Acessibilidade / Reportar erro

Estresse nos Estudantes de Medicina da Universidade Federal do Ceará

Stress in Medical Students at the Federal University in Ceará, Brazil

Resumo:

O objetivo deste estudo é avaliar o nível de estresse em estudantes de Medicina da Universidade Federal do Ceará. A amostra constituiu-se de 562 estududantes distribuídos nos semestres de I a IX. O instrumento utilizado foi o General Health Questionnaire (GHQ), no qual o estresse foi definido com escore maior que 3, além de uma ficha com dados pessoais. A prevalência de distúrbios psicológicos em estudantes de Medicina foi de 35,4% (n = 199). As mulheres apresentaram um nível de estresse maior do que os homens, compondo 54,64% do grupo de estudantes estressados (n = 199). O semestre V (n = 60) foi o que apresentou maior percentagem de estresse 51,7% (n = 31). Estes dados sugerem que o curso de Medicina, da maneiro como está estruturado, associa-se a uma alta prevalência de estresse nos estudantes.

Palavras-chave:
Estresse; Estudantes de Medicina; Ansiedade

Abstract:

The objedive of this study was to evaluate the level of stress in medical students at the Federal University in Ceará, Brazil. The sample included 562 students from the 1st to lhe 9th semesters. The instrument used was the General Health Questionnaire (GHQ), and stress was defined as a score above three. Prevalence of stress in the sample was 35.4% (n = 799). Females scored higher than males, comprising 54.64% of the stressed students (n = 199). The 5th semester (n = 60) had the highest proportion (51.7%; n = 31) of students with scores above the GHQ cutoff. The findings suggest that the currently structured undergraduate medical course is associated with high levels of stress among students.

Keyword:
Stress; Studentes, Medical; Anxiety

INTRODUÇÃO

A Faculdade de Medicina é conhecida como um ambiente estressante, que frequentemente exerce efeito negativo sobre o desempenho acadêmico, a saúde mental e o bem-estar psicológico dos estudantes11. Mosley TH Jr., Perrin SG, Neral SM, Dubbert PM,Grothues CA, Pinto BM, Pinto BM. Stress, coping, and well being among third-year medical students. Acad Med. 1994; 69:765-7.. Por tudo isso, o estresse no no treinamento médico tem sido matéria de numerosas investigações22. Helmers KF. Stress and depressed mood in medical students, law students and graduate students at McGill University. Academic Medicine. 1997; 72, 704-714.

3. Rosal CM. A longitudinal study of students depression at one medical school. Acad Med . 1997; 72:542-546.

4. Saipanish R. Stress among medical students in a Thai medical school.: Med Tcach. 2003 Sep;25(5):502-6.

5. Supe AN. A study of stress in medical students at Seth G.S. Medical College. J Postgrad Med. 1998 Ed. Jan-Mar;44(l): 1-6.

6. Toews JA; Lockyer JM; Dobson DJ; Simpson E; Brownell AK; Brenneis F; MacPherson KM; Cohen GS. Analysis of stress levels among medical students, residents, and graduate students at four Canadian schools of medicine. Acad Med. 1997 Nov;72(11):997-1002.
-77. Vaz RF; Mbajiorgu, Ef; Acuda SW. A preliminary study of stress leveis among first year medical students at the Universily of Zimbabwe. Cent Afr J Med. 1998 Sep; 44(9):214-9..

Além disso, a admissão nas faculdades de Medicina permanece intensamente competitiva. Silver88. Silver HK. Medical student and medical school. Jamaica, 1982; 247:304-320. descreveu que os entusiasmados calouros de Medicina tornam-se cínicos, depressivos, tristes, assustados ou frustrados logo no início do curso, pois ingressam na faculdade ainda adolescentes e são submetidos a uma grande carga de estresse: contato com a morte, longas horas de estudo e cobrança pessoa de professores e familiares. Nesse ritmo, muitos vivem em depressão e pensam em desistir, além de estarem constantemente ansiosos.

