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Algumas experiências, perspectivas e desafios da Medievalística no Brasil frente às demandas atuais

RESUMO

Neste artigo são evidenciadas e discutidas algumas experiências, perspectivas e desafios das pesquisas desenvolvidas na área de História Medieval no Brasil perante a necessidade de responder a demandas e articular-se a movimentos mundiais. Metodologicamente, dividiu-se a exposição em temáticas: a) os estudos da transculturalidade e do espaço social; b) o posicionamento acadêmico, tendo em vista que essas temáticas estão inter-relacionadas em um mesmo movimento que aproxima a pesquisa sobre Idade Média às reflexões sobre as experiências cotidianas. Teoricamente, as reflexões desenvolvidas neste artigo dialogam com o pensamento do historiador alemão Reinhart Kosellek. Ressalta-se a contribuição de medievalistas brasileiros em apresentar um novo olhar, o olhar do "outro", sobre a historiografia europeia e a importância da divulgação crítica e renovação do conhecimento histórico.

Palavras-chave:
Medievalística no Brasil - experiências e desafios; divulgação do conhecimento histórico

ABSTRACT

Shown and discussed in this article are some experiences, perspectives, and challenges related to the research carried out in the area of Medieval History in Brazil in light of demands to connect with global movements. Methodologically, it is divided into themes: a) studies of transculturality and social space; b) academic positioning, taking into account that these themes are inter-related in the same movement which approximates research about the Middle Ages to reflections on daily experiences. Theoretically, the reflections developed in this article dialogue with the thinking of the German historian Reinhart Kosellek. Highlighted in the text is the contribution of Brazilian medievalists by presenting a new perspective, the perspective of the 'other' towards European historiography, and the importance of critical divulgation and the renewal of historical knowledge.

Keywords:
Medievalists in Brazil - experiences and challenges; spread of historical knowledge

A experiência do século XXI fortalece o sentimento de vivermos em um mundo interligado pelos mais variados tipos de redes econômicas, políticas, sociais, culturais e científicas. Ao mesmo tempo, campanhas nacionalistas crescem no cenário internacional e, paradoxalmente, utilizam-se dessas mesmas redes para disseminar o preconceito, o medo e a segregação, ao invés do fortalecimento da integração humana. Imagens da Idade Média são evocadas nesses referidos discursos, apoiados levianamente em uma origem medieval étnica das nações, o que nos lembra as palavras de Patrick Geary em sua obra O Mito das Nações: "A interpretação da História do ano 400 a 1000 se tornou o sustentáculo do discurso político na maior parte da Europa" (Geary, 2005GEARY, Patrick J. O mito das nações: a invenção do nacionalismo. São Paulo: Conrad, 2005., p.17). No entanto, esse fenômeno não acomete apenas a Europa, mas o mundo como um todo. As correntes migratórias que passaram a preocupar imensamente os países industrializados (na mídia, comparadas às "invasões bárbaras" do século V), os ataques a Paris no dia 13 de novembro de 2015, fortalecendo dicotomias e estereótipos religiosos, bem como as reivindicações das regiões muçulmanas medievais pelo autoproclamado Estado Islâmico levam historiadores a reafirmarem que o passado não legitima nenhuma violência, exclusão ou decisão política da atualidade. Essas são algumas razões pelas quais renomados medievalistas se sentem motivados a esclarecer para o público em geral o emprego equivocado de termos e interpretações históricas há muito tempo revisadas (Bergolte, 2015, p.38), já que o posicionamento do historiador é referência constitutiva do conhecimento histórico, como nos lembra Reinhart Kosellek (2012b)______. Ponto de Vista, perspectiva e temporalidade - contribuição à apreensão historiográfica da história. In:______. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Trad. Wilma Patrícia Mass e Carlo Almeida Pereira. 3.ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012b. p.161-188..

Kosellek também ressalta, na mesma obra, que novas experiências se agregam, ao mesmo tempo em que antigas experiências são ultrapassadas e novas perspectivas se abrem. Logo se manifestam novas questões em relação ao passado, que nos levam a repensar a história, a observá-la sob outros olhos, a demandar novas investigações (Kosellek, 2012______ Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Trad. Wilma Patrícia Mass e Carlo Almeida Pereira. 3.ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012., p.161). Por esse ponto de vista, se as demandas atuais nos levam a repensar o papel social do conhecimento produzido na academia e sua divulgação, o que os estudos medievais no Brasil têm a oferecer? Quais são os desafios enfrentados e as perspectivas teóricas e metodológicas que se alinhariam com essas demandas?

Essas são questões que se pretende desenvolver neste artigo, comentando alguns trabalhos desenvolvidos no Brasil na área de História Medieval, articulados com tendências internacionais. Pois, há algum tempo, as pesquisas na área deixaram de ser unicamente "brasileiras" para se inserirem no cenário acadêmico mundial. Esse é o resultado do trabalho de pesquisadores e de grupos de pesquisa presentes em todas as regiões do Brasil.2 2 Referências dos Grupos de Pesquisa que se ocupam da temática medieval registrados no Diretório de Grupos de Pesquisa do Brasil/CNPq podem ser acessadas na página: http://dgp.cnpq.br/dgp/faces/consulta/consulta_parametrizada.jsf; Acesso em: 8 mar. 2016. De acordo com o Diretório de Grupos de Pesquisa do Brasil do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), esses grupos somariam 68 núcleos. Consequentemente, um dos desafios que nos são apresentados é seguir agindo de acordo com essa realidade, estabelecendo uma articulação ainda maior entre os Programas de Pós-Graduação no Brasil e centros de pesquisa internacionais.

Optou-se por não realizar um inventário das publicações, dissertações e teses, bem como dos laboratórios na área de História Medieval, dos quais a quantidade cresceu consideravelmente nos últimos anos no Brasil.3 3 Alguns levantamentos e análises das pesquisas desenvolvidas na Área de História Medieval podem ser encontrados na seguintes obras: ASFORA; AUBERT; CASTANHO, 2008; ALMEIDA, 2013; ALMEIDA, 2008; AMARAL, 2011; BASTOS; FRANCO JUNIOR, 2003; COELHO, 2006; DE BONI, 2011; MUNIZ, 2009; NOGUEIRA, 2002; PEDRERO-SÁNCHEZ, 1994; RIBEIRO, 2001, p.155-158; RUST; BASTOS, 2008; SILVA; SILVA, 2007; SILVA, 2012. De outra forma, o texto a seguir será dividido, metodologicamente, por temáticas, à guisa de empreender uma reflexão sobre as questões apresentadas. No entanto, todos os pontos aqui abordados são inter-relacionados. Por essa via, pretende-se apresentar as demandas que instigam a perspectiva dos entrelaçamentos transculturais (transkulturelle Verflechtungen), identificando exemplos de estudos na área de História Medieval desenvolvidos no Brasil que se alinham a essa perspectiva e às possibilidades de análises abertas com a spatial turn, bem como refletir sobre os limites e possibilidades, ou mesmo obrigação moral, de responder legitimamente a discursos de exclusão social.

