismo. O sujeito é construído e conquista uma singularidade diferenciada através de uma apropriação transformadora do que foi herdado, em relação ao qual ele estabelece sua semelhança e diversidade” (Rojas, 2009Rojas. M. (2009). Niñez y familia hoy: las problemáticas del desamparo. In L. Wettengel, G. Untoiglich, G. Szyber, J. Tallis, M. Rojas, & L. Kauffmann, Patologías actuales en la infancia: bordes y desbordes en clínica y educación (pp. 77-93). Buenos Aires, Noveduc., p. 85).

Por esta razão, a paternidade tem efeitos psíquicos particulares e é entendida como uma função psíquica. Tal função psíquica se refere a uma metapsicologia da função parental (Kuras de Maue & May, 2001Kuras de Mauer, S., & May, N. (2001). El trabajo de la parentalidad: una lectura metapsicológica. Psicoanálisis, 23(3), 615-624.), que envolve rever como a função parental afeta a estruturação e o funcionamento psíquico da criança e dos pais. Por esta razão, a psicanálise se concentra em definir a parentalidade dentro desta esfera nas relações tópicas, econômicas e de vínculos: “O trabalho da parentalidade tem efeitos psíquicos sobre aqueles que o encarnam, adquirindo um valor sublimatório em todos os seus protagonistas. Quando a parentalidade não é suficientemente investida, pensamos em um exercício de esvaziamento da função” (Kuras de Mauer, 2001Kuras de Mauer, S., & May, N. (2001). El trabajo de la parentalidad: una lectura metapsicológica. Psicoanálisis, 23(3), 615-624., p. 621).

A transmissão parental está relacionada com a inscrição que o sujeito faz em sua própria história e filiação. Portanto, envolve diretamente a história dos pais, que deve ser configurada perante a irrupção puberal e suas elaborações. As transmissões parentais são responsáveis pela forma como os pais inscreveram o cultural por seu Édipo e como o transmitem a seus filhos, o que faz emergir a referida problemática contra-edípica.

Assim, as transmissões parentais podem ser entendidas como: “heranças simbólicas e afetivas que fazem parte da realidade psíquica dos membros do casal parental e que são objetos de escolha consciente e/ou inconsciente” (Wettengel, 2009Wettengell, L. (2009). Trazando surcos: el trabajo de la parentalidad. In L. Wettengel, G. Untoiglich, G. Szyber, J. Tallis, M. Rojas, & L. Kauffmann , Patologías actuales en la infancia: bordes y desbordes en clínica y educación (pp. 35-52). Buenos Aires: Noveduc., p. 38). Surge a ideia de uma transferência de significados e funções entre gerações, o que implica um complexo entrelaçamento de elementos, histórias, identificações, enfim, entre a constituição da função simbólica parental a partir da integração dos laços de pertencimento com a geração anterior, o que permite a sustentação intersubjetiva do psiquismo que dá uma identidade particular e fornece elementos simbólicos para a construção da identidade parental e da identidade adolescente.

Esta configuração identitária é responsável pelo fundo de memória sob o qual a função dos pais e a adolescência emergem, como um fundo que se sobrepõe a esta configuração histórica dos pais para com seus filhos e dos filhos para com seus pais, constituída através do discurso parental que finalmente apela para sua apropriação do discurso parental dos pais, integrando três gerações - e até mais - na configuração de seu exercício na adolescência. Este discurso surge então como uma matriz simbólica compartilhada que é transmitida e configurada de forma particular a partir dos diferentes momentos históricos e contextuais pelos quais a família passa.

O lugar dos pais apela para uma transmissão particular na adolescência, que invoca sua própria adolescência, sua própria relação com seus pais, seu próprio Édipo e, portanto, sua própria relação com a socialização e a cultura. Esta transmissão pode ser estática, como elementos silenciados ou fechados; mas é também uma transmissão dinâmica, que é configurada e retrabalhada diante dos movimentos de tração do resto dos membros da família, ou seja, dos filhos e avós, parentes, etc.

