Acessibilidade / Reportar erro

Monitoria Acadêmica em Semiologia Médica: Descrição e Avaliação de uma Nova Experiência

Resumo:

O presente artigo refala uma nova experiência de metodologia de ensino -aprendizagem descritas pelos próprios monitores, desenvolvida no curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina, junto à disciplina de Semiologia. Esta monitoria acadêmica caracterizou-se pelas seguintes inovações: 1) Autonomia do monitor na elaboração do programa de atividades e, 2) Avaliação concomitante do método, através de questionários elaborados pelos monitores, aplicados periodicamente com o objetivo de identificar e caracterizar os principais fatores, prejudiciais e/ou benéficos, a fim de otimizar tal atividade acadêmica.

Os autores descrevem o processo de seleção dos monitores, atividades desenvolvidas, dificuldades encontradas, resultados obtidos, e concluem que a modalidade de ensino com a utilização de monitores, mostra-se de extrema utilidade e importância no processo de formação médica, propiciando a transmissão de conhecimentos, aquisição de raciocínio crítico e estímulo à futura carreira universitária.

Palavras-chave:
Ensino em Semiologia Médica; Monitoria em Semiologia Médica; Avaliação de Ensino Médico; Metodologia de Ensino Médico

Summary:

This article describes a new experiences of teaching methodology developed by the Medical Anamnesis and Physical Diagnosis at the School of Medicine of Universidade Estadual de Londrina. This academic teaching methodology was caracterized by: 1) The independence of the monitors to determinate the schedule of the activities and, 2) Continuous evaluation of the method, applied periodically to identify the major problems in order to improve the teaching method.

The authors describe the selecting process of the monitors, activities carried out, unexpected difficulties, results anel conclude that· the proposed methodology is extremely useful in Medical Education and play an important role in improving knowledge, reasoning and stimulating a future University carrier.

Keywords:
Teaching of Medical Anamnesis and Physical Diagnosis; Evaluation of Medical Teaching; Monitors of Medical Anamnesis and Physical; Diagnosis; Methodology of Medical Teaching

FUNDAMENTOS

O processo de formação médica vem passando constantemente por reformações e restruturações a fim de propiciar o desenvolvimento de habilidades, raciocínio crítico, comunicação e trabalho solidário.11. ALMEIDA, I.S. et al. Experiências da monitoria de medicina preventiva e comunitária na Universidade Federal de Uberlândia. R. Bras. Educ. Méd. Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, p. 34-35, jan/ abr 1986.)-(99. SOBRAL, D.T. Participação estudantil na melhoria da formação médica. R. Bras. Educ. Méd., Rio de Janeiro , v. 10, n. 1, p. 19-22, jan/ abr., 1986.),(1212. KAUFMAN A. Implementing problem based medical education. New York: Springer Press, 1985.),(1313. MEYERS C. Teaching students to think: critically. San Francisco: Jossey-Bass Publishers, 1987

Os modelos inovativos de educação médica tendem a privilegiar a formação didática, paralelamente a uma aquisição e transmissão de conhecimentos, habilidades e atitudes, tendo como base o domínio da metodologia científica.66. HJLGERT, S. L. T. et al. Plano de ação do corpo de monitores do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Revista HCPA, v. 8, n. 2, p. 120-122, ago., 1986.),(88. SOBRAL, D.T. Descrição e avaliação de uma nova modalidade de ensino-aprendizagem em pequeno grupo. R. Bras. Educ. Méd., Rio de Janeiro , v. 10, n. 2, p. 77-81, maio \ago. 1986.),(1212. KAUFMAN A. Implementing problem based medical education. New York: Springer Press, 1985.),(1313. MEYERS C. Teaching students to think: critically. San Francisco: Jossey-Bass Publishers, 1987 A modalidade de ensino-aprendizagem com a utilização de monitores vem de encontro com estas diretrizes como forma alternativa, complementar e de auxílio no processo de formação sócio-profissional do aluno.99. SOBRAL, D.T. Participação estudantil na melhoria da formação médica. R. Bras. Educ. Méd., Rio de Janeiro , v. 10, n. 1, p. 19-22, jan/ abr., 1986.

