Acessibilidade / Reportar erro

O Escabelo Púrpura: o cativeiro de Valeriano como paradigma da ascensão do Império Sassânida

The Purple Footstool: the Captivity of Valerian as Paradigm of the Rise of the Sasanian Empire

Resumo

Este artigo tem por objetivo refletir sobre o balanço de poder imperial eurasiático entre os romanos, no Ocidente, e os persas, no Oriente, a partir de uma efeméride emblemática: a derrota do imperador latino Valeriano em Edessa, sua captura pelas forças sassânidas e subsequente morte em cativeiro, marcando a primeira e última vez que o líder máximo romano seria feito refém. Propõe-se, aqui, que a derrota ocidental e a memória da captura e morte de Valeriano podem ser lidas como um paradigma da ascensão e da solidificação do poder sassânida no Oriente. Se, por um lado, a morte de Valeriano indica, para os romanos, o início de um período turbulento, por outro, para os persas, a vitória do xá Sapor indica o início de um período de bonança e autoridade. A partir dessa passagem, então, pode-se discutir tanto uma forma de integração eurasiática mais ampla - integração em que eventos possuem consequência compartilhadas, em que o mundo romano influencia o mundo persa e vice-versa - quanto os tradicionais focos historiográficos, visto que a morte de Valeriano pode ser discutida não como fracasso romano, mas como sucesso persa, deslocando o foco de análise do Ocidente para o Oriente.

Palavras-Chave:
Valeriano; Sapor, Sassânidas, Império Persa, Edessa

Abstract

This article aims to reflect about the balance of Eurasiatic imperial power between Romans in the West and Persian in the East through an emblematic ephemerid: the defeat suffered by the Latin Emperor Valerian in Edessa, his capture by Sassanian forces and subsequent death in captivity, marking the first and last time that the Roman leader would be taken hostage. It’s proposed here that the Western defeat and the memory of the capture and death of Valerian can be read as a paradigm of the ascension and solidification of Sasanian power in the East. If, on the one hand, the death of Valerian indicates the beginning of a period of Roman turbulence, on the other hand, to the Persians, the victory of the Shah Shapur indicates the beginning of a period of wealth and authority. Therefore, from this passage, it is possible to discuss both a mechanism of wider Eurasiatic integration - integration in which events have shared consequences, in which the Roman world influences the Persian world and vice-versa - and the traditional historiographic focus, given that the death of Valerian can be viewed not just as Roman failure, but as Persian success, shifting the focus of analysis from the West to the East.

Keywords:
Valerian; Shapur; Sassanians; Persian Empire; Edessa

Introdução - O Imperador Ajoelhado

Em 1521, o pintor e ilustrador alemão Hans Holbein concluiu um pequeno desenho, em nanquim e aquarela, que serviria de molde para painéis que adornariam a prefeitura da cidade suíça de Basileia (Figura 1). A imagem, com pouco menos de 30 centímetros, trazia um homem, de coroa e uma longa barba, deitado ao chão, enquanto uma outra figura, vestida à maneira dos mercenários helvéticos Landsknechte e Reisläufer, colocava um pé sobre suas costas, e uma multidão cercava ambos (cf. ROGG, 2002ROGG, M. Landsknechte und Reisläufer: Bilder vom Soldaten. Ein Stand in der Kunst des 16. Jahrhunderts. Paderborn: Verlag Ferdinand Schöningh, 2002.). Acima do bem-vestido mercenário, voava uma bandeira com a frase Sapor, Rex Persar[um]. Abaixo da figura barbada, a frase: Valerianus, Imp[erator] (KREYTENBERG, 1970KREYTENBERG, G. Die Wandgemälde im Basler Ratsaal. Zeitschrift des deutschen Vereins für Kuntswissenchaft, Berlim, n. 24, p. 77-200, 1970., p.78-80).

Figura 1 -
gravura de Hans Holbein representando a humilhação do imperador Valeriano sob Sapor, xá da Pérsia

O homem coroado, de longa barba, era Valeriano, imperador romano do século III. O triunfante sujeito trajado como um mercenário, em verdade, era Sapor, o segundo xá da Pérsia sassânida, contemporâneo ao líder latino. A cena, como um todo, recriava a humilhante derrota de Valeriano para Sapor na batalha de Edessa, ocorrida em 260 EC (DODGEON; LIEU, 2005DODGEON, M. H. & LIEU, S. N. C. The Roman Eastern Frontier and the Persian Wars AD 226 - 363. Londres; Nova Iorque: Routledge, 2005., p. 2). Este embate marcou não apenas o ocaso das forças romanas no Oriente, mas também a captura do imperador Valeriano - que se tornou o primeiro e único líder latino a ser feito refém e morrer em cativeiro (CALDWELL, 2018CALDWELL, C. H. The Roman Emperor as Persian Prisoner of War: Remembering Shapur's Capture of Valerian. In: CLARK, J. H.; TURNER, B. Brill's Companion to Military Defeat in Ancient Mediterranean Society. Leiden: Brill, 2018, p. 335-358., p.335-336).

A imagem que chega para Holbein, de um Valeriano prostrado sob a bota do Xá dos Xás, carrega em si uma iconografia poderosa que seria repetida pelo gravurista suíço Matthäus Merian em 1630 (GOTTFRIED, 1710GOTTFRIED, J. L. Historische Chronica. Frankfurt: [s. e], 1710., f. 360). Antes de chegar ao nanquim dos artistas germânicos, a cena da captura do imperador romano já ilustrava pequenas iluminuras do século XV, como na tradução francesa do De Casibus Virorum Illustrium e De Mulieribus Claris, de Giovanni Boccaccio, feita por Laurent de Premierfait (BOCCACCIO, G; PREMIERFAIT, 1413-1415, f. 249vBOCCACCIO, G.; PREMIERFAIT, L. de. Des Cas des Nobles Hommes et Femmes (Ms. 63; 96.MR.17). Paris: [s. e.], p. 1413-1415.). Todas estas imagens - isto é, esta icônica cena do imperador Valeriano aos pés do xá da Pérsia - remontam às descrições textuais dispostas por autores romanos, como Lactâncio e Eutrópio. Lactâncio, autor cristão, próximo ao imperador Constantino, descreve em seu De Mortibus Persecutorum1 1 Para fins de leitura, todos os trechos de fontes documentais serão apresentados, no corpo do texto, em tradução do autor. Versões na língua original estarão presentes em notas de fim sempre que possível. o seguinte: “Pois o rei dos Persas, Sapor, que o fez [Valeriano] prisioneiro, quando queria subir em sua carruagem ou montar em seu cavalo, ordenava que o romano se inclinasse e apresentasse suas costas (...)”.2 2 Nam rex Persarum Sapor, is, qui eum ceperat, si quando libureat aut vehiculum ascendere aut equum, inclinare sibi Romanum iubebat ac terga praebere […]. In: LACTANTIUS, ( 2003 , p. 100). O autor segue descrevendo a humilhação de Valeriano e, segundo ele, o imperador, após anos e anos sob o degradante cativeiro sassânida, foi morto, teve sua pela esfolada, pintada de vermelhão e pendurada no templo de “deuses bárbaros”. Para Lactâncio, Sapor exerceu punição divina e merecida, já que Valeriano seria considerado um perseguidor de fiéis cristãos (REINER, 2006REINER, E. The Reddling of Valerian. The Classical Quarterly, Cambridge, n. 56, p. 325-329, 2006., p. 326-329).

O destino do imperador romano é confirmado também por Eutrópio, que, em seu breviário, diz que “Valeriano, conduzindo guerra na Mesopotâmia, foi derrotado por Sapor, rei dos persas, e logo foi capturado, envelhecendo entre os partos em ignóbil servidão”.3 3 Valerianus in Mesopotamia bellum gerens a Sapore, persarum rege, superatus est, mox etiam captus apud Parthos ignobili servitute consenuit. In: FLAVIUS EUTROPIUS, (1879, p. 151). Esta cena, de um imperador romano sendo submetido ao cativeiro, certamente ultrapassou os limites do Império Romano e também encantou a arte oriental. Um exemplo pode ser visto no grande épico persa do século XI, o Šāhnāme (ou “Livro dos Reis”), escrito pelo poeta Al-Amīr al-Ḥakīm Abo’l-Qāsem Manṣūr Ferdowsī Țusī. Produzido num momento turbulento em que a corte persa dos samânidas cedia seu mando para conquistadores turcos da dinastia dos gaznévidas, o Šāhnāme talvez seja a mais importante obra literária do Irã medieval, e cópias deste épico, feitas incansavelmente em séculos subsequentes, costumavam trazer várias miniaturas; nelas, comumente se via esta passagem da captura de Valeriano, descrita por Eutrópio e Lactâncio (REINER, 2006REINER, E. The Reddling of Valerian. The Classical Quarterly, Cambridge, n. 56, p. 325-329, 2006., p. 327-328). Certamente que a iconografia iraniana não descende dos testemunhos romanos especificamente, mas sim da propaganda oficial sassânida, que também se aproveitou da forte imagem da derrota de Valeriano para criar suas próprias narrativas políticas e imagéticas. A derrota do imperador romano (ou melhor, o triunfo do xá Sapor) adorna, por exemplo, um pequeno camafeu de sardônica entalhado no século III (Figura 2): na pequena jóia, Sapor, identificado pela espada cingida na cintura e pelo Korymbos (ornamento típico da realeza sassânida, que consiste em um orbe de pano que repousa no topo da coroa), aparece segurando a mão de uma figura sem barba, de cabelo curto (e uma coroa de louros) brandindo um gladius, a espada típica dos romanos. A espada desembainhada, neste caso, representa o agressor submetido, Valeriano (CHEN, 2016CHEN, A. H. Rival Powers, Rival Images: Diocletian's Palace at Split in Light of Sasanian Palace Design. In: SLOOTJES, D.; PEACHIN, M. Rome and the Worlds Beyond its Frontiers. Leiden: Brill , 2016, p. 213-242., p. 239). Peças como este camafeu, regularmente feitas em um estilo de arte greco-romano, eram populares entre a aristocracia iraniana, receptora desta propaganda régia (COTTEVIEILLE-GIRAUDET, 1938COTTEVIEILLE-GIRAUDET, A. Coupes et Camées Sassanides du Cabinet de France. Revue des Arts Asiatiques, Paris, n. 12, 1938, p.52-64., p. 52-64).

