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Cartas de imigrantes como fonte para o historiador: Rio de Janeiro Turíngia (1852-1853)

Resumos

O artigo apresenta nove cartas de imigrantes alemães residentes nas fazendas de café do Rio de Janeiro. Foram publicadas em 1852/53 nos jornais de Günther Fröbel, em Rudolstadt, com o intuito de incentivar a emigração para as fazendas de café fluminenses que haviam adotado o sistema de parceria em substituição ao sistema de trabalho escravo. Além de desempenharem a função de incentivo à emigração, construíram uma imagem do Brasil especificamente para imigrantes.

imigração; sistema de parceria; cartas


This article presents nine letters of German immigrants living in coffee-plantations in the state of Rio de Janeiro. They were published in 1852/53 in Günther Fröbel's newspapers in Rudolstadt. The intention was to encourage an emigration to the fluminense coffee-plantation, which had adopted a "parceria system" instead of slavery. Besides playing a part in the promotion of the emigration they built specific images of Brazil for immigrants.

immigration; parceria system; letters


DOSSIÊ

Cartas de imigrantes como fonte para o historiador: Rio de Janeiro ­ Turíngia (1852-1853)

Débora Bendocchi Alves

Instituto de História Ibérica e Latinoamericana Universidade de Colônia

RESUMO

O artigo apresenta nove cartas de imigrantes alemães residentes nas fazendas de café do Rio de Janeiro. Foram publicadas em 1852/53 nos jornais de Günther Fröbel, em Rudolstadt, com o intuito de incentivar a emigração para as fazendas de café fluminenses que haviam adotado o sistema de parceria em substituição ao sistema de trabalho escravo. Além de desempenharem a função de incentivo à emigração, construíram uma imagem do Brasil especificamente para imigrantes.

Palavras-chave: imigração; sistema de parceria; cartas.

ABSTRACT

This article presents nine letters of German immigrants living in coffee-plantations in the state of Rio de Janeiro. They were published in 1852/53 in Günther Fröbel's newspapers in Rudolstadt. The intention was to encourage an emigration to the fluminense coffee-plantation, which had adopted a "parceria system" instead of slavery. Besides playing a part in the promotion of the emigration they built specific images of Brazil for immigrants.

Keywords: immigration; parceria system; letters.

Como exemplo de colônia de parceria sempre vemos citadas as fazendas de café de São Paulo e, dentre elas, Ibicaba, pertencente ao senador Vergueiro. Vários trabalhos foram e são publicados, tanto no Brasil quanto na Europa, sobre a experiência feita principalmente com imigrantes suíços e alemães sob o regime de parceria, como tentativa de suprir o trabalho escravo ameaçado de extinção em meados do século XIX1 1 HOLANDA, Sérgio Buarque: As colônias de parceria. In HOLANDA, S. B. (org.): História Geral da Civilização Brasileira, Tomo II, vol. 3. São Paulo/Rio de Janeiro: DIFEL, 1976, pp. 245-261. COSTA, Emilia Viotti da: Da Colônia à Senzala. São Paulo: Ed. Ciências Humanas, 1982. Witter, J. S.: Um estabelecimento agrícola da província de São Paulo nos meados do século XIX. São Paulo, 1974. Revista de História n° 50. ZIEGLER, Béatrice : Schweizer statt Sklaven. Schweizerische Auswanderer in den Kaffee-Plantagen von São Paulo (1852-1866). Stuttgart: Steiner-Verlag-Wiesbaden, 1985. WAGNER, Reinhardt : Deutsche als Ersatz für Sklaven. Arbeitsmigranten aus Deutschland in der brasilianischen Provinz São Paulo 1847-1914. Frankfurt/M, 1995. DEAN, Warren: Rio Claro: um sistema brasileiro de grande lavoura (1820-1920). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. HALL, Michael: The origins of mass immigration in Brazil, 1871-1914. Washington, tese de doutoramento, Columbia University, 1969. . Isso se deve não somente à tentativa pioneira no Brasil empreendida pela Firma Vergueiro a partir de 1847 e do modelo que se tornou em meados dos anos 1850 a fazenda Ibicaba, mas também à obra de Thomas Davatz, mestre-escola da fazenda, publicada na Suíça, relatando as queixas dos imigrantes em relação ao sistema de parceria e as razões que levaram os colonos a se revoltarem contra as condições em que viviam2 2 DAVATZ, Thomas: Die Behandlung der Kolonisten in der Provinz St. Paul in Brasilien und deren Erhebung gegen ihre Bedrucker. Chur, Druck von Leon Hitz, 1858. ( Memórias de um Colono no Brasil:1850. Tradução, prefácio e notas de Sérgio Buarque de Holanda. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1980). . O levante dos colonos suíços ocorreu em fins de 1856 e início de 1857 e, com sua divulgação na Suíça e nos Estados alemães através do livro de Davatz e de vários artigos publicados em periódicos, este sistema passou a ser totalmente condenado pela opinião pública européia. Em 1858 o governo da Prússia, através do Rescrito von der Hydt, proibiu em seu território a propaganda e a atividade dos agentes ligados à emigração para o Brasil. O exemplo foi seguido mais tarde por outros Estados. No Brasil o chamado levante, que não chegou a se concretizar, mobilizou tropas imperiais e fez com que as insatisfações, tanto do lado dos imigrantes quanto do lado de outros fazendeiros que também tinham parceiros em suas fazendas, acabasse levando a uma mudança gradativa daquele sistema de trabalho. Aos poucos os fazendeiros foram abandonando o sistema de parceria e substituindo-o pela locação de serviço e mesmo pelo trabalho assalariado3 3 LAMOUNIER, Maria L.: Da escravidão ao trabalho livre. (A lei de locação de serviços de 1879). São Paulo: Papirus, 1988. p. 56. . Apesar de todas as críticas feitas a este sistema, sua importância para a introdução de mão-de-obra livre na lavoura de café é indiscutível.

Menos conhecidas, ou talvez menos divulgadas são as poucas fazendas de café fluminenses que, seguindo o modelo do senador Vergueiro, também adotaram o sistema de parceria como forma de trabalho livre, contratando colonos alemães para isso.

Durante as minhas pesquisas em arquivos alemães sobre a emigração para o Brasil no decorrer do século XIX, deparei-me com diversas cartas de imigrantes estabelecidos no Brasil que foram publicadas nos jornais da cidade de Rudolstadt. Dentre estas, encontrei nove cartas de emigrantes provenientes desta região que foram para as fazendas de café do Rio de Janeiro. São cartas dos anos 1852 e 53 que aparecerem nos folhetos "Fliegende Blätter für Auswanderer" ("Folhetos para Emigrantes") e no "Beilage des Rudolstädter Wochenblattes" ("Suplemento do Semanário de Rudolstadt"), ambos publicados por Günther Fröbel em Rudolstadt, na Turíngia.

Günther Fröbel (1811-1878) herdou de seu pai em 1835 a Gráfica e Editora "Löwesche" em Rudolstadt, que desde 1769 publicava o jornal "Rudolstädter Wochenblatt", um dos mais importantes da região de Schwarzburg-Rudolstadt. Em 1845 Fröbel abriu uma agência de emigração na cidade, e em 1846/47 fundou o jornal "Allgemeine Auswanderungs-Zeitung" ("Jornal Geral de Emigração" — 1846-1871) que em breve se tornaria, juntamente com a "Deutsche Auswanderer-Zeitung" de Bremen ("Jornal Alemão de Emigração" — 1852-1875), o jornal especializado em emigração mais importante da Alemanha no decorrer do século XIX. Com a fundação da "Allgemeine Auswandrungs-Zeitung", Fröbel pretendia preencher uma lacuna no mercado já que, como escreveu, não havia um periódico destinado a informar e orientar os emigrantes. No primeiro exemplar, publicado no dia 29 de setembro de 1846, o redator esclarecia quais eram os objetivos deste jornal. Segundo ele, havia à disposição dos emigrantes livros de viagem, guias e outras publicações especializadas no tema. Mas o grande problema, a seu ver, era que as informações contidas nessas publicações envelheciam rapidamente. O emigrante necessitava de informações e datas recentes fornecidas por um orgão imparcial e confiável e, para isto, Fröbel contava com o auxílio de homens que conheciam profundamente os países de destino dos alemães como, por exemplo, em relação ao Brasil, Hermann Blumenau, Friedrich Gerstäcker e Fritz Müller. O editor deixava claro que o jornal não pretendia incentivar a emigração, mas sim ajudar e orientar os seus compatriotas que já haviam tomado tal decisão. Criticava também a política oficial dos governos alemães por não reconhecerem o movimento emigratório como um problema social que necessitava de uma política adequada4 4 RUHE, Rudolf: Die 'Allgemeine Auswanderungs-Zeitung' — ein Presseerzeugnis des 19. Jahrhunderts aus Rudolstadt. Rudolstädter Heimathefte, Heft 3/4, März/April 1976. ALVES, Débora Bendocchi : Das Brasilienbild der deutschen Auswanderungswerbung im 19. Jahrhundert. Berlin: WVB, 2000, pp. 173-192. Fröbel publicava ainda outros jornais além dos citados acima. Um exemplo é o "Rudolstädter Mittwochsblatt" a partir de 1834, um jornal burguês-democrático, que em 1841 teve o seu nome mudado para "Vaterlandsfreund". Em 1848/49, durante a revolução burguesa alemã, Fröbel passou a publicar o "Deutsche Bürgerzeitung", e mais tarde o "Konstitutionellen Blätter". .

Fröbel estava tão envolvido com a questão que, além da publicação da "Allgemeine Auswanderungs-Zeitung", continuou a inserir pequenos informes, anúncios e cartas de emigrantes no suplemento do "Rudolstdäter Wochenblatt" e, em meados de 1852, passou a publicar um folheto gratuito para ser distribuido juntamente com o jornal: o chamado "Fliegende Blätter für Auswanderer" ("Folhetos para Emigrantes"). Só foram publicados poucos números do folheto já que, gratuitos e circulando sem autorização oficial, logo os mesmos trouxeram dificuldades para o seu redator, que acabou desistindo, em dezembro de 1852, do empreendimento. A partir de 1855, Fröbel ainda lançou no mercado "Der Pilot — Unterhaltendes Wochenblatt zur Allgemeine Auswanderungs-Zeitung" ("O Piloto — Semanário de Entretenimento do Jornal Geral de Emigração"), um suplemento semanal do seu principal jornal5 5 RUHE, R.: Zur Geschichte der überseeischen Auswanderung aus der Oberherrschaft des ehemaligen Fürstentums Schwarzburg-Rudolstadt im 19. Jahrhundert. Rusolstädter Heimatheft, Heft 10, Oktober 1958, pp. 244-251. .

Como já mencionei, as nove cartas provenientes das fazendas do Rio de Janeiro foram publicadas nos suplementos do "Rudolstädter Wochenblattes" e nos "Fliegende Blätter für Auswanderer". Não se trata de troca de correspondência entre o remetente e o destinatário, mas apenas das cartas daqueles que haviam emigrado, que tinham algo de novo a contar, a relatar sobre a sua experiência no novo país. O folheto "Fliegene Blätter"... por sua vez, tinha todas as características de um panfleto: possuia no máximo duas páginas com informações curtas e atuais. No número 2 (meados de junho de 1852) o redator, explica ao público que os folhetos seriam publicados respondendo às perguntas endereçadas ao redator, e teriam como finalidade informar sobre as oportunidades de viagem e sobre as formas de assentamento mais baratas oferecidas no mercado. Preço de passagens assim como ofertas de viagens gratuitas, data de embarque e mesmo comunicações oficiais dos governos alemães e dos países de destino, cartas de emigrantes, etc., tudo estava presente nos poucos números que saíram durante o ano de 1852. O Arquivo do Estado da Turíngia em Rudolstadt possui destes panfletos apenas os números 2 (meados de junho), o 4 (meados de julho), o n° 5 (fim de julho), o n° 8 (fim de agosto) e o n° 9 (início de setembro). Todos os números que estão à disposição no Arquivo contêm alguma informação sobre o Brasil, seja nos artigos curtos seja nas cartas de emigrantes que foram para as fazendas de café. A emigração para as fazendas de café era, segundo Fröbel, a única opção para os mais pobres, pois no caso a quantia a ser despendida tanto para a passagem marítima quanto para a viagem por terra e ainda para a acomodação e alimentação era adiantada pelos fazendeiros. Tal crédito deixaria o colono obrigado a pagar ao longo de cinco ou seis anos, passando ao fazendeiro a metade do lucro adquirido com a venda da sua colheita de café.

No número 2 do folheto citado, há na primeira página um pequeno artigo sobre as colônias no Rio Grande do Sul, principalmente de Santa Cruz. Esclarecem-se quais são as condições oferecidas pelo governo brasileiro ao emigrante alemão e quais eram os objetivos da colonização na província. Outras informações práticas e conselhos como, por exemplo, vantagens da viagem através do porto de Hamburgo, nomes dos corretores dos navios (Sr. Knöhr e Burchardt), preços e tipos de contrato de emigração (Sr. Kleudgen) constam do texto. Terminando o artigo é recomendada a leitura dos livros de Hermann Blumenau e do Dr. F. Schmidt para aqueles que desejem maiores informações sobre 'o maravilhoso e abençoado país'.

