Acessibilidade / Reportar erro

Bases Neurais da Ansiedade Matemática: implicações para o processo de ensino-aprendizagem

Neural Bases of Mathematical Anxiety – implications for the teaching-learning process

Resumo

A Ansiedade Matemática é um fenômeno global e altamente prevalente, possuindo marcadores fisiológicos, cognitivos e comportamentais. No entanto, pouco se conhece sobre seus mecanismos neurais subjacentes. Fornecemos uma Revisâo Sistemática de estudos que investigaram os correlatos neurais da Ansiedade Matemática (AM) na última década e discutimos suas implicações para o processo de ensino aprendizagem. Foram selecionadas pesquisas que avaliaram parâmetros fisiológicos da funçâo cerebral de indivíduos com AM através de bancos de dados eletrônicos, atentando-se a critérios de inclusâo e exclusâo delineados. A qualidade da literatura foi analisada a partir dos 11 itens da escala de qualidade PEDro e conduzida pelo fluxograma de seleçâo de estudos PRISMA, resultando na inclusâo de 14 estudos neurocientíficos. Em geral, a literatura vem sugerir que as redes neurais de medo e de dor sâo estimuladas antes e durante tarefas numéricas em indivíduos com alta AM. Além disso, há uma capacidade reduzida de Memória de Trabalho e déficit de atençâo/inibiçâo em indivíduos com alta AM. Eles também sâo mais propensos a cometer erros em tarefas matemáticas, tem representações menos precisas de magnitude numérica, abordam os problemas matemáticos de maneira diferente de seus pares menos ansiosos e tendem a elevar mais recursos de controle cognitivo para concluir objetivos com estímulos aversivos relacionados ao raciocínio matemático, podendo impactar a eficiência de processamento e gerar déficits de desempenho. Resultados suportam, ainda, que os efeitos da AM estâo associados à uma menor ativaçâo cortical já durante os estágios iniciais do processamento de estímulos numéricos, independente da complexidade da tarefa. Implicações para guiar a prática do professor que ensina Matemática sâo discutidas à luz das evidências.

Palavras-chave:
Ansiedade matemática; Bases Neurais; Revisâo Sistemática; Ensino aprendizagem

Abstract

Mathematical Anxiety is a global phenomenon and highly prevalent, possessing physiological, cognitive, and behavioral markers. However, little is known about its underlying neural mechanisms. We provide a Systematic Review of studies that have investigated the neural correlates of Mathematical Anxiety in the last decade and discuss its implications for the teaching-learning process. We selected studies that made brain measurements of individuals with Mathematical Anxiety through electronic databases, considering the delineated inclusion and exclusion criteria. The quality of the literature was analyzed from the 11 items of the PEDro quality scale and conducted by the selection flowchart of PRISMA studies, resulting in the inclusion of 13 neuroscientific studies. In general, literature suggests that neural bases of fear and pain are stimulated by Mathematical Anxiety before and during numerical tasks. There is a reduced capacity for Working Memory and Attention Deficit / Inhibition in individuals with high Mathematical Anxiety. They are also more likely to make mistakes in mathematical tasks, have less precise representations of numerical magnitude, approach math problems differently from their less anxious peers, and tend to raise more cognitive control resources to complete goals with aversive stimuli, processing efficiency and generating performance deficits. Results also support that the effects of Mathematical Anxiety are associated with less cortical activation during the initial stages of numerical stimuli processing, regardless of task complexity.

Keywords:
Mathematical Anxiety; Neural Bases; Systematic Review; Teaching learning

1 Ansiedade matemática

Estudos envolvendo Ansiedade Matemática (doravante, AM) vem recebendo atençâo crescente nos últimos anos, desde que o conceito de “ansiedade a números” foi introduzido por Dreger e Aiken em relatório publicado em 1957. Neste relatório, os autores propuseram três assertivas: a) que a AM difere da ansiedade geral, embora uma se sobreponha a outra em certo grau; b) que a AM nâo estaria diretamente ligada à inteligência geral; c) que haveria uma relaçâo inversa entre AM e desempenho acadêmico em cursos de Matemática (ver ASHCRAFT; MOORE, 2009ASHCRAFT, M. H.; MOORE, A. M. Mathematics Anxiety and the Affective Drop in Performance. Journal of Psycho educational Assessment, Las Vegas, v. 27, n. 3, p. 197-205, jun. 2009.). Pesquisas subsequentes confirmaram repetidamente todas essas previsões, como destacado nas metanálises de Hembree (1990)HEMBREE, R. The nature, effects, and relief of mathematics anxiety. Journal for Research in Mathematics Education, v. 21, n.1, p. 33-46, jan. 1990, Dowker et al., (2016)DOWKER, A.; SARKAR, A.; LOOI, C. Y. Mathematics Anxiety: What Have We Learned in 60 Years? Frontiers in Psychology, Washington,v. 25, n. 7 p. 508, apr. 2016., Suaréz-Pellicioni et al. (2016)SUÁREZ-PELLICIONI, M; NÚÑEZ-PEÑA, M. I.; COLOMÉ, À. Math anxiety: A review of its cognitive consequences, psychophysiological correlates, and brain bases. Cognitive, Affective and Behavioral Neuroscience, United States, v. 16, n. 1, p. 3–22, feb. 2016. e Carey et al. (2016)CAREY, E.; HILL, F.; DEVINE, A.; SZÜCS, D. The Chicken or the Egg? The Direction of the Relationship between Mathematics Anxiety and Mathematics Performance. Frontiers in Psychology, Belgium, v. 6, n. 33, jan. 2016..

A AM é um fenômeno global e altamente prevalente. Estima-se que uma parcela significativa da populaçâo experimente medo e apreensâo quando confrontada com problemas numéricos (HEMBREE, 1990HEMBREE, R. The nature, effects, and relief of mathematics anxiety. Journal for Research in Mathematics Education, v. 21, n.1, p. 33-46, jan. 1990; ASHCRAFT, 2002ASHCRAFT, M. H. Math anxiety: Personal, educational, and cognitive consequences. Current Directions in Psychological Science, Cleveland, Ohio, v. 11, n. 5, p. 181-185, Oct. 2002.; HLALELE, 2012HLALELE, D. Exploring rural high school learners’ experience of mathematics anxiety in academic settings. South African Journal of Education, South Africa, v. 32, n. 3, p. 268-278, aug. 2012; MUTODI; NGIRANDE, 2014MUTODI, P.; NGIRANDE, H. Exploring Mathematics Anxiety: Mathematics Students’ Experiences. Mediterranean Journal of Social Sciences, Italy, v. 5, n. 1, p.283–294, 2014., JANSEN et al., 2013JANSEN, B. R. J.; LOUWERSE, J.; STRAATEMEIER, M.; VAN DER VEN, S. H. G.; KLINKENBERG, S.; VAN DER MAAS, H. L. J. The influence of experiencing success in math on math anxiety, perceived math competence, and math performance. Learning and Individual Differences, United Kingdom, v. 24, p. 190–197, apr. 2013.). No estudo do PISA (Programme for International Student Assessment), em 2012, do qual participaram alunos de 65 países, quase 60% dos estudantes relataram preocupações relativas as aulas de Matemática e 30% disseram se sentir impotentes ao fazerem um problema matemático (OECD, 2013).

