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Histórias (co) movedoras: História oral e estudos de migração

Resumos

Este artigo pretende rever a contribuição dada pela história oral aos estudos sobre migração nos últimos vinte e cinco anos, especialmente entre a Grã-Bretanha e a Austrália. O título "histórias (co) movedoras" é um útil jogo de palavras sobre a história oral da migração porque está centrado na experiência pessoal de mudança entre lugares, assim como indica a natureza comovedora dos relatos para o narrador e sua audiência.

História oral; estudos de migração; Grã-Bretanha e Austrália


This article intends to review the contribution which oral history has made to migration studies over the last quarter century, mainly between Britain and Australia. The title "moving stories" in an useful pun about the oral history of migration because is centered on the physical experience of movement between places, as well as is deeply moving for the narrator and for his or her audience.

Oral History; migrations studies; Britain and Australia


Histórias (co) movedoras: História Oral e estudos de migração

Alistair Thomson

Centro de Educação Continuada da Universidade de Sussex

Tradução de Magda França Lopes

RESUMO

Este artigo pretende rever a contribuição dada pela história oral aos estudos sobre migração nos últimos vinte e cinco anos, especialmente entre a Grã-Bretanha e a Austrália. O título "histórias (co) movedoras" é um útil jogo de palavras sobre a história oral da migração porque está centrado na experiência pessoal de mudança entre lugares, assim como indica a natureza comovedora dos relatos para o narrador e sua audiência.

Palavras-chave: História oral; estudos de migração; Grã-Bretanha e Austrália.

ABSTRACT

This article intends to review the contribution which oral history has made to migration studies over the last quarter century, mainly between Britain and Australia. The title "moving stories" in an useful pun about the oral history of migration because is centered on the physical experience of movement between places, as well as is deeply moving for the narrator and for his or her audience.

Keywords: Oral History; migrations studies; Britain and Australia.

Este artigo — que começou como uma inserção pessoal em um novo projeto de história oral sobre a migração pós-guerra entre a Grã-Bretanha e a Austrália ­, faz uma revisão da contribuição dada pela história oral aos estudos de migração nos últimos vinte e cinco anos. As várias publicações nacionais de história oral e as atas das conferências nacionais e internacionais de história oral, algumas delas publicadas como antologias, proporcionam um recurso rico e indicativo para este estudo1 1 Compilações internacionais importantes incluem: BENMAYOR, Rina & SKOTNES, Andor (eds.). International Yearbook of Oral History and Life Stores. Vol III, Migration and Identity . Oxford: Oxford University Press, 1994: Memory and Multiculturalism: Proceedings of the VIII International Oral History Conference. Siena: Comitato Internazionale di Storia Orale and Università degli Studi di Siena, 1993; Communicating Experience: Proceedings of the IX International Oral History Conference, Gotebörg: International Oral History Committee, 1996 (Section 1: Migration and Ethnic Identity). Compilações nacionais importantes incluem: Oral History Association of Australia Journal nº 6, 1984, número especial sobre "Migrant Oral Histories"; Oral History vol. 8, nº 1, 1980, número especial sobre "Black Oral History"; Oral History vol. 21, nº 1, 1993, número especial sobre "Ethnicity and Oral History"; Canadian Oral History Association Journal nº 9, 1989, número especial sobre "Oral History and Ethnicity"; Oral History Review vol. 16, nº 2, 1988, número especial sobre "Oral History and Puerto Rican Women"; Oral History Review vol. 23, nº 2, 1996, número especial sobre "Migrant Women". ; na verdade, a migração emerge como um dos temas mais importantes da pesquisa de história oral2 2 Uma questão relacionada, que requer mais pesquisa, diz respeito ao impacto da história oral sobre o campo mais amplo da história da migração, e mais em geral sobre os estudos de migração. Nos Estados Unidos, por exemplo, Matthew S. Magda declara que "a história oral tem tido, entre as várias especializações na profissão histórica, talvez seu maior impacto na história étnica e do trabalho": "Review Essay: Immigration and Ethnic Communities", Oral History Review vol. 15, Fall 1987, p. 152. Ver também HALFACRE, K.H. & BOYLE, P.J. "The Challenge Facing Migration Research: The Case for a Biographical Approach". In Progress in Human Geography. Vol.17, nº 3, 1993, pp. 333-48; FINDLAY, A.M. & LI, L.L.N. "An Auto-Briographical Approach to Understanding Migration: the Case of Hong Kong Emigrants". In Area vol. 29, nº 1, pp. 33-44. . Minhas principais fontes são os escritos de historiadores da Grã-Bretanha, América do Norte e Australásia, embora também tenha recorrido, em menor extensão, a traduções inglesas de estudos da América Latina e da Europa continental. Defino "migração" incluindo tanto migrações internacionais quanto intranacionais e, como a maioria dos estudos de história oral, enxergo a passagem física da migração de um lugar para outro como apenas um evento em uma experiência migratória que abarca velhos e novos mundos e que continua por toda a vida do migrante e pelas gerações subseqüentes.

Esta definição ampla chama a atenção para uma sobreposição neste campo entre o estudo da migração e o estudo das comunidades migrantes ou étnicas. Muitos dos escritos aqui referidos se estendem sobre estas duas áreas interrelacionadas de estudo, sem necessariamente problematizar a distinção. Por um lado, a história da migração está interessada nos processos pelos quais os migrantes, individual e coletivamente, se estabelecem em uma nova região ou país, e pelas maneiras em que as redes de trabalho e os estilos de vida do local de origem são recriados e modificados no novo mundo. Evidentemente, a experiência de um grupo étnico particular no local de destino é um elemento necessário à história da migração. De fato, como discuto mais adiante, mudanças no interior de comunidades étnicas estabelecidas e relações de contestação à cultura dominante são freqüentemente motivações para o registro e a promulgação de histórias da origem e da chegada de migrantes.

Por outro lado, há o risco de se enxergar essas comunidades somente em termos de suas origens migrantes, especialmente onde elas podem ter raízes históricas profundas provindas de uma continuidade de residência e podem sustentar elementos de diferença cultural muitas gerações depois do período inicial de migração. Na experiência dos membros de uma comunidade étnica particular, a história da migração pode ser menos importante do que as questões atuais dessa comunidade e no que se refere ao seu relacionamento com a cultura dominante. Inversamente, a noção de "etnicidade" pode não ser atrativa ou adequada para alguns migrantes que optam por não se identificarem em termos de etnicidade ou local de origem. E assim como os migrantes individuais e seus descendentes lutam contra os rótulos de identificação, as sociedades migrantes lutam contra os rótulos que definem e moldam a experiência da migração: "estrangeiro", "imigrante", "refugiado", "minoria étnica", "comunidade étnica", etc.

Embora possamos distinguir os processos de uma migração inicial das experiências contínuas de migrantes individuais e de comunidades migrantes, a maior parte da história oral da migração reconhece as complexas interconexões entre a migração e a formação e o desenvolvimento das comunidades migrantes e das identidades étnicas. Em prol da clareza vou me concentrar aqui nos estudos que exploram as migrações que ocorreram na memória viva, e em que as experiências da migração e das comunidades étnicas são parte igualmente importantes da história.

HISTÓRIAS NÃO REGISTRADAS, MAL DOCUMENTADAS E OCULTAS DA MIGRAÇÃO

O historiador francês Phillipe Joutard escreve que "as migrações modernas ... dificilmente poderiam ser estudadas hoje em dia sem os relatos de primeira mão dos emigrantes"3 3 Citado por SOLDEVILLA, Consuelo. "An Exemple of the Use of Oral Sources in the Global and Interdisciplinary Study of Populations Movements: Emigration from Cantabria to America, 1880-1930". In Memory and Multiculturalism, p. 785. . Um apelo fundamental e permanente dos profissionais que trabalham com a história oral da migração tem sido que a própria história do migrante pode ser registrada ou mal documentada, e que a evidência oral proporciona um registro essencial da história oculta da migração. Por exemplo, esta foi a motivação de um projeto de história oral iniciado no início da década de 1980 pela Comissão de Assuntos Étnicos de New South Wales, como uma contribuição para a história do bicentenário da Austrália.

(...) as experiências de um grande número de migrantes que vieram para a Austrália não foram registradas e preservadas e, por isso, não estariam refletidas nos escritos e no entendimento da Austrália moderna ... parecia improvável que muitos destes imigrantes fossem capazes de escrever, publicar ou divulgar suas experiências, pois careciam de tempo e de recursos e freqüentemente tinham problemas com a língua inglesa escrita4 4 WINTERNITZ, Judith. "Telling the Migrant Experience: the oral History Project of the Ethnic Affairs Commission of N.S.W". In Oral History Association of Australia Journal nº 6, 1984, p. 45. .

A maior parte das histórias da migração anterior australiana concentrou-se nas políticas de migração e nas atitudes australianas diante da migração, e "os próprios migrantes, suas experiências e seu impacto na sociedade australiana foram relegados a tabelas estatísticas e relatos laboriosos de quem veio quando..."5 5 DOUGLAS, Louise & WILTON, Janis. "Editorial". In Oral History Association of Australia Journal nº 6, 1984, p. 1. . Escrevendo no final da década de 1970, Paul Thompson concordou que a história dos grupos de imigrantes foi "principalmente documentada apenas de fora, como um problema social", e que uma "abordagem de dentro... com certeza vai se tornar mais importante na Grã-Bretanha"6 6 THOMPSON, Paul. The Voice of the Past: Oral History, Oxford: Oxford University Press, 2nd edition, 1988, p. 7. . Neste aspecto, a história oral da migração exemplifica o interesse de muitos historiadores nas histórias não documentadas de grupos sociais marginalizados ou oprimidos.

Tal evidência documental sobre a experiência do migrante, como ela existe, pode ser parcial e até enganosa. Por exemplo, em um estudo escrito em 1978 sobre a migração de famílias mineiras para as jazidas de carvão de Kent entre as duas guerras, Gina Harkell comentou sobre a inadequação dos registros escritos preservados nos arquivos do Ministério do Trabalho, que responsabilizavam os elevados índices de rotatividade na força de trabalho pelas condições terríveis das minas. Na verdade, a evidência oral de velhos mineiros sugeria que eles teriam suportado as más condições porque precisavam do emprego, mas o testemunho de suas esposas mostrava que as principais razões por que as famílias dos mineiros deixaram as jazidas de carvão de Kent foram a hostilidade local e a ausência de redes de apoio familiar para as esposas dos mineiros7 7 HARKELL, Gina. "The Migration of Mining Families to the Kent Coalfield Between the Wars". In Oral History vol 6, nº 1, 1978, pp. 98-113. .

Mesmo quando existem fontes documentais produzidas e preservadas por membros de comunidades migrantes, a evidência oral pode atuar como "um corretivo poderoso", como declarou Bill Williams em seu estudo dos imigrantes judeus em Manchester. A evidência documental que restou era quase inteiramente produto da sociedade inglesa ou de uma elite anglo-judaica, com um assumido interesse pela rápida assimilação e projeção de estereótipos defensivos de uma comunidade judaica coesa e harmoniosa. Dessa forma, "uma história comunal extraída de fontes documentais tende a ser uma reinterpretação do mito comunitário, pois a maior parte dos documentos encontrados foi formulada por aqueles mais interessados em manter os mitos vivos"8 8 WILLIAMS, Bill. "The Jewish Immigrant in Manchester — The Contribution of Oral History". In Oral History vol. 7, nº 1, 1979, p. 52. . Em contraste, a evidência oral coletada por Williams evocava uma "comunidade" judaica com rígidas distinções internas e interconexões complexas com a sociedade mancuniana9 9 Mancuniano: originário da ilha de Manchester. (N. da T.) mais ampla, e demonstrava, por exemplo, que as escolhas ocupacionais dos migrantes judeus mais provavelmente se deviam a redes residenciais do que a estereótipos históricos sobre o caráter e o "espírito empresarial" dos judeus.

