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Conversas de Corredores: uma pesquisa narrativa sobre coordenação pedagógica e formação continuada de professores que ensinam Matemática nos Anos Iniciais1 1 Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo apoio para publicação deste artigo.

Hallway conversations: a narrative research on pedagogical coordination and continued training of teachers who teach mathematics in the early years

Resumo

Este trabalho apresenta a dissertação intitulada Conversas de Corredores: Coordenação Pedagógica, Narrativas, Experiência e Formação Continuada de Professores que ensinam Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, uma pesquisa narrativa que teve por objetivos: investigar como as/os coordenadoras/es pedagógicas/os, ao revisitarem a sua ação por meio das narrativas, relatam as suas lidas com os desafios presentes em sua função de formadora/r de professoras/es e como realizam essa formação continuada voltada para a Matemática ensinada pelas/os professoras/es nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental; e discutir a formação continuada voltada para o ensino de Matemática, bem como o currículo explicitado pelas narrativas dos fazeres das/dos coordenadoras/es pedagógicas/os dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Explora a linguagem e a subversão das normas da escrita acadêmica, aliando forma e conteúdo para produção de sentido. Algumas passagens são elaboradas em crônicas. As considerações expressam metaforicamente a síntese dos desafios da coordenação pedagógica e discutem a educação pelo par experiência/sentido, como sugere Jorge Larrosa, referencial teórico desse trabalho.A metodologia consiste em ir das conversas, das narrativas de coordenadoras/es, a um conversar orientado ao pensamento, pela pesquisa sobre outros contextos de coordenação, expressas aqui em notas de rodapé. E, depois, realizar um retorno ressignificado pelas experiências pedagógicas e curriculares, por meio de crônicas. Conclui-se que é preciso pensar em formar toda e qualquer pessoa para se valer do conhecimento matemático. Isso exige ousadia, utopia, requer do coordenador o desvio das armadilhas, a subversão e a criatividade, para fugir do currículo técnico em favor da dignidade humana.

Palavras-chave:
Educação Matemática; Currículo; Coordenador Pedagógico; Narrativas

Abstract

This paper presents the dissertation entitled Hallway conversations: pedagogical coordination, narratives, experiences, continuous formation in service in the context of the mathematics of the initial years of the elementary school a narrative research that aimed at investigating how the pedagogical coordinators, when revisiting their action through the narratives, report their dealings with the challenges present in their role as teacher/educators and how they carry out this continuing education focused on Mathematics taught by the teachers in the Early Years of Elementary School; and discussing the continuing education focused on the Mathematics, as well as the curriculum explained by the narratives of the pedagogical coordinators' tasks for the Early Years of Elementary School.It explores the language and subversion of academic writing norms, combining form and content to produce meaning.Some passages are written in chronicles. The considerations metaphorically express the synthesis of the challenges of pedagogical coordination and discuss education through the experience/sense pair, as suggested by Jorge Larrosa, the theoretical reference of this work. The methodology consists of going from conversations, from the coordinators' narratives, to a thought-oriented conversation, through research on other contexts of coordination, expressed here in footnotes. And then, making a resignified return for the pedagogical and curricular experiences, through the chronicles. It is concluded that it is necessary to think about training each and every person to use mathematical knowledge. This requires boldness and utopia, it requires the coordinator to avoid traps, subversion, and creativity, in order to escape the technical curriculum in favor of human dignity.

Keywords:
Mathematical Education; Curriculum; Pedagogical Coordinator; Narratives

1 Paracomeço de conversa…

É dada a hora de começar. E enquanto não me2 2 Os verbos empregados em primeira pessoa do singular no decorrer deste trabalho expressam a ideia de que a experiência da pesquisa, embora vivida pela primeira autora, foi narrada a partir do olhar dos dois autores deste artigo, sendo o segundo autor, orientador de mestrado e de doutorado da primeira. vêm as palavras, enquanto elas ainda se embaralham, enlaçam-se, tropeçam-se e esbarram-se em meu pensamento, vou fazendo esse dizer confuso, costurando aqui, remendando ali, ziguezagueando, forçando uma barra, na esperança de um arremate aceitável.

Recorro a um dicionário qualquer, pouco reconhecido, como há de ser essa minha escrita e encontro a definição de começo como primeiros ensaios ou experiências; tentativas iniciais. Julgo que essa história de definições, ensaios e experiências são conversas futuras, então me concentro nas tentativas iniciais e tento explicar esse possível vir a ser. Procuro um caminho mais digno, devido à solenidade do momento, para não perder ainda mais palavras pelo percurso.

Na etimologia, encontro que começo deriva de começar, do latim cominitiare, em espanhol comenzar… Em nada isso me ajuda, a não ser pelo fato da palavra comenzar lembrar-me parte da conversa entre Núria e seus amigos (ARNAUS et al, 1995ARNAUS, R.; FERRER, V.; LARROSA, J.; LARA, N. P. Déjame que te cuente. Epi(diá)logo. In: LARROSA, J. et al. Déjame que te cuente: Ensayos sobre narrativa y educación. Barcelona: Laertes, 1995. p. 221-238., p. 225) e aquele dado momento em que diz “um belo dia, não sei como, me encontrei escrevendo meu texto […] dando-lhe forma para fazê-lo mais compreensível, para os outros e ao mesmo tempo, para mim mesma” (ARNAUS et al, 1995ARNAUS, R.; FERRER, V.; LARROSA, J.; LARA, N. P. Déjame que te cuente. Epi(diá)logo. In: LARROSA, J. et al. Déjame que te cuente: Ensayos sobre narrativa y educación. Barcelona: Laertes, 1995. p. 221-238., p. 225, tradução nossa).

Este é o belo dia, em que não sei como me encontro escrevendo e estas são as tentativas iniciais de dar sentido às palavras, para os outros e para mim mesma. Atrevo-me, agora, a começar uma explicação e ressignificar o que li, descobri e aprendi com essa travessia.E começo por onde, mesmo?

- Ah, a conversa…

1.1 Sobre o que é essa conversa? “Déjame que te cante”!3 3 Faz alusão ao título do livro: LARROSA, Jorge et al. Déjame que te cuente: Ensayos sobre narrativa y educación. Barcelona: Laertes, 1995.

Essa conversa é sobre Educação. Mais especificamente sobre Educação Matemática, sobre o ensino de Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Como toda conversa, tem um emissor e um receptor e, já adianto: neste trabalho, os papéis se misturam. Por hora eu sou o emissor e você, leitor, o receptor. Porém, haverá outros interlocutores, um tanto peculiares. Eles terão um assunto a discutir, a mensagem. E serão o assunto a ser discutido. Falarão sobre formação, formação continuada de professores, professores que ensinam Matemática nos Anos Iniciais. Deve estar querendo saber o porquê dessa conversa. Deixe que te conto!

Essa figura peculiar pode ser marcante, singular, excepcional. Ou ilustrativa, desconforme, contranatural a esse referente, o contexto profissional escolar. Sua identidade não se faz legitimada e sua lida é a autoafirmação de sua função, a formação continuada de professores. A formação que tem que co-ordenar, tornar presente, de forma continuada e permanente, para que o excesso de trabalho não sucumba dos professores (e dele mesmo) a necessidade de aprender, e aprender, e aprender…

Pois bem, sou coordenadora, possibilito que a formação continuada aconteça em minha escola e, em um determinado período, trabalhei com formação na Secretaria da Educação de São José do Rio Preto, formação em Matemática, de professores e de coordenadores. Neste período, além das reuniões de formação, havia o acompanhamento in loco de algumas escolas e, então, conversávamos com outros coordenadores, que retratavam os desafios do seu fazer, a falta de tempo para planejar, para estudar… as interrupções constantes, a apagação de incêndios, as muitas atribuições.

Havia outros formadores e, nos retornos, discutíamos o que observávamos e as estratégias de superação dos obstáculos da profissão. O maior ponto de discussão do grupo era a pouca presença da Matemática nas pautas formativas. A formação continuada em Matemática é um desafio. Um desafio principalmente para quem teve pouca identificação com ela na trajetória estudantil, ou na formação inicial. Isso quando esta atendeu as expectativas para o ensino da disciplina.

