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Atitude de Estudantes de Medicina frente a Terapias Alternativas e Complementares

Medical Students’ Attitudes toward Alternative and Complementary Therapies

Resumos

O uso das Terapias Alternativas e Complementares (TAC) vem aumentando ao longo dos anos no Brasil e no mundo com o advento de políticas de saúde favoráveis ao emprego dessas práticas. No entanto, as escolas médicas ainda não oferecem disciplinas curriculares sobre este tema. Com o intuito de descrever as atitudes dos estudantes de Medicina de uma universidade do Sul do Brasil com relação às terapias complementares, foi realizado um estudo observacional transversal descritivo, por meio da aplicação de um questionário. Houve 65,22% de taxa de resposta, e a terapia mais conhecida pelos estudantes foi a Fitoterapia (90,3%). A maioria deles demonstrou atitudes favoráveis com relação às terapias, e 75,26% gostariam de aprender sobre o tema em aulas curriculares.

Educação Médica; Terapias Complementares; Atitude


The use of Complementary and Alternative Therapies (CAT) has been increasing over the years in Brazil and worldwide, with the advent of health policies that favor the use of these practices. However, medical schools still do not offer curricular disciplines on these topics. In order to describe the attitudes of Brazilian medical students toward complementary therapies a cross-sectional observational study was conducted by means of a questionnaire. There was a 65.22% response rate and the best-known therapy among students was Phytotherapy (90.3%). Most students showed positive attitudes toward these therapies, and 75.26% would like to learn about the topic in curricular classes. Our results have shown a favorable attitude on the part of medical students in relation to complementary therapies, as well as some knowledge about them. Students demonsatrated willingness to learn about these topics during curricular lectures.

Medical Education; Complementary Therapies; Attitude


INTRODUÇÃO

As Medicinas Alternativas e Complementares são definidas pelo National Center for Complementary and Alternative Medicine (NCCAM) como um grupo de diferentes sistemas médicos e de saúde, práticas e produtos que não são atualmente considerados parte da medicina convencional1.NCCAM.nih.gov [Internet]. Complementary, Alternative, or Integrative Health: What’s In a Name? [Atualizada e citada em Julho de 2014]. Disponível em: http://www.nccam.nih.gov/health/whatiscam/
http://www.nccam.nih.gov/health/whatisca...
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No mundo, foram identificadas 231 terapias complementares em uso2.Lee S, Khang Y, Lee M, Kang W. Knowlegde of, attitudes toward, and experience of complementary and alternative medicine in western medicine – and oriental medicine – trained physicians in Korea. Am J Public Health. 2002; 92(12).. Um terço da população mundial e mais da metade da população das regiões mais pobres da Ásia e África não têm acesso a drogas essenciais alopáticas e dependem das terapias complementares para satisfazer suas necessidades de saúde3.World Health Organization. Legal Status of Tradicional Medicine and Complementary/Alternative Medicine: A Worldwide Review; 2001..

Ao compreenderem esta necessidade, várias políticas têm sido propostas na tentativa de implantar e regular as medicinas tradicionais e complementares. Em 2002, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou a WHO Traditional Medicine Strategy 2002-2005, que inclui, entre seus objetivos finais, a preocupação com a educação e o treinamento dos profissionais de saúde4.World Health Organization. WHO Tradicional Medicine Strategy 2002-2005. Geneva; 2002..

Em 2006, foi aprovada a Portaria 971 do Ministério da Saúde, que regulamentou no SUS a Medicina Tradicional Chinesa e Acupuntura, a Homeopatia, a Fitoterapia ou Plantas Medicinais e o Termalismo Social ou Crenoterapia. Uma das diretrizes do SUS compilada nessa Portaria é a articulação com outras áreas, visando ampliar a inserção formal das terapias complementares nos cursos de graduação e pós-graduação para os profissionais de saúde, com foco na Atenção Primária5.Brasil. Ministério da Saúde. Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Portaria nº 971, Brasília – DF Brasil 2006; seção 1..

Nota-se um movimento mundial e nacional que busca implantar tais práticas nas escolas médicas e preparar profissionais de saúde para atuarem em práticas integrativas no SUS. No entanto, embora o currículo curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Catarina objetive a formação de médicos generalistas aptos a trabalhar na Atenção Primária6.Universidade Federal de Santa Catarina. Projeto Político Pedagógico do Curso de Graduação em Medicina. Colegiado do Curso de Medicina; 2005., percebe-se uma lacuna entre o proposto nas políticas nacionais e internacionais e a realidade do ensino médico nesta instituição.