A participação de alunos nesse processo vem sendo desenvolvida na maioria das escolas de Ensino Médico do país.11. ALMEIDA, I.S. et al. Experiências da monitoria de medicina preventiva e comunitária na Universidade Federal de Uberlândia. R. Bras. Educ. Méd. Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, p. 34-35, jan/ abr 1986.),(22. ALMEIDA, I.S. et al. Monitoria de medicina preventiva e comunitária na Universidade Federal de Uberlândia: tecnologia de processo. R. Bras. Educ. Méd. Rio de Janeiro , v. 10, n. 1, p. 32-33, jan/abr. 1989.),(33. CONRADO, C. Avaliação sistemática do ensino-aprendizado. R. Bras. Educ. Méd., Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, p. 107-109, maio/ago., 1986.)(55. GORDAN, L. N. Propostas de atividades em monitoria na disciplina de semiologia médica. Semina Ci. Biol./Saúde, Londrina, v. 14, n. 2, p. 58-60, jun. 1993.),(66. HJLGERT, S. L. T. et al. Plano de ação do corpo de monitores do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Revista HCPA, v. 8, n. 2, p. 120-122, ago., 1986.),(88. SOBRAL, D.T. Descrição e avaliação de uma nova modalidade de ensino-aprendizagem em pequeno grupo. R. Bras. Educ. Méd., Rio de Janeiro , v. 10, n. 2, p. 77-81, maio \ago. 1986.),(99. SOBRAL, D.T. Participação estudantil na melhoria da formação médica. R. Bras. Educ. Méd., Rio de Janeiro , v. 10, n. 1, p. 19-22, jan/ abr., 1986. bem como no exterior.1212. KAUFMAN A. Implementing problem based medical education. New York: Springer Press, 1985.)-(1717. YOUNG, M., POSES, R. Medical student perceptions of twe value of the history and physical examination. Journal of Medical Education , v. 58, p. 9, 1983. Em 1974, Flax & Garrard1414. FLAX J., GARRARD J. Students teaching students: a model for medical education. Journal of Medical Education, v. 49, p. 380-3, 1974. registraram um modelo educativo implantado na "University of Minnesota Medical School" onde alunos do segundo ano planejaram um curso de entrevista e história médica e aplicaram-no a alunos do primeiro ano. Em 1989, na "Dartmouth Medical School", Hanover, Ross & Walter1515. ROSS, J. M. et al. A New approach to preparing students for academic medicine. Medical Education, v. 23, p.265-9, 1989 trabalharam com alunos dos segundo e quarto anos, onde estes atuavam como preceptores em um curso paralelo de ananmese e exame físico, e compararam os resultados com o modelo padrão de ensino vigente. Em ambas experiências obteve-se sucesso, com melhora do desempenho relatado inclusive pelos próprios alunos.

Através de grupo de apoio pedagógico, monitorias ou tutorias, as iniciativas partem de objetivos comuns, dentre os quais podemos citar: potencialização de aprendizagem; utilização de nível apropriado de linguagem; redução da ansiedade negativa frente ao corpo docente; possibilidade de trabalhar em grupos menores; integração entre docentes e discentes; participação do processo de avaliação e, ainda, incentivo à pesquisa e extensão55. GORDAN, L. N. Propostas de atividades em monitoria na disciplina de semiologia médica. Semina Ci. Biol./Saúde, Londrina, v. 14, n. 2, p. 58-60, jun. 1993.),(66. HJLGERT, S. L. T. et al. Plano de ação do corpo de monitores do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Revista HCPA, v. 8, n. 2, p. 120-122, ago., 1986.),(88. SOBRAL, D.T. Descrição e avaliação de uma nova modalidade de ensino-aprendizagem em pequeno grupo. R. Bras. Educ. Méd., Rio de Janeiro , v. 10, n. 2, p. 77-81, maio \ago. 1986.),(99. SOBRAL, D.T. Participação estudantil na melhoria da formação médica. R. Bras. Educ. Méd., Rio de Janeiro , v. 10, n. 1, p. 19-22, jan/ abr., 1986.),(1414. FLAX J., GARRARD J. Students teaching students: a model for medical education. Journal of Medical Education, v. 49, p. 380-3, 1974.),(1515. ROSS, J. M. et al. A New approach to preparing students for academic medicine. Medical Education, v. 23, p.265-9, 1989.