Estudantes de Medicina e residentes do sexo feminino relatam mais estresse do que os do sexo masculino66. Toews JA; Lockyer JM; Dobson DJ; Simpson E; Brownell AK; Brenneis F; MacPherson KM; Cohen GS. Analysis of stress levels among medical students, residents, and graduate students at four Canadian schools of medicine. Acad Med. 1997 Nov;72(11):997-1002. e significativamente menos apoio dos departamentos acadêmicos33. Rosal CM. A longitudinal study of students depression at one medical school. Acad Med . 1997; 72:542-546.. Há estudos, no entanto, que afirmam não haver diferenças entre homens e mulheres99. Berútez CG, Quintero JB, Torres RB. Prevalence of risk for mental disorders among undergraduate medical students at the Medical School of the Catholic Universily of Chile. Rev Med Chil. 2001 Feb;129(2):173-8.,1010. Miller PMcC, Surtees PG. Psychological symptoms and their course in first-year medical students as assessed by the Interval General Hcalth Questionnaire (I-GHQ ). Br J Psychiatry 1991; 159:199-207..

O casamento tem sido relatado como efeito negativo no trabalho de graduação de mulheres, mas não em relação a homens33. Rosal CM. A longitudinal study of students depression at one medical school. Acad Med . 1997; 72:542-546.,66. Toews JA; Lockyer JM; Dobson DJ; Simpson E; Brownell AK; Brenneis F; MacPherson KM; Cohen GS. Analysis of stress levels among medical students, residents, and graduate students at four Canadian schools of medicine. Acad Med. 1997 Nov;72(11):997-1002.. Cerca de metade dos estudantes descreveu com incidente estressante, sendo a maioria dos relatos relacionados mais com treinamento médico do que com problemas pessoais44. Saipanish R. Stress among medical students in a Thai medical school.: Med Tcach. 2003 Sep;25(5):502-6..

Os potenciais efeitos negativos do estresse em estudantes de Medicina, incluindo prejuízos no funcionamento da escola médica e no ambiente prático, tornam importante esclarecer os fatores relevantes que contribuem para isso77. Vaz RF; Mbajiorgu, Ef; Acuda SW. A preliminary study of stress leveis among first year medical students at the Universily of Zimbabwe. Cent Afr J Med. 1998 Sep; 44(9):214-9.,1111. Restrepo AR, Jaramillo FR, Marín JCR. Estres en estudiantes de medicina del Instituto de Ciências de la Salud, CES Medicina. 1998; 2:38-43.. Um estudo colombiano indicou que as principais fontes de estresse são exames de qualificações e quantidade de material a ser aprendido, seguidas por falta de tempo para familiares e amigos1111. Restrepo AR, Jaramillo FR, Marín JCR. Estres en estudiantes de medicina del Instituto de Ciências de la Salud, CES Medicina. 1998; 2:38-43..

A passagem do estudante pelas diferentes etapas do curso de Medicina, como básico, a clínica e o internato, tem sido também sugerida como fator influente sobre os determinantes de nível de estresse. Segundo Williams et al.1212. Williams KF, Thomas P, Gordon A, Williams-Brown S. An assessment of stress among clinical medical students of the university at the West Indies, Mona Campus, West Indian Journal, 1996, 45, 2:41-72. e Helmers22. Helmers KF. Stress and depressed mood in medical students, law students and graduate students at McGill University. Academic Medicine. 1997; 72, 704-714., a transição do básico para o início do aprendizado e treinamento clínico causa elevação nos níveis de estresse do estudante.

Neste contexto, o presente estudo visa avaliar: 1 - o nível de estresse dos estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Estado do Ceará (UFC); 2 - a relação entre nível de estresse, semestre, sexo estado civil desses estudantes, a fim de entender as causas de estresse dos grupos mais atingidos.

