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Florística e estrutura da vegetação arbustivo-arbórea do sub-bosque de um povoamento de Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden em Viçosa, MG, Brasil

Floristic and structure of tree-shrub vegetation in understory of Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden stands, in Viçosa, MG, Brazil

Resumos

Este estudo teve como objetivo conhecer a composição florística e a estrutura da vegetação arbustivo-arbórea no sub-bosque de povoamento de Eucalyptus grandis na Reserva Florestal da Mata do Paraíso, em Viçosa, MG. Foram demarcadas 40 parcelas contíguas de 5 x 5 m, dispostas em transectos de 5 x 50 m, nas quais foram medidos, identificados e classificados quanto às síndromes de dispersão de sementes e às categorias sucessionais. Foram amostrados 884 indivíduos pertencentes a 50 espécies e 22 famílias. As espécies que se destacaram em valor de importância foram Psychotria sessilis, Siparuna guianensis e Erythroxylum pelleterianum, principalmente com relação à elevada densidade. Predominaram em densidade espécies secundárias tardias com síndromes de dispersão zoocórica. A riqueza florística encontrada pode ser considerada alta, por se tratar de sub-bosque de Eucalyptus grandis, e reflete o potencial da utilização dessa espécie como catalisadora de vegetação arbustivo-arbórea nativa em áreas degradadas.

Eucalyptus grandis; floresta catalisadora; sub-bosque


The objective of the present study was to analyze the floristic composition and structure of tree-shrub vegetation in understory of Eucalyptus grandis W. former Hill Maiden, Paraíso Forest Reserve, Viçosa, MG. Forty adjacent 5 x 5 m plots were demarcated and arranged in 5 x 50 m transects, in which individuals were measured, identified and classified in relation to seed dispersal syndromes and successional categories. Eight hundred and eighty four individuals belonging to 50 species and 22 families were recorded. The species with the highest Importance Value were Psychotria sessilis, Siparuna guianensis and Erythroxylum pelleterianum, particularly with regard to high density. Late secondary species with zoochorous dispersal syndromes prevailed in density. The founded floristic richness can be considered high for a Eucalyptus grandis understory and reflects the potential for using the species as catalyst for native tree-shrub vegetation in degraded areas.

Eucalyptus grandis; forest catalyst; understory


Florística e estrutura da vegetação arbustivo-arbórea do sub-bosque de um povoamento de Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden em Viçosa, MG, Brasil

Floristic and structure of tree-shrub vegetation in understory of Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden stands, in Viçosa, MG, Brazil

Priscila Bezerra de SouzaI; Sebastião Venâncio MartinsII; Sumami Rebonato CostalongaIII; Grasiely de Oliveira CostaIV

IPrograma de Pós-Graduação em Botânica da UFV. E-mail: <pri_ufv@yahoo.com.br>

IIDepartamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa, MG. E-mail: <venancio@ufv.br>

IIIMestre em Ciência Florestal. E-mail: <sumami_su@yahoo.com.br>

IVBióloga. E-mail: <grasielycosta@yahoo.com.br>

RESUMO

Este estudo teve como objetivo conhecer a composição florística e a estrutura da vegetação arbustivo-arbórea no sub-bosque de povoamento de Eucalyptus grandis na Reserva Florestal da Mata do Paraíso, em Viçosa, MG. Foram demarcadas 40 parcelas contíguas de 5 x 5 m, dispostas em transectos de 5 x 50 m, nas quais foram medidos, identificados e classificados quanto às síndromes de dispersão de sementes e às categorias sucessionais. Foram amostrados 884 indivíduos pertencentes a 50 espécies e 22 famílias. As espécies que se destacaram em valor de importância foram Psychotria sessilis, Siparuna guianensis e Erythroxylum pelleterianum, principalmente com relação à elevada densidade. Predominaram em densidade espécies secundárias tardias com síndromes de dispersão zoocórica. A riqueza florística encontrada pode ser considerada alta, por se tratar de sub-bosque de Eucalyptus grandis, e reflete o potencial da utilização dessa espécie como catalisadora de vegetação arbustivo-arbórea nativa em áreas degradadas.

Palavras-chave: Eucalyptus grandis, floresta catalisadora e sub-bosque.