Os pais, através do Édipo que mais uma vez se torna um assunto a ser elaborado para o adolescente, subvertem sua posição como sujeitos a partir da reelaboração de seus aspectos edípicos que não foram completamente elaborados. Neste movimento, surgem aspectos que eles transmitem a seus filhos adolescentes, mas também problematizam aspectos que lhes foram transmitidos por seus próprios pais, incluindo nestas configurações mais de duas gerações. Desta forma, o geracional é integrado não apenas a partir dos pais e dos filhos, mas também a partir dos avós, seja presencialmente ou pelos discursos e experiências da própria adolescência e relacionamento com os pais.

Dentro destas transmissões fundamentais, existe a organização que os pais devem fazer sobre a própria subjetividade como porta-vozes destas transmissões que ancoram a ordem simbólica e sustentam os excessos de uma forma que possa ser simbolizada no aparato psíquico. Assim, a transmissão de identificações no processo parental adolescente é destacada. Considerando que a identificação é uma das formas originais de estabelecer laços e vínculos afetivos, ela pode ser considerada como um processo central na transmissão. Esta função é dinâmica e pode ser representada em um dos encontros nos quais o funcionamento psíquico dos pais e adolescentes deve se confrontar: a identificação com a função parental.

Conclusões

O confronto com o processo adolescente, para os pais, os convida a pensar em seu próprio confronto com seus pais e na possibilidade de encenar psiquicamente uma resolução para ele. Assim, a fragilidade não teria que ver com uma reação à agressividade adolescente, mas sim com a história dos pais e sua própria adolescência, que é reestabelecida, transmitindo às crianças a impossibilidade de pensar em si mesmas em uma posição adulta: “A explosão do impulso adolescente pode corresponder ao ressurgimento de certas forças de impulso reprimidas nos pais e ao levantamento parcial da repressão... As duas crises, a do adolescente e a dos pais, são correlativas, ou seja, o adolescente só pode sair de sua crise à custa do difícil caminho que os pais devem percorrer” (De La Robertie, 1984De La Robertie, L. (1984). El adolescente y la familia. In O. Mannoni, A. Deluz, B. Gibello, & J. Hébrard, La crisis de la Adolescencia (pp. 61-64). Barcelona: Gedisa.).

A abordagem clínica do trabalho com adolescentes tende a buscar a resolução de conflitos, como eliminação sintomática ou comportamentos “desadaptativos”. A inclusão do conceito de Contra-Édipo Parental poderia permitir englobar a relevância e centralidade da inclusão dos aspectos históricos dos pais - incluindo os avós - considerando os elementos intergeracionais e transgeracionais, não apenas na construção dos problemas, mas também na sua resolução. Por esta razão, não é apenas a transmissão de conselhos que poderia esclarecer a compreensão destas elaborações e suas possíveis dificuldades, mas sim apelar para a particularidade da história dos pais, com a configuração que se move em torno da adolescência de seus filhos, que os convoca para sua própria história como filhos adolescentes.

Isto implica discutir e desconstruir a visão dos pais como a “causa” dos problemas de seus filhos - uma visão da qual a psicologia compartilhou em algumas ocasiões - posicionando os pais como participantes de um processo complexo, no qual é proposta uma visão inter e transgeracional que facilita a compreensão do contexto psíquico a partir do qual surge o exercício parental, que é fundamentalmente histórico. Os elementos transgeracionais da transmissão psíquica do Contra-Édipo Parental podem contribuir para a compreensão e intervenção em conflitos clínicos entre pais e filhos adolescentes.

Finalmente, o conceito de Contra-Édipo Parental propõe a reflexão clínica dos elementos inconscientes não só do adolescente como paciente, mas também de seus pais como sujeitos históricos. A construção subjetiva, assim como o sofrimento psíquico dos adolescentes, não pode ser entendida fora de uma noção histórica e subjetivadora, o que implica um novo olhar sobre o trabalho clínico com adolescentes, considerando o Contra-Édipo Parental como uma dimensão relevante a ser considerada e analisada no espaço clínico.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    27 Jul 2020
  • Revisado
    27 Jul 2020
  • Aceito
    08 Mar 2021
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