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Análise dos valores de composição corporal em homens com diferentes níveis de lesão medular

Resumos

INTRODUÇÃO: A proporção entre massa corporal magra e de gordura é um preditor de doenças metabólicas. Assim, quantificar variáveis de composição corporal, iniciando uma análise de valores de referência de acordo com o nível da lesão medular (LM), tornou-se importante para o planejamento e monitoramento de atividades físicas. OBJETIVOS: 1) Determinar valores de referências de somatório de dobras cutâneas (ΣDC) e percentual de gordura em diferentes níveis de LM. 2) Detectar diferenças de composição corporal entre níveis de LM. 3) Correlacionar ΣDC com tempo de lesão e índice de massa corpórea (IMC). MATERIAIS E MÉTODOS: Setenta e quatro pacientes homens com LM, de 18 a 52 anos, foram divididos em tetraplegia (TT - C4 a C8), paraplegia alta (PPa - T1 a T6) e paraplegia baixa (PPb - T7 a L3). A composição corporal foi avaliada pelas dobras cutâneas. RESULTADOS: Não houve diferença significativa entre TT, PPa e PPb para as variáveis tempo de lesão, estatura, massa corporal total, ΣDC, percentual de gordura, massa corporal magra e IMC. Apenas a idade diferenciou entre os grupos TT e PPb (P < 0,05). A variável ΣDC não se correlacionou com o nível de lesão (rho = -0,08; IC95%: -0,537 a 0,420) ou com tempo de lesão (rho = 0,18; IC95%: -0,050 a 0,393). Não houve diferença significativa entre lesão completa e incompleta para todas as variáveis antropométricas. O ΣDC correlacionou-se positivamente com o IMC (rho = 0,68; IC95%: 0,539 a 0,739). CONSIDERAÇÕES FINAIS: TT, PPa e PPb não apresentaram diferenças significativas nos valores de composição corporal. O IMC apresentou boa correlação com ΣDC entre os grupos.

Composição corporal; Atividade física; Antropometria; Medula espinal; Reabilitação


INTRODUCTION: Políticas públicas de promoção de saúde contribuem para encorajar o envelhecimento ativo, com independência, e tem efeitos positivos na qualidade de vida da população idosa. OBJETIVO: Avaliar os efeitos de um programa de treinamento fisioterapia de baixa intensidade, realizado em grupo, sobre a qualidade de vida de mulheres da comunidade. MATERIAIS E MÉTODOS: Realizou-se estudo clinico randomi zado. Dezessete mulheres (67,8 ± 4,9 anos de idade) que completaram 12 semanas de treinamento, a dez mulheres (68,9 ± 5,7 anos de idade) que foram incluídas no grupo controle, responderam a versão abreviada do Questionário de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde - WHOQOL-bref. O Grupo Exercício realizou treinamento de flexibilidade, resistência e equilíbrio. Análises intragrupo e intergrupo foram feitas por meio dos testes não paramétricos Wilcoxon e Mann-Whitney U, respectivamente. Foi utilizado um nível de significância de 5%. Ainda, foi determinado o Índice de Mudança Confiável segundo o Método JT. RESULTADOS: O grupo treinamento apresentou uma melhora significativa para o domínio psicológico (p = 0,047) e o grupo controle apresentou uma piora significativa para o escore geral (p = 0,01) e os domínios físico (p = 0,01) e psicológico (p = 0,008). Para o grupo de exercícios, no domínio social, duas participantes apresentaram mudança positiva confiável (MPC) e no domínio ambiente, duas participantes. Para o escore geral e domínio físico, três participantes apresentaram MPC. Para o domínio psicológico quatro participantes apresentaram MPC e uma mudança negativa confiável. CONCLUSÃO: Um programa de fisioterapia em grupo pode contribuir para manter a qualidade de vida e melhorar especialmente aspectos psicológicos de mulheres idosas da comunidade.

Body composition; Exercise; Anthropometry; Spinal cord injury; Rehabilitation


ARTIGOS ORIGINAIS

Análise dos valores de composição corporal em homens com diferentes níveis de lesão medular1 1 Contribuição dos autores: os autores Ribeiro F Neto e Lopes GHR foram responsáveis pela ideia da pesquisa e elaboração do manuscrito. A coleta de dados foi realizada por Ribeiro F Neto

Frederico Ribeiro NetoI; Guilherme Henrique Ramos LopesII

IMestre em Ciência da Reabilitação pela Universidade Sarah, professor de Educação Física do Centro Internacional de Neurociências e Reabilitação, Brasília, DF, Brasil, e-mail: fredribeironeto@gmail.com

IIMestre em Educação Física (Desempenho Motor) pela Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, Brasil, e-mail: guilhermelopes@hotmail.com

RESUMO

INTRODUÇÃO: A proporção entre massa corporal magra e de gordura é um preditor de doenças metabólicas. Assim, quantificar variáveis de composição corporal, iniciando uma análise de valores de referência de acordo com o nível da lesão medular (LM), tornou-se importante para o planejamento e monitoramento de atividades físicas.