A AM possui marcadores fisiológicos, como, por exemplo, ativaçâo de áreas cerebrais relacionadas à percepçâo de dor (LYONS; BEILOCK, 2012aLYONS, I. M.; BEILOCK, S. L. Mathematics Anxiety: Separating the Math from the Anxiety. Cerebral Cortex, United Kingdom, v. 22, n. 9, p. 2102- 2110, sep. 2012a.); marcadores cognitivos, como as limitações de Memória de Trabalho durante tarefas matemáticas complexas (ASHCRAFT; KIRK, 2001ASHCRAFT, M. H.; KIRK, E. P. The relationships among working memory, math anxiety, and performance. Journal of Experimental Psychology: General, Washington, v. 130, n. 2, p. 224-237, jul. 2001.; ASHCRAFT; RIDLEY, 2005ASHCRAFT, M. H.; RIDLEY, K. Math anxiety and its cognitive consequences: A tutorial review. In: CAMPBELL, J. I. D. (Ed.). Handbook of mathematical cognition. New York: Psychology Press, 2005. p. 315-325.); marcadores comportamentais, a exemplo da negaçâo de carreiras que enfatizem habilidades numéricas por conta de pobre desempenho (HEMBREE, 1990HEMBREE, R. The nature, effects, and relief of mathematics anxiety. Journal for Research in Mathematics Education, v. 21, n.1, p. 33-46, jan. 1990; BROWN et al., 2008BROWN, M.; BROWN, P.; BIBBY, T. “I would rather die”: reasons given by 16-year-olds for not continuing their study of mathematics. Research in Mathematics Education, London, v. 10, n.1, p. 3–18, sep. 2008.) ou na tomada de decisões envolvendo itens de consumo (JONES et al., 2012JONES, W. J; CHILDERS, T. L; JIANG, Y. The shopping brain: Math anxiety modulates brain responses to buying decisions, Biological Psychology, v. 89, n. 1, p. 201-213, jan. 2012.). A AM se conceitua como uma “sensaçâo de tensâo e ansiedade que interfere na manipulaçâo dos números e na resoluçâo de problemas matemáticos, relacionados a uma grande variedade de situações da vida ordinária e acadêmica” (RICHARDSON; SUINN, 1972RICHARDSON, F. C.; SUINN, R. M. The Mathematics Anxiety Rating Scale: Psychometric data. . Journal of Counseling Psychology, United States, v. 19, n. 6, p. 551-554, 1972., p.551; ASHCRAFT; FAUST, 1994ASHCRAFT, M. H.; FAUST, M. W. Mathematics anxiety and mental arithmetic performance: An exploratory investigation. Cognition and Emotion, Cleveland State University, EUA, v. 8, n. 2, p. 97–125, mar.1994.).

Em síntese, a AM é um fenômeno que tem um impacto considerável no desempenho de tarefas matemáticas (ver ASHCRAFT; KIRK, 2001ASHCRAFT, M. H.; KIRK, E. P. The relationships among working memory, math anxiety, and performance. Journal of Experimental Psychology: General, Washington, v. 130, n. 2, p. 224-237, jul. 2001.). Dados neurocientíficos podem proporcionar melhores perspectivas de intervenções e guiar a prática do professor que ensina Matemática. Considerando que, na última década, distintos estudos forneceram evidências que possibilitaram perscrutar as bases neurais1 1 Processos e mecanismos fisiológicos do sistema nervoso central envolvidos em determinada atividade, comportamento ou funçâo. da AM, fornecemos uma Revisâo Sistemática da literatura recente com o objetivo de apresentar estudos que investigaram os correlatos neurais de indivíduos com Ansiedade Matemática, destacando implicações para o processo de ensino e aprendizagem.

2 Método

As bases de dados eletrônicas PubMed e ERIC foram eleitas para o processo de busca de estudos que investigaram os correlatos neurais da Ansiedade Matemática. Termos-chave de busca incluíram a combinaçâo das palavras “Brain, Brain Bases, Anxiety Mathematical, Arithmetic”, dentre outras palavras equivalentes.

Para essa Revisâo Sistemática, incluiu-se todos os estudos que: i) investigaram as bases neurais da Ansiedade Matemática; ii) foram escritos em língua inglesa; iii) publicados entre 2008 e 2018; iv) realizados com escolares ou nâo escolares, independente da idade; v) envolveram tarefas numéricas e vi) apresentaram implicações diretas para o processo de ensino e aprendizagem. Foram excluídos estudos que: i) foram desenvolvidos com populações especiais (por exemplo, alunos com discalculia); ii) nâo apresentaram implicações educacionais; iv) investigaram bases neurais vinculadas a intervenções de medicaçâo da Ansiedade Matemática.

A qualidade dos estudos elegidos foi avaliada de modo independente pelo primeiro autor, baseado nos 11 itens da escala do Banco de Dados de Evidências Fisioterapêuticas (PEDro), conforme Quadro 1. A referida escala, amplamente utilizada na avaliaçâo de metanálises, afere de forma confiável características dos estudos, como randomizaçâo, cegamento, comparaçâo entre grupos e medidas de variabilidade (SHIWA et al., 2011SHIWA, S. R.; PENA COSTA, L. O.; MOSER, A. D. L. Pedro: a base de dados de evidências em fisioterapia. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 24, n. 3, p. 523-533, jul. /set. 2011.).

Quadro 1
Escala de Qualidade PEDro (Português-Brasil)

O fluxograma PRISMA foi utilizado como parâmetro para conduzir a identificaçâo, triagem, elegibilidade e inclusâo de estudos para essa Revisâo Sistemática, conforme Figura 1.

Figura 1
Fluxograma de seleção de estudos PRISMA

Dos 17 estudos identificados, 3 foram excluídos por nâo atenderem aos critérios de inclusâo. Um deles, o estudo de Jones et al. (2012)JONES, W. J; CHILDERS, T. L; JIANG, Y. The shopping brain: Math anxiety modulates brain responses to buying decisions, Biological Psychology, v. 89, n. 1, p. 201-213, jan. 2012., investigou como o cérebro de indivíduos com alta AM muda quando tem que decidir pela compra de itens de consumo, nâo apresentando implicações diretas para o processo de ensino e aprendizagem. O estudo de Supekar et al. (2015)SUPEKAR, K.; IUCULANO, T.; CHEN, L.; MENON, V. Remediation of Childhood Math Anxiety and Associated Neural Circuits through Cognitive Tutoring. The Journal of Neuroscience, United States, v. 35, n. 36, p. 12574 –12583, sep. 2015., que investigou os correlatos neurais após a intervençâo de uma intensa tutoria cognitiva e o estudo de Sarkar et al. (2014)SARKAR, A.; DOWKER, A.; COHEN KADOSH, R. Cognitive Enhancement or Cognitive Cost: Trait Specific Outcomes of Brain Stimulation in the Case of Mathematics Anxiety. The Journal of Neuroscience, United States, v. 34, n. 50, p. 16605–16610, dec. 2014. que investigou uma intervençâo fazendo uso de Estimulaçâo Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC)2 2 Trata-se da utilizaçâo de corrente elétrica baixa e contínua emitida diretamente na área cerebral de interesse através de pequenos eletrodos fixados no couro cabeludo. também foram desconsiderados para o escopo de análise desse estudo. Análises pormenorizadas dos artigos incluídos serâo discutidas a seguir.