Sem querer desviar do assunto, pode ser sugestivo o fato de alguns estudos que enfatizam a importância das evidências da história oral para o estudo da migração no século XX10 10 As tradições orais familiares e comunitárias também têm sido usadas para esclarecer as experiências de migração anteriores ao século XX, como aquelas dos migrantes escoceses para o Canadá em meados do século XIX. Ver MCKAY, Margaret. "Nineteenth Century Tiree Emigrant Communities in Ontario". In Oral History vol 9, nº 2, 1981, pp. 49-60. fazerem pouco uso de outras formas de testemunho pessoal. As histórias de migrações anteriores — como o assentamento de europeus na Austrália no século XIX — fazem uso extensivo de cartas, diários e memórias de migrantes11 11 HASSAM, Andrew. Sailing to Australia: Shipboard Diaries by Nineteenth Century British Emigrants. Manchester: Manchester University Press, 1994. . Para alguns casos da migração no século XX tais fontes podem estar indisponíveis; por exemplo, Carolyn Adams explica que isso aconteceu em praticamente toda parte no que se refere aos marinheiros de Silhet que se estabeleceram no distrito oriental de Londres12 12 ADAMS, Carolyn. "Across Seven Seas and Thirteen Rivers". In Oral History vol. 19, nº 1, 1991, pp. 29-35. . Mas fico me perguntando se a oportunidade prontamente apresentada pela história oral para registrar as histórias aparentemente ocultas dos migrantes não substituiu os esforços dos historiadores para descobrir outras formas de testemunho pessoal. É revelador que um subproduto significativo e inicialmente inesperado do projeto de história oral da Comissão de Assuntos Étnicos de New South Wales tenha sido os arquivos pessoais e familiares compostos de cartas, diários, memórias e, acima de tudo, fotografias. É também digno de nota que, nas últimas décadas, escritos comunitários e projetos publicados, como Centerprise e Eastside Writers em Londres ou Gatehouse e Commonword em Manchester, tenham produzido muitos volumes de autobiografias e escritos pessoais e ofereçam um recurso rico e complementar para a história vivida da migração e das comunidades étnicas13 13 Para detalhes de publicações importantes de membros da Federation of Worker Writers and Community Publishers, e-mail fwwcp@cwcom.net, ou escreva para FWWCP, 67 The Boulevard, Tunstall, Stoke on Trent, ST6 6BD. . Muitos dos argumentos usados neste artigo sobre história oral poderiam ser aplicados ao uso de outras formas de testemunho pessoal — visual, escrito e oral — como fontes para a história da migração.

ESCULPINDO UMA TEORIA A PARTIR DA EXPERIÊNCIA

O testemunho pessoal oferece singulares "vislumbres do interior vivido nos processos de migração"14 14 BENMAYOR, Rina & SKOTNES, Andor. "Some Reflections on Migration and Identity". In BENMAYOR & SKOTNES. Op. cit., p. 14. . Outras fontes revelam a criação, implementação e contestação da migração e da política de "assuntos étnicos", ou os padrões estatísticos de movimento, assentamento, emprego e previdência social. O testemunho oral e outras formas de histórias de vida demonstram "a complexidade do real processo da migração"15 15 JONES, Merfyn. "Welsh Immigrants in the Cities of North West England, 1890-1930: Some Oral Testimony". In Oral History vol. 9, nº 2, 1981, p. 34. e mostram como estas políticas e padrões repercutem nas vidas e nos relacionamentos dos migrantes individualmente, das famílias e das comunidades. Como declaram Rina Benmayor e Andor Skotnes, o testemunho pessoal "permite entender como as matrizes em movimento das forças sociais impactam e moldam os indivíduos, e como os indivíduos, por sua vez, respondem, agem e produzem mudança na arena social mais ampla". Esclarecendo aspectos da experiência dos migrantes, que de outro modo poderiam ser negligenciados, os profissionais que trabalham com história oral têm "esculpido uma teoria a partir de ... histórias e experiências pessoais complexas", desafiando teorias monocausais, lineares e econômicas, e reformulando as maneiras pelas quais a migração é entendida16 16 BENMAYOR & SKOTNES. Op. cit., pp. 13-14. . Os exemplos que se seguem ilustram apenas algumas maneiras pelas quais esses historiadores têm contribuído, tanto para o conhecimento empírico quanto para o conhecimento teórico da experiência da migração.

Embora as pressões econômicas freqüentemente influenciem as decisões da migração, o testemunho pessoal revela o complexo entrelaçamento de fatores e influências que contribuem para a migração e para os processos de troca de informações e negociação no interior das famílias e das redes sociais. Por exemplo, as narrativas dos migrantes evocam os "imaginários culturais" sobre os futuros locais de destino e explicam como estes imaginários são produzidos, disseminados, recebidos e usados. Os judeus etíopes que sofreram um difícil processo de migração para Israel foram motivados e sustentados por uma tradição oral que preservava sua identidade judaica e um "mito do retorno"17 17 BEM-EZER, Gadi. "Ethiopian Jews Encounter Israel: Narratives of Migration and the Problem of Identity". In BENMAYOR & SKOTNES. Op. cit., pp. 101-117. . Os emigrantes barbadianos foram atraídos à Grã-Bretanha pela imagem idealizada de "pátria", que foi parte da sua formação cultural. Mesmo quando este sonho foi "perfurado" pelas realidades da discriminação e do trabalho mal remunerado, as cartas dos migrantes mantinham essa imagem para evitar frustrar as famílias que haviam emprestado dinheiro para a viagem18 18 CHAMBERLAIN, Mary. "Narratives of Exile and Return". In Communicating Experience, pp. 1-13. .

Nas narrativas dos migrantes, as redes de sociabilidade são mostradas como um aspecto crucial da experiência da migração. Em seu estudo pioneiro da migração no período entreguerras, das províncias francesas para Paris, Isabelle Bertaux-Wiame declarou que as histórias de vida iluminavam "as relações sociais que estão por trás da emigração ... redes de relações entre as pessoas que não deixam vestígio escrito atrás delas". O "caminho migratório" podia ser iniciado por alguns indivíduos de uma determinada região, que então o promoveria entre velhos amigos, vizinhos e familiares: "Além disso, estas redes eram de fundamental importância para as pessoas que vinham para Paris sem capital ou qualificações. Elas não apenas proporcionavam um círculo social de apoio, mas era através destas mesmas redes que os migrantes iriam conseguir um emprego melhor, um lugar melhor para viver, e até mesmo uma esposa ou um marido"19 19 BERTAUX-WIAME, Isabelle. "The Life History Approach to the Study of Internal Migration". In Oral History vol. 7, nº 1, 199, pp. 26-32. . Um quadro muito parecido é apresentado por Merfyn Jones em seu estudo dos imigrantes do País de Gales para as cidades do noroeste da Inglaterra, entre 1890 e 1930. Os contatos nas aldeias eram vitais para a sobrevivência social e econômica, a capela era um foco de sustentação para a cultura e a identidade, e a evidência oral era necessária para se examinar o funcionamento interno da comunidade imigrante20 20 JONES, Merfyn. Op. cit., p. 33. .

Segundo Bertaux-Wiame e muitos outros estudos de história oral, entre as redes de relacionamentos uma assumiu um papel preponderante: "aquela da família ampliada". Por exemplo, a história oral de Mary Chamberlain dos migrantes barbadianos para a Grã-Bretanha mostra como o enfoque nos padrões e relacionamentos familiares na migração pode revelar muito do que é negligenciado nos estudos econômicos e que tem por base a metrópole. As tradições migratórias familiares, há muito estabelecidas, podem ser forças motivadoras que sugerem modelos particulares de migração de curto prazo e retorno; as famílias ampliadas proporcionam redes de apoio vitais em Barbados (para as crianças deixadas com seus avós) e na Inglaterra; os membros da família assumem papéis diferentes no processo de migração em termos de gênero ou de geração; a cultura é transmitida e transformada entre as gerações: "quando ... as histórias familiares são tomadas em perspectiva, as motivações para a migração e as questões de identidade tornam-se mais complexas, ambíguas e culturalmente específicas"21 21 CHAMBERLAIN, Mary. "Family and Identity. Barbadian Migrants to Britain". In BENMAYOR & SKOTNES. Op. Cit., p. 120. . Similarmente, no estudo de Celeste De Roche sobre as mulheres franco-americanas, "a história oral revela as sutilezas da textura da vida familiar ... a rede de conexões familiares ... as passagens do tempo nas vidas das mulheres etnicamente definidas ... e as forças da mudança"22 22 DE ROCHE, Celeste. "'I Learned Things Today That I Never Knew Before: Oral History at the Kitchen Table". In Oral History Review vol. 23, nº 2, 1996, p. 61. .

O importante trabalho de John Bodnar sobre as comunidades migrantes nos Estados Unidos no final do século XIX e início do século XX mostra como um enfoque na cultura e nas redes da família ampliada e da comunidade étnica, como está evidenciado no testemunho oral, explicava o "realismo" político dos trabalhadores imigrantes da América. A história oral mostrou como a família e os relacionamentos com parentes não somente foram vitais para conseguir trabalho, mas também sustentaram uma preferência por um emprego estável e seguro, em oposição a um modelo de progresso individual através da educação e da mobilidade socioeconômica, e criaram uma fusão particular de consciência étnica com a classe trabalhadora. O trabalho de Bodnar sintetizou uma "nova interpretação dos imigrantes como pessoas 'transplantadas', em vez de 'desenraizadas', cujas estratégias de sobrevivência centradas na família e na comunidade eram um meio prático para enfrentar as demandas da ordem industrial e urbana americana"23 23 MAGDA, "Review Essay", p. 158. Ver também BODNAR, John. The Transplanted, 1995; BODNAR, John. "Immigration, Kinship and the Rise of Working-Class Realism in Industrial America". In Journal of Social History vol. 14, 1980-81, pp. 46-65. .

Assim como as relações complexas entre etnicidade e classe são esclarecidas nesses estudos, as histórias orais também destacaram as experiências particulares das mulheres migrantes e a natureza das relações de gênero da experiência da migração. Como observou Isabelle Bertaux-Wiame em 1979, a maior parte das histórias de migração estava implicitamente preocupada com os homens migrantes e, "muito freqüentemente, neste tipo de estudo as mulheres são deixadas de lado, quase ignoradas". Ao ouvir as histórias das mulheres ela descobriu que, apesar de as motivações econômicas serem similares, os métodos, as condições e o significado da migração de homens e de mulheres eram diferentes. Colocado em termos simples, no caso da migração interna francesa, "enquanto os homens se movimentam através da rede familiar para encontrar trabalho, as mulheres se movimentam através do trabalho para encontrar uma família"24 24 BERTAUX-WIAME, Isabelle. Op. cit.,p. 29. . As mulheres também dão significados diferentes às suas histórias de vida, enfatizando a importância das relações sobre a agência social aotônoma evidente nas histórias dos homens. E as mulheres migrantes têm freqüentemente desempenhado papéis fundamentais no desenvolvimento da comunidade étnica, por exemplo através da manutenção da tradição cultural ou no ensino da língua de origem às crianças. Nas últimas duas décadas, as historiadoras feministas têm continuado a explorar o conteúdo e a forma, específicos do gênero, das histórias de vida das mulheres migrantes25 25 Ver, por exemplo, Oral History Review vol. 23, nº 2, 1996, número especial sobre "Migrant Women"; Oral History Review vol. 16, nº 2, 1988, número especial sobre "Oral History and Puerto Rican Women"; e CHAMBERLAIN, Mary. Op. cit. .