Apesar da existência de pontos comuns nos propósitos de tais atividades, há grandes discrepâncias na metodologia aplicada nas diversas escolas médicas. Todas iniciativas, no entanto, apontam na tendência de benefício ao aprendizado, havendo, assim, um total consenso de que, quando bem elaborada, a participação estudantil no Ensino Médico culmina com o bom aproveitamento dos envolvidos, estejam eles aprendendo ou ensinando99. SOBRAL, D.T. Participação estudantil na melhoria da formação médica. R. Bras. Educ. Méd., Rio de Janeiro , v. 10, n. 1, p. 19-22, jan/ abr., 1986.),(1414. FLAX J., GARRARD J. Students teaching students: a model for medical education. Journal of Medical Education, v. 49, p. 380-3, 1974.),(1515. ROSS, J. M. et al. A New approach to preparing students for academic medicine. Medical Education, v. 23, p.265-9, 1989.

Dentro deste contexto, o departamento de Clínica Médica do Centro de Ciências da Saúde do Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina desenvolveu, durante o ano letivo de 1994, uma modalidade experimental de monitoria acadêmica destinada ao ensino de Semiologia Médica, utilizando alunos em estágios mais avançados como monitores. O caráter inovador deste processo baseou-se na ausência de um programa previamente elaborado e imposto aos monitores, e na avaliação do método de ensino utilizado.

Em se tratando da disciplina de Semiologia, o papel dos orientadores dos aprendizes, sejam docentes ou monitores, assume uma responsabilidade adicional ao de colaborar para a formação sócio-profissional do aluno, que é a responsabilidade de resgatar a propedêutica e o raciocínio fisiopatológico em Medicina. Nas últimas duas décadas houve um aumento progressivo na valorização de da­dos quantitativos em detrimento aos qualitativos1717. YOUNG, M., POSES, R. Medical student perceptions of twe value of the history and physical examination. Journal of Medical Education , v. 58, p. 9, 1983., traduzido por excessiva ênfase aos exames subsidiários, que embora de extrema necessidade, não substituem a história e exame físico, dificultando, dessa forma, a criação do vínculo médico-paciente.

ATIVIDADES REALIZADAS

1-Seleção dos monitores

Através de edital de convocação, o Departamento de Clínica Médica divulgou o local e o período durante o qual os alunos interessados em monitoria puderam inscrever-se.

O processo de seleção dos alunos candidatos à monitoria teve como principal objetivo a identificação de aptidões, partindo do prin­cípio básico da aceitação do monitor como um futuro docente66. HJLGERT, S. L. T. et al. Plano de ação do corpo de monitores do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Revista HCPA, v. 8, n. 2, p. 120-122, ago., 1986..

Foram utilizados três critérios para a seleção: análise curricular, avaliação escrita com questões relacionadas à Clínica Médica e entrevista com o aluno feita pela banca examinadora, composta por três docentes do Departamento.

A análise curricular proporcionou urna noção superficial do desempenho do aluno nas diversas disciplinas já cursadas, por priorizar a avaliação cognitiva, bem como a identificação de outros trabalhos e atividades realizadas (peso 1)

A avaliação escrita era constituída de questões que permitam respostas abrangentes possibilitando expressão de conhecimentos em termos de quadro clínico, achados semiológicos e fisiopatologia dos sinais e sintomas (peso 2).

A entrevista com o aluno foi o principal critério determinante no processo de seleção. Ao contrário da avaliação escrita, não foram aqui utilizadas questões relacionadas à disciplina, mas perguntas objetivando a identificação da vocação do aluno para a atividade de ensino, priorizando a psicoafetividade e o interesse pela monitoria (peso 3).

