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Gestão do conhecimento: uma análise baseada em fatores contextuais da organização

Knowledge Management: an analysis based on organization contextual factors

Resumo

Os modelos mais recentes sobre Gestão do Conhecimento (GC) reconhecem quatro fases para a sua prática: aquisição, armazenamento, distribuição e utilização do conhecimento. A GC se caracteriza como uma disciplina multidisciplinar, envolvendo aspectos de ordem técnica e social e devido à diversidade de assuntos que cerca esse tema, é essencial delimitar seu estudo. Nesse sentido, o recorte proposto para esta pesquisa é social e de coordenação, tendo como objetivo a identificação de fatores contextuais, desenvolvidos internamente às organizações, que sustentam o processo de GC em empresas do setor automobilístico. Para atingir esse objetivo é utilizado um método de pesquisa quantitativo, baseado em uma pesquisa survey. Os resultados obtidos apontam para a existência de oito fatores contextuais que sustentam o processo de GC. Esses fatores são relacionados essencialmente ao ser humano, responsável pela retenção e transformação do conhecimento primário, e ao desenvolvimento de um contexto organizacional que estimule o processo de aprendizagem.

Palavras-chave:
Gestão do conhecimento; Aprendizagem organizacional; Fatores contextuais; Setor automobilístico; Análise multivariada de dados

Abstract

The latest models of Knowledge Management (KM) recognize four phases: acquisition, storage, distribution and use of knowledge. KM is characterized as a multidisciplinary field, involving both technical and social facets. Due to the diversity of issues surrounding this topic, it is essential to define their study. This research is based on social and coordination studies that seek to identify contextual factors developed internally in organizations that support the KM process in the automotive industry. To achieve this goal, a quantitative research method based on a surveys was used. The results point to the existence of eight contextual factors that support KM. These factors are mainly related to the human beings responsible for the retention and transformation of common knowledge and the development of an organizational context that encourages the learning process.

Keywords:
Knowledge management; Organizational learning; Contextual factors; Automotive sector; Multivariate analysis

1. Introdução

A noção de que o conhecimento é recurso organizacional capaz de gerar vantagem competitiva (Grant, 1996Grant, R. M. (1996). Toward a knowledge-based theory of the firm., Strategic Management Journal 17, 109-122.) e, ainda, que sua característica intangível e componente tácita é responsável por gerar diferencial de difícil imitação por parte dos concorrentes (Choo, 1998Choo, C. W. (1998). The knowing organization: how organizations use information for construct meaning, create knowledge and make decisions. New York: Oxford Press.; Nelson & Winter, 1982Nelson, R. & Winter, S. (1982). An evolutionary theory of economic change. Cambridge: Belknap Press/Harvard University Press.) já é consolidada no mundo acadêmico, tornando-se fundamental a gestão desse ativo, isto é, a gestão do conhecimento (GC).

Ainda que muitos de seus pontos centrais não sejam novidades para o mundo acadêmico, o estudo da Gestão do Conhecimento é um conceito recente, discutido mais intensamente na década de 1990, tratado como um processo que promove o fluxo do conhecimento entre indivíduos e grupos da organização constituído de quatro etapas essenciais: aquisição, armazenamento, distribuição e utilização do conhecimento (Alavi & Leidner, 2001Alavi, M. & Leidner, D. E. (2001). Management and knowledge management systems: conceptual foundations and research issues. MIS Quarterly, 25(1), 107-136. http://dx.doi.org/10.2307/3250961
http://dx.doi.org/10.2307/3250961...
; Cormican & O'Sullivan, 2003Cormican, K. & O'Sullivan, D. A. (2003). Collaborative knowledge management tool for product innovation management. International Journal of Technology Management, 26(1), 53-68. http://dx.doi.org/10.1504/IJTM.2003.003144
http://dx.doi.org/10.1504/IJTM.2003.0031...
).

Dessa forma, a missão principal da GC é criar um contexto organizacional que estimule o desenvolvimento de novos conhecimentos, por meio da aprendizagem explorativa e explotativa (March, 1991March, J. G. (1991). Exploration and exploitation in organizational learning., Organization Science 20(1), 71-87. http://dx.doi.org/10.1287/orsc.2.1.71
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) ou de single e double loop (Argyris & Schön, 1978Argyris, C. & Schön, D. (1978). Organizational learning: a theory of action perspective. Boston: Addison-Wesley.), além de criar artifícios que possibilitem a retenção do conhecimento, seja ele tácito ou explícito, a fim de que possa ser distribuído aos indivíduos da organização para sua utilização em atividades de rotina, melhoria incremental ou inovação, gerando vantagem competitiva (Carlile & Rebentisch, 2003Carlile, P. R. & Rebentisch, E. S. (2003). Into the black box: the knowledge transformation cycle. Management Science, 49(9), 1180-1195. http://dx.doi.org/10.1287/mnsc.49.9.1180.16564
http://dx.doi.org/10.1287/mnsc.49.9.1180...
).

Davenport & Prusak (1998Davenport, T. H. & Prusak, L. (1998). Conhecimento empresarial: como as organizações gerenciam o seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Campus.) e Lytras & Pouloudi (2006Lytras, M. & Pouloudi, A. (2006). Towards the development of a novel taxonomy of knowledge management systems from a learning perspective: an integrated approach to learning and knowledge infrastructures., Journal of Knowledge Management 10(6), 64-80. http://dx.doi.org/10.1108/13673270610709224
http://dx.doi.org/10.1108/13673270610709...
) enfatizam a importância do desenvolvimento de uma cultura e estrutura organizacional que fomentem o sentido de cooperação e troca de informação entre grupos e indivíduos e também do desenvolvimento da mão de obra (agente responsável pela manifestação do conhecimento) para o êxito da GC. Contudo, a literatura voltada para a GC não detalha, de forma estruturada, os fatores internos e contextuais às organizações que sustentam o processo de GC.

As organizações desenvolvem internamente fatores, denominados, neste artigo, contextuais. Tal denominação deve-se ao fato de que eles estabelecem o comportamento organizacional, do ponto de vista cultural, dos recursos humanos e de suas formas de relacionamento, da estrutura e do modo como o conhecimento é desenvolvido e absorvido, os quais se relacionam com o processo de GC: a aquisição, o armazenamento, a distribuição e a utilização do conhecimento. Sem o empenho quanto ao desenvolvimento desses fatores, quaisquer iniciativas organizacionais voltadas para a GC acabam não resultando nos benefícios esperados (Gupta & Govindarajan, 2000Gupta, A. K. V. & Govindarajan, V. (2000). Knowledge flows within multinational corporations., Strategic Management Journal 21(4), 473-496. http://dx.doi.org/10.1002/(SICI)1097-0266(200004)21:4<473::AID-SMJ84>3.0.CO;2-I
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). Dessa forma, o objetivo principal deste artigo é a identificação do grupo de fatores contextuais que sustentam o processo de GC em organizações do setor automobilístico.

