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Informação sem barreiras, um risco para o paciente

EDITORIAL

Informação sem barreiras, um risco para o paciente

Ao organizar uma revista, selecionamos informações procurando utilizar os melhores trabalhos, especialmente considerando a qualidade das propostas, sem esquecer a seriedade das fontes informadoras. Esculpimos a informação inicial com auxílio de nossos editores, que auxiliam os autores a apurarem as suas já bem escritas propostas. Somos rígidos nas regras de estruturação e organização. Afinal, essas informações tornar-se-ão eternas após a publicação.

O que publicarmos será utilizado como referência para tratamento de pessoas, como base para formação de médicos e, em alguns casos, até para julgamento de procedimentos realizados e que causaram algum tipo de dano. Imagine-se a responsabilidade da editoração nos órgãos de imprensa; uma notícia pode mudar o rumo de acontecimentos de forma irreversível. Somos testemunhas de que, em diversas ocasiões, notícias mudaram o rumo do país.

Editorar informações é algo muito importante, pois é uma forma de filtrar e dar o acabamento final às ideias propostas. O editor é corresponsável pelo que permitiu divulgar.

A informação tem se banalizado graças à internet, sendo disponível sem nenhuma editoração, sem nenhum critério.

Temos recebido, de forma frequente, pacientes que além de trazerem o diagnóstico de sua doença trazem uma proposta de tratamento, segundo técnicas já elegidas.

- "Doutor eu tenho uma lesão do ligamento cruzado anterior e gostaria de ser operado pela técnica do duplo-feixe por via artroscópica."

Eu já ouvi esta frase e imagino que não tenha sido o único. Esta informação está disponível no doutor "Google", que a disponibiliza sem editoração e sem nenhum critério, pois nesse site publica e divulga quem quer e o que quer. Não há nenhum filtro, nenhuma seleção, nenhuma editoração e tem um caráter de verdade absoluto, pois, afinal, está no Google.

A escolha dos profissionais que irão atender a esses pacientes "plugados" também será feita em sites de propaganda "Googlal". O que se promete nessas propagandas e o que se informa sobre os propagadores é algo digno de ser visto. Há sites de colegas que deveriam fazer parte de um exercício de melhora de humor diário:

Dr. Fulano, "nascido para operar"; Dr. Beltrano foi fazer uma série de conferências em Miami; Dr. Ciclano ganhou o prêmio de melhor médico do mundo na Áustria; e assim por diante.

O Facebook veio aprimorar esta divulgação, pois é uma rede que hoje atinge um bilhão de pessoas, divulgando rápida e eficientemente qualquer tipo de informação, sem nenhuma editoração responsável.

Quem teria o poder de contestar o Google hoje?

Acredito que seria uma atitude inútil tentar contestar qualquer informação que há no Google, o seu poder de captação e divulgação de informação é incomensurável. Com certeza, este editorial será acessível na sua página assim que publicado. Outro aspecto é que há muita coisa boa e de qualidade incontestável nesse site de busca, sem dúvida a imensa maioria das informações divulgadas. Em breve, as nossas pesquisas bibliográficas serão feitas no Google Acadêmico, ferramenta de busca e de armazenamento de produção científica que já esta sendo utilizada pela USP.

Talvez participarmos de forma mais eficiente do processo de informação globalizada seja uma maneira de protegermos a nossa clientela e a qualidade da nossa atividade profissional. Fornecendo de forma rápida e acessível informações sobre os avanços da nossa especialidade e disponibilizando os currículos reais dos nossos sócios.

Precisaríamos de profissionais que conhecem estes meandros informáticos para criarmos uma barreira defensiva aos avanços da informação inconsequente e da propaganda enganosa.

Onde procurar estes profissionais?

No Google, é claro.

Gilberto Luis Camanho

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Jan 2013
  • Data do Fascículo
    Out 2012
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