Assim, propus-me a investigar, na dissertação que é apresentada nesse trabalho, como as/os coordenadoras/es4 4 O termo coordenadoras/es, tanto no plural como no singular, será empregado primeiramente no feminino, pois a função, assim como a de professores dos Anos Iniciais, é majoritariamente exercida por mulheres. A barra, seguida de “es”, é uma tentativa de não atrapalhar a leitura, repetindo excessivamente termos. pedagógicas/os, ao revisitarem a sua ação por meio das narrativas, relatam as suas lidas com os desafios presentes em sua função de formadora/r de professoras/es e como realizam essa formação continuada voltada para a Matemática ensinada pelas/os professoras/es nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. E também, discutir a formação continuada voltada para o ensino de Matemática, bem como o currículo explicitado pelas narrativas dos fazeres das/os coordenadoras/es pedagógicas/os dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental; e fazer isso em tom de conversa, já que Garnica (2015)GARNICA, A. V. M. O pulo do sapo: narrativas, História Oral, Insubordinação e Educação Matemática. In: D'AMBROSIO, B. S.; LOPES, C. E. (org.). Vertentes da Subversão na Produção Científica em Educação Matemática. Campinas: Mercado de Letras, 2015. p. 181-206. v. 1. apresenta as narrativas como um modo do ser humano pensar, organizar o conhecimento e a realidade, que permite conceitualizar as dimensões intuitivas, pessoais, sociais e políticas da experiência educativa. É “uma reconstrução da experiência a partir da qual, mediante um processo reflexivo, é possível atribuir significado ao vivido” (GARNICA, 2015GARNICA, A. V. M. O pulo do sapo: narrativas, História Oral, Insubordinação e Educação Matemática. In: D'AMBROSIO, B. S.; LOPES, C. E. (org.). Vertentes da Subversão na Produção Científica em Educação Matemática. Campinas: Mercado de Letras, 2015. p. 181-206. v. 1., p. 182).

E desejo que as conversas desse trabalho se tornem um coro. Espero que a beleza do som dessas vozes, que se misturam e bem se manifestam, agucem os ouvidos e façam-se ouvir. Que a mensagem transmitida pelas palavras dessa letra faça sentido para outras/os coordenadoras/es e para as/os professoras/es que pensam a importância da Matemática na vida dos alunos. E que a melodia toque fundo você, apreciador dessa música chamada Educação.

1.2 Conversas de corredores

Em nosso contexto de trabalho nós, coordenadoras/es, deparamo-nos com projetos brilhantes, situações conflituosas… Muitas vezes temos uma ajuda solicitada, um pedido de orientação, um diálogo sobre um problema, ou um compartilhamento de solução, uma crítica tecida, tudo isso numa simples conversa de corredor. Nos corredores as relações se dão, dentro ou fora da gente. No pós-reunião, o corredor se torna os bastidores de um palco, onde tudo que parece completamente desorganizado serviu ou servirá para organizar o que aconteceu ou acontecerá.

E o que é um corredor senão um espaço onde caminhamos em busca de algo? Nele encontramos muitas portas. E em cada porta um mundo novo, onde a vida acontece. No nosso caso, a Educação acontece… Às vezes, atravessamos de uma porta para outra, procurando algo. Um corredor é atravessado muitas vezes.

Nós mesmas/os, educadoras/es somos corredores, atravessados por coisas, pessoas e acontecimentos, que nos passam como ventos de brisa fresca, ou como tratores que demolem nossas estruturas. Dentro de nós, vários compartimentos. De repente, abre-se uma porta fechada há algum tempo e um mundo novo é redescoberto. Ou, de repente, um sinal é tocado e tudo se esvai em forma de emoções.

Um corredor para uma/um Coordenadora/r Pedagógica/o é algo tocante. Uma parte do seu espaço de trabalho, que se mistura com ela/e própria/o, com o seu jeito coordenadora/r de ser, como um mural que estampa algo do qualela/e fez parte ou nem havia percebido que acontecia. Onde se para os pés para duas batidas na porta, um pedido de licença, uma espiadela… Um “entre, por favor, venha participar”, ou um olhar de “saia, esta porta está fechada para você”. Ela/e caminha pelo corredor às vezes sem, às vezes com a consciência de que as aprendizagens por trás das portas, abertas ou fechadas, são parte de sua responsabilidade.

O corredor é um espaço de correr livre, esbarrar-se, escorregar e cair, levantar-se novamente e sair, andando, conversando, rindo ou chorando. É um espaço de conversas ao pé do ouvido, de compartilhar conquistas, de observar respostas. É um espaço de vivências e/ou de experiências.

Esse é um inusitado, porém,um bomlocalpara realizar uma pesquisa sobre a Coordenação Pedagógica. Para ver o que lhe atravessa, o que lhe tira do caminho, do foco, da busca, o que lhe interrompe e ao mesmo tempo lhe alimenta. O local que reflete de fato, o turbulento cotidiano de trabalho de uma/um Coordenadora/r Pedagógica/o.

1.3 Da conversa à crônica

Já se faz perceptível a escrita desse texto em tom de diálogo, a brevidade, a superposição entre o oral e o escrito, os trechos curtos, que limitam o discurso nele presente. Se não se faz nítida a tentativa de redigir esse trabalho em crônicas, talvez, como pressuponho, eu não esteja ainda cumprindo o meu intuito. Peço perdão, leitor, apesar dos senões, insistirei nesse recurso.Essa insistência não é descabida. Seu propósito inicia-se em um referencial teórico e desponta numa metodologia e forma de análise.

Isso porque a crônica é um gênero híbrido, flexível, que se adapta aos diferentes portadores, e muito embora seja natural da esfera jornalística, já passou a fazer parte de livros e, até aparece em subversivas teses e dissertações5 5 Por exemplo: FERNANDES, Maria Valéria Padilha. “Na periferia do sonho”: crônicas de uma experiência de formação de professoras. Campinas: Unicamp, 2000. (Dissertação de Mestrado). . Dessa forma, concedo-me uma licença pouco poética para abusar desse gênero, aproveitando o argumento de que se trata de um gênero menor (CANDIDO, 1993CANDIDO, A. Recortes. São Paulo: Cia. das Letras, 1993., p. 23) para justificar as limitações literárias da minha escrita, “a fim de que surja uma voz cada vez mais indigente, cada vez mais trêmula, liberada da vaidade dos discursos que poderiam tranquilizá-la e, por isso mesmo, exposta à maior inquietude, ao maior desassossego, à maior pobreza” (LARROSA, 2015LARROSA, J. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. Tradução de Alfredo Veiga-Neto. 5 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2015., p. 25).

Por suas temáticas se relacionarem ao cotidiano e, às vezes, promoverem uma reflexão sobre problemas universais (COELHO, 2009COELHO, I. S. Hibridismo do gênero crônica: discursividade e autoria em produções do E.F.II. 2009. Tese (Doutorado em Letras) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.), a crônica parece um gênero um tanto apropriado para essa ocasião. Assim, esse cotidiano característico das crônicas se transforma em cotidiano escolar e retiramos dele recortes do fazer da/do coordenadora/r pedagógica/o. Dessa forma, a metodologia deste trabalho consiste em ir das conversas, das narrativas de coordenadoras/es, porque, “enquanto escritura, o diálogo pode transcender o tempo e o espaço (o aqui e o agora) e se tornar de alguma maneira independente de rostos, de nomes, de corpos e vozes” (LARROSA, 2016LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução: Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016., p. 140) a um conversar orientado6 6 De acordo com Larrosa, filosofia é ler, escrever e conversar. É um conversar orientado ao pensamento. ao pensamento, por meio da pesquisa sobre outros contextos de coordenação pedagógica. E, depois, realizar um retorno a esse nosso diálogo, por meio das crônicas, porque toda filosofia é “um ler e escrever, um ensinar e aprender que acontece conversando. Colocando em comum (com outros: com a leitura, a escrita e o pensamento dos outros) o que cada um lê, o que cada um escreve e o que cada um pensa” (LARROSA, 2016LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução: Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016., p. 141). Um retorno reelaborado, ressignificado pela construção intersubjetiva das experiências pedagógicas e curriculares.

Toda essa conversa é orientada pelos estudos de currículo7 7 Desenvolvidos no Grupo de Pesquisa em Currículo:Estudos, Práticas e Avaliação – GEPAC, da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira (UNESP-FEIS); e nas disciplinas de Tendências em Educação Matemática, do Programa de Pós-Graduação em Ensino e Processos Formativos (UNESP- Interunidades) e Teorias e Perspectivas Curriculares no Contexto da Educação Matemática, do Programa de Pós-Graduação em Educação para Ciência (UNESP – FC) , pelas teorias pós-críticas, que estabelecem conexões entre significação, identidade e poder, dando ênfase ao discurso e à sua textualização. E esse diálogo, portanto, é uma forma de respeito e valorização da voz, dos que tem muito a contar, a ensinar e a aprender com seus relatos. E a crônica como gênero intermediário consegueintermediar esse discurso com o leitor.

1.4 Falando sobre o que me aconteceu…

Um acontecimento é algo marcante, que nos surpreende ao chegar despercebido. E, então, de repente, deparei-me com as palavras, pegadas de um caminho a seguir. E foi assim que aconteceu! A palavra experiência, dada por uma explicação inconclusiva, plausível, aberta, ampla. “A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece” (LARROSA, 2016LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução: Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016., p. 18).