A escolha desse setor pode ser justificada em dois sentidos. O primeiro refere-se à sua importância dentro da indústria brasileira. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores - ANFAVEA (2012Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores - ANFAVEA. (2012). Anuário estatístico da indústria automotiva brasileira. Recuperado em 16/05/2013, de Recuperado em 16/05/2013, de http://www.anfavea.com.br
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), esse setor emprega 5,6% dos funcionários da indústria brasileira e é responsável por 19,8% do PIB industrial. Outra justificativa refere-se à capacidade de inovação do setor.

2. Processo de gestão do conhecimento

Autores como Argote et al. (2003Argote, L., Mcevily, B. & Reagans, R. (2003). Managing knowledge in organizations: an integrative framework and review of emerging themes. Management Science, 49(4), 571-582. http://dx.doi.org/10.1287/mnsc.49.4.571.14424
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), Lee & Yang (2000Lee, C. & Yang, J. (2000). Knowledge value chain. The Journal of Management Development, 19(9), 783-794. http://dx.doi.org/10.1108/02621710010378228
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) e Yang (2010Yang, J. (2010). The knowledge management strategy and its effect on firm performance: a contingency analysis., International Journal of Production Economics 125(2), 215-223. http://dx.doi.org/10.1016/j.ijpe.2010.03.012
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) tratam a GC como um processo com fases específicas, as quais têm como objetivo central a disseminação do conhecimento, para sua posterior reutilização por outros indivíduos e grupos e consequente transformação de seu conteúdo, gerando novos conhecimentos.

Pelo fato de o conhecimento consistir em uma evolução de dados e informação, Alvesson & Kärreman (2001Alvesson, M. & Kärreman, D. (2001). Odd couple: making sense of the curious concept of knowledge management. Journal of Management Studies, 38(7), 995-1018. http://dx.doi.org/10.1111/1467-6486.00269
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) argumentam que o processo de GC é mais complexo que a gestão da informação. Ainda atendo-se a essa definição, vale ressaltar que conhecimento está relacionado à ação humana (Sveiby, 1997Sveiby, K. E. (1997). A nova riqueza das organizações: gerenciando e avaliando patrimônios de conhecimento.. Rio de Janeiro: Campus ) e, dessa forma, depende de indivíduos com competências suficientes para adquiri-lo, compreendê-lo e desenvolvê-lo. E, além disso, o sucesso na implementação desse processo é condicionado ao desenvolvimento de características organizacionais adequadas que propiciem o desenvolvimento de quatro fases: aquisição, armazenamento, distribuição e utilização do conhecimento (Durst & Edvardsson, 2012Durst, S. & Edvardsson, I. R. (2012). Knowledge management in SMEs: a literature review., Journal of Knowledge Management 16(6), 879-903. http://dx.doi.org/10.1108/13673271211276173
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; Zheng et al., 2010Zheng, W., Yang, B. & McLean, G. N. (2010). Linking organizational culture, structure, strategy and organizational effectiveness: mediating role of knowledge management., Journal of Business Research 63, 763-771. http://dx.doi.org/10.1016/j.jbusres.2009.06.005
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; Liao et al., 2011Liao, C., Chuang, S. H. & To, P. L. (2011). How knowledge management mediates relationship between environment and organizational structure. Journal of Business Research, 64, 728-736. http://dx.doi.org/10.1016/j.jbusres.2010.08.001
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; Zack, 1999Zack, M. H. (1999). Managing codified knowledge., Sloan Management Review 40(4), 45-48.).

A aquisição refere-se ao processo intraorganizacional que facilita a criação de conhecimento tácito e explícito, partindo dos indivíduos e integrando-se ao nível organizacional, bem como a identificação e absorção de informação e conhecimento de origem externa (Gold et al., 2001Gold, A. H., Malhotra, A. & Segars, A. H. (2001). Knowledge management: an organizational capabilities perspective. Journal of Management Information Systems, 18(1), 184-214.; Huber, 1991Huber, G. (1991). Organizational learning the contributing processes and the literatures. Organizational Science, 2(1), 88-115. http://dx.doi.org/10.1287/orsc.2.1.88
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). O processo de aquisição ainda está relacionado com o estímulo organizacional em torno da aprendizagem dos indivíduos que torne a firma apta em integrar, construir e reconfigurar suas competências internas, a fim de responder às mudanças ambientais (Teece, 2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: the nature and microfondations of (sustainable) entreprise performance., Strategic Management Journal 28(13), 1319-1350. http://dx.doi.org/10.1002/smj.640
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; Cohen & Levinthal, 1990Cohen, W. M. & Levinthal, D. A. (1990). Absorptive capacity: a new perspective on learning and innovation. Administrative Science Quarterly, 35, 128-152. http://dx.doi.org/10.2307/2393553
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), promovido por meio do desenvolvimento de uma cultura voltada à aprendizagem (Skerlavaj et al., 2007Skerlavaj, M., Stenberger, M. I., Skrinjar, R. & Dimovski, V. (2007). Organizational learning culture: the missing link between business process change and organizational performance., International Journal of Production Economics 106, 346-367. http://dx.doi.org/10.1016/j.ijpe.2006.07.009
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; Irani et al., 2009Irani, Z., Sharif, A. M. & Love, P. E. D. (2009). Mapping knowledge management and organizational learning in support of organizational memory. International Journal of Production Economics, 122, 200-215. http://dx.doi.org/10.1016/j.ijpe.2009.05.020
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).

O estágio de armazenamento do conhecimento refere-se ao processo de formação de memória organizacional (Walsh & Ungson, 1991Walsh, J. P. & Ungson, G. R. (1991). Organizational memory., Academy of Management Review 16(1), 57-91.), na qual o conhecimento é formalmente armazenado em sistemas físicos de memória relacionados a sistemas de informação (SI), informalmente retido na forma de valores, normas e crenças que se associam à cultura e estrutura organizacional (Alavi & Leidner, 2001Alavi, M. & Leidner, D. E. (2001). Management and knowledge management systems: conceptual foundations and research issues. MIS Quarterly, 25(1), 107-136. http://dx.doi.org/10.2307/3250961
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), e também retido nos processos, ferramentas e rotinas organizacionais (Kane & Alavi, 2007Kane, G. C. & Alavi, M. (2007). Information technology and organizational learning: an investigation of exploration and explotation process., Organization Science 18(5), 796-812. http://dx.doi.org/10.1287/orsc.1070.0286
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). A firma, nesse contexto, passa a ter conotação de repositório de conhecimento (Grant, 1996Grant, R. M. (1996). Toward a knowledge-based theory of the firm., Strategic Management Journal 17, 109-122.), caracterizando-se como um local físico que sustenta a criação e desenvolvimento, provendo um contexto social.

