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Validação de um sistema de previsão para a cercosporiose da beterraba

Validation of a forecasting system for Cercospora leaf spot of beet

RESUMO

Com o objetivo de validar um sistema de previsão, com diferentes níveis de valores de severidade estimada comparada à pulverização convencional no controle da cercosporiose da beterraba, foram conduzidos experimentos em Rio do Sul/SC durante os ciclos de cultivo de 2018, 2019 e 2020. Os programas de pulverização foram estabelecidos de acordo com valores de severidade estimada (SE) do sistema de Marcuzzo et al., atribuindo-se valores acumulados de 0,15; 0,25, e 0,35 SE e no sistema convencional com pulverizações a cada 5 e 7 dias. Não houve diferença significativa entre os tratamentos quanto à produtividade em todos os ciclos. A AACPD, a severidade final e a taxa de progresso da doença não diferiram entre os tratamentos, mas no sistema de previsão com SE=0,35 o número de pulverizações foi de 28; 57 e 67% menor em relação ao sistema de aplicação semanal nos três anos de avaliação. O uso do sistema de previsão mostrou ser uma ferramenta viável no manejo do da cercosporiose da beterraba em Santa Catarina e encontra-se disponível gratuitamente para uso da cadeia produtiva na plataforma Agroconnect da EPAGRI-CIRAM disponível em http://www.ciram.sc.gov.br/agroconnect/.

Palavras Chaves
Beta vulgaris ssp; vulgaris L; previsão de doenças; epidemiologia; Cercopora beticola

ABSTRACT

Aiming to validate a forecasting system with different levels of estimated severity values, compared to conventional spraying, to control Cercospora leaf spot of beet, experiments were conducted in Rio do Sul, Santa Catarina State, Brazil, during the crop seasons of 2018, 2019 and 2020. The spraying regimes were established according to the estimated severity values (ES) in the system of Marcuzzo et al., attributing accumulated values of 0.15, 0.25 and 0.35 ES, and in the conventional system with sprayings at every 5 and 7 days. There was no significant difference between treatments for productivity in any cycle. The area under the disease progress curve (AUDPC), the final severity and the disease progress rate did not differ among treatments, but in the forecasting system with ES=0.35 the number of sprayings was 28, 57 and 67% lower than that in the weekly application system in the three years of evaluation. The use of the forecasting system has proved to be a viable tool for the management of tlid-translationCercosporatlid-translation leaf spot in Santa Catarina State, Brazil, and is available for free for the production chain at the Agroconnect platform of EPAGRI-CIRAM: http://www.ciram.sc.gov.br/agroconnect/.

Keywords
Beta vulgaris ssp; vulgaris L; plant disease forecasting; epidemiology; Cercopora beticola

O cultivo da beterraba de mesa ou vermelha (Beta vulgaris ssp. vulgaris L.) tem ampla distribuição geográfica no Brasil (2626 Tivelli, S.W; Factor, T.L.; Teramoto, J.R.S.; Fahi, E.G.; Moraes, A.R.A.; Trani, P.E.; May, A. Beterraba, do plantio à comercialização. Série Tecnologia APTA. Boletim Técnico IAC, 210. Campinas: Instituto Agronômico. 2011, 45p.). A cultura esta entre as hortaliças de maior expressão econômica no Brasil e constitui atividade socioeconômica de grande relevância para pequenos produtores da região sul, e em especial na região do Alto Vale do Itajaí em Santa Catarina, que consta com uma área de aproximadamente 1600 hectares que é realizado em sucessão à cultura da cebola (66 EPAGRI. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina. Levantamento de espécies de hortaliças cultivadas na região do Alto Vale do Itajaí, 2010 e 2014. Epagri: Ituporanga, 2015, 7p. (Relatório de pesquisa).).