As histórias orais também oferecem um rico recurso para se explorar a dinâmica intergeneracional da migração. Rina Benmayor e Andor Skotnes declararam em 1995 que "a maneira pela qual as famílias desenvolvem e alteram as tradições e identidades migratórias transgeracionais é, sem dúvida, uma direção frutífera para a pesquisa futura"26 26 BENMAYOR & SKOTNES. Op. cit., p. 12. . Por outro lado, o testemunho pessoal pode mostrar como os padrões de migração são repetidos e se desenvolvem de uma geração para outra. Por exemplo, Mary Chamberlain mostra como a decisão dos filhos adultos da primeira geração de migrantes barbadianos de voltar da Inglaterra para Barbados pode ter sido influenciada pelas tradições familiares e culturais sobre a migração de volta27 27 CHAMBERLAIN, Mary. Op. cit. . As narrativas dos filhos de migrantes também ressalta os dilemas culturais e as tensões familiares experimentados por esta "segunda" geração. Em seu estudo da história de vida de mulheres migrantes asiáticas e de suas filhas nascidas nos Estados Unidos, M. Gail Hickey explora os desafios enfrentados pelos filhos que tentam negociar entre os padrões e valores familiares abraçados em suas próprias famílias e aqueles da cultura dominante. As histórias das filhas demonstram que a sensação de "identidade dupla" experimentada pelos filhos de imigrantes pode ser ao mesmo tempo um recurso poderoso e uma luta dolorosa28 28 HICKEY, M. Gail. "'Go to College, Get a Job, and Don't Leave the House Without Your Brother': Oral Histories with Immigrant Women and Their Daughters". In Oral History Review vol. 23, nº 2, 1996, p. 64. . De modo similar, Janis Wilton declara que, na Austrália, os relatos dos filhos dos migrantes do pós-guerra — sob a forma de histórias orais, biografias e ficção autobiográfica — têm desafiado as bem-sucedidas histórias contadas por e sobre seus pais, e reafirmado uma história de deslocamento cultural e tensão intergeneracional29 29 WILTON, Janis. "Oral History and Ethnic Community Studies in Australia", documento inédito distribuído na Conferência Internacional sobre História Oral, New York, 1994. .

As lembranças e as tradições orais recordam também a vida cultural das comunidades migrantes. A historiadora escocesa Margaret McKay usou as tradições orais das comunidades rurais canadenses do século XX para recriar três assentamentos de emigrantes das ilhas Hébridas no século XIX em Ontário, e evoca vivamente a transplantação e evolução de formas e práticas culturais no Novo Mundo. Remédios tradicionais, como o uso da urina como desinfetante, foram suplementados por ervas medicinais locais aprendidas dos índios americanos; a instituição do ceilidh 30 30 Festa noturna comum na Escócia e na Irlanda, que inclui cantos, danças e narração de histórias. (N. da T.) , "cuja visita era tão fundamental para a vida comunitária dos distritos de Tiree e para o meio em que aspectos da cultura oral eram ouvidos e aprendidos, continuou a ser uma característica da vida nos assentamentos de Ontário"; a língua gaélica foi preservada pelas igrejas e pelas associações locais até ser desgastada pelo ensino centralizado e por casamentos mistos31 31 MCKAY, Margaret. Op. cit., p. 55. . A importância das práticas culturais familiares para a preservação da identidade e da comunidade migrantes; o interjogo complexo entre as culturas introduzidas pelas minorias e as práticas dominantes da sociedade principal; e as transformações culturais e as tensões entre as gerações — são todos iluminadas pelo testemunho dos migrantes e pela tradição oral.

Muitos dos exemplos usados acima demonstram uma das mais importantes contribuições que o testemunho pessoal pode dar aos estudos da migração, que está revelando "não apenas o padrão dos eventos ocorridos, mas também a maneira como as pessoas se sentiam com respeito à migração"32 32 THOMAS-HOPE, Elizabeth. "Hopes and Reality in the West Indian Migration to Britain". In Oral History vol. 8, nº 1, 1980, p. 35. . Por exemplo, em sua história dos migrantes senegaleses em Bari, Dorothy Zinn explora o que Roger Rouse chama de "a dimensão retórica da interpretação que as pessoas dão do seu próprio envolvimento e do envolvimento dos outros na migração". Zinn mostra como a afirmação da masculinidade (crescer, deixar a casa paterna, e o crescimento pessoal atingido apesar da "descida ao inferno" da Itália) foi uma força motivadora poderosa para a viagem e a migração; como os homens se sujeitaram a realizar trabalhos insignificantes, não apenas porque os italianos não queriam realizar esse tipo de trabalho, mas porque eles se orgulhavam do emprego autônomo; como construíram histórias de vida que explicavam suas experiências em termos de viagens e viagens; e como as histórias positivas que eles transmitiam da terra natal ou dela recebiam proporcionavam maior afirmação pessoal e ao mesmo tempo encorajavam outras pessoas a seguir o mesmo caminho difícil33 33 ZINN, Dorothy Louise. "The Senegalese Immigrants in Bari: What Happens When the Africans Peer Back". In BENMAYOR & SKOTNES. Op. cit., pp. 53-68. . Usada destas maneiras, a história oral é uma ferramenta importante para entender o que John Bodnar descreveu como os "mundos internos" dos imigrantes34 34 Citado em MAGDA, "Review Essay", p. 153. , para explorar como a "subjetividade" — conhecimento, sentimentos, fantasias, esperanças e sonhos — de indivíduos, famílias e comunidades informa e molda a experiência da migração em todos os seus estágios, e é por sua vez transformada por essa experiência.

LUTA POLÍTICA E PODER

Até agora, explorei as maneiras pelas quais a história oral pode contribuir para um maior entendimento histórico da experiência dos migrantes. A tomada de consciência do poder pessoal e a luta política também foram objetivos importantes em muitos projetos de história oral envolvendo comunidades migrantes e étnicas35 35 Para esta tendência ativista na história oral, ver a seção sobre "Advocacy and Empowerment". In PERKS & THOMSON. The Oral History Reader, pp. 183-268. . Na verdade, esses projetos freqüentemente se desenvolveram a partir do ativismo social e político, tanto no âmbito local quanto no nacional. Em 1978, Tamara Harevan declarou que o reflorescimento da história oral das comunidades étnicas nos Estados Unidos foi um movimento relativamente espontâneo como resultado da política dos direitos civis e do Black Power (o termo "reflorescimento" era uma referência à reivindicação no período entreguerras das tradições orais rural e dos negros). Parcialmente, este reflorescimento foi estimulado pela extinção gradual da cultura da geração dos migrantes de 1880 a 1920; ele estava em parte relacionado a uma busca de identidade e de legitimação, e em parte representava uma aceitação da diversidade étnica na sociedade civil:

(...) o reflorescimento da história oral está conectado a um esforço de dar autenticidade às experiências de diferentes grupos étnicos na cultura americana. Representa, portanto, um compromisso com o pluralismo e expressa a reemergência da etnicidade e de sua aceitação como um aspecto vital da cultura americana36 36 HAREVAN,Tamara. "The Search for Generational Memory". In Daedalus, Fall 1978, pp. 137-149, republicado in DUNAWAY, David K. & BAUM, Willa K. (eds.). Oral History: An Interdisciplinary Anthology. Walnut Creek: Altamira Press, p. 251. .

Os contextos políticos para o trabalho histórico mudam com o passar do tempo. Escrevendo vinte anos mais tarde, e enredado nas "guerras de cultura" dos Estados Unidos que colocaram as afirmações de diversidade étnica em oposição às formas culturais dominantes da América branca, Rina Benmayor e Andor Skotnes são menos otimistas com relação a este "compromisso com o pluralismo". Mas continuam a afirmar a importância de "um papel ativista para os processos de testemunho pessoal: que não apenas relata, mas participa ativamente do processo de construção da identidade"37 37 BENMAYOR & SKOTNES. Op. cit., p. 15. .

Há várias motivações justapostas para o migrante ativista e para a história oral das comunidades étnicas. Uma motivação fundamental é freqüentemente a necessidade de combater os silêncios e os estereótipos que afligem uma determinada comunidade. Por exemplo, quando jovem e assistente comunitária no East End de Londres na década de 1970, Carolyn Adams desenvolveu relacionamentos íntimos com os silheti 38 38 Nascidos na cidade de Silhet, província de Chittagong, no Paquistão Oriental, às margens do rio Surma. (N. da T.) locais, cujos antepassados marinheiros se estabeleceram nas imediações das docas no século anterior e eram alvos de ataques racistas violentos por parte dos críticos dos imigrantes "novos" da Frente Nacional branca. Adams ficou "fascinada com a história do assentamento inicial e com a necessidade de tornar explícitos os vínculos com o passado, em grande parte como uma oposição à propaganda racista". Ela descobriu que os idosos silheti estavam ávidos para contar suas histórias porque estavam "se sentindo muito marginalizados e negligenciados pela nova geração. Também eram muito conscientes da necessidade de compartilhar sua história e se contrapor ao racismo"39 39 ADAMS, Carolyn. "Across Seven Seas and Thirteen Rivers". In Oral History vol. 19, nº 1, 1991, p. 30. As histórias orais dos refugiados e sobreviventes do Holocausto também podem ser vistas como parte de um processo de proteção pública e capacitação pessoal: ver WHITE, Naomi Rosh. "Marking Absences: Holocaust Testimony and History". In PERKS & THOMSON. Op. cit., pp. 172-182. .

Os projetos de história oral das comunidades étnicas estão freqüentemente vinculados a uma afirmação de necessidades sociais e demandas políticas específicas contra a marginalização, a negligência ou o racismo da sociedade dominante. Por exemplo, o Projeto de História Oral das Comunidades Étnicas na região oeste de Londres deixa explícitos os vínculos entre o trabalho da história de vida e a ação política, e publica histórias orais bilingües acessíveis aos membros de uma comunidade étnica particular, mas também destinadas a influenciar os entendimentos e as políticas da sociedade dominante40 40 KYRIACOU, Sav. "'May Your Children Speak Well of You Mother Tongue': Oral History and the Ethic Communities". In Oral History, vol. 21, nº 1, 1993, pp. 75-80. .

William Westerman escreve sobre o uso direto da história oral em uma luta política específica, aquela dos refugiados centro-americanos na década de 1980, que usaram seus próprios testemunhos de história de vida para ensinar os norte-americanos sobre a situação em seus países e para conseguir apoio financeiro e político. Westerman mostra como estes testemunhos foram construídos para um efeito político máximo e apresentados através de uma série de formas narrativas: performance, escritos, ou tatuagens nos corpos das vítimas de tortura41 41 WESTERMAN, William. "Central American Refugee Testemony and Performed Life Histories in the Sanctuary Movement". In PERKS & THOMSON. Op. cit, pp. 224-234. .