A distribuição do conhecimento diz respeito ao processo pelo qual novas informações de diferentes origens são compartilhadas e, eventualmente, podem dirigir a criação de novo conhecimento, entendimento e informação (Lee & Yang, 2000Lee, C. & Yang, J. (2000). Knowledge value chain. The Journal of Management Development, 19(9), 783-794. http://dx.doi.org/10.1108/02621710010378228
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). Os trabalhos mais antigos acerca do processo de transferência de conhecimento tinham como ênfase fatores cognitivos e sociais. Atualmente, o foco está sobre os fatores organizacionais que facilitam ou inibem o processo de transferência, incluindo capacidade absortiva da organização (Cohen & Levinthal, 1990Cohen, W. M. & Levinthal, D. A. (1990). Absorptive capacity: a new perspective on learning and innovation. Administrative Science Quarterly, 35, 128-152. http://dx.doi.org/10.2307/2393553
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), o desenvolvimento de uma cultura de compartilhamento (Skerlavaj et al., 2007Skerlavaj, M., Stenberger, M. I., Skrinjar, R. & Dimovski, V. (2007). Organizational learning culture: the missing link between business process change and organizational performance., International Journal of Production Economics 106, 346-367. http://dx.doi.org/10.1016/j.ijpe.2006.07.009
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), expertise desenvolvida pelos indivíduos (Cross & Sproull, 2004Cross, R. & Sproull, L. (2004). More than an answer: Information relationships for actionable knowledge., Organization Science 15(4), 446-462. http://dx.doi.org/10.1287/orsc.1040.0075
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), aspectos motivacionais (Quigley et al., 2007Quigley, N. R., Tesluk, P. E., Locke, E. A. & Bartol, K. M. (2007). A multilevel investigation of the motivational mechanisms underlying knowledge sharing and performance., Organization Science 18(1), 71-88. http://dx.doi.org/10.1287/orsc.1060.0223
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) e tecnologia que facilita o processo de transferência (Figueiredo, 2005Figueiredo, S. P. (2005). Gestão do conhecimento: estratégias competitivas para a criação e mobilização do conhecimento na empresa. Rio de Janeiro: Qualitymark.; Kane & Alavi, 2007Kane, G. C. & Alavi, M. (2007). Information technology and organizational learning: an investigation of exploration and explotation process., Organization Science 18(5), 796-812. http://dx.doi.org/10.1287/orsc.1070.0286
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).

Em relação à fase de utilização do conhecimento, Zack (1999Zack, M. H. (1999). Managing codified knowledge., Sloan Management Review 40(4), 45-48.) a define como a habilidade dos indivíduos de uma organização de localizarem, acessarem e utilizarem informação e conhecimento armazenados nos sistemas de memória formal e informal da organização.

3. Constructos associados ao contexto organizacional que promovem a GC

Esta pesquisa parte da premissa que a GC é um fenômeno técnico-social (Lytras & Pouloudi, 2006Lytras, M. & Pouloudi, A. (2006). Towards the development of a novel taxonomy of knowledge management systems from a learning perspective: an integrated approach to learning and knowledge infrastructures., Journal of Knowledge Management 10(6), 64-80. http://dx.doi.org/10.1108/13673270610709224
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; Lin, 2007Lin, H. F. (2007). A stage model of knowledge management: an empirical investigation of process and effectiveness. Journal of Information Science, 33(6), 643-659. http://dx.doi.org/10.1177/0165551506076395
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) e, dessa forma, as etapas do processo de GC estão condicionadas ao desenvolvimento organizacional. Esta seção tem por objetivo determinar os constructos organizacionais que promovem cada fase do processo de GC.

3.1. Desenvolvimento de recursos humanos

Muitas organizações enfrentam o obstáculo decorrente da "herança" do modelo taylorista de produção em relação ao desenvolvimento de novos conhecimentos, bem como a sua posterior distribuição e utilização por parte de seus integrantes. Tal modelo, baseado na separação dos planejadores do processo (pensadores) e operadores (executantes), defronta-se com as propostas mais modernas de gerenciamento e organização do sistema produtivo, as quais fincam seus valores em trabalho e resolução de problemas em grupo, amplo envolvimento por parte dos trabalhadores, além de identidade e objetivos compartilhados.

As abordagens mais modernas relacionadas ao tratamento dos recursos humanos partem de premissas voltadas ao desenvolvimento da mão de obra, visando o aprimoramento constante das competências (Zangiski et al., 2013Zangiski, M. A. S. G., Lima, E. P. & Costa, S. E. G. (2013). Organizational competence building and development: Contributions to operations management., International Journal of Production Economics 144(1),76-89. http://dx.doi.org/10.1016/j.ijpe.2013.01.021
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; Zarifian, 2001Zarifian, P. (2001). Objetivo competência: por uma nova lógica.. São Paulo: Atlas ; Leonard-Barton, 1992Leonard-Barton, D. (1992). The factory as a learning laboratory. Sloan Management Review, 34, (1), 23-38.).

As iniciativas de GC dependem da disposição de as pessoas compartilharem seus conhecimentos e expertise (Quigley et al., 2007Quigley, N. R., Tesluk, P. E., Locke, E. A. & Bartol, K. M. (2007). A multilevel investigation of the motivational mechanisms underlying knowledge sharing and performance., Organization Science 18(1), 71-88. http://dx.doi.org/10.1287/orsc.1060.0223
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; Amayah, 2013Amayah, A. T. (2013). Determinants of knowledge sharing in a public sector organization. Journal of Knowledge Management, 17(3), 454-471. http://dx.doi.org/10.1108/JKM-11-2012-0369
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). Nenhuma organização pode gerar conhecimento sem pessoas habilitadas (Cross & Sproull, 2004Cross, R. & Sproull, L. (2004). More than an answer: Information relationships for actionable knowledge., Organization Science 15(4), 446-462. http://dx.doi.org/10.1287/orsc.1040.0075
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; Zarifian, 2001Zarifian, P. (2001). Objetivo competência: por uma nova lógica.. São Paulo: Atlas ). E ainda, por meio das práticas de desenvolvimento de recursos humanos, as organizações podem desenvolver uma cultura organizacional que encoraje a aquisição e o compartilhamento do conhecimento (Zangiski et al., 2013Zangiski, M. A. S. G., Lima, E. P. & Costa, S. E. G. (2013). Organizational competence building and development: Contributions to operations management., International Journal of Production Economics 144(1),76-89. http://dx.doi.org/10.1016/j.ijpe.2013.01.021
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).

A Tabela 1 levanta as principais variáveis e respectivos autores do constructo Desenvolvimento de Recursos Humanos relevantes para a GC.

