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50 anos de Abem e seu compromisso com a residência médica

50 years of Abem and its commitment to medical residency

CARTA AO EDITOR

50 anos de Abem e seu compromisso com a residência médica

50 years of Abem and its commitment to medical residency

Pedro Tadao Hamamoto FilhoI; Arthur Hirschfeld DanilaII; Túlio Cícero Franco FarretIII; Diego Millán MenegottoIV; Thiago Henrique dos Santos SilvaV

IUniversidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Botucatu, SP, Brasil

IIUniversidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

IIIHospital Fêmina, Grupo Hospitalar Conceição, Porto Alegre, RS, Brasil

IVUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil

VUniversidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil

Endereço para correspondência ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Pedro Tadao Hamamoto Filho Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria, Faculdade de Medicina de Botucatu-Unesp Distrito de Rubião Jr, s/n o – Botucatu CEP 18618-970 – SP E-mail: pthamamotof@hotmail.com

Palavras-Chave: Residência Médica; Educação Médica; Médicos-Residentes; Avaliação.

Keywords: Medical Residency; Medical Education; Medical Residents; Evaluation.

Prezado Editor,

São muito oportunos os últimos editoriais da Revista Brasileira de Educação Médica. Ferreira sumarizou a trajetória da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem) em seus 50 anos, destacando sua influência nas políticas nacionais de educação e saúde, mobilizando a participação de escolas, docentes, discentes e serviços de saúde1. Já Afonso apresentou o Projeto de Preceptoria para Residência Médica como um marco na formação de especialistas, demonstrando que a Abem, ao protagonizar o processo, poderá liderar uma "onda" de capacitação de preceptores2.

Ao longo de 2011 e 2012, a Abem modificou seu estatuto e criou o cargo de coordenadores médicos-residentes regionais, garantindo-lhes representação em seu Conselho de Administração. Por ocasião do 50o Congresso Brasileiro de Educação Médica, realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a Abem elegeu seu primeiro grupo de coordenadores médicos-residentes regionais. Consideramos o fato uma grande demonstração do compromisso da Abem com a residência médica – o que ocorre, justamente, quando de seu 50o aniversário.

A residência médica tem importância ímpar na formação médica. É o melhor instrumento para inserção do médico no mundo de trabalho. E é neste período que o médico tem a oportunidade de, sob supervisão, combinar a aquisição de conhecimentos teóricos com a experiência clínica.

Desenvolvida no Brasil desde a década de 1940, a residência médica sempre enfrentou obstáculos para se estruturar, consolidar e avançar. Em 2003, Nunes resumia em quatro aspectos os problemas da residência: avaliação, necessidade, acesso e financiamento3. Passados quase dez anos, podemos observar avanços, mas há ainda muito o que enfrentar.

Uma avaliação sistemática dos programas de residência médica ainda precisa ser estruturada. A Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) tem investido neste aspecto, em especial neste ano em que se mobilizaram avaliadores de todo o País para o recredenciamento dos programas. Apesar de todo o mérito dos trabalhos da CNRM, obviamente não se pode avaliar detalhadamente cada programa. É necessário que cada instituição incorpore a cultura de avaliação de seus programas e de seus residentes. Muito dessa avaliação tem ficado sob a responsabilidade das sociedades de especialidades quando do pleiteio do título de especialista. Para tanto, uma avaliação sistemática de aspectos cognitivos, habilidades e competências profissionais deve ser desenvolvida e aprimorada em cada programa de residência.

Com relação à necessidade, impera no País a desigualdade de distribuição de programas e bolsas, que se concentram nas regiões Sul e Sudeste. O Pró-Residência (Programa de Incentivo à Formação de Especialistas em Áreas Estratégicas), iniciativa conjunta dos ministérios da Saúde e Educação, fomentou a criação de programas com carência de profissionais em determinadas regiões geográficas do País. Ainda assim, muitas vagas oferecidas continuam ociosas. Se o Brasil precisa equacionar políticas educacionais e de saúde, deve buscar enfaticamente o investimento em programas de residência médica.

Sobre o acesso aos programas, houve avanços significativos, principalmente com a Resolução nº 8 de 2004 da CNRM, que introduziu um componente prático com peso de 40% a 50% nos concursos de seleção (sendo esta uma fase opcional, a critério da instituição). Com a adoção de provas práticas nos concursos de tradicionais instituições de ensino do País, observa-se a valorização de atividades clínicas pelos estudantes de graduação. Por outro lado, a indiscriminada abertura de novos cursos e escolas médicas sem o proporcional aumento do número de vagas de residência está por criar no País um grande contingente de médicos sem o melhor preparo, considerando a não terminalidade do curso médico (embora a não terminalidade do curso não seja a opinião formal da Abem e de muitos professores de Medicina) e o crescente volume de conhecimento científico necessário a uma prática médica de qualidade.

Finalmente, quanto ao financiamento, avanços têm sido observados. Vale destacar as atividades de classe dos médicos-residentes, representados pela Associação Nacional dos Médicos Residentes, que, mobilizando residentes de todo o País, tem lutado por melhores valores para as bolsas. Ainda assim, o órgão regulamentador da residência (MEC) não é o mesmo que subsidia a maior parte das bolsas (a cargo das secretarias estaduais de saúde e das instituições), o que se torna fonte potencial de conflitos.

Neste cenário, é promissor que a Abem conte com maior participação de médicos-residentes em seus conselhos regionais e nacional. Propondo-se a Abem ser a principal protagonista de melhorias da educação médica brasileira ao influenciar políticas públicas de educação e saúde, incluir os residentes em seu organograma significa ampliar o espaço das pautas de discussão para a residência médica. Significa a possibilidade de disseminar entre os residentes uma discussão ainda mais aprofundada e embasada nas melhores teorias educacionais – articulada com a vivência singular do médico nesta etapa de sua formação.

Porém também há desafios. Das oito regionais da Abem, que deveriam eleger um total de 16 representantes (titulares e suplentes), apenas as regionais São Paulo, Sul I e Nordeste elegeram representantes – sendo que, dos cinco eleitos, dois deverão concluir seus programas no início de 2013. Precisamos articular as regionais com os residentes, sensibilizando-os para a necessidade de se engajarem – o que significa, na verdade, a oportunidade de qualificar a formação de especialistas no País.

O grupo eleito, que subscreve esta carta, deseja contribuir com as discussões e com a melhoria dos problemas sumariamente apontados. É o nosso compromisso com a Abem, com a própria residência médica, com a educação médica e com a saúde do País.

Recebido em: 17/11/2012

Reencaminhado em: 07/01/2013

Aprovado em: 09/01/2013

CONFLITO DE INTERESSES

Declarou não haver.

  • Ferreira JR. 50 Anos da Abem. Rev Bras Educ Med 2012; 36(3):291-2.
  • Afonso DH. O Compromisso da Abem com a Residência. Rev Bras Educ Med 2012; 36(2):151-2.
  • Nunes MPT. Residência Médica no Brasil Situação Atual e Perspectivas. Cad ABEM 2004; 1:30-2
  • ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
    Pedro Tadao Hamamoto Filho
    Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria, Faculdade de Medicina de Botucatu-Unesp
    Distrito de Rubião Jr, s/n
    o – Botucatu
    CEP 18618-970 – SP
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Jun 2013
    • Data do Fascículo
      Mar 2013
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