ENTRELAÇAMENTOS TRANSCULTURAIS: EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS

O termo "entrelaçamentos transculturais" (transkulturelle Verflechtungen) (Borgolte; Tischler, 2012______.; TISCHLER, Mattias M. (Hrsg.) Transkulturelle Verflechtung im mittelalterlichen Jahrtausend. Europa, Ostasien und Afrika. Darmstadt: Wissen Verbindet, 2012.) surgiu nos estudos medievais alemães a partir da experiência interdisciplinar do programa "Integração e Desintegração na Idade Média Europeia" (Integration und Desintegration im europäischen Mittelalter), desenvolvido entre 2005 e 2011.4 4 Esse programa foi financiado pela Sociedade Alemã de Pesquisa (Deutsche Forschungsgemeinschaft - DFG) e reuniu especialistas da História, da Filologia, da Linguística, da Orientalística, da História da Arte, da Arqueologia, da Judaística (Judaistik), da Bizantinística (Byzantinistik), da Arabística (Arabistik) e da Omanística (Omanistik). A proposta do programa consistiu em desenvolver com maior amplitude de perspectiva temas como trocas culturais, identidades, fronteiras e diversidades na Idade Média. Os cientistas envolvidos consideraram seu trabalho um laboratório, do qual o campo de experimento seria muito abrangente (abrangeria tanto o espaço medieval ocidental como oriental, o mundo judaico e islâmico e as relações inter e intraculturais). Por esse motivo, desenvolveram métodos para lidarem com as próprias diversidades de disciplinas e temáticas. Valendo-se do espaço on-line, o programa de trabalho foi dividido, primeiramente, em três fóruns temáticos e interdisciplinares, os quais deram origem à publicação Mittelalter im Labor (2008). Ver http://www.spp1173.uni-hd.de/index.html. A ideia de entrelaçamentos constrói imagens mentais de uma teia ou rede, onde cada fio interconectado a outros infinitos fios e laços seria parte constituinte de um tecido histórico maior. No entanto, quando o pesquisador torna-se de fato consciente dessa rede encadeada, surge a questão de como trabalhar metodologicamente com essa perspectiva. Uma via possível seria, a partir da identificação de um ponto de intersecção nessa teia (vórtice histórico), analisar diversos fios e conexões, obtendo, assim, uma visão mais ampla do fenômeno histórico. Objetivamente, para além das metáforas, diante do problema de lidar com modelos teóricos de grande escala e, ao mesmo tempo, com problemas práticos de pequena escala no jogo analítico da macro e microanálise, apresenta-se uma alternativa que pode balancear entre sistemas culturais abrangentes e o modo de sua efetivação, ou não, em espaços menores. Por exemplo, favorecendo análises comparativas mais específicas que selecionam elementos de um fenômeno macro de trocas e transformações em um local e espaço de pequena escala, como sugere Matthias M.Tischler no editorial do primeiro número do Journal of Transcultural Medieval Studies (Tischler, 2014TISCHLER, Matthias M. Academic challenges in a changing world. Journal of Transcultural Medieval Studies, v.1, n.1, p.1-8, 2014.).

Como exemplo de trabalhos desenvolvidos no Brasil, que se alinham a essa perspectiva metodológica, estão aqueles que se ocupam de temas como do movimento de trocas econômicas, intelectuais, políticas (diplomacia e guerra) e, consequentemente, culturais, de um lugar em relação a um espaço maior, como a região mediterrânica. Ou ainda, que abordam temas como a Translatio Studiorum, as relações intercontinentais na Idade Média (Europa, Ásia e África) ou da Rota da Seda. O que articula esses trabalhos é a consciência e demonstração da inserção de seu objeto de pesquisa em uma escala maior de inter-relações.

A considerar essas inter-relações, os estudos históricos no Brasil sobre o Mediterrâneo desde a Antiguidade até a Modernidade receberam uma proposta articuladora, tanto dos objetos de pesquisa como de instituições nacionais e internacionais, na organização em 2002 do Núcleo de Estudos Mediterrânicos - Nemed (http://nemed.he.com.br/). O Núcleo é coordenado pelos professores Fátima Regina Fernandes, Marcella Lopes Guimarães e Renan Frighetto, do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Um de seus projetos integrados mais recente, "Identidades e Fronteiras: perspectivas historiográficas para o estudo das relações políticas e culturais no Medievo Ibérico", foi construído em parceria com o centro de estudos Espai, Poder I Cultura, formado por medievalistas da Universidade de Lérida (Espanha), e teve financiamento de instituições do Brasil e da Espanha (Capes/ DGU). Um dos resultados do projeto foi a publicação do livro Identidades e fronteiras no Medievo Ibérico (Fernandes, 2013FERNANDES, Fátima R. A fronteira luso-castelhana medieval, os homens que nela vivem e o seu papel na construção de uma identidade portuguesa. In: ______ Identidades e fronteiras no Medievo Ibérico. Curitiba: Juruá, 2013. p.13-48.), o qual expressa o amadurecimento das pesquisas desenvolvidas no Brasil em parceria com centros de pesquisa na Europa sobre as relações mediterrânicas na Antiguidade Tardia e no Medievo. A preocupação com questões contemporâneas aliadas à pesquisa do Medievo faz-se presente em todos os capítulos da obra. Como exemplo, leia-se um trecho do capítulo "A fronteira luso-castelhana medieval, os homens que nela vivem e o seu papel na construção de uma identidade portuguesa", de Fátima Regina Fernandes, organizadora do livro:

Vivemos em tempos de globalização, de rompimentos de fronteiras em vários níveis de atividade humana e talvez, por isto mesmo devamos rever este conceito de fronteira a fim de avaliarmos a real dimensão de que ela dispõe ainda hoje, a partir de uma reflexão histórica. Exercício que nos demanda um bom grau de abstração de concepções contemporâneas que poderiam nos arrastar a interpretações anacrônicas desta realidade. Aliás, será muito bom começar por aí, questionando-se até que ponto trata-se de uma realidade concreta ou seria apenas uma concepção integral ou parcialmente aceita, e de que modo é percebida por aqueles que nela se inserem. (Fernandes, 2013______ (Org.) Identidades e fronteiras no Medievo Ibérico. Curitiba: Juruá, 2013., p.13)

A experiência e os esforços do Núcleo de Estudos Mediterrânicos, bem como de muitos outros grupos de pesquisa sobre Idade Média no Brasil, sinalizam para o desafio de articularmos nossas pesquisas institucionalmente dentro e fora do país. Lembra-nos também da importância de nosso posicionamento como pesquisadores não-europeus e, consequentemente, do olhar diferenciado que podemos oferecer à Medievalística internacional. Esse é apenas um exemplo entre muitos outros que mereceriam ser abordados, mas que não caberiam no limite da proposta deste artigo.5 5 Entre outros trabalhos refiro-me aqui às pesquisas desenvolvidas em: Programa de Estudos Medievais (PEM, http://www.pem.historia.ufrj.br/); Laboratório de Estudos Medievais (LEME, www.usp.br/leme); Laboratório de Estudos da Antiguidade e do Medievo (Vivarium, www.vivariumhist.com); Núcleo Dimensões do Medievo, Língua e Filosofia (Translatio Studii, www.historia.uff.br/dimensoes); Núcleo Interdisciplinar de Estudos Medievais (Meridianum, www.meridianum.ufsc.br).

Quanto à Translatio Studiorum, consiste em uma expressão já utilizada na Idade Média,6 6 Nos escritos medievais ocidentais a translatio studiorum pertenceria ao movimento da translatio imperii, termo utilizado para designar a transferência da potentia e sapientia do Oriente ao Ocidente, do Egito, Atenas e Roma a Paris. Otto von Freising estabelece essa relação já no prólogo de sua obra Historia de duabus civitatibus (1157); ver: FREISING, 1960, p.12-14. No mundo muçulmano, seria o filósofo al-Farabī (século IX) que faria esse tipo de referência ao pensamento filosófico relacionando Atenas a Bagdá, passando antes por Antioquia, Harran e Merv. a qual reapareceu nas análises de medievalistas como Alain de Libera (2011)LIBERA, Alain de. A Filosofia Medieval. Trad. Nicolá N. Campanário e Yvone M. de C. T. da Silva. 3.ed. São Paulo: Loyola, 2011., Léon Florido (2005)FLORIDO, Francisco L. Translatio Studiorum: translado de los libros y diálogo de las civilizaciones en la Edad Media. Revista General de Información y Documentación, v.15, n.2, p.51-77, 2005. e outros7 7 Outros estudos sobre o tema: BERTOMEU, 2013; KNAUTH, no prelo; SENKO, 2014; SGARDI, 2012; APPETITI, 2013. como definição para o movimento do saber no período medieval. Para muitos autores que utilizam o termo translatio studii e/ou translatio studiorum, ele designaria o movimento de textos e intelectuais dentro de certas dimensões: a) espacial: o Mediterrâneo e o Oriente Médio; b) cronológica: teria início no século VI, quando do fechamento da escola platônica em Atenas e sua migração para a Pérsia, e seu término seria no século XVI. A considerar que o termo Translatio Studiorum foi, até o momento, mais difundido na área de História da Filosofia e da Literatura Medieval, as análises históricas que consideram as dimensões intercontinentais da Translatio Studiorum convidam historiadores dentro e fora do país a enfrentarem o desafio da interdisciplinaridade, da transtemporalidade, de diferentes perspectivas espaciais e da confluência cultural presente nas fontes, a exemplo das pesquisas da professora Aline Dias da Silveira (UFSC) e da doutoranda Elaine Cristina Senko (UFPR) (Silveira, 2015______. Saber em movimento na obra andaluza Gāyat al-hakim, o Picatrix: problematização e propostas. Revista Diálogos Mediterrânicos, Curitiba, n.9, p.169-188, dez. 2015.; Senko, 2014SENKO, Elaine C. Afonso X, o Sábio (1221-1284) e a recepção da translatio studiorum na Idade Média viva. Revista Litteris, n.14, p.238-251, set. 2014.). Seguindo proposta semelhante de ampliação das dimensões do olhar para a Idade Média, formou-se o grupo de pesquisa Translatio Studii - Dimensões do Medievo (http://www.historia.uff.br/dimensoes/), sediado na Universidade Federal Fluminense (UFF). Nesse grupo são desenvolvidos diálogos interdisciplinares com a literatura e a filosofia com um espectro variado de temas abordados, como o do mundo camponês na Idade Média, desenvolvido pelo professor Mário Jorge da Motta Bastos; o da literatura latina e suas interfaces, desenvolvido pela professora Lívia Lindóia Paes Barreto, e o da hagiografia, gênero, identidade e institucionalizações, desenvolvido pela professora Carolina Fortes do Nascimento.