Figura 2 -
camafeu de sardônica representando Sapor (esquerda) segurando o imperador Valeriano (direita) pelas mãos.

Contudo, o grande exemplo desta propaganda oficial de triunfo, indiscutivelmente, é o monumental relevo talhado nos paredões de pedra de Naqš-e Rostam, um vale próximo de Persépolis (e da atual Xiraz, na província de Fārs, Irã). Entre os sete relevos do período sassânida, um deles com mais de 10 metros de altura, mostra Sapor (Figura 3) montado em seu cavalo, com sua espada cingida na cintura e seu Korymbos voando sobre uma grande coroa com ameias, segurando as duas mãos de Valeriano e, ao lado do imperador romano, uma outra figura, de joelhos, presta obediência ao xá persa: Filipe o Árabe, que em 243 EC travou um acordo de paz com os sassânidas (HINZ, 1970HINZ, W. Die Inschrift des Hohenpriesters Kardēr am Turm von Naqsh-e Rostam. Archäologische Mitteilungen aus Iran, Berlim, vol. 3, 1970, p. 251-265., p. 251-252).

Figura 3 -
relevo II de Naqš-e Rostam, representando Sapor em triunfo (direita), Filipe ajoelhado (esquerda, à frente) e Valeriano de pé, sendo preso (esquerda, atrás).

O vale de Naqš-e Rostam era utilizado como espaço de propaganda monumental desde os tempos aquemênidas (POTTS 2005POTTS, D. T. et al. Eight Thousand Years of History in Fars Province, Iran. Near Eastern Archaeology, Massachusetts, v. 68, n. 3, p. 84-92, 2005., p. 84-92). Nele, há cinco grandes tumbas do século V AEC (quatro foram terminadas e pertencem a Dario I, Xerxes I, Artaxerxes I e Dario II; a quinta está incompleta) que acompanham os relevos sassânidas - feitos quase 700 anos depois; alguns metros à frente dos paredões que abrigam as tumbas aquemênidas e os relevos sassânidas, há uma estrutura cúbica, conhecida hoje como Kaʿba-ye Zardošt, ou o “Cubo de Zoroastro”. Não se sabe ao certo para que servia esta estrutura, mas ela é de especial interesse por conta do que está escrito em suas superfícies: nela, o escriba persa Ormasde, filho de Šilag, entalhou os feitos de Sapor, numa inscrição que Mikhail Rostovtzeff decidiu chamar de Res Gestae Divi Saporis, ou “Os Feitos do Divino Sapor”, colocando-a ironicamente como o “espelho oriental” da Res Gestae Divi Augusti, ou “Os Feitos do Divino Augusto”, a narrativa romana dos sucessos de seu primeiro imperador (ROSTOVTZEFF, 1943ROSTOVTZEFF, M. I. Res Gestae Divi Saporis and Daru. Berytus, Beirute, v. 8, p. 17-60, 1943., p. 17-60). Hoje referida como ŠKZ (Šāhpūr-e Kaʿba-ye Zardošt), ela é trilíngue - está escrita em parto, em persa médio e em grego - e, de maneira sucinta, descreve a vitória de Sapor sobre três imperadores romanos: Gordiano III, Filipe o Árabe e Valeriano (DARYAEE, 2018DARYAEE, T. Res Gestae Divi Saporis. In: NICHOLSON, O. (ed.). The Oxford Dictionary of Late Antiquity. Oxford: Oxford University Press, 2018, p.1282., p. 1282). Sobre este último, ela diz:

Na terceira ocasião, quando marchamos contra Harã e Edessa e sitiamos Harã e Edessa, Valeriano César avançou contra nós (...) E deste lado de Harã e Edessa ocorreu uma grande batalha com Valeriano César, e Valeriano César em pessoa foi capturado por nossas próprias mãos, e os outros, prefeitos pretorianos, senadores e generais que eram os comandantes das forças, foram todos capturados, foram levados para a Pérsia.4 4 Hridīg yāwar kaδ amā abar Harrān ud Urhā wihišt ahēm ud Harrān ud Urhā *parrūδīd, Wālaraniyos Kēsar abar amā āγad ud až hō ārag Harrān ud Urhā aδ Wālaraniyos Kēsar wuzurg raf būd, ud Wālaraniyos Kēsar wxad pad wxēbeh dast dastgraβ kerd ud *ōyādag, *rabēsēf, sānatōr ud hēgemōn kē hō zāwar sārār būd, harw dastgraβ kerd, ud bē ō Pārs wāst ahēnd. In: HUYSE, (1999, p. 37).

De um lado, a vergonha e humilhação de Valeriano, um imperador que termina seus dias servindo de escabelo para o Xá da Pérsia; de outro, o triunfo de Sapor, líder de um vasto império, do Eufrates ao Oxos, “conquistador dos romanos” (MOSIG-WALBURG 2010MOSIG-WALBURG, K. Deportationen römischer Christen in das Sasanidenreich durch Shapur I. und ihre Folgen - Eine Neubewertung. Klio: Beiträge zur alten Geschichte, Berlim, v. 92, n. 1, p. 117-156, 2010., p. 117 -156). Para além das imagens contrastantes e da curiosa e inesperada inversão de papéis e poderes, o que o encontro entre Pérsia e Roma significa? Temos, na memória e na morte de Valeriano, algo além de uma fábula de advertência?

O Herdeiro de Ciro?

A morte de Valeriano e o conflito direto entre romanos e persas no século III é apenas o culminar de uma longa história de confrontos esporádicos e contatos belicosos entre os mundos latino e iraniano. Roma, desde seus tempos republicanos, esteve envolvida em um perene conflito com os partos, o grupo iraniano de maior expressão na Ásia Ocidental desde a queda dos aquemênidas em 330 AEC (CURTIS; STEWART, 2007CURTIS, V. S.; STEWART, S. (edit.). The Age of the Parthians. Londres; Nova Iorque: I. B. Tauris, 2007., p. 7-9). Os partos, também chamados de Parni, em seus primórdios, faziam parte da confederação nômade dos Dahan e, por volta de 247 AEC, fundam uma dinastia hegemônica, chamada pela historiografia de dinastia arsácida, nomeada assim em referência a seu fundador, Aršak, ou Arsáces I (DARYAEE, 2011DARYAEE, T. The Oxford Handbook of Iranian History. Oxford: Oxford University Press , 2011., p. 168).

Os arsácidas, que construíram seu domínio do Planalto Iraniano a partir da cidade de Ecbatana, na antiga satrapía aquemênida da Média (este domínio, porém, não se dava a partir de uma capital fixa, e o núcleo de poder arsácida era centrado também na antiga satrapía da Pártia e da Hircânia - todas elas hoje são regiões do Irã), se expandiram sobre o cada vez mais enfraquecido Império Selêucida, que havia sucedido o Império Aquemênida após as conquistas de Alexandre III da Macedônia (KOSMIN, 2014KOSMIN, P. J. The Land of the Elephant Kings: Space, Territory, and Ideology in the Seleucid Empire. Cambridge & Londres: Harvard University Press, 2014., p. 3-4). Este movimento fez com que, no século I AEC, a fronteira ocidental arsácida fosse o rio Eufrates: para os romanos, esta era uma distância próxima demais. Assim, a presença iraniana na Mesopotâmia logo desembocou em uma série de conflitos contra a República Romana - sendo a derrota de Marco Licínio Crasso em Carrhae, em 53 AEC, um dos mais famosos conflitos romano-iranianos deste período (SCHNEIDER, 2007SCHNEIDER, R. M. Friend and Foe: The Oriente in Rome. In: CURTIS, V. S. & STEWART, S. (edit.). The Age of the Parthians . Londres; Nova Iorque: I. B. Tauris , 2007, p. 50-86., p. 50-86).