ABSTRACT

The objective of the present study was to analyze the floristic composition and structure of tree-shrub vegetation in understory of Eucalyptus grandis W. former Hill Maiden, Paraíso Forest Reserve, Viçosa, MG. Forty adjacent 5 x 5 m plots were demarcated and arranged in 5 x 50 m transects, in which individuals were measured, identified and classified in relation to seed dispersal syndromes and successional categories. Eight hundred and eighty four individuals belonging to 50 species and 22 families were recorded. The species with the highest Importance Value were Psychotria sessilis, Siparuna guianensis and Erythroxylum pelleterianum, particularly with regard to high density. Late secondary species with zoochorous dispersal syndromes prevailed in density. The founded floristic richness can be considered high for a Eucalyptus grandis understory and reflects the potential for using the species as catalyst for native tree-shrub vegetation in degraded areas.

Keywords:Eucalyptus grandis, forest catalyst and understory.

1. INTRODUÇÃO

Diversos estudos têm mostrado que plantações homogêneas florestais podem acelerar o processo de sucessão florestal em áreas degradadas, catalisando plantas nativas em seus sub-bosques (PARROTA et al., 1997; POWERS et al., 1997; GELDENHUYS, 1997; NAPPO et al., 2000). Muitas espécies arbóreas utilizadas nos reflorestamentos comerciais conseguem crescer rapidamente em solos de baixa fertilidade, comuns em áreas degradadas, e podem fornecer condições favoráveis para a regeneração de espécies nativas, como poleiros e abrigo para aves dispersoras de sementes e sombra para plântulas de espécies tardias na sucessão.

Plantios homogêneos de eucalipto, introduzidos por programas de fomento e atualmente em fase de exploração, apresentam significativo desenvolvimento do sub-bosque, indicando um processo de sucessão favorável à recuperação da biodiversidade. Essa situação evidencia possibilidades para a condução de povoamentos auxiliares com espécies florestais nativas, favorecendo a recuperação de áreas degradadas, controle de pragas, conservação do solo e manutenção da fauna. O sub-bosque de povoamentos homogêneos, até então visto como grande entrave por prejudicar o desenvolvimento das espécies de interesse econômico, aumentar o risco de incêndios e dificultar as operações de manejo, combate às formigas e exploração, começa a ser valorizado em seu aspecto de biodiversidade, concorrendo para a estabilidade ambiental (FAO, 1987; LIMA, 1993).

Numa paisagem desprovida de cobertura florestal, como pastagens abandonadas, a sucessão secundária pode ser extremamente lenta, já que esse processo ecológico depende de alguns fatores, como a chuva de sementes, a germinação de sementes, o microclima e o solo (HOLL, 1999). Nesse contexto, florestas plantadas podem criar um ambiente favorável à chegada de sementes e ao estabelecimento de plântulas de espécies nativas em seus sub-bosques, ao fornecerem sombra para espécies tolerantes e poleiros para aves e morcegos dispersores de sementes de remanescentes florestais das vizinhanças. Como resultado, tais florestas podem, em médio e longo prazos, apresentar um sub-bosque rico em espécies arbustivo-arbóreas nativas (SCHILITTLER, 1984; CALEGARIO et al., 1993; SILVA JÚNIOR et al., 1995; NAPPO et al., 2000; NERI et al., 2005). Assim, na sucessão secundária em áreas degradadas, árvores plantadas de espécies exóticas podem ter funções semelhantes ou próximas à de árvores nativas remanescentes, como verificado na literatura (GUEVARA et al., 1986; RODRIGUES et al., 2004).

A utilização de florestas plantadas com espécies exóticas de rápido crescimento, como alternativa de restauração florestal, apresenta como vantagens a rusticidade dessas espécies, que podem crescer em solos pobres e degradados, controlando processos erosivos, e a possibilidade de utilização da madeira após a formação de sub-bosque por espécies nativas. Além disso, o sub-bosque dos reflorestamentos pode servir de fonte de mudas de espécies arbustivo-arbóreas para transplantes em outras áreas degradadas.