MÉTODOS

Amostra

O estudo de corte transversal, abrangeu 562 estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), regularmente matriculados, distribuídos entre sementes I e IX e que participaram da pesquisa voluntariamente. Os estudante dos semestres X, XI e XII, que estavam cursando internato, foram excluídos da pesquisa devido à dispersão em diferentes instituições do Brasil e exterior. A Tabela 1 mostra os alunos matriculados, os flatosos, os que receberam o questionário e os que o retornaram. Assim, a amostra analisada é composta por 562 questionários.

TABELA 1
Distribuição dos alunos de Medicina da UFC por semestre (I - IX), Fortaleza, 2002.

Procedimento

A coleta dos dados foi realizada de janeiro a março de 2002 na Faculdade de Medicina da UFC.

O questionário (Anexo ANEXO ) foi aplicado nas salas de aulas, nos primeiros 15 minutos de aula, com permissão prévia dos professores das unidades. A aplicação foi coletiva, sendo que, a pós a distribuição do instrumento, foram prestado esclarecimentos sobre os objetivos da pesquisa, o anonimato das respostas e a participação facultativa, recolhendo-se os questionários respondidos em uma urna.

Antes da distribuição dos questionários foi verificado a quantidade de alunos regularmente matriculados em casa semestre, dado obtido na coordenação do curso de Medicina. A entrega dos questionários foi feita de acordo com o número de alunos presentes em sala de aula. Buscou-se escolher as disciplinas que reuniam o mais número de alunos presentes em sala, a fim de atingir 70% dos alunos matriculados por semestre, a qual era nossa meta inicial.

Instrumento

Foi utilizad o um quest ionário auto-aplicativo, composto de uma parte introd utória, com perguntas gerais sobre sexo, idade, estado civil e semestre dos en trevistados; numa segun­ da parte, foram aplicados 12 itens do General Health Questionaire (GHQ-12)1313. Goldberg D, Willianms PA. A User's Cuide to the General Health Questionnaire. Berkshire: NFER-Nelson; 1988., que tem por objetivo rastrear a existência de sintomas de est resse como propos to por seus autores. Porém, aprese nta a limitaçãode não especificar o diagnóstico de patologias definidas como depressão ou distúrbios mentais menores e outros, pois estes requereriam um instrumento mais completo, como o SCL-901414. Schmitz N, Kruse J, Alberti L, Tress W. Diagnosing mental disorders in primary care: the General Health Questionnaire (CHQ) aod the Symptom Check List (SCL-90-R) as screening instruments. Soc Psychiatr Epidemiol. 1999: 34:360-366.. O GHQ-12 foi escolhido por ter validade reconhecida em estudos realizados com amostras compostas por estudantes,99. Berútez CG, Quintero JB, Torres RB. Prevalence of risk for mental disorders among undergraduate medical students at the Medical School of the Catholic Universily of Chile. Rev Med Chil. 2001 Feb;129(2):173-8.,1515. Randanovic Z, Eric LJ. Validity of the General Health Questionnaire in Yugoslav Student population. Psychol Med. 1983; 13:205-7.ou pela população jovem1616. Bank MV. Validation of the General Health Questionnaire in a young community sample. Psychol Med . 1983; 13:349- 53., por se adequar ao objetivo dos autores e ser de fácil aplicação, enquadrando-se na quantidade de tempo disponível a esses. Redigido na língua inglesa e testado na população britânica, o GHQ-12 foi traduzido para o português e validado para ser utilizado em pesquisas de atenção primária à saúde por Mari e Williams1717. Mari JJ, Williams P. A comparisom of the validity of two psychiatric scieening questionnaires (GMQ-12 and SRQ-20) in Brazil, using Relative Operating Characteristic (ROC) analysis. Psychol Med . 1985; 15:651-659.. Em cada item foram usados os escores 0- 0- 1 - 1 com soma máxima de 12, conservando-se a pontuação indicadora de estresse a partir do valor 4, pois, segundo Lewis1818. Lewis G, Pelosi AJ, Araya R, Dunn C. Measuring psychiatric disorder in the community: a standardized assessment for use by lay interviewers. Psychol Med . 1992; 22:465-86., esta pontuação determina com melhor estimativa a ocorrência de distúrbios emocionais.