A relação belicosa entre romanos e partos segue através dos séculos. Já no período imperial, imperadores como Trajano e Lúcio Vero constantemente reafirmam seu poder na região mesopotâmica, em especial a partir de 197 EC, quando Septímio Severo submete o reino cliente de Osroena, na Alta Mesopotâmia, ao efetivo controle do Império Romano (HARTMANN, 2009HARTMANN, U. Ein Arsakide im Heer des Septimius Severus: Überlegungen zu den Hintergründen des Zweiten Partherkrieges. Electrum, Cracóvia, vol. 15, 2009, p. 249-266., p. 250-251; GONÇALVES, 2005GONÇALVES, A. T. M. Romanos e Partos: Atividades Bélicas na República e no Principado. Saeculum: Revista de História, n. 13, 2005, p. 11-21., p. 17).

No entremeio da complicada relação entre romanos e partos pelo controle das fronteiras mesopotâmicas (divididas por ambos), surge um líder local chamado Artaxes, que viria a balançar este status quo de maneira contundente. Artaxes era um Fratarakā, uma espécie de “rei vassalo”, da região de Pārs (atual Fārs, Irã), o território original da dinastia dos aquemênidas (NEZHAD, 2018NEZHAD, A. A. A New Insight to the Persis Kings (Frataraka). International Journal of Archaeology, Zabol, v. 6, n. 1, p. 37-45, 2018, p. 37-45). Em 208 EC, Artaxes inicia um processo de rebelião contra os senhores arsácidas, conquistando territórios nos arredores de Pārs (PINTO, 2019PINTO, O. L. V. Falando de Reis e Sucessão. A Gênese do Poder Sassânida e o Fim da Ordem Arsácida na Pérsia Tardo-Antiga. Roda da Fortuna, v. 8, n. 1, p. 539-556, 2019., p. 541-543). A rebelião logo ganha proporção e culmina em um conflito armado e na derrota do monarca parto, Artabano IV, em c. 224 EC, na batalha de Hormozgān. A partir deste momento, Artaxes submete os partos e outros grupos iranianos ao seu poder e se consolida como Šāhānšāh, “Rei dos Reis” do Irã (GARRUSI, 1977GARRUSI, A. Ātaškada-ye Bahrām az banāhā-ye Ardašir-e Bābakān dar Ḵīr-e Estahbān. Barrasihā-ye Tāriḵi, Teerã, vol. 11, 1977, p. 107-144., p. 104-144). A elevação de um personagem etnicamente persa - tais quais os antigos aquemênidas - ao trono do império iraniano causa preocupação nos rivais romanos. Havia entre os greco-latinos o receio de que Artaxes, imbuído de um revanchismo enraizado justamente no passado aquemênida, buscasse escalar ainda mais os conflitos na Mesopotâmia. O receio transparece em Dião Cássio, que afirma que

Artaxerxes, um persa, depois de conquistar os partos em três batalhas e matar o seu rei, Artabano (...) avançou contra a Média. Deste lugar, como da Pártia, ele dominou grande parte, parcialmente pela força, parcialmente pela intimidação. (...) ele vangloriava-se, afirmando que iria reconquistar tudo que os antigos persas uma vez possuíram (...), dizendo que tudo isso era seu por direito de seus ancestrais.5 5 Ἀρταξέρξης γάρ τις Πέρσης τούς τε Πάρθους τρισὶ μάχαις νικήσας, καὶ τὸν βασιλέα αὐτῶν Ἀρτάβανον ἀποκτείνας (...) τὴν Μηδίαν μετέστη, καὶ ἐκείνης τε οὐκ ὀλίγα καὶ τῆς Παρθίας, τὰ μὲν βίᾳ τὰ δὲ καὶ φόβῳ (...). οὗτος οὖν φοβερὸς ἡμῖν ἐγένετο (...) καὶ ἀπειλῶν ἀνακτήσεσθαι πάντα, ὡς καὶ προσήκοντά οἱ ἐκ προγόνων, ὅσα ποτὲ οἱ πάλαι Πέρσαι (...) οὐχ ὅτι αὐτὸς λόγου τινὸς ἄξιος δοκεῖ. In: DION CASSIUS, (1914, p. 482-483).

Seguindo a linha de Dião Cássio, Herodiano é ainda mais explícito, dizendo que

(...) Artaxares, o rei dos persas, havia conquistado a Pártia e tomado sua porção oriental, matando Artabano, que era chamado de Grande Rei e vestia a dupla diadema. (...) Acreditando que estas regiões [Ásia Menor] eram suas por herança, ele [Artaxes] declarou que todos os países nessa área foram governados pelos persas, começando com Ciro, o primeiro a fazer do Império Medo um Império Persa, e terminando com Dario (...).6 6 Ἀρταξάρης ὁ Περσῶν βασιλεὺς μετὰ τὸ Παρθυαίους καθελεῖν καὶ τῆς κατὰ τὴν ἀνατολὴν ἀρχῆς παραλῦσαι, Ἀρτάβανόν τε τὸν πρότερον καλούμενον {τὸν} μέγαν βασιλέα καὶ δυσὶ διαδήμασι χρώμενον ἀποκτεῖναι. (…) τε πᾶσαν καλουμένην προγονικὸν κτῆμα ἡγούμενος τῇ Περσῶν ἀρχῇ ἀνακτήσασθαι βούλεται, φάσκων ἀπὸ Κύρου τοῦ πρώτου τὴν ἀρχὴν ἐκ Μήδων ἐς Πέρσας μεταστήσαντος μέχρι Δαρείου τοῦ τελευταίου Περσῶν βασιλέως. In: HERODIANOS, (1970, p. 90-91).

Em certa medida, o alarme destes autores tinha fundamento. Por volta de 230 EC, Artaxes se volta para o Ocidente e ataca dois fortes romanos nas fronteiras mesopotâmicas, em Nísibis e em Harã (que, por ironia, era justamente a antiga Carrhae de Crasso), demonstrando pouco apreço pelos acordos feitos anteriormente e pelo balanço de poder que, mesmo frágil, havia entre romanos e partos. Alexandre Severo, em esforço militar, repele os avanços ocidentais dos persas, mas a vantagem dura pouco. A morte deste imperador - e o canônico início do que, por muito tempo, foi chamado de Crise do Século III (GONÇALVES, 2006GONÇALVES, A. T. M. Os Severos e a Anarquia Militar. In: SILVA, Gilvan V. & MENDES, Norma M. (orgs.). Repensando o Império Romano: Perspectiva Socioeconômica, Política e Cultural. Vitória: MAUAD, 2006, p. 175-192., p. 175-192) - possivelmente imbuem Artaxes com renovada audácia: em 237/238 EC, ele ataca novamente Nísibis e Harã, mas dessa vez segue também para Dura Europo e para Hatra, importante cidade que suporta o cerco sassânida por 2 ou 3 anos, caindo somente em 240 EC (DODGEON; LIEU, 2005DODGEON, M. H. & LIEU, S. N. C. The Roman Eastern Frontier and the Persian Wars AD 226 - 363. Londres; Nova Iorque: Routledge, 2005., p. 2-7).

Em outras palavras, dos anos finais da Res Publica romana até os anos finais da dinastia dos Severos, Roma esteve em constante conflito com as forças do Irã, usualmente representadas pela hegemonia arsácida dos partos, e agora, pela nascente autoridade sassânida dos persas. É na esteira deste contexto histórico que as vitórias de Sapor, filho de Artaxes, devem ser compreendidas.

O Filho do Rei

Em vários sentidos, a ascensão de Artaxes é fundamental para a compreensão das estruturas de poder na Eurásia Tardo Antiga. Simbolicamente, o novo xá representa uma forma de restauração política: sua posição como Fratarakā, de Pārs, isto é, como um rei local assentado sobre a base geográfica do antigo trono aquemênida, o imanta com legitimação histórica, com a autoridade do passado imperial da Pérsia. Em outras palavras, um persa retorna ao trono persa: após o interregno da presença helênica selêucida e do difuso controle arsácida, que era muito mais centrado na Média, na Pártia e na Hircânia - isto é, nas zonas mais orientais do Planalto Iraniano -, Artaxes funciona como uma ponte erigida sobre os mais de 550 anos que separam o último imperador aquemênida, Dario III, da fundação ideológica desta Nova Pérsia.

