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Formação do médico geral. Importância da participação do estudante em programas comunitários.

INTRODUÇÃO

Para a implantação do Sistema Nacional de Saúde se faz necessário racionalizar os setores que prestam assistência, incluindo os hospitais de ensino, e torna se imprescindível a participação das universidades na formação de pessoal que irá integrar o fluxo de atendimento.55. LEI No 6.229, de 17 de julho de 1975, que dispõe sobre a organização do Sistema Nacional de Saúde.

O otimismo em se obter, cada vez mais, médicos com formação geral, expresso por CHAVES, não será utópico quando as escolas médicas se imbuírem daquele desejo, alterando os currículos.44. CHAVES, M. M. - Formação do Médico Generalista; Novos rumos. Revista Brasileira de Educação Médica. Supl. 1, 113-123, 1978.

As universidades devem ter um papel relevante no desenvolvimento da comunidade na qual estão inseridas. Seja qual for o modelo de desenvolvimento escolhido por um país a comunidade deve ser orientada e estimulada a desempenhar um processo de habilitação para o próprio desenvolvimento.66. REUNIÃO ESPECIAL DE MINISTROS DE SAÚDE DA AMÉRICA. 4, Washington D.C. Conceito de participação da comunidade. 1977. p. 13-6.

Com a finalidade de despertar o interesse dos estudantes de Medicina, Enfermagem, Serviço Social e Nutrição pela Medicina Comunitária, foi montado um projeto (UMPE) com a participação de uma equipe multiprofissional. Este projeto está inserido no Programa Integrado de Saúde Materno-Infantil (PISMI) que vem sendo mantido pela fundação Kellogg, há dois (2) anos na Universidade Federal Fluminense. Ultimamente através de um convênio com a Prefeitura de Niterói, a Secretaria Municipal de Saúde passou a participar efetivamente do Programa.

CARACTERÍSTICAS DO PROJETO UMPE (Unidade Móvel Pendotiba)

Para o desenvolvimento do projeto foi escolhida uma região (Pendotiba) do município de Niterói, que tem características rurais, embora em início de urbanização, com uma área aproximada de 10 km2 e 33.000 habitantes.

Após o levantamento da região, executado com auxílio da Secretaria Municipal de Saúde, foi implantado o projeto no setor denominado Maria Paula, por ser o mais distante da Unidade Municipal de Saúde (cerca de 15 km) e do centro de Niterói (cerca de 25 km).

Equipe Médica: três (3) estudantes de medicina dos primeiros períodos, dois (2) internos do 6o ano e um (1) médico.

Equipe de Enfermagem: dois (2) estudantes do 5o período, orientados por uma docente da cadeira de Enfermagem Materno-Infantil e urna (1) auxiliar de enfermagem.

Equipe de Serviço Social: um (1) estudante e uma (1) assistente social.

Os estudantes das diversas áreas integradas ao projeto, participam do programa através de um sistema de rodízio.

O projeto conta ainda com a equipe de Coordenação do PISMT, constituída de docentes de Pediatria, Saúde da Comunidade, Obstetrícia, Enfermagem, Serviço Social e Nutrição, um Coordenador Geral e um subcoordenador.

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

As equipes são mobilizadas duas (2) vezes por semana, permanecendo quatro (4) a seis (6) horas diárias na unidade móvel, que é atualmente instalada no pátio de uma das escolas, em Maria Paula.

Concomitantemente são realizadas palestras e outras atividades educativas (peças teatrais e demonstrações) nas escolas, igrejas, em horários preestabelecidos - visando a EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE.

A comunidade foi mobilizada a participar das atividades através de reuniões, comunicação escrita aos familiares dos escolares e visitas domiciliares. A partir daí foram localizados alguns líderes da comunidade, entre os quais duas (2) “parteiras”, que foram encaminhadas à coordenadora das atividades de enfermagem materno-infantil para o devido treinamento.

Vários membros da comunidade se mostraram interessados em aulas práticas sobre primeiros socorros, prevenção de acidentes, aplicação de injeção e outros, as quais são administrados pelos alunos de enfermagem, na Unidade móvel. Um outro tipo de atividade também realizada na UMPE são as visitas domiciliares, executadas por estudantes de medicina, enfermagem, serviço social, objetivando captar o nível de informações sobre saúde daquela população, divulgar o programa, dar orientação e convocar para a unidade aqueles pacientes que não deram seguimento ao programa de vacinações.

As consultas médicas a crianças, gestantes e puérperas são realizadas por internos (alunos do 6o ano) supervisionados por médico.

Todas as vacinas preconizadas pelo Ministério da Saúde são aplicadas, e fornecidas aos pais as carteiras de vacinação.

Através de uma ficha única de atendimento, que é utilizada nas unidades municipais de saúde, pode-se detectar pacientes que não estão retornando para o seguimento do programa de vacinação.