Ao término do primeiro semestre foram selecionados mais quatro monitores. O objetivo desta segunda seleção foi o incrementar a frequência das atividades, entretanto, não foram utilizados os critérios descritos acima, sendo baseada apenas na análise curricular dos alunos inscritos.

2-Desenvolvimento

Um dos aspectos inovativos desta experiência em metodologia de ensino, foi o da não utilização de um programa previamente elaborado e imposto aos monitores. Cada monitor era dotado de autonomia para exercer suas atividades junto aos alunos. Houve, entre tanto, uma supervisão constante do corpo docente, fornecendo respaldo e orientações na programação das atividades. Reuniões periódicas eram realizadas com o intuito de troca de experiências e discussão das dificuldades encontradas.

2a - Programa

Cada monitor trabalhou com um grupo de 15 alunos do segundo ano do curso de Medicina. A determinação dos horários das atividades ficou a cargo dos monitores, em comum acordo com seus respectivos alunos. Em média eram realizadas duas sessões semanais de monitoria, dentro das modalidades descritas a seguir:

  1. Seminários e debates dos diversos temas dentro da disciplina, com participação dos alunos e monitores;

  2. Exposições teóricas feitas pelos monitores, utilizando recursos didáticos como "slides", fitas cassete, exames radiológicos pertencentes ao arquivo deste Hospital, etc.;

  3. Atividades práticas relacionadas à propedêutica, entre os próprios alunos, orientadas pelos monitores;

  4. Atividades práticas à beira do leito, como pacientes internados, realizadas previamente pelo monitor e posteriormente pelos alunos;

  5. Discussão de casos clínicos hipotéticos preparados e redigidos pelo monitor, enfocando diversos aspectos clínicos e fisiopatológicos de determinada doença e seus diagnósticos diferenciais;

  6. Discussão de casos clínicos verídicos. A partir de dados obtidos à beira do leito, os casos eram discutidos posteriormente, utilizando os princípios da dinâmica de grupos, que incentiva a participa­ção ativa dos alunos1111. BORDENAVE, Juan Diaz; PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de ensino-aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 1991..

  7. Distribuição de material didático de auxílio (glossários, roteiros, etc.) e orientação bibliográfica.

2b - Atividades científicas

Dentro das atividades dos monitores normatizou-se o desenvolvimento de atividades científicas na forma de dois trabalhos sob orientação dos docentes. Um dos trabalhos consistiu de pesquisa clínica prospectiva realizada na enfermaria de Pronto-Socorro, por dois dos quatro monitores. Em outro trabalho, os outros monitores foram responsáveis pela avaliação e relato desta experiência de ensino-aprendizagem.

2c - Dificuldades encontradas

Inicialmente surgiram algumas dificuldades, expostas e discutidas pelos monitores durante as reuniões periódicas, sendo as mais frequentes citadas abaixo:

  1. Ausência de experiência prévia na elaboração de um programa de atividades didáticas;

  2. Estabelecimento de credibilidade recíproca entre monitores e alunos;

  3. Instituição de um cronograma com horários fixos devido a incompatibilidade e disponibilidade de tempo;

  4. Concomitância de disciplinas do ciclo básico que determinou prejuízo à compreensão de temas desenvolvidos dentro da Semiologia.

Algumas dificuldades puderam ser contornadas através de acordos e adaptações entre alunos e monitores. Assim, a realização de atividades em dias não úteis minimizou o problema da incompatibilidade de horários. Exemplificamos através das monitorias realizadas aos sábados, sem prejuízo à frequência dos alunos, fato este, altamente satisfatório e de grande estímulo aos monitores na continuidade do trabalho.

RESULTADOS E IMPLICAÇÕES

Durante o ano letivo de 1994, os autores desenvolveram um processo de avaliação metodológica da monitoria na disciplina de Semiologia. Esta consistiu na aplicação periódica de questionários onde os alunos tinham oportunidade de criticar, sugerir, avaliar o desempenho e o programa didático dos monitores e, ainda, apontar para as deficiências dentro da disciplina de um modo geral.