No número 4 (meados de julho) encontram-se três pequenas notícias do Brasil. A primeira é sobre a colônia de parceria do senador Vergueiro em São Paulo, e traz informações positivas sobre a fazenda de café e sobre a vida dos alemães lá instalados6 6 Desde o início o sistema de parceria foi visto com desconfiança pelos alemães. Já em 1852 fora publicado por Fröbel o livro do agente hamburguês Dr. F. Schmidt: Die geregelte Auswanderung nach Brasilien und ihr erster glänzender Erfolg. Blätter zur Bekämpfung der gegen dieses Land herrschenden Vorurtheile und zu Belehrung der dahin Auswandernden. Rudolstadt 1852. Neste defende o autor o sistema de parceria. . A segunda é sobre 'a feliz chegada' dos emigrantes provenientes de Holstein e da Prússia, que se estabeleceram na fazenda Independência a 12 léguas de Petrópolis. A terceira notícia é sobre os dois navios que partiriam em agosto com destino ao Rio Grande do Sul, onde constam os nomes das famílias que já haviam assinado contrato de transporte com o agente Fröbel. No folheto de número 5, o capitão L. Saabye do navio "Lorenz", de Hamburgo, relata ao capitão Valentin a sua visita às fazendas Santa Justa, Independência e Santa Rosa, onde ele reviu os colonos que foram transportados nos navios "PrinceßLouise", "Catharine" e "Lorenz". No n° 8 temos uma carta proveniente da colônia Independência, e no n° 9, da colônia São Matheus, ambas no Rio de Janeiro.

As outras seis cartas incluídas aqui neste artigo foram publicadas no suplemento do "Rudostädter Wochenblatt", também no ano de 1853, e são de parceiros residentes em Santa Justa.

Como Günther Fröbel era agente de emigração, há sempre a desconfiança de que os seus jornais estivessem a serviço dos seus interesses econômicos e que tivessem sido usados como meio de propaganda para a sua agência. Depois de uma leitura atenciosa de um grande número de exemplares dos três jornais publicados por ele, posso dizer que tal desconfiança não desmerece o trabalho do redator, pois os jornais de Fröbel prestaram, sem dúvida, uma grande ajuda aos emigrantes e o seu sucesso é prova disto7 7 Em 1851 a editora distribuía a "Allgemeine Auswanderungs-Zeitung" para Berlin, Erfurt, Leipzig, Hamburg, Kassel, Frankfurt, Dresden, Augsburg, Hannover, Mainz, Nürnberg, Moscou, São Petersburgo, Nova York, São Francisco, Viena, Zurique, Basileia, Paris, Londres, Kopenhagen, Estocolmo, etc. No início era um jornal semanal, mas já a partir de 1851 passou a ser publicado 3 vezes por semana. RUHE, R.: Zur Geschichte der überseeischen Auswanderung aus der Oberherrschaft des ehemaligen Fürstentums Schwarzburg-Rudolstadt im 19. Jahrhundert. Rudolstädter Heimathefte, Heft 10, 1958, pp. 244-251. . É possível perceber, através dos artigos, principalmente os da "Allgemeine Auswanderungs-Zeitung", que os jornais defenderam durante 30 anos uma idéia clara e conseqüente sobre a emigração, e que por trás deles havia uma pessoa responsável e preocupada com o destino dos seus compatriotas. Através dos seus periódicos, Fröbel divulgou, com certeza, a sua agência de emigração. Mas me parece difícil acreditar que ele tentasse "enganar" os emigrantes com o intuito de vender um número maior de passagens. Pude observar o profissionalismo, para a época, da "Allgemeine Auswanderungs-Zeitung", que possibilitava a um camponês de uma localidade qualquer obter informações suficientes para sair da sua pequena aldeia com passagem terrestre e marítima compradas, talvez com um contrato de emigração nas mãos e com alguma imagem do país de destino em mente. Além disso, havia artigos mais profundos sobre o tema da emigração, sobre conseqüências econômicas e sociais da mesma para os Estados alemães, sobre os diversos países de destino e, importantíssimo, sobre as novas leis para migrantes promulgadas tanto na Alemanha quanto nos países receptores. O "Der Pilot", por sua vez, cumpria bem a sua função de "distrair" os leitores com poesias, cartas de emigrantes, pequenas notícias e anúncios. O "Rudolstädter Wochenblatt" não era um jornal especializado em emigração e, como já mencionei, gozava de muito prestígio na região. Como em meados do século o tema tornou-se extremamente atual, não só na Turíngia mas praticamente em todos os Estados alemães, era natural que este também passasse a tratar do tema sobretudo no seu suplemento.

Fröbel, assim como Herman Blumenau, Friedrich Gestäcker, Johann Jakob von Tschudi, Henry Lange, J. E. Wappäus e outros mais, era um intelectual que, preocupado com a miséria que assolava os Estados alemães e as conseqüências sociais que esta tinha sobre toda a sociedade, via a emigração como solução para o problema, sobretudo para o dos mais pobres. No n° 9 dos "Fliegende Blätter"... (início de setembro de 1852), Fröbel expõe com clareza as causas que o levavam a apoiar a emigração para as colônias de parceria. Segundo ele, este sistema garantia ao "proletário" a sua sobrevivência, livrando-o da preocupação diária com a sua alimentação e a de sua família. Para os colonos, o trabalho com a plantação e o arrecadado com a colheita lhes proporcionariam uma alimentação diária farta, um prazer do qual, na sua pátria, mesmo trabalhando arduamente, raramente desfrutavam. Só este fato já deveria pesar muito na balança e, como escreveu o redator, em troca de tal segurança poder-se-ia aceitar um certo grau de submissão, uma pequena dependência.

Günther Fröbel era amigo de Hermann Blumenau e durante cerca de 20 anos mantiveram uma correspondência intensa. Além disso, Fröbel era agente de H. Blumenau na Alemanha e editor de vários livros escritos pelo último8 8 BLUMENAU, H.: Südbrasilien in seinen Beziehungen zur deutschen Auswanderung und Kolonisation. Rudolstadt, 1850. Leitende Anweisungen für Auswanderer nach der Provinz Santa Catharina in Südbrasilien. Rudolstadt, 1851. Deutsche Kolonie Blumenau in der Provinz Santa Catharina in Südbrasilien. Bericht bis Juni 1855 und Aufforderung zum Anschluß. Rudolstadt, 1856. . A relação entre esses dois homens poderia ser talvez apresentada da seguinte maneira: o redator e agente Fröbel contribuía para a melhora da situação de penúria na sua região, orientando e incentivando os mais pobres a emigrar, enquanto o empreendedor Hermann Blumenau tentava ajudar os colonos nos seus primeiros anos na nova pátria. Podemos dizer que os dois eram empreendedores, mas será que podemos afirmar que especularam com os emigrantes como, por exemplo, as companhias de navegação e seus corretores que viviam do transporte de "mercadoria-humana"? Ou foram ambos movidos por um ideal maior?

Através de suas publicações, Fröbel não deixou nunca de apoiar a emigração para as fazendas de café, mesmo nos anos críticos, isto é, a partir de 1852 com as palestras e publicações de Samuel Gottfried Kerst e após a revolta de Ibicaba, quando vários jornais alemães e suíços, assim como livros passaram a fazer uma propaganda contrária à emigração para o Brasil9 9 Votum von Kerst, die Kolonie Santa Cruz mit Bezugnahme auf eine Druckschrift des Herrn Peter Kleudgen betrefend. Berlin, 6. 7. 1852; Über brasilianische Zustände der Gegenwart, mit Bezug auf die deutsche Auswanderung nach Brasilien und das System der brasilianischen Pflanzer, den Mangel an afrikanischen Sklaven durch deutsche Proletarier zu ersetzen, zugleich zur Abfertigung der Schrift des kaiserl. bras. Prof. Dr. Gade. Berlin, 1853. Kerst era membro do "Verein zur Zentralisation deutscher Auswanderung und Kolonisation" (Sociedade para a Centralização da Emigração e Colonização Alemã), fundado em Berlim em 1849, e através da sociedade passou a desempenhar o papel de "conselheiro de Estado" para a emigração. Ele foi um dos maiores oponentes da emigração alemã para o Brasil. Georg Gade mudou-se em 1846 para o Brasil, onde foi professor de literatura grega no Colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro. Como vários alemães da sua época, via a emigração para o Brasil de um lado como uma forma real de melhorar a situação dos jornaleiros e proletários alemães, e de outro, uma maneira de "enobrecer" o povo brasileiro. Junto com o grande proprietário Nogueira da Gama, tinha planos de fundar uma colônia de parceria nas terras deste último em Rio Preto, com colonos alemães. De volta à Alemanha, publicou em 1853 Bericht über die deutschen Kolonien der drei groß en Grundbesitzer am Rio Preto in Brasilien nebst einer kritischen Beleuchtung der Schriften Kerst. Kiel 1853. Sobre o assunto ver: F. Sudhaus: Deutschland und die Auswanderung nach Brasilien im 19. Jahrhundert. Hamburg, H. Christians Verlag, 1940; pp. 75-85. Jorge L. da Cunha: Rio Grande do Sul und die deutsche Kolonisation. Santa Cruz do Sul, UNISC/ Gráfica L. Quatke, 1995; pp. 77-81. . Várias vozes se levantaram contra a política imigratória brasileira e em defesa dos "escravos brancos", isto é, contra a "escravização" por dívidas em que os europeus acabavam caindo, pois o sistema e a má conduta de muitos fazendeiros não permitiam que os colonos conseguissem quitar as suas dívidas com os proprietários. Fröbel via falhas no sistema. Não deixou de publicar artigos que analisavam bem as suas causas. Mas ele apontava também falhas e má conduta por parte dos próprios colonos, que muitas vezes nem camponeses ou artesãos eram, incapazes portanto para o trabalho no campo10 10 O artigo "Die Zustände der Regierungs — und Privatkolonien in Brasilien am Ende des Jahres 1859" analisa muito bem os problemas do sistema de parceria e mesmo das colônias baseadas na pequena propriedade, não deixando de apontar as falhas tanto por parte do governo brasileiro, quanto dos fazendeiros e dos próprios colonos. Este foi publicado na "Allgemeine Auswanderungs_Zeitung" em três partes: uma no dia 31 de agosto (nº 35), outra no dia 7 de setembro (nº 36) e a última a 14 de setembro de 1860 (nº 37). . Num artigo assinado por ele mesmo e publicado no suplemento do "Rudolstädter Wochenblatt" em 1853, Fröbel, participando ativamente das discussões públicas sobre o sistema de parceria, lembra aos opositores que a maioria dos emigrantes era de pessoas que já haviam decaído tanto na escala social — ou seja, já eram mendigos e pedintes —, que não tinham sequer condições de pagar a passagem até o porto de embarque, dependendo para isto do auxílio de suas próprias comunidades. Ele não entendia como essas pessoas poderiam ser comerciantes ou proprietários de um pedaço de terra no Brasil, como aclamavam os "filantropos" da emigração. Por outro lado, a seu ver, um grande proprietário que investira seu capital nesses trabalhadores também tinha o direito de exigir que os mesmos cumprissem seus deveres. Uma vez pagas suas dívidas, esses seriam homens livres. Fröbel chamava a atenção para o fato de que as obrigações hereditárias da dívida, estipuladas em contrato, não poderiam ser comparadas àquelas dos servos de algumas regiões da Alemanha, pois no Brasil o colono entrava como parceiro na colheita e gozava de total liberdade11 11 Beilage zum 21. Stücke des Rudolstädter Wochenblattes 1853. . Para ele, as cartas dos colonos que haviam emigrado para as fazendas de café eram a melhor prova de que era possível "vencer" mesmo no sistema de parceria. É interessante notar que Johann Jakob von Tschudi, que visitou as fazendas depois da revolta de Ibicaba, também pensava dessa maneira. Segundo este suíço, o sistema em si tinha as suas vantagens e a culpa de seu fracasso cabia em primeiro lugar à firma Vergueiro e aos demais fazendeiros, e em segundo lugar, aos administradores, feitores, colonos e governo brasileiro, assim como à legislação deficiente que não garantia aos colonos os seus direitos.12 12 TSCHUDI, J. J.: Viagem às Províncias do Rio de Janeiro e São Paulo. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1980, p. 153.

A pergunta que se faz — e que se fez já nessa época — é se essas cartas foram realmente escritas pelos colonos, se não foram censuradas pelos fazendeiros no Brasil ou pelo próprio Fröbel para servirem de propaganda ou de incentivo à emigração. Hoje é extremamente difícil verificar a autenticidade das mesmas. Apesar de sabermos que Fröbel só publicava cartas de emigrantes que haviam partido da Turíngia e inseria o nome e local de residência do destinatário para que o público pudesse averiguar a autenticidade das missivas, permanece a dúvida. Por outro lado, Fröbel também tinha a consciência de que as cartas funcionavam como "estratégia de propaganda" para a emigração. Eram prestigiadas pelo leitor simples que as considerava como fonte de informação segura, já que não se tratava, ao menos explicitamente, de artigos-propaganda de companhias de navegação e colonização, de governos ou de pessoas ligadas comercialmente ao processo. Tratava-se de experiências pessoais, de relatos vividos pelo emigrante simples que desejava, no máximo, motivar seus parentes e amigos a segui-lo. As cartas publicadas eram lidas, passavam de mão em mão, e numa época em que havia um número grande de analfabetos e de pessoas que não tinham acesso aos jornais, contadas e recontadas. O seu conteúdo passava de boca em boca, cumprindo-se assim a função de divulgar informações e de formar uma imagem do "outro", do Brasil, País tão desconhecido na época para a maioria dos leitores.