Esse foi o ilustre acontecimento: o encontro com o referencial teórico. Buscamos esse sentido da palavra experiência no decorrer da pesquisa e também os caminhos de uma perspectiva teórica e de uma abordagem metodológica. Larrosa (2016)LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução: Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016. nos fala que, geralmente, a Educação é pensada do ponto de vista dos pares “ciência e técnica” ou do ponto de vista teoria e prática. Para ele, ciência e técnica remetem-se a uma perspectiva positivista e retificadora; e teoria e prática, a uma perspectiva política e crítica. Larrosa (2016)LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução: Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016. propõe uma possibilidade mais existencial e estética, ou seja, propõe pensar a Educação a partir do par experiência/sentido. Atribuindo significado para essas duas palavras, ele nos diz:

[…] as palavras produzem sentido, criam realidades e, às vezes, funcionam como potentes mecanismos de subjetivação. Eu creio no poder das palavras e, na força das palavras, creio que fazemos coisas com as palavras e, também, que as palavras fazem coisas conosco. As palavras determinam nosso pensamento porque não pensamos com pensamentos, mas com palavras, não pensamos a partir de uma suposta genialidade ou inteligência, mas a partir de nossas palavras. E pensar não é somente “raciocinar” ou “calcular” ou “argumentar”, como nos tem sido ensinado algumas vezes, mas é sobretudo dar sentido ao que somos e ao que nos acontece. E isto, o sentido ou o sem-sentido, é algo que tem a ver com as palavras. E, portanto, também tem a ver com as palavras o modo como nos colocamos diante de nós mesmos, diante dos outros e diante do mundo em que vivemos. E o modo como agimos em relação a tudo isso (LARROSA, 2016LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução: Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016., p. 18).

Sendo assim, anuncia que quando usamos as palavras, damos sentido ao que somos, ao que nos acontece e relacionamos palavras e coisas, nomeando as coisas pelas palavras, que por isso devem ser dotadas de significados.Assim, o sujeito da experiência é “território de passagem” (LARROSA, 2016LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução: Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016., p. 25), é o sujeito que permite que o que lhe passe, lhe afete, deixe marcas, cause efeitos, “é um ponto de chegada, um lugar a que chegam as coisas, como um lugar que recebe o que chega e que, ao receber, lhe dá lugar” (LARROSA, 2016LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução: Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016., p. 25). O sujeito da experiência é ex-posto. Experiência é travessia, perigo, paixão. É aquilo que, ao passar, nos forma e nos transforma. “O saber da experiência se dá na relação entre o conhecimento e a vida humana. De fato, a experiência é uma espécie de mediação entre ambos” (LARROSA, 2016LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução: Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016., p. 30).

Dar lugar ao acontecimento. Estar aberto, ao pensamento, às palavras e aos sentimentos. De repente, esta é a chave para se construir um sentido que faça mais sentido para a formação, para a Matemática, para a Educação.

1.5 Dialogando com o contexto

Vamos falar de contexto, o contexto dessa pesquisa, o município de São José do Rio Preto. Aqui as/os Coordenadoras/es têm formação continuada, as/os professoras/es também têm. Eu tive. Outras pessoas com quem conversei nesse trabalho também tiveram e ofereceram, assim como eu. Talvez, por isso, esse discurso sobre essa realidade carregue interpretações dominantes e uma verdade única, a de que a/o Coordenadora/r Pedagógica/o deve coordenar a formação das/dos professoras/es em serviço na escola.

“Os aparatos educacionais e culturais nos quais trabalhamos são (…) lugares de produção, de reprodução, de crítica e de dissolução disso que chamamos verdade e disso que chamamos realidade” (LARROSA, 2015LARROSA, J. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. Tradução de Alfredo Veiga-Neto. 5 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2015., p. 163). Sei que essa nossa verdade faz parte de verdades múltiplas, espalhadas em realidades tão distintas, de um território tão desigual, como o nosso Brasil. Gostaria, no entanto, de ser capaz de dialogar com essas realidades, de reconhecer nossas diferenças, de desconfiar de nossas semelhanças, de discutir nossas possibilidades. Não desejo impor essa verdade aqui construída, mas habitar com dignidade o mundo, registrando essa realidade com o caráter poético e político da nossa linguagem (LARROSA, 2015LARROSA, J. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. Tradução de Alfredo Veiga-Neto. 5 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.), essa que apresenta a polifonia da situação que vivemos.

2 Conversas paralelas

Até aqui, tratei de conversar contigo, leitor. Ainda que houvesse outras vozes nesses ditos, as vozes dos autores que em alguns momentos falaram por mim, agora essa conversa terá, digamos, interlocutores mais próximos de todo esse contexto que estou lhes apresentando.Abriremos, assim, conversas paralelas. Sabe? Aquelas pelas quais sempre fomos repreendidos por nossos professores, que por muitas vezes nos disseram “Sem conversas paralelas!”? E que, quando nos tornamos professores, tratamos de repetir aos nossos alunos?

Pois bem, nesse trabalho elas serão permitidas, porque na maioria das vezes, as conversas paralelas são boas. Não raro estão relacionadas ao assunto principal e são tentativas de interpretação, ou de aproximação das nossas circunstâncias, tentativas de ressignificação para que o dito se torne vivido por uma determinada comunidade, de alunos, de professores, ou, em nosso caso, de coordenadoras/es pedagógicas/os. Afinal, “ler e escrever (escutar e falar) é colocar-se em movimento, é sair sempre para além de si mesmo, é manter sempre aberta a interrogação acerca do que se é. Na leitura e na escrita, o eu não deixa de se fazer, de se desfazer e de se refazer” (LARROSA, 2015LARROSA, J. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. Tradução de Alfredo Veiga-Neto. 5 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2015., p. 40).

Bolívar, Domingo e Fernandéz (2001)BOLÍVAR, A.; DOMINGO, J.; FERNÁNDEZ, M. La investigación biográfico-narrativa en educación: Enfoque y metodología. Madrid: Editorial La Muralla, 2001. falam de empregar na pesquisa biográfica relatos em paralelo, de modo que gerem uma visão complementar de um assunto, uma estrutura polifônica, na qualos relatos se sobrepõem, combinam-se para construir o conteúdo. O que vem à frente, portanto, se assemelha àquela situação em que o professor intervém “Conte a todos o que estão conversando”. E eu vou lhe contar, para fazer dessa conversa, que uma vez foi paralela, uma parte importante, quem sabe o principal assunto para conversarmos neste texto.

2.1 (Entre parênteses)

Entre parênteses estão as conversas com as coordenadoras que participaram dessa pesquisa. Escolhi os parênteses para demarcação das vozes, para sinalizar significados importantes advindos da experiência pedagógica que, sendo individuais, estão contidos, são frutos de significados sociais e parte de um mesmo texto, mas carecem de preservação.Cada cor representa a fala de uma coordenadora. As pausas são simbolizadas por “…” e os recortes por “(…)”. Na pesquisa, as conversas podem ser consultadas na íntegra nos apêndices (SANTANA, 2019SANTANA, M. L. Conversas de corredores: coordenação pedagógica, narrativas, experiência e formação continuada de professores que ensinam Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. 2019. Dissertação (Mestrado em Ensino e Processos Formativos) - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", São José do Rio Preto, 2019.). As minhas falas estão em negrito. Distribuí as conversas em poucas seções (não pré-estabelecidas), apenas para abordar, em cada uma delas, assuntos relevantes para a coordenação pedagógica e a formação de professores que ensinam Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Os trechos são grandes, para evitar uma postura muito ilustrativa.Lembra-se do coro que mencionei? Ele está se formando.

Figure 1
Caracterização dos Sujeitos de Pesquisa8 8 Em São José do Rio Preto há uma distinção entre função e cargo de coordenador pedagógico. Função se refere ao exercício da coordenação pedagógica por inscrição ou designação, na qual todos os professores concursados do município podem se inscrever após cinco anos de exercício docente. Cargo se refere ao exercício da coordenação pedagógica após aprovação em concurso público.

2.2 Aformação do coordenador e o coordenador em formação

Figure 2
Conversa com a Coordenadora Elis9 9 Em São José do Rio Preto - SP, ter Pedagogia é uma exigência para o cargo de Coordenador Pedagógico. No entanto, em pesquisa realizada nas cinco regiões brasileiras, Placco, Almeida e Souza (2011) identificaram que, embora, a maioria das/os coordenadoras/es do Brasil tenham formação em Pedagogia, há as/os que possuem outras licenciaturas e até mesmo Magistério em nível médio, apenas.As/os coordenadoras/esentrevistadas/os na pesquisa de Placco, Almeida e Souza (2011) consideram os conhecimentos advindos da Pedagogia úteis para exercerem sua profissão, no entanto, consideram também que não suprem suas principais necessidades. Algumas/ns coordenadoras/es dizem que o curso de Pedagogia dá um direcionamento, um embasamento teórico para aprender a aprender, mas os conhecimentos são aprendidos mesmo na prática. Outra pesquisa, desenvolvida por Gatti e Nunes (2009) identificou que a maioria das universidades não destina disciplina para os conteúdos de área, nem mesmo para Língua Portuguesa e Matemática, por considerarem estes de domínio das/dos alunas/os e implícitos nas disciplinas de metodologias de ensino. Os conteúdos específicos de Matemática são estudados em apenas 18% dos cursos e a carga horária destinada sugere apenas uma visão panorâmica sobre os conteúdos específicos não permitindo o aprofundamento e a relação apropriada com o contexto e com as experiências escolares.
Figure 4
Conversa com a Coordenadora Zélia11 11 Quando consultados sobre a necessidade de ter exercido docência para ser coordenadora/r pedagógica/o, algumas/ns coordenadoras/es da pesquisa, assim como Placco, Almeida e Souza (2011). “entendem que é possível exercer a coordenação sem ter sido professor desde que a pessoa tenha disponibilidade para estudar e se aperfeiçoar e se relacione bem com os professores” (PLACCO; ALMEIDA; SOUZA, 2011, p.253). Outras/os, “acreditam que a experiência em sala de aula possibilita conhecer melhor a escola e vivenciar problemas que só aparecem lá” (PLACCO; ALMEIDA; SOUZA, 2011, p.248).