Além de obter apoio para uma causa, os narradores desses projetos podem conseguir benefícios terapêuticos e confirmação pública contando suas histórias. Dessa forma, o processo de "dar testemunho" — dos migrantes, refugiados e de outras vítimas de opressão social e política — capacita os narradores individuais e pode gerar o reconhecimento público de experiências coletivas que têm sido ignoradas ou silenciadas. A história oral pode proporcionar uma afirmação positiva de identidade para o narrador, para os membros de uma comunidade particular e para o mundo lá fora. Laurie R. Serikaku desenha um quadro do forte valor atribuído pelas comunidades aos projetos de história oral das comunidades étnicas, através do exemplo de dois projetos subvencionados pela Universidade de Hawaii-Manoa: com uma comunidade cafeicultora em Kona e com a comunidade okinawan das ilhas. Ele indaga por que as perguntas "que aconteceu conosco e onde estávamos?" são importantes para as comunidades étnicas:

Um grupo que pode remover as camadas "do segredo, da vergonha e da culpa" infligidas por uma cultura dominante, assimilacionista, vai celebrar mais profundamente as tradições e os valores culturais que o tornam único. Além disso ... os grupos minoritários podem usar a autoconsciência como um instrumento poderoso para garantir a sobrevivência da sua cultura e da sua identidade42 42 SERIKAKU, Laurie R. "Oral History in Ethnic Communities: Widening the Focus". In Oral History Review vol. 17, nº 1, 1989, p. 77. Ver também OKIHIRO, Gary Y. "Oral History and the Writing of Ethnic History: A Reconnaissance into Method and Theory". In Oral History Review vol. 9, 1989, pp. 27-46. .

Esses projetos podem ter um valor particular no preenchimento de brechas entre as gerações. Os silheti idosos entrevistados por Carolyn Adams temiam que a geração mais jovem tivesse pouco interesse nas histórias de vida de seus pais e avós, mas as histórias publicadas através de projetos como o dela — ou dramatizadas por grupos de teatro e reminiscências, como o Age Exchange, de Londres — geraram transmissão, entendimento e identidade culturais43 43 Pam Schweitzer entrevistada por Joanna Bornat, "Age Exchange: A Retrospective". In Oral History vol. 20, nº 2, 1992, pp. 32-39. . Em uma conferência da Sociedade Britânica de História Oral, em 1979, professores do East End de Londres explicaram a importância de encorajar as crianças de Bangladeshi — muitas das quais foram submetidas a intimidação e violência racistas — a descobrir as histórias de suas famílias e comunidades: "o registro e a escrita de suas próprias experiências ajudou a fortalecer as vozes e a confiança no uso da língua e da auto-imagem"44 44 BORNAT, Joanna, BURDELL, Judith, GROOM, Bridget & THOMPSON, Paul. "Oral History and Black History: Conference Report". In Oral History vol. 8, nº 1, 1980, p. 23. . Do mesmo modo, a historiadora Akemi Kikumura explica como entrevistar sua mãe japonesa-americana foi uma "experiência transformadora para mim":

(...) pois no processo consegui dar nova forma a muitas imagens negativas que a sociedade atribuía às pessoas de cor, e fui atraída para mais perto da minha mãe, da minha família e da minha comunidade. Removendo as camadas do segredo, da vergonha e da culpa obscurecidas por uma história de genocídio, racismo e discriminação cultural, e colocando a vida da minha mãe dentro de um contexto social, histórico e cultural mais amplo, comecei a reexaminar e reinterpretar velhas crenças minhas sobre ela e, finalmente, redefinir meu próprio autoconceito dentro de uma estrutura mais positiva45 45 KIKUMURA, Akemi. "Family Life Histories: A Collaborative Venture". In Oral History Review vol. 14, 1986, p. 7. .

Quero destacar três pontos gerais sobre a história oral das comunidades migrantes e étnicas politicamente engajadas. Em primeiro lugar, os exemplos que citei demonstram a interconexão entre as histórias públicas e a tomada de consciência do poder pessoal. Eles mostram como a articulação e a comunicação de lembranças anteriormente silenciadas ou ignoradas podem ter um poderoso valor para o narrador, mas também como a produção de narrativas públicas sobre a história de uma comunidade particular pode proporcionar palavras e significados que permitem a narração de histórias privadas. Há um "ciclo de reconhecimento" entre o testemunho pessoal e a história pública. Por exemplo, um projeto de educação de adultos no Centro de Estudos Portorriquenhos em Nova York encorajava um grupo de mulheres portorriquenhas a narrar e coletar histórias de vida. Os temas emergentes de luta e sobrevivência provocaram novas lembranças, deram forma aos relatos individuais e desafiaram os estereótipos da mídia que, no passado, reconheceram inadequadamente suas vidas e silenciaram suas histórias. O projeto gerou "histórias exemplares" para as mulheres, para os membros de suas famílias e para outros portorriquenhos de Nova York46 46 BENMAYOR, Rina, VASQUEZ, Blanca, JUARBE, Ana & ALVAREZ, Celia. "Stories to Live By: Continuity and Change in Three Generations of Puerto Rican Women". In SAMUEL, Raphael & THOMPSON, Paul (eds.). The Myths We Live By. Londres e Nova York: Routledge, 1990, pp. 184-200. .

Em segundo lugar, as histórias orais das comunidades migrantes e étnicas são geradas dentro de contextos políticos específicos — e em contraposição a eles — e precisam ser entendidas em relação a seu tempo e local específicos. O contraste observado acima entre a política étnica norte-americana nas décadas de 1970 e de 1990 é um exemplo. Outro exemplo poderia ser o contraste entre a história da comunidade étnica entre os australianos e entre os britânicos. Na Austrália, os projetos de história oral da comunidade étnica emergiram ao longo da profunda transição, nas décadas de 1970 e 1980, da política australiana branca assimilacionista para um ethos político e uma sociedade civil mais multiculturais. Esta não foi uma transição fácil — na verdade, houve uma reação violenta na década de 1990 — e os projetos de história oral desempenharam um papel importante na contestação de histórias monoculturais e na afirmação de identidades australianas étnicas. A questão das "Histórias Orais dos Migrantes" de 1984 do Oral History Association of Australia Journal está repleta de exemplos de projetos politicamente engajados, incluindo: o Projeto de História Oral da Comissão de Assuntos Étnicos de New South Wales; grupos de educação de adultos "Art in Working Life", vinculando histórias orais de migrantes com as artes visuais "como uma maneira muito positiva de as pessoas reivindicarem seu passado e começarem a obter o controle de suas vidas presentes"; e uma série na estação de rádio estatal sobre "Aussies from Everywhere"47 47 Aussie — Nome dado a nativo ou habitante da Austrália. (N. da T.) , recomendada por um relatório do governo que estimulava os profissionais a aumentar os níveis de "entendimento das diferenças culturais". Um impressionante catálogo de histórias orais de migrantes cita dezenas de projetos com australianos chineses, italianos, gregos, libaneses, vietnamitas e de outras etnias. Significativamente, quase não há menção de trabalho de história oral com a categoria mais numerosa de migrantes do pós-guerra — aqueles da Grã-Bretanha — que não se sentiram pessoal ou politicamente motivados para se definir como uma comunidade com uma história e necessidades distintas48 48 Ver número sobre "Migrant Oral Histories" do Oral History Association of Australia Journal, nº 6, 1984; WINTERNITZ, Judith. "Telling the Migrant Experience"; HILL, Andrew. "Oral History as a Basis for Visual Art"; FLEMING, Jane. "Accents on History"; "Migrant Oral Histories: A Preliminary Directory". .

A bibliografia de história oral britânica de Rob Perks também relaciona muitas publicações de história oral de migrantes produzidas por organizações locais, como a Bradford Heritage Recording Unit, o grupo Jewish Women's History, o Multicultural Education Centre, em Leeds, etc.49 49 Ver sob a rubrica "immigration", in PERKS, Robert. Oral History; an Annotated Bibliography, Londres. The British National Sound Archive, 1990. Uma questão que requer mais pesquisa diz respeito à extensão e à importância comparativas de projetos de história oral da migração acadêmicos, governamentais e baseados na comunidade. Estes projetos são freqüentemente apoiados pelas comunidades locais e, em alguns casos, têm se beneficiado de recursos do governo local, de instituições nacionais ou de propostas nacionais de treinamento para o emprego, como o Manpower Services Commission's Community Programme, na década de 1980. Mas o compromisso do governo com projetos que defendem as histórias e as necessidades das comunidades étnicas — evidente no contexto australiano — chama a atenção por sua ausência. A história oral das comunidades étnicas na Grã-Bretanha continua a ser marginal e contestadora dentro de um estado e de uma sociedade civil obstinadamente monoculturais (alguns podem argumentar que, por isso, os projetos evitam cooptação pelos programas do governo). Permanece a questão se o governo trabalhista e as constantes comemorações de recentes aniversários de migrações — como os cinqüenta anos da chegada dos primeiros imigrantes caribenhos do pós-guerra em Windrush — vão alterar o contexto britânico no que se refere à história oral das comunidades migrantes e étnicas. Minha opinião é que os recursos, os objetivos e os parâmetros dos projetos de história oral estão inseridos em contextos políticos específicos e são moldados por eles.

Um terceiro ponto, também relacionado, é que a história oral politicamente engajada da comunidade migrante e étnica tem estimulado debates acirrados sobre as relações entre política e história. Em 1979, a conferência da Sociedade Britânica de História Oral sobre "Oral History and Black History" se inflamou quando Natasha Sivanandan e Amrit Wilson discordaram da conferência e dos métodos de história oral. Eles declararam que os brancos não devem falar ou escrever sobre a experiência dos negros; que deve haver mais ênfase no racismo como uma experiência comum para os negros (sessões "segregadas" na conferência sobre a migração de asiáticos e de nativos das Índias Ocidentais fecharam esta experiência compartilhada); e que a história oral era apenas mais um exemplo de brancos inquirindo comunidades negras e sendo condescendente "devolvendo" suas histórias. Subjacente à questão da raça estava a preocupação sobre exploração e pesquisa acadêmica50 50 BORNAT, BURDELL, GROOM & THOMPSON. Op. cit, pp. 21-23. . O intervalo para o almoço da conferência foi cancelado enquanto os participantes debatiam e contestavam estas reivindicações, e a Sociedade de História Oral relutou em organizar eventos subseqüentes sobre a história dos negros.

Na verdade, a conferência articulou para a história oral das comunidades negra e étnica um conjunto de preocupações que continuam a perturbar os historiadores politicamente comprometidos que trabalham em vários campos. Quais são os direitos e os papéis das pessoas "de dentro" e das pessoas "de fora" na história oral da comunidade étnica? Esses rótulos respeitam as identidades distintivas ou mantêm uma polarização falsa? De que maneiras os pesquisadores acadêmicos e os membros da comunidade podem participar em termos iguais, contribuir com suas diferentes especialidades e ter uma "autoridade compartilhada" nos processos e produtos do trabalho histórico51 51 WILTON, Janis explora maneiras de resolver esses dilemas em "Talking Beyond Racism: Aspects of the Chinese Contribution to Australian History". In Communicating Experience, pp. 73-81. Ver também SERIKAKU. "Oral History in Ethnic Communities"; FRISCH, Michael. A Shared Authority: Essays on the Craft and Meaning of Oral and Public History. Albany: SUNY Press, 1990. ? Quais são as línguas adequadas para registrar e divulgar as histórias orais? Savy Kyriacou defende que a história oral da comunidade étnica deve ser publicada nas formas bilingüe e até mesmo multilíngüe52 52 KYRIACOU. "May Your Children Speak Well of You Mother Tongue". . Na verdade, até que ponto as abordagens convencionais das entrevistas da história oral podem ser culturalmente inadequadas nas devidas comunidades? Por exemplo, Janis Wilton descobriu que os australianos-chineses idosos não se sentiam à vontade aprofundando questões sobre sua experiência do racismo, pelo menos em parte devido a uma preferência cultural de não falar mal do passado53 53 WILTON, Janis. "Identity, Racism, and Multiculturalism: Chinese-Australian Responses". In BENMAYOR & SKOTNES. Op. cit., pp. 85-100. .