Já em termos práticos, como visto, Artaxes retoma aproximações agressivas contra a Mesopotâmia romana. É possível argumentar que este movimento bélico não visava, como acreditavam os romanos, reerguer o território aquemênida de outrora, mas sim criar sustentação política diante dos variados grupos iranianos que compunham seu império. É preciso lembrar que os arsácidas governavam por “coalisão”, apoiados pelo poderio militar de sete dinastias partas: os Varāz, os Kāren, os Surēn, os Mehrān, os Spandiāδ, os Žik e os Nehābed (SHAHBAZI, 1993SHAHBAZI, A. S. H. The Parthian Origins of the House of Rustam. Bulletin of the Asia Institute, Michigan, v. 7, p. 155-163, 1993., p. 155). Conflito entre os arsácidas e a aristocracia significava instabilidade para o poder parto. Assim, quando Artaxes assume o trono, ele habilmente lida com estas famílias, concedendo territórios para que elas governassem, sob o título de Wispuhrān, os “filhos das vilas”, uma espécie de título atestando o poder clânico que elas deteriam. Em troca de territórios importantes, como Coração, Nahāvand, Sistão e Rey, os Wispuhrān das sete dinastias partas ofereciam conselho, financiamento e poderio militar para Artaxes e os persas (CHAUMONT, 1975CHAUMONT, M. L. Etats Vassaux dans l'Empire des Primiers Sassanides. Acta Iranica, Leinden, v. 4, p.89-156, 1975., p. 89-156). Assim, campanhas militares eram a forma ideal para o Xá dos Xás expandir suas terras, sedimentar sua autoridade e, ao mesmo tempo, recompensar e controlar seus apoiadores. Grande exemplo dessa tentativa de conciliação reside também no casamento de Artaxes, que escolhe como esposa Myrōd, a princesa filha de Artabano IV, assim obtendo ainda mais legitimação através do senso de continuidade dinástica (SHAHBAZI, 2004SHAHBAZI, A. S. H. Hormozdgān. Encyclopedia Iranica, v. XII, n. 5, p. 469-470, 2004. , p. 468-470).

Da união entre Artaxes e Myrōd nasceu Sapor. Seu nome, do persa médio Šāh e pūhr, significava “Filho do Xá”. Traçar uma cronologia da vida de Sapor antes do ano de 240 EC é difícil, e mesmo sua maternidade por vezes é colocada em questão, já que ele parece ter participado, com seu pai, do levante de Hormozgān em 224 EC. Isso significa que ele certamente esteve na frente de combate contra os romanos a partir de 230 EC e, com alguma segurança, podemos dizer que ele assumiu o trono persa ainda ao lado de seu pai, em 240 EC. Com a morte de Artaxes em 242 EC, contudo, temos uma data precisa para o mando de Sapor como o único Xá dos Xás da Pérsia (GÖBL, 1991GÖBL, R. Šābuhr, König der König von Iran. Numismatia e Antichit’a Classiche, Lugano, vol. 20, 1991, p. 239-245., p. 239-245). Na qualidade de xá, Sapor se volta para as fronteiras orientais, e leva campanha militar até Sistão e Cuchã (atual Paquistão), na tentativa de não apenas efetivamente expandir seus domínios, mas também garantir que os grupos iranianos do Leste, como os Saka, manteriam obediência e tributo após a morte de Artaxes. Neste ínterim, problemas surgem no Oeste. Sob o comando de Gordiano III, as forças romanas retomam o conflito na fronteira mesopotâmica, atacando Antioquia, Carrhae e Nísibis em 242 EC. Os romanos mantêm o avanço por 2 anos, forçando o retorno de Sapor que, em 244 EC, derrota as legiões imperiais na Batalha de Misiche. O resultado, segundo a inscrição de Sapor, foi a derrota esmagadora dos romanos e a morte do próprio imperador Gordiano III (está informação não encontra paralelo em nenhum texto greco-latino):

E quando tomamos senhorio destas terras, Gordiano César conclamou todas as forças das terras de Roma, da Gótia e da Germânia; e, da Assíria, ele marchou contra as terras do Irã e contra mim, e diante da fronteira da Assíria com Misiche ocorreu uma grande batalha. Gordiano César foi morto, as forças de Roma destruídas, e os romanos fizeram de Filipe, César. E Filipe César veio a nós, suplicante, e, por sua alma, nos deu 500 mil denários em [dinheiro de] sangue, tornando-se nosso tributário, e por isso nós demos a Misiche o nome de Pērōz-Šābuhr [Vitorioso-Sapor].7 7 ud kaδ naxwišt pad šahr awištād ahēm, Gōrdanyos Kēsar až hamag Frōm, Gōt ud Garmāniyā šahr zāwar hangāwišn kerd; ud ō Asūrestān abar Ērānšahr ud amā āγ[a]d, ud pad Asūrestān m[arz] pad Mišīk paddēmān wuzurg zambag būd. Gōrdanyos Kēsar ōžad, Frōmāyīn zāwar *wānād, ud Frōmāyīn Filip(p)os kēsar kerd ud Filip(p)os Kēsar amā ō nemastīg āγad, ud gyān goxn (?) dēnār 500 hazār ō amā dād, pad bāž awestād, ud amā Mišik až ēd kerd Pērōz-Šābuhr nām awestād. In: HUYSE, (1999, p.27).

O sucessor de Gordiano III, Filipe, conhecido como “Árabe”, rapidamente acerta um acordo de paz com os persas - evento que, como pode ser visto, é propagandeado por Sapor como uma grande derrota romana (DODGEON; LIEU, 2005DODGEON, M. H. & LIEU, S. N. C. The Roman Eastern Frontier and the Persian Wars AD 226 - 363. Londres; Nova Iorque: Routledge, 2005., p. 22-23). Após estes sucessos, o xá e seus exércitos passam os seis anos seguintes em campanhas nas fronteiras, incluindo a Mesopotâmia. Em 252 EC, Sapor trava novamente um conflito expressivo com os romanos, realizando incursões na Síria e vencendo uma grande guarnição latina na Batalha de Barbalisso - batalha que não é registrada nas fontes romanas (DODGEON; LIEU, 2005DODGEON, M. H. & LIEU, S. N. C. The Roman Eastern Frontier and the Persian Wars AD 226 - 363. Londres; Nova Iorque: Routledge, 2005., p. 307). Estes ataques persas abrem caminho para que o xá conquiste importantes posições em sua fronteira ocidental, sendo a mais importante delas a tomada da cidade de Antioquia, ainda que ela tenha sido retomada pelos romanos em 257 EC.

Já do lado romano, há instabilidade na sucessão política. Com a morte de Filipe em 249 EC, o trono passa para Décio e seu filho Herênio Etrusco, depois para Treboniano Galo e seus filhos Hostiliano e Volusiano, depois para Emiliano e, finalmente, para Valeriano e seu filho Galieno em 253 EC. Pelos próximos 7 anos, Sapor e Valeriano mantem escaramuças esporádicas nas regiões da Ásia Ocidental, até uma maior escalada dos conflitos em 260 EC (MOSIG-WALBURG, 2010MOSIG-WALBURG, K. Deportationen römischer Christen in das Sasanidenreich durch Shapur I. und ihre Folgen - Eine Neubewertung. Klio: Beiträge zur alten Geschichte, Berlim, v. 92, n. 1, p. 117-156, 2010., p. 141). É neste momento, então, que se chega ao fiel da balança dos conflitos irano-latinos. De um lado, Sapor vinha consolidando seu poder pelos últimos 18 anos e assegurando a integridade de suas fronteiras de Leste a Oeste; de outro, os romanos, nos mesmos 18 anos, não haviam conhecido um governo verdadeiramente duradouro e, além dos conflitos na Mesopotâmia e dos problemas internos, sofriam ataques dos godos na Trácia e na Ásia Menor - um destes ataques, inclusive, causou a morte do imperador Décio (KULIKOWSKI, 2007KULIKOWSKI, M. Rome's Gothic Wars. Cambridge: Cambridge University Press, 2007., p. 18). Quando ambos os lados se encontram, numa localidade próxima de Edessa (atual Urfa, Turquia), a derrota romana é completa. Segundo a inscrição de Sapor, Valeriano marcha com uma força de dezenas de milhares, contando com auxiliares da Germânia, da Síria, de Osroene e de todos os cantos do império. Grande parte deste exército foi capturada, incluindo prefeitos pretorianos, senadores e generais. A derrota romana em Edessa trouxe não apenas o ocaso das forças ocidentais, mas também abasteceu o império sassânida com soldados, prisioneiros, artesãos e, claro, aristocratas latinos. Entre eles, o próprio imperador Valeriano - o que nos traz de volta ao início deste texto.

Assim, o cativeiro de Valeriano é um marco simbólico. Seu desaparecimento abre um vácuo de poder no trono latino, forçando seu sucessor Galieno a enfrentar diversas tentativas de usurpação, como as de Macriano, Mússio Emiliano e Póstumo (cf. DE BLOIS, 1976DE BLOIS, L. The Policy of the Emperor Gallienus. Leiden: Brill , 1976.). Já no Oriente, o acumulo de riquezas, de força de trabalho e de prestígio sedimenta o papel hegemônico do Império Persa na Ásia Ocidental e na Ásia Central. Esse avanço de autoridade é perceptível na máquina propagandística dos sassânidas: Sapor busca materializar sua tríade de vitórias - Misiche, Barbalisso e Edessa - em sua inscrição, a Šāhpūr-e Kaʿba-ye Zardošt, e em seu relevo monumental de Naqš-e Rostam. Mais explícita ainda é a mudança que ocorre na titulatura imperial: o título que havia sido cunhado por Artaxes como Šāhānšāh Ērān, isto é, “Reis dos Reis do Irã/Iranianos”, foi transformado em Šāhānšāh Ērān ud Anērān, “Reis dos Reis do Irã e do Não-Irã/Iranianos e Não-Iranianos”. Sapor busca universalidade para sua autoridade, colocando-se como xá não apenas dos povos iranianos, mas também como monarca de povos não-iranianos, entendendo-se certamente como superior à sua contraparte romana (BORUMAND, 2016BORUMAND, S. Historical Perspectives on Iranian Cultura Identity. In: PIRZADEH, A. Iran Revisited: Exploring the Historical Roots of Culture, Economics, and Society. Nova Iorque: Springer, 2016, p.75-102., p. 75-80).

