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Efeito do óleo de soja em dietas com diferentes níveis de cálcio sobre a absorção e retenção óssea de cálcio e de fósforo em frangos de corte

Effect of soybean oil in diets with different calcium levels on calcium and phosphorus absorption and bone retention in broiler chickens

Resumos

Foram utilizados 480 pintos de corte machos da linhagem comercial Avian Farm, distribuídos em quatro tratamentos com quatro repetições, para estudar o efeito da inclusão de óleo de soja às rações de frangos de corte, em sua fase inicial de criação, sobre a absorção de cálcio, considerando a deposição de cálcio e fósforo nos ossos aos sete, 14 e 21 dias de idade das aves. O delineamento experimental foi o inteiramente ao acaso, com parcela subdividida, tendo nas parcelas o arranjo fatorial 2 x 2 (dois níveis de óleo x dois níveis de cálcio). Foi observada influência negativa da presença de óleo nas rações sobre a retenção de cálcio e de fósforo nos ossos das aves aos 14 e 21 dias de idade.

frango de corte; óleo; cálcio; fósforo; composição óssea; osso


Four hundred and eighty one-day old broiler male chicks were used in a completely randomized design with four treatments (two oil levels and two calcium levels) and four replicates to study the effect of soybean oil in the diet on bone calcium and phosphorus deposition at seven, 14 and 21 days of age. Negative effects on bone calcium and phosphorus retention at 14 and 21 day-old chickens were observed with soybean oil addition in the diets.

broiler; fat; calcium; phosphorus; soybean oil; bone composition


Efeito do óleo de soja em dietas com diferentes níveis de cálcio sobre a absorção e retenção óssea de cálcio e de fósforo em frangos de corte

Effect of soybean oil in diets with different calcium levels on calcium and phosphorus absorption and bone retention in broiler chickens

A.T.P. Dell'IsolaI; J.A.F. VelosoII; N.C. BaiãoII; S.L. MedeirosIII

ICEDAF - Universidade Federal de Viçosa Central de Ensino e Desenvolvimento Agrário de Florestal, MG Av. P.H. Rolfs, s/n 36571-000 - Viçosa, MG

IIEscola de Veterinária UFMG

IIIEstudante de Doutorado em Zootecnia, EV/UFMG

RESUMO

Foram utilizados 480 pintos de corte machos da linhagem comercial Avian Farm, distribuídos em quatro tratamentos com quatro repetições, para estudar o efeito da inclusão de óleo de soja às rações de frangos de corte, em sua fase inicial de criação, sobre a absorção de cálcio, considerando a deposição de cálcio e fósforo nos ossos aos sete, 14 e 21 dias de idade das aves. O delineamento experimental foi o inteiramente ao acaso, com parcela subdividida, tendo nas parcelas o arranjo fatorial 2 x 2 (dois níveis de óleo x dois níveis de cálcio). Foi observada influência negativa da presença de óleo nas rações sobre a retenção de cálcio e de fósforo nos ossos das aves aos 14 e 21 dias de idade.

Palavras-chave: frango de corte, óleo, cálcio, fósforo, composição óssea, osso

ABSTRACT

Four hundred and eighty one-day old broiler male chicks were used in a completely randomized design with four treatments (two oil levels and two calcium levels) and four replicates to study the effect of soybean oil in the diet on bone calcium and phosphorus deposition at seven, 14 and 21 days of age. Negative effects on bone calcium and phosphorus retention at 14 and 21 day-old chickens were observed with soybean oil addition in the diets.

Keywords: broiler, fat, calcium, phosphorus, soybean oil, bone composition

INTRODUÇÃO

Na hierarquia de crescimento dos tecidos, em determinado momento (idade) a prioridade pode ser do tecido ósseo ou do muscular ou do adiposo. Assim, em cada fase do desenvolvimento há necessidade específica de afluxo de nutrientes para o tecido em crescimento prioritário. No caso do tecido ósseo das aves, acontece nos primeiros 21 dias de idade (Macari et al., 1994).