Análise Estatística

Uma vez levantados, os dados foram tabelados e analisados pelo SPSS- Statistíca/ Package for the Social Sciences1919. Norusis MJ. SPSS for Windows-Base System Users Guide - Release 6.0; 1993. (SPSS lnc., Chicago, IL, USA). Para comparer os escores entre os diferentes semestres, entre os sexos e entre os diferentes estados civis, foi utilizado o teste não paramétrico (x2). Ascorrelações foram feitas com base nos testes Spearman e Anova. O nívelde significân cia a ce ito foi p £ 0,05.

RESULTADOS

Dados Demográficos

A amostra compreendeu estudantes com méd ia de idade igual a 21,5 anos (DP = 2,9) para ambos os sexos, variando de 18 a 38 anos para os homens e de 18 a 36 anos para as mulheres, apesar de existirem idades mais elevadas, mas sem especificação de sexo. A distribuição da amostra por sexo foi de 57% (311) do sexo masculino e 43% (235) do sexo fem inino. Quanto ao estad o civil, 95,6% (n = 523) eram solteiros, 4,2%(n = 23) casados, e apenas 0,2% (n = 1) divorciados.

General Health Questionnaire

Cento e noventa e nove (35,4%) estudantes apresentaram valores acima do liminar do GHQ-12, indicando distúrbios emocionais (média = 6,3, DP = 2,2).

Sexo: O sexo feminino exibiu média maior do que o sexo masculino, existindo diferença na prevalência de morbidade psicológica entre homens (28,3%) e mulheres (451, %), p = 0,01 (Gráfico 1).

Gráfico 1
Resultado do GHQ-12 dos estudantes de Medicina da UFC por sexo, Fortaleza, 2002.

Com exceção do semestre VIII, nos demais semestres as mulheres apresentaram médias superiores às dos homens, que se mantiveram num patamar relativamente equilibrado, enquanto houve oscilação das médias concernentes às mulheres.

Semestre: Nos semestres analisados, o semestre V apresentou maior grau de estresse, atingindo 51,7% dos estudan tes entrevistados, segu ido pelos semestres VI, III e VII, com percentagens estatisticamente se melhantes {p = 0,072): 41,3%, 41,1% e 41% dos estudantes, respectivamente. O semestre com menor índice indicativo de distúrbios emocionais foi o semestre I, com 21,31% dos estudantes, seguido pelos semestres IV e II, com percentuais iguais a 24,6 % e 28,6%, respectivamente. Relacionando as médias de pontuação do GHQ, o maior índice surge no semestre V, sendo igual a 4,17 (pontuação acima do limite aceitável), seguido pelo semestre III, semestres Vl e VII, semestre IX, semestre VIII, semestre II e, finalmente, os semestres I e IV, com médias iguais (Gráfico 2).

Gráfico 2
Média dos escores do GHQ-12 dos estudantes de Medicina da UFC por semestre e por sexo, Fortaleza, 2002.

Estado civil: As pessoas casadas mostraram médias inferiores (2,74; n = 23) às correspondentes aos solteiros (3,10; n = 523) e divorciados (6; n = 1). As mulheres solteiras exibiram índices maiores que os dos homens solteiros, mas os homens casados mostraram índices superiores aos das mulherescasadas. No entanto, estes dados não puderam ser analisados estatisticamente, já que existe uma quantidade extremamente pequena de estudantes casados e divorciados.