Finalmente, como os projetos históricos podem explorar e até desafiar os mitos e as romantizações que às vezes sustentam a identidade individual e comunitária, mas escondem pontos de tensão importantes. Por exemplo, em 1984 os organizadores do Projeto de História Oral da Comissão de Assuntos Étnicos de New South Wales estavam preocupados com a maneira como poderiam tratar as histórias de vida dos migrantes que celebravam a Austrália e concluíam orgulhosamente que "agora sou australiano", mas também continham evidências detalhadas da luta dolorosa para se tornar "um australiano"54 54 WINTERNITZ. "Telling the Migrant Experience". . A próxima seção considera como os profissionais que trabalham com história oral passaram a enxergar essas contradições como um recurso de interpretação.

MEMÓRIAS "NÃO CONFIÁVEIS": FONTE E NÃO UM PROBLEMA

Durante toda a década de 1970 e início da década de 1980, os historiadores da migração compartilharam as preocupações usuais dos cientistas sociais e dos historiadores sobre a confiabilidade e validade da memória como uma fonte histórica. Elizabeth Thomas-Hope, por exemplo, explicou em 1980 que as evidências orais sobre a migração das Índias Ocidentais para a Grã-Bretanha, se consideradas isoladamente, poderiam ser enganosas e, por isso, deviam ser corroboradas por outras fontes. Ela também acreditava que as percepções e motivações de uma experiência anterior de migração podia não ser lembrada de forma confiável anos mais tarde, e conduziu um conjunto paralelo de entrevistas com nascidos nas Índias Ocidentais, que ainda viviam no Caribe, para determinar os ideais e as expectativas dos nascidos nas Índias Ocidentais na Grã-Bretanha55 55 THOMAS-HOPE. Op. cit. . Akemi Kikumura adotou várias estratégias para assegurar a confiabilidade e validade das lembranças de sua mãe: fez as mesmas perguntas durante um longo período de tempo para que ela pudesse verificar se havia discrepâncias; comparou também o relato de sua mãe com entrevistas realizadas com outros membros da família; e observou a dinâmica familiar para ver se as informações de sua mãe eram ou não confiáveis56 56 KIKIMURA. "Family Life Histories". .

Os primeiros manuais de história oral ofereciam estratégias similares para tornar a memória uma fonte mais confiável de evidências para a reconstrução histórica. Mas, no final da década de 1970, os historiadores já estavam se tornando menos defensivos com respeito à sua fonte e declaravam que as "peculiaridades da história oral" podem ser mais uma fonte do que um problema. Ouvindo os mitos, as fantasias, os erros e as contradições da memória, e prestando atenção às sutilezas da língua e da forma narrativa, podemos entender melhor os significados subjetivos da experiência histórica. Esta transição profunda na teoria e no método da história oral é explorada em outros escritos57 57 Ver as introduções e os capítulos nas seções "Critical Developments" e "Interpreting Memories" de PERKS & THOMSON. The Oral History Reader; e THOMSON, Alistair. "Fifty Years On: An International Perspective on Oral History". In Journal of American History vol. 85, nº 2, September 1998, pp. 581-595. . Quero esboçar aqui apenas algumas das maneiras pelas quais as novas abordagens da história oral foram aplicadas nos estudos de migração. Uma observação a ser feita de início é que novos interesses interpretativos sugeriram metodologias de pesquisa alternativas. Por exemplo, em seu estudo sobre estudantes estrangeiros na Itália, Francesca Battisti e Alessandro Portelli usam uma metodologia de "horizonte de possibilidades"; "não tentamos generalizar a partir de uma amostra mais ampla, mas enfocar os significados e as implicações de algumas narrativas importantes"58 58 BATTISTI, Francesca & PORTELLI, Alessandro. "The Apple and the Olive Tree: Exiles, Sojourners and Tourists in the University". In BENMAYOR & SKOTNES. Op. cit., pp. 37-38. . Um segundo ponto a ser observado é que a consciência teórica sofisticada a respeito da memória e da subjetividade que caracteriza o trabalho recente não deve deslocar ou desacreditar os apelos anteriores, mais empíricos e políticos, das histórias orais da migração. Há lições valiosas a serem aprendidas a partir dos diferentes estágios da história da história oral e, como argumentou Elizabeth Lapovsky Kennedy, os valores empíricos e subjetivos das evidências orais são "totalmente complementares um ao outro" e não devem ser "falsamente polarizados"59 59 KENNEDY, Elizabeth Lapovsky. "Telling Tales: Oral History and the Construction of pre-Stonewall Lesbian History". In PERKS & THOMSON. Op. cit., p. 354. .

O testemunho oral revela a interpenetração das histórias coletivas e das histórias da vida individual, e pode nos ajudar a entender como motivos e mitos coletivos podem ser significativos para os migrantes. No projeto da Comissão de Assuntos Étnicos de New South Wales, por exemplo, a determinação dos narradores de apresentar uma imagem positiva da Austrália e deles próprios como australianos é uma evidência dos complexos processos de identificação na experiência da migração e do poder das narrativas públicas. O trabalho de Bill Williams, como foi citado acima, usou as evidências detalhadas do testemunho pessoal para atacar os mitos e estereótipos coletivos sobre a comunidade judaica de Manchester na virada do século. Mas Williams estava alerta para o reaparecimento de alguns mitos comunais no testemunho oral, mesmo quando contradiziam os detalhes lembrados da experiência pessoal. Concluiu que esta incongruência revelava "o papel e o poder dessas generalizações como mecanismos de solidariedade e de defesa. Por isso, no testemunho oral, o mito comunal pode coexistir com a experiência pessoal"60 60 WILLIAMS. "The Jewish Immigrant in Manchester", p. 51. . Do mesmo modo, Pnina Werbner argumentou que elementos do tema "homem pobre feito bom", evidentes na história de vida de um abastado paquistanês-mancuniano, no pós-guerra, eram apreciados e usados por homens paquistaneses da mesma geração de migrantes. Estes homens não tinham histórias de vida tão "bem-sucedidas", mas romantizavam um passado pioneiro comum e "heróico", um tempo antes de suas famílias se juntarem a eles, "onde não havia ricos e pobres, altos e baixos; um passado compartilhado quando todos os homens eram irmãos"61 61 WERBNER, Pnina. "Rich Man Poor Man — Or a Community of Suffering: Heroic Motifs in Manchester Pakistani Life Histories". In Oral History vol 8, nº 1, Spring 1980, p. 48. Ver também FREUND, Alexander & QUILICI, Laura. "Exploring Myths in Women's Narratives: Italian and German Immigrant Women in Vancouver", 1947-1961. In Oral History Review vol. 23, nº 2, 1996, pp. 159-182. Nem todas as histórias orais de migração têm explorado e desafiado as mitologias convencionais. Por exemplo, o livro influente de MORRISON, Joan & ZABUSKY, Charlotte. American Mosaic: The Immigrant Experience in the Words of Those Who Lived It. Nova York: E.P. Dutton, 1980, foi criticado como uma história que valida em vez de desafiar as mitologias convencionais sobre migração, assimilação, pluralismo e o sonho americano. Ver PERKS. Oral History: An Annotated Bibliography, p. 103. .

Em seu relato autobiográfico sobre sua experiência como exilado chileno, Iván Jaksic escreve eloqüentemente sobre as conseqüências lingüísticas do deslocamento: "Eu queria que alguém entendesse o que era ver sua vida de repente ceifada, seus pontos de referência obscurecidos, sua capacidade de expressar emoções e sentimentos prejudicada pela presença invasiva de uma cultura e uma língua diferentes"62 62 JAKSIC, Iván. "In Search of Safe Haven". In BENMAYOR & SKOTNES. Op. cit., p. 26. . A língua usada nas entrevistas de história oral pode oferecer indícios da centralidade da língua na maior parte das experiências de migração. Por exemplo, Nancy Carnevale concentrou-se no uso da língua em suas entrevistas com mulheres italianas-americanas idosas. As mudanças de língua e as tensões durante as entrevistas — quando as mulheres se esforçavam para encontrar palavras para descrever suas vidas e alternavam o inglês com o italiano para representar experiências particulares — ecoou e revelou as lutas com a língua em suas vidas, as maneiras como a língua estruturou as oportunidades de vida nos terrenos público e privado, e como o uso continuado do italiano preservava as antigas identidades, mas ao mesmo tempo mantinha a marginalidade. O relacionamento das mulheres com Nancy — jovem, instruída, membro da segunda geração de mulheres italianas-americanas que falava inglês, que representava as aspirações que haviam sido impossíveis para elas próprias, mas que elas viveram através de seus filhos — sugeria as aspirações e tensões que marcaram as relações intergeneracionais nas próprias famílias e comunidades daquelas mulheres63 63 CARNEVALE, Nancy. "Narratives of Italian Immigrants", documento distribuído na Annual Conference of the Oral History Association, Philadelphia. October 1996. .

De maneira mais geral, as formas pelas quais as histórias de vida são narradas — as ênfases e os silêncios, os padrões lingüísticos e as metáforas — podem ser altamente reveladoras da natureza e do significado da experiência dos migrantes. Isabelle Bertaux-Wiame declara que "as formas das histórias de vida são ... tão importantes quanto os fatos que elas contêm", e indica as diferentes expressões e formas de fala que os homens e as mulheres usam em seus relatos da migração interna na França. As histórias dos homens enfatizavam sua própria atividade individual e eles usavam o pronome "eu" com muito maior freqüência que as mulheres, que tinham uma probabilidade muito maior de usar pronomes como "nós" ou a forma impessoal ("on" em francês) para indicar a importância dos relacionamentos em suas vidas64 64 BERTAUX-WIAME. "The Life History Approach to the Study of Internal Migration", p. 29. . Francesca Battisti e Alessandro Portelli destacam a importância das metáforas nas histórias dos migrantes, e declaram que as lembranças de perda ou violência podem ser articuladas através da imaginação e do simbolismo: "exilados, migrantes, 'estrangeiros', viajam para a frente e para trás entre a lembrança e a nostalgia da oliveira, o desejo de individualidade e a diferença da maçã arrancada do galho"65 65 BATTISTI & PORTELLI. Op. cit., p. 50. . Em contraste, Janis Wilton observa que os silêncios nas histórias de vida dos idosos chineses-australianos — sobre o racismo que é evidente nas fontes contemporâneas — oferecem indícios sutis de aspectos importantes de suas vidas: a importância da sobrevivência ao se tornarem "australianos", o valor do respeito comunitário e uma determinação de não repetirem histórias de humilhação. Enquanto lutavam para vencer no "país da sorte", estes homens e mulheres absorveram seu sistema de valores e estruturaram seus próprios relatos em seus termos66 66 WILTON, Janis. "Identity, Racism, and the Multiculturalism: Chinese-Australian Responses". In BENMAYOR & SKOTNES. Op. cit., pp. 85-100. .