As atitudes frente à indicação de novas técnicas de tratamento são possíveis barreiras para a implantação e disseminação das mesmas7.Cabana MD, Rand CS, Powe NR, Wu AW, Wilson MH, Abboud PA, et al. Why don’t physicians follow clinical practice guidelines? A framework for improvement. JAMA. 1999; 20;282(15):1458-65.. Segundo o descritor de dados DeCS, da Biblioteca Virtual em Saúde8.DeCS.bvs.br [Internet]. Descritores em Ciências da Saúde. [Citada em julho de 2014] Disponível em: http://decs.bvs.br/cgi-bin/wxis1660.exe/decsserver/
http://decs.bvs.br/cgi-bin/wxis1660.exe/...
, atitude é definida como “predisposição adquirida e duradoura que age sempre do mesmo modo diante de uma determinada classe de objetos, ou um persistente estado mental e/ou neural de prontidão para reagir diante de uma determinada classe de objetos, não como eles são, mas sim como são concebidos”.

Desta forma, o objetivo deste estudo é avaliar o nível de conhecimento e as atitudes dos estudantes de Medicina de uma universidade do Sul do Brasil com relação às terapias complementares e se existe inserção deste tema no currículo atual dessa escola médica.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foi realizado um estudo observacional transversal descritivo de caráter quantitativo, mediante a aplicação de um questionário estruturado aos sujeitos de pesquisa no segundo semestre do ano de 2010.

A população-alvo do estudo foi composta por todos os estudantes do curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Catarina. Todos os estudantes matriculados nesse curso foram considerados elegíveis. Os alunos foram divididos em quatro estágios, de acordo com suas fases de conhecimento no curso: (i) estágio inicial: primeiro ano, composto pela introdução ao estudo da Medicina, onde são ministradas as disciplinas do ciclo básico, com poucos conhecimentos clínicos e maior foco socioantropológico6.Universidade Federal de Santa Catarina. Projeto Político Pedagógico do Curso de Graduação em Medicina. Colegiado do Curso de Medicina; 2005.; (ii) estágio intermediário: segundo ano, quando os estudantes são iniciados nas práticas médicas, como semiologia e raciocínio clínico; (iii) estágio central: terceiro e quarto anos, quando são ministradas as disciplinas referentes às especialidades médicas; (iv) estágio final: quinto e sexto anos, chamados de internato médico, quando os estudantes realizam estágios nas diversas especialidades médicas.

Na literatura, não há um instrumento específico disponível para avaliar atitudes de estudantes de Medicina com relação às terapias complementares. Assim, os autores do presente estudo desenvolveram um questionário composto por duas partes baseadas em estudos prévios publicados na literatura9.Kulkamp IC, Burin GD, Souza MHM, Silva P, Piovezan AP. Aceitação de práticas não-convencionais em saúde por estudantes de medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina. Rev Bras Educ Méd 2007;31(3): 229-235.,1010 .Lie D, Boker J. Development and validation of the CAM Health Belief Questionnaire (CHBQ) and CAM use and attitudes amongst medical students. BMC Med Educ 2004; 4:2..

A primeira parte do questionário abrange os dados do sujeito, como sexo e fase do curso, além de questionamentos sobre conhecimento, uso próprio e disposição para recomendar as terapias complementares a pacientes e familiares, adaptada de Külkampet al.9.Kulkamp IC, Burin GD, Souza MHM, Silva P, Piovezan AP. Aceitação de práticas não-convencionais em saúde por estudantes de medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina. Rev Bras Educ Méd 2007;31(3): 229-235.. A segunda parte diz respeito às crenças e atitudes do estudante com relação às terapias complementares, traduzida do inglês de um questionário desenvolvido para abordar tais atitudes em profissionais de saúde – o Complementary and Alternative Medicine Health Belief Questionnaire (CHBQ)1010 .Lie D, Boker J. Development and validation of the CAM Health Belief Questionnaire (CHBQ) and CAM use and attitudes amongst medical students. BMC Med Educ 2004; 4:2..