2.3 Da história à metáfora: ser coordenador e coordenar

Figure 5
Conversa com a Coordenadora Zélia12 12 Em um breve histórico da função supervisora/coordenadora, Vasconcellos (2013) volta ao Ratio Studiorum, onde havia o “prefeito de estudos” que observava as aulas dos professores e verificava o cumprimento do programa, mas afirma que a supervisão/coordenação nasce por influência dos Estados Unidos, com o modelo de “Inspeção Escolar”. Na pesquisa de Placco, Almeida e Souza (2011) é apontado que, na década de 1960, com a Lei 4.024/61, as “escolas experimentais” contavam com o profissional de acompanhamento pedagógico. Em São Paulo, de acordo com Fernandes (2009), os Colégios Vocacionais, as Escolas de Aplicação e as Escolas Experimentais também contavam com o trabalho do profissional. Com a Lei 5.692/71 a função foi regulamentada e a ação supervisora foi implantada em nível de sistema e de unidade escolar (PLACCO; ALMEIDA; SOUZA, 2011). Observa-se que a função nasce em um contexto de ditadura, no espírito do AI-5 (Ato Institucional n.5), de 1968, com a reformulação do curso de Pedagogia decorrente da Reforma Universitária, que prepara profissionais generalistas, especialistas, mas sem preparo para a prática da Educação (PLACCO; ALMEIDA; SOUZA, 2011). Na década de 1980, com a abertura política houve registros da função de coordenação no estado de São Paulo, na implantação do Projeto Noturno, no Ciclo Básico, nos Centros Específicos de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério – CEFAMs (FERNANDES, 2009). Na década de 1990, o profissional passa a atuar também no Projeto Escola Padrão. Com a elaboração das Propostas Pedagógicas e a implantação Lei n. 9394/96, que estabeleceu, nas Diretrizes e Bases da Educação Nacional, princípios como o de gestão democrática a função de coordenador ganha ainda mais significação.
Figure 6
Conversa com a Coordenadora Marisa13 13 De acordo com Almeida (2005), as metáforas são formas de iluminar e organizar coerentemente os diferentes aspectos da experiência. Isso porque os conceitos que governam nosso pensamento estruturam o modo como nos comportamos no mundo e nos relacionamos com as pessoas, por isso os processos de pensamento são também metafóricos. A autora ouviu o depoimento de dez coordenadoras pedagógicas da Grande São Paulo, que descreveram em detalhes um dia de trabalho e pensaram o que é ser coordenadora pedagógica e categorizou as metáforas que empregaram em duas categorias: “a) as que se referem à multiplicidade das tarefas que desempenham de uma forma não articulada; b) as que se referem a essa multiplicidade de uma forma articulada” (ALMEIDA, 2005, p.35).

2.4 Matemática e processos formativos

Figure 7
Conversa com a Coordenadora Marisa14 14 De acordo com Knijnik et al (2012), a relevância do uso de materiais concretos nas aulas de Matemática é uma “verdade” que circula no pensamento educacional brasileiro contemporâneo, sem ser questionada. Sustenta-se no construtivismo pedagógico “uma recontextualização, no espaço-tempo escolar, sob diferentes formas e com múltiplas interfaces, das teorizações desenvolvidas pelo epistemólogo Jean Piaget” (KNIJINIK et al, 2012, p.66). Assim como o enunciado “é importante usar materiais concretos” nas aulas de matemática, o uso de jogos para ensinar Matemática tornou-se verdade difundida. O porquê da escolha de alguns jogos, em geral, os que trabalham conteúdos comuns da matemática escolar, em detrimento de outros, por exemplo, os que envolvem estratégias ou se relacionam com outras culturas, tem sido pouco problematizado. Essas verdades nos impedem de ver o ensino de Matemática de forma diferente. “São enunciados tantas vezes repetidos, reativados em diferentes espaços-tempos que nos dão a ideia de que sempre estiveram aí e que caberia ao ‘bom’ professor identificá-las e reativá-las em suas salas de aula (KNIJINIK et al, 2012, p.52). Esses enunciados acabam como prescrições legitimadas nos cursos de Pedagogia e Matemática, algo tão presente no discurso contemporâneo de Educação Matemática que não pode estar fora do planejamento das práticas de sala de aula. O que está em questão, no entanto, não é a validade desses enunciados, mas sua natureza imprescindível e o caráter contingente e arbitrário com que algumas atividades perpetuam no campo educacional (KNIJNIK et al., 2012).
Figure 8
Conversa com a Coordenadora Zélia15 15 Nas situações de dupla conceitualização, segundo Lerner, Torres e Cuter (2017), as/os professoras/es constroem conhecimentos sobre um objeto de ensino e sobre as condições didáticas de apropriação dos objetos por parte dos alunos.Assim, apresenta-se uma proposta para que as/os professoras/es em pequenos grupos resolvam, tendo uma delas/es como observadora/r, para registrar as discussões ocorridas. Na primeira conceitualização, as/os participantes aprendem sobre os processos envolvidos na resolução da proposta, ou seja, sobre o conteúdo em questão. Na segunda, reflete-se sobre as características da situação didática proposta, então, são lançadas interrogações, planejadas pela/o formadora/r, que levam as/os professoras/es a refletirem sobre as condições didáticas que foram oferecidas durante a vivência desta situação.No coletivo, discute-se o registro realizado e faz-se uma socialização e síntese, baseada nas conclusões dos diferentes grupos. Durante a socialização e síntese, todos refletem sobre os aspectos cognitivos essenciais, estabelecem novas relações com as contribuições dos diferentes grupos, observam problemas não detectados, complementam conhecimentos elaborados. O registro e os comentários da/o observadora/r comunicam sobre a interação do grupo e os procedimentos de resolução da proposta. Essas situações, portanto, são indicadas para que as/os professoras/es revisem, aprofundem ou ampliem conhecimentos sobre um determinado conteúdo.Estudos de textos teóricos podem complementar as discussões após esses processos formativos.
Figure 9
Conversa com a Coordenadora Malu16 16 A “sondagem”, também designada “avaliação diagnóstica”, prática comum nas escolas de Ensino Fundamental de Anos Iniciais, consiste em uma avaliação dos conhecimentos que os alunos trazem no início ou no decorrer do ano. Registra o avanço das aprendizagens e direciona o planejamento. Em Matemática realiza-se a produção de escritas numéricas (ditado de números) e a resolução de algumas situações-problema, geralmente, do Campo Aditivo e do Campo Multiplicativo. Algumas sondagens trazem situações-problema que envolvem outros blocos de conteúdo, que não o bloco de “Números e Operações”, ou seja, que envolvem “Espaço e Forma”, “Grandezas e Medidas” e “Tratamento da Informação”.

Quando se olha para o que foiconversado com as coordenadoras, percebe-se que nem sempre é fácil desenvolver processos formativos voltados para a Matemática, nem para a/o coordenadora/r, nem para as/os professoras/es. Além de todos os fatores relativos à formação, há nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental uma atenção muito grande em relação ao processo de alfabetização e ao desenvolvimento da proficiência leitora e escritora dos alunos, por isso, as discussões sobre Matemática, muitas vezes, não entram em pauta.

Porém,nas iniciativas dessas coordenadoras, observa-se pelas conversas, trabalhos de formação bem planejados e estruturados didaticamente e o desejo de superar a Matemática como prática mecânica, repetitiva, prescritiva, linear, que aparece ainda nas aulas de algumas/alguns professoras/es. Nota-se a consideração das necessidades formativas das/dos professoras/es e a análise do contexto escolar para o desenvolvimento do trabalho de formação. Fala-se em conhecimentos prévios dos alunos, sobre os conhecimentos que trazem de fora da escola, sobre um ensino pautado na resolução de problemas, sobre estratégias pessoais de resolução, sobre jogos e uso de materiais concretos.