Sobre a questão, isto é, o papel desempenhado pelas cartas dos emigrantes no século XIX, temos o testemunho de dois importantes intelectuais da época: Dr. Heußer e Johann Jakob von Tschudi. A "Allgemeine Auswanderungs-Zeitung" publicou entre novembro e dezembro de 1857 uma resenha do relatório do Dr. Heußer enviado ao diretor de Polícia do Cantão de Zurique e editado na Suíça, naquele mesmo ano, sob o título "Die Schweizer auf der Kolonien in São Paulo in Brasilien" ("Os Suíços nas colônias em São Paulo no Brasil"). O Dr. Heußer fora enviado ao Brasil pelos cantões suíços para examinar a situação dos seus compatriotas depois do levante ocorrido em Ibicaba13 13 "Der Bericht des Herrn Dr. Heußer". In Allgem. Auswanderungs-Zeitung, nºs 46, 13, nov. 1857; nº 47, 20, nov. 1857; nº 48, 27, nov. 1857; nº 49, 4, dec. 1857; nº 50, 11, dec. 1857; nº 51, 18, dec. 1857. . Conforme consta na resenha, Heußer fez uma observação sobre as cartas de imigrantes em um dos últimos capítulos do seu relatório, o que nos mostra como estas cartas eram motivo de debate e críticas entre os intelectuais da época. O autor se detém na questão das cartas que chegaram à Suíça que, como afirma, não eram escritas livremente pelos colonos, mas sim sob total controle de um empregado da fazenda. As cartas com notícias negativas não eram remetidas e, como prova disto, cita o caso de Thomas Davatz, que relata em seu próprio livro ter tido as suas cartas rasuradas e censuradas pelo diretor da colônia Ibicaba. Apesar de tal intimidação, os colonos continuaram a escrever para casa fazendo queixas de sua miséria. Mas como estas cartas não chegavam à Suíça, delas o público nunca tomou conhecimento. Daí a explicação de Heußer para a existência de tantas cartas de imigrantes satisfeitos com a sua nova situação, elogiando o sistema de parceria e antevendo um bom futuro para si e suas famílias. Ele se questiona quais teriam sido as razões que levaram esses colonos a não escreverem "a verdade", já que ele próprio não acreditava que qualquer dos colonos pudesse estar satisfeito com sua situação, com o montante de suas dívidas e com os maus-tratos dos administradores e proprietários das fazendas. O autor aponta, então, aspectos que poderiam explicar tal comportamento por parte de alguns colonos. Heußer escreve que as causas desse procedimento provavelmente estariam ligadas: (1) à maldade dos colonos que, considerando-se numa situação invejável, acharam-se no direito de contrair dívidas e viver confortavelmente sem trabalhar; (2) à burrice de muitos pelo fato de só ressaltarem as vantagens de sua nova situação sem mencionar as desvantagens; (3) à precipitação de alguns, pois, impressionados com a primeira recepção, escreviam suas cartas antes de verificarem as condições reais de vida no novo país; (4) ao sentimento de honra equivocado, pois muitos colonos queriam mostrar aos seus antigos amigos, que os haviam desaconselhado a emigrar, que haviam tomado a decisão mais acertada; (5) à falta de instrução de alguns, já que em vez de esclarecerem a sua verdadeira situação, só escreviam coisas boas e agradáveis, e mesmo estas de maneira tão emaranhada, que o próprio Heußer não pôde entender o conteúdo de todas elas. Segundo o redator do jornal, Heußer termina suas observações dizendo que não acreditava que um simples emigrante tivesse condições de escrever uma carta relatando as circunstâncias reais em que vivia, sendo portanto as cartas do mesmo perigosíssimas, mesmo para os parentes na pátria. O autor faz aqui uma crítica indireta ao próprio Fröbel, que utilizava em seus jornais as cartas de imigrantes, que no caso não deveriam ser consideradas como fonte de informação fidedigna14 14 "Allgem. Auswanderungs-Zeitung", nº 51, 18, dec. 1857. .

Através desta última observação de Heußer podemos concluir que as cartas dos emigrantes tinham um efeito muito grande sobre os seus leitores e que, já na época, eram vistas com ressalva por parte das autoridades alemãs e pessoas ligadas à emigração para o Brasil. A utilização das mesmas por parte dos jornais especializados servia, com efeito, para incentivar a emigração. E se considerarmos alguns dos pontos mencionados por Heußer, podemos notar que no conteúdo das cartas passaram não só a questão da "censura" por parte dos proprietários das colônias ou mesmo dos redatores dos jornais, mas também questões pessoais e psicológicas dos próprios imigrantes como orgulho, vergonha, inexperiência, ingenuidade e falta de escolarização.

Johann Jakob von Tschudi, ministro plenipotenciário enviado em 1860 pelos cantões suíços para verificar a situação em que se encontravam os parceiros suíços nas fazendas de café, faz, depois da revolta em Ibicaba, uma rápida observação em sua obra sobre as cartas de emigrantes. Comentando as queixas que muitos colonos lhe fizeram de que suas cartas, depois da revolta, passaram a ser censuradas e rasuradas, escreve:

Os colonos, quando deixavam de receber a resposta de alguma carta enviada para a pátria, logo suspeitavam que a mesma tivesse sido retida, mas na maior parte dos casos não era este o motivo. Uma carta proveniente de uma cidade provinciana do interior do Brasil precisa ter uma boa estrela para chegar às mãos de seu destinatário, na Alemanha ou na Suíça. Os colonos costumam escrever os endereços de modo um tanto ilegível e, na mor parte das vezes, em caracteres góticos. Os funcionários brasileiros ficam, por isto, sem saber que façam com tal correspondência e, sem hesitar, colocam tais cartas no saco que se destina ao Rio de Janeiro. A mesma dificuldade se apresenta na repartição desta cidade, o que se repete ainda nos correios ingleses e franceses. Mas, a despeito de tudo, o milagre se opera: a carta chega a seu destino e o destinatário responde, com endereço igualmente ilegível, em que se distingue apenas a palavra 'Brasil'. Como o remetente, geralmente, ignora as taxas de franquia postal, a carta não vai além da Inglaterra, onde fica sem ser expedida. No caso do selo estar certo, o endereço deficiente e difícil cria tais embaraços aos funcionários postais, que nunca chegam a seu destino. (...) e se a correspondência dos colonos de parceria é deficiente, não precisamos recorrer a suspeitas de retenção ou de uma censura talvez inexistente15 15 TSCHUDI. Op. cit., pp. 160-161. .

Não quero aqui negar a existência de cartas manipuladas, censuradas, etc., muito menos sugerir que nem tudo que fora escrito e publicado era 'verdade'. Desejo apenas ressaltar que as cartas publicadas devem ser tratadas pelos pesquisadores de forma mais cuidadosa do que aquelas não publicadas. As primeiras saem da esfera privada e passam para a esfera pública, desempenhando assim uma outra função. O particular, as relações familiares não interessam diretamente ao público das referidas publicações16 16 O próprio redator do jornal escreve, entre parênteses, que cortou trechos sobre questões familiares e particulares de algumas cartas. . O que o simples leitor de então procurava eram informações que correspondessem às suas ambições ou que lhe ajudassem no momento a decidir seu destino, ou ainda a superar sua angústia diante do desconhecido. Mesmo servindo de incentivo para a emigração para as fazendas de café, as cartas não deixam de fornecer informações ricas e diversas daquelas encontradas em guias para emigrantes, artigos de jornais, livros, panfletos de agentes e companhias de navegação ou brochuras de propaganda. Elas podem ter sido manipuladas ou censuradas, mas foram escritas por pessoas que passaram pela experiência. E, devido à linguagem, podemos afirmar que eram pessoas com formação escolar muito baixa e que viram o Brasil à sua maneira. O que deveríamos levar em conta não é se as missivas eram ou não fontes fidedignas, mas sim que são documentos que, como os demais, devem ser tratados criticamente e que, em geral, acusam um alto grau de "veracidade subjetiva"17 17 HELBICH, Kamphoefner und Sommer (Hg): Briefe aus Amerika. Deutsche Auswanderer schreiben aus der Neuen Welt. 1830-1930. München, C. H. Beck,1988, p. 33. , isto é, descrevem experiências individuais que estão ligadas à personalidade do escritor da carta, do seu grau de escolarização, do seu nível social e da vivência que teve no seu novo hábitat. Como há poucos testemunhos pessoais das camadas sociais inferiores da Alemanha do século XIX, as cartas dos emigrantes nos fornecem, de um lado, a "voz" dos atores, sendo uma fonte indispensável para uma história social do movimento migratório no século XIX. Por outro lado, podem ser analisadas como estratégia de propaganda ou incentivo para a emigração, ajudando a criar uma imagem positiva do Brasil e do sistema de parceria para os emigrantes alemães.

COLÔNIAS DE PARCERIA NO RIO DE JANEIRO

Infelizmente há, em geral, poucas informações sobre as colônias fluminenses, e mesmo nos jornais alemães especializados em emigração não há muitos dados sobre essas fazendas, como no o caso da fazenda Ibicaba, sobretudo após o levante dos colonos suíços18 18 Os vários artigos publicados sobre a fazenda Ibicaba nos jornais de Fröbel devem ter sido matéria paga pela firma Vergueiro. Antes da revolta foram publicados artigos incentivando a emigração e explicando as condições dos contratos de parceria. Após a revolta, muitos dos artigos publicados assinados por José Vergueiro, filho do senador, tratavam de defender o empreendimento da família das acusações feitas por Davatz, Heußer, Tschudi e outros sobre o ocorrido em Ibicaba. . Segundo Viotti da Costa, a partir de 1850 começaram a surgir na região cafeeira fluminense, seguindo o exemplo do senador Vergueiro, colônias de parceria. Em muitas delas os parceiros eram portugueses. Entretanto, em março de 1852, foram embarcados em cinco navios hamburgueses entre 800 e 900 colonos alemães com destino ao Brasil. Esses haviam sido solicitados por sete grandes proprietários do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo ao representante do Brasil em Hamburgo. Assim, somente na província do Rio de Janeiro foram fundadas cinco colônias de parceria com esta leva de imigrantes alemães19 19 SUDHAUS, Fritz. Op. cit, p. 76. : Independência, por Nicolau Antônio da Vale da Gama; Santa Justa, por Brás Carneiro Bellens; Santa Rosa, propriedade do barão de Baependi; e Coroas, nas terras da marquesa de Valença. Todas com colonos alemães naturais da Prússia, Holstein, Turíngia, Hesse e Darmstadt20 20 COSTA, E. Viotti da: Da Senzala à Colônia. São Paulo: Ciências Humanas, 1982, (2° ed.), p. 102. Através das cartas dos imigrantes apresentadas neste artigo, constata-se que a quinta colônia deve ter sido a de São Mateus. . Em 1862, alguns anos após a revolta dos colonos em Ibicaba, dava-se por acabada a experiência com o sistema de parceria tanto na região fluminense quanto em São Paulo21 21 COSTA, E. Viotti. Op. cit., p. 107. . Liquidando ou não os seus contratos, muitos parceiros alemães dessas fazendas dirigiram-se para as colônias do sul do Brasil na esperança de se tornarem pequenos proprietários, sonho da maioria dos imigrantes. Outros, como na província de São Paulo, foram se estabelecer como artesãos ou comerciantes nas vilas mais próximas, contribuindo assim para o aparecimento da pequena indústria na região22 22 Sobre São Paulo ver HOLANDA, prefácio em Thomas Davatz: Memórias de um colono no Brasil (1850). Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP,1980. .

Heinrich Handelmann, na sua obra "Geschichte von Brasilien" ("História do Brasil"), publicada em 1860, também não se detém muito nas colônias de parceria da província do Rio de Janeiro. No décimo capítulo, no tópico dedicado à emigração européia na província do Rio de Janeiro, o autor, que nunca esteve no Brasil, cita além de Nova Friburgo, Petrópolis e Valão dos Veados, as cinco colônias de parceria fundadas em 1852 na província. São elas: Santa Rosa, do visconde de Baependy, com 132 moradores; Independência, do Sr. Valle da Gama, com 172 parceiros; Santa Justa, de Braz Carneiro Leão, com 155 habitantes; Coroas, do marquês de Valença, com 143 pessoas; e Martim de Sá, de José Cardozo de Menezes, com 67 moradores. Segundo o autor, com base em uma informação oficial de 1855, encontrava-se esta última colônia em plena decadência. Handelmann explica ainda que os parceiros das citadas cinco colônias foram recrutados na Alemanha nas regiões de Holstein e Turíngia23 23 HANDELMANN, H. Geschichte von Brasilien. Hrsg. u. mit e. Nachtrag versehen von Gustav Faber. Zürich: Manesse Verlag, 1987; pp. 568-569. .