Assim, esta pesquisa propôs avaliar a hipótese de que o plantio de espécies de rápido crescimento como Eucalyptus grandis tende a promover (catalisar) a regeneração do sub-bosque com espécies arbustivo-arbóreas nativas das formações florestais da região de abrangência deste estudo, sendo essa uma forma de acelerar os processos de sucessão secundária em áreas degradadas. Portanto, esta pesquisa objetivou conhecer a composição florística e a estrutura da vegetação arbustivo-arbórea no sub-bosque de povoamento de Eucalyptus grandis, com idade de aproximadamente 35 anos, na Reserva Florestal da Mata do Paraíso, em Viçosa, MG.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi desenvolvido no sub-bosque de um povoamento de Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden de aproximadamente 2 ha inserido na Reserva Florestal Mata do Paraíso (20°48'07"S e 4251'31"W), no Município de Viçosa, MG. Esse povoamento foi implantado na década de 1970, no espaçamento 3,0 x 2,0 m, e encontra-se nas proximidades de remanescente de florestas nativas.

A Reserva Florestal Mata do Paraíso pertence à Universidade Federal de Viçosa e possui 195 ha de área, com altitudes variando de 690 a 800 m (BRAZ et al., 2002). A vegetação da reserva é composta por trechos de Floresta Estacional Semidecidual (VELOSO et al., 1991) e compõe um mosaico de diferentes estágios sucessionais, pequenas áreas de brejo (SILVA JÚNIOR et al., 2004), trechos de pastagem abandonada e talhões abandonados de Eucalyptus grandis e Pinus sp.

O clima na região é do tipo Cwb (Köppen), mesotérmico com verões quentes e chuvosos e invernos frios e secos. A temperatura média anual é de 21,8 °C e a precipitação pluviométrica média anual, de 1.314,2 mm (CASTRO et al., 1983).

A vegetação do sub-bosque do povoamento de Eucalyptus grandis foi avaliada quantitativamente em outubro de 2004, utilizando-se o método de parcelas (MUELLER-DOMBOIS e ELLENBERG, 1974). Foram instaladas 40 parcelas de 5 x 5 m, em quatro transectos paralelos de 5 x 50 m. A distribuição dos transectos foi feita sistematicamente a cada 5 m da borda do talhão. Nessas parcelas foram amostrados todos os indivíduos arbustivo-arbóreos com altura igual ou superior 1 m. Desses indivíduos foram tomadas medidas de diâmetro ao nível do solo e altura total, bem como coletado material botânico para identificação. A identificação taxonômica foi realizada através de comparações com material do Herbário VIC da Universidade Federal de Viçosa, literatura especializada e consultas a especialistas, quando necessário. Para atualização dos binômios específicos foram utilizados o índice de espécies Royal Botanic of Kew (1993) e o site do Missouri Botanical Garden (disponível em: http://www.mobot.org/W3T/search/vast.html), no mês de junho de 2006. O sistema de classificação adotado foi o Botânica Sistemática, baseado em APG II (SOUZA e LORENZI, 2005).

Foram calculados os parâmetros usuais em fitossociologia (densidade absoluta e relativa, freqüência absoluta e relativa, dominância absoluta e relativa, valor de importância) (MUELLER-DOMBOIS e ELLENBERG, 1974). Para analisar a diversidade de espécies, foram utilizados os índices de diversidade de Shannon (H') e a eqüabilidade de Pielou (J') (BROWER e ZAR, 1984). As análises foram realizadas com o programa FITOPAC (SHEPHERD, 1994).

As espécies amostradas foram classificadas quanto à síndrome de dispersão de sementes em zoocóricas, autocóricas e anemocóricas (van der PIJL, 1982; MORELLATO e LEITÃO FILHO, 1992) e à categoria sucessional em pioneiras, secundárias iniciais e secundárias tardias, seguindo-se os trabalhos de Gandolfi et al. (1995), Bernacci e Leitão Filho (1996), Martins e Rodrigues (2002) e Martins et al. (2004).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No Quadro 1, encontra-se à relação das espécies arbustivas e arbóreas amostradas no sub-bosque de um povoamento de Eucalyptus grandis com idade aproximada de 35 anos, implantado no Município de Viçosa, MG. As espécies foram listadas em ordem alfabética de família botânica, nomes genéricos e específicos, além da classificação quanto ao grupo ecológico e tipo de síndrome de dispersão de diásporos.