As questões eram dos tipos múltipla escolha e abertas, possibilitando críticas e sugestões e abordavam assuntos variados, como: experiência prévias do aluno com monitorias; frequência do aluno nas atividades de monitoria; disponibilidade e compatibilidade de horários; desempenho na disciplina e influência da monitoria; metodologia de ensino mais eficaz; conteúdo dado pelos monitores; análise crítica da forma dê avaliação.

Os questionários foram aplicados bimestralmente, sendo modificados no decorrer do curso, de acordo com os resultados obtidos e mudanças ocorridas, como a aquisição de novos monitores. Desta forma, no segundo semestre, foram inseridas questões relaciona das ao aumento do número de monitores, solicitando avaliação e identificação dos possíveis benefícios e dificuldades trazidos pela mudança.

Após análise qualitativa e quantitativa, pôde-se identificar pontos comuns entre as opiniões da grande maioria dos alunos (Quadro 1 e 2):

  1. As atividades de monitoria desenvolvidas da forma descrita, foram consideradas relevantes para o aprendizado médico, na opinião da quase totalidade de alunos (98,3%);

  2. As discussões de casos clínicos foram apontadas como atividade preferenciais e de maior contribuição para o entendimento e assimilação dos assuntos abordados (96,3%);

  3. As atividades práticas à beira do leito, demonstrativas ou não, com a participação direta dos alunos, também mostraram-se bem aceitas pela maioria (65%);

  4. As atividades teóricas em sala de aula tiveram menor aceitação (7%);

  5. A introdução de novos monitores no segundo semestre do ano letivo, sem os critérios de seleção descritos inicialmente, também pôde ser avaliada pelos alunos. Esta abordagem foi feita através de questões abertas, havendo uma variabilidade muito grande de respostas, dificultando, assim, a análise quantitativa.

QUADRO 1
Importância das atividades de monitoria na opinião do aluno

QUADRO 2
Preferência e desempenho dos alunos em relação às atividades desenvolvidas*

De um modo geral, houve desaprovação das mudanças ocorridas. Incompatibilidade de horários, descontinuidade do trabalho inicial e a não adaptação didático-metodologia do novo grupo puderam ser apontados, pelos alunos, como os principais fatores responsáveis. É necessário, entretanto, ponderar outros fatores não mencionados. A possível criação de um vínculo afetivo entre monitores e alunos desde o primeiro semestre poderia ter influenciado a opinião destes últimos em relação as mudanças. Outra variável a ser considerada foi a não padronização de um critério utilizado na seleção dos monitores, uma vez que os candidatos selecionados no segundo semestre não foram submetidos a entrevista e avaliação escrita. Em 1989, Ross & Walter trabalhando com alunos de quarto ano como preceptores de alunos do segundo ano, consideraram com ressalvas os resultados da experiência, apesar de muito positivos, devido as limitações do método, uma vez que os preceptores não passaram por processo de seleção, exercendo tais atividades voluntariamente.

A importância da monitoria pode ser verificada através dos resultados obtidos. A ausência de respostas negativas traduz a boa aceitação das atividades por parte dos alunos, indicando uma possível necessidade de um trabalho complementar, paralelo à programação dos docentes.

Dentre as atividades desenvolvidas, as que possibilitaram participação ativa dos alunos foram apontadas como preferenciais e também referidas como de maior desempenho. Em contrapartida, as atividades expositivas foram tidas como de pouco auxílio. Estes dados evidenciam a necessidade de se reconsiderar o programa de atividades dentro da disciplina de Semiologia, questionando uma maior ênfase às atividades práticas vinculadas ao raciocínio clinico como, por exemplo, na forma de discussão de casos.

Em relação aos benefícios trazidos através da participação discente no Ensino Médico, em nossa experiência pode-se reiterar as constatações de trabalho anteriores11. ALMEIDA, I.S. et al. Experiências da monitoria de medicina preventiva e comunitária na Universidade Federal de Uberlândia. R. Bras. Educ. Méd. Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, p. 34-35, jan/ abr 1986.)-(1010. ZAGO, M. A. Inconsistência metodológica no ensino da anamnese nas Escolas de Medicina. R. Bras. Educ. Méd., v. 35, n. 2, p. 77-81, maio/ago., 1989..