O crescimento relativo dos frangos aumenta aproximadamente de 3% no primeiro dia de vida para 20% ao dia no quinto dia, mantendo-se assim durante os primeiros 15 dias de vida (Nir et al., 1993). Existe alta correlação entre o desempenho das aves nas fases inicial e final de criação (Nitsan, 1995). Na primeira fase de vida o criador deve ter o cuidado em obter o máximo desempenho possível, incluindo o desenvolvimento ósseo.

O requisito nutricional em energia dos frangos de corte é alto, exigindo, muitas vezes, acréscimos de óleo vegetal ou gordura animal às dietas. Os óleos vegetais são alimentos altamente digeríveis e, dependendo de sua composição em ácidos graxos, são facilmente absorvidos no intestino. Eles tornam as dietas mais palatáveis, melhorando o consumo e o desempenho das aves. O óleo de soja é particularmente valioso, com elevado nível de lecitina, emulsificante que auxilia na digestão de gorduras e de vitamina E, sendo ainda um antioxidante natural capaz de evitar a rancificação rápida do próprio óleo (Freeman, 1984; Bernal, 1994).

Vários fatores interferem na absorção de minerais pelas aves como composição do alimento, tipo de processamento da matéria prima, idade e espécie do animal (Ensminger et al., 1990). Pesquisas mostram que a adição de gorduras à ração de frangos de corte interfere no metabolismo mineral, reduzindo a retenção de cálcio, o teor de cinzas ósseas e o cálcio nos ossos(Griffith et al., 1961; Waibel, Mraz, 1964; Whitehead et al., 1971). A formação de sabões insolúveis durante a digestão torna os ácidos graxos indisponíveis para o metabolismo e o aumento do cálcio nas dietas contendo óleo agrava a formação desses sabões (Atteh, Lesson, 1983a,b; Atteh, Lesson, 1984).

O objetivo deste trabalho foi verificar a influência da ingestão de óleo de soja sobre a absorção intestinal de cálcio e de fósforo e a retenção do cálcio nos ossos de frangos de corte na fase inicial de criação.

MATERIAL E MÉTODOS

Utilizaram-se 480 pintos de corte, machos da linhagem comercial Avian Farm, no período de um a 21 dias de idade, criados em baterias metálicas com bandejas próprias para coleta de excretas. Cada bateria estava equipada com comedouro e bebedouro, o que permitia livre acesso à ração e à água. Na primeira semana de experimento as aves foram alimentadas em comedouros do tipo bandeja, e a partir do quarto dia tiveram acesso ao comedouro tipo cocho.

Foram constituídos quatro tratamentos de acordo com as dietas experimentais (Tab. 1), como se segue: TA- dieta com 0% de óleo de soja e 1% de cálcio; TB - dieta com 4% óleo de soja e 1% de cálcio; TC - dieta com 0% de óleo de soja e 1,4% de cálcio; TD - dieta com 4% de óleo de soja e 1,4% de cálcio.

Aos sete, 14 e 21 dias as aves foram submetidas a jejum de seis horas, após o qual cinco aves de cada repetição foram sacrificadas para retirada das tíbias, a partir das quais foram feitas as análises químicas, para determinação dos teores de cinzas ósseas, cálcio e fósforo. Essas análises foram feitas com os ossos limpos, secos e desengordurados. O teor de cinzas ósseas foi obtido pelo método de análise proximal, o de cálcio por oxidimetria com permanganato de potássio e o de fósforo por colorimetria (Cunniff et al., 1995). A tíbia foi o osso de escolha por ser considerada a mais representativa graças ao seu tamanho e facilidade de remoção.

Foram obtidos dados semanais de consumo da dieta e informações sobre a mortalidade. As aves foram pesadas no dia do alojamento e aos sete, 14 e 21 dias de idade, para se calcular o ganho de peso e conversão alimentar semanais.