Colocando luz nesses processos formativos que ocorrem sob a intermediação da coordenação pedagógica percebemos que, durante as conversas, as coordenadoras foram comunicando um pouco da Matemática que se desenrola no interior das escolas de São José do Rio Preto. Sabemos que esse é um recorte muito pequeno do todo realizado pelas coordenadoras, mas, de certa forma, consiste em parte importante do trabalho destas, já que foi o que escolheram trazer àtona na conversa sobre formação continuada de professores que ensinam Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Deixamos como caminho para a formação continuada de professores que ensinam Matemática nos Anos Iniciais, após as conversas realizadas em todo esse trabalho, o que fora sugerido por D'Ambrosio e Lopes (2015)D'AMBROSIO, B.; LOPES, C. E. Ousadia criativa nas práticas de educadores matemáticos. Campinas: Mercado das Letras, 2015., o caminho da ousadia criativa nas práticas de educadores matemáticos. De acordo com as autoras:

E tantos verbos de persuadir requerem os verbos de ousar. De provocar o sujeito a significar sua existência pela contraposição ao que está posto de forma a atender as suas reais necessidades. Assumir insubmissões é exercer o direito à liberdade de pensar, de questionar de buscar respostas… a fim de se desenvolver cada vez mais (D'AMBROSIO; LOPES, 2015D'AMBROSIO, B.; LOPES, C. E. Ousadia criativa nas práticas de educadores matemáticos. Campinas: Mercado das Letras, 2015., p. 13-14).

Dessa forma, levar ao conhecimento dos professores nas formações a Etnomatemática, a Modelagem Matemática, a História e a Filosofia da Matemática e da Educação Matemática pode ser determinante para abrir caminhos para a ousadia criativa. Estimular a ousadia criativa em sala de aula para que os alunos não se tornem “cidadãos conformados e submissos a regras e códigos que violam a dignidade humana” (D'AMBROSIO; LOPES, 2015D'AMBROSIO, B.; LOPES, C. E. Ousadia criativa nas práticas de educadores matemáticos. Campinas: Mercado das Letras, 2015., p. 271) também é imprescindível. A Matemática precisa contestar as formas de opressão e desigualdades, acionando as capacidades humanas de transmissão de valores, reconhecimento de direitos e responsabilidades sociais (D'AMBROSIO; LOPES, 2015D'AMBROSIO, B.; LOPES, C. E. Ousadia criativa nas práticas de educadores matemáticos. Campinas: Mercado das Letras, 2015.).

Dessa forma, defendemos uma aprendizagem matemática que considere a investigação e a criticidade como eixos centrais na construção de um conhecimento matemático qualitativo, o que requer um processo dialético e dinâmico no fazer matemático. Isto nos encaminha a compreender que o sucesso de uma pessoa em Matemática se dá quando ela é capaz de produzir uma Matemática que se faz necessária em um determinado momento de sua vida, de solucionar problemáticas que emergem em distintos contextos. Então, o sucesso decorre do direito que toda e qualquer pessoa tem de aprender Matemática; de descobrir uma ciência que encanta pela sua história fascinante de provocação à humanidade; de perceber-se capaz de desvendar o mundo dos números, das formas, das abstrações, dos padrões e das generalizações (D'AMBROSIO; LOPES, 2015D'AMBROSIO, B.; LOPES, C. E. Ousadia criativa nas práticas de educadores matemáticos. Campinas: Mercado das Letras, 2015., p. 271-272).

Para isso, segundo as autoras, é necessário ensinar as crianças a trabalharem em conjunto, resolver criativamente problemas reais e sérios de ordem social e econômica, criar mecanismos para preservar os recursos naturais e permitir a continuidade da humanidade.Isso implica fugir do currículo técnico e administrativo, voltado para eficiência e não se deter apenas em categorias psicológicas como as de aprendizagem e desenvolvimento.

De acordo com Silva (2017)SILVA, T. T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017., o currículo como campo de estudos surgiu com a publicação do livro The Curriculum, em que o estadunidense Bobbitt, em 1918, propõe que o sistema educacional funcione como uma empresa comercial e industrial, especificando precisamente seus resultados, em função de métodos que permitissem precisão de mensuração, objetivos que examinassem “as habilidades necessárias para exercer com eficiência as ocupações profissionais da vida adulta” (SILVA, 2017SILVA, T. T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017., p. 23).

Consolidando o modelo de Bobbitt, Ralph Tyler, em 1949, estabeleceu um paradigma que influencioumajoritariamente o campo do currículo nos Estados Unidos e no Brasil, que consistiaem objetivos claramente definidos em função do comportamento explícito, o que na década de 1960 revigoroua tendência tecnicista de Educação. Os parâmetros de Bobbitt e Tyler foram pautados na economia que exercia forte domínio em todos os setores neste período de urbanização e industrialização.E, depois de decorrido tantos anos, novamente, percebemos essa tendência à atenção cada vez maior aos objetivos, habilidades, competências e matrizes de referência de avaliação que, não raramente, norteiam o que deve ser ensinado nas escolas.

Portanto, é necessário por em debate que currículo de Matemática temos ensinado e colocado em evidência nas pautas de formação. Pensar que os documentos oficiais trazem a verdade sobre o que deve ser ensinado, os conhecimentos historicamente acumulados pela humanidade, pode não ser uma boa opção, visto que a política do conhecimento realiza uma manobra sutil que esconde e marginaliza determinados conteúdos e saberes do currículo escolar. O que nos parece natural, do jeito que sempre foi decorre do modo como fomos formatados a não perceber que o que nomeamos como conhecimentos da humanidade refere-se apenas a uma pequena parcela de um conhecimento muito mais amplo produzido ao longo da história, em contextos diversos (KNIJNIK, 2006KNIJNIK, G. Educação Matemática, culturas e conhecimento na luta pela terra. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2006.).

Dessa forma, a formação na escola é uma boa oportunidade para os professores refletirem sobre os porquês do currículo. Por que ele “funciona compartimentalizando, engavetando, em compartimentos incomunicáveis, o conhecimento do mundo” (KNIJNIK et al, 2012KNIJNIK, G.; WANDERER, F.; GIONGO, I. M.; DUARTE, C. G. Etnomatemática em movimento. Belo Horizonte: Autêntica, 2012., p.7)? Por que é natural ter a escola organizada em disciplinas? Como podemos aliar o currículo a nossa cultura local? Quais as necessidades dessa configuração econômica, social, cultural, política contemporânea? Como podemos analisar o discurso eurocêntrico da Matemática Escolar? (KNIJNIK et al, 2012KNIJNIK, G.; WANDERER, F.; GIONGO, I. M.; DUARTE, C. G. Etnomatemática em movimento. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.)

Todos esses questionamentos que ficam no subsolo (CLARETO; CAMMAROTA, 2015CLARETO, S. M.; CAMMAROTA, G. Professores de Matemática em formação: invenções e (sub)versões. In: D'AMBROSIO, B.; LOPES, C. E. (org.). Ousadia criativa nas práticas de educadores matemáticos. Campinas: Mercado das Letras, 2015. p. 65-86.) precisam vir à tona para buscarmos novos caminhos para a formação continuada nas escolas. Não podemos nos deter à uma visão de Educação Matemática pautada apenas na Didática da Matemática, pois, dessa forma, estamos reforçando uma visão tradicional de currículo, que se dedica ao como ensinar e aos processos de ensino e aprendizagem, prescrevendo objetivos, habilidades, competências e suas respectivas avaliações, sem se preocupar com o que está sendo ensinado e com o porquê dessas escolhas, em função de quem elas se fazem, quem permanece à margem e giramos no círculo da reprodução das desigualdades. É preciso uma educação que priorize não só a razão, o cognitivo, o intelecto, mas que considere o ser humano integralmente, como um ser que se relaciona, que sente, que vive e reformula constantemente a sua história.

3 Crônicas sintéticas

No livro Tremores: Escritos sobre experiência, Larrosa nos fala que “não se trata de compreender o que o texto diz e sim de encarnar o que o texto pode” (LARROSA, 2016LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução: Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016., p. 128). Trata-se, mais do que ir além das palavras e representações, de reencontrar a potência pela qual as palavras se põem em movimento. E a força pela qual essa escrita se colocou em movimento é a força que me afeta, a força da experiência no sentido de sentir, a experiência que me acontece, atravessa-me todos os dias, a experiência de ser coordenadora.

Pela força dessa experiência coloquei essas palavras em movimento, tentando dar potência pela voz do outro, encarnando nessas crônicas essas palavras e desejando ir além. As próximas páginas, portanto, são sínteses e ressignificações, movimento simples, de toda essa translação.

3.1 Atravessares

Diga uma coisa original sobre formação: Impossível! Coisa nova não há. Formação é passado acumulado, é resquício de memória, é acontecimento já acontecido.

E a formação continuada, aquela que continua depois de um início que se iniciou não se sabe quando, é passado recente no agora.