Após a vitória em Edessa, Sapor certamente dá prosseguimento às suas conquistas e seus projetos urbanos. Em 266 EC, funda a cidade de Bay-Šāpūr (significando em persa médio “Senhor Sapor”) como uma espécie de palácio-urbano para sua corte, já que a cidade era ligada tanto à Persépolis, a antiga capital aquemênida, quanto à Ctesifonte, a tradicional capital sassânida que, junto de Ecbatana, também era usada pelos arsácidas. Sapor morreria em Bay-Šāpūr, por volta de 270 EC, acometido por doença.

Sapor seria sucedido por seus filhos, Hormisda I, que reinou por um ano, e Vararanes I, que reinou por 3 anos; e por seu neto Vararanes II, que reinou por 19 anos. Vararanes II seria sucedido por seu filho Vararanes III, mas quatro meses após sua ascensão ao trono, ele foi deposto por Narses I, seu tio-avó e último filho homem de Sapor ainda vivo - Narses não era o único sobrevivente da prole de Sapor nos anos 290: ele era casado com sua própria irmã, Šābuhrduxtag, seguindo uma prática zoroastrista de incesto político-religioso conhecida como Xwēdōdah (DARYAEE, 2013bDARYAEE, T. Marriage, Property and Conversion among the Zoroastrians: From Late Sasanian to Islamic Iran. Journal of Persianate Studies, Leiden, vol. 6, n. 1-2, 2013b, p.91-100., p. 91-93). O conflito entre Narses e Vararanes III foi a primeira real crise sucessória do período sassânida, visto que o curto mando de Hormisda I e Vararanes I foi devido à morte por doenças (WIESEHÖFER, 2013WIESEHÖFER, J. Iranian Empires. In: BANG, P. F.; SCHEIDEL, W. The Oxford Handbook of the State in the Ancient Near East and Mediterranean. Oxford: Oxford University Press , 2013, p. 199-234., p. 224). Já do lado romano, nos 24 anos que separam a morte de Valeriano da subida de Diocleciano ao trono latino, 12 imperadores reinaram - e grande parte deles manteve-se no posto por pouco tempo e terminou assassinada (GONÇALVES, 2006GONÇALVES, A. T. M. Os Severos e a Anarquia Militar. In: SILVA, Gilvan V. & MENDES, Norma M. (orgs.). Repensando o Império Romano: Perspectiva Socioeconômica, Política e Cultural. Vitória: MAUAD, 2006, p. 175-192., p. 175-192). Então, podemos dizer que, em termos generalizantes, enquanto o Império Romano buscava instrumentos políticos de estabilização sucessória durante parte do século III, o Império Persa dominou estes mesmos instrumentos políticos com maestria, suplantando a hegemonia arsácida, angariando fundos militares das famílias partas, assegurando a integridade das fronteiras, conservando a sucessão hereditária patrilinear e, acima de tudo, conquistando vitórias expressivas contra os poderosos vizinhos romanos. Assim, podemos tomar a derrota, a captura, a humilhação e a morte de Valeriano nas mãos (e sob os pés) de Sapor como um marco paradigmático deste balanço de poder - que, no século III, pendeu para o lado oriental.

Os Dois Olhos do Mundo

Na metade do século VII, o historiador grego Teofilato Simocáta inclui, em sua narrativa sobre o governo imperial de Maurício (582 - 602 EC), o conteúdo de uma carta que teria sido enviada pelo xá sassânida Cosroes II para os romanos em Constantinopla. Na carta, Cosroes afirma que

Deus fez com que o mundo inteiro fosse iluminado, desde seus primórdios, por dois olhos: pelo mais poderoso governo dos romanos e pelo mais prudente cetro dos persas. Pois que, por estes grandes poderes, as tribos belicosas e desobedientes são varridas e o curso da humanidade é continuamente regulado e guiado. (THEPHYLAKTOS SIMOKATTAS, 1997THEOPHYLAKTOS SIMOKATTA. The History of Thephylact Simocatta. WHITBY, M.; WHITBY, M. (trad.). Oxford: Oxford University Press, 1997., p. 152)

A analogia dos dois impérios como dois olhos que vigiam as vicissitudes da Terra não era incomum. João Malalas, anos antes, chama Roma e Pérsia de “Sol Nascente e Lua Poente”; Menandro o Guardião ainda diria que ambos eram “Impérios Irmãos” (CANEPA, 2010CANEPA, M. P. The Two Eyes of the Earth: Art and Ritual of Kingship Between Rome and Sasanian Iran. Berkeley: University of California Press, 2010., p. 18-19). Não é difícil compreender a raiz destas analogias. Da costa atlântica da Lusitânia até as passagens montanhosas para a Bacia do Tarim, o Império Romano e o Império Persa eram as maiores potências culturais, militares e políticas. Possuíam bagagem histórica que lhes conferia gravitas e legitimação, possuem extensão territorial que fazia com que efetivamente comandassem uma miríade de povos, estados, reinos e sociedades. Para além de seus limites, o mundo era visto em termos de geladas planícies ou escaldantes desertos, locais habitados por nômades e bárbaros selvagens. Por isso Teofilato Simocáta vê em Roma e na Pérsia as grandes luminárias do mundo: porque era ali que a autoridade terrena se estabelecia. Ambos, Roma e Pérsia, também utilizariam forte cerimonial sacralizado para sedimentar seus poderes: ancestrais cultos latinos (e, mais tarde, cristãos) de um lado, e antiquíssimos ritos zoroastristas de outro.

Naturalmente, outras forças poderosas escapavam ao mando romano-persa: coalisões turcas, exércitos germanos, reinos indianos, sociedades africanas e, mais além, o “Reino do Meio”, o Império Chinês que, apesar do contato indireto com o mundo sassânida, estava geograficamente afastado demais do mundo romano. Nossa visão da Antiguidade Tardia, afinal, é grandemente marcada pela textualidade greco-latina, fazendo com que a historiografia veja os persas como pouco mais do que rivais históricos - e ignore por completo a China, salvo para as raras referências às rotas comerciais que se estruturavam na Ásia Central e no Oceano Índico e chegavam até os portos romanos. Por esta razão, a proposta deste texto é a de repensar paradigmas: se a morte de Valeriano é tradicionalmente lida como um exemplo de uma Anarquia Militar ou de uma Crise do Século III, podemos olhar para o outro lado da balança e analisar o século III como o culminar de uma restruturação do poderio iraniano, de forma que a vitória sobre os romanos em Edessa - mas também em Barbalisso e Misiche - se torna um dado acerca da ascensão sassânida, não necessariamente do “declínio romano” que antecede a subida de Diocleciano ao trono. Afinal, entre Eutrópio e Lactâncio, entre Dião Cássio e Herodiano, e pelos séculos, entre Hans Holbein e Matthäus Merian, a morte de Valeriano é um grande símbolo de crise romana. Para alguns, é a humilhação diante do bárbaro; para outros, é o testemunho de um tempo anárquico. Em outras palavras, o infortúnio do imperador é sempre entendido como um evento romanocentrado, uma efeméride simbólica que diz respeito somente, e tão somente, ao destino do Ocidente. É como se reproduzíssemos fielmente a retórica de nossos autores latinos: com esta postura, o mundo persa é um agente quase passivo, um pano de fundo para narrativas imperais romanas. Naturalmente, se estamos falando de Eutrópio ou Lactâncio, essa abordagem é compreensiva. Se estamos falando de nós, historiadoras e historiadores, ela deve ser problematizada e ampliada - dessa forma, pode ser o estopim para uma leitura integradora da Eurásia Tardo Antiga.