A cercosporiose é a principal doença da cultura e na região do Alto Vale do Itajaí tem grande importância, já que apresenta condições favoráveis de temperatura (≥22ºC) e umidade relativa do ar (≥90%) para o seu desenvolvimento. A doença pode incidir em toda a parte aérea da planta e consequentemente acaba comprometendo a produtividade (88 Ferreira, M.D.; Tivelli, S.W. Cultura da beterraba: recomendações gerais. Guaxupé, Cooxupé, 1989, 14p. (Boletim Técnico, 2)., 2121 Puiatti, M.; Finger, F.L. Cultura da beterraba. In: FONTES PCR. Olericultura: teoria e prática. Viçosa: Suprema, p.345-354, 2005., 2626 Tivelli, S.W; Factor, T.L.; Teramoto, J.R.S.; Fahi, E.G.; Moraes, A.R.A.; Trani, P.E.; May, A. Beterraba, do plantio à comercialização. Série Tecnologia APTA. Boletim Técnico IAC, 210. Campinas: Instituto Agronômico. 2011, 45p.).

Muitas das doenças de plantas têm sido controladas por métodos empíricos com consequente uso desnecessário de agrotóxicos e aumento dos custos de produção, comprometendo a rentabilidade financeira da cultura, além de impactar o meio ambiente e a possibilidade de resíduos no produto chegar à mesa do consumidor (44 Bergamim Filho, A.; Amorim, L. Doenças de plantas tropicais: epidemiologia e controle econômico. São Paulo: Ceres, 1996. 299p.).

O desenvolvimento de uma doença depende da interação entre ambiente, patógeno e hospedeiro. Quanto ao ambiente, a temperatura e o molhamento foliar são fundamentais para o processo epidemiológico, podendo ser determinados através de modelos matemáticos (1010 Jesus Junior, W.C.; Pozza, E.A.; Vale, F.X.R.; Anguilera, G.M. Análise temporal de epidemias. In: Vale, F. X. R.; Jesus Junior, W. C.; Zambolim, L. (Ed.). Epidemiologia aplicada ao manejo de doenças de plantas. Belo Horizonte: Perffil, 2004. cap.4, p.127-191., 2727 Vale, F.X.R.; Zambolim, L. Influência da temperatura e da umidade nas epidemias de doenças de plantas. Revisão Anual de Patologia de Plantas, Passo Fundo, v.4, p.149-207, 1996.).

Mediante esse contexto, o melhor manejo de controle inclui a previsão de doenças, em que estas são correlacionadas com a variação do ambiente, principalmente durante o processo da infecção (2424 Sutton, J.C. Predictive value of weather variables in the epidemiology and management of foliar disease. Fitopatologia Brasileira, Brasília, DF, v.13, n.4, p.305-312, 1988.). Segundo Bergamim Filho & Amorim (55 Bergamim Filho, A.; Amorim, L. Sistemas de previsão e avisos. In: Amorim, L.; Rezende, J.A.M.; Bergamim Filho, A. (Ed.). Manual de fitopatologia. 5. ed. Ouro Fino: Ceres, 2018. v.1, cap.19, p.289-303.), os sistemas de previsão de doenças de plantas são representações simplificadas da realidade e preveem o início ou o desenvolvimento futuro de uma doença (33 Barreto, M.; Vale, F.X.R.; Paul, P.A.; Scaloppi, E.A.G.; Andrade, D.F.A.A. Sistemas de previsão e estação de aviso. In: Vale, F. X. R.; Jesus Junior, W. C.; Zambolim, L (Ed.). Epidemiologia aplicada ao manejo de doenças de plantas. Belo Horizonte: Perffil, 2004. cap.6, p.243-266., 1313 Krause, R.A.; Massie, L.B. Predictive systems: modern approaches to disease control. Annual Review of Phytopathology, Palo Alto, v.13, n.1, p.31-47, 1975., 2323 Reis, E.M. Previsão de doenças de plantas. Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo, 2004. 316p.), além da previsão do momento adequado à pulverização com agrotóxicos (1919 Mizubuti, E.S.G. Sistema de previsão de doenças de plantas: uma ferramenta útil? In: Zambolim, L. (Ed). 1° Encontro de manejo integrado de doença e pragas. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1999. p.42-46.).