Há freqüentemente uma congruência entre as maneiras pelas quais as pessoas conceituam o passado e como, na época, elas experimentaram e reagiram ao ambiente social. Ron Grele e Virginia Yans-McLaughlin mostraram como as histórias de vida da primeira geração de novaiorquinos judeus e italianos revelam padrões culturalmente distintos de consciência histórica — uma metanarrativa judaica de agência social e gestalt, em comparação com uma visão de mundo italiana mais atomista e fatalista — que estruturaram o testemunho oral, mas também moldaram de maneiras muito diferentes as trajetórias de vida nas duas comunidades migrantes67 67 GRELE, Ron. "Listen to Their Voices: Two Case Studies in the Interpretation of Oral History Interviews". Oral History vol. 7, nº 1, 1979, pp. 32-42; YANS-MCLAUGHLIN, Virginia. "Metaphors of Self in History: Subjectivity, Oral Narrative and Immigration Studies". In YANS-MCLAUGHLIN,Virginia (ed.). Immigration Reconsidered: History, Sociology and Politics. Nova York: Oxford University Press, 1990, pp. 224-290. . Usando exemplos de entrevistas com migrantes escandinavos em Idaho, Samuel Schrager declara que podemos usar as narrativas orais para explorar tanto o significado das tradições orais quanto os relacionamentos sociais do passado que estão registrados na narrativa:

Quando falamos sobre o que aconteceu, retratamos nossa vida comum. Atuamos na qualidade de cronistas de eventos que convergem em nossas vidas e se transformam em história através de nossas interpretações. Damos ao nosso público acesso a estas experiências por meio dos diferentes pontos de vista que apresentamos. Entrando por um momento nas perspectivas dos outros, os ouvintes conseguem perceber os relacionamentos sociais registrados nos eventos. Os historiadores, trabalhando para recuperar estas mensagens e seu significado, podem entender melhor o conteúdo real das narrativas68 68 SCHARAGER, Samuel. "What Is Social in Oral History". In PERKS & THOMSON. Op. cit., pp. 284 e 288. .

Muitos dos exemplos acima atestam a importância das lembranças na construção do migrante individual e das identidades das comunidades migrantes e étnicas. Estudos recentes destacam o relacionamento dialético entre memória e identidade. Nossas lembranças de quem fomos e de onde viemos moldam nosso sentido do "eu" ou de identidade no presente e, dessa forma, afetam as maneiras como construímos nossas vidas. As histórias de vida são "narrativas explanatórias" (usando a expressão de Giddens) que desempenham um papel crucial na vida cotidiana. Além disso, nossa identidade (ou "identidades", um termo que expressa melhor a natureza múltipla, fraturada e dinâmica da identidade) atual afeta a maneira como estruturamos, articulamos e na verdade lembramos a história da nossa vida69 69 Ver também THOMSON, Alistair. Anzac Memories: Living With the Legend. Melbourne: Oxford University Press, 1994, pp. 8-11. . A experiência da migração, que por definição está centrada em torno de um processo de disjunção aguda, apresenta ao mesmo tempo uma necessidade urgente de construir identidades e histórias de vida coerentes, de um passado exemplar que possamos preservar, e dificuldades específicas nesse sentido.

Por exemplo, Nicola North elabora o argumento intrigante, porém convincente, de que os refugiados cambojanos na Nova Zelândia não existem em uma única época ou lugar: "Sua consciência está ocupada, intensa e simultaneamente, com muitos lugares e épocas"70 70 NORTH, Nicola. "Narratives of Cambodian Refugees: Issues in the Collection of Life Stories". In Oral History vol. 23, nº 2, 1995, p. 33. . O testemunho oral dos migrantes — em que os narradores descrevem o processo de aprender a viver em um novo mundo, as colisões entre os antigos e os novos costumes, e a criação de novos entendimentos do self e da sociedade — evidencia a natureza mutável e os significados complexos da identidade na experiência dos migrantes. Na verdade, o testemunho dos migrantes é em si um exemplo dos processos e das dificuldades da construção de identidade, como demonstra o trabalho de história oral de Mary Kay Gilliland com homens e mulheres da ilha croata de Huar. Ela descobriu que o testemunho dos insulanos que emigraram para os Estados Unidos enfatizava as dificuldades de suas vidas anteriores em Huar, enquanto as histórias dos homens e das mulheres que permaneceram nas ilhas enfatizavam o espírito comunitário na época que antecedeu a migração em massa71 71 GILLIGAND, Mary Kay. "Performing the Past", documento distribuído na Conferência Internacional sobre História Oral, New York, October, 1994. . Na verdade, as histórias podem ser usadas para explicar as diferentes motivações e trajetórias de vida dos dois grupos, mas também como evidência do processo de autovalidação implícito na narrativa autobiográfica.

O caráter de retrospectiva do testemunho oral lembrado — tão freqüentemente objeto de interesse metodológico — é de fato uma oportunidade única. A experiência da migração continua durante toda a trajetória de vida do migrante. Por exemplo, na velhice, uma proporção crescente de migrantes britânicos que se estabeleceram na Austrália, mais especialmente viúvas idosas, está retornando à Grã-Bretanha. Na velhice, quando as necessidades psicológicas, sociais e práticas mudam, elas mudam de opinião sobre onde querem viver e morrer; a "terra natal" é uma categoria indefinida e perturbadora para estes e muitos outros migrantes. Os significados que os migrantes atribuem à sua experiência passada, e as maneiras pelas quais a história de vida é entendida, lembrada e contada, também mudam com o passar do tempo. Por exemplo, nos últimos anos os idosos chineses-australianos começaram, pela primeira vez, a falar publicamente sobre aspectos da sua experiência que anteriormente eram tabus, como o racismo de que foram alvo quando eram jovens. Janis Wilton explica que isto em parte ocorre porque as políticas governamentais e as atitudes públicas mudaram e são mais simpáticas a essas lembranças. Na velhice, estes homens e mulheres estão menos preocupados em ofender pessoas que não estão mais por ali; agora querem rever suas vidas, dar seu testemunho e transmitir estas histórias a chineses-australianos mais jovens e a "estrangeiros" como Janis72 72 WILTON, "Identity, Racism, and Multiculturalism". .

Os profissionais que trabalham com a história oral precisam estar atentos à "vida social das histórias", para usar uma expressão criada por Julie Cruikshank em seu trabalho sobre a tradição oral dos inuit73 73 CRUIKSHANK, Julie; SIDNEY, Angela; SMITH, Kitty & NED, Annie. Life Lived Like a Story: Life Stories of Three Yukon Native Elders. Lincoln: University of Nebraska Press, 1990. . Samuel Schrager escreve que "o historiador é um interventor em um processo que já está extremamente desenvolvido"74 74 SCHRAGER. Op. cit., p. 284. . As histórias que nos contam nas entrevistas são muitas vezes versões de relatos que foram criados logo após eventos e que foram usados e reelaborados pelos indivíduos ou no interior das famílias e das comunidades. As histórias dos migrantes têm sido sempre uma parte fundamental da experiência da migração, trabalhando com a imaginação de futuros possíveis, mostrando como os migrantes conviveram com as conseqüências de sua migração e delas extraíram sentido. Em cada estágio, as histórias de vida articulam os significados da experiência e sugerem maneiras de enfrentar a vida. Quando registramos estas histórias, não captamos apenas evidências inestimáveis sobre a experiência anterior e as histórias vividas. As próprias histórias representam a constante evolução dos modos pelos quais os migrantes constroem suas vidas através de suas histórias. Encaradas desta maneira, as histórias orais dos migrantes proporcionam evidências tanto sobre a experiência passada quanto sobre as histórias de vida que são uma parte importante e material da experiência dos migrantes.

"Histórias (co) movedoras" é um jogo de palavras simples, porém útil, sobre a história oral da migração. Estas histórias orais têm como foco central a experiência física do movimento entre lugares. Estão freqüentemente impregnadas com a emoção da separação, e são profundamente comovedoras para o narrador e para sua audiência. E as próprias histórias estão constantemente evoluindo e em movimemto, apresentando histórias vivas em todo sentido do termo e sendo recurso e oportunidade únicos para o entendimento social e histórico.

NOTAS

Artigo recebido em 03/2002. Aprovado em 08/2002.