Foram amostrados 884 indivíduos arbustivo-arbóreos (845 vivos e 39 mortos), sendo os vivos pertencentes a 22 famílias, 38 gêneros e 50 espécies. A densidade total estimada por hectare foi de 1.768 indivíduos e a área basal, de 3,46 m². Essa riqueza de espécie é superior à encontrada em outros estudos realizados em sub-bosque de Eucalyptus, que foi de 25 espécies em Assis, SP (DURIGAN et al. 1997), 40 em Bom Despacho, MG (SAPORETTI JR. et al., 2003) e 47 em Paraopeba, MG (NERI et al., 2005). Isso pode ser atribuído à maior proximidade de fontes de propágulos no talhão de eucalipto em estudo, uma vez que este se encontra no interior de uma reserva de Floresta Estacional Semidecidual.

A classificação sucessional das espécies (Quadro 2) revelou maior riqueza de espécies iniciais na sucessão secundária, com o grupo formado pelas pioneiras e secundárias iniciais, totalizando 68% das espécies. Entretanto, quando se considerou o número de indivíduos vivos, foi verificado que as espécies secundárias tardias somaram 59,17% do total amostrado. Esses resultados apontaram que o povoamento de Eucalyptus grandis tem fornecido condições ecológicas, como sombra, para a catalisação de espécies dos diferentes grupos sucessionais e que espécies finais da sucessão estão conseguindo se destacar em densidade nesse ambiente sombreado.


O índice de diversidade especifica de Shannon (H') foi de 2,89 e a eqüabilidade (J), de 0,74. Em levantamentos realizados especificamente com vegetação remanescente de sub-bosque em Viçosa, MG, os valores de H' têm sido bastante variáveis, refletindo o estádio sucessional dessas florestas. Assim, nessa mesma reserva foram obtidos valores de H' de 1,91 para o sub-bosque de um trecho de floresta secundária inicial e de 3,15 para trecho de floresta madura sem intervenção antrópica nos últimos 40 anos (SILVA JÚNIOR et al., 2004). No sub-bosque de povoamento homogêneo de Mimosa scabrella Benth. em Poços de Caldas, MG, foi estimado um valor de diversidade de 2,85 (NAPPO et al., 2000), enquanto no sub-bosque de povoamento de Eucalyptus saligna em Itatinga, SP, foram estimados valores de 2,51 e 3,75 (SARTORI et al., 2002). Portanto, pode-se considerar que a diversidade do sub-bosque avaliado está refletindo uma condição similar à do sub-bosque de florestas semidecíduas secundárias da região e do sub-bosque de povoamentos de florestas plantadas em outras localidades do Sudeste brasileiro.

As famílias mais ricas foram Fabaceae (Leguminosae), com nove espécies, seguida por Lauraceae (4), Rubiaceae, Meliaceae, Flacourtiaceae e Sapindaceae, com três espécies cada. Dentre as Fabaceae, quatro são Fabaceae-Caesalpinioideae, três Fabaceae-Mimosoideae e duas Fabaceae-Faboideae (Quadro 3). As famílias com maior número de indivíduos foram Rubiaceae (264), Siparunaceae (153), Melastomataceae (61), Erythroxylaceae (60), Fabaceae-Mimosoideae (40), Flacourtiaceae (32), Lauraceae (31) e Meliaceae (29). Essas oito famílias, juntas, contribuíram com 75,8% do número total de indivíduos amostrados.


O destaque de Fabaceae em riqueza de espécies já era esperado, uma vez que essa família é característica de florestas semidecíduas e tem se destacado na maioria dos levantamentos realizados nessa formação (MEIRA NETO et al., 2000; RIBAS et al., 2003; SILVA et al., 2003; ARAÚJO et al., 2005). Além disso, a alta densidade das leguminosas pode ser atribuída à capacidade de fixação biológica de nitrogênio de muitas espécies dessa família, facilitando a regeneração em solos pobres e degradados (CARVALHO, 1998; CAMPELLO, 1998).

O destaque em número de indivíduos de Rubiaceae e Meliaceae, com espécies típicas do sub-bosque e subdossel, reflete o estágio de sucessão avançado do sub-bosque analisado, onde o sombreamento produzido pelo dossel de eucalipto deve estar favorecendo a regeneração dessas espécies tolerantes à sombra. Meliaceae é considerada indicativa da passagem de floresta pioneira em um estádio sucessional mais avançado (TABARELLI et al., 1994).