DISCUSSÃO

Os principais achados deste estudo foram: primeiro, alta percentagem de estudantes de Medicina com escores acima de 3 do GHQ-12 (35,4%), similar à encontrada por Firth20 (31,2%) ou Guthrie2121. Guthrie EA, Black D, Shaw CM, Hamilton J, Creed FH, Tomenson B. Embarking upon a medical career: psychological morbidity in first year medical students. 1995; 29, 337-41. para o primeiro ano do curso de Medicina da Universidade de Manchester (36,6%). Stewart2222. Stewart SM. Predicting stress in first year medical students: a longitudinal study. Med Educ. 1997; 163-168., investigando as percepções e preocupações dos es tudantes durante o primeiro ano clínico, relata que os alunos encontram e procuram resolver três principais problemas: como acomodar a discrepância entrea realidade e suas expectativas em relação ao sistema de funcionamento e ao currículo da escola médica; como tolerar a perda da "velha" auto-imagem e aprender a construir uma nova; e como manejar suas próprias reações emocionais às pressões de conteúdos emocionais intensos, como sexo e morte.

Segundo, este estudo mostra uma alta prevalência de estresse em mulheres em relação aos homens, o que está de acordo com alguns trabalhos22. Helmers KF. Stress and depressed mood in medical students, law students and graduate students at McGill University. Academic Medicine. 1997; 72, 704-714.,33. Rosal CM. A longitudinal study of students depression at one medical school. Acad Med . 1997; 72:542-546.,66. Toews JA; Lockyer JM; Dobson DJ; Simpson E; Brownell AK; Brenneis F; MacPherson KM; Cohen GS. Analysis of stress levels among medical students, residents, and graduate students at four Canadian schools of medicine. Acad Med. 1997 Nov;72(11):997-1002.. As estudantes de Medicina nos Estados Unidos apresentam maior vulnerabilidade para desenvolver sintomas de estresse, insatisfações e sinais mais sérios de doenças psiquiátricas,como suicídio2323. Stewart SM, Betson C, Marshall I, Wong CM, Lec PW, Lam TH. Stress and vulnerability in medical students. Med Educ . 1995; 29:119-127.,2424. Davidson V. Coping styles of women medical students. P. Med. Educ 1978;53:902-7.. Há três possíveis explicações para este fato: as mulheres podem ser mais susceptíveis ao estresse do que os homens; podem ser mais espontâneas em admitir o estresse ou as dificuldades enfrentadas do que os homens; podem, de fato, vivenciar mais estresse do que os homens (Firth2020. Firth J. Leveis and sources of stress ín medical students. Mcd Practice 1986; 292, 1177-1189.). No entanto, outros estudos não observaram diferenças significativas entre homens e mulheres99. Berútez CG, Quintero JB, Torres RB. Prevalence of risk for mental disorders among undergraduate medical students at the Medical School of the Catholic Universily of Chile. Rev Med Chil. 2001 Feb;129(2):173-8.,1212. Williams KF, Thomas P, Gordon A, Williams-Brown S. An assessment of stress among clinical medical students of the university at the West Indies, Mona Campus, West Indian Journal, 1996, 45, 2:41-72.,2020. Firth J. Leveis and sources of stress ín medical students. Mcd Practice 1986; 292, 1177-1189.,2121. Guthrie EA, Black D, Shaw CM, Hamilton J, Creed FH, Tomenson B. Embarking upon a medical career: psychological morbidity in first year medical students. 1995; 29, 337-41.,2323. Stewart SM, Betson C, Marshall I, Wong CM, Lec PW, Lam TH. Stress and vulnerability in medical students. Med Educ . 1995; 29:119-127..