Na Europa, existe o sistema de previsão da cercosporiose da beterraba açucareira denominado Cercobet, que passou por modificações e encontra-se na terceira versão (2222 Racca, P.; Jörg E. CERCBET 3 – a forecaster for epidemic development of Cercospora beticola. Bulletin OEPP/EPPO Bulletin, Paris, v.37, p.344–349, 2007.). O sistema envolve vários fatores ambientais e da cultura e considera apenas a temperatura e a pressão de vapor como modelo, mas não diretamente o principal fator que é o binômio temperatura versus molhamento foliar. Sistemas simplificados que analisam a temperatura e a duração do molhamento foliar (1616 Marcuzzo, L.L.; Haveroth, R.; Nascimento, A. Influence of temperature and leaf wetness duration on the severity of Cercospora leaf spot of beet. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.42, n.1, p.89-91, 2016.) como o aqui validado, são de fácil funcionalidade e de interpretação dos dados pelos agricultores.

Mediante a isso, esse trabalho teve como objetivo validar um sistema de previsão para a cercosporiose da beterraba causada por Cercospora beticola.

MATERIAL E MÉTODOS

A validação do sistema de previsão da cercosporiose da beterraba foi conduzida no Instituto Federal Catarinense - IFC/Campus Rio do Sul, no município de Rio do Sul – SC, (Latitude: 27º11’07’’ S e Longitude: 49º39’39’’ W, altitude 655 metros acima do nível do mar) durante o período de 14 de setembro a 15 de dezembro de 2018; 16 de setembro a 14 de dezembro de 2019 e de 14 de setembro a 14 de dezembro de 2020 totalizando 13 semanas após a semeadura.

Os dados meteorológicos foram obtidos de uma estação Davis® Vantage Vue 300m localizado ao lado do experimento e os dados médios durante a condução do experimento foram de 18,9; 19,2 e 16,1ºC para temperatura do ar, de 14,5; 14 e 12,7 horas de umidade relativa do ar ≥90% e a precipitação pluvial acumulada foi de 300; 446,5 e 308,7 mm respectivamente para 2018, 2019 e 2020.

Sementes de beterraba do cultivar Boro foram semeadas a campo em quatro repetições constituídas de uma área de 1,5 x 1,25 m utilizando cinco linhas com espaçamento de 25 cm entre linhas e 10 cm entre plantas com 40 plantas.m-2 (equivalente a 400.000 plantas.ha-1), ficando com um estande final de 75 plantas em cada repetição. Dez plantas em cada repetição foram previamente escolhidas e demarcadas aleatoriamente para a avaliação da cercosporiose e da produtividade. A calagem, adubação, tratos culturais seguiram as normas da cultura (2121 Puiatti, M.; Finger, F.L. Cultura da beterraba. In: FONTES PCR. Olericultura: teoria e prática. Viçosa: Suprema, p.345-354, 2005., 2626 Tivelli, S.W; Factor, T.L.; Teramoto, J.R.S.; Fahi, E.G.; Moraes, A.R.A.; Trani, P.E.; May, A. Beterraba, do plantio à comercialização. Série Tecnologia APTA. Boletim Técnico IAC, 210. Campinas: Instituto Agronômico. 2011, 45p.).

A testemunha absoluta, sem pulverização, apenas para comprovação da doença na área constou de tratamento nas mesmas condições e afastada a 10 metros dos demais tratamentos para não haver interferência entre parcelas (2020 Oliveira, D.A. Modelos matemáticos na experimentação com defensivos. Fitopatologia Brasileira, Brasília, DF, v.11, n.1, p.11-23, 1986.) e foi omitida das análises estatísticas a fim de minimizar o erro experimental (2929 Zadoks, J.C.; Schein, R.D. Epidemiology and Plant Disease Management. New York: Oxford University Press. 1979. 427p.), simulando o que é realizado nas condições convencionais de cultivo.

Para que houvesse inóculo na área, mudas de beterraba cv. Boro com 30 dias de idade foram inoculadas com auxílio de um atomizador portátil uma suspensão de 104conídios de C. beticola. Após 24 horas de câmara úmida as mudas foram transplantadas a cada um metro linear ao redor do experimento no dia da semeadura.