O mesmo desafio de trabalhar a análise histórica, considerando a relação entre diferentes dimensões, é encontrado nas pesquisas sobre a Rota da Seda. Aqui, é inevitável a transcendência da periodização tradicional da História (Antiga, Medieval, Moderna), bem como do espaço, pois o foco direciona-se do Oriente distante ao Mediterrâneo, passando pela África, mesmo que o objeto de estudo seja o intercâmbio intelectual, ou o comércio do marfim africano, ou as missões franciscanas no Oriente.8 8 Refiro-me, aqui, aos temas abordados na coletânea: MACEDO (Org.), 2011. Em 2002, em Porto Alegre, iniciou-se um grupo de estudos sobre as relações entre o Ocidente e o Oriente na Idade Média, sob iniciativas de estudantes do Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em 2004, o mesmo grupo expressou seu amadurecimento no projeto de pesquisa "Nos Caminhos da Rota da Seda: relações entre o Oriente e o Ocidente durante a Idade Média (V-XV)", coordenado pelo professor José Rivair Macedo. Em 2011, os resultados dos estudos materializaram-se no livro Viajantes medievais da Rota da Seda - século V-XV, o qual reúne as pesquisas de seus membros ao longo de quase 10 anos e de colaboradores externos ao grupo, como a professora Carmen Lícia Palazzo (Centro Universitário de Brasília, UniCEUB) e o professor André Bueno (Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Uerj) (Palazzo, 2011PALAZZO, Carmen Lícia. A Rota da Seda, caminho de mercadores e peregrinos. In: MACEDO, José R. (Org.) Os viajantes medievais da Rota da Seda: séculos V-XV. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2011. p.55-68.; Bueno, 2011BUENO, André. Chineses, romanos e o sistema mundial: os princípios da Rota da Seda. In: MACEDO, José R. (Org.) Os viajantes medievais da Rota da Seda: séculos V-XV. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2011. p.29-54.). Entre os muitos desafios institucionais, financeiros e metodológicos, destaca-se, aqui, a consciência da especial contribuição que a perspectiva de pesquisadores brasileiros pode oferecer à historiografia internacional, nas palavras de José Rivair Macedo:

Ao estudar os viajantes medievais da Rota da Seda, temos ciência de que ampliamos nosso próprio ângulo de visão em relação ao conhecimento produzido pelos pesquisadores europeus sobre o mesmo tema. Optamos por uma via diferente daquela carregada de etnocentrismo, que atribui aos "exploradores" e "aventureiros" cristãos medievais uma primazia nas viagens intercontinentais que não tiveram, observando o fenômeno das relações entre viajantes do Velho Mundo numa posição privilegiada: do Novo Mundo, até então desconhecido, podemos ver de longe e avaliar mais equidistante o papel dos viajantes dos três continentes (África, Europa e Ásia) no estabelecimento dos contatados. (Macedo, 2011______ (Org.) Os viajantes medievais da Rota da Seda: séculos V-XV. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2011., p.18)

Esta é uma perspectiva instigante para os estudos medievais no Brasil: utilizar de forma crítica e comparativa a bibliografia internacional, oferecendo novas abordagens para uma "descolonização da História", como coloca Rivair Macedo (2003)MACEDO, José R. Repensando a Idade Média no ensino de História. In: KARNAL, Leandro (Org.) História na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003. p.109-125.. Também está colocado o desafio aos centros de pesquisa europeus: escutar o que o "outro" tem a dizer sobre uma história que deve transcender sentimentos identitários nacionais e regionais.

Também em relação às dimensões temporais, as abordagens e os temas aqui apontados alinham-se com a perspectiva dos entrelaçamentos transculturais anunciada no Journal of Transcultural Medieval Studies. O editor do Journal, Matthias Tischler, salienta que a utilização de denominações como "Modernidade" e "Renascença" seria imprópria, pois demonstra o desdém e a desvalorização em relação ao Medievo. Essas são denominações legitimadas pelo ponto de vista europeu ocidental e pela ideia de um único caminho para o desenvolvimento. A Idade Média deve ser vista para além dos limites de 500 a 1500 d.C. e para muito além da Europa. O ritmo das trocas econômicas e culturais numa era pré-industrial deveria renovar nossa percepção dos problemas das múltiplas temporalidades, descontinuidade e fragmentação da História, e chamaria para uma nova ordem do tempo histórico: um tempo transcultural. Na relação tempo e espaço na História, pode-se acrescentar a reflexão sobre o espaço de memória como reunião e resultado do cruzamento do tempo e do espaço. Outra contribuição está nas perguntas referentes a uma história global (no sentido de inter-relacionada) na Idade Média, transcendendo a percepção teleológica da história (Tischler, 2014TISCHLER, Matthias M. Academic challenges in a changing world. Journal of Transcultural Medieval Studies, v.1, n.1, p.1-8, 2014., p.4).

Pode-se perceber nos exemplos citados que a dificuldade de tratar dimensões espaciais e temporais diferentes e os entrelaçamentos dessas em uma mesma pesquisa leva o pesquisador a utilizar dois processos metodológicos: a) no caso dos grupos de pesquisa, a construção de projetos integrados, nos quais a discussão em grupo faz a articulação de diferentes temas e focos de pesquisa, construindo uma unidade a partir da diversidade; b) no caso do pesquisador que trabalha individualmente, iniciar a análise em um ponto de intersecção, onde as diferentes dimensões podem ser observadas em sua formação e desdobramento, como nas obras e nos espaços de tradução medievais, bem como nas rotas de comércio e peregrinação e documentos de relações diplomáticas. De fato, ambos os processos podem ser desenvolvidos concomitantemente.

The Spatial Turn

O tempo, categoria orientadora das análises históricas, diferenciando-as em relação àquelas de outras disciplinas, só pode ser pensado mediante metáforas espaciais numa relação intrínseca entre espaço e tempo. Questões temporais e espaciais permanecem sempre interligadas, de forma que o poder metafórico de todas as imagens do tempo corresponde, inicialmente, a percepções espaciais, como coloca Reinhart Kosellek na obra Zeitschichten - Studien zur Historik (Kosellek, 2000______. Studien zur Historik. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2000., p.9; em port., 2014). Entretanto, a reflexão sobre o espaço na disciplina histórica parece ainda um desafio a ser superado frente à preponderante preocupação com o tempo. A spatial turn, "virada espacial", ocorrida a partir da década de 1970, tem oferecido às ciências humanas ferramentas riquíssimas para essa reflexão. A perspectiva do espaço social e seus derivados, como o espaço simbólico, foi recebida com grande entusiasmo por sociólogos e, principalmente, geógrafos, no entanto, timidamente pelos historiadores. A história desenvolveu adequadamente sua própria reflexão sobre tempo e espaço na direção à memória: o espaço ou lugar de memória (Le Goff, 2003______. História e memória. Campinas: Ed. Unicamp, 2003.; Nora, 1997NORA, Pierre. Lieux de mémoire. III Tome. Paris: Gallimard, 1997.). Com permissão para alegorias: Mnemosine tornou-se o ponto de convergência mais evidente entre tempo e espaço na perspectiva dos oficiantes de Clio. Essa direção da reflexão sobre o tempo e o espaço é extremamente coerente e pertinente, mas deve desenvolver-se ainda mais, com maior abertura para a interdisciplinaridade com a geografia, a sociologia e a filosofia.