3 Bases neurais da Ansiedade Matemática

A partir dos resultados recentes de estudos que fizeram uso de fRMI (Imagem por Ressonância Magnética Funcional3 3 A Ressonância Magnética Funcional é uma técnica específica que se utiliza de fortes ondas magnéticas capazes de detectar variações do fluxo sanguíneo cerebral em resposta à atividade neural. ) ou medidas de reatividade eletrofisiológica, como Potenciais de Eventos Relacionados4 4 Potenciais de Eventos relacionados é uma análise que permite identificar atividade cerebral quando o indivíduo é estimulado, seja interna ou externamente. Essa análise é mensurada por eletroencefalograma (EEG), que, por sua vez, consiste em uma técnica de monitoramento das atividades elétricas do cérebro através de eletrodos colocados no couro cabeludo. - PER (em inglês, ERP) /Eletroencefalograma- EEG, foi possível perscrutar as principais regiões cerebrais relacionadas à Ansiedade Matemática. Trata-se de esforços ainda incipientes, mas que corroboram, aprimoram e avançam os resultados dos estudos psicológicos conduzidos ao longo dos últimos 60 anos. As evidências apontam que, pelo menos, duas redes estâo relacionadas à “emotividade” da Ansiedade Matemática no cérebro: a rede de dor, abrangendo a ínsula (LYONS; BEILOCK, 2012aLYONS, I. M.; BEILOCK, S. L. Mathematics Anxiety: Separating the Math from the Anxiety. Cerebral Cortex, United Kingdom, v. 22, n. 9, p. 2102- 2110, sep. 2012a.; LYONS; BEILOCK, 2012bLYONS, I. M.; BEILOCK, S. L. When Math Hurts: Math Anxiety Predicts Pain Network Activation in Anticipation of Doing Math. PLoS ONE, United State, v. 7, n. 10, p.1–6, oct. 2012b.) e a rede de medo, envolvendo a amígdala (YOUNG et al., 2012YOUNG, C. B.; WU, S. S.; MENON, V. The Neurodevelopmental Basis of Math Anxiety. Psychological Science, United States, v. 23, n. 5, p. 492–501, mar. 2012..

Em relaçâo à primeira, rede de dor, os estudos conduzidos por Lyons e Beilock (2012bLYONS, I. M.; BEILOCK, S. L. When Math Hurts: Math Anxiety Predicts Pain Network Activation in Anticipation of Doing Math. PLoS ONE, United State, v. 7, n. 10, p.1–6, oct. 2012b.) trouxeram evidências que explicam a natureza subjetiva da Ansiedade Matemática. Enquanto as atividades cerebrais eram medidas por fMRI, quatorze participantes com alta AM e quatorze indivíduos com baixa AM tiveram que responder, intercaladamente, blocos de tarefas matemáticas e de palavras. Um círculo amarelo ou um quadrado azul indicavam antecipadamente se a atividade envolveria cálculo ou vocábulo.

Notou-se que, ao se antecipar uma tarefa de Matemática, mais aumentava a atividade em regiões associadas às ameaças viscerais (ínsula dorso-posterior bilateral) nos indivíduos AM (Figura 2), experimentando-se muitas das vezes a experiência da própria dor (LAMM et al., 2011LAMM, C.; DECETY, J.; SINGER, T. Meta-analytic evidence for common and distinct neural networks associated with directly experienced pain and empathy for pain. NeuroImage, United States, v. 54, n. 3, p. 2492– 2502, feb. 2011.); fato nâo constatado em indivíduos com baixa AM. Lyons e Beilock (2012bLYONS, I. M.; BEILOCK, S. L. When Math Hurts: Math Anxiety Predicts Pain Network Activation in Anticipation of Doing Math. PLoS ONE, United State, v. 7, n. 10, p.1–6, oct. 2012b., p.1) sugerem que “a ativaçâo da rede de dor está subjacente ao fato de que simplesmente antecipar um evento temido, pode ser doloroso”.

Figura 2
Síntese dos principais achados em estudos de imagem por ressonância magnética funcional

Se a experiência da AM gera uma reaçâo corporal visceral aversiva, tais resultados fornecem evidências significativas quanto ao potencial mecanismo neural que explica por que pessoas que apresentam alta AM tendem a evitar situações relacionadas à disciplina, seja em seu cotidiano, seja em sala de aula ou até mesmo em suas trajetórias acadêmicas.

Os achados de Lyons e Beilock (2012aLYONS, I. M.; BEILOCK, S. L. Mathematics Anxiety: Separating the Math from the Anxiety. Cerebral Cortex, United Kingdom, v. 22, n. 9, p. 2102- 2110, sep. 2012a.) também fornecem explicações do porquê indivíduos com mesmo grau de AM, apresentam desempenhos matemáticos variados. Por encontrarem atividades em regiões frontais do cérebro, envolvidas na regulaçâo de emoções negativas, os autores partiram do pressuposto de que a reduçâo de déficits matemáticos seria resultado do aumento do controle cognitivo, que permitiria aos participantes ansiosos ir mudando o desempenho ao longo da resoluçâo de tarefas matemáticas.

Em outros termos, poder-se-ia perguntar até que ponto os indivíduos com alta AM conseguiriam recrutar áreas cerebrais relacionadas ao controle atencional e regulaçâo de emoções? A hipótese era que, quanto maior a atividade no córtex pré-frontal dorsolateral, regiâo envolvida em funções executivas como atençâo, inibiçâo e memória de trabalho (BRASS et al., 2005BRASS, M.; DERRFUSS, J.; FORSTMANN, B.; VON CRAMON, D. Y. The role of the inferior frontal junction area in cognitive control. TRENDS in Cognitive Science, Canadí v. 9, n.7, p. 314-316, jul. 2005.), mais os indivíduos com alta AM estariam no controle de resposta negativa, e, portanto, conseguiriam obter um melhor desempenho. Essa hipótese foi confirmada, concluindo que o desempenho matemático de indivíduos ansiosos está associado à capacidade de acelerar recursos de controle atencional.

A esse respeito, o estudo conduzido por Sarkar et al. (2014)SARKAR, A.; DOWKER, A.; COHEN KADOSH, R. Cognitive Enhancement or Cognitive Cost: Trait Specific Outcomes of Brain Stimulation in the Case of Mathematics Anxiety. The Journal of Neuroscience, United States, v. 34, n. 50, p. 16605–16610, dec. 2014. fez uso de Estimulaçâo Transcraniana de Corrente Contínua (ETCC), emitida justamente no córtex pré-frontal dorsolateral, um alvo frequente para a modulaçâo da regulaçâo emocional. Os autores relataram melhoras no tempo de resposta para problemas aritméticos simples e uma diminuiçâo nas concentrações de cortisol (um biomarcador de estresse), em indivíduos com alta AM, embora tenha se percebido efeito contrário em estudantes com baixa AM. Segundo os autores, os diferentes níveis de AM produzem estados neurais diferentes que sâo específicos da tarefa e da situaçâo. Nesse sentido, essas distintas assinaturas neurais ao interagirem com a ETCC produzem resultados diferentes, influenciando os efeitos de estimulaçâo (SARKAR et al., 2014SARKAR, A.; DOWKER, A.; COHEN KADOSH, R. Cognitive Enhancement or Cognitive Cost: Trait Specific Outcomes of Brain Stimulation in the Case of Mathematics Anxiety. The Journal of Neuroscience, United States, v. 34, n. 50, p. 16605–16610, dec. 2014.).