OBJETIVOS: 1) Determinar valores de referências de somatório de dobras cutâneas (ΣDC) e percentual de gordura em diferentes níveis de LM. 2) Detectar diferenças de composição corporal entre níveis de LM. 3) Correlacionar ΣDC com tempo de lesão e índice de massa corpórea (IMC).

MATERIAIS E MÉTODOS: Setenta e quatro pacientes homens com LM, de 18 a 52 anos, foram divididos em tetraplegia (TT – C4 a C8), paraplegia alta (PPa – T1 a T6) e paraplegia baixa (PPb – T7 a L3). A composição corporal foi avaliada pelas dobras cutâneas.

RESULTADOS: Não houve diferença significativa entre TT, PPa e PPb para as variáveis tempo de lesão, estatura, massa corporal total, ΣDC, percentual de gordura, massa corporal magra e IMC. Apenas a idade diferenciou entre os grupos TT e PPb (P < 0,05). A variável ΣDC não se correlacionou com o nível de lesão (rho = -0,08; IC95%: -0,537 a 0,420) ou com tempo de lesão (rho = 0,18; IC95%: -0,050 a 0,393). Não houve diferença significativa entre lesão completa e incompleta para todas as variáveis antropométricas. O ΣDC correlacionou-se positivamente com o IMC (rho = 0,68; IC95%: 0,539 a 0,739).

CONSIDERAÇÕES FINAIS: TT, PPa e PPb não apresentaram diferenças significativas nos valores de composição corporal. O IMC apresentou boa correlação com ΣDC entre os grupos.

Palavras-chave: Composição corporal. Atividade física. Antropometria. Medula espinal. Reabilitação.

Introdução

A avaliação da composição corporal é a análise da distribuição de diferentes tecidos, órgãos e componentes do organismo (1, 2). Determinar a proporção entre massa corporal magra e massa de gordura é um importante preditor de doenças cardiovasculares, diabetes tipo II e dislipidemias. Além disso, essa relação pode apontar características referentes ao desempenho em atividades físicas, bem como suas alterações podem revelar as respostas fisiológicas de um treinamento (2, 3).

A análise da composição corporal em pessoas com lesão medular é diferente de pessoas hígidas. A lesão medular, definida como trauma que afeta as conduções sensório-motoras na região afetada, altera a proporção dos componentes da composição corporal utilizada para os cálculos de densidade corporal nas duas populações (3-6). Além disso, promove uma série de alterações morfofuncionais como a redução da massa óssea e muscular e da quantidade de água no corpo, além de um aumento de gordura corporal (3, 7). Uma das possíveis respostas para esse aumento de gordura está na diminuição do gasto energético em lesões mais altas (8-12). De fato, já foi evidenciada uma alta prevalência de obesidade em adolescentes com lesão medular (6). Além de correlacionar-se com os fatores de risco de síndrome metabólica (intolerância à glicose, hiperlipidemia, hipertensão), a obesidade compromete a deambulação, transferências, aumenta a incidência de escaras e o risco em cirurgias nessa população (6).

As respostas fisiológicas e morfofuncionais ainda variam consideravelmente a depender do nível de lesão medular (8-16). Assim sendo, estudos categorizam os níveis de lesão medular em grupos para que comparações mais sistematizadas possam ser elaboradas (8-18). Usualmente, as divisões são caracterizadas como tetraplegia, devido ao comprometimento de membros superiores, paraplegia alta, pelas alterações em sistema nervoso autônomo e em musculatura da cintura abdominal, e paraplegia baixa.

Embora não seja o padrão ouro, o Dual-energy X-ray absorptiometry (DEXA) é utilizado como referência na validade dos métodos de avaliação da composição corporal (3). Entretanto, as fórmulas para o cálculo do percentual de gordura não apresentam boa correlação com essa avaliação, apesar de serem bastante utilizadas em estudos em homens com lesão medular (13, 14, 19-22). Essa limitação faz com que tais medidas sirvam apenas para análise comparativa do próprio indivíduo no tempo e não para uma relação com valores de referência. Alguns autores sugerem o uso do somatório de dobras cutâneas como outro parâmetro nesse mesmo tipo de análise (1, 5).