Terceiro, houve maior taxa de distúrbios emocionais no semestre V. Este foi o único semestre em que a média de pontuação do GHQ ficou acima de 4, indicando grande percentagem de estudantes estressados neste grupo: 51,67%. É neste período que se dá a transição das disciplinas básicas para as clínicas na grade curricular da universidade em estudo, o que confirma os achados de Helmers22. Helmers KF. Stress and depressed mood in medical students, law students and graduate students at McGill University. Academic Medicine. 1997; 72, 704-714. e Williams et al1212. Williams KF, Thomas P, Gordon A, Williams-Brown S. An assessment of stress among clinical medical students of the university at the West Indies, Mona Campus, West Indian Journal, 1996, 45, 2:41-72.. Nos dois primeiros anos, os alunos de Medicina da UFC recebem um ensino eminentemente teórico nas disciplinas básicas, que são complementad as por práticas em laboratório, com destaque para Anatomia Humana. Já neste semestre, os alunos iniciam as disciplinas clinicas e têm maior contato com os pacientes, pois passam a ter aulas práticas nas enfermarias e ambulatórios. Wolf2525. Wolf TM. Stress, coping and health: Enhancing well-being during medical school. J Med Educ .1994; 28:8-17. identificou como principais problemas que atingem os es tudantes da clínica o cuidado com os pacientes, a convivência com os professores da área clínica e ausência de tempo para a vida social. Helmers22. Helmers KF. Stress and depressed mood in medical students, law students and graduate students at McGill University. Academic Medicine. 1997; 72, 704-714. sugeriu que a possível interpretação para esses dados é a dificuldade dos estudantes em se adaptar a suas novas responsabilidades durante o treinamento clínico. Já Supe55. Supe AN. A study of stress in medical students at Seth G.S. Medical College. J Postgrad Med. 1998 Ed. Jan-Mar;44(l): 1-6. sugere que a competição de conhecimentos com professores e profissionais formados é a maior causa de estresse para estudantes da clínica.

Quarto, o semestre IV apresentou a menor média de pontuação no GHQ. Este semestre é atípico no currículo da universidade em estudo, pois está baseado no método de ensino PBL (Prolem-Based Learning ), que desafia o aluno a aprender em discussões em grupo, buscando soluções para problemas reais lançados por seus tutores. A carga horária de aulas teóricas e práticas é inferior à dos outros semestres, deixando para o aluno bastante tempo livre para estudo e atividades pessoais.

CONCLUSÃO

Algumas limitações deste trabalho podem ser citadas. Primeiro, não foram determinados os mecanismos de proteção dos alunos que obtiveram um escore < 3 no GHQ-12, ou seja, daqueles que não tinham estresse, pois este trabalho exigia anonimato. Segundo, se o nível de estresse está relacionado a algum tipo de professor ou disciplina. Entretanto, tal feito pode não ser decisivo, mas, sim, a estrutura de personalidade do próprio estudante, que não é objeto de pesquisa deste trabalho.