Tabela 1:
Variáveis e principais autores do constructo Desenvolvimento de Recursos Humanos.

3.2. Trabalho em equipe

A visão da organização como máquina (Morgan, 1996Morgan, G. (1996). Imagens da organização.. São Paulo: Atlas ) torna-se cada vez mais ultrapassada quando se visa estudar uma forma de gestão que propicie a constante aquisição e distribuição do conhecimento, ou seja, um fluxo intenso de conhecimento (Rowley, 2001Rowley, J. (2001). Knowledge management in pursuit of learning: the learning with knowledge cycle., Journal of Information Science 27(4), 227-237. http://dx.doi.org/10.1177/016555150102700406
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). Por conta dessa prerrogativa, a GC depende de um contexto social alicerçado por trabalho em equipe - grupos que compartilham ideias e competências profissionais (Brown & Duguid, 2001Brown, J. S. & Duguid, P. (2001). Knowledge and organization: a social-practice perspective. Organization Science, 12(2), 198-213. http://dx.doi.org/10.1287/orsc.12.2.198.10116
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; Orlikowski, 2002Orlikowski, W. J. (2002). Knowing in practice: Enacting a collective capability in distributed organizing., Organization Science 13(3), 249-273. http://dx.doi.org/10.1287/orsc.13.3.249.2776
http://dx.doi.org/10.1287/orsc.13.3.249....
) -, que promova a aprendizagem contínua dos indivíduos.

O trabalho em equipe é uma das principais características das formas mais modernas de organização do trabalho, como a manufatura enxuta e grupos semiautônomos (Tanskanen et al., 1998Tanskanen, T., Buhanist, P. & Kostama, H. (1998). Exploring the diversity of teams., International Journal of Production Economics 56-57, 611-619. http://dx.doi.org/10.1016/S0925-5273(96)00097-7
http://dx.doi.org/10.1016/S0925-5273(96)...
). Existem diferentes projetos de trabalho em grupo, por exemplo, enquanto na manufatura enxuta o conceito de grupo é focado na utilização de procedimentos operacionais e hierarquia bem definida, com supervisão rígida, nos grupos, baseado num modelo sociotécnico, existe certo grau de autonomia quanto à escolha do melhor método de trabalho, além de uma hierarquia mais enxuta (Schuring, 1996Schuring, R. W. (1996). Operational autonomy explains the value of group work in both lean and reflective production., International Journal of Operations & Production Management 16(2), 171-182. http://dx.doi.org/10.1108/01443579610197120
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).

Um aspecto central para a efetividade do trabalho em grupo é o processo de integração do conhecimento (Okhuysen & Eisenhardt, 2002Okhuysen, G. A. & Eisenhardt, K. M. (2002). Integrating knowledge in groups: how formal interventions enable flexibility., Organization Science 13(4), 370-386. http://dx.doi.org/10.1287/orsc.13.4.370.2947
http://dx.doi.org/10.1287/orsc.13.4.370....
; Turner et al., 2012Turner, J. R., Zimmerman, T. & Allen, J. M. (2012). Teams as a sub-process for knowledge management., Journal of Knowledge Management 16(6), 963-977. http://dx.doi.org/10.1108/13673271211276227
http://dx.doi.org/10.1108/13673271211276...
). Para que se torne útil, o conhecimento individual, que é propriedade dos indivíduos, deve ser integrado ao grupo por meio de um processo de assimilação e interpretação (Crossan et al., 1999Crossan, M., Lane, H. W., & White, R. E. (1999). An organizational learning framework: from intuition to institution. Academy of Management Review, 24(3), 522-537.) e institucionalizado na organização (Grant, 1996Grant, R. M. (1996). Toward a knowledge-based theory of the firm., Strategic Management Journal 17, 109-122.), para que possa ser explotado, a fim de gerar vantagem competitiva para a organização.

A Tabela 2 levanta as principais variáveis e respectivos autores do constructo Trabalho em Equipe.

Tabela 2:
Variáveis e principais autores do constructo Trabalho em Equipe.

3.3. Cultura organizacional

A literatura existente em GC constantemente salienta a inseparável relação existente entre cultura organizacional e GC (Davenport & Prusak, 1998Davenport, T. H. & Prusak, L. (1998). Conhecimento empresarial: como as organizações gerenciam o seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Campus.; Skerlavaj et al., 2007Skerlavaj, M., Stenberger, M. I., Skrinjar, R. & Dimovski, V. (2007). Organizational learning culture: the missing link between business process change and organizational performance., International Journal of Production Economics 106, 346-367. http://dx.doi.org/10.1016/j.ijpe.2006.07.009
http://dx.doi.org/10.1016/j.ijpe.2006.07...
). A pesquisa realizada por Davenport & Prusak, 1998Davenport, T. H. & Prusak, L. (1998). Conhecimento empresarial: como as organizações gerenciam o seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Campus.) aponta que quando uma organização adota um sistema de gerenciamento do conhecimento sem se preocupar com o desenvolvimento cultural que o propicie, a eficiência da GC é limitada.

O survey realizado por Alavi & Leidner (2001Alavi, M. & Leidner, D. E. (2001). Management and knowledge management systems: conceptual foundations and research issues. MIS Quarterly, 25(1), 107-136. http://dx.doi.org/10.2307/3250961
http://dx.doi.org/10.2307/3250961...
) demonstra que grande parte do sucesso das iniciativas de GC é advinda de uma adequação cultural que estimula os funcionários a compartilharem o conhecimento tácito adquirido por meio da experiência nas atividades de rotina e no processo de resolução de problemas denominada cultura do conhecimento.

Huber (1991Huber, G. (1991). Organizational learning the contributing processes and the literatures. Organizational Science, 2(1), 88-115. http://dx.doi.org/10.1287/orsc.2.1.88
http://dx.doi.org/10.1287/orsc.2.1.88...
) define a cultura do conhecimento como os pressupostos estabelecidos pela organização que valorizam o compartilhamento e a integração do conhecimento entre indivíduos e grupos. Em relação à questão do compartilhamento do conhecimento, Gold et al. (2001Gold, A. H., Malhotra, A. & Segars, A. H. (2001). Knowledge management: an organizational capabilities perspective. Journal of Management Information Systems, 18(1), 184-214.) concluem que as organizações com valores mais abertos e voltados para o apoio recíproco entre os indivíduos são predispostas a construirem uma cultura do conhecimento.

A Tabela 3 levanta as principais variáveis e respectivos autores do constructo Cultura Organizacional relevantes à GC.

Tabela 3:
Variáveis e principais autores do constructo Cultura Organizacional.