A Associação Americana de Lesão Medular (ASIA) criou padrões internacionais de classificação neurológica para lesões medulares traumáticas nessa população. O nível motor da lesão medular é categorizado de acordo com as respostas da força de músculos-chave correspondentes a cada miótomo do segmento medular. A extensão do comprometimento da lesão (ASIA Impairment Scale – AIS), por sua vez, varia de A a E. Lesões completas são classificadas como A, incompletas como B, C ou D e indivíduos sem lesão como E (23).

A necessidade de quantificar as variáveis de composição corporal, iniciando uma análise de valores de referência, bem como associá-las com o nível de função da lesão medular, tornou-se importante para um melhor planejamento das atividades e monitoramento adequado dos diferentes tipos de treinamento, além de serem utilizadas como instrumentos de motivação dos pacientes. A magnitude dessas variáveis é influenciada pelo comprometimento gerado pelo trauma medular (8-16, 24).

Os objetivos desse estudo são: 1) determinar valores de referências de somatório de dobras cutâneas (ΣDC) e percentual de gordura em diferentes níveis e extensão de lesão medular; 2) detectar diferenças de composição corporal entre os níveis e extensão de lesão medular; 3) correlacionar ΣDC com tempo de lesão e índice de massa corpórea (IMC) (25, 26).

Materiais e métodos

Amostra

A amostra de conveniência foi formada por 74 indivíduos homens com lesão medular traumática, que estiveram internados na Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação de Brasília, unidade Lago Norte, no período de julho de 2007 a abril de 2010. Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Sarah (Parecer n. 668 – CEP).

Os critérios de inclusão foram: indivíduos do sexo masculino, maiores de 18 anos de idade, com diagnóstico de lesão medular traumática e liberados pela equipe médica para dar seguimento ao programa de reabilitação sem restrições.

Critérios de exclusão: pacientes que não puderam ser avaliados por quaisquer motivos como, por exemplo, dificuldade de posicionamento para avaliação.

Medidas antropométricas

As medidas antropométricas mensuradas foram dobras cutâneas, massa corporal e estatura, que foram coletadas pelo mesmo avaliador.

Dobras cutâneas: foi utilizado o plicômetro (Lange) para medição, em milímetros, das dobras cutâneas bíceps, tríceps, subescapular, peitoral, axilar média, suprailíaca, abdominal, coxa e perna, de acordo com padronização prévia (1, 2).

Massa corporal: aferida com balança (Filizola) e calculada pela redução da massa da cadeira de rodas da massa total (paciente somado à cadeira de rodas).

Estatura: medida na posição supina com o adipômetro projetado pelo setor responsável pela criação de equipamentos para o hospital (Equiphos).

Procedimentos

O estudo se caracteriza como transversal, ou seja, observacional e analítico. Os dados dos avaliados foram coletados no prontuário eletrônico e no banco de dados da equipe de educação física. Os indivíduos participaram de avaliações de composição corporal de julho de 2007 a abril de 2010 e estiveram internados em programa de reabilitação na Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação de Brasília, na unidade Lago Norte. Tais avaliações fazem parte do programa de tratamento desses pacientes, contribuindo no processo decisório de orientação à prática regular de atividade física. Todas foram realizadas pelo mesmo avaliador na primeira semana de internação no Hospital Sarah de Brasília, na unidade Lago Norte.

Os indivíduos foram classificados de acordo com a ASIA (23) e o nível neurológico foi coletado do prontuário eletrônico. Para efeito de análise, os pacientes foram categorizados em três grupos: tetraplegia (TT) – C4 a C8, paraplegia alta (PPa) – de T1 a T6 e paraplegia baixa (PPb) – abaixo de T7. A divisão do primeiro grupo em relação aos dois outros deve-se à classificação de tetraplegia pelo ASIA e pelo comprometimento de membros superiores (23). A separação do segundo grupo do terceiro ocorreu pelas alterações decorrentes do sistema nervoso autônomo simpático e pela instabilidade do tronco. Esse critério de divisão é comumente utilizado em estudos com lesão medular (8, 12).

A Escala de Extensão da Lesão (AIS) variou de A a D. Devido ao pequeno número de pacientes com lesões incompletas (n = 25) para serem distribuídos entre os grupos TT, PPa e PPb, a análise da extensão da lesão foi realizada com a amostra total.