O jornal "Allgemeine Auswanderungs-Zeitung" n° 44, de 30 de outubro de 1857, publicou sob o título "Nachrichten von Halbpacht-Kolonisten" ("Notícias de Parceiros") alguns trechos de cartas enviadas por imigrantes estabelecidos na colônia de parceria Independência aos seus parentes na Turíngia, escritas no mês de março daquele ano. O filho de Simon Jenssen explica a seu pai que ele ainda não havia quitado a sua dívida, mas esperava poder fazê-lo no ano seguinte "se Deus o mantivesse com saúde". Acrescentava ainda que vivia despreocupado em relação à alimentação, que dinheiro não lhe faltava, e se ainda não havia conseguido pagar a sua dívida, isto se devia ao cafezal que, como qualquer campo na Europa, nem sempre era tão fértil. Ele devia ainda 137 mil réis, mas isto não o preocupava. Possuía 6 porcos, 1 cabra e cerca de 100 galinhas que lhe davam um bom rendimento diário. Uma segunda carta, endereçada a Friedrich Hoop e família em Rabensdamm, dava detalhes sobre a colheita e o rendimento do café referentes ao ano de 1856. O colono escreve que a colheita dos parceiros fora de 20.537 alqueires, dos quais 9.636 arrobas e 8,5 quilos só de café. Para os colonos foram pagos 1.100 réis por arroba, isto é, cerca de 11 contos ou 15.000 florins. De uma terceira carta, também endereçada a Simon Jenssen, o jornal transcreve o seguinte trecho: " A minha dívida com a travessia já foi paga até o último tostão e assim posso ver à minha frente um futuro feliz e posso informar-lhes que comprei um cavalo por 60 mil réis. Nossa colônia se encontra em total prosperidade e em um ano tomará vulto se Deus nos der saúde e proteção. Também festejamos no dia 19 de março o dia da chegada à nossa propriedade, há 5 anos. Muitos colonos de Coroas festejarão conosco e quando a nossa festa terminar, muitos dentre nós também irão para lá participar da festa deles no dia 25. (...) Johann Dibbern, meu cunhado, é cocheiro do nosso senhor (Valle da Gama) no Rio e vai muito bem. O seu salário é de 30 mil-réis por mês. ..." A notícia do jornal continua a citar outros trechos de cartas provenientes da colônia Independência neste mesmo estilo.

Em 24 de fevereiro de1860, a "Allgemeine Auswanderungs-Zeitung" (n. 8) voltou a publicar uma pequena nota sobre a Colônia Independência:

Segundo as últimas notícias de dezembro de 1859 provenientes da Colônia Independência na Província do Rio de Janeiro, que foi fundada em 1852 com 26 famílias alemãs, sob o sistema de parceria, o planejado assentamento é atualmente composto de 73 famílias e 330 pessoas, das quais 64 nascidas aí, enquanto somente 10 pessoas abandonaram a colônia. As famílias que se estabeleceram originalmente nesta já liquidaram as suas dívidas, sendo que a maioria já o havia feito antes do término do contrato. Os colonos se comportam bem, cumprem com as suas obrigações e estão tão satisfeitos com a sua sorte que não deixam a colônia apesar de não opor-se nenhum obstáculo se tiverem o desejo de ir para um outro lugar. Entre os moradores desta colônia foram distribuídos para cultivo 250.000 pés de café, isto é, cerca de 800 pés em média por pessoa. Como o proprietário, depois de afastadas as dificuldades iniciais, também se encontra satisfeito com os colonos, está a Colônia Independência, assim, em condições de prosperar e ainda mais, porque os alimentos cultivados pelos colonos e o gado criado por eles pertencem aos mesmos, embora isto não esteja incluído no contrato, mas sim, após descontado o necessário para o sustento da própria família, a metade do excedente deve ser revertida ao proprietário.

J. J. Tschudi faz um interessante estudo sobre as fazendas de café e sobre o sistema de parceria. Muito rapidamente cita as três colônias fluminenses, embora se detenha longamente nas fazendas paulistas:

As colônias desse gênero na província do Rio de Janeiro continuaram vegetando até 1860. Em outubro desse ano, 89 famílias abandonaram as três colônias então existentes, depois de haverem saldado suas dívidas, num prazo de 9 anos. (...) Tive ocasião de falar com grande número desses colonos, no Rio de Janeiro e no Sul do País, e não posso ocultar que vários deles, provenientes da fazenda Santa Rosa, elogiavam seu proprietário, o visconde de Baependi, lastimando que se tivessem deixado levar pelos seus patrícios de outras colônias a abandonar a fazenda24 24 TSCHUDI. Viagens às Províncias do Rio de Janeiro e São Paulo. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1980, p. 147. .

Em nota de rodapé, Tschudi acrescenta que as queixas dos colonos das fazendas Santa Justa, propriedade de Braz Carneiro Bellens, e Independência, do Sr. Nicolau Antônio Nogueira Vale da Gama, tinham razão de ser; principalmente as dos colonos desta última. A queixa principal recaía sobre o administrador da fazenda, José Antônio Furtado, que havia proibido os colonos de plantarem mais do que necessitavam, pois, segundo ele, plantando mais vendiam o excedente, pagavam as suas dívidas e abandonavam rapidamente a fazenda deixando esta sem os "colhedores de café" ("Kaffeepflücker") que haviam sido trazidos apenas para esta atividade. Pelo que Tschudi escreve — e a notícia do "Allgemeine Auswanderungs-Zeitung" confirma —, os colonos contavam anteriormente com esta oportunidade, a de vender o excedende dos gêneros alimentícios que cultivavam25 25 Na nota de rodapé da edição brasileira, página 147, há um erro de tradução. Não se trata da fazenda S. Cruz mas sim da Santa Justa. Ver edição alemã, Reise durch Südamerika. Bde. 1-5. Leipzig, 1866-1869. Unveränderter Neudruck: Stuttgart, Brockhaus, 1971; volume 3, p. 251. .

O conhecimento da experiência com imigrantes alemães nas colônias de parceria fluminenses é, como vimos, muito restrito e seria louvável a realização de mais estudos a respeito. Sendo assim, posso dizer que as cartas publicadas por Fröbel provenientes destas colônias podem vir a contribuir para um melhor conhecimento da experiência, principalmente nos seus anos iniciais.

AS CARTAS

Algumas informações importantes podem ser encontradas nessas poucas cartas provenientes das fazendas fluminenses, em especial no que diz respeito à chegada dos imigrantes e ao primeiro ano nas fazendas, uma vez que todas elas foram escritas em 1852, isto é, no início da experiência com parceiros alemães na região. Na primeira carta, a do capitão Saabye, são fornecidos os nomes dos navios em que os imigrantes foram transportados para o Brasil, e na oitava, a de Christian Maß, o local de desembarque, Porto da Estrela, no Rio de Janeiro. Como o capitão Saabye mesmo explica, ele resolveu ir visitar os seus compatriotas já que o sistema de parceria não era visto com bons olhos pela opinião pública alemã. Fica claro que ele visitou essas fazendas logo após a chegada dos colonos, tendo apenas visto como os novos trabalhadores foram recebidos e quais eram as expectativas em relação à moradia, à educação e à vida religiosa. Descreve o que ouviu, provavelmente do proprietário da fazenda Santa Justa ou dos próprios colonos. Nota que o Sr. Bellens, o proprietário, não debitaria na conta dos parceiros o transporte do Rio de Janeiro até a fazenda, o que, a seu ver, demostrava as suas boas intenções, já que isto era normalmente uma das cláusulas dos contratos de parceria. As descrições da viagem marítima da Alemanha ao Brasil são poucas e curtas, porquanto o que mais interessava ao leitor era a "nova forma de vida" no novo país. Sendo assim, as cartas de F. Roßbach (n°2), de Heinrich Möller (n°. 4) ou de Christian Maß(n°8) são especialmente importantes, pois dão alguns detalhes da dura viagem transatlântica. Georg Bock (n° 3), num rápido comentário, escreve que ao chegarem ao Brasil não puderam permanecer no porto devido à febre amarela, indo diretamente para a fazenda.

Há praticamente em todas as cartas alguma referência ao clima, visto que havia um certo receio na Alemanha de que o clima do País, exceto o do sul do Brasil, não era apropriado para os europeus do norte. Outro ponto importante ressaltado em várias cartas era a formação de uma pequena comunidade alemã na região. Os alemães no Brasil viviam entre si, podendo assim preservar a sua língua, cultura, usos e costumes, um aspecto positivo não só na opinião dos colonos mas também entre os intelectuais alemães defensores da emigração para o Brasil. O colono Heinrich Möller comenta que, a caminho da fazenda Santa Justa passaram por Petrópolis, onde foram bem recebidos pelos seus conterrâneos (carta n° 4). Saabye chega a dizer que nas três colônias, Independência, Santa Justa e Santa Rosa, havia mais de 600 alemães.

Descrições das casas, do tipo de alimentação, assim como dos animais de criação que já possuíam, ressaltavam as condições materiais bem melhores que as que possuíam anteriormente, chegando mesmo, às vezes, a dar a impressão de esbanjamento, por exemplo, quando Roßbach escreve sobre o consumo familiar de café. Na Alemanha, explica ele, com 14 grãos são feitas 15 xícaras de café, enquanto a sua mulher agora pega mãos cheias. O poder comer carne diariamente também era visto como um luxo, e deve ter impressionado os leitores na Alemanha que, na sua maioria pobres como os colonos mesmos, viviam preocupados com a sua alimentação diária (carta de Heinrich Möller, n°4).

O ser bem tratado, não ser ameaçado devido às suas dívidas é outro ponto mencionado. Sobre as dívidas contraídas com o proprietário, todos tinham, nesse primeiro ano, a esperança de poder pagá-la sem problemas — o que, como se sabe, nem sempre ocorreu. Como havia a desconfiança na Alemanha de que o sistema de parceria era um tipo de escravidão branca por dívida, podemos notar a freqüência com que o assunto aparece nas cartas. Os imigrantes afirmam e insistem no fato de que não eram escravos, que eram homens livres apesar das dívidas. Georg Schneider chega mesmo a afirmar que eles se livraram da escravidão emigrando para o Brasil (carta n° 5). Praticamente não há comentários sobre os brasileiros em geral, a não ser sobre os proprietários das fazendas. Sobre os escravos, confirma Georg Bock (n° 3) que os mesmos existiam na fazenda São Matheus, mas que os colonos não tinham "nada a ver com eles". Nas fazendas de café onde o sistema de parceria foi implantado, continuou-se a fazer uso do trabalho escravo, havendo uma separação tanto do tipo de trabalho quanto do espaço físico dividido entre a mão-de-obra livre e a escrava26 26 Ver HALL, Michael: The Origins of Mass Immigration in Brazil, p. 16. O colono Franz Holle, residente na fazenda Ibicaba, escreveu em 1856 que na colônia havia mais de 400 escravos negros. "Der Pilot", nºs 27, 2, Julho, 1856. . Como os colonos viviam isolados nas fazendas, sendo mesmo os administradores muitas vezes alemães (como no caso da Santa Justa), eles não tinham praticamente contato com a comunidade brasileira (carta n° 8). Só mais tarde, quando passaram a vender seus produtos de subsistência nas vilas mais próximas ou foram viver nas cidades é que o contato e a influência foram maiores.

Georg Neubauer observa que o Brasil está longe de ser a Alemanha e que a organização existente é apropriada para os negros, não para os alemães. Conforma-se dizendo que quando passarem a viver segundo a "ordem alemã" tudo será diferente, de onde se deduz que havia esperança de que a situação melhoraria (carta n° 7). O desejo era o de reconstruir o seu mundo na nova pátria, desejo comum de todo imigrante até os nossos dias. Já Roßbach acha que os escravos no Brasil viviam melhor do que boa parte dos camponeses na Alemanha. Georg Schneider era de opinião que eles, no Brasil, haviam se livrado da escravidão em que viviam na Alemanha (carta n° 5). Tais comparações entre as condições de vida na antiga e na nova pátria, feitas pelos dois colonos, só podem ser entendidas se levarmos em conta a situação socioeconômica em que viviam os camponeses mais pobres e os artesãos alemães em meados do século XIX.

As mudanças socioeconômicas ocorridas nos Estados alemães entre 1815 e 1871 caracterizam esta época como a passagem do feudalismo tardio para o capitalismo, de uma sociedade agrária para uma sociedade industrial, do antigo regime para a sociedade moderna burguesa. Durante este período transitório, coexistiram velhas estruturas ao lado de novas. Várias reformas agrárias foram efetuadas durante este período, liberando a terra que passou a ser um bem negociável. Os camponeses também foram libertados da servidão, ou semi-servidão, tendo sido a prestação gratuita de seus serviços aos seus senhores substituída pela doação da terceira parte ou, conforme a região, da metade de suas terras aos antigos senhores, ou ainda uma quantia equivalente em dinheiro para obterem assim o direito de posse da terra. Em 1821 todas as terras comunais foram divididas e cercadas, levando a uma concentração do solo nas mãos de uns poucos. A perda da classe camponesa alemã como um todo foi enorme, já que esta possuía 52% do patrimônio público, ficando após as reformas com apenas 14% deste. Além desta perda, a classe camponesa acabou sendo empurrada para os solos menos férteis. O valor que um camponês tinha de pagar à nobreza não era muito alto se considerarmos os seus parcos recursos, provenientes de uma exploração da terra ainda dentro dos moldes tradicionais ou em propriedades muito reduzidas. A conseqüência foi o endividamento de muitos ou a perda parcial ou total da terra. Em 1849 a Prússia contava com cerca de 2 milhões de trabalhadores rurais sem terra. Como os Estados alemães eram predominantemente agrícolas durante a primeira metade do século XIX, não havia muita possibilidade de absorção desta massa de trabalhadores livres. De acordo com Thomas Nipperdey, nas regiões não industrializadas o pauperismo era ainda maior, e a sua queda após 1859 deveu-se exatamente à industrialização que oferecia emprego ao excedente populacional. De outro lado, o setor industrial ainda pouco desenvolvido não ameaçava diretamente os artesãos, apesar de eles assim se sentirem. O que ocorreu foi o desaparecimento de alguns ofícios como o de saboeiro ou cerieiro, a absorção de outros como o de vidraceiro, tanoeiro, cordoeiro, peleiro, torneiro e o de construtor de carruagem. Em compensação, a produção da indústria caseira de tecidos caiu muito com o crescimento fabril deste setor. Muitos dos trabalhadores rurais sem terra e dos artesãos, que temiam a proletarização, passaram a fazer parte das levas de emigrantes que abandonaram a Europa27 27 Sobre as mudanças socioeconômicas na Alemanha durante o século XIX, ver: NIPPERDEY, Thomas. Deutsche Geschichte: 1800-1866; Bürgerwelt und starker Staat. München: Verlag C. H. Beck, 1985; RÜRUP, Reinhard. Deutschland im 19. Jahrhundert: 1815-1871. GÖTTINGEN, Vandenhoeck und Ruprecht, 1984; DIPPER, Christof. Die Bauernbefreiung in Deutschland: 1790-1850. Stuttgart; Verlag Kohlhammer, 1980; ALVES, Débora B. Apresentação da edição brasileira em Friedrich von Weech: A Agricultura e o Comércio do Brasil no sistema Colonial. São Paulo: Martins Fontes, 1992 (Obs.: Infelizmente a editora deu um novo título a esta obra traduzida por mim. O título correto em português deveria ser: A situação atual do Brasil e o seu sistema de colonização, sobretudo em relação à agricultura e ao comércio. Destinado especialmente a emigrantes). .