O CHBQ é um questionário de dez itens, previamente validado, que requer o cálculo de um escore, pois as questões não podem ser usadas individualmente para medir atitudes1111 .Riccard CP, Skelton M. Comparative analysis of first, second and fourth year MD students’ attitudes toward Complementary Alternative Medicine (CAM). BMC Res Notes 2008; 1:84.. Três dos itens são intencionalmente escritos de forma negativa para minimizar a tendência de alguns respondentes a usar de forma constante apenas um intervalo da escala oferecida1212 .Lie DA, Boker J. Comparative survey of Complementary and Alternative Medicine (CAM) attitudes, use, and information-seeking behaviour among medical students, residents & faculty. BMC Med Educ 2006; 6:58..

Este questionário é originalmente composto por uma escala Likert de 1 a 7, sendo que 1 significa plena discordância e 7 plena concordância. A escala foi alterada pelos pesquisadores, que usaram –3 no lugar de 1 para discordar plenamente, e +3 no lugar de 7 para concordar plenamente, de forma que houvesse melhor compreensão da negatividade da discordância.

Com o objetivo de verificar a viabilidade do questionário autoaplicado, um estudo piloto foi realizado com uma amostra de 30 estudantes, divididos entre os quatro estágios do curso e recrutados após aleatorização simples. Terminado o teste piloto, foram feitas algumas modificações na sintaxe e no tipo de perguntas (fechadas ou abertas) do questionário de acordo com as dúvidas e sugestões dos primeiros entrevistados.

Em seguida, foi iniciada a coleta de dados com a população do estudo. O critério de inclusão dos participantes foi a presença em sala de aula no momento da aplicação do questionário. Todos os alunos presentes às aulas responderam ao questionário, exceto os que compareceram com mais de 15 minutos de atraso. Duas turmas pertencentes ao estágio final têm menor número de respondentes devido à dificuldade em coletar os dados de forma coletiva, visto que os alunos realizam atividades estritamente práticas e em locais diversos.

Os estudantes foram esclarecidos quanto ao tema do estudo e seu caráter voluntário, e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o questionário foram aplicados aos presentes. Esta pesquisa foi desenvolvida conforme as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, aprovada no CEPSH/UFSC sob nº 763/10.

RESULTADOS

Dos 601 estudantes matriculados no segundo semestre do ano de 2010 nesta escola médica, 392 responderam ao questionário deste estudo, representando 65,22% dos estudantes. Cento e noventa e sete (50,26%) sujeitos eram do sexo feminino. A distribuição de acordo com o estágio do curso de Medicina pode ser consultada naFigura 1.

FIGURA 1
Distribuição dos estudantes segundo o estágio

A Fitoterapia é conhecida por 90,3% dos estudantes entrevistados, seguida pelas outras modalidades, conforme demonstrado na Figura 2. Cento e vinte (30,6%) estudantes receberam tratamento prévio com alguma das terapias complementares citadas no estudo. No total, 84,44% dos estudantes responderam que não houve abordagem destas terapias em aulas curriculares do curso de Medicina.

FIGURA 2
Conhecimento dos estudantes por terapia

Dos estudantes respondentes, 332 (84,69%) recomendariam ou apoiariam o uso das terapias complementares pelos pacientes e familiares. A recomendação das terapias e o interesse em aprendê-las segundo a fase no curso e tratamento prévio encontram-se na Tabela 1.

TABELA 1
Recomendação e interesse sobre as terapias complementares

O apoio foi maior por parte das mulheres (90,36%), dos estudantes que já haviam recebido tratamento com tais terapias (96,67%) e dos que referiram maior interesse em aprender sobre estas práticas (91,19%). Ainda, as mulheres e os estudantes tratados previamente com as terapias demonstraram maior interesse em aprender sobre elas.

Os resultados obtidos mediante preenchimento do CHBQ representam as atitudes dos estudantes de Medicina com relação às terapias complementares. Os parâmetros encontrados na análise das respostas estão descritos na Tabela 2. Atitudes mais positivas foram encontradas: nos estudantes do sexo feminino; pertencentes ao estágio central; que conheciam as terapias citadas no estudo; que obtiveram conhecimento por intermédio da escola médica; que já haviam se tratado com tais terapias; e que demonstraram interesse em aprender sobre elas no curso de Medicina.

TABELA 2
Estatísticas descritivas do CHBQ

DISCUSSÃO

Trata-se de um estudo exploratório descritivo com estudantes de Medicina com o intuito de demonstrar atitudes e conhecimentos desses alunos com relação às terapias complementares.