Neste estudo, para comparação da composição corporal, foram utilizados a massa corporal (kg), o somatório das nove dobras cutâneas (mm) e o percentual de gordura corporal (%G) calculada pela fórmula de Durnin & Womersley (1962) (13, 14, 19, 20), que utiliza as dobras cutâneas de bíceps, tríceps, subescapular e suprailíaca. Seguindo o protocolo de Bulbullian (4), as medidas de membros superiores e tronco foram realizadas a partir da posição sentada em cadeira de rodas e as de membros inferiores na posição supina, todas do lado direito do paciente (Figura 1). As dobras cutâneas foram coletadas de forma consecutiva e, posteriormente, uma segunda medida foi aferida, sendo utilizado como resultado final a média. Nos casos em que ocorreu uma diferença maior que 5% entre as duas medidas, uma terceira medida foi realizada e a mediana utilizada como resultado final (1).


Com o resultado do percentual de gordura, calculou-se também para análise: 1) a massa de gordura – Kg G (massa corporal multiplicada pelo percentual de gordura); 2) massa corporal magra – Kg MCM (massa corporal subtraída da massa de gordura); 3) percentual da massa corporal magra – %MCM (100% subtraído do percentual de gordura).

Análise estatística

A distribuição das variáveis analisadas foi realizada pelo teste de normalidade de KomolgorovSmirnov, pois a amostra foi maior que 50. Foi encontrado que as variáveis massa corporal total, percentual de gordura, percentual de massa corporal magra, massa corporal magra e IMC possuíram uma distribuição normal. Por outro lado, as variáveis idade, tempo de lesão, somatório de dobras cutâneas e massa de gordura apresentaram uma distribuição não paramétrica.

Para caracterização dos resultados, foi utilizada a estatística descritiva através de média e desvio padrão. A correlação de Spearman foi usada para verificar a relação entre o somatório de dobras cutâneas com as variáveis nível de lesão, tempo de lesão e IMC. Com o intuito de verificar diferenças entra as médias intergrupos, realizou-se o teste de análise de variância (ANOVA) do tipo one-way e, no caso de significância, uma análise post hoc, com o teste de Bonferroni. Por ser mais conservador, esse teste diminui a chance de encontrarmos diferenças irreais (erro do tipo I). O teste T para amostras independentes foi utilizado para comparar as lesões completas e incompletas. A significância foi considerada apenas para P < 0,05.

Os pacotes estatísticos SPSS (SSPS Inc. versão 13.0) e MedCalc (MedCalc versão 9.0.1.0) foram utilizados para tratamento dos dados. A significância estatística considerada foi de P < 0,05.

Resultados

Os grupos TT, PPa e PPb não diferenciaram em suas características basais tempo de lesão e estatura. A idade variou entre TT e PPb (24,8 e 29,8 anos, respectivamente, P < 0,05) (Tabela 1). Trinta e quatro por cento do grau de comprometimento das lesões foram classificadas como incompletas.

Os três grupos não variaram significantemente (P > 0,05) para as variáveis tempo de lesão, estatura, massa corporal total, Σ de dobras cutâneas, percentual de gordura, massa corporal magra e IMC (Tabela 2). Os valores podem ser comparados com outros estudos que também utilizaram a fórmula de Durnin e Womersley (1962) (Tabela 3).

Não houve diferença significativa entre lesões completas e incompletas para todas as variáveis analisadas (Tabela 4).

O somatório de dobras cutâneas não apresentou boa correlação com as variáveis nível e tempo de lesão (rho = -0,08; IC95% -0,537 a 0,420 e rho = 0,18; IC95% -0,050 a 0,393, respectivamente). Entretanto, o ΣDC correlacionou-se positivamente com o IMC (rho = 0,68; IC95% 0,539 a 0,739) (Gráfico 1).


Discussão

A composição corporal não diferenciou significantemente entre os grupos tetraplegia, paraplegia alta e paraplegia baixa para todas as variáveis estudadas, apesar da maior quantidade de musculatura preservada nas lesões mais baixas. Entretanto, mesmo nos grupos mais comprometidos, existiam indivíduos com preservação de musculatura abaixo do nível motor (lesões incompletas).

A grande quantidade de lesões incompletas (aproximadamente 34,0%) aumenta as variáveis confundidoras, comprometendo uma adequada análise intergrupos. Indivíduos com tetraplegia ou paraplegia alta incompletas apresentam maior musculatura ativa, aumento do gasto calórico e metabolismo basal. Esses componentes interferem diretamente na composição corporal devido às alterações no gasto e custo energético (8-12).

