Acessibilidade / Reportar erro

Michel Foucault e o nascimento da modernidade

Michel Foucault and the birth of modernity

Resumos

O artigo investiga a leitura de Michel Foucault a respeito da origem do pensamento moderno na virada do século XVIII para o século XIX. Essencialmente diferente do pensamento clássico, o moderno se enraiza na história, no condicionado, na finitude. Aí, novos objetos se tornam possíveis (vida, produção, linguagem), bem como uma nova filosofia (a crítica). E, do interior desse espaço epistêmico novo, uma figura ausente na tradição do pensamento ocidental: o Homem.

discurso; episteme; representação; modernidade; história; finitude; homem


The article investigates the reading of Michel Foucault with respect to the origin of modern thinking in the turning of the eighteenth to the nineteenth century. Essencially different from classic thinking, the modern thinking roots itself in history, in the conditioned, in finitude. There, new objects turn themselves possible (life, production, language), as well as a new philosophy (a critical one). And, from inside this new epistemic space, a figure which was absent in the tradition of western thought: Man.

discourse; episteme; representation; modernity; history; finitude; man


Texto completo disponível em PDF.

  • Este texto foi redigido, em primeira mão, para a Semana de Filosofia da UFG, em novembro de 1993. Para este Simpósio foram feitas modificações, sem alterar, substancialmente, sua estrutura.
  • 1
    "Está pois certo e na melhor ordem dizer-se que com filosofia nada se pode fazer. O errado seria pensar que, com isso, terminou o juízo sobre a filosofia. Pois sobrevém-lhe ainda um pequeno acréscimo na forma de uma contrapergunta: se nós nada poderemos fazer com filosofia, acaso a filosofia também não poderá fazer alguma coisa conosco, contanto que nos abandonemos a ela?" (Heidegger, 1969HEIDEGGER, Martin.(1969) Introdução à Metafísica. Trad. de E. C. Leão. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro., p. 42-43).
  • 2
    Recomendaria, a esse respeito, a leitura do excelente texto de Paul Veyne, Foucault revoluciona a história, publicado, no Brasil, pela Editora da UNB.
  • 3
    Rigorosamente, para Foucault, a expressão pós-modernidade não tem sentido.
  • 4
    Para Foucault, simplesmente, idade da representação. Mas o infinito, a meu ver, ainda que não tematizado explicitamente, parece constantemente aflorar co-mo questão constitutiva dessa idade. Indecisão, a meu ver, estreitamente ligada à escolha teórica da leitura de Foucault: as Regulae ad Directionem Ingenii, de Descartes.
  • 5
    A noção cartesiana de idéia "como imagem do mundo" pode ser encontrada na Terceira Meditação.
  • 6
    Heidegger, num texto da coletânea Holzwege, fala em "Época da imagem do mundo". Fica a pergunta se a redução do modo de pensar do século XVII e XVIII à forma generalizada da representação é absoluta. Temos exemplos, mesmo de dentro dessa época, que parecem transgredir a ordem descrita por Foucault. Refiro-me, em particular, a Espinosa e a Pascal.
  • 7
    A Lógica, ao expor o campo (Feld) próprio da filosofia, amplia esse interesse para quatro perguntas (Fragen) essenciais. Às três anteriores vemos acrescida uma quarta, Was ist der Mensch?, que, segundo Foucault, seria mais fundamental, já que aquelas estariam reportadas a ela e "postas, de certo modo, à sua custa (Foucault, 1966, p. 352). Aliás, é justamente isto que dizem as palavras de Kant: "Die erste Frage beantwortet die Metaphysik, die zweite die Moral, die dritte die Religion, und die vierte die Anthropologie. Im Grunde kônnte man aber alles dieses zur Anthropologie rechnen, weil sich die drei ernsten Fragen auf die letzte beziehen" (KANT, 1983, p. 448).
  • 8
    "les belles âmes" (Foucault, 1966FOUCAULT, Michel. (1966) Les mots et les choses. Paris, Gallimard., p. 352).
  • 9
    "... en fait, il s'agit, et c'est plus prosaique et c'est moins moral, d'un redoublement empirico- critique par lequel on essaie de faire valoir l'homme de la nature, de l'échange, ou du discours comme le fondement de sa propre finitude. En ce Pli, la fonction transcendentale vient recouvrir de son réseau impérieux l'espace inerte et gris de l'empiricité; inversement, les contenus empiriques s'animent, se redressent peu à peu, se mettent debout et sont subsumés aussitôt dans un discours qui porte au loin leur présomption transcendentale" (Foucault, 1966FOUCAULT, Michel. (1966) Les mots et les choses. Paris, Gallimard., p. 352).
  • 10
    Un rire philosophique (Foucault, 1966FOUCAULT, Michel. (1966) Les mots et les choses. Paris, Gallimard., p. 354).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • COURTINE, J. J.(1992) Entre la vie et la mort. Apud GIARD, L. (org.). Michel Foucault: Lire l'oeuvre Grenoble, Jérôme Millon.
  • DELEUZE, Gilles. (1982) Em que se pode reconhecer o estruturalismo. In: CHÂTELET, F. História da Filosofia. VIII. O Século XX Trad. de H. Japiassú. Rio de Janeiro, Zahar.
  • FOUCAULT, Michel. (1966) Les mots et les choses Paris, Gallimard.
  • ______ . (1972) Histoire de la folie à l'âge classique Paris, Gallimard.
  • ______ . (1984) História da sexualidade II - O uso dos prazeres. Rio de Janeiro, Graal.
  • HEIDEGGER, Martin.(1969) Introdução à Metafísica Trad. de E. C. Leão. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro.
  • KANT, I. (1983) Logik A, 26. Darmstadt, Wissenschaftliche Buchgesellschaft.
  • KOYRÉ, A. (1973) Études d'histoire de la pensée scientifique Paris, Gallimard.
  • REVEL, Judith. (1954) Sur l'introduction à Binswanger (1954). In: GIARD, L. (org.). Michel Foucault: Lire l'oeuvre Grenoble, Jérôme Millon.
  • RIBEIRO, Renato Janine. (1993) A última razão dos reis São Paulo, Companhia das Letras.
  • VERLEY, E. (1970) Coloquio sobre las palabras y las cosas In: Analisis de Michel Foucault Buenos Aires, Tempo Contemporaneo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Dec 1995

Histórico

  • Recebido
    Abr 1995
Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo Av. Prof. Luciano Gualberto, 315, 05508-010, São Paulo - SP, Brasil - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: temposoc@edu.usp.br