A participação no estudo foi expressiva: 65,22% dos estudantes responderam ao questionário. Esta proporção, maior que a de oito dos estudos analisados9.Kulkamp IC, Burin GD, Souza MHM, Silva P, Piovezan AP. Aceitação de práticas não-convencionais em saúde por estudantes de medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina. Rev Bras Educ Méd 2007;31(3): 229-235.,1111 .Riccard CP, Skelton M. Comparative analysis of first, second and fourth year MD students’ attitudes toward Complementary Alternative Medicine (CAM). BMC Res Notes 2008; 1:84.,1313 .Shani-Gershoni Z, Freud T, Press Y, Peleg R. Knowledge and attitudes of internists compared to medical students regarding acupuncture. IMAJ 2008; 10: 219-223.

14 .Yeo ASH, Yeo JCH, Yeo C, Lee CH, Lim LF, Lee TL. Perceptions of complementary and alternative medicine amongst medical students in Singapore: a survey. Acupunct Med 2005; 23: 19-26.

15 .DeSylvia D, Stuber M, Fung CC, Bazargan-Hejazi S, Cooper E. The Knowledge, Attitudes and Usage of Complementary and Alternative Medicine of Medical Students. eCAM 2008: 1-5.

16 .Schmidt K, Greenfield S, Dennis I, Amri H. Multischool, international survey of medical students’ attitudes toward “Holism”. Acad Med 2005; 80: 955-963.

17 .Yildirim Y, Parlar S, Eyigor S, Sertoz OO, Eyigor C, Fadiloglu C, et al. An analysis of nursing and medical students’ attitudes towards and knowledge of complementary and alternative medicine (CAM). J Clin Nurs 2009; 20.
-1818 .Yardley L, Furnham A. Attitudes of medical and nonmedical students toward orthodox and complementary therapies: Is scientific evidence taken into account? J Altern Complement Med 1999; 5(3): 293-295., pode indicar interesse dos sujeitos de pesquisa com relação a este tema, visto que a participação no estudo foi voluntária.

Quanto à avaliação do interesse dos futuros médicos em aprender sobre terapias complementares no curso de Medicina, foi observado que a maioria gostaria de adquirir mais conhecimentos nesta área. Similarmente, Greiner et al.1919 .Greiner KA, Murray JL, Kallail KJ. Medical student interest in alternative medicine. J Altern Complement Med 2000; 6(3): 231-234. reportaram que 72% dos estudantes gostariam de ter aulas sobre terapias complementares durante o treinamento médico. Yeo et al.1414 .Yeo ASH, Yeo JCH, Yeo C, Lee CH, Lim LF, Lee TL. Perceptions of complementary and alternative medicine amongst medical students in Singapore: a survey. Acupunct Med 2005; 23: 19-26. e Oberbaum et al.2020 .Oberbaum M, Notzer N, Abramowitz R, Branski D. Attitude of medical students to the introduction of complementary medicine into the medical curriculum in Israel. IMAJ 2003;5: 139-142. também demonstraram 86% e 79%, respectivamente, de desejo de aprender sobre o tema. Hoellein et al.2121 .Hoellein AR, Lineberry MJ, Kifer E. A needs assessment of complementary and alternative medicine education at the University of Kentucky College of Medicine. Med Teach 2008; 30: e77-81. descreveram que 90% ou mais dos participantes desejavam aprender sobre acupuntura e outras terapias estudadas por eles, como meditação e terapia nutricional.

Apesar do interesse dos estudantes, apenas uma pequena porcentagem deles referiu abordagem destas terapias em aulas curriculares do curso de Medicina, o que era esperado devido à falta de disciplinas que incluam estes temas de forma curricular.