Criticamente, as evidências de Klados et al. (2017)KLADOS, M. A; PANDRIA, N.; MICHELOYANNIS, S.; MARGULIES, D.; PANAGIOTIS, D. Math anxiety: Brain cortical network changes in anticipation of doing mathematics. International Journal of Psychophysiology, v. 122, p. 24-31, dec. 2017. foram consistentes com os achados de Lyons e Beilock (2012aLYONS, I. M.; BEILOCK, S. L. Mathematics Anxiety: Separating the Math from the Anxiety. Cerebral Cortex, United Kingdom, v. 22, n. 9, p. 2102- 2110, sep. 2012a.) ao perceberem que a ativaçâo de redes cerebrais em indivíduos ansiosos muda durante a fase de antecipaçâo de uma experiência relacionada à Matemática. No estudo de Klados et al. (2017)KLADOS, M. A; PANDRIA, N.; MICHELOYANNIS, S.; MARGULIES, D.; PANAGIOTIS, D. Math anxiety: Brain cortical network changes in anticipation of doing mathematics. International Journal of Psychophysiology, v. 122, p. 24-31, dec. 2017., notou-se atividade em todas as bandas de frequência5 5 Bandas de frequência se referem às frequências de sinais da atividade cerebral medida por eletroencefalograma. Elas sâo quatro: Delta – tem uma frequência menor ou igual à 3 Hz; Theta - tem frequência entre 3,5 a 7,5 Hz e é classificada como atividade lenta; Alfa – frequência entre 7,5 a 13 Hz; e Beta - tem uma frequência igual ou maior à 14 Hz, sendo classificada como atividade rápida. do EEG em contraste com os pares menos ansiosos. Antecipando uma próxima tarefa matemática, regiões associadas à dor foram ativadas na ínsula dorso posterior bilateral, o que viria explicar as ativações nas bandas de frequência beta e gama, segundo os autores. A frequência na banda theta, por sua vez, foi avaliada como resposta as expressões emocionais ou a alta demanda de recursos na Memória de Trabalho para controlar emoções negativas, em contraposiçâo aos menos ansiosos, onde a Memória de Trabalho se mostra mais eficiente (ver KLADOS et al., 2017KLADOS, M. A; PANDRIA, N.; MICHELOYANNIS, S.; MARGULIES, D.; PANAGIOTIS, D. Math anxiety: Brain cortical network changes in anticipation of doing mathematics. International Journal of Psychophysiology, v. 122, p. 24-31, dec. 2017.). Esses achados estâo em consonância com os de Pletzer et al. (2015)PLETZER, B.; KRONBICHLER, M.; NUERK, H-C.; KERSCHBAUM, H. H. Mathematics anxiety reduces default mode network deactivation in response to numerical tasks. Frontiers in Human Neuroscience, Switzerland, v. 9, p.1–12, apr. 2015., no qual jovens adultos com alta AM apresentavam retardo na desativaçâo na rede de modo padrâo em momentos que precediam a realizaçâo da tarefa matemática, evidenciando reduçâo na eficiência de processamento decorrente da necessidade e dispensa de novos esforços para controle das emoções negativas associadas à manipulaçâo numérica.

Lyons e Beilock (2012bLYONS, I. M.; BEILOCK, S. L. When Math Hurts: Math Anxiety Predicts Pain Network Activation in Anticipation of Doing Math. PLoS ONE, United State, v. 7, n. 10, p.1–6, oct. 2012b.) sugerem que intervenções educativas que enfatizam o controle de fatores emocionais negativos tendem a ser mais eficazes para promover uma populaçâo matematicamente proficiente, quando comparadas com interferências que foquem meramente em treino adicional de Matemática.

Em relaçâo à segunda, rede de medo, Young et al. (2012)YOUNG, C. B.; WU, S. S.; MENON, V. The Neurodevelopmental Basis of Math Anxiety. Psychological Science, United States, v. 23, n. 5, p. 492–501, mar. 2012., notaram uma conectividade aberrante da amígdala direita (que sâo importantes no processamento de emoções negativas) em crianças de 7 a 9 anos com AM (figura 2). Considerando que a amígdala é conhecida pela percepçâo do medo (PHELPS; LEDOUX, 2005PHELPS E. A; LEDOUX, J. E. Contributions of the amygdala to emotion processing: from animal models to human behavior. Neuron, United States v. 48, n. 2, p. 175-187, oct. 2005.), sua ativaçâo durante uma tarefa matemática vem confirmar o medo da Matemática das crianças. Ao mesmo tempo, perceberam uma associaçâo da AM com resposta reduzida nas regiões do córtex pré-frontal dorsolateral e parietal posterior (Figura 2), envolvidas na memória de trabalho e no raciocínio matemático (MENON et al., 2000MENON, V.; RIVERA, S. M.; WHITE, C. D.; GLOVER, G. H.; REISS, A. L. Dissociating prefrontal and parietal cortex activation during arithmetic processing. NeuroImage, United States, v. 12, n. 4, p. 357- 365, oct. 2000.; WENDELKEN, 2015WENDELKEN, C. Meta-analysis: how does posterior parietal cortex contribute to reasoning? Frontiersin Human Neuroscience., Switzerland, v. 8, p.1-11, jan. 2015.). Esses resultados vâo ao encontro de estudos anteriores que pensaram a influência da AM sobre o desempenho a partir da capacidade reduzida da memória de trabalho (como por exemplo, ASHCRAFT; KIRK, 2001ASHCRAFT, M. H.; KIRK, E. P. The relationships among working memory, math anxiety, and performance. Journal of Experimental Psychology: General, Washington, v. 130, n. 2, p. 224-237, jul. 2001.; BEILOCK; DECARO, 2007BEILOCK, S. L.; DECARO, M. S. From Poor Performance to Success under Stress: Working Memory, Strategy Selection, and Mathematical Problem Solving Under Pressure. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition, Washington, v. 33, n. 6, p. 983–998, nov. 2007.).