Os resultados obtidos têm sido animadores, pois, até o momento, tem havido um número crescente de consultas, vacinações, palestras e outras atividades. A média de atendimento mensal tem oscilado em 30 visitas domiciliares, 40 consultas médicas e de enfermagem, 60 vacinações (crianças e gestantes). Já foram treinadas na comunidade quinze (15) pessoas que estão aptas para atendimento de primeiros socorros. No momento estão sendo recicladas duas “curiosas” que já atuam na área há muitos anos.

Os estudantes de medicina, dos primeiros períodos, participam também, de palestras e apresentação teatral, após receberem um treinamento prático em primeiros socorros, prevenção de acidentes e doenças.

Segundo a estratégia do PISMI, utiliza-se como referência e derivação o Núcleo de Orientação a Saúde Materno-Infantil para situações de médio e alto risco, localizado no Hospital Universitário Antonio Pedro.

Os pacientes que merecem atenção de nível primário (pré-natal e atendimento pediátrico básico) são encaminhados para acompanhamento na Unidade Municipal de Saúde, tanto pela equipe do núcleo como pelos médicos assistentes do HUAP.

COMENTÁRIOS

A preocupação exagerada de educadores médicos em solucionar o problema da especialização frente à realidade de nossa população tem sido motivo de vários estudos. A crise da medicina, segundo BASTOS, envolve uma problemática complexa, que inclui o grande desenvolvimento de tecnologia e os extremismos da especialização.11. BASTOS, N. C. B. - A medicina da comunidade - Revista de Educação Médica. Supl. 1, 51-66, 1978.

De acordo com BRAGA, vários países enfrentam problemas em relação aos recursos humanos, pois a explosão técnico-científica dos últimos anos está provocando um crescente desencontro entre a demanda e a capacidade de produção por parte das instituições responsáveis por sua preparação.22. BRAGA, E. - Planejamento de Saúde e integração docente-assistencial: algumas considerações. R. Adm. Públ. 11 (3):57-68, 1977.

A regionalização docente assistencial tem sido enfatizada por responsáveis pela educação médica como a peça fundamental para a solução do problema. Segundo CHAVES, a criação de uma área docente-assistencial envolve as características de administração por projetos.33. CHAVES, M. M. - Regionalização docente-assistencial e níveis de assistência. R. Adm. Públ . (3):69-80, 1977.

Em Niterói, o Programa Integrado de Saúde Materno-Infantil, patrocinado pela Fundação Kellogg, há 2 anos vem influenciando na formação dos estudantes universitários da área de saúde. Este projeto (UMPE), além de se integrar aos dois outros projetos já em desenvolvimento, tem cunho educativo específico utilizando uma estratégia de ação com participação comunitária.

Vale acrescentar que ao se perceber, que a Comunidade atingiu um melhor nível de desenvolvimento, em termos de saúde, faz parte do plano a seleção de um novo ponto estratégico.

A implementação deste projeto, além de facilitar as ações docentes vem permitir uma reformulação de objetivos e da política de atenção materno-infantil, visando a regionalização e hierarquização de ações com atividades dirigidas para as prioridades de cada grupo em causa.

Desta forma se busca melhores estratégias em se tornar realizável, o objetivo maior da Política do Governo - o bem-estar social.

Espera-se pois, ao final de um semestre:

  • obter reflexos positivos com base na avaliação da população atingida (paciente materno-infantil e núcleo familiar) da Comunidade de Pendotiba e da equipe atuante M.E.S. (Medicina, Enfermagem e Serviço Social).

Referências Bibliográficas

  • 1
    BASTOS, N. C. B. - A medicina da comunidade - Revista de Educação Médica Supl. 1, 51-66, 1978.
  • 2
    BRAGA, E. - Planejamento de Saúde e integração docente-assistencial: algumas considerações. R. Adm. Públ 11 (3):57-68, 1977.
  • 3
    CHAVES, M. M. - Regionalização docente-assistencial e níveis de assistência. R. Adm. Públ . (3):69-80, 1977.
  • 4
    CHAVES, M. M. - Formação do Médico Generalista; Novos rumos. Revista Brasileira de Educação Médica Supl. 1, 113-123, 1978.
  • 5
    LEI No 6.229, de 17 de julho de 1975, que dispõe sobre a organização do Sistema Nacional de Saúde.
  • 6
    REUNIÃO ESPECIAL DE MINISTROS DE SAÚDE DA AMÉRICA. 4, Washington D.C. Conceito de participação da comunidade. 1977. p. 13-6.


FUNCIONAMENTO DE INTEGRAÇÃO PISMI - PREFEITURA


ESTRATÉGIA DO P I S M I - H.U.A.P. (REFERÊNCIA E DERIVAÇÃO)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 1980
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