Entre 1834 e 1870, emigraram para o Novo Mundo 5.391 pessoas da região de Schwarzburg-Rudolstad, dirigindo-se de 80 a 85% para os Estados Unidos e apenas de 12 a 15% para o Brasil. O auge do movimento emigratório da região foi entre os anos 1851 e 1855, e conforme as estatísticas, entre os anos de 1852 e 1865 emigraram cerca de 850 - 900 pessoas para o Brasil. Nas listas de emigrantes de Schwarzburg-Rudolstadt consta que 11% eram camponeses classificados como "Handarbeiter" (trabalhadores manuais), "Knechte" (servos ou empregados da lavoura) e "Dienstboten" (criados). Chama a atenção o grande número de artesãos entre os emigrantes do sexo masculino: 10% eram tecelões, 9% alfaiates e 8% sapateiros. Segundo Rudolf Ruhe, os tecelões da região viviam em condições miseráveis devido à concorrência com a produção industrial e com a importação proveniente de outras regiões. Incapazes de mudar o seu método de produção, os artesãos tentaram aumentar a produtividade através do prolongamento das horas de trabalho, da intensificação do trabalho familiar, ou da diminuição dos salários. A tensão social era grande e a emigração era vista como um mal necessário28 28 Sobre a emigração da região de Schwarzburg-Rudolstadt, ver: RUHE, Rudolf. Zur Geschichte der überseeischen Auswanderung aus der Oberherschaft des ehemaligen Fürstentums Schwarzburg-Rudolstadt im 19. Jahrhundert und ihre Beweggründe. I. Die Auswanderungsbewegung 1834-1870. Rudolstädter Heimatheft, Heft 11, 6. Jahrgang, nov. 1960, pp. 269-277; II. Die Beweggründe. Heft 12, 6. Jahrgang, dez. 1960. .

Em relação à emigração de camponeses e artesãos da região de Schwarzburg-Rudolstadt para o Brasil, as causas eram exclusivamente econômicas, atingindo predominantemente as famílias mais pobres, sem posse alguma e com o maior número de filhos. Como não tinham os meios necessários para pagar a sua emigração, muitos acabaram escolhendo o Brasil, pois as despesas com a viagem eram adiantadas, ou subvencionadas, e os primeiros anos no País, facilitados. Conforme Fröbel, preferiam arriscar a vida no Brasil onde, pelo menos, estava garantida uma alimentação diária, a permanecerem sem esperança alguma nas florestas da Turíngia.

Heinrich Möller (carta n° 4) agradece a sua comunidade por tudo o que foi feito por ele e sua família, e Christian Maß(carta n° 8) envia lembranças aos amigos, ao intendente da comunidade, ao pároco, e agradece também pela ajuda recebida. As comunidades alemãs eram responsáveis materialmente pelos seus membros mais pobres, sendo obrigadas a sustentá-los. Muitas delas ajudavam ou pagavam a passagem para que essas pessoas emigrassem, já que não havia expectativa de melhora para a grande maioria. A emigração era vista como uma solução social, diminuindo os custos das comunidades e os riscos de uma "revolução". Além disso, o sistema de parceria era o menos oneroso para a comunidade, pois o proprietário da fazenda pagava, em forma de empréstimo, parte ou o valor total da viagem marítima de seus futuros parceiros. A firma Vergueiro, assim como outras sociedades de colonização responsáveis pelo recrutamento de muitos emigrantes, deveriam então reembolsar as comunidades no caso dessas terem pago parte ou o valor total da viagem, à medida que os colonos iam quitando as suas dívidas com os proprietários29 29 Ver ZIEGLER. Schweizer statt Sklaven, pp. 146 und 165. .

Além de informação sobre a quantidade de pés de café que cada família recebia e o preço de vários produtos, a época de plantio e sobre o que se deveria levar da Alemanha, constam nas cartas ainda observações pitorescas como, por exemplo, a dificuldade para se adquirir cerveja, ou que as mulheres haviam recebido de presente brincos de ouro, e que eles logo compraram roupas novas conforme a moda do País. Joh. Hetzer, escrevendo à sua filha, conta-lhe das roupas novas que receberam ao chegarem à colônia, da festa realizada, quando dançaram durante três dias, e da existência de um coro formado por 13 homens (carta n° 9). Christian Arnoldt esclarece aos seus pais que, tirando algumas poucas áreas cultivadas, o resto do Brasil era ainda uma selva. Sentiam muita falta dos parentes e amigos, mas nenhum deles tinha a intenção de voltar. Pelo contrário! Muitos sonhavam em buscar o restante da família e mesmo os amigos mais próximos.

"FLIEGENDE BLÄTTER FÜR AUSWANDERER" ("FOLHETOS PARA EMIGRANTES"), EDITADO POR G. FROEBEL EM RUDOLSTADT

1. N. 5, fim de julho, 1852.

"Carta do capitão L. Saabye, do navio hamburguês "Lorenz", ao capitão M. Valentin, em Hamburgo.

Rio de Janeiro, 12 de junho de 1852

Eu não posso deixar de informar-lhe que fui visitar, nas suas colônias, os passageiros que vieram com os três últimos navios ("Princesa Louise", "Catharina" e "Lorenz"). Como eram famílias muito distintas, eu teria ficado muito sentido se elas tivessem sido frustradas nas suas esperanças; e como as opiniões em casa a respeito eram tão diversas e o tempo me permitiu, resolvi então ir me certificar, e alegro-me muito em poder lhe dizer, que eu mesmo vi e averiguei que as pessoas, assim como eu mesmo, encontraram tudo melhor do que era esperado. As três fazendas Santa Justa, Independência e Santa Rosa, onde estive, estão localizadas numa bela região montanhosa distando uma da outra, aproximadamente, uma hora a cavalo e, do Rio de Janeiro, três dias de viagem. A que mais me agradou foi a Santa Justa onde fui amigavelmente muito bem recebido à casa do proprietário, Sr. Bellens, que se encontrava presente e, como ele falava inglês, pude conversar bastante bem com ele. Cheguei no fim da tarde e encontrei todos os meus passageiros da Turíngia dançando na casa do proprietário. Para a festa de Pentecostes eles decoraram a casa do proprietário com coroas e folhagens e todos eles se divertiam e se encontravam satisfeitos. Disseram-me que, mesmo se recebessem gratuitamente passagem de volta para a sua pátria, não desejavam retornar. Somente no segundo dia de Pentecostes é que passaram a arcar com suas despesas domésticas pois, desde 17 de maio até então foram sustentados pelo Sr. Bellens, assim como também os custos com o transporte do Rio de Janeiro até a colônia não serão debitados em suas contas. Até o prezado momento vivem em casas provisórias. Mais tarde cada família receberá uma casa com 4 cômodos bem pintada e coberta de telha e a quantia de terra que desejarem e puderem cultivar. Os passageiros que vieram com o capitão Behr (de Holstein e da Prússia) já começaram a colher café e a ganhar dinheiro e os proprietários das fazendas fazem de tudo para satisfazerem as pessoas, o que é reconhecido pelos mesmos.

L. Saabye.

P.S. Nota-se que todos os emigrantes da Turíngia permaneceram nas três fazendas acima mencionadas e, por conseguinte, moram todos juntos numa pequena área. No total estão aí alojados mais de 600 cabeças para as quais serão contratados um religioso e um professor".

2. N. 8, fim de agosto, 1852.

"Boas notícias do Brasil.

Ao Sr. Christoph Münch em Ranis na rua Strumpfwirkerm.

Colônia Independência, Província do Rio de Janeiro.

Louvado seja Deus, queridos pais! Podemos agora afirmar que as cartas impressas que lemos em Ranis só continham verdades. O que eu começo aqui, dá certo. As casas foram sorteadas; eu tenho a de n° 4 com a mais bela plantação de café. Eu e a minha esposa colhemos diariamente de 2 a 4 cestos. Nós podemos trabalhar quando nos apetece. Ninguém nos diz nada; se trabalhamos muito, ganhamos muito, de 1 a 4 mil réis (1 mil réis equivale a cerca de 25 Sgr.30 30 Sgr = Silbergroschen (centavos de prata) ) diariamente para cada um. Nós vivemos aqui livres como passarinhos; podemos, além disso, caçar, pescar e fazer o que nos agrada. Todos os domingos há música para dançar. Minha esposa e filha receberam de presente de boas-vindas brincos de ouro e nós logo compramos roupas melhores e de acordo com a moda daqui. Quando vamos passear, não nos deparamos com ninguém que nos diga: 'Pague, ou eu te processo ou penhoro seus bens, seu cafajeste!', como acontece freqüentemente na Alemanha. Mesmo os escravos vivem aqui melhor do que um camponês mediano na Alemanha. Esta mão que está escrevendo, e que meu pai tão bem conhece, há de apodrecer se isto não for a pura verdade.

No dia 3 de março, quando chegamos em Cahla, a sorte já começou. No dia 5, um trem suplementar nos transportou, em um dia, para Hamburgo; no dia 10 embarcamos no navio e viajamos um total de 8 semanas. Infelizmente não podíamos entender o dialeto dos marujos, motivo pelo qual eles às vezes eram rudes. Minha filha diz quase todos os dias: 'Pai, o que fariam meus avós; ah, se eles estivessem aqui e pudessem comer conosco!' Da mesma maneira os nossos amigos em Gefell e Külmla. Temos a impressão de que vivemos no paraíso ou no céu. Apesar de haver madeira em abundância e de ser inverno aqui agora (maio, junho, julho), não precisamos de aquecimento. Toda (a madeira) é queimada. Durante a viagem até aqui recebemos, duas vezes por dia, carne, pão branco, às vezes cerveja e vinho também. Aqui na colônia não há taberna; mas, certamente, se o taberneiro Walther tivesse vindo, em breve haveria também cerveja. Walther, venha, tenho sede! Porém, temos boa água e bom café. Este último não é como na Alemanha: de 14 grãos 15 xícaras, mas sim, minha mulher pega mãos cheias (de grãos). Ah, se vocês ao menos tivessem o café que aqui ninguém se dá o trabalho de colher! É verdade que aqui é quente mas dá para agüentar bem. Nós chegamos na nossa fazenda no dia da Assunção e no dia seguinte já nos instalamos na nossa casa. No primeiro dia do feriado de Pentecostes fui passear montado num lindo cavalo e muitos outros foram juntos. Logo chegamos a uma outra fazenda, cujo proprietário nos convidou para comer; havia 16 tipos de pratos e vinho à vontade. Foi uma bela acolhida! Eu agradeço a Deus por estar no Brasil; nos diziam lá (na Alemanha) que nós seríamos escravos mas, nossa situação atual, comparada com a de antes, atesta o contrário: lá éramos escravos; aqui vivemos na Terra Prometida, melhor do que os mais abastados em Ranis. Minha casa é grande, podendo vocês morarem nela: três grandes aposentos e uma cozinha. Ainda não possuo gado pois estão faltando os currais; logo começarei a construí-los e, então, receberei a quantidade de cabeças de gado que eu desejar; cavalos, muares, bois, vacas, ovelhas, porcos, galinhas, gansos e muitos outros animais vivem soltos por aí. A nossa alimentação é composta de arroz, feijão, duas espécies de farinha, sendo uma um tipo de trigo mas muito nutritiva, carne de porco e vaca, açúcar, aguardente, batatas, frutas como, por exemplo, laranjas e bananas. A colheita de café começou no dia 27 de maio e dura 3 meses; então iremos receber todos as espécies de frutas para plantar; primeiro temos que preparar o solo para isso. Digo novamente: é verdade o que escrevo.

Adeus! Seu querido filho.

F. Roßbach e família".

3. N. 9, início de setembro, 1852.

"Johann Georg Bock de Mellenbach para Michael Bock na mesma.

São Matheus, 30 de maio de 1852.