Além disso, a conectividade da amígdala com outras áreas cerebrais também foi observada por Young et al. (2012)YOUNG, C. B.; WU, S. S.; MENON, V. The Neurodevelopmental Basis of Math Anxiety. Psychological Science, United States, v. 23, n. 5, p. 492–501, mar. 2012.. Enquanto em crianças com baixa AM, a amígdala foi acoplada às áreas cerebrais que facilitam o processamento eficiente de tarefas, em crianças com alta ansiedade, a amígdala mostrou maior conectividade com regiões envolvidas no processamento e regulaçâo de emoções negativas (uma espécie de mecanismo compensatório de desempenho) (YOUNG et al., 2012YOUNG, C. B.; WU, S. S.; MENON, V. The Neurodevelopmental Basis of Math Anxiety. Psychological Science, United States, v. 23, n. 5, p. 492–501, mar. 2012.). Há evidências de que a amígdala está envolvida em comportamentos cognitivo-emocionais complexos a partir de suas interações com distintas áreas cerebrais (PESSOA, 2008PESSOA, L. On the relationship between emotion and cognition. Nature Reviews Neuroscience, United Kingdom, v. 9, n. 2, p. 148–158, feb. 2008.; LEDOUX; PHELPS, 2008LEDOUX, J. E., & PHELPS, E. A. Emotional networks in the brain. In: Lewis, J. M. Haviland-Jones, & L. F. Barrett (Eds.), Handbook of emotions, United States, p. 159–179, 2008.).

O estudo conduzido por Pizzie e Kraemer (2017)PIZZIE, R. G.; KRAEMER, D. J. M. Avoiding math on a rapid timescale: Emotional responsivity and anxious attention in math anxiety. Brain and Cognition, United States, v. 118, p. 100–107, nov. 2017. confirma essa ativaçâo da amígdala em resposta a uma breve exposiçâo a estímulos matemáticos, ampliando os resultados para adultos jovens. Esses dados vêm ilustrar que, mesmo sem a expectativa ou o ato de resolver problemas, existe uma resposta neural relacionada à ameaça e vigilância por parte dos indivíduos com AM, semelhante a fobias específicas (como medo de cobra, por exemplo).

Outra implicaçâo importante do estudo de Pizzie e Kraemer (2017)PIZZIE, R. G.; KRAEMER, D. J. M. Avoiding math on a rapid timescale: Emotional responsivity and anxious attention in math anxiety. Brain and Cognition, United States, v. 118, p. 100–107, nov. 2017. é mostrar que essa responsividade da amígdala durante os ensaios envolvendo os estímulos matemáticos, parecem ser característica específica da Ansiedade Matemática, pois nâo foi observado o mesmo comportamento em relaçâo à ansiedade-traço. Esses resultados se apresentam consistentes com os obtidos em pesquisas anteriores (como YOUNG et al., 2012YOUNG, C. B.; WU, S. S.; MENON, V. The Neurodevelopmental Basis of Math Anxiety. Psychological Science, United States, v. 23, n. 5, p. 492–501, mar. 2012.; LYONS; BEILOCK, 2012aLYONS, I. M.; BEILOCK, S. L. Mathematics Anxiety: Separating the Math from the Anxiety. Cerebral Cortex, United Kingdom, v. 22, n. 9, p. 2102- 2110, sep. 2012a.).

No Quadro 2, analisamos pormenorizadamente os 14 estudos incluídos em nossa Revisâo Sistemática, destacando suas amostras, procedimentos, correlatos neurais associados à AM e algumas de suas implicações.

Quadro 2
Literatura Neurocientífica sobre os correlatos Neurais da Ansiedade Matemática. Os estudos estão organizados pelo nome de seus pesquisadores, pelo tamanho de suas populações, pelos procedimentos realizados, por seus correlatos neurais e por suas implicações.

4 Discussâo

Os poucos estudos conduzidos por fMRI mostraram que, pelo menos duas bases, cerebrais estâo envolvidas na resposta emocional da Ansiedade Matemática: a rede de medo e a rede de dor. Sugere-se que os déficits de desempenho matemático em indivíduos com alta AM estâo associados a atividades nessas regiões cerebrais, comumente envolvidas na regulaçâo de emoções negativas, assim como em regiões subcorticais relacionadas a fatores motivacionais (LYONS; BEILOCK, 2012aLYONS, I. M.; BEILOCK, S. L. Mathematics Anxiety: Separating the Math from the Anxiety. Cerebral Cortex, United Kingdom, v. 22, n. 9, p. 2102- 2110, sep. 2012a. ARTEMENKO et al., 2015ARTEMENKO, C.; DAROCZY, G.; NUERK H. C. Neural correlates of math anxiety – an overview and implications. Frontiers in Psychology, Cambridge, v. 6, p. 1333. sep. 2015.). Esses estudos sugerem que tais indivíduos podem superar seus déficits de desempenho aprendendo a controlar essa resposta emocional negativa, mesmo que a manipulaçâo numérica envolva custos significativos de memória de trabalho.

Notou-se ainda que, para a maioria dos indivíduos com alta AM, estímulos aversivos (isto é, os números) contribuem para reduzir a capacidade de recursos na memória de trabalho, que poderiam ser alocados para a tarefa cognitiva. Como os números estâo vinculados à própria tarefa matemática em si, pode-se supor que esses indivíduos, ao se preocuparem com o conteúdo emocional dos estímulos, reduzem recursos na Memória de Trabalho, prejudicando o desempenho, principalmente em tarefas de alta carga cognitiva.

Déficits na funçâo inibitória também foram considerados. As áreas cerebrais relacionadas ao controle atencional (por exemplo, o Córtex Pré-Frontal Dorsolateral e a Rede de Modo padrâo) tem sido associadas à eficiência de processamento (FALES et al., 2008FALES, C. L.; et al. Altered emotional interference processing in affective and cognitive control brain circuitry in major depression. Biological Psychiatry, Netherlands, v. 63, n. 4, p. 377- 384, feb. 2008.). Quanto maior a ativaçâo nessas regiões, maior a resposta de controle atencional. Notou-se, entretanto, que indivíduos com alta AM tiveram atividades reduzidas no córtex pré-frontal dorsolateral (YOUNG et al., 2012YOUNG, C. B.; WU, S. S.; MENON, V. The Neurodevelopmental Basis of Math Anxiety. Psychological Science, United States, v. 23, n. 5, p. 492–501, mar. 2012.; PLETZER et al., 2015PLETZER, B.; KRONBICHLER, M.; NUERK, H-C.; KERSCHBAUM, H. H. Mathematics anxiety reduces default mode network deactivation in response to numerical tasks. Frontiers in Human Neuroscience, Switzerland, v. 9, p.1–12, apr. 2015.) e lentidâo para a desativaçâo da Rede de Modo Padrâo (PLETZER et al., 2015PLETZER, B.; KRONBICHLER, M.; NUERK, H-C.; KERSCHBAUM, H. H. Mathematics anxiety reduces default mode network deactivation in response to numerical tasks. Frontiers in Human Neuroscience, Switzerland, v. 9, p.1–12, apr. 2015.). Conforme Anticevic et al. (2010)ANTICEVIC, A.; REPOVS, G.; SHULMAN, G.L., BARCH, D. M. When less is more: TPJ and default network deactivation during encoding predicts working memory performance. Neuroimage, v. 49, n.3, p. 2638–2648, feb. 2010. e Sambataro et al. (2010)SAMBATARO, F. et al. Age related alterations in default mode network: impact on working memory performance. Neurobiology of Aging, Netherlands, v. 31, n. 5, p. 839–852, may. 2010., a diminuiçâo de atividades em áreas da Rede de Modo Padrâo indica um aumento na ativaçâo de áreas de controle cognitivo (uma vez que elas sâo inversamente proporcionais). Por conta disso, percebe-se que indivíduos com alta AM apresentam um controle atencional insuficiente, afetando, de modo particular, tarefas que requerem funções inibitórias e controle atencional.