3.4. Estrutura organizacional

Chen & Huang (2007Chen, C. J. & Huang, J. W. (2007). How organizational climate and structure affect knowledge management: the social interaction perspective. International Journal of Information Management, 27(2), 104-118. http://dx.doi.org/10.1016/j.ijinfomgt.2006.11.001
http://dx.doi.org/10.1016/j.ijinfomgt.20...
) definem estrutura organizacional a partir de três elementos: a formalização, a centralização e a integração.

A formalização refere-se ao nível de codificação de regras e procedimentos que guiam o comportamento dos trabalhadores. Em organizações altamente formalizadas, a existência de documentos formais inibe a geração de ideias e impede o comportamento espontâneo necessário ao estímulo às inovações (Gilson & Shalley, 2004Gilson, L. L. & Shalley, C. E. (2004). A little creativity goes a long way: an examination of teams' engagement in creative processes. Journal of Management, 30(4), 453-70. http://dx.doi.org/10.1016/j.jm.2003.07.001
http://dx.doi.org/10.1016/j.jm.2003.07.0...
).

A centralização está relacionada à concentração do poder decisório nos altos níveis hierárquicos (Andrews & Kacmar, 2001Andrews, M. C. & Kacmar, K. M. (2001). Discriminating among organizational politics, justice, and support. Journal of Organization Behavior, 22(4), 347-66. http://dx.doi.org/10.1002/job.92
http://dx.doi.org/10.1002/job.92...
). A centralização cria um ambiente não participativo, reduzindo a comunicação, o comprometimento e o envolvimento entre os funcionários e ainda impede que os funcionários tomem decisões acerca de seu trabalho, causando ineficiência na criação e compartilhamento do conhecimento (Janz & Prasarnphnich, 2003Janz, B. D. & Prasarnphnich, P. (2003). Understanding the antecedents of effective knowledge management: the importance of a knowledge-centered culture. Decision Sciences, 34(2), 351-384. http://dx.doi.org/10.1111/1540-5915.02328
http://dx.doi.org/10.1111/1540-5915.0232...
).

A integração refere-se ao grau de interrelacionamento entre indivíduos e setores da organização. A GC requer um fluxo intenso de comunicação entre membros de diferentes setores da organização e as estruturas em rede estimulam o compartilhamento de informação e conhecimento por parte dos indivíduos (Wilkinson & Young, 2006Wilkinson, I. & Young, L. (2006). On cooperating firms, relations and networks., Journal of Business Research 55(2), 123-132. http://dx.doi.org/10.1016/S0148-2963(00)00147-8
http://dx.doi.org/10.1016/S0148-2963(00)...
; Liao et al., 2011Liao, C., Chuang, S. H. & To, P. L. (2011). How knowledge management mediates relationship between environment and organizational structure. Journal of Business Research, 64, 728-736. http://dx.doi.org/10.1016/j.jbusres.2010.08.001
http://dx.doi.org/10.1016/j.jbusres.2010...
). As estruturas em rede oferecem oportunidades para os trabalhadores aprenderem conjuntamente, pois elas facilitam a construção de canais de comunicação para o compartilhamento de conhecimento (Chen et al., 2010Chen, C. J., Huang, J. W. & Siao, Y. C. (2010). Knowledge management and innovativeness: the role of organizational climate and structure. International Journal of Manpower, 31(8), 848-870. http://dx.doi.org/10.1108/01437721011088548
http://dx.doi.org/10.1108/01437721011088...
).

A Tabela 4 levanta as principais variáveis e respectivos autores do constructo Estrutura Organizacional.

Tabela 4: Variáveis
e principais autores do constructo Estrutura Organizacional.

3.5. Desenvolvimento e absorção de conhecimento

A capacidade de absorção refere-se à habilidade de uma organização em reconhecer o valor de determinado conhecimento, assimilá-lo e aplicá-lo, visando obter vantagem competitiva (Cohen & Levinthal, 1990Cohen, W. M. & Levinthal, D. A. (1990). Absorptive capacity: a new perspective on learning and innovation. Administrative Science Quarterly, 35, 128-152. http://dx.doi.org/10.2307/2393553
http://dx.doi.org/10.2307/2393553...
). Segundo os autores, a noção fundamental desse conceito concentra-se no fato de que as organizações precisam acessar seu conhecimento primário para assimilar e utilizar novos conhecimentos, isto é, o acúmulo de conhecimento primário aumenta o potencial de aprendizagem futura.

Enquanto organizações com maior nível de capacidade de absorção tendem a ser mais dinâmicas (Teece et al., 1997Teece, D. J., Pisano, A., & Shuen, A. (1997). Dynamic capabilities and strategic management., Strategic Management Journal 18(7), 509-533. http://dx.doi.org/10.1002/(SICI)1097-0266(199708)18:7<509::AID-SMJ882>3.0.CO;2-Z
http://dx.doi.org/10.1002/(SICI)1097-026...
; Volberda et al., 2010Volberda, H. W., Foss, N. J. & Lyles, M. A. (2010). Absorbing the concept of absorptive capacity: how to realize its potential in the organization field., Organization Science 21(4), 931-951. http://dx.doi.org/10.1287/orsc.1090.0503
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), isto é, aptas a explorarem oportunidades no ambiente, independentemente da performance atual; as organizações com menor nível de capacidade de absorção tendem a ser mais reativas, pois procuram formas para a correção de suas falhas, baseando-se em padrões de desempenho que não significam avanço tecnológico. Os conceitos de reatividade e proatividade organizacional são de longo prazo, isto é, as firmas que atingem um nível proativo, por exemplo, permanecem dessa forma pela sua própria aspiração de pesquisar novas oportunidades (Cohen & Levinthal, 1990Cohen, W. M. & Levinthal, D. A. (1990). Absorptive capacity: a new perspective on learning and innovation. Administrative Science Quarterly, 35, 128-152. http://dx.doi.org/10.2307/2393553
http://dx.doi.org/10.2307/2393553...
).

Exploração e explotação representam dois modelos fundamentalmente diferentes de aprendizagem organizacional. O primeiro implica em um comportamento da firma voltado à pesquisa, descoberta e experimentação; enquanto o segundo caracteriza-se pelo refinamento, implementação, eficiência, produção e seleção (March, 1991March, J. G. (1991). Exploration and exploitation in organizational learning., Organization Science 20(1), 71-87. http://dx.doi.org/10.1287/orsc.2.1.71
http://dx.doi.org/10.1287/orsc.2.1.71...
). O autor ainda enfatiza que os retornos associados à exploração são mais variáveis e de longo prazo, enquanto os retornos relacionados à explotação são mais precisos e de curto prazo.

A Tabela 5 levanta as principais variáveis e respectivos autores do constructo Desenvolvimento e Absorção de Conhecimento.

Tabela 5: Variáveis
e principais autores do constructo Desenvolvimento e Absorção de Conhecimento.