A do coordenador é estudo, é prática, é juntado de teoria vivida e posta a serviço, é simultaneidade profunda e refletida. É o aprender fazendo, desfazendo, refazendo, enquanto se refina, afina, ensina.

Não pode ser de outra forma, porque a formação que realiza e adquire o coordenador, é formação em travessia. Já disse Guimarães Rosa: “o real não está na partida nem na chegada: ele dispõe para a gente é no meio da travessia” (ROSA, 2001ROSA, J. G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001., p. 80). Enquanto atravessa, ele recolhe, devolve, envolve, mistura. A água pode ser fria, morna, ou fervente. Mas é corrente. Vai passando, revigorando, escapando. Não adianta querer represá-la, porque ela transborda e novamente transforma todo o espaço para novos atravessares. E a travessia nunca tem fim, sempre recomeça, do meio mesmo, dos desvios.

3.2 Papel

E concluindo: qual o papel do coordenador?

O coordenador é formador, co-formador, mediador, interlocutor, orientador, articulador, transformador, autor, parceiro. Ele tem muitos papéis na escola: junto aos professores, junto à direção, junto aos alunos, junto aos pais.

Também junta professores e direção, alunos e professores, professores e pais. Mas não pode ser como papel de parede, ser decorativo, servir de enfeite no ambiente escolar. Nem pode ir se grudando, sem conseguir se desprender das intercorrências do seu cotidiano, dos ciscos e pormenores difíceis de descolarem. É preciso que lhe retirem essa cola, porque seu papel é oficial e importante, traz impresso marcas-vidas, vidas podem ser melhoradas com o seu desprendimento.

Também é preciso que ele seja leve, voe com os outros papéis ao vento, seja avião, e dependendo do contexto, transforme-se em barco, ou em chapéu que abriga.

Mas acima de tudo, sendo papel, ele tem que expor. “O sujeito da formação é um sujeito ex-posto” (LARROSA, 2016LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução: Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016., p. 26), que se afeta, que é tocado. O coordenador pedagógico tem de ser, portanto, menos sujeito moderno (LARROSA, 2016LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução: Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016.), que se relaciona com os acontecimentos pela ação, que está em constante atividade a se perguntar sobre algo mais a fazer, produzir, regular. E precisa ser mais sujeito da experiência (LARROSA, 2016LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução: Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016.), território de passagem, que produz afetos, inscreve marcas, deixa vestígios e efeitos.

Ele é “um ponto de chegada, um lugar a que chegam as coisas, como um lugar que recebe o que chega e que, ao receber, lhe dá lugar” (LARROSA, 2016LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução: Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016., p. 25), definido por sua disponibilidade e abertura, paciência e atenção. Porque “a vida, como a experiência, é relação: com o mundo, com a linguagem, com o pensamento, com os outros, com nós mesmos” (LARROSA, 2016LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução: Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016., p. 74) e assim, o coordenador se imprime como ser sentido, carregado de sentido.

3.3 Painel

Se for para fazer painel, coordenador, represente nele algumas bandeiras, bandeiras que levanta em favor do outro, do aluno, do professor, da mãe trabalhadora, da criança pobre, diferente, oprimida e de si mesmo. Se a sua existência melhora o ensino dos menos favorecidos, sua presença se faz imprescindível. Portanto, fortaleça-se! Estampe aí a bandeira da/do sua/seu…

Identidade: É imprescindível que o coordenador compreenda o seu papel, cerceie as suas funções, cuide da sua autoimagem, reflita sobre como o outro o vê e sobre como desempenha suas atividades em razão disso.

Legitimidade: Urge lutar pelo espaço do coordenador pedagógico na legislação nacional, de forma clara, que oriente estados e municípios, para que sua lista de funções seja minimamente exequível. É urgente ainda, que o curso de Pedagogia seja requisito mínimo para o exercício da função, para que o coordenador pedagógico tenha o conhecimento didático-pedagógico mais profundo.

Formação: Também é necessário que os cursos de formação inicial em Pedagogia abordem a coordenação pedagógica prevendo a sua principal função de mediar o processo de formação continuada dos professores e que garanta espaço de discussão sobre quais são as possibilidades de realização deste fazer.

Estudo: O tempo de estudo na rotina do coordenador pedagógico carece ser bem visto e respeitado por diretores, professores, alunos, pais e funcionários. Todos precisam entender que essa é tarefa essencial para a sua profissão e isso faz parte da constituição de sua identidade e de sua luta por legitimidade.

Participação: É preciso que se entenda que o acompanhamento do coordenador ao professor é “participação”, ou seja, uma forma de ele se fazer parte na ação, na ação de ensinar e também na ação de aprender. É partilha de responsabilidade consciente e conjunta.

Este é um painel necessário de se elaborar e dar vista em todo o seu contexto. Um pequeno glossário de empoderamento. Confeccione-o, ano após ano, até que já seja compreensível a todos, no seu espaço, o seu espaço.

3.4 Criação

Realizar dentro de uma escola uma formação continuada que aborde a Matemática requer do coordenador um ato de criação. Se são muitas as boas práticas de formação de professores dos Anos Iniciais presentes em revistas, em trabalhos científicos, em Universidades, em formações de Secretarias de Educação, elas não chegaram, ou chegaram a poucas pautas formativas de escolas comuns. Não estão consolidadas, disseminadas, incorporadas no diaadia de formação dos professores dos Anos Iniciais, pelo menos não da forma que se espera, para que transforme a realidade… E como são necessárias!

Pensar em formar toda e qualquer pessoa para se valer do conhecimento matemático em favor da dignidade humana, pensar qual é essa Matemática digna de ser aprendida por todos e quem se insere nesse todo é algo a ser elaborado, inventado, partilhado. Tem a ver com ousadia, utopia, realidade, necessidade. Requer do coordenador o desvio das armadilhas, a subversão, a criatividade.

Requer trabalho conjunto, coletivo, partilhado e compartilhado. Requer estudo, requer ultrapassar barreiras impostas pela formação ou pela falta dela. Portanto, é preciso querer, querer e re-querer. É preciso criação e crer na ação.

4 Fim de conversa

Conta a história de Mia Couto, que “a menina não palavreava. […] Seus lábios se ocupavam só em sons que não somavam dois nem quatro. […] Quando lembrava as palavras ela esquecia o pensamento. Quando construía o raciocínio perdia o idioma” (COUTO, 2013COUTO, M. A menina sem palavra: histórias de Mia Couto. São Paulo: Boa Companhia, 2013., p.33). E não era muda, até encantava com sua voz entonada…

Assim iniciei essa conversa. Como uma menina que não palavreava. Com uma escrita que não textualizava. Lia, lia, lia e quando organizava o pensamento, a escrita não se fazia. Quando arriscava uma escrita, o pensamento se esvaia.

Tratei de gostosear17 17 Aqui, e nos dois parágrafos que se seguem, várias palavras e expressões do texto foram utilizadas, modificando-se o tempo verbal, omitindo-se termos, o que não caracteriza citação direta, nem indireta, devido à modificação do significado. Trata-se de um diálogo com o texto de Mia Couto. muita água salgada até que me nascesse algum mar. Por muitas vezes nenhum som se anunciava, as palavras ficavam presas. E a vista de toda a azulação só fazia, ainda mais, o peito definhar. Por muito ganhei peso toneloso de rocha e fiquei imóvel. Até que fui salva por algumas histórias, as belas histórias destes autores que escolhi.

Tentei alcançar a lua, e me cintilhaçaram mil estrelinhações. E eu persisti muito, para recolher suficientemente essas ideias e para formar um novo astro, porque enquanto navegava, às vezes, abriam-se fendas na própria terra por baixo do mar, que faziam com que meu barco fosse engolido, impedindo meu pensamento de respirar.

Mas ao invés de recuar, eu adentrei, acariciando água com a mão para que as feridas se fechassem com essa escrita e, por fim, acabei essa história.