5 Conclusâo e implicações para o processo de ensino e aprendizagem

O corpo de evidências analisadas trás implicações importantes para a prática do professor que ensina Matemática e para o processo de ensino e aprendizagem matemático, de um modo geral. Conforme sugerido em Lyons e Beilock (2012LYONS, I. M.; BEILOCK, S. L. Mathematics Anxiety: Separating the Math from the Anxiety. Cerebral Cortex, United Kingdom, v. 22, n. 9, p. 2102- 2110, sep. 2012a.a), a competência matemática de indivíduos com alta AM está mais relacionada a organizaçâo de recursos de controle cognitivo do que na promoçâo de intervenções que foquem meramente em treino adicional de Matemática.

Considerando que indivíduos com alta ansiedade matemática sâo mais propensos a autogerar erros em tarefas numéricas (SUARÉZ-PELLICIONI, 2013aSUÁREZ-PELLICIONI, M.; NÚÑEZ-PEÑA, M. I.; COLOMÉ, À. Abnormal Error Monitoring in Math-Anxious Individuals: Evidence from Error-Related Brain Potentials. PLoS ONE, United States, v. 8, n. 11, p.1– 17, nov. 2013a.; NÚNES-PEÑA; SUÁREZ-PELLICIONI, 2015NÚÑEZ-PEÑA, M. I.; SUÁREZ-PELLICIONI, M. Processing of multi-digit additions in high math anxious individuals: psychophysiological evidence. Frontiers in Psychology, Switzerland, v. 6:, p.1–11, aug. 2015.) e ponderando que os erros sâo vistos de modo negativo em aulas de Matemática, provavelmente ele constitui fator contributivo no desenvolvimento e manutençâo da Ansiedade Matemática. Intervenções educativas que redimensionem positivamente o “erro” em tarefas matemáticas podem ter implicações positivas no processo de ensino e aprendizagem e pode vir a quebrar o ciclo viciante da Ansiedade Matemática que gera mau desempenho, que, por sua vez, gera mais Ansiedade Matemática.

As evidências destacam ainda que os efeitos com AM estâo associados a menor ativaçâo cortical durante estágios iniciais do processamento de estímulos numéricos no contexto de tarefas cognitivas, independente da complexidade da tarefa (KLADOS, 2017KLADOS, M. A; PANDRIA, N.; MICHELOYANNIS, S.; MARGULIES, D.; PANAGIOTIS, D. Math anxiety: Brain cortical network changes in anticipation of doing mathematics. International Journal of Psychophysiology, v. 122, p. 24-31, dec. 2017.). Anteriormente a isso, a AM prejudica a desativaçâo da RMP (Rede de Modo Padrâo) durante tarefas matemáticas, indicando uma reduçâo na eficiência de processamento. Pautados nessas perspectivas, hipotetizamos que práticas pedagógicas que considerem a característica reativa dos alunos com AM e que promovam, de modo gradual, uma atitude proativa perante problemas matemáticos, podem beneficiar esses indivíduos a médio e longo prazo.

Ademais, considerando que os indivíduos com alta AM precisam de maior esforço para controlar respostas emocionais negativas para alcançar um desempenho comparável aos indivíduos com baixa ansiedade, hipotetiza-se que atividades que envolvam interaçâo entre os ansiosos e seus homólogos nâo ansiosos, podem nâo surtir efeitos positivos.

Os indivíduos com alta AM quando comparados com seus pares menos ansiosos, tiveram melhor desempenho quando ativaram menos a rede de atençâo frontoparietal. Isso quer dizer que alguns indivíduos ansiosos à Matemática podem recrutar recursos de controle cognitivo para regular respostas emocionais negativas associadas às situações matemáticas, mesmo quando a tarefa de Matemática nâo for necessariamente complexa. Da mesma forma, a ativaçâo dessa rede pode ser reflexo de um esforço aumentado ou eficiência diminuída ao processar informações numéricas. As evidências também mostram que indivíduos com alta AM podem abordar os problemas matemáticos de maneira diferente dos indivíduos com baixa AM. De um modo geral, estudantes que experimentam altos níveis de AM podem se beneficiar de práticas de sala de aula que ajudem os alunos a regular suas emoções negativas e a desenvolver fluência na recuperaçâo de fatos aritméticos simples.

Nosso estudo procurou estabelecer um movimento translacional, sistematizando os trabalhos publicados na última década acerca das bases neurais da Ansiedade Matemática, evidenciando como tais achados podem influenciar as ações do professor que ensina Matemática na sala de aula. Dentre algumas de nossas limitações metodológicas, destacamos as poucas bases de dados consideradas e o recorte temporal dos últimos 10 anos, que, em ocasiões futuras, poderâo ser revistas e ampliadas. Destacamos, entretanto, os pontos fortes de nossa revisâo, como o uso do diagrama PRISMA que identificou, triou, elegeu e incluiu os estudos pesquisados e a Escala de Qualidade PEDro que avaliou os estudos incluídos, propiciando para a área de Educaçâo Matemática, resultados recentes em neurociência cognitiva para discutir um transtorno de aprendizagem conhecido nas aulas de Matemática.

  • 1
    Processos e mecanismos fisiológicos do sistema nervoso central envolvidos em determinada atividade, comportamento ou funçâo.
  • 2
    Trata-se da utilizaçâo de corrente elétrica baixa e contínua emitida diretamente na área cerebral de interesse através de pequenos eletrodos fixados no couro cabeludo.
  • 3
    A Ressonância Magnética Funcional é uma técnica específica que se utiliza de fortes ondas magnéticas capazes de detectar variações do fluxo sanguíneo cerebral em resposta à atividade neural.
  • 4
    Potenciais de Eventos relacionados é uma análise que permite identificar atividade cerebral quando o indivíduo é estimulado, seja interna ou externamente. Essa análise é mensurada por eletroencefalograma (EEG), que, por sua vez, consiste em uma técnica de monitoramento das atividades elétricas do cérebro através de eletrodos colocados no couro cabeludo.
  • 5
    Bandas de frequência se referem às frequências de sinais da atividade cerebral medida por eletroencefalograma. Elas sâo quatro: Delta – tem uma frequência menor ou igual à 3 Hz; Theta - tem frequência entre 3,5 a 7,5 Hz e é classificada como atividade lenta; Alfa – frequência entre 7,5 a 13 Hz; e Beta - tem uma frequência igual ou maior à 14 Hz, sendo classificada como atividade rápida.
  • 6
    Na tarefa de bissecçâo de números, os participantes tiveram que decidir se, dados três números inteiros, o número do meio era a média dos outros dois adjacentes (por exemplo: 12_15_18). No exemplo dado, o 15 seria a média entre a soma de 12 com 18.
  • 7
    A rede de modo padrâo se refere a grupos de neurônios de diferentes regiões encefálicas interconectados que têm ativaçâo elevada em períodos de repouso, mesmo na ausência de qualquer tarefa; por outro lado, tem atividade diminuída em condições ativas.