Para o controle da cercosporiose foram comparados os seguintes regimes de pulverização com mancozeb (80%) + oxicloreto de cobre (50%) na dose de 250 g + 200 g pc.hl-1 baseado no modelo descrito por Marcuzzo et al. (1616 Marcuzzo, L.L.; Haveroth, R.; Nascimento, A. Influence of temperature and leaf wetness duration on the severity of Cercospora leaf spot of beet. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.42, n.1, p.89-91, 2016.) expresso em SE = 0,0001105 * (((x-8)2,294387) * ((36-x)0,955017)) * (0,39219/(1+25,93072 * exp (-0,16704*y))), onde SE, representa o valor da severidade estimada (0,1 ou seja, percentual da doença /100); x a temperatura (ºC) e y o molhamento foliar (horas) que foi avaliado através da umidade relativa do ar ≥90%.

Atribuiu-se os tratamentos com valores acumulados de SE de 0,15; 0,25, e 0,35 comparados com sistema convencional com pulverização a cada 5 e 7 dias. A pulverização no sistema de previsão foi realizada quando o somatório diário dos valores de SE (015; 0,25; 0,35) foi atingido, sendo então zerado o somatório e iniciada nova contagem dos valores de severidade diários. Adicionalmente, a cada ocorrência de 25 mm de chuva, todos os tratamentos eram pulverizados, zerados e reiniciava-se a contagem do somatório dos valores de severidade.

As pulverizações iniciaram-se a partir dos 21 dias após a semeadura e foram efetuadas com um pulverizador costal eletrônico Jetbras® calibrado para 400 L.ha-1.

A severidade da doença foi avaliada através de escala diagramática proposta por May de Mio et al. (1818 May de Mio, L.L.; Oliveira, R.A.; Floriani, A.M.V.; Schuber, J.M.; Poltronieri, A.S.; Araujo, M.A.; Tratch, R. Proposta de escala diagramática para quantificação da cercosporiose da beterraba. Scientia Agraria, Curitiba, v.9, n.3, p.331-337, 2008.) em cada folha presente na planta a intervalos regulares de sete dias nas dez plantas previamente demarcadas por repetição. A severidade da doença ao longo do ciclo foi integralizada e calculada a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD), através da fórmula: AACPD = ∑ [(y1+y2)/2]*(t2-t1), onde y1 e y2 refere-se a duas avaliações sucessivas da severidade da doença realizadas no tempo t1 e t2 (7 dias), respectivamente.

A colheita das plantas demarcadas foi realizada aos 91; 88 e 91 dias após a semeadura respectivamente em cada ano, quando foram pesadas e posteriormente convertidas para produtividade comercial em quilogramas por hectare (Kg.ha-1).

As médias da AACPD, severidade final, produtividade comercial (Kg.ha-1) e a taxa de infecção aparente proposta por Vanderplank (2828 Vanderplank, J.E. Plant disease: epidemics ant control. New York: Academic Press, 1963. 349p.) entre os regimes de pulverização foram submetidas à análise de variância pelo teste de F e se fossem significativas seriam comparadas pelo teste de Tukey 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Respectivamente para os anos de 2018, 2019 e 2020, os sistemas de pulverização tiveram 10, 9, 7 (SE=0,15); 6, 4, 3 (SE=0,25); 5, 3, 2 (SE=0,35) pulverizações quando comparado as 10, 10, 9; e 7, 7, 6 pulverizações a cada 5 e 7 dias (Tabela 1). Pode-se constatar que o sistema SE=0,35 apresentou 2, 4, 4 pulverizações a menos que o sistema convencional a cada sete dias respectivamente nos três anos de avaliação, sem comprometer a produtividade (Tabela 1).

Tabela 1
Número de pulverizações, área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) e produtividade comercial (Kg.ha-1) da cercosporiose da beterraba (Cercospora beticola) resultantes de três sistemas de previsão ou controle convencional com pulverizações semanais regulares

O sistema SE=0,15 resultou num aumento de entre 17 a 42% nos três anos de avaliação, sendo valores próximos dos encontrados quando comparado ao sistema de pulverização a cada cinco dias (Tabela 1).

No sistema SE=0,35 houve uma redução de 28, 57 e 67% no número de pulverizações, quando comparado ao sistema de aplicação semanal e de 50, 60 e 78% respectivamente quando comparado ao sistema a cada cinco dias nos respectivos anos de avaliação (Tabela 1).

