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A necessidade de atingirmos novos patamares na pesquisa de enfermagem

EDITORIAL

A necessidade de atingirmos novos patamares na pesquisa de enfermagem

Como gerenciar as possibilidades de avanços necessários para a produção de ciência e tecnologia em enfermagem? Que políticas indutoras poderiam ser discutidas?

A pesquisa na área ou campo de conhecimento da Enfermagem vem evoluindo em abrangência, pertinência e profundidade. Ganhamos espaços e reconhecimento tanto no âmbito internacional como regional. Crescem os números de Programas de Pós-Graduação e de formação de mestres e doutores em enfermagem nos diversos países, como também, crescem os cursos de graduação e a demanda de enfermeiros graduados, enfermeiros especialistas, enfermeiros mestres e enfermeiros doutores. Cresce o número de pesquisadores, de alunos motivados e melhor preparados para o processo de produção de conhecimentos, mais produtivos e com publicações mais qualificadas Todavia, se compararmos com outras áreas de conhecimento, nossos pesquisadores pouco conseguem competir em produções altamente qualificadas; nossos periódicos, mesmo aumentando seus índices de impacto, ficam aquém de outros de áreas correlatas e de igual trajetória de consolidação como ciência. E, se focalizarmos os avanços no desenvolvimento de tecnologias de alto impacto, veremos que ainda estamos muito aquém, quer nos incrementos que enriquecem e sustentam seu caráter inovador ou "de ponta", quer no domínio de uma prática mais rica em conteúdo reconhecido e valorizado pelo conhecimento científico nele incorporado.

O processo de construir conhecimentos ou de gerenciar a produção de conhecimentos implica no reconhecimento e domínio de competências ou potencial produtivo. Estes vão muito além do domínio dos diversos métodos de investigação ou da competência política de ler a realidade, de focalizar os vazios de conhecimento num sistema de relações e da produção na sociedade. Visualizar que rumos ou caminhos podem contribuir para avançar, amortizar, excluir ou negar as necessidades de novos conhecimentos. Necessitamos de saberes que contribuam para o viver com melhor e mais saúde, para promover o viver em condições mais dignas e solidárias. Necessitamos produzir tecnologias que possam prolongar a vida, no direito de vivê-la com menos sofrimento e pleno exercício da cidadania mesmo diante dos limites/limitações dos seres humanos de controlar a evolução da natureza. Necessitamos de potencial intelectual e ético para cuidar da vida do ser humano no tocante a sua saúde, entendendo que o cuidado à saúde é um valor, pois nele estamos comprometidos com o viver humano e a vida nas suas diversas possibilidades de viver.

A pertinência e a profundidade do conhecimento na área da Enfermagem, na sua amplitude e especificidade, é um constante avançar e retroceder entre o próprio/específico, o coletivo/interdisciplinar, as interfaces/aproximações, o que fortalece a identidade/disciplina enfermagem, o que pode nos alicerçar/sustentar as perspectivas de novas configurações da prática profissional e outros aspectos mais nos apontam possibilidades de novas características e competências profissionais. Daí pergunta-se: para onde estamos caminhando? O que vem sustentando a nossa profissão? Quais as competências do enfermeiro de hoje e quais as perspectivas desta prática em 2020? Em 2050? Será que sobreviveremos? Que desmembramentos e novas conformações ainda teremos pela frente? Será que a pesquisa dará conta de apontar ou orientar estes novos rumos ou seguimos muito mais à deriva, pairando entre as sobras e as forças das demais profissões e saberes instituintes e instituídos? Que políticas indutoras dos rumos da ciência e tecnologia são legítimas dos atores enfermeiros? São discutidas e acordadas pela categoria? Que patamares na pesquisa deveremos alcançar? Que necessidades temos de atingir novos patamares na pesquisa em enfermagem? Será que o caminho é produzir conhecimentos que fortaleçam a visibilidade e reconhecimento da Enfermagem como ciência própria, ciência da saúde, ciência sócio-política, organizacional e educacional? Ou produzir tecnologias ou instrumentos que promovam o viver humano com mais e melhor saúde na totalidade do ser? E ao mesmo tempo que permita focalizar cuidados ou ações decorrentes das funções do corpo humano nos seus processos vitais?

Os novos patamares na pesquisa de enfermagem com certeza se situam no domínio de novos métodos de investigação, na prática profissional sustentada pela pesquisa, tanto teórico-filosófica como em pesquisa clínica ou prática de cuidado investigativa ou pesquisa de intervenção, que resulte na produção de novos saberes ou de ciência avançada, de tecnologia de alto impacto, de publicações em periódicos altamente qualificados envolvendo equipes com doutores experts em pesquisa e experts em conhecimentos diferenciados e de relevância reconhecida.

Talvez, estes novos patamares sejam atingidos se balizados pelas premissas alinhavadas pela Coordenação da Área de Enfermagem na Capes para orientar a definição de um novo Perfil do Doutor em Enfermagem, como seguem (documento apresentado na II Reunião da Coordenação da Área de Enfermagem na Capes 2008-10 com os Coordenadores dos Programas de Pós-Graduação em Enfermagem no dia 25/09/2008 em São Pedro/SP):

- domínio do estado da arte da sua temática/área de atuação, com capacidade de diálogo no âmbito internacional e compreensão em similar nível de alcance, ou seja, profundidade de escopo e lateralidade de pensamento para possibilitar relações entre pares na comunidade científica rumo à inserção e construção de redes de produção de conhecimentos;

- habilidades/competências para a pesquisa, coordenação de equipes e empreendimento do conhecimento com habilidades conexas (elaboração de projetos, gestão financeira, programação de atividades, dentre outros);

- expert em métodos científicos e/ou criador de novos métodos e tecnologias para o processo de construção de conhecimentos avançados;

- domínio da especificidade da área da Enfermagem, em abrangência e profundidade, em determinada temática ou interfaces de conhecimentos com a mesma, de modo a contribuir para o seu avanço, incorporando novos saberes e fazeres, rumo a uma prática interdisciplinar;

- exercício do processo educativo, colaborando na formação de novos pensadores/profissionais para competências/aptidões em conhecimentos ou saberes da área da Enfermagem e/ou áreas afins, com visão crítico-reflexiva e construtiva;

- percepção e interpretação das oportunidades do desenvolvimento de novos conhecimentos, avaliando sua importância para o campo teórico e prático da área, com base nos impactos dos diversos saberes;

- prospecção de oportunidades em pesquisa, proporcionadas pelos órgãos de fomento;

- capacidade de argumentação na sustentação de suas idéias perante seus pares e em outros campos de conhecimento;

- domínio dos instrumentos e processo de divulgação/socialização do conhecimento em periódicos altamente qualificados;

- identificação e promoção de novos caminhos no conhecimento em Enfermagem, visando sua distinção científica e tecnológica e inserção social, para a consolidação e fortalecimento da identidade da área;

- capacidade de construção de um projeto de carreira científica, considerando sua liderança, inserção, reconhecimento acadêmico, além do tempo de vida profissional e interesses ou vontades ou necessidades ou condições pessoais.

Reconhecemos que a necessidade de atingirmos novos patamares na pesquisa de enfermagem é um grande desafio para os atores da enfermagem brasileira, em especial, para seus investigadores!

Prof. Dra. Alacoque Lorenzini Erdmann

Professora Titular da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Doutora em Filosofia da Enfermagem PQ 1A do CNPq; Coordenadora da Área de Enfermagem/CAPES 2008-10

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Jun 2009
  • Data do Fascículo
    2009
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