Deus esteja convosco! Queridos pais e cunhados. Nós todos nos encontramos ainda com saúde e bem, e desejamos de coração ouvir o mesmo de vocês. Depois de tudo que pudemos ver até agora, consideramos o nosso futuro mais assegurado do que aí em casa. Do porto, onde não pudemos permanecer devido à febre amarela, até a nossa fazenda são aproximadamente 20 milhas. As nossas casas ainda não estão todas prontas e, até lá, teremos que nos contentar com barracas. As sete prontas foram sorteadas ontem, sendo Hanne Sperber premiado; ele quer por enquanto me alojar. Hanne Sperber e os Henkels estão com saúde; em contrapartida, Bernhard Sperber está doente. Agradecemos mil vezes à nossa comunidade por nos ter ajudado com a nossa emigração. Quisera Deus que todos os pobres diabos estivessem aqui no Brasil! Depois de Pentecostes iniciaremos o nosso trabalho diário; é um trabalho fácil, durante o qual recebemos boa alimentação, por exemplo, arroz, pão de milho, feijão e, todos os dias, carne. Há também boa aguardente, até melhor do que a de vocês. Se alguém trouxesse para cá alguns cem Thalers, este conseguiria aqui no mínimo o que se consegue aí com 800 Rl31 31 Rl = Reichgulden ; posso, sinceramente, afirmar isso, confiem na minha palavra de honra. Na cidade de Petrópolis, fundada há 7 anos, moram quase só alemães. Ao Jacob Ehrhardt digo: ponha-se a caminho, venda seus velhos escopros e venha para o Brasil; mas traga alguns bons cachorros de caça pois, com a caça dá para se fazer alguma coisa aqui. Se eu tivesse o suficiente para poder adiantar o custo da viagem para os meus pais, não os deixaria nem mais um quarto de hora neste seu país de ... . Aqui se vive sem preocupação, nenhum fardo nos pesa. Mesmo tendo dívidas, pagamo-las com facilidade, enquanto o bom Deus nos mantiver com saúde. Passamos ainda sem igreja e escola mas logo serão estas estabelecidas. Sem dúvida que aqui faz um pouco mais de calor do que aí (hoje, por exemplo, 24 graus), mas é suportável. Hanne Sperber manda lembranças ao mestre Köhler e é para ele vir nos visitar; não é longe, no máximo 10.000 milhas! — Há escravos aqui ainda, mas nós não temos nada a ver com eles; vivemos livres. Mas mesmo os escravos vivem melhor aqui do que os camponeses aí com vocês; é verdade que eles não podem economizar mas também não contraem dívidas como aí. Quando desejamos ir à cidade, pegamos então um burro e saímos montados; é usual aqui. Escrevam-nos novamente; alguns mil réis (isto é franquia em Thaler) não nos fazem falta.

Joh. Georg Bock".

4. Suplemento do 17° Exemplar do Rudolstädter Wochenblatt de 1853.

"Ao regedor (da comunidade) Sr. Boigt em Sitzendorf.

Santa Justa, 9 de novembro de 1852.

Prezado Sr. regedor! Enfim consigo tempo para dar-lhe notícias. A nossa viagem já é bem conhecida e eu só chamo a atenção para o fato de que a minha esposa deu à luz durante a mesma e viajou no camarote como uma distinta parturiente. Todos os passageiros admiraram-se desta extraordinária bonificação. Após termos passado por uma pequena tempestade, cuja agitação fez com que os nossos utensílios de lata tocassem a mais bela música de charanga, realizou-se no dia 25 de abril o batizado. O capitão fez um discurso tão substancioso, que todos derramaram lágrimas; a criança recebeu o nome do navio: Lorenzine. O capitão deu uma festa de batizado no camarote nunca vista por nenhum de nós e isso tudo não me custou mais do que um 'muito obrigado'. Aliás, passamos no geral tão bem durante a viagem marítima que diariamente pensávamos nos necessitados que tinham ficado na Alemanha e desejávamos poder enviar-lhes o nosso excesso. No dia 18 de maio aportamos no Porto Estrela, passamos pela cidade alemã de Petrópolis, onde fomos gentilmente recebidos pelos nossos conterrâneos, servidos e presenteados, e chegamos no dia 27 de maio à fazenda Santa Justa. Depois de uma semana de descanso nosso primeiro trabalho foi na colheita de café, que ocorre durante os três meses de inverno. A mim foram dadas 2.500 árvores. As manhãs são normalmente nebulosas, os meios-dias bem quentes e as noites frescas. Em setembro foi-nos concedido terra, na qual nós nos ocupamos totalmente no momento com plantio. Aqui pode-se plantar batatas três vezes por ano. Todas as casas são caiadas e cobertas com telhas e possuem 4 aposentos. Ah, como eu me atormentava na Alemanha só com o pão nosso de cada dia; eu não tinha condições nem de arranjar uma choupana, muito menos uma casa. Enfim, tirei a sorte grande. Já agora estamos muito bem e, daqui a alguns meses, quando tivermos nós mesmos colhido algo, estaremos ainda melhor. Comemos diariamente a nossa carne; se por acaso não a cozinhamos, a culpa é toda nossa; usamos também semanalmente 3 quilos de toicinho, a mesma quantidade de açúcar, além dos demais legumes. Não falta, decerto, incômodos até se acostumar com o clima; e, em alguma forma de escravidão, como na qual vocês possivelmente acreditam, nem pensar; nós somos homens totalmente livres do mesmo modo como qualquer um aí que deva alguma coisa ao seu credor; podemos fazer ou deixar de fazer o que nos apetece; ignoramos tributos e temos a esperança de, em poucos anos, pagar com o nosso trabalho o custo da nossa travessia. Eu depus o 'fardo da preocupação', não troco, no que se refere à minha casa e ao meu lindo campo, com nenhum homem de recurso daí, e aqui ninguém é colocado em apuros por um credor impiedoso. Somos livres de tudo que ainda os preocupa. Vocês pensavam que, se eu deixasse, a minha mulher voltaria para a Alemanha — pura ilusão! Vocês não a verão mais. Agradecemos às louváveis comunidades Sitzendorf e Burkersdorf por tudo de bom que elas fizeram para nós e desejamos-lhes as mais ricas bênçãos do céu.

Heinrich Möller".

5. Suplemento do 5° Exemplar do Rudolstädter Wochenblatt de 1853.

"Colônia Santa Justa, 24 de junho de 1852.

Caros amigos! Estamos no momento em pleno inverno, mas podemos ainda andar descalços e de cuecas. Para a minha família foram dados 2.000 pés de café, montando 500 para cada pessoa; eles não são mais altos do que se pode alcançar e estão tão carregados que basta passar as mãos. Pepinos, ervas, feijão, alface e batatas pode-se obter ainda frescos; mas no inverno não cresce nada. Como na Alemanha, é possível obter de tudo aqui. Além de algumas galinhas, ainda não comprei nada, pois não estamos completamente instalados. Desde o dia 27 de maio, quando chegamos à nossa colônia, encontramos-nos bem e com saúde. Querida cunhada, irmã e cunhado, se vocês estiverem dispostos a me seguirem, dêem-me notícias porque eu talvez possa contribuir com algo. Não acreditem que se tornarão escravos (como se dizia no momento da minha partida); parece-me muito mais que nós nos livramos da escravidão. Nos mudamos para um país feliz; a diferença climática não é grande, só um pouco menos quente (sic), porém nas montanhas também não falta água boa. Há pouca bicharada, mas porco do mato e macacos em quantidade. Há carne suficiente e nós podemos nos divertir quanto quisermos. No dia 13 e 20 deste mês fizemos a brincadeira de atirar no porco. Cada pai de família possui uma casa com 3 cômodos e uma cozinha. Sobre o nosso ganho ainda não posso escrever muito a respeito; mas o nosso senhor, que se chama Bellens, garante que quem for em certa medida fiel conseguirá dentro de 2 anos quitar as suas dívidas. Segundo o curso das coisas até o agora, o custo diário para a minha família de 4 pessoas é aproximadamente de 3 Rl. Uma igreja e uma escola para as nossas 3 colônias estão sendo construídas. — Na viagem de vinda ocorreram os seguintes infortúnios: no dia 5 de abril morreu uma criança pequena do Friedrich Michel de Rudolstadt, no dia 23 a do Peter Pröschold, no dia 4 de maio uma do Friedrich Winkler de Ruppersdorf, no dia 7 uma do Appelfeller; no dia 15 um menino de Rudolstadt escaldou a cabeça. Na noite anterior quase fomos afundados por um outro navio, pois o faroleiro adormeceu. — Heinrich Müller de Sitzendorf batizou (sua filha) no navio. Com lágrimas de felicidade pela nossa afortunada condição atual, termino aqui e desejo a vocês todos tudo de bom na vida.

Georg Schneider aus Ludwigstadt".

6. Suplemento do 5° Exemplar do Rudolstädter Wochenblatt de 1953.

"Colônia Sta. Justa, 9 de julho de 1852.

Para a Sra. Marie Böttcher em Berka a. J.

Querida mãe! Desde que deixamos a Alemanha não passamos dia nem noite sequer sem pensar na senhora. É verdade que não podemos mais conversar uns com os outros, mas queremos escrever a pura verdade. A nossa decisão de vir para o Brasil nos foi muito dura; mas, assim com é verdade que Deus vive, não nos arrependemos. O nosso contentamento ao chegarmos ao Rio de Janeiro era indescritível. Quando chegamos à colônia, encontramos quase todas as casas prontas e não precisamos nos preocupar com gêneros alimentícios. 1 kg. de café, a mesma quantidade de açúcar, 2 kg. de toucinho, 2 kg. de carne, arroz, feijão, farinha, o que na Alemanha mal podia ser consumido em um mês, eu consumo agora em uma semana. Eu ganho semanalmente, com mulher e filho, 15 Thaler. Vivemos como Deus na França32 32 Expressão popular alemã que significava viver muito bem. ; taxas não temos, não conhecemos pedintes nem mendigos. Querida mãe, se a Senhora vier para cá, traga-nos sobretudo sementes como, por ex., de melilotus amarelos e cereais de verão, um pouco de cada; também retroses azuis e amarelos e um relógio de parede. O pobre daqui já tem tanto quanto alguns abastados daí. O nosso senhor é rico como um príncipe.

Muitas lembranças nossas a todos os bons amigos!

Joh. Christoph Gottfried Reinhardt e esposa ex. Dornburg".

7. Suplemento do 11° Exemplar do Rudolstädter Wochenblatt de 1853.

"Colônia Sta. Justa, 11 de junho de 1852.

A alegria dos nossos companheiros de viagem e de destino com a chegada feliz ao lugar determinado foi perturbada pelo fato de o nosso Julius ter adoecido gravemente. O proprietário da fazenda e a sua esposa mostraram boa vontade e preocupação com a criança; um negro teve que pegá-la nos braços e carregá-la até a nossa casa, onde recebeu todos os tipos de medicamento e tratamento. Embora a doença tenha abrandado um pouco, (Julius) acabou falecendo no dia 23 de junho. A bondade da Madame Bellens foi tão longe que ela trouxe, com as próprias mãos, a fina mortalha, vestiu a criança sem vida e decorou-a com as mais belas flores. Dificilmente na Alemanha uma senhora tão rica e distinta se deixaria rebaixar tanto. Aqui no Brasil o pobre é tão respeitado quanto o rico. O clima é saudável. A nossa alimentação consiste, principalmente, de pão de milho (um tanto escuro e grosseiro), feijão e arroz acompanhados de carne. Com relação a esta última (a carne), não é como se dizia lá em casa. Com as batatas silvestres que colhemos na floresta cozinhamos 'Scharbrig' e 'Klöße'33 33 Espécie de almôndega. , que ficam bem bonitos. Que vivemos aqui mais tranqüilos que na Alemanha, é certo; de impostos não temos notícias e aos domingos não esperamos nenhum 'Stecken'34 34 Neste caso aqui significa “alguém que mete a mão no bolso do outro”. Provavelmente algum funcionário que vem para cobrar dívidas ou impostos. diante das nossas janelas. Naturalmente que em relação a outras coisas o Brasil está longe de ser a Alemanha; para os negros tudo estava mais que bem organizado, o que para nós alemães não é suficiente. Mas em breve tudo será diferente quando passarmos a cultivar os nossos próprios alimentos e viver conforme a ordem alemã. O nosso senhor deseja mais turíngios e por isso já escreveu para Hamburgo. Nós escrevemos um boletim sobre o que nós encontramos aqui, o mesmo assinado por todos da colônia. Eu não pretendo persuadi-los nem mesmo dissuadi-los, até porque a viagem é muito penosa para a família. É preciso decidir de livre vontade. Vocês poderão ler o boletim mencionado com os nossos nomes no 'Rudolstädte Wochenblatt'. O que não contém na minha carta vocês encontrarão na do padrinho Reisen. Não posso reclamar de Christian Arnoldt, nós o consideramos como nosso próprio filho.

Georg Nicol Neubauer.

10 de julho. Queridos Pais!.... Aqui no Brasil vive-se sem preocupação; porém vales e campos tão lindos como na Alemanha não há por aqui, pois o Brasil consiste até agora só de pequenos trechos cultivados e o restante é ainda uma selva. Às vezes tenho uma saudades enorme de vocês, embora eu goste muito dos Neubauer, que são muito bons para mim; então eu me consolo com a idéia de que vocês talvez ainda venham mais tarde para cá.

Christian Arnoldt".

8. Suplemento do 11° Exemplar do Rudolstädter Wochenblatt de 1853.

"Ao carpinteiro Joh. Mich. Ludwig em Mellenbach

Colonia Sta. Justa, 4 de novembro.