Houve a diferença de apenas uma pulverização entre o sistema SE=025 e SE=0,35, enquanto que para SE=0,25 e SE=0,15 teve 4, 5, 4 pulverizações a menos nos respectivos anos de avaliação, predizendo que os diferentes valores de severidade nos sistemas de previsão SE=025 e SE=0,35 em condição de menor ocorrência da doença (Figura 1) o número de pulverizações pouco oscilou.

Figura 1
Curvas de progresso da severidade foliar (%) da cercosporiose da beterraba (Cercospora beticola) resultantes de três sistemas de previsão ou controle convencional com pulverizações semanais regulares nos ciclos de cultivo de 2018, 2019 e 2020.

O sistema de previsão da cercosporiose da beterraba açucareira denominado Cercobet 3 utilizado na Europa, descreve apenas a probabilidade de ocorrência da doença, mas não caracteriza o efeito da doença sobre o número de pulverizações para controle da doença (2222 Racca, P.; Jörg E. CERCBET 3 – a forecaster for epidemic development of Cercospora beticola. Bulletin OEPP/EPPO Bulletin, Paris, v.37, p.344–349, 2007.).

Na AACPD, os programas não foram significativos entre si para ambos os anos de avaliação, evidenciando que a redução do número de pulverizações em relação ao sistema convencional (Tabela 2) é possível menor acúmulo de AACPD durante o ciclo produtivo. Marcuzzo et al. (1515 Marcuzzo, L.L.; Duarte, T.S.; Rosa Neto, A.J.; Hoffmann, F. Efeito de fosfito de potássio e de fungicidas no controle da cercosporiose (Cercospora beticola) da beterraba. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.42, n.2, p.186-187, 2016.) encontraram valores de AACPD abaixo ao encontrado nesse trabalho quando aplicaram fungicidas semanalmente, o que pressupõe que o acumulado de doença tem interferência em função da época de semeadura (1717 Marcuzzo, L.L.; Duarte, T.S.; Fernandes, J.M.C.; Hilleshein, P.C.; Scheidt, B.T. Progresso temporal da cercosporiose da beterraba em diferentes genótipos e épocas de semeadura na primavera. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.41, n.3, p.219-223, 2015.), das condições climáticas (1616 Marcuzzo, L.L.; Haveroth, R.; Nascimento, A. Influence of temperature and leaf wetness duration on the severity of Cercospora leaf spot of beet. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.42, n.1, p.89-91, 2016.) e de cada epidemia da doença (11 Bălău, A.M. Research regarding the epidemic evolution of Cercospora leaf spot (Cercospora beticola Sacc.) under ezareni farm conditions. Lucrări ştiinţifice, Brasov, v.54, n.2, p.199-202, 2011, 1414 Marcuzzo, L.L.; Nascimento, A.; Harbs, S.C. Aspectos epidemiológicos da cercosporiose da beterraba na região do alto vale do Itajaí em Santa Catarina. Global Science and Technology, Rio Verde, v.12, n.2, p.223-231, 2019.).

Tabela 2
Severidade foliar final (%) e taxas de infecção aparente (r) da cercosporiose da beterraba (Cercospora beticola) resultantes de três sistemas de previsão ou controle convencional com pulverizações semanais regulares

Apesar de não haver diferença significativa na comparação da AACPD calculada nos três ciclos de avaliação, o sistema de previsão com SE=0,35 resultou em pouca diferença (4,3 a 9,8 pontos) entre os valores de AACPD em relação às pulverizações realizadas a cada sete dias e de 4,2 a 16,9 pontos entre as pulverizações a cada cinco dias que resultou num acréscimo de 5 (2018) a 7 (2019 e 2020) pulverizações (Tabela 1). Isso demostra que nem sempre um número maior de pulverizações reduz a doença, já que o momento correto da aplicação reflete no acumulado da doença ao longo do ciclo da cultura.