Assim, nos voltemos, mais uma vez, para Sapor. Suas vitórias contra Roma permitiram que ele redesenhasse a lógica de ideologia imperial persa. Se, no passado, os avanços de seu pai contra as fronteiras romanas da Mesopotâmia foram encorajados pela desestruturação do poder arsácida e pela morte de Alexandre Severo, podemos perceber que, no caso de Sapor, o triunfo sobre Roma foi ainda mais fundamental para a sedimentação de poder sassânida, porque deu a Sapor uma oportunidade que nenhum outro xá da Pérsia pré-islâmica obteve: o de construir sua imagem a partir da derrota romana. Entre os séculos III e VI, os 30 anos do governo de Sapor foram o período em que mais se construiu imagens monumentais de triunfo trazendo os romanos de forma subalterna. Como nota Matthew Canepa,

o governo de Sapor I foi crucial para as agonísticas trocas entre romanos e sassânidas, pois ele marca a primeira vez, na relação entre estes impérios, em que a representação imperial de um líder se alterna dramaticamente em resposta à existência e às reinvindicações do outro (...) marcando o início de uma guerra de ideologias imperiais em escala global. (CANEPA, 2010CANEPA, M. P. The Two Eyes of the Earth: Art and Ritual of Kingship Between Rome and Sasanian Iran. Berkeley: University of California Press, 2010., p. 53-54)

Em outras palavras, fosse por questões práticas, simbólicas ou ideológicas, o destino dos impérios Romano e Persa possuía ligações inexoráveis no grande esquema da Eurásia - por conta de suas dimensões e de seus pesos políticos, a força gravitacional exercida por ambos afetava toda a órbita da Europa e da Ásia Ocidental e Central. As vitórias iranianas na Mesopotâmia, então, deram a Sapor a oportunidade de reorganizar os pilares visuais e materiais de sua autoridade (a inscrição de Šāhpūr-e Kaʿba-ye Zardošt, o relevo de triunfo em Naqš-e Rostam, a circulação, por meio de moedas, de seu título universalizante de Šāhānšāh Ērān ud Anērān, “Xá dos Xás do Irã e do Não-Irã”) que não teriam sido possíveis sem a vitória em Edessa e a captura de Valeriano. No mais, um olhar em retrospecto nos mostra que esta nova gramática visual do poder instalada por Sapor é basilar para o funcionamento ideológico do Império Sassânida (chamado de Ērānšahr, “Terra do Irã”) e para a manutenção de uma cultura visual (CANEPA, 2010CANEPA, M. P. The Two Eyes of the Earth: Art and Ritual of Kingship Between Rome and Sasanian Iran. Berkeley: University of California Press, 2010., p. 53-59).

Esta conexão simbólica e ideológica entre Roma e Pérsia funciona, ainda, em um nível cosmogônico. Quando Sapor funda sua cidade palaciana de Bay-Šāpūr em 266 EC, ele a adorna com 7 relevos, nos mesmos moldes de Naqš-e Rostam. O primeiro destes relevos, inspirado na monumental representação de seu pai, Artaxes, sendo investido rei pela maior divindade do zoroastrismo, Ahura Mazdā (ou Ohrmazd em persa médio), em Naqš-e Rostam (Figura 4), traz Sapor na mesma posição, também sendo investido pela divindade. Em ambos os casos, Ahura Mazdā pisa com seu cavalo em cima de uma figura identificada como Aŋra Mainiiu (ou Ahriman em persa médio), o “adversário”, o demônio principal do zoroastrismo e antítese do bem (Figura 5). Sapor, por sua vez, também pisa em uma figura com seu cavalo, mas ela é identificada como Gordiano III, imperador romano supostamente morto na batalha de Misiche (no relevo de Naqš-e Rostam, Artaxes pisa sobre Artabano IV). A diferença, aqui, é que Sapor traz também Filipe, ajoelhado, indicando a continuidade do Império Romano (já que, no caso de Artaxes, a morte de Artabano significou o fim do império arsácida), mas também sua submissão.

Figura 4 -
Relevo I de Naqš-e Rostam, representando Artaxes (esquerda) acompanhado de um escudeiro, e Ahura Mazdā (direita). Sob o cavalo de Artaxes, o rei arsácida Artabano IV, e sob o cavalo de Ahura Mazdā, o demônio Aŋra Mainiiu.

Figura 5 -
relevo I de Bay-Šāpūr, representando Ahura Mazdā (esquerda) sobre o corpo de Aŋra Mainiiu, e Sapor (direita) sobre o corpo de Gordiano III. No centro, ajoelhado, está Filipe em adoração e obediência à Sapor.

A leitura deste revelo é bastante direta: o deus do bem, que reina nos planos espirituais, pisa no deus do mal ao mesmo tempo em que investe Sapor, o imperador do bem, que governa nos planos terrenos, pisa no imperador do mal. Se a Pérsia é o domínio de Ahura Mazdā, a Verdade divina personificada, Roma é o domínio de Aŋra Mainiiu, a Mentira demoníaca personificada. A vitória de Sapor, então, não é apenas um triunfo militar, mas o triunfo cosmogônico do Xá dos Xás contra o Demônio dos Demônios, o imperador romano. Da mesma forma que Ahura Mazdā e Aŋra Mainiiu são indelevelmente ligados na cosmogonia zoroastrista, também Pérsia e Roma são ligadas em uma “cosmogonia política”. Em termos retóricos, um não existe sem o outro, mesmo que um exista para deter o outro (CANEPA, 2010CANEPA, M. P. The Two Eyes of the Earth: Art and Ritual of Kingship Between Rome and Sasanian Iran. Berkeley: University of California Press, 2010., p. 59-63).

Não é apenas na visualidade que Roma, para os persas, encarna um papel cosmogônico e necessário. Na própria inscrição Šāhpūr-e Kaʿba-ye Zardošt, quando a narrativa chega na batalha de Barbalisso, se lê (e devemos aqui nos atentar também para o texto no seu original em persa médio):

E César novamente mentiu, causando danos à Armênia, e nós avançamos contra as terras dos romanos e o exército romano de 60 mil foi morto em Barbalisso;

Ud Kēsar bid druxt ō Armin winās kerd, ud amā abar Frōmāyīn šahr wihišt ahēm, ud Frōmāyīn zāwar 60,000 pad Bēbāliš ōžad. (HUYSE, 1999HUYSE, P. Corpus inscriptionum Iranicarum: Die dreisprachige Inschrift Šābuhrs I. an der Kaʿba-i Zardušt (ŠKZ). Londres: School of Oriental and African Studies, 1999, 2v., p. 28)

Aqui, César (ou Kēsar) não se refere especificamente a nenhum imperador, mas ao próprio assento imperial romano. Este é o Trono da Mentira - e, na inscrição, o verbo mentir (druxt) emprega uma linguagem religiosa: drūxtan, “mentira”, é a grande atribuição de Aŋra Mainiiu. Na sequência, “causando danos” (winās kerd) segue também o léxico zoroastrista, já que winās kardan, “causar o mal”, é uma expressão usualmente atribuída aos resultados das ações de Aŋra Mainiiu (CANEPA, 2010CANEPA, M. P. The Two Eyes of the Earth: Art and Ritual of Kingship Between Rome and Sasanian Iran. Berkeley: University of California Press, 2010., p. 62).

Assim, vemos que Sapor elege os romanos para figuração numa linguagem de poder visual e narrativa. Primeiro, Gordiano III como o primeiro agressor, representando a mal; depois, Filipe ajoelhado, prestando obediência, representando a submissão; e depois Valeriano, preso, representado a derrota e a captura. São três etapas de uma linguagem ideológica que consolida o papel não apenas do xá, mas do sassânidas em relação aos balanços de poder imperial na Eurásia. Por isso, repetição da cena de Valeriano sendo preso pelas mãos do próprio Sapor surgem não só em Naqš-e Rostam e no camafeu de sardônica, mas também em moedas e em outros dois relevos de Bay-Šāpūr (também seguindo o mesmo modelo de Naqš-e Rostam). O triunfo sobre o outro - neste caso, o outro é um império real, vizinho e poderoso - faz parte fundamental da ideologia de poder persa. É possível afirmar, assim, que o léxico visual e os instrumentos ideológicos gestados por Artaxes e plenamente desenvolvidos e estabelecidos por Sapor representam um nível de interação simbólica entre Pérsia e Roma, e isto foi possível por conta de uma série de elementos circunstanciais: as crises sucessórias no Ocidente, as vitórias iranianas na Mesopotâmia e a consequente estabilização do trono sassânida, o interesse de um monarca persa em criar e estabelecer uma pedagogia visual de poder e, acima de tudo, pelo balanço de poder entre o Império Persa e o Império Romano (CANEPA, 2010CANEPA, M. P. The Two Eyes of the Earth: Art and Ritual of Kingship Between Rome and Sasanian Iran. Berkeley: University of California Press, 2010., p. 78).

Apesar da pouca atenção dada pela historiografia romanista, o lado latino também opera, em especial no campo da simbologia imperial, a partir do contato antagônico a Pérsia. Já pelas descrições textuais de Dião Cássio e Herodiano sobre a ascensão de Artaxes, pode-se perceber que a ideia de monarquia oriental, representada por Ciro e pelos aquemênidas, faz parte da memória política romana. A partir de Sapor e da sedimentação dos sassânidas, é possível ver ainda outras implicações. Galieno, filho e sucessor de Valeriano, ignora a memória de seu pai. A captura do imperador é largamente esquecida pela imagética romana, que procede numa quase Damnatio Memoriae de Valeriano (ALFÖLDI, 1930ALFÖLDI, A. Die Vorherrschaft der Pannonier im Römerreiche und die Reaktion des Hellenentums unter Gallienus. In: Römisch-Germanischen Kommission des Archäologischen Instituts des Deutschen Reiches. (ed.). Fünfundzwangiz Jahre Römisch-Germanische Kommission. Berlim; Leipzig: W. de Gruyter, 1930, p.11-51., p. 11-45). Ele também reforça sua imagem imperial com uma forte sacralização e uma visualidade inspirada na assimilação divina em diversas moedas (CANEPA, 2010CANEPA, M. P. The Two Eyes of the Earth: Art and Ritual of Kingship Between Rome and Sasanian Iran. Berkeley: University of California Press, 2010., p. 81). É possível, assim, argumentar que a busca intensificada pela representação divina fosse uma resposta à própria alegação de divinização feita pelos sassânidas.