A oportunidade de contribuir para formação de colegas em estágios mais iniciais, trouxe não só satisfação pessoal como aquisição e aprofundamento de conhecimentos, além de despertar e intensificar o interesse na carreira docente.

O desenvolvimento de novos métodos de ensino-aprendizagem utilizando graduandos, mostra-se benéfico para os aprendizes e para a instituição, devendo portanto, ser estimulado nas diversas disciplinas do curso médico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • 1
    ALMEIDA, I.S. et al. Experiências da monitoria de medicina preventiva e comunitária na Universidade Federal de Uberlândia. R. Bras. Educ. Méd. Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, p. 34-35, jan/ abr 1986.
  • 2
    ALMEIDA, I.S. et al. Monitoria de medicina preventiva e comunitária na Universidade Federal de Uberlândia: tecnologia de processo. R. Bras. Educ. Méd. Rio de Janeiro , v. 10, n. 1, p. 32-33, jan/abr. 1989.
  • 3
    CONRADO, C. Avaliação sistemática do ensino-aprendizado. R. Bras. Educ. Méd., Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, p. 107-109, maio/ago., 1986.
  • 4
    FILHO, C. F. Reflexões sobre o ensino e a prática médica. JBM, v. 47, n. 4, out., 1984.
  • 5
    GORDAN, L. N. Propostas de atividades em monitoria na disciplina de semiologia médica. Semina Ci. Biol./Saúde, Londrina, v. 14, n. 2, p. 58-60, jun. 1993.
  • 6
    HJLGERT, S. L. T. et al. Plano de ação do corpo de monitores do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Revista HCPA, v. 8, n. 2, p. 120-122, ago., 1986.
  • 7
    OKAY, Y. O Resgate da semiologia e do raciocínio fisiopatológico em medicina. Pediatria - Revista do Centro de Estudos "Prof. Pedro de Alcântara". Instituto da Criança do Hospital das Clinicas da FMUSP, v. 15, n. 2, 1993.
  • 8
    SOBRAL, D.T. Descrição e avaliação de uma nova modalidade de ensino-aprendizagem em pequeno grupo. R. Bras. Educ. Méd., Rio de Janeiro , v. 10, n. 2, p. 77-81, maio \ago. 1986.
  • 9
    SOBRAL, D.T. Participação estudantil na melhoria da formação médica. R. Bras. Educ. Méd., Rio de Janeiro , v. 10, n. 1, p. 19-22, jan/ abr., 1986.
  • 10
    ZAGO, M. A. Inconsistência metodológica no ensino da anamnese nas Escolas de Medicina. R. Bras. Educ. Méd., v. 35, n. 2, p. 77-81, maio/ago., 1989.
  • 11
    BORDENAVE, Juan Diaz; PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de ensino-aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 1991.
  • 12
    KAUFMAN A. Implementing problem based medical education. New York: Springer Press, 1985.
  • 13
    MEYERS C. Teaching students to think: critically. San Francisco: Jossey-Bass Publishers, 1987
  • 14
    FLAX J., GARRARD J. Students teaching students: a model for medical education. Journal of Medical Education, v. 49, p. 380-3, 1974.
  • 15
    ROSS, J. M. et al. A New approach to preparing students for academic medicine. Medical Education, v. 23, p.265-9, 1989
  • 16
    WASSON, J. et al. Teaching physical diagnosis: the effect of a structured-course taught by medical students. Journal of Medical Education , v. 51, p.1014-5, 1976
  • 17
    YOUNG, M., POSES, R. Medical student perceptions of twe value of the history and physical examination. Journal of Medical Education , v. 58, p. 9, 1983.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Nov 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 1997
Associação Brasileira de Educação Médica SCN - QD 02 - BL D - Torre A - Salas 1021 e 1023 | Asa Norte, Brasília | DF | CEP: 70712-903, Tel: (61) 3024-9978 / 3024-8013, Fax: +55 21 2260-6662 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: rbem.abem@gmail.com