Com isto, também se esperava que a principal fonte de conhecimento dos estudantes fosse não acadêmica, como encontrado em seis dos estudos que também analisaram fontes de conhecimento9.Kulkamp IC, Burin GD, Souza MHM, Silva P, Piovezan AP. Aceitação de práticas não-convencionais em saúde por estudantes de medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina. Rev Bras Educ Méd 2007;31(3): 229-235.,1010 .Lie D, Boker J. Development and validation of the CAM Health Belief Questionnaire (CHBQ) and CAM use and attitudes amongst medical students. BMC Med Educ 2004; 4:2.,1212 .Lie DA, Boker J. Comparative survey of Complementary and Alternative Medicine (CAM) attitudes, use, and information-seeking behaviour among medical students, residents & faculty. BMC Med Educ 2006; 6:58.,1717 .Yildirim Y, Parlar S, Eyigor S, Sertoz OO, Eyigor C, Fadiloglu C, et al. An analysis of nursing and medical students’ attitudes towards and knowledge of complementary and alternative medicine (CAM). J Clin Nurs 2009; 20.,2222 .Teixeira MZ, Lin CA, Martins MA. Homeopathy and acupuncture teaching at Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo: the undergraduates’ attitudes. São Paulo Med J 2005; 123(2): 77-82.,2323 .Chez RA, Jonas WB, Crawford C. A survey of medical students’ opinions about complementary and alternative medicine. Am J Obstet Gynecol;185(3).. Segundo Rampes et al.2424 .Rampes H, Sharples F, Maragh S, Fisher P. Introducing complementary medicine into the medical curriculum. J R Soc Med 1997; 90., a maioria das escolas médicas não provê educação formal sobre terapias complementares. Como resultado da ausência destas terapias nas escolas médicas, a mídia e as experiências familiares surgem como as principais formas de obtenção de conhecimento1010 .Lie D, Boker J. Development and validation of the CAM Health Belief Questionnaire (CHBQ) and CAM use and attitudes amongst medical students. BMC Med Educ 2004; 4:2.,1212 .Lie DA, Boker J. Comparative survey of Complementary and Alternative Medicine (CAM) attitudes, use, and information-seeking behaviour among medical students, residents & faculty. BMC Med Educ 2006; 6:58.,2323 .Chez RA, Jonas WB, Crawford C. A survey of medical students’ opinions about complementary and alternative medicine. Am J Obstet Gynecol;185(3)..

A despeito da ausência das terapias complementares no meio acadêmico, as atitudes dos estudantes de Medicina com relação a elas foram consideradas favoráveis. Os resultados também evidenciaram que os estudantes, no decorrer do curso, demonstraram atitudes mais favoráveis.

Estes dados vão contra o esperado de acordo com a revisão da literatura, que demonstrou declínio das atitudes favoráveis ao longo do curso de Medicina1111 .Riccard CP, Skelton M. Comparative analysis of first, second and fourth year MD students’ attitudes toward Complementary Alternative Medicine (CAM). BMC Res Notes 2008; 1:84.,1515 .DeSylvia D, Stuber M, Fung CC, Bazargan-Hejazi S, Cooper E. The Knowledge, Attitudes and Usage of Complementary and Alternative Medicine of Medical Students. eCAM 2008: 1-5.,2121 .Hoellein AR, Lineberry MJ, Kifer E. A needs assessment of complementary and alternative medicine education at the University of Kentucky College of Medicine. Med Teach 2008; 30: e77-81.,2525 .Furnham A, McGill C. Medical students’ attitudes about complementary and alternative medicine. J Altern Complement Med 2003; 9(2): 275-284.. Este fato tem sido explicado pela tendência dos estudantes dos estágios iniciais a exibir maior idealismo2121 .Hoellein AR, Lineberry MJ, Kifer E. A needs assessment of complementary and alternative medicine education at the University of Kentucky College of Medicine. Med Teach 2008; 30: e77-81., que seria perdido devido à exposição deles às atitudes negativas com relação às terapias complementares durante o treinamento clínico1212 .Lie DA, Boker J. Comparative survey of Complementary and Alternative Medicine (CAM) attitudes, use, and information-seeking behaviour among medical students, residents & faculty. BMC Med Educ 2006; 6:58.. Tal fato também poderia refletir uma visão menos ingênua das realidades clínicas e maior entendimento, em vez de maior cinismo2626 .Griffith CH, Wilson JF. The loss of idealism throughout internship. Eval Health Prof 2003; 26: 415..

Na opinião dos autores, os resultados do presente estudo podem ser explicados pela dinâmica do curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Catarina, que inclui algumas disciplinas optativas de terapias complementares, o que explicaria esta tendência a atitudes mais favoráveis ao longo do curso. Greenfield et al.2727 .Greenfield SM, Brown R, Dawlatly SL, Reynolds JA, Roberts S, Dawlatly RJ. Gender differences among medical students in attitudes to learning about complementary and alternative medicine. Complement Ther Med 2006; 14: 207-212. sugeriram que o ensino de terapias complementares antes da coleta dos dados pode ter influenciado as atitudes dos estudantes positivamente. Além disso, há contribuição do currículo desta escola – voltado à formação de médicos generalistas com uma visão mais holística dos pacientes6.Universidade Federal de Santa Catarina. Projeto Político Pedagógico do Curso de Graduação em Medicina. Colegiado do Curso de Medicina; 2005. – e da presença de professores que têm entendimento sobre o assunto e incentivam os estudantes a este respeito. Schmidt et al.1616 .Schmidt K, Greenfield S, Dennis I, Amri H. Multischool, international survey of medical students’ attitudes toward “Holism”. Acad Med 2005; 80: 955-963. sugeriram que professores e departamentos mais abertos ao assunto influenciam as atitudes dos estudantes.

