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Para: Tratamento atual de crianças com asma crítica e quase fatal

Ao Editor

O artigo de revisão de Shein et al.(11 Shein SL, Speicher RH, Proença Filho JO, Gaston B, Rotta AT. Tratamento atual de crianças com asma crítica e quase fatal. Contemporary treatment of children with critical and near-fatal asthma. Rev Bras Ter Intensiva. 2016;28(2):167-78.) sobre o tratamento de asma aguda grave em crianças é oportuno, por se tratar de doença prevalente e de manejo muitas vezes variável e inconsistente, com a utilização de terapêuticas adjuntas, dependendo da disponibilidade de recursos, das práticas locais e da preferência dos médicos. O risco de morte para pacientes que foram submetidos à ventilação mecânica por asma aguda grave foi analisado por Pendergraft et al.,(22 Pendergraft TB, Stanford RH, Beasley R, Stempel DA, Roberts C, McLaughlin T. Rates and characteristics of intensive care unit admissions and intubations among asthma-related hospitalizations. Ann Allergy Asthma Immunol. 2004;93(1):29-35.) concluindo que pacientes que necessitaram intubação intratraqueal, com ou sem admissão na unidade de terapia intensiva, tiveram uma taxa de mortalidade hospitalar de 60 a 90 vezes maior (aproximadamente 10%) se comparados com os pacientes não intubados. São dois os tópicos que gostaríamos de abordar em relação à revisão, pois podem evitar a intubação intratraqueal e suas complicações na asma grave: o uso da cânula nasal de alto fluxo (CNAF) e do sulfato de magnésio intravenoso precocemente no setor de emergência.

A CNAF é uma terapêutica emergente para suporte do esforço inspiratório combinado com o fornecimento de oxigênio e pressão expiratória positiva, sem a necessidade de equipamento complexo com boa adesão e conforto do paciente. Além do efeito de pressão de suporte positivo, a terapêutica com CNAF reduz o espaço morto fisiológico com melhor depuração de dióxido de carbono. Uma diminuição da frequência cardíaca e respiratória dentro das primeiras horas após o início da terapêutica é suficiente para identificar os respondedores ao suporte não invasivo.(33 Schibler A, Franklin D. Respiratory support for children in the emergency department. J Paediatr Child Health. 2016;52(2):192-6. Review.)

Embora a intubação intratraqueal permaneça como o padrão para fornecer suporte respiratório invasivo no paciente criticamente enfermo (clinicamente instável), a ventilação pulmonar traz riscos, como o estresse e a tensão alveolar, incluindo volutrauma, barotrauma, biotrauma, endotrauma e risco de infecção. O objetivo principal das modalidades de apoio respiratório não invasivas, como a CNAF, é reduzir a necessidade de intubação traqueal. Kelly et al.(44 Kelly GS, Simon HK, Sturm JJ. High-flow nasal cannula use in children with respiratory distress in the emergency department: predicting the need for subsequent intubation. Pediatr Emerg Care. 2013;29(8):888-92.) propõem que o uso da CNAF no setor de emergência pode resultar em menor probabilidade de intubações.