A spatial turn surge da percepção de que as mudanças sociais não podem ser explicadas satisfatoriamente sem uma reconceituação das categorias relativas ao espaço. Nas ciências humanas, o espaço não deve ser visto como um "contêiner" ou uma realidade apriorística da natureza, mas necessita ser pensado e investigado como condição e resultado de processos sociais (Löw, 2013LÖW, Martina. Spatial Turn: para uma sociologia do espaço. Tempo Social- Revista de Sociologia da USP, v.25, n.2, p.17-34, 2013., p.17). Ao mesmo tempo em que cada espaço é construído e transformado a partir de ações, também é um agente nas relações e mudanças sociais. Essa percepção do espaço social teve seu desenvolvimento, principalmente, a partir da década de 1970 entre os filósofos e sociólogos da École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), como Jean-Claude Passeron, Pierre Bourdieu e Henri Lefebvre, desenvolvendo-se na geografia com os escritos de Davis Harvey e Milton Santos, geógrafo brasileiro internacionalmente reconhecido. A considerar que a reflexão sobre o espaço social seguiu diferentes direções, de acordo com a maneira com que cada disciplina se ocupou dela, existem particularidades em cada perspectiva que podem contribuir com os estudos da história medieval.

Por exemplo, o estudo da percepção e representação do espaço no mundo islâmico medieval desenvolvido na tese de doutorado de Beatriz Bissio e no livro (Bissio, 2013BISSIO, Beatriz. O mundo falava árabe: a civilização árabe-islâmica clássica através da obra de Ibn Khaldun e Ibn Battuta. 2.ed. Rio de Janeiro: Terceiro Mundo, 2013.) derivado da tese apresenta uma forma de como a "virada espacial" se expressa na pesquisa medieval no Brasil. A autora analisa obras de eruditos viajantes do século XIV, a Muqaddinah (Os prolegômenos da história universal) de Ibn Khaldun (1332-1406) e o livro de Ibn Battuta (1304-1368) traduzido no Ocidente sob o título Através do Islã, e explica que, pela importância que o espaço desempenhava na cultura árabe medieval, seria difícil não trabalhar esse aspecto no eixo de sua pesquisa (Bissio, 2013BISSIO, Beatriz. O mundo falava árabe: a civilização árabe-islâmica clássica através da obra de Ibn Khaldun e Ibn Battuta. 2.ed. Rio de Janeiro: Terceiro Mundo, 2013., p.14). O espaço social é percebido pela pesquisadora desta forma:

Admitindo-se que o espaço social é constituído por um conjunto de sistemas de relações, é possível analisar de que forma o espaço em que se desenvolveu a civilização árabe-islâmica contribuiu para moldar a sua história e como esse espaço foi moldado pelo devir desse conglomerado humano. E, se a língua e a escrita fazem parte do espaço social, é possível estudar a função que desempenharam no curso da história. E por ser o espaço interiorizado do dispositivo simbólico, conduzindo ao conceito de lugar e daí à noção de pertencimento, pesquisar de que forma no Islã clássico foi traçada a ideia de limite ajudará a compreender como era definida a linha divisória entre quem pertencia e quem não pertencia a esse espaço. (Bissio, 2013BISSIO, Beatriz. O mundo falava árabe: a civilização árabe-islâmica clássica através da obra de Ibn Khaldun e Ibn Battuta. 2.ed. Rio de Janeiro: Terceiro Mundo, 2013., p.25)

Para chegar a esse fundamento do conceito de espaço social, Bissio recorreu ao pensamento do filósofo Henri Lefebvre e ao do geógrafo Milton Santos. A autora lembra que na concepção de espaço social desenvolvida por Lefebvre não há apenas um espaço social, mas muitos. Ao mesmo tempo em que nenhum espaço desaparece no curso do crescimento e do desenvolvimento de outros espaços, por exemplo, o mundial não elimina o local, assim o espaço social tem sua forma definida pelo encontro ou simultaneidade de tudo aquilo que é produzido pela natureza e pela sociedade em cooperação ou através do conflito (Lefebvre, 1986LEFEBVRE, Henri. Production de l'espace. Paris: Antropos, 1986., cit. em Bissio, 2013BISSIO, Beatriz. O mundo falava árabe: a civilização árabe-islâmica clássica através da obra de Ibn Khaldun e Ibn Battuta. 2.ed. Rio de Janeiro: Terceiro Mundo, 2013., p.23). A importância da observação e análise da paisagem é salientada por Bissio, tomando como referência o trabalho de Milton Santos, pois as mudanças constantes da paisagem acompanhariam as transformações sociais (Santos, 2004SANTOS, Milton. Pensando o espaço do homem. São Paulo: Edusp, 2004., cit. em Bissio, 2013BISSIO, Beatriz. O mundo falava árabe: a civilização árabe-islâmica clássica através da obra de Ibn Khaldun e Ibn Battuta. 2.ed. Rio de Janeiro: Terceiro Mundo, 2013., p.24). Outras obras são utilizadas pela historiadora, como a do paleontólogo e pesquisador da pré-história André Leroi Gourhan, a do filósofo Gaston Bachelard, a do etnólogo francês Georges Condominas e do historiador Jacques Le Goff, entre outras, demonstrando o quanto pode ser rica a leitura interdisciplinar do objeto de pesquisa (Bachelard, 1972BACHELARD, Gaston. La poétique de l'espace. Paris: Presses Universitaires de France, 1972.; Condominas, 1984CONDOMINAS, Georges. Espaço social. In: ENCICLOPÉDIA EINAUDI, v.38 (Sociedade-Civilização). Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1984.; Le Goff, 1983LE GOFF, Jacques. Tiempo, trabajo y cultura en el Occidente Medieval: 18 ensayos.Madrid: Taurus, 1983.).

No entanto, a interdisciplinaridade ainda é um desafio institucional e teórico-metodológico para os estudos medievais no Brasil, como coloca Andréia Frazão da Silva:

O diálogo interdisciplinar também é importante para o conhecimento de topoi, conceitos filosóficos, gêneros literários, toponímia, contextos sociais específicos, etc., relacionados ao medievo, imprescindíveis para a análise dos testemunhos. Como examinar um texto filosófico ignorando seu local social e geográfico de produção? Como ler historicamente um poema, sem conhecer as regras literárias que o fundamentam? Como verificar a originalidade de um tratado teológico, sem estar familiarizado com os conceitos filosóficos e os topoi que foram usados em sua composição? (Silva, 2013SILVA, Andréia Cristina L. F. da. Os Estudos Medievais no Brasil e o diálogo interdisciplinar. Medievalis, v.1, p.1-15, 2013.)

Silva ainda relaciona a interdisciplinaridade à internacionalização em seu artigo sobre o diálogo interdisciplinar nos estudos medievais no Brasil, afirmando que para o reconhecimento internacional a interdisciplinaridade seria uma estratégia fundamental (Silva, 2013SILVA, Andréia Cristina L. F. da. Os Estudos Medievais no Brasil e o diálogo interdisciplinar. Medievalis, v.1, p.1-15, 2013., p.11). De fato, o diálogo interdisciplinar conduz o pesquisador à erudição necessária ao nosso ofício, ampliando os horizontes intelectuais no cenário internacional.