  • 1Compilações internacionais importantes incluem: BENMAYOR, Rina & SKOTNES, Andor (eds.). International Yearbook of Oral History and Life Stores. Vol III, Migration and Identity. Oxford: Oxford University Press, 1994:
  • Memory and Multiculturalism: Proceedings of the VIII International Oral History Conference. Siena: Comitato Internazionale di Storia Orale and Università degli Studi di Siena, 1993;
  • Communicating Experience: Proceedings of the IX International Oral History Conference, Gotebörg: International Oral History Committee, 1996 (Section 1: Migration and Ethnic Identity).
  • 2Uma questão relacionada, que requer mais pesquisa, diz respeito ao impacto da história oral sobre o campo mais amplo da história da migração, e mais em geral sobre os estudos de migração. Nos Estados Unidos, por exemplo, Matthew S. Magda declara que "a história oral tem tido, entre as várias especializações na profissão histórica, talvez seu maior impacto na história étnica e do trabalho": "Review Essay: Immigration and Ethnic Communities", Oral History Review vol. 15, Fall 1987, p. 152. Ver também HALFACRE, K.H. & BOYLE, P.J. "The Challenge Facing Migration Research: The Case for a Biographical Approach". In Progress in Human Geography. Vol.17, nº 3, 1993, pp. 333-48;
  • FINDLAY, A.M. & LI, L.L.N. "An Auto-Briographical Approach to Understanding Migration: the Case of Hong Kong Emigrants". In Area vol. 29, nº 1, pp. 33-44.
  • 4WINTERNITZ, Judith. "Telling the Migrant Experience: the oral History Project of the Ethnic Affairs Commission of N.S.W". In Oral History Association of Australia Journal nº 6, 1984, p. 45.
  • 5DOUGLAS, Louise & WILTON, Janis. "Editorial". In Oral History Association of Australia Journal nº 6, 1984, p. 1.
  • 6THOMPSON, Paul. The Voice of the Past: Oral History, Oxford: Oxford University Press, 2nd edition, 1988, p. 7.
  • 7HARKELL, Gina. "The Migration of Mining Families to the Kent Coalfield Between the Wars". In Oral History vol 6, nº 1, 1978, pp. 98-113.
  • 8WILLIAMS, Bill. "The Jewish Immigrant in Manchester The Contribution of Oral History". In Oral History vol. 7, nº 1, 1979, p. 52.
  • 10As tradições orais familiares e comunitárias também têm sido usadas para esclarecer as experiências de migração anteriores ao século XX, como aquelas dos migrantes escoceses para o Canadá em meados do século XIX. Ver MCKAY, Margaret. "Nineteenth Century Tiree Emigrant Communities in Ontario". In Oral History vol 9, nº 2, 1981, pp. 49-60.
  • 11HASSAM, Andrew. Sailing to Australia: Shipboard Diaries by Nineteenth Century British Emigrants. Manchester: Manchester University Press, 1994.
  • 12ADAMS, Carolyn. "Across Seven Seas and Thirteen Rivers". In Oral History vol. 19, nº 1, 1991, pp. 29-35.
  • 15JONES, Merfyn. "Welsh Immigrants in the Cities of North West England, 1890-1930: Some Oral Testimony". In Oral History vol. 9, nº 2, 1981, p. 34.
  • 18CHAMBERLAIN, Mary. "Narratives of Exile and Return". In Communicating Experience, pp. 1-13.
  • 19BERTAUX-WIAME, Isabelle. "The Life History Approach to the Study of Internal Migration". In Oral History vol. 7, nº 1, 199, pp. 26-32.
  • 22DE ROCHE, Celeste. "'I Learned Things Today That I Never Knew Before: Oral History at the Kitchen Table". In Oral History Review vol. 23, nº 2, 1996, p. 61.
  • 23MAGDA, "Review Essay", p. 158. Ver também BODNAR, John. The Transplanted, 1995;
  • BODNAR, John. "Immigration, Kinship and the Rise of Working-Class Realism in Industrial America". In Journal of Social History vol. 14, 1980-81, pp. 46-65.
  • 28HICKEY, M. Gail. "'Go to College, Get a Job, and Don't Leave the House Without Your Brother': Oral Histories with Immigrant Women and Their Daughters". In Oral History Review vol. 23, nº 2, 1996, p. 64.
  • 29WILTON, Janis. "Oral History and Ethnic Community Studies in Australia", documento inédito distribuído na Conferência Internacional sobre História Oral, New York, 1994.
  • 32THOMAS-HOPE, Elizabeth. "Hopes and Reality in the West Indian Migration to Britain". In Oral History vol. 8, nº 1, 1980, p. 35.
  • 35Para esta tendência ativista na história oral, ver a seção sobre "Advocacy and Empowerment". In PERKS & THOMSON. The Oral History Reader, pp. 183-268.
  • 36HAREVAN,Tamara. "The Search for Generational Memory". In Daedalus, Fall 1978, pp. 137-149,
  • 39ADAMS, Carolyn. "Across Seven Seas and Thirteen Rivers". In Oral History vol. 19, nº 1, 1991, p. 30.
  • 40KYRIACOU, Sav. "'May Your Children Speak Well of You Mother Tongue': Oral History and the Ethic Communities". In Oral History, vol. 21, nº 1, 1993, pp. 75-80.
  • 42SERIKAKU, Laurie R. "Oral History in Ethnic Communities: Widening the Focus". In Oral History Review vol. 17, nº 1, 1989, p. 77.
  • Ver também OKIHIRO, Gary Y. "Oral History and the Writing of Ethnic History: A Reconnaissance into Method and Theory". In Oral History Review vol. 9, 1989, pp. 27-46.
  • 44BORNAT, Joanna, BURDELL, Judith, GROOM, Bridget & THOMPSON, Paul. "Oral History and Black History: Conference Report". In Oral History vol. 8, nº 1, 1980, p. 23.
  • 45KIKUMURA, Akemi. "Family Life Histories: A Collaborative Venture". In Oral History Review vol. 14, 1986, p. 7.
  • 46BENMAYOR, Rina, VASQUEZ, Blanca, JUARBE, Ana & ALVAREZ, Celia. "Stories to Live By: Continuity and Change in Three Generations of Puerto Rican Women". In SAMUEL, Raphael & THOMPSON, Paul (eds.). The Myths We Live By. Londres e Nova York: Routledge, 1990, pp. 184-200.
  • 49Ver sob a rubrica "immigration", in PERKS, Robert. Oral History; an Annotated Bibliography, Londres. The British National Sound Archive, 1990.
  • 51WILTON, Janis explora maneiras de resolver esses dilemas em "Talking Beyond Racism: Aspects of the Chinese Contribution to Australian History". In Communicating Experience, pp. 73-81. Ver também SERIKAKU. "Oral History in Ethnic Communities"; FRISCH, Michael. A Shared Authority: Essays on the Craft and Meaning of Oral and Public History. Albany: SUNY Press, 1990.
  • 57Ver as introduções e os capítulos nas seções "Critical Developments" e "Interpreting Memories" de PERKS & THOMSON. The Oral History Reader; e THOMSON, Alistair. "Fifty Years On: An International Perspective on Oral History". In Journal of American History vol. 85, nº 2, September 1998, pp. 581-595.
  • 60WILLIAMS. "The Jewish Immigrant in Manchester", p. 51.
  • 61WERBNER, Pnina. "Rich Man Poor Man Or a Community of Suffering: Heroic Motifs in Manchester Pakistani Life Histories". In Oral History vol 8, nº 1, Spring 1980, p. 48.
  • Ver também FREUND, Alexander & QUILICI, Laura. "Exploring Myths in Women's Narratives: Italian and German Immigrant Women in Vancouver", 1947-1961. In Oral History Review vol. 23, nº 2, 1996, pp. 159-182.
  • Nem todas as histórias orais de migração têm explorado e desafiado as mitologias convencionais. Por exemplo, o livro influente de MORRISON, Joan & ZABUSKY, Charlotte. American Mosaic: The Immigrant Experience in the Words of Those Who Lived It. Nova York: E.P. Dutton, 1980,
  • foi criticado como uma história que valida em vez de desafiar as mitologias convencionais sobre migração, assimilação, pluralismo e o sonho americano. Ver PERKS. Oral History: An Annotated Bibliography, p. 103.
  • 63CARNEVALE, Nancy. "Narratives of Italian Immigrants", documento distribuído na Annual Conference of the Oral History Association, Philadelphia. October 1996.
  • 64BERTAUX-WIAME. "The Life History Approach to the Study of Internal Migration", p. 29.
  • 67GRELE, Ron. "Listen to Their Voices: Two Case Studies in the Interpretation of Oral History Interviews". Oral History vol. 7, nº 1, 1979, pp. 32-42;
  • YANS-MCLAUGHLIN, Virginia. "Metaphors of Self in History: Subjectivity, Oral Narrative and Immigration Studies". In YANS-MCLAUGHLIN,Virginia (ed.). Immigration Reconsidered: History, Sociology and Politics. Nova York: Oxford University Press, 1990, pp. 224-290.
  • 69Ver também THOMSON, Alistair. Anzac Memories: Living With the Legend. Melbourne: Oxford University Press, 1994, pp. 8-11.
  • 70NORTH, Nicola. "Narratives of Cambodian Refugees: Issues in the Collection of Life Stories". In Oral History vol. 23, nº 2, 1995, p. 33.
  • 71GILLIGAND, Mary Kay. "Performing the Past", documento distribuído na Conferência Internacional sobre História Oral, New York, October, 1994.
  • 73CRUIKSHANK, Julie; SIDNEY, Angela; SMITH, Kitty & NED, Annie. Life Lived Like a Story: Life Stories of Three Yukon Native Elders Lincoln: University of Nebraska Press, 1990.
  • 1
    Compilações internacionais importantes incluem: BENMAYOR, Rina & SKOTNES, Andor (eds.).
    International Yearbook of Oral History and Life Stores. Vol III, Migration and Identity
    . Oxford: Oxford University Press, 1994:
    Memory and Multiculturalism: Proceedings of the VIII International Oral History Conference. Siena: Comitato Internazionale di Storia Orale and Università degli Studi di Siena, 1993;
    Communicating Experience: Proceedings of the IX International Oral History Conference, Gotebörg: International Oral History Committee, 1996 (Section 1: Migration and Ethnic Identity). Compilações nacionais importantes incluem:
    Oral History Association of Australia Journal nº 6, 1984, número especial sobre "Migrant Oral Histories";
    Oral History vol. 8, nº 1, 1980, número especial sobre "Black Oral History";
    Oral History vol. 21, nº 1, 1993, número especial sobre "Ethnicity and Oral History";
    Canadian Oral History Association Journal nº 9, 1989, número especial sobre "Oral History and Ethnicity";
    Oral History Review vol. 16, nº 2, 1988, número especial sobre "Oral History and Puerto Rican Women";
    Oral History Review vol. 23, nº 2, 1996, número especial sobre "Migrant Women".
  • 2
    Uma questão relacionada, que requer mais pesquisa, diz respeito ao impacto da história oral sobre o campo mais amplo da história da migração, e mais em geral sobre os estudos de migração. Nos Estados Unidos, por exemplo, Matthew S. Magda declara que "a história oral tem tido, entre as várias especializações na profissão histórica, talvez seu maior impacto na história étnica e do trabalho": "Review Essay: Immigration and Ethnic Communities",
    Oral History Review vol. 15, Fall 1987, p. 152. Ver também HALFACRE, K.H. & BOYLE, P.J. "The Challenge Facing Migration Research: The Case for a Biographical Approach". In
    Progress in Human Geography. Vol.17, nº 3, 1993, pp. 333-48; FINDLAY, A.M. & LI, L.L.N. "An Auto-Briographical Approach to Understanding Migration: the Case of Hong Kong Emigrants". In
    Area vol. 29, nº 1, pp. 33-44.
  • 3
    Citado por SOLDEVILLA, Consuelo. "An Exemple of the Use of Oral Sources in the Global and Interdisciplinary Study of Populations Movements: Emigration from Cantabria to America, 1880-1930". In
    Memory and Multiculturalism, p. 785.
  • 4
    WINTERNITZ, Judith. "Telling the Migrant Experience: the oral History Project of the Ethnic Affairs Commission of N.S.W". In
    Oral History Association of Australia Journal nº 6, 1984, p. 45.
  • 5
    DOUGLAS, Louise & WILTON, Janis. "Editorial". In
    Oral History Association of Australia Journal nº 6, 1984, p. 1.
  • 6
    THOMPSON, Paul.
    The Voice of the Past: Oral History, Oxford: Oxford University Press, 2nd edition, 1988, p. 7.
  • 7
    HARKELL, Gina. "The Migration of Mining Families to the Kent Coalfield Between the Wars". In
    Oral History vol 6, nº 1, 1978, pp. 98-113.