A viagem para o sul não é assim tão ruim como pensávamos. É verdade que durante a travessia do canal tivemos algumas noites de tempestade fazendo com que muitas caixas na entrecoberta (do navio) virassem. Mas quanto mais para o sul nós nos dirigíamos, mais calmo ia ficando o mar. Tivemos ao todo 21 dias de calmaria, perto do Equador permanecemos parados 7 dias seguidos, e nos momentos mais quentes (a temperatura) era de 30 a 40 graus. Após uma viagem de 67 dias, desembarcamos no Porto Estrela. Não tivemos que nos preocupar com alojamento e alimentação pois o administrador da colônia do nosso senhor já estava nos esperando; ele é um Kurhessen e cuidou de nós até estar tudo no seu lugar. A viagem terrestre foi um tanto penosa, mas com o acolhimento amistoso que encontramos, logo a esquecemos. Não muito depois da nossa chegada, adoeci do 'mal do clima', que castiga mais ou menos todos os recém-chegados. Porém não passei nehuma necessidade por causa disso; recebi as refeições da mesa do proprietário e a minha esposa podia ir buscar quanto alimento desejasse. Nos foram entregues 1.000 pés de café, dos quais, infelizmente, não pude colher nem a metade. Em setembro nos foi confiada terra na qual ainda nos ocupamos com o plantio. As sementes trazidas da Alemanha acabaram de brotar; mas precisamos primeiramente aguardar para ver o que vai dar. Não foi tão fácil como esperávamos; a primeira preparação (do solo) custa muito esforço. Mas, uma vez preparado, podemos então plantar e colher durante o ano todo. No inverno, as primeiras horas matutinas são, na sua maioria, nebulosas; ao meio-dia já está bem quente, de modo que se senta de preferência à sombra, e as noites são frias. Alguns frutos como a batata, por exemplo, dão de 3 a 4 vezes (ao ano). Partimos do nada e temos que pagar por meio-quilo de batata 6 vinténs ou 3 Sgr. Já estamos comendo feijão verde plantado por nós mesmos. Não acreditem que sejamos escravos; não só vivemos como homens livres, mas também despreocupados. Ninguém exige nada de nós. A despesa da nossa viagem esperamos pagar logo. Da floresta retiramos o que queremos. Como diariamente o meu meio-quilo de carne, por semana 2 quilos de toucinho e 1 quilo de açúcar, sem contar os demais legumes. Sobre as bebidas não há muito o que escrever; só há aguardente. Se queremos beber cerveja temos então que ir até Petrópolis, a 10 milhas de distância, onde há cervejarias alemãs. Sobre os nossos ganhos não posso dizer nada ao certo ainda, pois as mercadorias (armazenadas) só foram parcialmente vendidas. O calor não é tão ruim como muitos na Alemanha acreditam; já sentimos frio várias vezes. Dê lembranças a todos os nossos amigos etc., também ao regedor e ao senhor pároco. Por tudo o que eles fizeram por mim, lhes serei sempre muito grato. Desejo que o senhor pároco apresente o nosso agradecimento na igreja e que todos os sofredores tenham a nossa sorte.

Seu filho e irmão Christian Maß".

9. Suplemento do 14° Exemplar do Rudolstädter Wochenblatt de 1853.

"Santa Justa (sul do Brasil), 27 de dezembro de 1852.

Querida filha! Sofremos muito desde que nos despedimos de você e, durante a viagem marítima, tivemos que passar por alguns momentos desagradáveis, que não foram do nosso gosto; porém, o Pai que está no céu, que até agora nos protegeu e guardou, certamente continuará a nos ajudar e abençoar. Na nossa chegada em Santa Justa, em 27 de maio, fomos acolhidos da maneira mais cordial pelos nossos atuais senhores. Como nem todas as casas estavam prontas, moramos, até pouco tempo, na fazenda; mas agora recebi com Friedrich Appelfeller de Deesbach uma casa composta de 4 cômodos, uma horta de aproximadamente meio acre e, além disso, um cafezal com 2.000 pés e 2 acres de milho e feijão. Tudo isso precisa ser tratado cuidadosamente e eu tenho com os seus três irmãos muito, muito trabalho. Mas tudo que construo é meu e, se continuarmos saudáveis, seguramente terei pago as minhas dívidas antes que os quatro anos tenham se passado. Aqui se vive sem preocupação. Não preciso me perguntar: o que vou comer hoje ou amanhã? Como saciarei os meus filhos? Não, aqui vivo como ser humano. Portanto, não é como se diz na Alemanha: que seríamos escravos, que seríamos atrelados a uma canga! Isto poderia ser agora invertido já que lemos nos jornais que aí há muita miséria. Eu planto quase o ano todo toda espécie de legumes, feijão, arroz, milho e tudo que faz parte da nossa alimentação pois aqui não há inverno, mas sim verdeja e floresce quase o tempo todo.

Se forem novamente requeridas pessoas com este tipo de contrato, não hesitem se se sentirem suficientemente fortes para esta viagem difícil. Tanta preocupação como nós tivemos (já que sabíamos muito pouco sobre o Brasil) vocês não terão! Podem ficar descansados que é como eu escrevo. O nosso senhor é muito bom, estamos satisfeitos em todos os sentidos. O administrador da propriedade, que se chama G. Schmidt, é de Hannover. O condutor de carroça do dono da propriedade é de Hessen-Darmstadt, de nome Johann Kahl; já está há 10 anos neste serviço e construiu um bom patrimônio. Se vocês quiserem vir para cá escrevam-me então o mais breve possível; não precisam se preocupar com a roupa, posso lhes servir, mas tenham a bondade de trazer algumas varas de tecido de saco de batata para que possamos espremer as batatas e fazer 'Klöße' (almôndegas). Eu já ganhei tanto que posso alimentar uma família.

Mandem lembranças minhas a todos os amigos e conhecidos!

Prezadíssimos senhores membros da prefeitura, não me levem a mal por eu ter tomado a liberdade de endereçar esta carta ao Ex. Sr. prefeito, mas é que a minha filha não pode pagar esta franquia.

Querida filha, o que ainda quero mencionar é que todos da nossa colônia receberam uma roupa nova do nosso senhor e fizeram uma grande festa, na qual os nossos irmãos e irmãs da colônia vizinha estavam presentes e dançou-se durante 3 dias inteiros. Eduard Bourdot é o regente do coro formado por 13 homens.

Joh. Wilhelmine Hetzer".