A interação entre tempo e espaço nos estudos medievais deixa de prefigurar o cenário ou o contexto histórico para ser percebida como elemento constituinte na formação de percepções, trocas e reconfigurações culturais. Nesse sentido, a própria percepção de História tem apresentado mudanças, como a observação da transculturalidade nos estudos sobre fronteiras, suas reconstruções sociais no tempo e no espaço, demonstrando, pelo olhar do pesquisador, o reflexo da virada espacial nas ciências humanas. Em consequência, essa experiência acaba por propiciar, por exemplo, a sensibilidade frente aos espaços religiosos e políticos em suas relações com a construção dos espaços de memória e conhecimento. Além de temas como as fronteiras medievais, pode-se citar também, entre os estudos mais recentes, aqueles referentes à relação entre centro e periferia, relações intercontinentais (África, Ásia e Europa), espaços de tradução, hierarquia e representação dos espaços sociais, relações inter e intrarreligiosas, migrações, espaço sagrado, rotas e formação de guetos das minorias, entre outros temas.9 9 Alguns exemplos: SILVEIRA, 2009; MACHADO, 2008.

VÖLKERWANDERUNG NO SÉCULO XXI? OU UM EXEMPLO DE DESAFIO PARA O POSICIONAMENTO ACADÊMICO

Völkerwanderung é uma expressão utilizada na historiografia alemã para descrever a migração dos povos germânicos para a região do antigo Império Romano, principalmente a partir do século V. Na historiografia tradicional francesa, da qual somos herdeiros, esse termo encontra seu equivalente na expressão "les invasions barbares", ou seja, invasões bárbaras. É importante lembrar que os conceitos possuem sua própria história (Kosellek, 2012a______. História dos Conceitos e História Social. In: ______. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Trad. Wilma Patrícia Mass e Carlo Almeida Pereira. 3.ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012a. p.98-118.), assim, a construção e a escolha dos termos Völkerwanderung e "invasões bárbaras" são politicamente datadas e serviram à legitimação dos respectivos Estados Nacionais alemão e francês, dividindo os estudos das instituições europeias entre germanistas, ou aqueles que defendiam que essas instituições seriam de origem germânica, e os romanistas, que defendiam a origem romana (Fabbro, 2004FABBRO. Eduardo. Poder e História: a nova história política da Idade Média. Em Tempo de Histórias, n.8, p.21-35, 2004., p.3). Acertadamente, a historiografia atual, tanto brasileira como internacional, já criticou, debateu e revisou essas expressões, dando-lhes outro sentido ou excluindo-as (Silva, 2008SILVA, Marcelo C. Alta Idade Média e dilemas nacionais europeus. In: ALMEIDA, Néri de B. (Org.) A Idade Média entre os séculos XIX e XX: estudos de historiografia. São Paulo: Ed. IFCH, 2008. v.1, p.11-32.; Geary, 2013GEARY, Patrick J. A Europa das Nações ou a Nação Europa: mitos de origem passados e presentes. Revista Lusófona de Estudos Culturais| Lusophone Journal of Cultural Studies, v.1, n.1, p.21-35, 2013.).

No entanto, as imagens das "invasões bárbaras" parecem ter retornado aos sonhos (ou pesadelos) das noites de verão de 2015 na Europa. Ao lado da compaixão ao ver crianças descalças nos braços de pais desesperados, um grande medo ou pânico se instaurou em diversos meios, quando as emissoras mostraram a multidão desprovida que se deslocava em direção às fronteiras da Europa.10 10 No entanto, não se divulga pela mídia em geral que, segundo dados de 2014 da UNHR, 8,3% dos refugiados tentam a migração para a Europa, enquanto 25% se direcionam para a África do Sul e 39,9% para o Grande Oriente Médio, no qual se inclui o Norte da África. Fonte: UNHCR - The UM Refugee Agency. Global Trends: Forced Displacement in 2014. Eis que a comparação com a Völkerwanderung e com as imagens da "selvageria" medieval tornou-se inevitável. No dia 1º de novembro de 2015, um artigo na seção econômica do jornal Frankfurt Allgemeine, um dos mais lidos na Alemanha, chama a atenção pelo inusitado título para a sessão proposta: Völkerwanderung: um termo faz carreira (Völkerwanderung: ein Begriff macht Karriere), do qual o primeiro parágrafo é traduzido aqui:

Um termo faz carreira e os especialistas quase o haviam esquecido. Ele se refere a um evento de cerca de 1.500 anos atrás, que, no entanto, ainda soa extremamente atual: Völkerwanderung. Quando centenas de milhares de refugiados colocam-se a caminho da Europa, esse paralelo parece estar bem próximo. Mais ainda, quando os mapas com rotas dos Bálcãs e outras regiões recordam aqueles gráficos com grandes setas que simbolizavam os movimentos dos germanos nos livros didáticos. Essa palavra também assusta. Muitas vezes, transmite um pânico conscientemente. Pois a histórica Völkerwanderung dos séculos IV e V d.C. não foi qualquer movimento migratório. Tratou-se de uma ruptura da civilização, talvez aquela com sequelas mais permanentes na história. Trata-se dos chamados "bárbaros" que, de acordo com a propagada história, invadiram o Império Romano e deram um fim à antiga Grande Civilização. Apenas mil anos mais tarde, durante o Renascimento, o Ocidente recupera-se do revés. Isso é o que muitos se lembram dos livros das aulas de História.11 11 Tradução da autora a partir deste trecho: "Ein Wort macht Karriere, das die Fachleute schon fast vergessen hatten. Es bezieht sich auf ein Ereignis vor rund 1500 Jahren, und doch klingt es höchst aktuell: Völkerwanderung. Wenn sich Hunderttausende von Flüchtlingen zu Fuß auf den Weg machen, dann scheint diese Parallele nahezuliegen. Das gilt umso mehr, als die Landkarten mit den Balkanund anderen Routen an jene Grafiken mit den großen Pfeilen erinnern, die in den Schulbüchern einst die Züge der Germanen symbolisierten. Das Wort macht auch Angst. Oft soll es genau diese Panik bewusst transportieren. Denn die historische Völkerwanderung des 4. und 5. nachchristlichen Jahrhunderts war nicht irgendeine Migrationsbewegung. Es geht um einen Zivilisationsbruch, vielleicht den am längsten nachwirkenden der Geschichte. Es geht um vermeintliche "Barbaren", die nach dem verbreiteten Geschichtsbild das Römische Weltreich überrannten und der antiken hochkultur den Garaus machten. Erst ein Jahrtausend später, in der Renaissance, erholte sich das Abendland wieder von dem Rückschlag. So haben es jedenfalls viele aus dem Geschichtsunterricht in Erinnerung" (BOLLMANN, 2015, p.1-2).

O referido artigo compara na escala 1:1 o movimento migratório atual com a migração dos povos germânicos, utilizando essa comparação como fundamentação para sua crítica à política da chanceler alemã Angela Merkel em receber os refugiados e pressionar outros países da Europa a fazer o mesmo. Por fim, mediante essa comparação, Bollmann faz sua previsão para o futuro, a qual seria a volta à monotonia medieval: "a vida em cada cidade tornou-se mais monótona e desapareceu o colorido dos modos de vida" (Bollmann, 2015BOLLMANN, Ralph. Die Völkerwanderung: eine Begriff macht Karriere. Frankfurter Allgemeine- Wirtschaft - 1 Nov. 2015, p.1-13. Disponível em: http://www.faz.net/aktuell/wirtschaft/wirtschaftspolitik/die-voelkerwanderung-ein-begriff-macht-karriere-13874687.html.
http://www.faz.net/aktuell/wirtschaft/wi...
, p.10). O que deveria fazer um medievalista diante de tal artigo? Michael Borgolte, professor de História Medieval da Faculdade de Filosofia da Universidade Humboldt de Berlim, escreveu uma carta do leitor12 12 Borgolte refere-se a outro artigo do Frankfurter Allgemeine do dia 31 de outubro de 2015 na sessão "Politik", escrito por Jochen Buchsteiner (BUCHSTEINER, 2015, p.10). em resposta às elucubrações desse gênero:

Imagens das "Invasões Bárbaras" ou da Völkerwanderung conduzem-nos, com certeza, a uma compreensão errônea do presente. Entre os séculos IV e VI não há povos invadindo o Império Romano Ocidental, mas grupos etnicamente heterogêneos que aprenderam, sob a influência de modelos romanos, a se organizarem politicamente na região do Império sob monarquias estáveis. Se for aconselhável aprender alguma lição para a história de hoje, seria esta: que rebus sic stantibus, tudo depende de como integrar os recém-chegados em nossa sociedade, para que eles não formem diásporas, não recuem em guetos e, certamente, não se organizem politicamente de forma excludente. Nesse caso, poderia realmente acontecer uma ameaça às relações, a qual Buchsteiner e muitos outros temem. A integração do "outro" ou até mesmo do "estranho", no entanto, só será bem-sucedida se nós, da sociedade que os acolhe, formos abertos e dispostos a mudar a nossa cultura. Tal inovação cultural nada tem a ver com a queda do Ocidente.13 13 Tradução da autora a partir deste trecho: "Bilder von der "Invasion der Barbaren" oder der "Völkerwanderung" führen jedenfalls beim Verständnis der Gegenwart in die Irre. Zwischen dem 4. und 6. Jahrhundert drangen gar keine Völker ins weströmische Reich ein, sondern ethnisch heterogene Gruppen lernten allenfalls unter dem Eindruck römischer Vorbilder, sich auf Reichsboden unter einem stabilen Königtum politisch zu organisieren. Wenn sich heute etwas aus der Geschichte zu lernen empfiehlt, dann ist es dies: dass rebus sic stantibus alles darauf ankäme, die Neuankömmlinge in unserer Gesellschaft so zu integrieren, dass sie keine Diasporagemeinschaften bilden, sich nicht in Wohnghettos zurückziehen und erst recht nicht politisch exklusiv organisieren. Dann nämlich droht wirklich ein Umsturz der Verhältnisse, den Buchsteiner und viele andere so fürchten. Integration der "Anderen" oder gar der "Fremden" wird allerdings nur dann erfolgreich sein, wenn sich auch wir, die Aufnahmegesellschaft, öffnen und zum Wandel unserer Kultur bereit sind. Mit einem Untergang des Abendlandes hat eine solche kulturelle Innovation nichts zu tun" (BORGOLTE, 2015, p.38).

Michael Borgolte escreve essa resposta da perspectiva de quem coordenou diversos grupos de pesquisa interdisciplinares e interinstitucionais com financiamento tanto do governo alemão como da União Europeia, abordando temas que evidenciam as trocas culturais na Idade Média para além das fronteiras europeias, como migrações e diálogos inter-religiosos. A proposta de como poderia ser feita a integração do "outro" na sociedade mundial atual surge, assim, não só dos estudos sobre a Idade Média, mas da diversidade que marca seus grupos de pesquisa. Este é um exemplo de posicionamento acadêmico com legitimidade intelectual que contribui para o esclarecimento de um termo histórico, o qual é levianamente utilizado em discursos hierarquizantes, excludentes e muito atuais.

No Brasil, não faltam exemplos de pronunciamentos equivocados, principalmente proferidos por políticos, que utilizam levianamente referências à história, à guisa de legitimarem a exclusão e a hierarquia social entre "os homens de bem" e a "escória do mundo".14 14 Refiro-me ao pronunciamento do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) ao jornal Opção de Goiânia, publicado em 18 set. 2015, ed. 2097, por Frederico Vitor: "Não sei qual é a adesão dos comandantes, mas, caso venham reduzir o efetivo (das Forças Armadas) é menos gente nas ruas para fazer frente aos marginais do MST, dos haitianos, senegaleses, bolivianos e tudo que é escória do mundo que, agora, está chegando os sírios também. A escória do mundo está chegando ao Brasil como nós não tivéssemos problema demais para resolver" (Dep. Jair Bolsonaro). Disponível em: http://www.jornalopcao.com.br/ultimas-noticias/bolsonaro-ve-imigrantes-como-ameaca-e-chama-refugiados-de-a-escoria-do-mundo-46043/; Acesso em: 18 dez. 2015. Qual a resposta que a academia brasileira dá a esses pronunciamentos? Poderíamos excluir completamente a possibilidade de esses absurdos se tornarem uma triste realidade cada vez mais recorrente?

Aqui está colocado o último desafio a ser elencado neste artigo: o papel da divulgação do conhecimento histórico e o posicionamento acadêmico perante a própria realidade social e política do historiador. Um desafio adequado ao medievalista por seu olhar temporalmente abrangente do passado. Não se trata de encontrar prognósticos e soluções no passado para as expectativas do futuro, exatamente o contrário, trata-se de esclarecer que o passado explica, porém, não legitima qualquer decisão ou atitude no presente. E, mais ainda, que a velha escrita da história foi substituída por análises mais rigorosas e críticas.

EXPERIÊNCIAS, EXPECTATIVAS E AÇÕES

Tempo, espaço e pessoa incidem diretamente no movimento e na própria escrita da História. Da mesma forma que essa tríade está sempre presente na obra do historiador (Kosellek, 2012______ Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Trad. Wilma Patrícia Mass e Carlo Almeida Pereira. 3.ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012., p.161), também é parte constituinte de nossas percepções, experiências, ações e expectativas. Kosellek, influenciado pelo pensamento de Heidegger,15 15 Observa-se a maior influência de Heidegger nas seguintes obras: KOSELLEK, 2000, p.9 (em português: KOSELLEK, 2014) e KOSELLEK, 2012. Obra de Heidegger que influenciou muitos autores modernos e pós-modernos: HEIDEGGER, 2006, p.335; foi publicada em português pela Ed. Vozes: HEIDEGGER, 2005. ressalta a relação tempo, espaço e ser na constituição das temporalidades, sendo o ser ou a pessoa o elemento referencial da percepção e da experiência tempo/espaço. Isso significa que, assim como as ações humanas constituem o objeto final da pesquisa histórica - ações humanas no tempo e no espaço -, da mesma forma, as experiências, expectativas e o posicionamento do historiador moldam o ponto de referência para análise das fontes e escolha das ferramentas teórico-metodológicas. É por isso que as questões e as análises históricas feitas atualmente não puderam ser pensadas 50 anos atrás. Questões como as apresentadas neste artigo sobre as relações entre o Oriente e o Ocidente, fronteiras e identidades, migrações na Idade Média, trocas culturais, diálogos inter-religiosos e construção dos espaços sociais são algumas das perspectivas temáticas possíveis aos estudos medievais no Brasil, que nos aproximam dos centros de pesquisas e movimentos internacionais, pois são formadas a partir da experiência comum em um mundo interligado pelos mais variados tipos de redes. E, se por um lado, esse mundo é planificado pela comunicação, paradoxalmente, é também hierarquizado pelas performances identitárias.

As expectativas e os desafios expostos neste artigo são constituídos a partir dos desdobramentos de experiências da Medievalística em um contexto de discussões internacionais sobre relações culturais e políticas e espaço social. Na transperspectiva desses tópicos, encontra-se a possibilidade de desconstruir interpretações hegemônicas de sociedades, enfatizando-se a importância da assimetria entre seus diversos elementos sob a consideração de referenciais multifacetados, sem que haja uma hierarquização valorativa e excludente nas análises. Experiências e expectativas são tratadas por Kosellek como categorias meta-históricas, pois todas as histórias foram construídas pelas experiências vividas e pelas expectativas das pessoas. Ambas são categorias com alto grau de generalidade, no entanto, seus usos seriam absolutamente necessários, pois indicam a condição humana universal, sem a qual a história não seria possível, ou sequer poderia ser imaginada (Kosellek, 2012______ Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Trad. Wilma Patrícia Mass e Carlo Almeida Pereira. 3.ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012., p.305-327).

Experiência e expectativa geram a ação, o movimento para vislumbrar e enfrentar desafios. A considerar essa relação, o desafio intelectual e institucional da ação de internacionalização de nossos trabalhos recebe novas instigações a partir da consciência da importância de nossa percepção crítica frente à História Medieval escrita por europeus. Por meio do trabalho conjunto, devemos apresentar-lhes o olhar do "outro". Assim, também trabalharemos para uma "descolonização" da Idade Média, como apresenta Rivair Macedo. A interdisciplinaridade também consiste em uma importante estratégia na via da internacionalização, bem como o aumento das publicações no idioma inglês, ambos a fomentar a divulgação e o diálogo mundial.