Referências

  • ANTICEVIC, A.; REPOVS, G.; SHULMAN, G.L., BARCH, D. M. When less is more: TPJ and default network deactivation during encoding predicts working memory performance. Neuroimage, v. 49, n.3, p. 2638–2648, feb. 2010.
  • ASHCRAFT, M. H.; FAUST, M. W. Mathematics anxiety and mental arithmetic performance: An exploratory investigation. Cognition and Emotion, Cleveland State University, EUA, v. 8, n. 2, p. 97–125, mar.1994.
  • ASHCRAFT, M. H.; KIRK, E. P. The relationships among working memory, math anxiety, and performance. Journal of Experimental Psychology: General, Washington, v. 130, n. 2, p. 224-237, jul. 2001.
  • ASHCRAFT, M. H. Math anxiety: Personal, educational, and cognitive consequences. Current Directions in Psychological Science, Cleveland, Ohio, v. 11, n. 5, p. 181-185, Oct. 2002.
  • ASHCRAFT, M. H.; RIDLEY, K. Math anxiety and its cognitive consequences: A tutorial review. In: CAMPBELL, J. I. D. (Ed.). Handbook of mathematical cognition New York: Psychology Press, 2005. p. 315-325.
  • ASHCRAFT, M. H.; MOORE, A. M. Mathematics Anxiety and the Affective Drop in Performance. Journal of Psycho educational Assessment, Las Vegas, v. 27, n. 3, p. 197-205, jun. 2009.
  • ARTEMENKO, C.; DAROCZY, G.; NUERK H. C. Neural correlates of math anxiety – an overview and implications. Frontiers in Psychology, Cambridge, v. 6, p. 1333. sep. 2015.
  • BEILOCK, S. L.; DECARO, M. S. From Poor Performance to Success under Stress: Working Memory, Strategy Selection, and Mathematical Problem Solving Under Pressure. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition, Washington, v. 33, n. 6, p. 983–998, nov. 2007.
  • BRASS, M.; DERRFUSS, J.; FORSTMANN, B.; VON CRAMON, D. Y. The role of the inferior frontal junction area in cognitive control. TRENDS in Cognitive Science, Canadí v. 9, n.7, p. 314-316, jul. 2005.
  • BROWN, M.; BROWN, P.; BIBBY, T. “I would rather die”: reasons given by 16-year-olds for not continuing their study of mathematics. Research in Mathematics Education, London, v. 10, n.1, p. 3–18, sep. 2008.
  • CAREY, E.; HILL, F.; DEVINE, A.; SZÜCS, D. The Chicken or the Egg? The Direction of the Relationship between Mathematics Anxiety and Mathematics Performance. Frontiers in Psychology, Belgium, v. 6, n. 33, jan. 2016.
  • CARRETIÉ, L., et al. Automatic attention to emotional stimuli: Neural correlates. Human Brain Mapping, United States, v. 22, n. 4, p. 290–299. 2004.
  • CHANG, C.; CROTTAZ-HERBETTE, S.; MENON, V. Temporal dynamics of basal ganglia response and connectivity during verbal working memory. Neuroimaging, v. 34, n.3, p. 1253–1269, feb. 2007.
  • CHANG, H.; SPRUTE, L.; MALONEY, E. A.; BEILOCK, S. L.; BERMAN, M. G. Simple arithmetic: not so simple for highly math anxious individuals. Social Cognitive and Affective Neuroscience, Oxford University Press v. 12, n. 12, p. 1940–1949, dec. 2017.
  • DERRFUSS, J.; BRASS, M.; NEUMANN, J.; VON CRAMON, D.Y. Involvement of the inferior frontal junction in cognitive control: meta-analyses of switching and Stroop studies. Human Brain Mapping, v. 25, n. 1, p. 22-34, may. 2005.
  • DERRFUSS, J.; BRASS, M.; VON CRAMON, D.Y.; LOHMANN, G.; AMUNTS, K. Neural activations at the junction of the inferior frontal sulcus and the inferior precentral sulcus: interindividual variability, reliability, and association with sulcal morphology. Human Brain Mapping, v. 30, n. 1, p. 299 - 311, jan. 2009.
  • DREGER, R. M.; AIKEN Jr., L. R. The identification of number anxiety in a college population. Journal of Educational Psychology, Washington, v. 48, n. 6, p. 344-351, 1957.
  • DOWKER, A.; SARKAR, A.; LOOI, C. Y. Mathematics Anxiety: What Have We Learned in 60 Years? Frontiers in Psychology, Washington,v. 25, n. 7 p. 508, apr. 2016.
  • EYSENCK, M. W.; CALVO, M. G. Anxiety and Cognitive Performance: Attentional Control Theory. Emotion, Washington, v. 7, n. 2, p. 336–353, may. 2007.
  • FALES, C. L.; et al. Altered emotional interference processing in affective and cognitive control brain circuitry in major depression. Biological Psychiatry, Netherlands, v. 63, n. 4, p. 377- 384, feb. 2008.
  • FUSTER, J. M. Frontal lobe and cognitive development. Journal of Neurocytology, v. 31, n. 3-5, p. 373–385, mar. /jun. 2002.
  • HLALELE, D. Exploring rural high school learners’ experience of mathematics anxiety in academic settings. South African Journal of Education, South Africa, v. 32, n. 3, p. 268-278, aug. 2012
  • HEMBREE, R. The nature, effects, and relief of mathematics anxiety. Journal for Research in Mathematics Education, v. 21, n.1, p. 33-46, jan. 1990
  • JANSEN, B. R. J.; LOUWERSE, J.; STRAATEMEIER, M.; VAN DER VEN, S. H. G.; KLINKENBERG, S.; VAN DER MAAS, H. L. J. The influence of experiencing success in math on math anxiety, perceived math competence, and math performance. Learning and Individual Differences, United Kingdom, v. 24, p. 190–197, apr. 2013.
  • JONES, W. J; CHILDERS, T. L; JIANG, Y. The shopping brain: Math anxiety modulates brain responses to buying decisions, Biological Psychology, v. 89, n. 1, p. 201-213, jan. 2012.
  • KLADOS, M. A.; SIMOS, P.; MICHELOYANNIS, S.; MARGULIES, D.; BAMIDIS, P. D. ERP measures of math anxiety: how math anxiety affects working memory and mental calculation tasks? Frontiers in Behavioral Neuroscience, Braga, Portugal. v. 9, p. 1-9 oct. 2015.
  • KLADOS, M. A; PANDRIA, N.; MICHELOYANNIS, S.; MARGULIES, D.; PANAGIOTIS, D. Math anxiety: Brain cortical network changes in anticipation of doing mathematics. International Journal of Psychophysiology, v. 122, p. 24-31, dec. 2017.
  • KUCIAN, K; MCCASKEY, U.; O’GORMAN TUURA, R.; VON ASTER, M. Neurostructural correlate of math anxiety in the brain of children. Translational Psychiatry, United Kingdom, v. 8, n. 273, p. 2-11, dec. 2018.