Este duelo de símbolos e representações avança pelos séculos. Ele passaria pelos conflitos envolvendo Roma, Pérsia e Palmira; passaria pelo cerimonial da tetrarquia de Diocleciano; passa pela centralização operada por Sapor II diante da ascensão do cristianismo com Constantino; passa pela “Era de Ouro” de Cosroes I; e segue até as guerras entre Cosroes II e os romanos orientais. Em outras palavras, esta “simbiose” imagética ganha corpo com Sapor I e se encerra somente quando o meteórico califado coloca um fim ao império sassânida e se torna uma nova força cultural e política na Eurásia (cf. DARYAEE, 2013aDARYAEE, T. Sasanian Persia: the Rise and Fall of an Empire. Londres: I. B. Tauris, 2013a.). Por isso, a memória e a imagem do cativeiro de Valeriano são tão fundamentais para uma compreensão mais ampla dos esquemas políticos e ideológicos da Eurásia Tardo Antiga: porque é a partir deste evento tão simbólico que nasce um novo paradigmática retórico, que nasce a perspectiva de um mundo dividido entre dois impérios - cujas existências e vicissitudes dialogam entre si constantemente. Naturalmente, uma série de outros elementos devem entrar na análise, e a morte de Valeriano não funciona, necessariamente, como estopim direto, mas ela pode ser compreendida como combustível para novas linguagens políticas. Destarte, a historiografia que pensa o Império Romano a partir do século III precisa, também, olhar para o Oriente iraniano, porque temos entre os dois poderes a balança de poder da Eurásia. Simbolicamente, então, a transformação do imperador Valeriano no escabelo púrpura de Sapor pode servir de ponto de inflexão para este movimento investigativo. Assim, é certo que análises mais globais, que integrem Ocidente e Oriente, Roma e Pérsia, latinos e sassânidas (e além), podem revelar um cenário mais complexo do que o de costume. Afinal, o Império Romano e o Império Persa são, na Antiguidade, os Dois Olhos do Mundo.

Referências

  • ALFÖLDI, A. Die Vorherrschaft der Pannonier im Römerreiche und die Reaktion des Hellenentums unter Gallienus. In: Römisch-Germanischen Kommission des Archäologischen Instituts des Deutschen Reiches. (ed.). Fünfundzwangiz Jahre Römisch-Germanische Kommission Berlim; Leipzig: W. de Gruyter, 1930, p.11-51.
  • BOCCACCIO, G.; PREMIERFAIT, L. de. Des Cas des Nobles Hommes et Femmes (Ms. 63; 96.MR.17). Paris: [s. e.], p. 1413-1415.
  • BORUMAND, S. Historical Perspectives on Iranian Cultura Identity. In: PIRZADEH, A. Iran Revisited: Exploring the Historical Roots of Culture, Economics, and Society Nova Iorque: Springer, 2016, p.75-102.
  • CALDWELL, C. H. The Roman Emperor as Persian Prisoner of War: Remembering Shapur's Capture of Valerian. In: CLARK, J. H.; TURNER, B. Brill's Companion to Military Defeat in Ancient Mediterranean Society Leiden: Brill, 2018, p. 335-358.
  • CANEPA, M. P. The Two Eyes of the Earth: Art and Ritual of Kingship Between Rome and Sasanian Iran Berkeley: University of California Press, 2010.
  • CHAUMONT, M. L. Etats Vassaux dans l'Empire des Primiers Sassanides. Acta Iranica, Leinden, v. 4, p.89-156, 1975.
  • CHEN, A. H. Rival Powers, Rival Images: Diocletian's Palace at Split in Light of Sasanian Palace Design. In: SLOOTJES, D.; PEACHIN, M. Rome and the Worlds Beyond its Frontiers Leiden: Brill , 2016, p. 213-242.
  • COTTEVIEILLE-GIRAUDET, A. Coupes et Camées Sassanides du Cabinet de France. Revue des Arts Asiatiques, Paris, n. 12, 1938, p.52-64.
  • CURTIS, V. S.; STEWART, S. (edit.). The Age of the Parthians Londres; Nova Iorque: I. B. Tauris, 2007.
  • DARYAEE, T. Res Gestae Divi Saporis. In: NICHOLSON, O. (ed.). The Oxford Dictionary of Late Antiquity Oxford: Oxford University Press, 2018, p.1282.
  • DARYAEE, T. Sasanian Persia: the Rise and Fall of an Empire. Londres: I. B. Tauris, 2013a.
  • DARYAEE, T. Marriage, Property and Conversion among the Zoroastrians: From Late Sasanian to Islamic Iran. Journal of Persianate Studies, Leiden, vol. 6, n. 1-2, 2013b, p.91-100.
  • DARYAEE, T. The Oxford Handbook of Iranian History Oxford: Oxford University Press , 2011.
  • DE BLOIS, L. The Policy of the Emperor Gallienus Leiden: Brill , 1976.
  • DODGEON, M. H. & LIEU, S. N. C. The Roman Eastern Frontier and the Persian Wars AD 226 - 363 Londres; Nova Iorque: Routledge, 2005.
  • GARRUSI, A. Ātaškada-ye Bahrām az banāhā-ye Ardašir-e Bābakān dar Ḵīr-e Estahbān. Barrasihā-ye Tāriḵi, Teerã, vol. 11, 1977, p. 107-144.
  • GÖBL, R. Šābuhr, König der König von Iran. Numismatia e Antichit’a Classiche, Lugano, vol. 20, 1991, p. 239-245.
  • GONÇALVES, A. T. M. Os Severos e a Anarquia Militar. In: SILVA, Gilvan V. & MENDES, Norma M. (orgs.). Repensando o Império Romano: Perspectiva Socioeconômica, Política e Cultural Vitória: MAUAD, 2006, p. 175-192.
  • GONÇALVES, A. T. M. Romanos e Partos: Atividades Bélicas na República e no Principado. Saeculum: Revista de História, n. 13, 2005, p. 11-21.
  • GOTTFRIED, J. L. Historische Chronica Frankfurt: [s. e], 1710.
  • HARTMANN, U. Ein Arsakide im Heer des Septimius Severus: Überlegungen zu den Hintergründen des Zweiten Partherkrieges. Electrum, Cracóvia, vol. 15, 2009, p. 249-266.
  • HINZ, W. Die Inschrift des Hohenpriesters Kardēr am Turm von Naqsh-e Rostam. Archäologische Mitteilungen aus Iran, Berlim, vol. 3, 1970, p. 251-265.
  • KOSMIN, P. J. The Land of the Elephant Kings: Space, Territory, and Ideology in the Seleucid Empire Cambridge & Londres: Harvard University Press, 2014.
  • KREYTENBERG, G. Die Wandgemälde im Basler Ratsaal. Zeitschrift des deutschen Vereins für Kuntswissenchaft, Berlim, n. 24, p. 77-200, 1970.
  • KULIKOWSKI, M. Rome's Gothic Wars Cambridge: Cambridge University Press, 2007.
  • MOSIG-WALBURG, K. Deportationen römischer Christen in das Sasanidenreich durch Shapur I. und ihre Folgen - Eine Neubewertung. Klio: Beiträge zur alten Geschichte, Berlim, v. 92, n. 1, p. 117-156, 2010.
  • NEZHAD, A. A. A New Insight to the Persis Kings (Frataraka). International Journal of Archaeology, Zabol, v. 6, n. 1, p. 37-45, 2018
  • PINTO, O. L. V. Falando de Reis e Sucessão. A Gênese do Poder Sassânida e o Fim da Ordem Arsácida na Pérsia Tardo-Antiga. Roda da Fortuna, v. 8, n. 1, p. 539-556, 2019.
  • POTTS, D. T. et al. Eight Thousand Years of History in Fars Province, Iran. Near Eastern Archaeology, Massachusetts, v. 68, n. 3, p. 84-92, 2005.
  • REINER, E. The Reddling of Valerian. The Classical Quarterly, Cambridge, n. 56, p. 325-329, 2006.
  • ROGG, M. Landsknechte und Reisläufer: Bilder vom Soldaten. Ein Stand in der Kunst des 16 Jahrhunderts Paderborn: Verlag Ferdinand Schöningh, 2002.
  • ROSTOVTZEFF, M. I. Res Gestae Divi Saporis and Daru. Berytus, Beirute, v. 8, p. 17-60, 1943.
  • SCHNEIDER, R. M. Friend and Foe: The Oriente in Rome. In: CURTIS, V. S. & STEWART, S. (edit.). The Age of the Parthians . Londres; Nova Iorque: I. B. Tauris , 2007, p. 50-86.
  • SHAHBAZI, A. S. H. Hormozdgān. Encyclopedia Iranica, v. XII, n. 5, p. 469-470, 2004.
  • SHAHBAZI, A. S. H. The Parthian Origins of the House of Rustam. Bulletin of the Asia Institute, Michigan, v. 7, p. 155-163, 1993.
  • WIESEHÖFER, J. Iranian Empires. In: BANG, P. F.; SCHEIDEL, W. The Oxford Handbook of the State in the Ancient Near East and Mediterranean Oxford: Oxford University Press , 2013, p. 199-234.