Os tratamentos não diferiram na severidade final (Tabela 2) ficando entre 11 a 13%; entre 10% e de 8 a 9% em 2018, 2019 e 2020 respectivamente. Valores esses acima dos encontrado por Marcuzzo et al. (1515 Marcuzzo, L.L.; Duarte, T.S.; Rosa Neto, A.J.; Hoffmann, F. Efeito de fosfito de potássio e de fungicidas no controle da cercosporiose (Cercospora beticola) da beterraba. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.42, n.2, p.186-187, 2016.), quando avaliaram a severidade final em pulverização a cada sete dias utilizando a mistura de mancozeb+oxicloreto de cobre, pois a severidade final da doença pode variar conforme o local, época de cultivo e da pressão de inóculo na área experimental (1414 Marcuzzo, L.L.; Nascimento, A.; Harbs, S.C. Aspectos epidemiológicos da cercosporiose da beterraba na região do alto vale do Itajaí em Santa Catarina. Global Science and Technology, Rio Verde, v.12, n.2, p.223-231, 2019., 1515 Marcuzzo, L.L.; Duarte, T.S.; Rosa Neto, A.J.; Hoffmann, F. Efeito de fosfito de potássio e de fungicidas no controle da cercosporiose (Cercospora beticola) da beterraba. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.42, n.2, p.186-187, 2016., 1717 Marcuzzo, L.L.; Duarte, T.S.; Fernandes, J.M.C.; Hilleshein, P.C.; Scheidt, B.T. Progresso temporal da cercosporiose da beterraba em diferentes genótipos e épocas de semeadura na primavera. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.41, n.3, p.219-223, 2015.). Em trabalhos realizados com cultivares de beterraba açucareira, Bălău (11 Bălău, A.M. Research regarding the epidemic evolution of Cercospora leaf spot (Cercospora beticola Sacc.) under ezareni farm conditions. Lucrări ştiinţifice, Brasov, v.54, n.2, p.199-202, 2011), Baltaduonytė & Dabkevičius (22 Baltaduonytė, M.; Dabkevičius, Z. Lapų dėmėtligių paplitimas skirtingų veislių cukrinių runkelių pasėliuose. Žemės Ūkio Mokslai. Vilnius, v.22, n.1, p.8-14, 2015.) e Gaurilčikienė et al. (99 Gaurilčikienė, I.; Deveikytė, I.; Petraitienė, E. Epidemic progress of Cercospora beticola Sacc. in Beta vulgaris L. under different conditions and cultivar resistance. Biologija, Vilnius, v.4, p.54–59, 2006.) constataram valores de severidade acima ao encontrado neste trabalho.

No ciclo da beterraba de 2019 e 2020 a severidade final da doença no sistema convencional de controle com pulverização a cada 5 e 7 dias com o SE=0,35 ficou próximo aos 10%, no entanto em 2018, o SE=0,35 apresentou 12,75%, enquanto que a cada sete dias 11,47%, uma diferença de 10%, porém os valores a cada 5 dias tiveram diferença de apenas 6% (Figura 1). Essa diferença no percentual da doença entre os anos deve-se as condições climáticas, onde houve um predomínio de estiagem com baixa temperatura e umidade relativa do ar em 2020 que resultou na menor severidade doença, já que cercosporiose necessita valores acima de 87% de umidade relativa do ar 11) e temperatura ideal entre 25-30º C (1616 Marcuzzo, L.L.; Haveroth, R.; Nascimento, A. Influence of temperature and leaf wetness duration on the severity of Cercospora leaf spot of beet. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.42, n.1, p.89-91, 2016., 2222 Racca, P.; Jörg E. CERCBET 3 – a forecaster for epidemic development of Cercospora beticola. Bulletin OEPP/EPPO Bulletin, Paris, v.37, p.344–349, 2007.). No entanto, a taxa de infecção aparente não foi significativa quando se comparou os sistemas convencionais com os sistemas de previsão, mesmo apresentando essa diferença entre os ciclos de avaliação (Tabela 2).

As curvas de progresso da doença no sistema de previsão e convencional apresentaram valores de severidade próximos ao longo do tempo após o inicio da doença em todo o ciclo da cultura nos três anos de avaliação (Figura 1). Não se constatou diferença no inicio da epidemia, que iniciou-se a partir da 4ª semana após a semeadura e a severidade seguiu de forma acentuada e contínua ao longo do ciclo da cultura em relação aos diferentes regimes de pulverização (Figura 1).