Larrosa, em entrevista com Veiga-Neto (LARROSA; VEIGA-NETO, 2007LARROSA, J.; VEIGA-NETO, A. Literatura, experiência e formação: uma entrevista com Jorge Larrosa. In: COSTA, M. V. (org.). Caminhos Investigativos I: novos olhares na pesquisa em educação. 3 ed. Rio de Janeiro: Lamparina Editora, 2007. p. 129-156.) diz que “escrever (e ler) é como submergir num abismo em que acreditamos ter descobertos objetos maravilhosos” (LARROSA; VEIGA-NETO, 2007LARROSA, J.; VEIGA-NETO, A. Literatura, experiência e formação: uma entrevista com Jorge Larrosa. In: COSTA, M. V. (org.). Caminhos Investigativos I: novos olhares na pesquisa em educação. 3 ed. Rio de Janeiro: Lamparina Editora, 2007. p. 129-156., p. 156) e “quando voltamos à superfície, só trazemos pedras comuns e pedaços de vidro e algo assim como uma inquietude no olhar” (LARROSA; VEIGA-NETO, 2007LARROSA, J.; VEIGA-NETO, A. Literatura, experiência e formação: uma entrevista com Jorge Larrosa. In: COSTA, M. V. (org.). Caminhos Investigativos I: novos olhares na pesquisa em educação. 3 ed. Rio de Janeiro: Lamparina Editora, 2007. p. 129-156., p. 156). De fato, estou inquieta! Para ele “o escrito (e o lido) não é senão um traço visível e sempre decepcionante de uma aventura que, enfim, se revelou impossível” (LARROSA; VEIGA-NETO, 2007LARROSA, J.; VEIGA-NETO, A. Literatura, experiência e formação: uma entrevista com Jorge Larrosa. In: COSTA, M. V. (org.). Caminhos Investigativos I: novos olhares na pesquisa em educação. 3 ed. Rio de Janeiro: Lamparina Editora, 2007. p. 129-156., p. 156). E duvido que haja dúvida sobre pôr em miúdos todos os traços no papel. Ah, mas… “no entanto, voltamos transformados” (LARROSA; VEIGA-NETO, 2007LARROSA, J.; VEIGA-NETO, A. Literatura, experiência e formação: uma entrevista com Jorge Larrosa. In: COSTA, M. V. (org.). Caminhos Investigativos I: novos olhares na pesquisa em educação. 3 ed. Rio de Janeiro: Lamparina Editora, 2007. p. 129-156., p. 156). Ah! Voltamos! “Nossos olhos aprenderam uma insatisfação e não se acostumam mais à falta de brilho e de mistério daquilo que se nos oferece à luz do dia. E algo em nosso peito nos diz que na profundidade, ainda resplandece, imutável e desconhecido, o tesouro” (LARROSA; VEIGA-NETO, 2007LARROSA, J.; VEIGA-NETO, A. Literatura, experiência e formação: uma entrevista com Jorge Larrosa. In: COSTA, M. V. (org.). Caminhos Investigativos I: novos olhares na pesquisa em educação. 3 ed. Rio de Janeiro: Lamparina Editora, 2007. p. 129-156., p. 156). E daí, eu discordo… O tesouro sempre esteve aí, mas não é sólido. O tesouro, o conhecimento, é o oceano, todo ele e cada gota…