O uso do sulfato de magnésio pode determinar uma resolução mais rápida da asma aguda grave nas crianças que não respondem adequadamente ao tratamento inicial padrão,(55 Singhi S, Grover S, Bansal A, Chopra K. Randomised comparison of intravenous magnesium sulphate, terbutaline and aminophylline for children with acute severe asthma. Acta Paediatr. 2014;103(12):1301-6.) evitando a possibilidade de intubação traqueal e reduzindo o tempo de internação hospitalar. A dose preconizada por Shein et al.(11 Shein SL, Speicher RH, Proença Filho JO, Gaston B, Rotta AT. Tratamento atual de crianças com asma crítica e quase fatal. Contemporary treatment of children with critical and near-fatal asthma. Rev Bras Ter Intensiva. 2016;28(2):167-78.) é de 25 a 40mg/kg/dose intravenosa, infundida entre 20 e 30 minutos. Entretanto, Irazuzta et al.(66 Irazuzta JE, Paredes F, Pavlicich V, Domínguez SL. High-Dose Magnesium Sulfate Infusion for Severe Asthma in the Emergency Department: Efficacy Study. Pediatr Crit Care Med. 2016;17(2):e29-33.) reportam que o uso precoce de altas doses em infusão contínua de sulfato de magnésio (50mg/kg/hora por 4 horas) agiliza as altas do setor de emergência e evita internações em unidade de terapia intensiva, com redução significativa nos custos. Temos usado esse esquema terapêutico em nossa unidade com sucesso, sem efeitos adversos relatados. Egelund et al.(77 Egelund TA, Wassil SK, Edwards EM, Linden S, Irazuzta JE. High-dose magnesium sulfate infusion protocol for status asthmaticus: a safety and pharmacokinetics cohort study. Intensive Care Med. 2013;39(1):117-22.) usaram sulfato de magnésio na dose de 50 - 75mg/kg em bólus seguido de 40mg/kg/hora por 4 horas com bons resultados, também sem efeitos adversos significativos. Ohn et al.(88 Ohn M, Jacobe S. Magnesium should be given to all children presenting to hospital with acute severe asthma. Paediatr Respir Rev. 2014;15(4):319-21.) sugerem que o sulfato de magnésio deve ser administrado para todas as crianças que se apresentem com asma aguda grave. Colleti et al.(99 Colleti J Jr, de Carvalho WB. Magnesium Sulfate for Acute Asthma in Children: A Good Option, but How to Use It? Pediatr Crit Care Med. 2016;17(5):477-8.) advogam que o sulfato de magnésio pode ser uma ótima opção nos setores de emergência para evitar intubação traqueal e/ou internação, mas a dose ideal e a melhor maneira de administrá-lo ainda necessitam mais estudos.

Necessitamos aguardar mais pesquisas sobre a utilização da CNAF e do sulfato de magnésio na asma aguda grave em vários cenários clínicos em pediatria.

José Colleti Junior

Unidade de Terapia Intensiva pediátrica, Hospital Santa Catarina - São Paulo (SP), Brasil.

Werther Brunow de Carvalho

Terapia Intensiva/Neonatologia, Instituto da Criança, Departamento de Pediatria, Universidade de São Paulo - São Paulo (SP), Brasil.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Shein SL, Speicher RH, Proença Filho JO, Gaston B, Rotta AT. Tratamento atual de crianças com asma crítica e quase fatal. Contemporary treatment of children with critical and near-fatal asthma. Rev Bras Ter Intensiva. 2016;28(2):167-78.
  • 2
    Pendergraft TB, Stanford RH, Beasley R, Stempel DA, Roberts C, McLaughlin T. Rates and characteristics of intensive care unit admissions and intubations among asthma-related hospitalizations. Ann Allergy Asthma Immunol. 2004;93(1):29-35.
  • 3
    Schibler A, Franklin D. Respiratory support for children in the emergency department. J Paediatr Child Health. 2016;52(2):192-6. Review.
  • 4
    Kelly GS, Simon HK, Sturm JJ. High-flow nasal cannula use in children with respiratory distress in the emergency department: predicting the need for subsequent intubation. Pediatr Emerg Care. 2013;29(8):888-92.
  • 5
    Singhi S, Grover S, Bansal A, Chopra K. Randomised comparison of intravenous magnesium sulphate, terbutaline and aminophylline for children with acute severe asthma. Acta Paediatr. 2014;103(12):1301-6.
  • 6
    Irazuzta JE, Paredes F, Pavlicich V, Domínguez SL. High-Dose Magnesium Sulfate Infusion for Severe Asthma in the Emergency Department: Efficacy Study. Pediatr Crit Care Med. 2016;17(2):e29-33.
  • 7
    Egelund TA, Wassil SK, Edwards EM, Linden S, Irazuzta JE. High-dose magnesium sulfate infusion protocol for status asthmaticus: a safety and pharmacokinetics cohort study. Intensive Care Med. 2013;39(1):117-22.
  • 8
    Ohn M, Jacobe S. Magnesium should be given to all children presenting to hospital with acute severe asthma. Paediatr Respir Rev. 2014;15(4):319-21.
  • 9
    Colleti J Jr, de Carvalho WB. Magnesium Sulfate for Acute Asthma in Children: A Good Option, but How to Use It? Pediatr Crit Care Med. 2016;17(5):477-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2016
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