  • LAMM, C.; DECETY, J.; SINGER, T. Meta-analytic evidence for common and distinct neural networks associated with directly experienced pain and empathy for pain. NeuroImage, United States, v. 54, n. 3, p. 2492– 2502, feb. 2011.
  • LEDOUX, J. E., & PHELPS, E. A. Emotional networks in the brain. In: Lewis, J. M. Haviland-Jones, & L. F. Barrett (Eds.), Handbook of emotions, United States, p. 159–179, 2008.
  • LYONS, I. M.; BEILOCK, S. L. Mathematics Anxiety: Separating the Math from the Anxiety. Cerebral Cortex, United Kingdom, v. 22, n. 9, p. 2102- 2110, sep. 2012a.
  • LYONS, I. M.; BEILOCK, S. L. When Math Hurts: Math Anxiety Predicts Pain Network Activation in Anticipation of Doing Math. PLoS ONE, United State, v. 7, n. 10, p.1–6, oct. 2012b.
  • MENON, V. Developmental cognitive neuroscience of arithmetic: implications for learning and education. ZDM Germany, v. 42, n. 6, p. 515–525, oct. 2010.
  • MENON, V.; RIVERA, S. M.; WHITE, C. D.; GLOVER, G. H.; REISS, A. L. Dissociating prefrontal and parietal cortex activation during arithmetic processing. NeuroImage, United States, v. 12, n. 4, p. 357- 365, oct. 2000.
  • MIYAKE, A.; FRIEDMAN, N. P.; EMERSON, M. J.; WITZKI, A. H.; HOWERTER, A. The Unity and Diversity of Executive Functions and Their Contributions to Complex ‘‘Frontal Lobe’’ Tasks: A Latent Variable Analysis. Cognitive Psychology, United States, v. 41, n. 1, p. 49–100, aug. 2000.
  • MOHER, D.; LIBERATI, A.; TETZLAFF, J.; ALTMAN, D.G. The PRISMA Group. Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses: The PRISMA Statement. PLoS Medicine, United States, v. 6, n. 7, p.332–336, jul. 2009.
  • MUTODI, P.; NGIRANDE, H. Exploring Mathematics Anxiety: Mathematics Students’ Experiences. Mediterranean Journal of Social Sciences, Italy, v. 5, n. 1, p.283–294, 2014.
  • NÚNEZ-PEÑA, M. I.; SUÁREZ-PELLICIONI, M. Less precise representation of numerical magnitude in high math-anxious individuals: An ERP study of the sizeand distance effects. Biological Psychology, Netherlands, v. 103, p. 176–183, dec. 2014.
  • NÚÑEZ-PEÑA, M. I.; SUÁREZ-PELLICIONI, M. Processing of multi-digit additions in high math anxious individuals: psychophysiological evidence. Frontiers in Psychology, Switzerland, v. 6:, p.1–11, aug. 2015.
  • OECD, PISA 2012 Results: Ready to Learn: Students’ Engagement, Drive and Self-Beliefs (Volume III), PISA, OECD Publishing, 2012.
  • PESSOA, L. On the relationship between emotion and cognition. Nature Reviews Neuroscience, United Kingdom, v. 9, n. 2, p. 148–158, feb. 2008.
  • PHELPS E. A; LEDOUX, J. E. Contributions of the amygdala to emotion processing: from animal models to human behavior. Neuron, United States v. 48, n. 2, p. 175-187, oct. 2005.
  • PLETZER, B.; KRONBICHLER, M.; NUERK, H-C.; KERSCHBAUM, H. H. Mathematics anxiety reduces default mode network deactivation in response to numerical tasks. Frontiers in Human Neuroscience, Switzerland, v. 9, p.1–12, apr. 2015.
  • PIZZIE, R. G.; KRAEMER, D. J. M. Avoiding math on a rapid timescale: Emotional responsivity and anxious attention in math anxiety. Brain and Cognition, United States, v. 118, p. 100–107, nov. 2017.
  • RICHARDSON, F. C.; SUINN, R. M. The Mathematics Anxiety Rating Scale: Psychometric data. . Journal of Counseling Psychology, United States, v. 19, n. 6, p. 551-554, 1972.
  • SAMBATARO, F. et al. Age related alterations in default mode network: impact on working memory performance. Neurobiology of Aging, Netherlands, v. 31, n. 5, p. 839–852, may. 2010.
  • SARKAR, A.; DOWKER, A.; COHEN KADOSH, R. Cognitive Enhancement or Cognitive Cost: Trait Specific Outcomes of Brain Stimulation in the Case of Mathematics Anxiety. The Journal of Neuroscience, United States, v. 34, n. 50, p. 16605–16610, dec. 2014.
  • SHIWA, S. R.; PENA COSTA, L. O.; MOSER, A. D. L. Pedro: a base de dados de evidências em fisioterapia. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 24, n. 3, p. 523-533, jul. /set. 2011.
  • SUÁREZ-PELLICIONI, M.; NÚÑEZ-PEÑA, M. I.; COLOMÉ, À. Abnormal Error Monitoring in Math-Anxious Individuals: Evidence from Error-Related Brain Potentials. PLoS ONE, United States, v. 8, n. 11, p.1– 17, nov. 2013a.
  • SUÁREZ-PELLICIONI, M.; NÚNEZ-PEÑA, M. I.; COLOMÉ, A. Mathematical anxiety effects on simple arithmetic processing efficiency: An event-related potential study. Biological Psychology, Netherlands, v. 94, n. 3, p. 517– 526, dec. 2013b.
  • SUÁREZ-PELLICIONI, M.; NUNEZ-PENA, M. I.; COLOMÉ, A. Reactive Recruitment of Attentional Control in Math Anxiety: An ERP Study of Numeric Conflict Monitoring and Adaptation. PLoS ONE, United States, v. 9, n. 6, p.1–15, jun. 2014.
  • SUÁREZ-PELLICIONI, M; NÚÑEZ-PEÑA, M. I.; COLOMÉ, À. Math anxiety: A review of its cognitive consequences, psychophysiological correlates, and brain bases. Cognitive, Affective and Behavioral Neuroscience, United States, v. 16, n. 1, p. 3–22, feb. 2016.
  • SUPEKAR, K.; IUCULANO, T.; CHEN, L.; MENON, V. Remediation of Childhood Math Anxiety and Associated Neural Circuits through Cognitive Tutoring. The Journal of Neuroscience, United States, v. 35, n. 36, p. 12574 –12583, sep. 2015.
  • YOUNG, C. B.; WU, S. S.; MENON, V. The Neurodevelopmental Basis of Math Anxiety. Psychological Science, United States, v. 23, n. 5, p. 492–501, mar. 2012.
  • WENDELKEN, C. Meta-analysis: how does posterior parietal cortex contribute to reasoning? Frontiersin Human Neuroscience, Switzerland, v. 8, p.1-11, jan. 2015.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Abr 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2020

Histórico

  • Recebido
    12 Set 2018
  • Aceito
    04 Nov 2019
UNESP - Universidade Estadual Paulista, Pró-Reitoria de Pesquisa, Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática Avenida 24-A, 1515, Caixa Postal 178, 13506-900 Rio Claro - SP Brasil - Rio Claro - SP - Brazil
E-mail: bolema.contato@gmail.com