4. Método de pesquisa

Durante o levantamento dos objetivos da pesquisa e do referencial teórico pode-se concluir que esta pesquisa possui um caráter exploratório em função de existirem lacunas de compreensão entre a GC e os fatores contextuais que a delineiam. Como o interesse deste trabalho é identificar fatores organizacionais que sustentam a GC dentro de um setor, uma pesquisa de natureza quantitativa apresenta maior robustez por abranger uma amostra maior de organizações (Bryman, 1989Bryman, A. (1989). Research methods and organization studies. London: Unwin Hyman. http://dx.doi.org/10.4324/9780203359648
http://dx.doi.org/10.4324/9780203359648...
).

Os dados coletados nesta pesquisa são do tipo primário, utilizando-se, para tanto, o método survey. A escolha do survey para esta tese deve-se essencialmente à possibilidade de obtenção de uma maior abrangência em relação à população estudada (empresas do setor automobilístico), a qual permita o tratamento multivariado dos dados. Além disso, a abordagem quantitativa possibilita a generalização dos resultados, pois a amostra coletada apresenta representatividade dentro do setor automobilístico. Forza (2002Forza, C. (2002). Survey research in operations management: a process-based perspective. International Journal of Operations & Production Management, 22(2), 152-194. http://dx.doi.org/10.1108/01443570210414310
http://dx.doi.org/10.1108/01443570210414...
) propõe o procedimento para desenvolvimento desse tipo de pesquisa, conforme Tabela 6.

Tabela 6: Procedimento
de pesquisa.

Em relação à análise dos dados foi adotado o método de análise fatorial, que constitui uma técnica estatística exploratória, destinada a resumir um conjunto de variáveis em um conjunto de fatores não observáveis, denominado análise fatorial tipo R (Hair Junior et al., 2005Hair Junior, J. F., Anderson, R. E., Tatham, R. L. & Black, W. C. (2005). Multivariate data analysis. New Jersey: Prentice Hall.). Na presente pesquisa, a análise fatorial permite condensar um conjunto grande de variáveis, composto originalmente por 46 variáveis, em conjunto reduzido de fatores, o que permite a identificação e melhor caracterização dos fatores que sustentam o processo de GC. Vale ressaltar ainda que o procedimento de análise fatorial permite ao pesquisador identificar, dentre o conjunto de variáveis, aquelas que melhor se relacionam com os fatores retidos e também eliminar as variáveis que eventualmente não são representativas para a definição dos fatores que sustentam a GC. A Figura 1 ilustra os passos do método de análise fatorial seguidos nesta pesquisa.

Figura 1:
Procedimento da análise fatorial dos dados.

5. Resultados

5.1. Caracterização das empresas e entrevistados pesquisados

A primeira análise realizada visa compreender o porte das empresas pesquisadas. Todas as empresas consideradas pela pesquisa são de médio ou grande porte, sendo que a grande maioria possui entre 500 e 5 mil funcionários (46%), 41% das empresas possuem entre 100 e 500 funcionários e 13% das empresas possuem mais que 5 mil funcionários.

Em relação ao tempo de atuação das empresas no mercado automobilístico, a empresa pesquisou organizações com pelo menos cinco anos no mercado. Os dados apontam que a maior concentração foi de empresas com tempo de atuação entre 10 e 20 anos (33%) e com mais de 40 anos no mercado (32%). O número de empresas com tempo entre 5 a 10 anos foi pequeno, cerca de 7,7%.

O estudo de fatores contextuais da organização exige que o entrevistado possua uma visão mais aprofundada do contexto organizacional. Assim, foram considerados os níveis hierárquicos de direção, gerência e supervisão, cargos que possuem poder de decisão. Os dados coletados apontam que a maioria dos respondentes é de nível gerencial (53%), 25% são supervisores e 22% são diretores nas funções consideradas pela pesquisa.

5.2. Análise fatorial exploratória

O primeiro passo da análise fatorial constitui uma análise visual da matriz de correlação. Preferencialmente, mais que a metade das correlações deve ser significativa e as correlações entre as variáveis acima de 0,30 são consideradas significantes (Hair Junior et al., 2005Hair Junior, J. F., Anderson, R. E., Tatham, R. L. & Black, W. C. (2005). Multivariate data analysis. New Jersey: Prentice Hall.). A matriz de correlação resultante desta pesquisa indica que 853 das 1.035 correlações, ou 82,4%, são significantes.

O segundo passo consiste na análise da significância geral de correlação, com o teste de esfericidade de Bartlett (BTS - Bartlett Test of Sphericity), e a consistência dos dados originais, por meio do teste Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy (KMO), conforme Tabela 7.

Tabela 7:
Valores de KMO e teste de esfericidade de Bartlett.

Os dados coletados apresentaram um valor satisfatório quanto à adequação da amostra (KMO), pois estão acima de 0,50 (Hair Junior et al., 2005Hair Junior, J. F., Anderson, R. E., Tatham, R. L. & Black, W. C. (2005). Multivariate data analysis. New Jersey: Prentice Hall.), e a hipótese de matriz identidade foi invalidada pelo teste de Bartlett a um nível de significância de 5%.

Em seguida são determinados os valores das comunalidades das 46 variáveis da pesquisa. A análise dos valores de comunalidade indica que as variâncias das 46 variáveis são explicadas em mais de 50% pelos fatores, portanto todas as variáveis são significantes para a constituição deles (Tabela 8).

Tabela 8:
Comunalidades das 46 variáveis presentes no questionário de pesquisa.

A etapa seguinte compreende a realização de análise fatorial com a finalidade de obterem-se fatores comuns e a estrutura de correlação entre os fatores e as variáveis. A Tabela 9 apresenta os fatores possíveis de serem extraídos e seus respectivos poderes explanatórios. Aplicando-se o critério da raiz latente, apenas os oito primeiros fatores são mantidos e o poder de explicação da variância dos dados originais por esse modelo é de 81,7%, acima do percentual proposto por Hair Junior et al. (2005Hair Junior, J. F., Anderson, R. E., Tatham, R. L. & Black, W. C. (2005). Multivariate data analysis. New Jersey: Prentice Hall.) em pesquisas relacionadas às ciências sociais, que propõem uma explicação de pelo menos 60% da variância por parte dos fatores extraídos.

Tabela 9:
Fatores extraídos e porcentagem da variância explicada.

A Tabela 10 apresenta a matriz de componentes rotacionados a partir do método Varimax. A carga fatorial mínima para a manutenção de uma variável em um determinado fator, em função do tamanho da amostra da pesquisa, é de 0,5, portanto evidencia-se que todas as variáveis são mantidas em seus respectivos fatores.

Tabela 10:
Matriz de componentes rotacionada (Rotação Varimax).

A etapa seguinte consiste em nomear os oito fatores retidos em função das variáveis que cada um deles absorveu. A Tabela 11 sumariza a denominação dos oito fatores extraídos bem como as respectivas variáveis que os compõem.

