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Macroeconomia Aplicada à Análise da Economia Brasileira

RESENHAS

Rogério Mori

Doutor em Economia pela FGV-SP, professor de Macroeconomia da EESP/FGV e Coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da EESP/FGV

Macroeconomia Aplicada à Análise da Economia Brasileira

Carlos José Caetano Bacha

São Paulo: Edusp, 2004.

Sem dúvida, uma das áreas que merece atenção do ponto de vista do ensino superior em Ciências Econômicas é a Macroeconomia. A formação dos alunos de graduação nessa área, em geral, é pontuada por deficiências tanto do ponto de vista teórico quanto aplicado, sendo que vários fatores contribuem para esse fenômeno. Do ponto de vista do graduando, cursar um bom curso de Macroeconomia acaba sendo quase uma questão de "sorte", dependendo, em grande medida, da escolha (ou do acaso) de bons professores ao longo do curso. O resultado dessa formação é que os alunos, em boa parte dos casos, encerram a graduação com uma grande deficiência teórica e prática em uma das áreas mais atrativas para o mercado de trabalho de um economista, e essencial também para quem deseja seguir carreira acadêmica.

Uma parte considerável desse problema ocorre por conta da literatura existente na área desenvolvida na última década e meia: com raras exceções, os livros-texto de Macroeconomia voltados para os cursos de graduação apresentam versões extremamente simplificadas dos modelos macroeconômicos. Esse tipo de abordagem cria, por exemplo, uma espécie de descompasso entre as exigências dos cursos de Matemática e as respectivas necessidades desse ferramental em cursos de Macroeconomia. Ao mesmo tempo, os livros-texto geralmente adotados são estrangeiros (em geral norte-americanos) e, por conta disso, os exemplos práticos e as aplicações remetem à realidade da economia americana.

Em função desse quadro, a iniciativa do professor Bacha é mais do que bem-vinda, uma vez que há uma verdadeira carência desse tipo de literatura. A estrutura da obra mostra-se adequada do ponto de vista da abordagem da teoria macroeconômica em nível de graduação, não se furtando, quando necessário, da utilização de recursos matemáticos nos modelos macroeconômicos apresentados. Nesse sentido, o livro apresenta um bom balanceamento entre a discussão teórica e o formalismo matemático exigido pelos modelos.

Basicamente, após dois capítulos introdutórios que permitem situar o leitor no contexto da teoria macroeconômica a ser subseqüentemente desenvolvida na obra, o livro encontra-se dividido em seis grandes blocos: medidas de atividade econômica, o sistema monetário, o setor governo, o setor externo, o mercado de trabalho e inflação. Essa estrutura harmoniza com a própria concepção de divisão da teoria macroeconômica definida pelo autor, que concebe a economia dividida em cinco mercados (produto, moeda, títulos, trabalho e divisas) e quatro tipos de agentes (indivíduos, empresas, governo e setor externo). As aplicações apresentadas no livro encontram-se distribuídas ao longo dessa estrutura, o que, inclusive, permite uma discussão focada em cada um desses temas da realidade brasileira.

Embora o livro represente um esforço no sentido de focar suas aplicações na economia brasileira, é exatamente nesse aspecto que se encontram suas maiores limitações. As discussões voltadas à economia brasileira mostram-se superficiais em vários momentos e em várias situações limita-se a apresentar as séries históricas e os correspondentes gráficos da economia brasileira, pontuados com breves comentários.

É o que ocorre, por exemplo, no capítulo relativo à discussão das medidas de atividade econômica: as aplicações restringem-se à apresentação da evolução do produto e das mudanças da composição do mesmo ao longo do tempo. As breves discussões são focadas no desenvolvimento desses aspectos, deixando de lado a problemática que envolve esse tema na economia brasileira, tanto do ponto de vista das dificuldades de mensuração da atividade e da miríade de indicadores existentes quanto das implicações para o gerenciamento da política econômica decorrentes desses problemas. Nesse sentido, o autor poderia teria sido mais bem sucedido ao indicar onde encontrar as séries apresentadas na obra e aumentar a densidade das discussões das aplicações, enriquecendo o trabalho. Todos os capítulos, em maior ou menor grau, são pontuados por esse tipo de problema, que poderia ter sido sanado com a ampliação e o aprofundamento das aplicações em economia brasileira.

Em síntese, apesar da boa construção da obra e do rigor teórico adequado apresentado ao longo do livro, a aplicação prática à economia brasileira ainda é relativamente limitada, o que pode ser solucionado em uma segunda edição na qual esses pontos poderiam ser aprofundados.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Set 2005
  • Data do Fascículo
    Abr 2005
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