O trabalho e a promoção da interdisciplinaridade nos grupos de pesquisa sobre o Medievo encontram barreiras na dificuldade de comunicação entre disciplinas, nas quais as categorias de análise são muito diversificadas, bem como na burocracia departamental de nossas universidades. Porém, o diálogo interdisciplinar é necessário, tanto pela via teórico-metodológica, como pela via da análise de fontes materiais, literárias, iconográficas e documentais em geral na compreensão de um passado muito distante. Essa interdisciplinaridade foi proclamada há décadas, mas são poucos os trabalhos de História Medieval que a realizam no Brasil. Um exemplo de pesquisa bem-sucedida é o trabalho desenvolvido por Bissio e a perspectiva do espaço social operacionalizada nele.

No mesmo sentido da importância de "descolonizar" a História, está o desafio do posicionamento acadêmico frente aos usos levianos da História, essas são instigações que, também por sua importância moral, não podem ser ignoradas. O posicionamento do historiador pode ser muito sutil, observável nas escolhas metodológicas e na interpretação, porém, é parte indispensável na construção do conhecimento histórico. O posicionamento acadêmico não é o mesmo que partidarismo ou opinião partidária. É um resultado importante de décadas de estudos e experiências, o qual concede legitimidade a nossas palavras, trazendo consigo também o peso da responsabilidade social, muitas vezes abnegada em nome da ingênua imparcialidade acadêmica.

Ninguém discordará que as demandas institucionais, sociais e intelectuais são inúmeras, e que o peso da responsabilidade sobre essas demandas tanto pode motivar nossos trabalhos, como desestimular nossas ações. Porém, se não construirmos continuamente o nosso espaço no desenvolvimento da compreensão histórica, se não nos utilizarmos dos meios de divulgação de conhecimento e informação, inviabilizaremos as continuidades e transformações da história escrita por medievalistas no Brasil. É necessária a consciência de que, como se demonstrou neste artigo, os trabalhos desenvolvidos na área da História Medieval no Brasil têm muito a oferecer às reflexões históricas contemporâneas e possuem plenas condições para enfrentar todos os desafios aqui elencados, como os exemplos apresentados evidenciaram.