Entretanto, apesar de uma tendência de melhor composição corporal para os indivíduos com lesões incompletas (menores valores de somatório de dobras cutâneas, percentual e massa de gordura e maiores valores relativos e absolutos de massa corporal magra), não houve diferença significativa entre lesões completas e incompletas. Esse mesmo grupo de pesquisa encontrou resultados similares em estudo prévio (24). Possivelmente, a pequena quantidade de pacientes com lesões incompletas pode ter criado igualdade irreal nas análises (erro tipo II). Confirmar esses dados com a literatura é difícil, pois a maioria dos estudos não especifica a extensão da lesão (4, 19-22, 27), um deles utilizou apenas indivíduos com lesões completas (3) e apenas um possuía lesões A e B (28). Esse último, por sua vez, não realizou comparações entre os grupos.

A variável somatório de dobras cutâneas não apresentou boa correlação com nível e tempo de lesão. Esperava-se que essa correlação fosse significativa e positiva, pois quanto mais baixo o nível da lesão, maior a preservação da musculatura (8-12). Maggioni et al. (2003) também não encontraram correlação entre essas variáveis (20). Assim, como argumentado para as diferenças dessas variáveis entre os grupos, a quantidade de lesões incompletas parece ter influenciado essas correlações.

Por outro lado, o somatório de dobras cutâneas correlacionou-se positivamente com o IMC (rho = 0,68; IC95% 0,539 a 0,739). Não existe, porém, um consenso na literatura. Enquanto alguns estudos recentes demonstram respostas similares (29, 30), outros diferem quanto aos resultados encontrados (25, 26). Todos os artigos concordam, todavia, que além de não predizer adequadamente a gordura corporal, o IMC não é uma boa ferramenta para avaliar o condicionamento físico. Entretanto, Rajan et al. (2010) demonstraram uma boa associação entre as classificações dos valores de IMC com prevalência de diabetes em veteranos de guerra com lesão medular (31).

Os valores de percentual de gordura de cada um dos três grupos estudados foram maiores que outros estudos em que foram avaliados indivíduos com lesões medulares, de C4 a L1, com a mesma fórmula de Durnin e Womersley (4, 20, 22). Não se pode afirmar se as diferenças encontradas são relacionadas às características socioculturais ou às técnicas de mensuração. Apenas Bulbulian et al. (1987) referenciaram em sua metodologia a técnica de medida utilizada (4). Além disso, o número amostral é menor que o utilizado no presente estudo e não foi especificada a extensão do comprometimento da lesão (AIS) (Tabela 3). Assim, os resultados encontrados servem de referência para valores médios de percentual de gordura nos grupos tetraplegia, paraplegia alta e paraplegia baixa. Esses valores, contudo, não podem ser classificados como ideais e adequados diante de uma perspectiva de saúde. Para tanto, deve-se realizar outras comparações com marcadores de saúde como perfil lipídico, capacidade cardiovascular ou mesmo nível de força.

Apesar de essa investigação apresentar uma amostra grande quando comparada a outros estudos de mesmo desfecho, faz-se necessário analisar as mesmas variáveis com um número ainda maior de sujeitos ou um estudo apenas com lesões medulares traumáticas completas (AIS A). Estudos correlacionando os valores de percentual de gordura e somatório de dobras cutâneas com indicadores de riscos à saúde (por exemplo: perfil lipídico) devem ser realizados para avaliar se os padrões encontrados nesses estudos são ideais.

Conclusão

O presente estudo serve de análise inicial para verificar valores da composição corporal em diferentes níveis de lesão medular. A utilização de padrões como referência inicial permite um controle mais adequado das respostas das atividades físicas, além de um fator motivacional em prol da saúde e melhora de funcionalidade.

Não foram verificadas, porém, diferenças significativas das variáveis de composição corporal entre os grupos. Também não foi encontrada correlação significativa entre o somatório de dobras cutâneas e as variáveis nível e tempo de lesão. Possivelmente, isso ocorreu devido a uma amostra contendo muitos pacientes com lesões incompletas, descaracterizando a homogeneidade dentro de cada grupo.

Por fim, o índice de massa corpórea apresentou boa correlação com o somatório de dobras cutâneas. Entretanto, essa análise tem que ser avaliada com cautela, tendo em vista as limitações do IMC para essa população específica.

Agradecimentos

Agradecemos à equipe de educação física da Rede Sarah pelo apoio nessa pesquisa.

O presente manuscrito não recebeu qualquer intervenção financeira.

Recebido: 11/09/2012

Received: 09/11/2012

Aprovado: 21/06/2013

Approved: 06/21/2013

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    Contribuição dos autores: os autores Ribeiro F Neto e Lopes GHR foram responsáveis pela ideia da pesquisa e elaboração do manuscrito. A coleta de dados foi realizada por Ribeiro F Neto
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Fev 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 2013

    Histórico

    • Recebido
      11 Set 2012
    • Aceito
      21 Jun 2013
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