NOTAS

Artigo recebido em 9/2002

Aprovado em 4/2003

  • 1 HOLANDA, Sérgio Buarque: As colônias de parceria In HOLANDA, S. B. (org.): História Geral da Civilização Brasileira, Tomo II, vol. 3. São Paulo/Rio de Janeiro: DIFEL, 1976, pp. 245-261.
  • COSTA, Emilia Viotti da: Da Colônia à Senzala São Paulo: Ed. Ciências Humanas, 1982.
  • Witter, J. S.: Um estabelecimento agrícola da província de São Paulo nos meados do século XIX São Paulo, 1974. Revista de História n° 50.
  • ZIEGLER, Béatrice: Schweizer statt Sklaven. Schweizerische Auswanderer in den Kaffee-Plantagen von São Paulo (1852-1866) Stuttgart: Steiner-Verlag-Wiesbaden, 1985.
  • WAGNER, Reinhardt: Deutsche als Ersatz für Sklaven. Arbeitsmigranten aus Deutschland in der brasilianischen Provinz São Paulo 1847-1914 Frankfurt/M, 1995.
  • DEAN, Warren: Rio Claro: um sistema brasileiro de grande lavoura (1820-1920) Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
  • HALL, Michael: The origins of mass immigration in Brazil, 1871-1914 Washington, tese de doutoramento, Columbia University, 1969.
  • 2 DAVATZ, Thomas: Die Behandlung der Kolonisten in der Provinz St. Paul in Brasilien und deren Erhebung gegen ihre Bedrucker Chur, Druck von Leon Hitz, 1858. (Memórias de um Colono no Brasil:1850 Tradução, prefácio e notas de Sérgio Buarque de Holanda. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1980).
  • 3 LAMOUNIER, Maria L.: Da escravidão ao trabalho livre. (A lei de locação de serviços de 1879) São Paulo: Papirus, 1988. p. 56.
  • 4 RUHE, Rudolf: Die 'Allgemeine Auswanderungs-Zeitung' ein Presseerzeugnis des 19. Jahrhunderts aus Rudolstadt Rudolstädter Heimathefte, Heft 3/4, März/April 1976.
  • ALVES, Débora Bendocchi: Das Brasilienbild der deutschen Auswanderungswerbung im 19. Jahrhundert Berlin: WVB, 2000, pp. 173-192.
  • 5 RUHE, R.: Zur Geschichte der überseeischen Auswanderung aus der Oberherrschaft des ehemaligen Fürstentums Schwarzburg-Rudolstadt im 19. Jahrhundert. Rusolstädter Heimatheft, Heft 10, Oktober 1958, pp. 244-251.
  • 6 Desde o início o sistema de parceria foi visto com desconfiança pelos alemães. Já em 1852 fora publicado por Fröbel o livro do agente hamburguês Dr. F. Schmidt: Die geregelte Auswanderung nach Brasilien und ihr erster glänzender Erfolg. Blätter zur Bekämpfung der gegen dieses Land herrschenden Vorurtheile und zu Belehrung der dahin Auswandernden. Rudolstadt 1852.
  • 7 Em 1851 a editora distribuía a "Allgemeine Auswanderungs-Zeitung" para Berlin, Erfurt, Leipzig, Hamburg, Kassel, Frankfurt, Dresden, Augsburg, Hannover, Mainz, Nürnberg, Moscou, São Petersburgo, Nova York, São Francisco, Viena, Zurique, Basileia, Paris, Londres, Kopenhagen, Estocolmo, etc. No início era um jornal semanal, mas já a partir de 1851 passou a ser publicado 3 vezes por semana. RUHE, R.: Zur Geschichte der überseeischen Auswanderung aus der Oberherrschaft des ehemaligen Fürstentums Schwarzburg-Rudolstadt im 19. Jahrhundert. Rudolstädter Heimathefte, Heft 10, 1958, pp. 244-251.
  • 8 BLUMENAU, H.: Südbrasilien in seinen Beziehungen zur deutschen Auswanderung und Kolonisation Rudolstadt, 1850.
  • 9Votum von Kerst, die Kolonie Santa Cruz mit Bezugnahme auf eine Druckschrift des Herrn Peter Kleudgen betrefend. Berlin, 6. 7. 1852; Über brasilianische Zustände der Gegenwart, mit Bezug auf die deutsche Auswanderung nach Brasilien und das System der brasilianischen Pflanzer, den Mangel an afrikanischen Sklaven durch deutsche Proletarier zu ersetzen, zugleich zur Abfertigung der Schrift des kaiserl. bras. Prof. Dr. Gade Berlin, 1853. Kerst era membro do "Verein zur Zentralisation deutscher Auswanderung und Kolonisation" (Sociedade para a Centralização da Emigração e Colonização Alemã), fundado em Berlim em 1849, e através da sociedade passou a desempenhar o papel de "conselheiro de Estado" para a emigração. Ele foi um dos maiores oponentes da emigração alemã para o Brasil. Georg Gade mudou-se em 1846 para o Brasil, onde foi professor de literatura grega no Colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro. Como vários alemães da sua época, via a emigração para o Brasil de um lado como uma forma real de melhorar a situação dos jornaleiros e proletários alemães, e de outro, uma maneira de "enobrecer" o povo brasileiro. Junto com o grande proprietário Nogueira da Gama, tinha planos de fundar uma colônia de parceria nas terras deste último em Rio Preto, com colonos alemães. De volta à Alemanha, publicou em 1853 Bericht über die deutschen Kolonien der drei großen Grundbesitzer am Rio Preto in Brasilien nebst einer kritischen Beleuchtung der Schriften Kerst. Kiel 1853. Sobre o assunto ver: F. Sudhaus: Deutschland und die Auswanderung nach Brasilien im 19. Jahrhundert Hamburg, H. Christians Verlag, 1940; pp. 75-85.
  • Jorge L. da Cunha: Rio Grande do Sul und die deutsche Kolonisation Santa Cruz do Sul, UNISC/ Gráfica L. Quatke, 1995; pp. 77-81.
  • 12 TSCHUDI, J. J.: Viagem às Províncias do Rio de Janeiro e São Paulo Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1980, p. 153.
  • 13 "Der Bericht des Herrn Dr. Heußer". In Allgem. Auswanderungs-Zeitung, nºs 46, 13, nov. 1857; nº 47, 20, nov. 1857; nº 48, 27, nov. 1857; nº 49, 4, dec. 1857; nº 50, 11, dec. 1857; nº 51, 18, dec. 1857.
  • 17 HELBICH, Kamphoefner und Sommer (Hg): Briefe aus Amerika. Deutsche Auswanderer schreiben aus der Neuen Welt. 1830-1930 München, C. H. Beck,1988, p. 33.
  • 20 COSTA, E. Viotti da: Da Senzala à Colônia São Paulo: Ciências Humanas, 1982, (2° ed.), p. 102.
  • 22 Sobre São Paulo ver HOLANDA, prefácio em Thomas Davatz: Memórias de um colono no Brasil (1850) Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP,1980.
  • 23 HANDELMANN, H. Geschichte von Brasilien Hrsg. u. mit e. Nachtrag versehen von Gustav Faber. Zürich: Manesse Verlag, 1987; pp. 568-569.
  • 24 TSCHUDI. Viagens às Províncias do Rio de Janeiro e São Paulo Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1980, p. 147.
  • 27 Sobre as mudanças socioeconômicas na Alemanha durante o século XIX, ver: NIPPERDEY, Thomas. Deutsche Geschichte: 1800-1866; Bürgerwelt und starker Staat München: Verlag C. H. Beck, 1985;
  • RÜRUP, Reinhard. Deutschland im 19. Jahrhundert: 1815-1871 GÖTTINGEN, Vandenhoeck und Ruprecht, 1984; DIPPER, Christof. Die Bauernbefreiung in Deutschland: 1790-1850 Stuttgart; Verlag Kohlhammer, 1980;
  • ALVES, Débora B. Apresentação da edição brasileira em Friedrich von Weech: A Agricultura e o Comércio do Brasil no sistema Colonial São Paulo: Martins Fontes, 1992
  • 28 Sobre a emigração da região de Schwarzburg-Rudolstadt, ver: RUHE, Rudolf. Zur Geschichte der überseeischen Auswanderung aus der Oberherschaft des ehemaligen Fürstentums Schwarzburg-Rudolstadt im 19. Jahrhundert und ihre Beweggründe I. Die Auswanderungsbewegung 1834-1870. Rudolstädter Heimatheft, Heft 11, 6. Jahrgang, nov. 1960, pp. 269-277;
  • 1
    HOLANDA, Sérgio Buarque:
    As colônias de parceria. In HOLANDA, S. B. (org.): História Geral da Civilização Brasileira, Tomo II, vol. 3. São Paulo/Rio de Janeiro: DIFEL, 1976, pp. 245-261. COSTA, Emilia Viotti da:
    Da Colônia à Senzala. São Paulo: Ed. Ciências Humanas, 1982. Witter, J. S.:
    Um estabelecimento agrícola da província de São Paulo nos meados do século XIX. São Paulo, 1974. Revista de História n° 50. ZIEGLER, Béatrice
    : Schweizer statt Sklaven. Schweizerische Auswanderer in den Kaffee-Plantagen von São Paulo (1852-1866). Stuttgart: Steiner-Verlag-Wiesbaden, 1985. WAGNER, Reinhardt
    : Deutsche als Ersatz für Sklaven. Arbeitsmigranten aus Deutschland in der brasilianischen Provinz São Paulo 1847-1914. Frankfurt/M, 1995. DEAN, Warren:
    Rio Claro: um sistema brasileiro de grande lavoura (1820-1920). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. HALL, Michael:
    The origins of mass immigration in Brazil, 1871-1914. Washington, tese de doutoramento, Columbia University, 1969.
  • 2
    DAVATZ, Thomas:
    Die Behandlung der Kolonisten in der Provinz St. Paul in Brasilien und deren Erhebung gegen ihre Bedrucker. Chur, Druck von Leon Hitz, 1858. (
    Memórias de um Colono no Brasil:1850. Tradução, prefácio e notas de Sérgio Buarque de Holanda. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1980).
  • 3
    LAMOUNIER, Maria L.:
    Da escravidão ao trabalho livre. (A lei de locação de serviços de 1879). São Paulo: Papirus, 1988. p. 56.
  • 4
    RUHE, Rudolf:
    Die 'Allgemeine Auswanderungs-Zeitung' —
    ein Presseerzeugnis des 19. Jahrhunderts aus Rudolstadt. Rudolstädter Heimathefte, Heft 3/4, März/April 1976. ALVES, Débora Bendocchi
    : Das Brasilienbild der deutschen Auswanderungswerbung im 19. Jahrhundert. Berlin: WVB, 2000, pp. 173-192. Fröbel publicava ainda outros jornais além dos citados acima. Um exemplo é o "Rudolstädter Mittwochsblatt" a partir de 1834, um jornal burguês-democrático, que em 1841 teve o seu nome mudado para "Vaterlandsfreund". Em 1848/49, durante a revolução burguesa alemã, Fröbel passou a publicar o "Deutsche Bürgerzeitung", e mais tarde o "Konstitutionellen Blätter".
  • 5
    RUHE, R.:
    Zur Geschichte der überseeischen Auswanderung aus der Oberherrschaft des ehemaligen Fürstentums Schwarzburg-Rudolstadt im 19. Jahrhundert. Rusolstädter Heimatheft, Heft 10, Oktober 1958, pp. 244-251.
  • 6
    Desde o início o sistema de parceria foi visto com desconfiança pelos alemães. Já em 1852 fora publicado por Fröbel o livro do agente hamburguês Dr. F. Schmidt:
    Die geregelte Auswanderung nach Brasilien und ihr erster glänzender Erfolg. Blätter zur Bekämpfung der gegen dieses Land herrschenden Vorurtheile und zu Belehrung der dahin Auswandernden. Rudolstadt 1852. Neste defende o autor o sistema de parceria.
  • 7
    Em 1851 a editora distribuía a "Allgemeine Auswanderungs-Zeitung" para Berlin, Erfurt, Leipzig, Hamburg, Kassel, Frankfurt, Dresden, Augsburg, Hannover, Mainz, Nürnberg, Moscou, São Petersburgo, Nova York, São Francisco, Viena, Zurique, Basileia, Paris, Londres, Kopenhagen, Estocolmo, etc. No início era um jornal semanal, mas já a partir de 1851 passou a ser publicado 3 vezes por semana. RUHE, R.: Zur Geschichte der überseeischen Auswanderung aus der Oberherrschaft des ehemaligen Fürstentums Schwarzburg-Rudolstadt im 19. Jahrhundert.
    Rudolstädter Heimathefte, Heft 10, 1958, pp. 244-251.
  • 8
    BLUMENAU, H.:
    Südbrasilien in seinen Beziehungen zur deutschen Auswanderung und Kolonisation. Rudolstadt, 1850.
    Leitende Anweisungen für Auswanderer nach der Provinz Santa Catharina in Südbrasilien. Rudolstadt, 1851.
    Deutsche Kolonie Blumenau in der Provinz Santa Catharina in Südbrasilien. Bericht bis Juni 1855 und Aufforderung zum Anschluß. Rudolstadt, 1856.
  • 9
    Votum von Kerst, die Kolonie Santa Cruz mit Bezugnahme auf eine Druckschrift des Herrn Peter Kleudgen betrefend. Berlin, 6. 7. 1852;
    Über brasilianische Zustände der Gegenwart, mit Bezug auf die deutsche Auswanderung nach Brasilien und das System der brasilianischen Pflanzer, den Mangel an afrikanischen Sklaven durch deutsche Proletarier zu ersetzen, zugleich zur Abfertigung der Schrift des kaiserl. bras. Prof. Dr. Gade. Berlin, 1853. Kerst era membro do "Verein zur Zentralisation deutscher Auswanderung und Kolonisation" (Sociedade para a Centralização da Emigração e Colonização Alemã), fundado em Berlim em 1849, e através da sociedade passou a desempenhar o papel de "conselheiro de Estado" para a emigração. Ele foi um dos maiores oponentes da emigração alemã para o Brasil. Georg Gade mudou-se em 1846 para o Brasil, onde foi professor de literatura grega no Colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro. Como vários alemães da sua época, via a emigração para o Brasil de um lado como uma forma real de melhorar a situação dos jornaleiros e proletários alemães, e de outro, uma maneira de "enobrecer" o povo brasileiro. Junto com o grande proprietário Nogueira da Gama, tinha planos de fundar uma colônia de parceria nas terras deste último em Rio Preto, com colonos alemães. De volta à Alemanha, publicou em 1853
    Bericht über die deutschen Kolonien der drei groß
    en Grundbesitzer am Rio Preto in Brasilien nebst einer kritischen Beleuchtung der Schriften Kerst. Kiel 1853. Sobre o assunto ver: F. Sudhaus:
    Deutschland und die Auswanderung nach Brasilien im 19. Jahrhundert. Hamburg, H. Christians Verlag, 1940; pp. 75-85. Jorge L. da Cunha:
    Rio Grande do Sul und die deutsche Kolonisation. Santa Cruz do Sul, UNISC/ Gráfica L. Quatke, 1995; pp. 77-81.
  • 10
    O artigo "Die Zustände der Regierungs — und Privatkolonien in Brasilien am Ende des Jahres 1859" analisa muito bem os problemas do sistema de parceria e mesmo das colônias baseadas na pequena propriedade, não deixando de apontar as falhas tanto por parte do governo brasileiro, quanto dos fazendeiros e dos próprios colonos. Este foi publicado na "Allgemeine Auswanderungs_Zeitung" em três partes: uma no dia 31 de agosto (nº 35), outra no dia 7 de setembro (nº 36) e a última a 14 de setembro de 1860 (nº 37).
  • 11
    Beilage zum 21. Stücke des Rudolstädter Wochenblattes 1853.
  • 12
    TSCHUDI, J. J.:
    Viagem às Províncias do Rio de Janeiro e São Paulo. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1980, p. 153.
  • 13
    "Der Bericht des Herrn Dr. Heußer". In Allgem. Auswanderungs-Zeitung, nºs 46, 13, nov. 1857; nº 47, 20, nov. 1857; nº 48, 27, nov. 1857; nº 49, 4, dec. 1857; nº 50, 11, dec. 1857; nº 51, 18, dec. 1857.
  • 14
    "Allgem. Auswanderungs-Zeitung", nº 51, 18, dec. 1857.
  • 15
    TSCHUDI.
    Op. cit., pp. 160-161.
  • 16
    O próprio redator do jornal escreve, entre parênteses, que cortou trechos sobre questões familiares e particulares de algumas cartas.
  • 17
    HELBICH, Kamphoefner und Sommer (Hg):
    Briefe aus Amerika. Deutsche Auswanderer schreiben aus der Neuen Welt. 1830-1930. München, C. H. Beck,1988, p. 33.
  • 18
    Os vários artigos publicados sobre a fazenda Ibicaba nos jornais de Fröbel devem ter sido matéria paga pela firma Vergueiro. Antes da revolta foram publicados artigos incentivando a emigração e explicando as condições dos contratos de parceria. Após a revolta, muitos dos artigos publicados assinados por José Vergueiro, filho do senador, tratavam de defender o empreendimento da família das acusações feitas por Davatz, Heußer, Tschudi e outros sobre o ocorrido em Ibicaba.
  • 19
    SUDHAUS, Fritz.
    Op. cit, p. 76.
  • 20
    COSTA, E. Viotti da:
    Da Senzala à Colônia. São Paulo: Ciências Humanas, 1982, (2° ed.), p. 102. Através das cartas dos imigrantes apresentadas neste artigo, constata-se que a quinta colônia deve ter sido a de São Mateus.
  • 21
    COSTA, E. Viotti.
    Op. cit., p. 107.
  • 22
    Sobre São Paulo ver HOLANDA, prefácio em Thomas Davatz:
    Memórias de um colono no Brasil (1850). Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP,1980.
  • 23
    HANDELMANN, H.
    Geschichte von Brasilien. Hrsg. u. mit e. Nachtrag versehen von Gustav Faber. Zürich: Manesse Verlag, 1987; pp. 568-569.
  • 24
    TSCHUDI.
    Viagens às Províncias do Rio de Janeiro e São Paulo. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1980, p. 147.
  • 25
    Na nota de rodapé da edição brasileira, página 147, há um erro de tradução. Não se trata da fazenda S. Cruz mas sim da Santa Justa. Ver edição alemã,
    Reise durch Südamerika. Bde. 1-5. Leipzig, 1866-1869. Unveränderter Neudruck: Stuttgart, Brockhaus, 1971; volume 3, p. 251.
  • 26
    Ver HALL, Michael:
    The Origins of Mass Immigration in Brazil, p. 16. O colono Franz Holle, residente na fazenda Ibicaba, escreveu em 1856 que na colônia havia mais de 400 escravos negros. "Der Pilot", nºs 27, 2, Julho, 1856.
  • 27
    Sobre as mudanças socioeconômicas na Alemanha durante o século XIX, ver: NIPPERDEY, Thomas.
    Deutsche Geschichte: 1800-1866; Bürgerwelt und starker Staat. München: Verlag C. H. Beck, 1985; RÜRUP, Reinhard.
    Deutschland im 19. Jahrhundert: 1815-1871. GÖTTINGEN, Vandenhoeck und Ruprecht, 1984; DIPPER, Christof.
    Die Bauernbefreiung in Deutschland: 1790-1850. Stuttgart; Verlag Kohlhammer, 1980; ALVES, Débora B. Apresentação da edição brasileira em Friedrich von Weech:
    A Agricultura e o Comércio do Brasil no sistema Colonial. São Paulo: Martins Fontes, 1992 (Obs.: Infelizmente a editora deu um novo título a esta obra traduzida por mim. O título correto em português deveria ser:
    A situação atual do Brasil e o seu sistema de colonização, sobretudo em relação à agricultura e ao comércio. Destinado especialmente a emigrantes).
  • 28
    Sobre a emigração da região de Schwarzburg-Rudolstadt, ver: RUHE, Rudolf.
    Zur Geschichte der überseeischen Auswanderung aus der Oberherschaft des ehemaligen Fürstentums Schwarzburg-Rudolstadt im 19. Jahrhundert und ihre Beweggründe. I.
    Die Auswanderungsbewegung 1834-1870. Rudolstädter Heimatheft, Heft 11, 6. Jahrgang, nov. 1960, pp. 269-277; II. Die Beweggründe. Heft 12, 6. Jahrgang, dez. 1960.
  • 29
    Ver ZIEGLER.
    Schweizer statt Sklaven, pp. 146 und 165.
  • 30
    Sgr = Silbergroschen (centavos de prata)
  • 31
    Rl = Reichgulden
  • 32
    Expressão popular alemã que significava viver muito bem.
  • 33
    Espécie de almôndega.
  • 34
    Neste caso aqui significa “alguém que mete a mão no bolso do outro”. Provavelmente algum funcionário que vem para cobrar dívidas ou impostos.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Ago 2003
    • Data do Fascículo
      Jul 2003

    Histórico

    • Aceito
      Abr 2003
    • Recebido
      Set 2002
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