A principal limitação deste estudo é que ele representa atitudes e conhecimentos de estudantes de apenas uma instituição de ensino e não é generalizável para outras instituições1919 .Greiner KA, Murray JL, Kallail KJ. Medical student interest in alternative medicine. J Altern Complement Med 2000; 6(3): 231-234.,2121 .Hoellein AR, Lineberry MJ, Kifer E. A needs assessment of complementary and alternative medicine education at the University of Kentucky College of Medicine. Med Teach 2008; 30: e77-81.,2626 .Griffith CH, Wilson JF. The loss of idealism throughout internship. Eval Health Prof 2003; 26: 415.. Além disso, existe a limitação própria de um estudo observacional transversal, que descreve apenas os resultados encontrados no momento da pesquisa, sem um acompanhamento das mudanças de atitude ao longo do curso. Provavelmente, este fator foi a causa de não encontrarmos certa linearidade e coerência com relação a conhecimentos e atitudes dos estudantes no que diz respeito aos estágios no curso, pois cada turma demonstrou o seu perfil atual e não uma evolução de tal perfil, a qual seria demonstrada num estudo longitudinal.

As competências deste estudo a ressaltar são uma amostra representativa de todos os estágios do curso e a realização de um teste piloto para validação do questionário aplicado.

Nossos resultados demonstraram que há uma atitude favorável dos estudantes de Medicina com relação às terapias complementares, além de bom conhecimento a respeito, e, principalmente, que existe vontade dos estudantes em aprender sobre o tema em aulas curriculares do curso. Contudo, a abordagem destas terapias em aulas curriculares ainda é baixa, considerando-se o aumento da utilização destas terapias pela população4. Assim, sugerimos a introdução das terapias complementares na base curricular do curso de Medicina, visto que as mudanças curriculares devem ser guiadas pelas necessidades dos estudantes1919 .Greiner KA, Murray JL, Kallail KJ. Medical student interest in alternative medicine. J Altern Complement Med 2000; 6(3): 231-234..

Entende-se que é dever do médico ter conhecimento mínimo para discutir o uso de terapias complementares com seus pacientes1818 .Yardley L, Furnham A. Attitudes of medical and nonmedical students toward orthodox and complementary therapies: Is scientific evidence taken into account? J Altern Complement Med 1999; 5(3): 293-295.,1919 .Greiner KA, Murray JL, Kallail KJ. Medical student interest in alternative medicine. J Altern Complement Med 2000; 6(3): 231-234.,2222 .Teixeira MZ, Lin CA, Martins MA. Homeopathy and acupuncture teaching at Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo: the undergraduates’ attitudes. São Paulo Med J 2005; 123(2): 77-82.,2828 .Eisenberg DM, Davis RB, Ettner SL, Appel S, Wilkey S, Rompay MV, et al. Trends in alternative medicine use in the United States, 1990-1997. JAMA 1998; 280: 1569-1575.,2929 .Eisenberg DM, Kessler RC, Foster C, Norlock FE, Calkins DR, Delbanco TL. Unconventional Medicine In The United States – Prevalence, Costs and Patterns of Use. N Engl J Med 1993; 328(4): 246-252., e tal ato prepararia melhor os futuros médicos para solicitar informações, responder mais efetivamente às perguntas e estar aptos a avaliar a introdução ou remoção das terapias do plano terapêutico2323 .Chez RA, Jonas WB, Crawford C. A survey of medical students’ opinions about complementary and alternative medicine. Am J Obstet Gynecol;185(3)..

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a contribuição de José Francisco Danilo de Guadalupe Correa Fletes, Ari Ojeda Ocampo More e Jéssica Maria Costi.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2015

Histórico

  • Recebido
    07 Ago 2014
  • Aceito
    10 Mar 2015
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