Estes fatos levam a inferir que o curso de Medicina, da maneira como está estruturado atualmente, pode constituir um fator desencadeante de distúrbios emocionais nos estudantes. Assim, a Diretoria da Faculdade de Medicina decidiu modificar a grade curricular do curso, estruturando-o de forma semelhante ao método PBL. Este trabalho dá suporte a esta mudança curricular, mostrando que o semestre estruturado desta forma foi o que causou menos estresse no aluno durante o período de estudo.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Mosley TH Jr., Perrin SG, Neral SM, Dubbert PM,Grothues CA, Pinto BM, Pinto BM. Stress, coping, and well being among third-year medical students. Acad Med. 1994; 69:765-7.
  • 2
    Helmers KF. Stress and depressed mood in medical students, law students and graduate students at McGill University. Academic Medicine. 1997; 72, 704-714.
  • 3
    Rosal CM. A longitudinal study of students depression at one medical school. Acad Med . 1997; 72:542-546.
  • 4
    Saipanish R. Stress among medical students in a Thai medical school.: Med Tcach. 2003 Sep;25(5):502-6.
  • 5
    Supe AN. A study of stress in medical students at Seth G.S. Medical College. J Postgrad Med. 1998 Ed. Jan-Mar;44(l): 1-6.
  • 6
    Toews JA; Lockyer JM; Dobson DJ; Simpson E; Brownell AK; Brenneis F; MacPherson KM; Cohen GS. Analysis of stress levels among medical students, residents, and graduate students at four Canadian schools of medicine. Acad Med. 1997 Nov;72(11):997-1002.
  • 7
    Vaz RF; Mbajiorgu, Ef; Acuda SW. A preliminary study of stress leveis among first year medical students at the Universily of Zimbabwe. Cent Afr J Med. 1998 Sep; 44(9):214-9.
  • 8
    Silver HK. Medical student and medical school. Jamaica, 1982; 247:304-320.
  • 9
    Berútez CG, Quintero JB, Torres RB. Prevalence of risk for mental disorders among undergraduate medical students at the Medical School of the Catholic Universily of Chile. Rev Med Chil. 2001 Feb;129(2):173-8.
  • 10
    Miller PMcC, Surtees PG. Psychological symptoms and their course in first-year medical students as assessed by the Interval General Hcalth Questionnaire (I-GHQ ). Br J Psychiatry 1991; 159:199-207.
  • 11
    Restrepo AR, Jaramillo FR, Marín JCR. Estres en estudiantes de medicina del Instituto de Ciências de la Salud, CES Medicina. 1998; 2:38-43.
  • 12
    Williams KF, Thomas P, Gordon A, Williams-Brown S. An assessment of stress among clinical medical students of the university at the West Indies, Mona Campus, West Indian Journal, 1996, 45, 2:41-72.
  • 13
    Goldberg D, Willianms PA. A User's Cuide to the General Health Questionnaire. Berkshire: NFER-Nelson; 1988.
  • 14
    Schmitz N, Kruse J, Alberti L, Tress W. Diagnosing mental disorders in primary care: the General Health Questionnaire (CHQ) aod the Symptom Check List (SCL-90-R) as screening instruments. Soc Psychiatr Epidemiol. 1999: 34:360-366.
  • 15
    Randanovic Z, Eric LJ. Validity of the General Health Questionnaire in Yugoslav Student population. Psychol Med. 1983; 13:205-7.
  • 16
    Bank MV. Validation of the General Health Questionnaire in a young community sample. Psychol Med . 1983; 13:349- 53.
  • 17
    Mari JJ, Williams P. A comparisom of the validity of two psychiatric scieening questionnaires (GMQ-12 and SRQ-20) in Brazil, using Relative Operating Characteristic (ROC) analysis. Psychol Med . 1985; 15:651-659.
  • 18
    Lewis G, Pelosi AJ, Araya R, Dunn C. Measuring psychiatric disorder in the community: a standardized assessment for use by lay interviewers. Psychol Med . 1992; 22:465-86.
  • 19
    Norusis MJ. SPSS for Windows-Base System Users Guide - Release 6.0; 1993.
  • 20
    Firth J. Leveis and sources of stress ín medical students. Mcd Practice 1986; 292, 1177-1189.
  • 21
    Guthrie EA, Black D, Shaw CM, Hamilton J, Creed FH, Tomenson B. Embarking upon a medical career: psychological morbidity in first year medical students. 1995; 29, 337-41.
  • 22
    Stewart SM. Predicting stress in first year medical students: a longitudinal study. Med Educ. 1997; 163-168.
  • 23
    Stewart SM, Betson C, Marshall I, Wong CM, Lec PW, Lam TH. Stress and vulnerability in medical students. Med Educ . 1995; 29:119-127.
  • 24
    Davidson V. Coping styles of women medical students. P. Med. Educ 1978;53:902-7.
  • 25
    Wolf TM. Stress, coping and health: Enhancing well-being during medical school. J Med Educ .1994; 28:8-17.

ANEXO

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Abr 2020
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2005

Histórico

  • Recebido
    07 Maio 2004
  • Revisado
    25 Out 2004
  • Revisado
    06 Maio 2005
  • Aceito
    11 Maio 2005
Associação Brasileira de Educação Médica SCN - QD 02 - BL D - Torre A - Salas 1021 e 1023 | Asa Norte, Brasília | DF | CEP: 70712-903, Tel: (61) 3024-9978 / 3024-8013, Fax: +55 21 2260-6662 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: rbem.abem@gmail.com