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    Referências dos Grupos de Pesquisa que se ocupam da temática medieval registrados no Diretório de Grupos de Pesquisa do Brasil/CNPq podem ser acessadas na página: http://dgp.cnpq.br/dgp/faces/consulta/consulta_parametrizada.jsf; Acesso em: 8 mar. 2016.
  • 3
    Alguns levantamentos e análises das pesquisas desenvolvidas na Área de História Medieval podem ser encontrados na seguintes obras: ASFORA; AUBERT; CASTANHO, 2008ASFORA, Wanessa C.; AUBERT, Eduardo H. A.; CASTANHO, Gabriel de C. G. Faire l'Histoire du Moyen Age au Brésil: fondements, structures, développements. Bulletin du centre d'études médiévales d'Auxerre (BUCEMA), v.12, p.1-13, 2008. Disponível em: http://cem.revues.org/6602.
    http://cem.revues.org/6602...
    ; ALMEIDA, 2013ALMEIDA, Néri de B. A História medieval no Brasil. Revista Signum, v.14, n.1, 2013.; ALMEIDA, 2008_______. La formation des médiévistes dans le Brésil contemporain: bilans et perspectives (1985-2007). Bulletin du centre d'études médiévales d'Auxerre (BUCEMA), v.12, p.1-11, 2008. Disponível em: http://cem.revues.org/6652.
    http://cem.revues.org/6652...
    ; AMARAL, 2011AMARAL, Ronaldo. O medievalismo no Brasil. História Unisinos, São Leopoldo, v.15, n.3, p.446-452, set./dez. 2011.; BASTOS; FRANCO JUNIOR, 2003BASTOS, Mário J. da M.; FRANCO JUNIOR, Hilário. L'histoire du Moyen Âge au Brésil, Études et Travaux. Bulletin du Centre d'Études Médiévales d'Auxerre, v.7, p.125-131, 2003.; COELHO, 2006COELHO, Maria Filomena. Breves reflexões acerca da História Medieval no Brasil. In: SILVA, Andréia C. L. F. da; SILVA, Leila R. (Org.) Atas da Semana de Estudos Medievais. Rio de Janeiro: Programa de Estudos Medievais, 2006. p.29-33.; DE BONI, 2011DE BONI, Luis A. O Ofício do Medievalista na Filosofia. In: BOVO, Cláudia R.; RUST, Leandro D.; CRUZ, Marcus S. da (Org.) AtasIXEncontro Internacional de Estudos Medievais- ABREM (2011). Cuiabá: ABREM, 2011. p.46-54.; MUNIZ, 2009MUNIZ, M. R. C. Os estudos de literatura medieval no Brasil. Aedos- Revista do Corpo Discente do Programa de Pós-Graduação em História da UFRGS, Porto Alegre, v.2, p.203-212, 2009.; NOGUEIRA, 2002NOGUEIRA, C. R. Os estudos medievais no Brasil de hoje. Medievalismo, Madrid, n.12, p.291-297, 2002.; PEDRERO-SÁNCHEZ, 1994PEDRERO-SÁNCHEZ, M. G. Los estudios medievales en Brasil. Medievalismo, Madrid, v.4, n.4, p.223-228, 1994.; RIBEIRO, 2001RIBEIRO, M. E. de B. Os estudos medievais no Distrito Federal. In: MALEVAL, M. A. T. (Org.) Atas do III Encontro Internacional de Estudos Medievais (1999). Rio de Janeiro: Ágora da Ilha, 2001. p.155-158., p.155-158; RUST; BASTOS, 2008RUST, Leandro D.; BASTOS, Mário J. da M. Translatio Studii. A História medieval no Brasil. Signum, São Paulo, n.10, p.163-188, 2008.; SILVA; SILVA, 2007______; SILVA, Leila R. Os Estudos Medievais no Brasil e a Internet: uma análise do uso dos recursos virtuais na produção medievalista (1995 a 2006). História, Imagens e Narrativas, ano 2, v.4, abr. 2007. Disponível em: http://www.historiaimagem.com.br/edicao4abril2007/medievinternet.pdf; Acesso em: jan. 2016.
    http://www.historiaimagem.com.br/edicao4...
    ; SILVA, 2012______. A Península Ibérica medieval no Programa de Estudos Medievais de UFRJ.Revista Diálogos Mediterrânicos, n.2, p.79-96, maio 2012..
  • 4
    Esse programa foi financiado pela Sociedade Alemã de Pesquisa (Deutsche Forschungsgemeinschaft - DFG) e reuniu especialistas da História, da Filologia, da Linguística, da Orientalística, da História da Arte, da Arqueologia, da Judaística (Judaistik), da Bizantinística (Byzantinistik), da Arabística (Arabistik) e da Omanística (Omanistik). A proposta do programa consistiu em desenvolver com maior amplitude de perspectiva temas como trocas culturais, identidades, fronteiras e diversidades na Idade Média. Os cientistas envolvidos consideraram seu trabalho um laboratório, do qual o campo de experimento seria muito abrangente (abrangeria tanto o espaço medieval ocidental como oriental, o mundo judaico e islâmico e as relações inter e intraculturais). Por esse motivo, desenvolveram métodos para lidarem com as próprias diversidades de disciplinas e temáticas. Valendo-se do espaço on-line, o programa de trabalho foi dividido, primeiramente, em três fóruns temáticos e interdisciplinares, os quais deram origem à publicação Mittelalter im Labor (2008). Ver http://www.spp1173.uni-hd.de/index.html.
  • 5
    Entre outros trabalhos refiro-me aqui às pesquisas desenvolvidas em: Programa de Estudos Medievais (PEM, http://www.pem.historia.ufrj.br/); Laboratório de Estudos Medievais (LEME, www.usp.br/leme); Laboratório de Estudos da Antiguidade e do Medievo (Vivarium, www.vivariumhist.com); Núcleo Dimensões do Medievo, Língua e Filosofia (Translatio Studii, www.historia.uff.br/dimensoes); Núcleo Interdisciplinar de Estudos Medievais (Meridianum, www.meridianum.ufsc.br).
  • 6
    Nos escritos medievais ocidentais a translatio studiorum pertenceria ao movimento da translatio imperii, termo utilizado para designar a transferência da potentia e sapientia do Oriente ao Ocidente, do Egito, Atenas e Roma a Paris. Otto von Freising estabelece essa relação já no prólogo de sua obra Historia de duabus civitatibus (1157); ver: FREISING, 1960FREISING, Otto von. Chronik oder die Geschichte der Zwei Staaten. Berlin: Rütten & Loening, 1960., p.12-14. No mundo muçulmano, seria o filósofo al-Farabī (século IX) que faria esse tipo de referência ao pensamento filosófico relacionando Atenas a Bagdá, passando antes por Antioquia, Harran e Merv.
  • 7
    Outros estudos sobre o tema: BERTOMEU, 2013BERTOMEU, Fabio Vélez. Translatio studiorum: breve historia de la transmisión de los saberes. Mutatis Mutandis, v.6, n.1, p.126-138, 2013.; KNAUTH, no preloKNAUTH, K. Alfons (Ed.) Translatio Studii and Cross-Culural Movements or Weltverkehr. Comparative Literature: Sharing Knowledges for Preserving Cultural Diversity - vol. II. (Im druck).; SENKO, 2014SENKO, Elaine C. Afonso X, o Sábio (1221-1284) e a recepção da translatio studiorum na Idade Média viva. Revista Litteris, n.14, p.238-251, set. 2014.; SGARDI, 2012SGARDI. Marco (Ed.) Translatio Studiorum. Ancient, Medieval and Modern Bearers of Intellectual History. Leiben (Nederland); Boston: Brill, 2012. (Brill' Studies in Intellectual History, v.27).; APPETITI, 2013APPETITI, Emanuela. Translatio Studiorum in the activity of the institute for the preservation of medical traditions. Medievalia, v.16, p.13-21, 2013..
  • 8
    Refiro-me, aqui, aos temas abordados na coletânea: MACEDO (Org.), 2011______ (Org.) Os viajantes medievais da Rota da Seda: séculos V-XV. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2011..
  • 9
    Alguns exemplos: SILVEIRA, 2009SILVEIRA, Aline D. da. Europeização e/ou Africanização da Espanha Medieval: diversidade e unidade cultural europeia em debate. Revista História (Unesp), São Paulo, v.28, n.2, p.645-657, 2009.; MACHADO, 2008MACHADO, Cristina de A. O Tetrabiblos na História: um percurso de traduções da obra astrológica de Ptolomeu. Tradução em Revista, Rio de Janeiro: Maxwell; PUC/ RJ, n.5, p.1-22, 2008..
  • 10
    No entanto, não se divulga pela mídia em geral que, segundo dados de 2014 da UNHR, 8,3% dos refugiados tentam a migração para a Europa, enquanto 25% se direcionam para a África do Sul e 39,9% para o Grande Oriente Médio, no qual se inclui o Norte da África. Fonte: UNHCR - The UM Refugee Agency. Global Trends: Forced Displacement in 2014.
  • 11
    Tradução da autora a partir deste trecho: "Ein Wort macht Karriere, das die Fachleute schon fast vergessen hatten. Es bezieht sich auf ein Ereignis vor rund 1500 Jahren, und doch klingt es höchst aktuell: Völkerwanderung. Wenn sich Hunderttausende von Flüchtlingen zu Fuß auf den Weg machen, dann scheint diese Parallele nahezuliegen. Das gilt umso mehr, als die Landkarten mit den Balkanund anderen Routen an jene Grafiken mit den großen Pfeilen erinnern, die in den Schulbüchern einst die Züge der Germanen symbolisierten. Das Wort macht auch Angst. Oft soll es genau diese Panik bewusst transportieren. Denn die historische Völkerwanderung des 4. und 5. nachchristlichen Jahrhunderts war nicht irgendeine Migrationsbewegung. Es geht um einen Zivilisationsbruch, vielleicht den am längsten nachwirkenden der Geschichte. Es geht um vermeintliche "Barbaren", die nach dem verbreiteten Geschichtsbild das Römische Weltreich überrannten und der antiken hochkultur den Garaus machten. Erst ein Jahrtausend später, in der Renaissance, erholte sich das Abendland wieder von dem Rückschlag. So haben es jedenfalls viele aus dem Geschichtsunterricht in Erinnerung" (BOLLMANN, 2015BOLLMANN, Ralph. Die Völkerwanderung: eine Begriff macht Karriere. Frankfurter Allgemeine- Wirtschaft - 1 Nov. 2015, p.1-13. Disponível em: http://www.faz.net/aktuell/wirtschaft/wirtschaftspolitik/die-voelkerwanderung-ein-begriff-macht-karriere-13874687.html.
    http://www.faz.net/aktuell/wirtschaft/wi...
    , p.1-2).
  • 12
    Borgolte refere-se a outro artigo do Frankfurter Allgemeine do dia 31 de outubro de 2015 na sessão "Politik", escrito por Jochen Buchsteiner (BUCHSTEINER, 2015BUCHSTEINER, Jochen. Wer früh kommt: Angela Merkels Flüchtlingspolitik nimmt das Ende des Westens. Frankfurer Allgemeine, Politik, 31 Okt. 2015, p.10., p.10).
  • 13
    Tradução da autora a partir deste trecho: "Bilder von der "Invasion der Barbaren" oder der "Völkerwanderung" führen jedenfalls beim Verständnis der Gegenwart in die Irre. Zwischen dem 4. und 6. Jahrhundert drangen gar keine Völker ins weströmische Reich ein, sondern ethnisch heterogene Gruppen lernten allenfalls unter dem Eindruck römischer Vorbilder, sich auf Reichsboden unter einem stabilen Königtum politisch zu organisieren. Wenn sich heute etwas aus der Geschichte zu lernen empfiehlt, dann ist es dies: dass rebus sic stantibus alles darauf ankäme, die Neuankömmlinge in unserer Gesellschaft so zu integrieren, dass sie keine Diasporagemeinschaften bilden, sich nicht in Wohnghettos zurückziehen und erst recht nicht politisch exklusiv organisieren. Dann nämlich droht wirklich ein Umsturz der Verhältnisse, den Buchsteiner und viele andere so fürchten. Integration der "Anderen" oder gar der "Fremden" wird allerdings nur dann erfolgreich sein, wenn sich auch wir, die Aufnahmegesellschaft, öffnen und zum Wandel unserer Kultur bereit sind. Mit einem Untergang des Abendlandes hat eine solche kulturelle Innovation nichts zu tun" (BORGOLTE, 2015BORGOLTE, Michael. Kein Untergang, sondern kulturelle Innovation. Frankfurter Allgemeine, Leserbrif, 5. Nov. 2015., p.38).
  • 14
    Refiro-me ao pronunciamento do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) ao jornal Opção de Goiânia, publicado em 18 set. 2015, ed. 2097, por Frederico Vitor: "Não sei qual é a adesão dos comandantes, mas, caso venham reduzir o efetivo (das Forças Armadas) é menos gente nas ruas para fazer frente aos marginais do MST, dos haitianos, senegaleses, bolivianos e tudo que é escória do mundo que, agora, está chegando os sírios também. A escória do mundo está chegando ao Brasil como nós não tivéssemos problema demais para resolver" (Dep. Jair Bolsonaro). Disponível em: http://www.jornalopcao.com.br/ultimas-noticias/bolsonaro-ve-imigrantes-como-ameaca-e-chama-refugiados-de-a-escoria-do-mundo-46043/; Acesso em: 18 dez. 2015.
  • 15
    Observa-se a maior influência de Heidegger nas seguintes obras: KOSELLEK, 2000______. Studien zur Historik. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2000., p.9 (em português: KOSELLEK, 2014KOSELLEK, Reinhart. Estratos do tempo: estudos sobre a História. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.) e KOSELLEK, 2012______ Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Trad. Wilma Patrícia Mass e Carlo Almeida Pereira. 3.ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.. Obra de Heidegger que influenciou muitos autores modernos e pós-modernos: HEIDEGGER, 2006HEIDEGGER, Martin. Sein und Zeit. Tübingen: Max Niemeyer, 2006., p.335; foi publicada em português pela Ed. Vozes: HEIDEGGER, 2005______ Ser e tempo. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. 13.ed. Petrópolis: Vozes, 2005..

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Set 2016
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2016

Histórico

  • Recebido
    20 Jan 2016
  • Aceito
    25 Fev 2016
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