  • 1
    Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo apoio para publicação deste artigo.
  • 2
    Os verbos empregados em primeira pessoa do singular no decorrer deste trabalho expressam a ideia de que a experiência da pesquisa, embora vivida pela primeira autora, foi narrada a partir do olhar dos dois autores deste artigo, sendo o segundo autor, orientador de mestrado e de doutorado da primeira.
  • 3
    Faz alusão ao título do livro: LARROSA, Jorge et al. Déjame que te cuente: Ensayos sobre narrativa y educación. Barcelona: Laertes, 1995.
  • 4
    O termo coordenadoras/es, tanto no plural como no singular, será empregado primeiramente no feminino, pois a função, assim como a de professores dos Anos Iniciais, é majoritariamente exercida por mulheres. A barra, seguida de “es”, é uma tentativa de não atrapalhar a leitura, repetindo excessivamente termos.
  • 5
    Por exemplo: FERNANDES, Maria Valéria Padilha. “Na periferia do sonho”: crônicas de uma experiência de formação de professoras. Campinas: Unicamp, 2000. (Dissertação de Mestrado).
  • 6
    De acordo com Larrosa, filosofia é ler, escrever e conversar. É um conversar orientado ao pensamento.
  • 7
    Desenvolvidos no Grupo de Pesquisa em Currículo:Estudos, Práticas e Avaliação – GEPAC, da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira (UNESP-FEIS); e nas disciplinas de Tendências em Educação Matemática, do Programa de Pós-Graduação em Ensino e Processos Formativos (UNESP- Interunidades) e Teorias e Perspectivas Curriculares no Contexto da Educação Matemática, do Programa de Pós-Graduação em Educação para Ciência (UNESP – FC)
  • 8
    Em São José do Rio Preto há uma distinção entre função e cargo de coordenador pedagógico. Função se refere ao exercício da coordenação pedagógica por inscrição ou designação, na qual todos os professores concursados do município podem se inscrever após cinco anos de exercício docente. Cargo se refere ao exercício da coordenação pedagógica após aprovação em concurso público.
  • 9
    Em São José do Rio Preto - SP, ter Pedagogia é uma exigência para o cargo de Coordenador Pedagógico. No entanto, em pesquisa realizada nas cinco regiões brasileiras, Placco, Almeida e Souza (2011)PLACCO, V. M. N.S.; ALMEIDA, L. R.; SOUZA, V. L. T. O coordenador pedagógico (CP) e a formação de professores: intenções, tensões e contradições. In: FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA. Estudos & Pesquisas Educacionais. São Paulo: FCC, 2011. p. 227-288. n.2. identificaram que, embora, a maioria das/os coordenadoras/es do Brasil tenham formação em Pedagogia, há as/os que possuem outras licenciaturas e até mesmo Magistério em nível médio, apenas.As/os coordenadoras/esentrevistadas/os na pesquisa de Placco, Almeida e Souza (2011)PLACCO, V. M. N.S.; ALMEIDA, L. R.; SOUZA, V. L. T. O coordenador pedagógico (CP) e a formação de professores: intenções, tensões e contradições. In: FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA. Estudos & Pesquisas Educacionais. São Paulo: FCC, 2011. p. 227-288. n.2. consideram os conhecimentos advindos da Pedagogia úteis para exercerem sua profissão, no entanto, consideram também que não suprem suas principais necessidades. Algumas/ns coordenadoras/es dizem que o curso de Pedagogia dá um direcionamento, um embasamento teórico para aprender a aprender, mas os conhecimentos são aprendidos mesmo na prática. Outra pesquisa, desenvolvida por Gatti e Nunes (2009)GATTI, B. A.; NUNES, M. M. R. (org.). Formação de professores para o ensino fundamental: estudo de currículos das licenciaturas em pedagogia, língua portuguesa, matemática e ciências biológicas. São Paulo: FCC/DPE, 2009. identificou que a maioria das universidades não destina disciplina para os conteúdos de área, nem mesmo para Língua Portuguesa e Matemática, por considerarem estes de domínio das/dos alunas/os e implícitos nas disciplinas de metodologias de ensino. Os conteúdos específicos de Matemática são estudados em apenas 18% dos cursos e a carga horária destinada sugere apenas uma visão panorâmica sobre os conteúdos específicos não permitindo o aprofundamento e a relação apropriada com o contexto e com as experiências escolares.
  • 10
    Gatti e Nunes (2009)GATTI, B. A.; NUNES, M. M. R. (org.). Formação de professores para o ensino fundamental: estudo de currículos das licenciaturas em pedagogia, língua portuguesa, matemática e ciências biológicas. São Paulo: FCC/DPE, 2009., que fizeram um amplo estudo sobre os currículos dos cursos de Pedagogia, verificaram nos projetos e ementas dos cursos que analisaram que não há clareza sobre como os estágios são realizados e supervisionados e estes podem se configurar como aspectos meramente formais.
  • 11
    Quando consultados sobre a necessidade de ter exercido docência para ser coordenadora/r pedagógica/o, algumas/ns coordenadoras/es da pesquisa, assim como Placco, Almeida e Souza (2011)PLACCO, V. M. N.S.; ALMEIDA, L. R.; SOUZA, V. L. T. O coordenador pedagógico (CP) e a formação de professores: intenções, tensões e contradições. In: FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA. Estudos & Pesquisas Educacionais. São Paulo: FCC, 2011. p. 227-288. n.2.. “entendem que é possível exercer a coordenação sem ter sido professor desde que a pessoa tenha disponibilidade para estudar e se aperfeiçoar e se relacione bem com os professores” (PLACCO; ALMEIDA; SOUZA, 2011PLACCO, V. M. N.S.; ALMEIDA, L. R.; SOUZA, V. L. T. O coordenador pedagógico (CP) e a formação de professores: intenções, tensões e contradições. In: FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA. Estudos & Pesquisas Educacionais. São Paulo: FCC, 2011. p. 227-288. n.2., p.253). Outras/os, “acreditam que a experiência em sala de aula possibilita conhecer melhor a escola e vivenciar problemas que só aparecem lá” (PLACCO; ALMEIDA; SOUZA, 2011PLACCO, V. M. N.S.; ALMEIDA, L. R.; SOUZA, V. L. T. O coordenador pedagógico (CP) e a formação de professores: intenções, tensões e contradições. In: FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA. Estudos & Pesquisas Educacionais. São Paulo: FCC, 2011. p. 227-288. n.2., p.248).
  • 12
    Em um breve histórico da função supervisora/coordenadora, Vasconcellos (2013)VASCONCELLOS, C. S. Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. 15. ed. São Paulo: Libertad Editora, 2013. volta ao Ratio Studiorum, onde havia o “prefeito de estudos” que observava as aulas dos professores e verificava o cumprimento do programa, mas afirma que a supervisão/coordenação nasce por influência dos Estados Unidos, com o modelo de “Inspeção Escolar”. Na pesquisa de Placco, Almeida e Souza (2011)PLACCO, V. M. N.S.; ALMEIDA, L. R.; SOUZA, V. L. T. O coordenador pedagógico (CP) e a formação de professores: intenções, tensões e contradições. In: FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA. Estudos & Pesquisas Educacionais. São Paulo: FCC, 2011. p. 227-288. n.2. é apontado que, na década de 1960, com a Lei 4.024/61, as “escolas experimentais” contavam com o profissional de acompanhamento pedagógico. Em São Paulo, de acordo com Fernandes (2009)FERNANDES, M. J. S. O professor coordenador pedagógico e a fragilidade da carreira docente. Estudos em Avaliação Educacional, São Paulo , v.20 , n. 44, p. 411-424, 2009. Disponível em: http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/eae/article/view/2037. Acesso em: 20 dez. 2018.
    http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index....
    , os Colégios Vocacionais, as Escolas de Aplicação e as Escolas Experimentais também contavam com o trabalho do profissional. Com a Lei 5.692/71 a função foi regulamentada e a ação supervisora foi implantada em nível de sistema e de unidade escolar (PLACCO; ALMEIDA; SOUZA, 2011PLACCO, V. M. N.S.; ALMEIDA, L. R.; SOUZA, V. L. T. O coordenador pedagógico (CP) e a formação de professores: intenções, tensões e contradições. In: FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA. Estudos & Pesquisas Educacionais. São Paulo: FCC, 2011. p. 227-288. n.2.). Observa-se que a função nasce em um contexto de ditadura, no espírito do AI-5 (Ato Institucional n.5), de 1968, com a reformulação do curso de Pedagogia decorrente da Reforma Universitária, que prepara profissionais generalistas, especialistas, mas sem preparo para a prática da Educação (PLACCO; ALMEIDA; SOUZA, 2011PLACCO, V. M. N.S.; ALMEIDA, L. R.; SOUZA, V. L. T. O coordenador pedagógico (CP) e a formação de professores: intenções, tensões e contradições. In: FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA. Estudos & Pesquisas Educacionais. São Paulo: FCC, 2011. p. 227-288. n.2.). Na década de 1980, com a abertura política houve registros da função de coordenação no estado de São Paulo, na implantação do Projeto Noturno, no Ciclo Básico, nos Centros Específicos de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério – CEFAMs (FERNANDES, 2009FERNANDES, M. J. S. O professor coordenador pedagógico e a fragilidade da carreira docente. Estudos em Avaliação Educacional, São Paulo , v.20 , n. 44, p. 411-424, 2009. Disponível em: http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/eae/article/view/2037. Acesso em: 20 dez. 2018.
    http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index....
    ). Na década de 1990, o profissional passa a atuar também no Projeto Escola Padrão. Com a elaboração das Propostas Pedagógicas e a implantação Lei n. 9394/96, que estabeleceu, nas Diretrizes e Bases da Educação Nacional, princípios como o de gestão democrática a função de coordenador ganha ainda mais significação.
  • 13
    De acordo com Almeida (2005)ALMEIDA, L. R. Um dia na vida de um coordenador pedagógico de escola pública. In: PLACCO, V. M. N.S.; ALMEIDA, L. R. O coordenador pedagógico e o cotidiano da escola. São Paulo: Edições Loyola, 2005. p. 21-46., as metáforas são formas de iluminar e organizar coerentemente os diferentes aspectos da experiência. Isso porque os conceitos que governam nosso pensamento estruturam o modo como nos comportamos no mundo e nos relacionamos com as pessoas, por isso os processos de pensamento são também metafóricos. A autora ouviu o depoimento de dez coordenadoras pedagógicas da Grande São Paulo, que descreveram em detalhes um dia de trabalho e pensaram o que é ser coordenadora pedagógica e categorizou as metáforas que empregaram em duas categorias: “a) as que se referem à multiplicidade das tarefas que desempenham de uma forma não articulada; b) as que se referem a essa multiplicidade de uma forma articulada” (ALMEIDA, 2005ALMEIDA, L. R. Um dia na vida de um coordenador pedagógico de escola pública. In: PLACCO, V. M. N.S.; ALMEIDA, L. R. O coordenador pedagógico e o cotidiano da escola. São Paulo: Edições Loyola, 2005. p. 21-46., p.35).
  • 14
    De acordo com Knijnik et al (2012)KNIJNIK, G.; WANDERER, F.; GIONGO, I. M.; DUARTE, C. G. Etnomatemática em movimento. Belo Horizonte: Autêntica, 2012., a relevância do uso de materiais concretos nas aulas de Matemática é uma “verdade” que circula no pensamento educacional brasileiro contemporâneo, sem ser questionada. Sustenta-se no construtivismo pedagógico “uma recontextualização, no espaço-tempo escolar, sob diferentes formas e com múltiplas interfaces, das teorizações desenvolvidas pelo epistemólogo Jean Piaget” (KNIJINIK et al, 2012, p.66). Assim como o enunciado “é importante usar materiais concretos” nas aulas de matemática, o uso de jogos para ensinar Matemática tornou-se verdade difundida. O porquê da escolha de alguns jogos, em geral, os que trabalham conteúdos comuns da matemática escolar, em detrimento de outros, por exemplo, os que envolvem estratégias ou se relacionam com outras culturas, tem sido pouco problematizado. Essas verdades nos impedem de ver o ensino de Matemática de forma diferente. “São enunciados tantas vezes repetidos, reativados em diferentes espaços-tempos que nos dão a ideia de que sempre estiveram aí e que caberia ao ‘bom’ professor identificá-las e reativá-las em suas salas de aula (KNIJINIK et al, 2012, p.52). Esses enunciados acabam como prescrições legitimadas nos cursos de Pedagogia e Matemática, algo tão presente no discurso contemporâneo de Educação Matemática que não pode estar fora do planejamento das práticas de sala de aula. O que está em questão, no entanto, não é a validade desses enunciados, mas sua natureza imprescindível e o caráter contingente e arbitrário com que algumas atividades perpetuam no campo educacional (KNIJNIK et al., 2012KNIJNIK, G.; WANDERER, F.; GIONGO, I. M.; DUARTE, C. G. Etnomatemática em movimento. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.).
  • 15
    Nas situações de dupla conceitualização, segundo Lerner, Torres e Cuter (2017), as/os professoras/es constroem conhecimentos sobre um objeto de ensino e sobre as condições didáticas de apropriação dos objetos por parte dos alunos.Assim, apresenta-se uma proposta para que as/os professoras/es em pequenos grupos resolvam, tendo uma delas/es como observadora/r, para registrar as discussões ocorridas. Na primeira conceitualização, as/os participantes aprendem sobre os processos envolvidos na resolução da proposta, ou seja, sobre o conteúdo em questão. Na segunda, reflete-se sobre as características da situação didática proposta, então, são lançadas interrogações, planejadas pela/o formadora/r, que levam as/os professoras/es a refletirem sobre as condições didáticas que foram oferecidas durante a vivência desta situação.No coletivo, discute-se o registro realizado e faz-se uma socialização e síntese, baseada nas conclusões dos diferentes grupos. Durante a socialização e síntese, todos refletem sobre os aspectos cognitivos essenciais, estabelecem novas relações com as contribuições dos diferentes grupos, observam problemas não detectados, complementam conhecimentos elaborados. O registro e os comentários da/o observadora/r comunicam sobre a interação do grupo e os procedimentos de resolução da proposta. Essas situações, portanto, são indicadas para que as/os professoras/es revisem, aprofundem ou ampliem conhecimentos sobre um determinado conteúdo.Estudos de textos teóricos podem complementar as discussões após esses processos formativos.
  • 16
    A “sondagem”, também designada “avaliação diagnóstica”, prática comum nas escolas de Ensino Fundamental de Anos Iniciais, consiste em uma avaliação dos conhecimentos que os alunos trazem no início ou no decorrer do ano. Registra o avanço das aprendizagens e direciona o planejamento. Em Matemática realiza-se a produção de escritas numéricas (ditado de números) e a resolução de algumas situações-problema, geralmente, do Campo Aditivo e do Campo Multiplicativo. Algumas sondagens trazem situações-problema que envolvem outros blocos de conteúdo, que não o bloco de “Números e Operações”, ou seja, que envolvem “Espaço e Forma”, “Grandezas e Medidas” e “Tratamento da Informação”.
  • 17
    Aqui, e nos dois parágrafos que se seguem, várias palavras e expressões do texto foram utilizadas, modificando-se o tempo verbal, omitindo-se termos, o que não caracteriza citação direta, nem indireta, devido à modificação do significado. Trata-se de um diálogo com o texto de Mia Couto.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Ago 2020
  • Data do Fascículo
    Ago 2020

Histórico

  • Recebido
    29 Out 2019
  • Aceito
    08 Abr 2020
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