O delineamento experimental foi o inteiramente ao acaso, com parcela subdividida, tendo nas parcelas o arranjo fatorial 2 x 2 (dois níveis de óleo x dois níveis de cálcio) com quatro repetições, e nas sub parcelas, três períodos. A unidade experimental foi a média das aves de cada repetição. Os resultados foram submetidos à análise de variância (Statistical..., 1990) de acordo com o esquema apresentado na Tab. 2, e as médias comparadas pelo teste t de Student (Sampaio, 1998).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não foram verificadas diferenças significativas (P<0,05) quanto ao teor de cinzas ósseas (TCO) entre os tratamentos aos sete dias de idade (Tab. 3). Aos 14 e aos 21 dias de idade houve diferenças significativas entre tratamentos quanto ao TCO, sendo a maior porcentagem observada nos ossos das aves alimentadas com dieta sem adição de óleo e com menos inclusão de cálcio. Com a inclusão de óleo à dieta observou-se menor TCO, menor ainda quando o teor de cálcio foi alto. Estes resultados são semelhante aos obtidos por Atteh e Lesson (1984), Atteh e Lesson (1983b), Whitehead et al. (1971), Waibel e Marz (1964) e Griffith et al. (1961). O maior nível de cálcio sem a presença de óleo influenciou negativamente o teor de cinzas ósseas.

Houve diferença (P<0,05) entre tratamentos quanto às porcentagens de cálcio e de fósforo nas cinzas ósseas (Tab. 4) aos 21 e aos sete dias, respectivamente. Os teores foram mais baixos em TD e TC. Provavelmente o maior nível de cálcio na dieta interferiu na absorção do fósforo.

Quanto à retenção de cálcio e fósforo nos ossos, ela foi maior (P<0,05) nas aves alimentadas com dietas sem adição de óleo, independentemente do nível de cálcio da ração. Essa diferença ocorreu aos 14 e aos 21 dias de idade (Tab. 5).

A menor retenção de cálcio nos ossos aos 14 dias foi independente do nível de Ca na dieta, contudo, aos 21 dias, ela estava associada ao maior nível de Ca. A deposição de P nos ossos acompanhou a deposição de cálcio, o que caracteriza a interdependência entre esses minerais, formando sais insolúveis que interferem na absorção de ambos pela ave. Pesquisas mostram que a adição de óleo na ração de frangos de corte interferem no metabolismo mineral das aves, reduzindo o teor de cinzas ósseas e a retenção de cálcio nos ossos. Isso é atribuído à formação de sabões insolúveis de ácidos graxos com esses minerais no intestino delgado das aves, o que diminui a absorção intestinal e a retenção do cálcio (Whitehead et al., 1971; Waibel, Marz, 1964; Griffth et al., 1961).

Aves alimentadas com dietas contendo óleo apresentaram melhor peso, ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar ao final do experimento quando comparadas às alimentadas com dietas sem adição de óleo (Tab. 6). Segundo Fuller (1980), o uso de óleo de soja na ração de frangos de corte favorece o seu desenvolvimento, obtendo-se maior peso em menor tempo. Quanto ao teor de cálcio, sua adição à dieta não influenciou o ganho de peso. Resultados semelhantes foram apresentados por Azevedo (1980).

Não houve diferenças (P<0,05) entre tratamentos quanto ao peso, ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar das aves aos sete dias de idade (Tab. 7 e 8). Aos 14 dias, as aves alimentadas com dieta contendo óleo e nível de 1% de cálcio apresentaram melhor desempenho. Aos 21 dias, os melhores resultados ocorreram com a adição de óleo e de 1,4% de cálcio à dieta. Isso mostra que houve interferência da idade das aves e do nível de cálcio associado ao de óleo no aproveitamento diferenciado das dietas. Quanto à conversão alimentar, observou-se diferença (P<0,05) a favor apenas para as aves alimentadas com dietas contendo 1,4% de cálcio e 4% de óleo aos 21 dias de idade.

CONCLUSÃO

A inclusão de óleo nas dietas de frangos de corte na fase inicial de criação melhora o desempenho das aves independentemente da porcentagem de cálcio na ração. Entretanto, acarreta diminuição no teor de cinzas ósseas e na retenção de cálcio e de fósforo nos ossos das aves aos 14 e 21 dias de idade. A retenção de cálcio e fósforo nos ossos piora quando a dieta possui excesso de cálcio.

Recebido para publicação em 5 de junho de 2002

Recebido para publicação, após modificações, em 30 janeiro de 2003

E-mail: atperet@ufv.br

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Nov 2003
  • Data do Fascículo
    Ago 2003

Histórico

  • Aceito
    30 Jan 2003
  • Recebido
    05 Jun 2002
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