Tabela 11:
Fatores extraídos e variáveis associadas.

5.3. Análise

O desenvolvimento da pesquisa, realizada em empresas do setor automobilístico, revelou a existência de oito fatores contextuais relevantes para a GC. A Tabela 12 apresenta a relação dos fatores com o processo de GC. Esses fatores constituem o conjunto de requisitos, desenvolvidos no âmbito organizacional que se relacionam com o ciclo do conhecimento na organização.

Tabela 12:
Fatores contextuais da organização e o processo de GC.

A base para a fase de aquisição e utilização de conhecimentos é o desenvolvimento de competências dos indivíduos, referente ao fator 6, Mapeamento, avaliação e desenvolvimento de competências. Esse fator implica no constante mapeamento das competências centrais para a organização, no desdobramento delas em habilidades e conhecimentos específicos dos funcionários, em um processo de avaliação contínua das habilidades de conhecimentos dominadas pelos funcionários, a fim de planejar e executar um processo de capacitação das pessoas.

A partir de funcionários capacitados em torno de conhecimentos centrais, a organização inicia o processo de construção de sua base de conhecimentos primários retidos, a qual constitui o núcleo central do conhecimento dos indivíduos e facilita o processo de absorção de novos conhecimentos. Sem essa base de conhecimentos primários, os funcionários não possuem premissas para a aprendizagem explorativa ou explotativa, relacionada à utilização do conhecimento, a qual trará diferencial competitivo à organização. O fator 4, denominado Conhecimento primário e identidade compartilhados traz à tona a importância dessa base de conhecimento para o processo de GC. Além disto, o desenvolvimento de conhecimento primário comum está relacionado à formação de uma identidade compartilhada, pois os indivíduos passam a deter uma linguagem e forma de agir homogêneas, facilitando a sua interação e a distribuição do conhecimento.

O fator 2, Cultura de aprendizagem e trabalho em equipe, está relacionado diretamente à formação de uma identidade compartilhada. A cultura organizacional dita os valores, crenças e a forma de agir dos indivíduos, denotando um grau de identidade entre eles. Os grupos são compostos por indivíduos que compartilham identidade e valores, isto é, atuam sob o mesmo paradigma cultural, explicando a junção dos conceitos cultura de aprendizagem e trabalho em equipe em único fator. A cultura de aprendizagem está relacionada à cooperação entre os indivíduos, à constante troca de experiências e conhecimento, promovendo a distribuição do conhecimento. O desenvolvimento de uma cultura que fomente a descoberta de novos conhecimentos, o processo de tentativa e erro, experimentação e pesquisa, aliado à organização de trabalhos em grupo, que valorizem a interação multidisciplinar dos indivíduos, são características organizacionais que favorecem a aquisição e utilização de conhecimento. Em relação ao processo de armazenamento do conhecimento, os grupos de trabalho retêm conhecimento tácito, uma vez que eles desenvolvem um conjunto de habilidades e formas de agir peculiar a cada equipe, que facilita as interações e o diálogo entre os indivíduos.

O fator 5, Capacidade de absorção de conhecimento, refere-se à capacidade organizacional de adquirir conhecimentos até então não dominados. O processo de absorção de conhecimento é bastante dependente da criação de uma base de conhecimento primário (March, 1991March, J. G. (1991). Exploration and exploitation in organizational learning., Organization Science 20(1), 71-87. http://dx.doi.org/10.1287/orsc.2.1.71
http://dx.doi.org/10.1287/orsc.2.1.71...
; Volberda et al., 2010Volberda, H. W., Foss, N. J. & Lyles, M. A. (2010). Absorbing the concept of absorptive capacity: how to realize its potential in the organization field., Organization Science 21(4), 931-951. http://dx.doi.org/10.1287/orsc.1090.0503
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), sendo essencial para a manutenção e aumento da competitividade da organização. Sem o desenvolvimento de conhecimento primário, a organização não se habilita a aprender novos conhecimentos, tornando-se obsoleta. O processo de absorção de conhecimento externo pode ocorrer via interações intraorganizacionais, contratação de funcionários com competências complementares às existentes, aquisição de patentes ou mesmo seções de treinamento. Dessa forma, é fundamental para as organizações buscar a constante capacitação de seus funcionários, construindo uma base sólida de conhecimento primário que promova a absorção dessas diversas fontes de conhecimento externo.

A Estratégia inovativa é o sétimo fator identificado nesta pesquisa como sustentador do processo de GC, estando diretamente relacionado ao processo de aquisição e utilização do conhecimento, uma vez que inovar implica em reconstruir competências e utilizá-las com o intuito de obter vantagem competitiva. Estratégia pode ser definida como forma de competir de uma organização em seu mercado. Assim, uma estratégia inovadora pode ser considerada importante para a GC, pois implica na descoberta de novos conhecimentos por meio de um processo de pesquisa e experimentação.

Da mesma forma que a estratégia inovativa, o fator 1, Resolução de problemas e melhoria incremental, implica num processo de aquisição e utilização de conhecimento. Entretanto, enquanto na estratégia inovativa a ênfase da organização é na busca de novos conhecimentos que permitam a diferenciação, a resolução de problemas e a melhoria incremental têm como foco o refinamento da mesma base de conhecimento. As iniciativas organizacionais voltadas à melhoria contínua podem ser consideradas formas de as organizações aprimorarem constantemente suas bases de conhecimento primário por meio da ampla participação dos funcionários.

Dessa forma, nas organizações com menor capacidade de inovar e absorver conhecimento, os processos de aquisição e utilização da GC são voltados à explotação do conhecimento. Nas empresas mais inovadoras, os processos de aquisição e utilização vão além da explotação, abrangendo a exploração do conhecimento, o que implica na prática de atividades de pesquisa e desenvolvimento. As organizações mais inovadoras são aquelas com interesse maior no desenvolvimento de conhecimento primário, aprendizagem em grupo e utilização de sistemas de informação, evidenciando que os processos de armazenamento e distribuição, tanto do conhecimento explícito, por meio de tecnologias de informação, quanto do conhecimento tácito, através de atividades em grupo, ocorrem de forma mais intensa.

O fator 3, relacionado à postura proativa e estrutura organizacional enxuta, refere-se à forma de agir dos funcionários em decorrência de um modelo organizacional adotado. Quando expostos a ambientes organizacionais com estruturas verticalmente mais enxutas, os funcionários tendem a desenvolver maior compreensão acerca de seu mercado, bem como dos pontos fortes e fracos da organização, estimulando o processo de geração de novos conhecimentos por meio de atividades de resolução de problemas, melhoria incremental, num sentido explotativo e, também, via pesquisa de novos conhecimentos, em uma perspectiva de aprendizagem explorativa. As estruturas mais enxutas favorecem também a integração interfuncional dos indivíduos, favorecendo a distribuição do conhecimento e também a multidisciplinaridade, que apoia, por sua vez, o processo de aquisição e utilização do conhecimento.