  • 8
    WILLIAMS, Bill. "The Jewish Immigrant in Manchester — The Contribution of Oral History". In
    Oral History vol. 7, nº 1, 1979, p. 52.
  • 9
    Mancuniano: originário da ilha de Manchester. (N. da T.)
  • 10
    As tradições orais familiares e comunitárias também têm sido usadas para esclarecer as experiências de migração anteriores ao século XX, como aquelas dos migrantes escoceses para o Canadá em meados do século XIX. Ver MCKAY, Margaret. "Nineteenth Century Tiree Emigrant Communities in Ontario". In
    Oral History vol 9, nº 2, 1981, pp. 49-60.
  • 11
    HASSAM, Andrew.
    Sailing to Australia: Shipboard Diaries by Nineteenth Century British Emigrants. Manchester: Manchester University Press, 1994.
  • 12
    ADAMS, Carolyn. "Across Seven Seas and Thirteen Rivers". In
    Oral History vol. 19, nº 1, 1991, pp. 29-35.
  • 13
    Para detalhes de publicações importantes de membros da Federation of Worker Writers and Community Publishers, e-mail
    fwwcp@cwcom.net, ou escreva para FWWCP, 67 The Boulevard, Tunstall, Stoke on Trent, ST6 6BD.
  • 14
    BENMAYOR, Rina & SKOTNES, Andor. "Some Reflections on Migration and Identity". In BENMAYOR & SKOTNES.
    Op. cit., p. 14.
  • 15
    JONES, Merfyn. "Welsh Immigrants in the Cities of North West England, 1890-1930: Some Oral Testimony". In
    Oral History vol. 9, nº 2, 1981, p. 34.
  • 16
    BENMAYOR & SKOTNES.
    Op. cit., pp. 13-14.
  • 17
    BEM-EZER, Gadi. "Ethiopian Jews Encounter Israel: Narratives of Migration and the Problem of Identity". In BENMAYOR & SKOTNES.
    Op. cit., pp. 101-117.
  • 18
    CHAMBERLAIN, Mary. "Narratives of Exile and Return". In
    Communicating Experience, pp. 1-13.
  • 19
    BERTAUX-WIAME, Isabelle. "The Life History Approach to the Study of Internal Migration". In
    Oral History vol. 7, nº 1, 199, pp. 26-32.
  • 20
    JONES, Merfyn.
    Op. cit., p. 33.
  • 21
    CHAMBERLAIN, Mary. "Family and Identity. Barbadian Migrants to Britain". In BENMAYOR & SKOTNES.
    Op. Cit., p. 120.
  • 22
    DE ROCHE, Celeste. "'I Learned Things Today That I Never Knew Before: Oral History at the Kitchen Table". In
    Oral History Review vol. 23, nº 2, 1996, p. 61.
  • 23
    MAGDA, "Review Essay", p. 158. Ver também BODNAR, John.
    The Transplanted, 1995; BODNAR, John. "Immigration, Kinship and the Rise of Working-Class Realism in Industrial America". In
    Journal of Social History vol. 14, 1980-81, pp. 46-65.
  • 24
    BERTAUX-WIAME, Isabelle.
    Op. cit.,p. 29.
  • 25
    Ver, por exemplo,
    Oral History Review vol. 23, nº 2, 1996, número especial sobre "Migrant Women";
    Oral History Review vol. 16, nº 2, 1988, número especial sobre "Oral History and Puerto Rican Women"; e CHAMBERLAIN, Mary.
    Op. cit.
  • 26
    BENMAYOR & SKOTNES.
    Op. cit., p. 12.
  • 27
    CHAMBERLAIN, Mary.
    Op. cit.
  • 28
    HICKEY, M. Gail. "'Go to College, Get a Job, and Don't Leave the House Without Your Brother': Oral Histories with Immigrant Women and Their Daughters". In
    Oral History Review vol. 23, nº 2, 1996, p. 64.
  • 29
    WILTON, Janis. "Oral History and Ethnic Community Studies in Australia", documento inédito distribuído na Conferência Internacional sobre História Oral, New York, 1994.
  • 30
    Festa noturna comum na Escócia e na Irlanda, que inclui cantos, danças e narração de histórias. (N. da T.)
  • 31
    MCKAY, Margaret.
    Op. cit., p. 55.
  • 32
    THOMAS-HOPE, Elizabeth. "Hopes and Reality in the West Indian Migration to Britain". In
    Oral History vol. 8, nº 1, 1980, p. 35.
  • 33
    ZINN, Dorothy Louise. "The Senegalese Immigrants in Bari: What Happens When the Africans Peer Back". In BENMAYOR & SKOTNES.
    Op. cit., pp. 53-68.
  • 34
    Citado em MAGDA, "Review Essay", p. 153.
  • 35
    Para esta tendência ativista na história oral, ver a seção sobre "Advocacy and Empowerment". In PERKS & THOMSON.
    The Oral History Reader, pp. 183-268.
  • 36
    HAREVAN,Tamara. "The Search for Generational Memory". In
    Daedalus, Fall 1978, pp. 137-149, republicado in DUNAWAY, David K. & BAUM, Willa K. (eds.).
    Oral History: An Interdisciplinary Anthology. Walnut Creek: Altamira Press, p. 251.
  • 37
    BENMAYOR & SKOTNES.
    Op. cit., p. 15.
  • 38
    Nascidos na cidade de Silhet, província de Chittagong, no Paquistão Oriental, às margens do rio Surma. (N. da T.)
  • 39
    ADAMS, Carolyn. "Across Seven Seas and Thirteen Rivers". In
    Oral History vol. 19, nº 1, 1991, p. 30. As histórias orais dos refugiados e sobreviventes do Holocausto também podem ser vistas como parte de um processo de proteção pública e capacitação pessoal: ver WHITE, Naomi Rosh. "Marking Absences: Holocaust Testimony and History". In PERKS & THOMSON.
    Op. cit., pp. 172-182.
  • 40
    KYRIACOU, Sav. "'May Your Children Speak Well of You Mother Tongue': Oral History and the Ethic Communities". In
    Oral History, vol. 21, nº 1, 1993, pp. 75-80.
  • 41
    WESTERMAN, William. "Central American Refugee Testemony and Performed Life Histories in the Sanctuary Movement". In PERKS & THOMSON.
    Op. cit, pp. 224-234.
  • 42
    SERIKAKU, Laurie R. "Oral History in Ethnic Communities: Widening the Focus". In
    Oral History Review vol. 17, nº 1, 1989, p. 77. Ver também OKIHIRO, Gary Y. "Oral History and the Writing of Ethnic History: A Reconnaissance into Method and Theory". In
    Oral History Review vol. 9, 1989, pp. 27-46.
  • 43
    Pam Schweitzer entrevistada por Joanna Bornat, "Age Exchange: A Retrospective". In
    Oral History vol. 20, nº 2, 1992, pp. 32-39.
  • 44
    BORNAT, Joanna, BURDELL, Judith, GROOM, Bridget & THOMPSON, Paul. "Oral History and Black History: Conference Report". In
    Oral History vol. 8, nº 1, 1980, p. 23.
  • 45
    KIKUMURA, Akemi. "Family Life Histories: A Collaborative Venture". In
    Oral History Review vol. 14, 1986, p. 7.
  • 46
    BENMAYOR, Rina, VASQUEZ, Blanca, JUARBE, Ana & ALVAREZ, Celia. "Stories to Live By: Continuity and Change in Three Generations of Puerto Rican Women". In SAMUEL, Raphael & THOMPSON, Paul (eds.).
    The Myths We Live By. Londres e Nova York: Routledge, 1990, pp. 184-200.
  • 47
    Aussie — Nome dado a nativo ou habitante da Austrália. (N. da T.)
  • 48
    Ver número sobre "Migrant Oral Histories" do
    Oral History Association of Australia Journal, nº 6, 1984; WINTERNITZ, Judith. "Telling the Migrant Experience"; HILL, Andrew. "Oral History as a Basis for Visual Art"; FLEMING, Jane. "Accents on History"; "Migrant Oral Histories: A Preliminary Directory".
  • 49
    Ver sob a rubrica "immigration", in PERKS, Robert.
    Oral History; an Annotated Bibliography, Londres. The British National Sound Archive, 1990. Uma questão que requer mais pesquisa diz respeito à extensão e à importância comparativas de projetos de história oral da migração acadêmicos, governamentais e baseados na comunidade.
  • 50
    BORNAT, BURDELL, GROOM & THOMPSON.
    Op. cit, pp. 21-23.
  • 51
    WILTON, Janis explora maneiras de resolver esses dilemas em "Talking Beyond Racism: Aspects of the Chinese Contribution to Australian History". In
    Communicating Experience, pp. 73-81. Ver também SERIKAKU. "Oral History in Ethnic Communities"; FRISCH, Michael.
    A Shared Authority: Essays on the Craft and Meaning of Oral and Public History. Albany: SUNY Press, 1990.
  • 52
    KYRIACOU. "May Your Children Speak Well of You Mother Tongue".
  • 53
    WILTON, Janis. "Identity, Racism, and Multiculturalism: Chinese-Australian Responses". In BENMAYOR & SKOTNES.
    Op. cit., pp. 85-100.
  • 54
    WINTERNITZ. "Telling the Migrant Experience".
  • 55
    THOMAS-HOPE.
    Op. cit.
  • 56
    KIKIMURA. "Family Life Histories".
  • 57
    Ver as introduções e os capítulos nas seções "Critical Developments" e "Interpreting Memories" de PERKS & THOMSON.
    The Oral History Reader; e THOMSON, Alistair. "Fifty Years On: An International Perspective on Oral History". In
    Journal of American History vol. 85, nº 2, September 1998, pp. 581-595.
  • 58
    BATTISTI, Francesca & PORTELLI, Alessandro. "The Apple and the Olive Tree: Exiles, Sojourners and Tourists in the University". In BENMAYOR & SKOTNES.
    Op. cit., pp. 37-38.
  • 59
    KENNEDY, Elizabeth Lapovsky. "Telling Tales: Oral History and the Construction of pre-Stonewall Lesbian History". In PERKS & THOMSON.
    Op. cit., p. 354.
  • 60
    WILLIAMS. "The Jewish Immigrant in Manchester", p. 51.
  • 61
    WERBNER, Pnina. "Rich Man Poor Man — Or a Community of Suffering: Heroic Motifs in Manchester Pakistani Life Histories". In
    Oral History vol 8, nº 1, Spring 1980, p. 48. Ver também FREUND, Alexander & QUILICI, Laura. "Exploring Myths in Women's Narratives: Italian and German Immigrant Women in Vancouver", 1947-1961. In
    Oral History Review vol. 23, nº 2, 1996, pp. 159-182. Nem todas as histórias orais de migração têm explorado e desafiado as mitologias convencionais. Por exemplo, o livro influente de MORRISON, Joan & ZABUSKY, Charlotte.
    American Mosaic: The Immigrant Experience in the Words of Those Who Lived It. Nova York: E.P. Dutton, 1980, foi criticado como uma história que valida em vez de desafiar as mitologias convencionais sobre migração, assimilação, pluralismo e o sonho americano. Ver PERKS.
    Oral History: An Annotated Bibliography, p. 103.
  • 62
    JAKSIC, Iván. "In Search of Safe Haven". In BENMAYOR & SKOTNES.
    Op. cit., p. 26.
  • 63
    CARNEVALE, Nancy. "Narratives of Italian Immigrants", documento distribuído na Annual Conference of the Oral History Association, Philadelphia. October 1996.
  • 64
    BERTAUX-WIAME. "The Life History Approach to the Study of Internal Migration", p. 29.
  • 65
    BATTISTI & PORTELLI.
    Op. cit., p. 50.
  • 66
    WILTON, Janis. "Identity, Racism, and the Multiculturalism: Chinese-Australian Responses". In BENMAYOR & SKOTNES.
    Op. cit., pp. 85-100.
  • 67
    GRELE, Ron. "Listen to Their Voices: Two Case Studies in the Interpretation of Oral History Interviews".
    Oral History vol. 7, nº 1, 1979, pp. 32-42; YANS-MCLAUGHLIN, Virginia. "Metaphors of Self in History: Subjectivity, Oral Narrative and Immigration Studies". In YANS-MCLAUGHLIN,Virginia (ed.).
    Immigration Reconsidered: History, Sociology and Politics. Nova York: Oxford University Press, 1990, pp. 224-290.
  • 68
    SCHARAGER, Samuel. "What Is Social in Oral History". In PERKS & THOMSON.
    Op. cit., pp. 284 e 288.
  • 69
    Ver também THOMSON, Alistair.
    Anzac Memories: Living With the Legend. Melbourne: Oxford University Press, 1994, pp. 8-11.
  • 70
    NORTH, Nicola. "Narratives of Cambodian Refugees: Issues in the Collection of Life Stories". In
    Oral History vol. 23, nº 2, 1995, p. 33.
  • 71
    GILLIGAND, Mary Kay. "Performing the Past", documento distribuído na Conferência Internacional sobre História Oral, New York, October, 1994.
  • 72
    WILTON, "Identity, Racism, and Multiculturalism".
  • 73
    CRUIKSHANK, Julie; SIDNEY, Angela; SMITH, Kitty & NED, Annie.
    Life Lived Like a Story: Life Stories of Three Yukon Native Elders. Lincoln: University of Nebraska Press, 1990.
  • 74
    SCHRAGER.
    Op. cit., p. 284.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Fev 2003
    • Data do Fascículo
      2002

    Histórico

    • Aceito
      Ago 2002
    • Recebido
      Mar 2002
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