As espécies que apresentaram maiores valores de importância (VI) foram também as mais abundantes e dominantes, sendo elas: Psychotria sessilis (244), Siparuna guianensis (148), Erythroxylum pelleterianum (43), Miconia rigidiuscula (33), Miconia chamissois (28) e Carpotroche brasiliensis (26) (Quadro 4). Desse grupo, Psychotria sessilis, Siparuna guianensis e Carpotroche brasiliensis, que somaram 49,5% do total de indivíduos amostrados, regeneram em sub-bosques de florestas semidecíduas, sendo consideradas secundárias tardias, o que reflete também a importância da floresta de eucalipto como catalisadora de regeneração de espécies dos estádios sucessionais mais avançados. Essas espécies mais abundantes, além de serem típicas do grupo ecológico das secundárias tardias, têm também em comum a síndrome de dispersão de suas sementes, a zoocoria, o que tem possibilitado a ampla distribuição no sub-bosque de eucalipto a partir de fontes existentes na floresta semidecídua do entorno.


Considerando as síndromes de dispersão de sementes, 74% (37) das espécies amostradas possuem dispersão zoocórica (Quadro 1). Esses resultados corroboram estudos realizados em florestas semidecíduas e de altitude da Serra do Japí, Jundiaí, SP, onde cerca de 90% das espécies do estrato de sub-bosque foram zoocóricas (MORELLATO e LEITÃO-FILHO, 1992). Na maioria das florestas tropicais, a zoocoria tem sido a principal forma de dispersão de sementes de espécies arbóreas e arbustivas (HOWE, 1990; MORELLATO e LEITÃO-FILHO, 1992; PINÃ-RODRIGUES e AGUIAR, 1993; MORELLATO, 1995).

Dada a importância da zoocoria para a dispersão de sementes de espécies arbustivo-arbóreas, torna-se evidente que a proximidade de fontes dessas sementes seja igualmente um fator primordial para a regeneração florestal no sub-bosque de florestas plantadas. Povoamentos florestais homogêneos localizados próximos a fragmentos florestais tendem a ter mais rápida colonização do sub-bosque, bem como maior número de espécies do que plântios isolados dentro de grandes paisagens degradadas (KEENAN et al., 1997; LOUMETO e HUTTEL, 1997; PARROTA et al., 1997). Essa relação indica que a proximidade de fontes de propágulos é um dos principais fatores limitantes do processo de regeneração florestal em áreas degradadas, uma vez que a chuva de sementes é regulada pela densidade de indivíduos reprodutivos nas florestas próximas, regularidade da produção de sementes e disponibilidade de agentes dispersores, bem como da distância da fonte de propágulos (HARDWICK et al., 1997; WUNDERLE JR., 1997; RODRIGUES et al., 2004). Estudos sobre regeneração florestal no sub-bosque de florestas plantadas, realizados em povoamentos de Eucalyptus em diferentes regiões do Brasil (SCHILITTLER, 1984; SILVA JÚNIOR et al., 1995; CALEGARIO et al., 1993; SARTORI et al., 2002), indicam que essas florestas homogêneas podem realmente atuar como catalisadoras, facilitando a regeneração de espécies arbustivo-arbóreas nativas, e que a composição florística do sub-bosque é fortemente influenciada pela vegetação remanescente em seu entorno. Assim, tais florestas plantadas podem ser indicadas para a restauração florestal em áreas degradadas, técnica empregada com sucesso em Poços de Caldas, MG, com plantio de Mimosa scabrella Benth. (NAPPO et al., 2000).

4. CONCLUSÕES

Comparando os índices de diversidade e eqüabilidade e a riqueza florística encontrados neste estudo com resultados obtidos em outros povoamentos florestais e em florestas semidecíduas, pode-se concluir que o povoamento de Eucalyptus grandis favoreceu a regeneração, em seu sub-bosque, de vegetação arbustivo-arbórea nativa, típica de florestas estacionais semideciduais da região. O plantio de espécies de rápido crescimento, como Eucalyptus grandis, pode ser uma alternativa de restauração florestal em áreas degradadas, em que a floresta plantada atua como catalisadora de regeneração de vegetação nativa no sub-bosque, desde que nas proximidades existam fragmentos florestais remanescentes.

5. REFERÊNCIAS

Recebido em 10.07.2006 e aceito para publicação em 05.02.2007.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Ago 2007
  • Data do Fascículo
    2007

Histórico

  • Recebido
    10 Jul 2006
  • Aceito
    05 Fev 2007
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