E, por fim, o fator Sistema de informação está intimamente relacionado aos processos de armazenamento e distribuição do conhecimento explícito. Dessa forma, o SI pode ser considerado uma ferramenta de suporte à GC que facilita o fluxo de informação entre os diversos departamentos e setores da organização.

6. Conclusões

Este artigo cumpre seu objetivo de identificar os fatores contextuais que sustentam a prática da GC no âmbito organizacional. Conforme referências supracitadas, quando uma organização introduz um processo para GC sem que haja uma preparação prévia os resultados acabam sendo frustrantes. Nesse sentido, a identificação desses fatores elucida quais são os pontos que as organizações do setor automobilístico devem enfatizar para que as iniciativas em torno das quatro etapas do processo de GC (aquisição, armazenamento, distribuição e utilização do conhecimento) tragam os resultados esperados.

Para definir a estrutura de fatores latentes que sustentam a GC nas empresas do setor automobilístico, este trabalho partiu do levantamento do referencial teórico sobre cada fase do processo de GC, a fim de compreender as características organizacionais que se relacionam com elas, estabelecendo constructos (desenvolvimento de recursos humanos, cultura organizacional, trabalho em equipe, estrutura organizacional e desenvolvimento e absorção de conhecimento). Esses constructos foram explorados e desdobrados em variáveis de pesquisa e elas, por sua vez, reduzidas a fatores contextuais.

A partir da amostra de 78 empresas do setor automobilístico estudadas foram definidos oito fatores contextuais que sustentam a GC no ambiente organizacional. O primeiro, denominado resolução de problemas e melhoria incremental, trata da aprendizagem explotativa, essencialmente, da ação dos indivíduos em ações que visam à resolução de problemas de processos produtivos. Cultura de aprendizagem e trabalho em equipe foi o segundo fator encontrado, o qual considera a importância da criação de um contexto organizacional voltado à experimentação e compartilhamento do conhecimento adquirido. Postura proativa e estrutura organizacional enxuta representa o terceiro fator, que traz à tona a importância de um menor nível de centralização do poder e que pressupõe mais proatividade por parte dos indivíduos e maior nível de integração dos funcionários, favorecendo o trabalho multidisciplinar e o fluxo de conhecimento.

O quarto fator, conhecimento primário e identidade compartilhados, ressalta a importância de as organizações desenvolverem em seus funcionários uma base de conhecimento primário que promova a absorção de novos conhecimentos e, ainda, a importância do senso de identidade dos indivíduos, favorecendo o trabalho em grupo e estimulando a disseminação do conhecimento. Capacidade de absorção de conhecimento foi o quinto fator extraído da análise fatorial - refere-se ao processo de aquisição de conhecimento originado em âmbito interno de atividade como pesquisa e desenvolvimento, ou em âmbito externo, como parcerias, consultorias, contatos com universidades, entre outros. Vale ressaltar que a capacidade de absorção de conhecimento é amparada pelo conhecimento primário organizacional. Sem essa base de conhecimento as organizações têm dificuldades para absorver conhecimentos, comprometendo a competitividade.

O sexto fator, mapeamento, avaliação e desenvolvimento de competências, pode ser considerado um elemento central para o processo de GC. O conhecimento é manifestado pela ação do ser humano em atividades práticas, dessa forma, para que o conhecimento possa ser criado e disseminado na organização, é necessário o desenvolvimento das competências dos indivíduos.

Estratégia inovativa corresponde ao sétimo fator, referindo-se à forma como a organização se posiciona no mercado e influenciando o modo como o conhecimento é utilizado pela organização. Assim, se a organização adota uma estratégia mais ofensiva, o conhecimento é utilizado com o objetivo de diferenciação e inovação; em contrapartida, se a organização adota como estratégia seguir o desenvolvimento ditado por outras empresas, o conhecimento é utilizado com a finalidade de melhorar a eficiência do processo produtivo.

Sistema de informação é o último fator estabelecido, relaciona-se com o processo de integração do conhecimento. Esse fator trata da utilização de ferramentas de TI que promovam a codificação do conhecimento explícito, constituído pelos procedimentos, instruções e melhores práticas relacionados à rotina da organização, facilitando a retenção e distribuição do conhecimento.

Os fatores identificados mostram que o processo de GC possui dois elementos centrais. O primeiro é o ser humano, agente responsável por reter e transformar o conhecimento primário por meio de iniciativas de melhoria e inovação. O desenvolvimento de suas competências aumenta a base de conhecimento primário e, consequentemente, a capacidade de absorver novos conhecimentos e a cumulatividade. Além disso, os aspectos motivacionais, como sistemas de premiação e recompensa, são importantes, a fim de desenvolver um maior interesse pelo trabalho por parte dos indivíduos, estimulando uma postura proativa no que tange à tomada de decisão e à resolução de problemas.

O segundo elemento central do processo de GC diz respeito ao contexto organizacional, que deve ser regido por uma cultura que estimule o processo de aprendizagem, como ações do tipo tentativa e erro e de experimentação. A cultura deve fomentar o senso de cooperação entre os indivíduos a fim de estimular-se o processo de GC. O desenvolvimento do trabalho em equipe, especialmente aquele voltado à resolução de problemas, é um fator que favorece a aprendizagem e a distribuição do conhecimento.

A estrutura é outro fator referente ao contexto organizacional que impacta o processo de GC. Estruturas com divisões departamentais mais rígidas e níveis hierárquicos mais densos são menos propícias ao desenvolvimento e distribuição de conhecimento, embora possam ser positivas quanto à utilização do conhecimento formalizado retido em situações de alta repetição. Estruturas mais flexíveis, que possibilitam o fluxo da informação e do conhecimento entre suas fronteiras e favoreçam a formação de grupos interdisciplinares são mais favoráveis à geração e distribuição do conhecimento. Os SIs são elementos de suporte que apoiam especialmente a intensificação do fluxo de conhecimento explícito entre indivíduos.

A vantagem competitiva, objetivo final da GC, é resultado da interação entre indivíduo e desenvolvimento organizacional. Essa vantagem competitiva consiste na capacidade da organização e de seus funcionários aprenderem e absorverem novos conhecimentos a fim de aplicá-los em inovações, apoiando uma estratégia inovativa, bem como em atividades de resolução de problemas e melhorias incrementais.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao CNPQ e à FAEPEX pelo apoio financeiro cedido para a condução da pesquisa

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Nov 2015
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2015

Histórico

  • Recebido
    16 Maio 2013
  • Aceito
    29 Out 2013
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