Não houve diferença significativa entre os tratamentos para a produtividade (Kg.ha-1) nos três ciclos de avaliação (Tabela 1). A produtividade no SE=0,35 foi respectivamente 10 e 24,5% superior ao controle convencional com pulverização a cada sete dias em 2019 e 2020. Nesse trabalho constatou-se que a produtividade pouco oscilou entre os sistemas de previsão com o sistema convencional, mas com redução significativa do número de pulverizações quando se compara SE=0,35 com o sistema convencional a cada sete dias, evidenciando que a produtividade da cultura não esta relacionada ao número de pulverizações, mas sim no momento correto de sua aplicação. A maior produtividade verificada em 2020 (Tabela 1) deve-se as climáticas para desenvolvimento da cultura que possibilitou incremento produtivo e também da menor severidade final da doença (Tabela 2).

Segundo Teng (2525 Teng, P.S.A. Comparison of simulation approaches to epidemic modeling. Annual Review of Phytopathology, Palo Alto, v.23, p.351-379, 1985.), o rigor da avaliação não deve ser exagerado, uma vez que o sistema é uma aproximação da realidade e durante o processo de validação, se necessário, pode se ter um espaço entre o que é estimado e o real para aprimoramento contínuo do sistema (77 Fernandes, J.M.C.; Maffia, L.A. Simulação de epidemias. Revisão Anual de Patologia de Plantas, Passo Fundo, v.2, p.293-334, 1994.). O sistema proposto permitiu demonstrar que este pode ser muito útil como ferramenta do manejo do míldio, já que a validação do sistema tem por objetivo determinar se o comportamento do sistema real é coerente com o modelo (44 Bergamim Filho, A.; Amorim, L. Doenças de plantas tropicais: epidemiologia e controle econômico. São Paulo: Ceres, 1996. 299p., 55 Bergamim Filho, A.; Amorim, L. Sistemas de previsão e avisos. In: Amorim, L.; Rezende, J.A.M.; Bergamim Filho, A. (Ed.). Manual de fitopatologia. 5. ed. Ouro Fino: Ceres, 2018. v.1, cap.19, p.289-303., 1212 Kranz, J.; Hau, B. Systems analysis in epidemiology. Annual Review of Phytopathology, Palo Alto, v.18, n.1, p.67-83, 1980. ).

A cercosporiose é uma das principais preocupações fitossanitárias dos produtores de beterraba do Alto Vale do Itajaí e regiões com microclima semelhante. Considerando o aspecto econômico para o produtor, a utilização do sistema de previsão com SE=0,35 leva a uma redução no custo operacional, em decorrência da diminuição de até 67% no número de pulverizações e consequentemente menor exposição dos aplicadores de agrotóxico sem perda da produtividade. Quanto ao meio ambiente poderá haver uma redução significativa do impacto que o agrotóxico causa no ecossistema.

O uso do sistema de previsão mostrou ser uma ferramenta viável no manejo do da cercosporiose da beterraba em Santa Catarina e encontra-se disponível gratuitamente para uso da cadeia produtiva na plataforma Agroconnect da EPAGRI-CIRAM disponível em http://www.ciram.sc.gov.br/agroconnect/ no menu atividade agropecuária beterraba, alerta fitossanitário.

AGRADECIMENTOS

O autor agradece as bolsas de iniciação científica PIBIC/Cnpq e IFC/Campus Rio do Sul de Sheila Chaiana Harbs, PIBIC-Af/Cnpq de Aline Cristina Paulakoski e ao técnico de campo, Marcio Rampelotti pela execução das pulverizações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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    Baltaduonytė, M.; Dabkevičius, Z. Lapų dėmėtligių paplitimas skirtingų veislių cukrinių runkelių pasėliuose. Žemės Ūkio Mokslai Vilnius, v.22, n.1, p.8-14, 2015.
  • 3
    Barreto, M.; Vale, F.X.R.; Paul, P.A.; Scaloppi, E.A.G.; Andrade, D.F.A.A. Sistemas de previsão e estação de aviso. In: Vale, F. X. R.; Jesus Junior, W. C.; Zambolim, L (Ed.). Epidemiologia aplicada ao manejo de doenças de plantas Belo Horizonte: Perffil, 2004. cap.6, p.243-266.
  • 4
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2022

Histórico

  • Recebido
    28 Dez 2020
  • Aceito
    30 Jun 2022
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