Fontes Primárias

  • DION CASSIUS. Dio’s Roman History CARY, E. (ed.). Londres; Nova Iorque: Harvard University Press, 1914.
  • FLAVIUS EUTROPIUS. Eutropi Breviarium ar Urbe Condita cum Versionibus Graecis et Pauli Dandolfique Additamentis. In: DROYSEN, A. (ed.) Monumenta Germaniae Historica, Auctores Antiquissimi. Berlin: Weidmann, 1879.
  • HERODIANOS. Herodian: History of the Empire Londre; Nova Iorque: Harvard University Press, 1970.
  • HUYSE, P. Corpus inscriptionum Iranicarum: Die dreisprachige Inschrift Šābuhrs I. an der Kaʿba-i Zardušt (ŠKZ) Londres: School of Oriental and African Studies, 1999, 2v.
  • LACTANTIUS. De Mortibus Persecutorum. In: STÄDELE, A. (trad.). Laktanz, Die Todesarten der Verfolger Fontes Christiani Band 43. Turnhout: Brepols Publishers, 2003.
  • THEOPHYLAKTOS SIMOKATTA. The History of Thephylact Simocatta WHITBY, M.; WHITBY, M. (trad.). Oxford: Oxford University Press, 1997.

Imagens

  • MÜLLER, C.; KEMPERDICK, S; AINSWORTH, M. Hans Holbein the Younger: The Basel Years, 151-1532 Munique: Prestel, 2006.
  • GYSELEN, R. Catalogue des Sceaux, Camées et Bulles Sassanides Vol. I: Collection Générale. Paris: Bibliothèque Nationale, 1993.
  • FABIENKHAN. Bas relief nagsh-e-rostam al. In: WIKIMEDIA COMMONS, a Midiateca Livre Flórida: Wikimedia Foundation, 2005. Disponível em: <Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bas_relief_nagsh-e-rostam_al.jpg > sob CC BY-SA 2.5. Acesso em: 23/05/2020.
    » https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bas_relief_nagsh-e-rostam_al.jpg
  • FABIENKHAN. Bas relief nagsh-e-rostam couronnement. In: WIKIMEDIA COMMONS, a Midiateca Livre Flórida: Wikimedia Foundation , 2020. Disponível em: <Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bas_relief_nagsh-e-rostam_couronnement.jpg > sob CC BY-SA 2.5. Acesso em: 23/05/2020.
    » https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bas_relief_nagsh-e-rostam_couronnement.jpg
  • LENDERING, J. Bishapur relief 1 01. In: WIKIMEDIA COMMONS, a Midiateca Livre Flórida: Wikimedia Foundation , 2018. Disponível em: <Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bishapur_relief_1_01.jpg > sob CC BY-SA 4.0. Acesso em: 23/05/2020.
    » https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bishapur_relief_1_01.jpg
  • 1
    Para fins de leitura, todos os trechos de fontes documentais serão apresentados, no corpo do texto, em tradução do autor. Versões na língua original estarão presentes em notas de fim sempre que possível.
  • 2
    Nam rex Persarum Sapor, is, qui eum ceperat, si quando libureat aut vehiculum ascendere aut equum, inclinare sibi Romanum iubebat ac terga praebere […]. In: LACTANTIUS, ( 2003 LACTANTIUS. De Mortibus Persecutorum. In: STÄDELE, A. (trad.). Laktanz, Die Todesarten der Verfolger. Fontes Christiani Band 43. Turnhout: Brepols Publishers, 2003. , p. 100).
  • 3
    Valerianus in Mesopotamia bellum gerens a Sapore, persarum rege, superatus est, mox etiam captus apud Parthos ignobili servitute consenuit. In: FLAVIUS EUTROPIUS, (1879FLAVIUS EUTROPIUS. Eutropi Breviarium ar Urbe Condita cum Versionibus Graecis et Pauli Dandolfique Additamentis. In: DROYSEN, A. (ed.) Monumenta Germaniae Historica, Auctores Antiquissimi. Berlin: Weidmann, 1879., p. 151).
  • 4
    Hridīg yāwar kaδ amā abar Harrān ud Urhā wihišt ahēm ud Harrān ud Urhā *parrūδīd, Wālaraniyos Kēsar abar amā āγad ud až hō ārag Harrān ud Urhā aδ Wālaraniyos Kēsar wuzurg raf būd, ud Wālaraniyos Kēsar wxad pad wxēbeh dast dastgraβ kerd ud *ōyādag, *rabēsēf, sānatōr ud hēgemōn kē hō zāwar sārār būd, harw dastgraβ kerd, ud bē ō Pārs wāst ahēnd. In: HUYSE, (1999HUYSE, P. Corpus inscriptionum Iranicarum: Die dreisprachige Inschrift Šābuhrs I. an der Kaʿba-i Zardušt (ŠKZ). Londres: School of Oriental and African Studies, 1999, 2v., p. 37).
  • 5
    Ἀρταξέρξης γάρ τις Πέρσης τούς τε Πάρθους τρισὶ μάχαις νικήσας, καὶ τὸν βασιλέα αὐτῶν Ἀρτάβανον ἀποκτείνας (...) τὴν Μηδίαν μετέστη, καὶ ἐκείνης τε οὐκ ὀλίγα καὶ τῆς Παρθίας, τὰ μὲν βίᾳ τὰ δὲ καὶ φόβῳ (...). οὗτος οὖν φοβερὸς ἡμῖν ἐγένετο (...) καὶ ἀπειλῶν ἀνακτήσεσθαι πάντα, ὡς καὶ προσήκοντά οἱ ἐκ προγόνων, ὅσα ποτὲ οἱ πάλαι Πέρσαι (...) οὐχ ὅτι αὐτὸς λόγου τινὸς ἄξιος δοκεῖ. In: DION CASSIUS, (1914DION CASSIUS. Dio’s Roman History. CARY, E. (ed.). Londres; Nova Iorque: Harvard University Press, 1914., p. 482-483).
  • 6
    Ἀρταξάρης ὁ Περσῶν βασιλεὺς μετὰ τὸ Παρθυαίους καθελεῖν καὶ τῆς κατὰ τὴν ἀνατολὴν ἀρχῆς παραλῦσαι, Ἀρτάβανόν τε τὸν πρότερον καλούμενον {τὸν} μέγαν βασιλέα καὶ δυσὶ διαδήμασι χρώμενον ἀποκτεῖναι. (…) τε πᾶσαν καλουμένην προγονικὸν κτῆμα ἡγούμενος τῇ Περσῶν ἀρχῇ ἀνακτήσασθαι βούλεται, φάσκων ἀπὸ Κύρου τοῦ πρώτου τὴν ἀρχὴν ἐκ Μήδων ἐς Πέρσας μεταστήσαντος μέχρι Δαρείου τοῦ τελευταίου Περσῶν βασιλέως. In: HERODIANOS, (1970HERODIANOS. Herodian: History of the Empire. Londre; Nova Iorque: Harvard University Press, 1970., p. 90-91).
  • 7
    ud kaδ naxwišt pad šahr awištād ahēm, Gōrdanyos Kēsar až hamag Frōm, Gōt ud Garmāniyā šahr zāwar hangāwišn kerd; ud ō Asūrestān abar Ērānšahr ud amā āγ[a]d, ud pad Asūrestān m[arz] pad Mišīk paddēmān wuzurg zambag būd. Gōrdanyos Kēsar ōžad, Frōmāyīn zāwar *wānād, ud Frōmāyīn Filip(p)os kēsar kerd ud Filip(p)os Kēsar amā ō nemastīg āγad, ud gyān goxn (?) dēnār 500 hazār ō amā dād, pad bāž awestād, ud amā Mišik až ēd kerd Pērōz-Šābuhr nām awestād. In: HUYSE, (1999HUYSE, P. Corpus inscriptionum Iranicarum: Die dreisprachige Inschrift Šābuhrs I. an der Kaʿba-i Zardušt (ŠKZ). Londres: School of Oriental and African Studies, 1999, 2v., p.27).
  • Dossiê Memórias e Mortes de Imperadores romanos (I a.C. – VI d.C.)

    Organizadoras: Margarida Maria de Carvalho, Rita Lizzi Testa & Janira Feliciano Pohlmann

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Dez 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    31 Maio 2020
  • Aceito
    10 Jul 2020
Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho Faculdade de Ciências e Letras, UNESP, Campus de Assis, 19 806-900 - Assis - São Paulo - Brasil, Tel: (55 18) 3302-5861, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, UNESP, Campus de Franca, 14409-160 - Franca - São Paulo - Brasil, Tel: (55 16) 3706-8700 - Assis/Franca - SP - Brazil
E-mail: revistahistoria@unesp.br