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Comportamento de diferentes fontes de silício no solo e na cultura do tomateiro

Behavior of different silicon sources in the soil and in tomato crop

Resumos

O objetivo deste trabalho foi estudar a ação do xisto, de duas escórias e de um termofosfato sobre a disponibilidade do Si no Argissolo Vermelho-Amarelo sob plasticultura com o tomateiro. Dois experimentos foram instalados em blocos casualizados com os seguintes tratamentos: testemunha, 6 t ha-1 de xisto, 6 t ha-1 de escória da Mannesman, 6 t ha-1 de escória da Dedini e 2,5 t ha-1 de termofosfato. As concentrações de Si (SiO2 total) nestes produtos foram: 530, 350, 273, 185 g kg-1, respectivamente, para o xisto, escória da Mannesman, Dedini e termofosfato. Os resultados indicaram que a escória da Mannesman foi o tratamento que apresentou maiores teores de Si no solo, extraídos com oxalato de amônio, e o xisto o tratamento com o menor teor. Todavia, avaliando a relação entre a quantidade de Si aplicada sobre o aumento de Si no solo, verifica-se que o termofosfato foi o tratamento que mais elevou o teor deste elemento. Os produtos aplicados forneceram Si para o tomateiro, mas não foram suficientes para aumentar a produtividade. Observou-se boa correlação entre os teores de Si na planta em relação ao Si extraído do solo com oxalato de amônio.

xisto; escórias; termofosfato; tomate


The objective of this study was to evaluate the reactivity of four Si sources: schist, two types of slag and a thermal-phosphate based on Si availability in the Typic Eutrustults and in the tomato crop uptake. Two experiments were carried out in a randomized block design with the following treatments: check plot, 6 t ha-1 of schist, 6 t ha-1 of Mannesman slag, 6 t ha-1 of Dedini slag and 2.5 t ha-1 of thermal-phosphate. The Si content (SiO2 total) in the products was: schist 530 g kg-1, Mannesman slag 350 g kg-1, Dedini slag 273 g kg-1 and thermal-phosphate 185 g kg-1. Silicon levels in the soil, extracted by ammonium oxalate, were highest in the Mannesman slag treatment, while the schist treatment presented the lowest levels. The relationship among Si application and Si in the soil, however, showed that thermal-phosphate was more efficient compared to the others Si sources. The applied Si sources were able to provide Si for the tomato, but were insufficient to increase yields. A good correlation was observed between the Si plant content and Si extracted with ammonium oxalate from the soil.

schist; slag; thermal-phosphate; tomato


SEÇÃO IV - FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE PLANTAS

Comportamento de diferentes fontes de silício no solo e na cultura do tomateiro(1 (1 ) Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor, defendida junto à Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ/US. Apoio FAPESP. )

behavior of different silicon sources in the soil and in tomato crop

H. S. PereiraI; G. C. VittiII; G. H. KorndorferI

IPesquisador do Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Uberlândia - UFU. Caixa Postal 593, CEP 38400-902 Uberlândia (MG). Bolsista CNPq. E-mail: hsp@iciag.ufu.br; ghk@triang.com.br

IIProfessor Titular da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ/USP. Caixa Postal 9 CEP 13418-970, Piracicaba (SP). E-mail: gcvitti@carpa.ciagri.usp.br

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi estudar a ação do xisto, de duas escórias e de um termofosfato sobre a disponibilidade do Si no Argissolo Vermelho-Amarelo sob plasticultura com o tomateiro. Dois experimentos foram instalados em blocos casualizados com os seguintes tratamentos: testemunha, 6 t ha-1 de xisto, 6 t ha-1 de escória da Mannesman, 6 t ha-1 de escória da Dedini e 2,5 t ha-1 de termofosfato. As concentrações de Si (SiO2 total) nestes produtos foram: 530, 350, 273, 185 g kg-1, respectivamente, para o xisto, escória da Mannesman, Dedini e termofosfato. Os resultados indicaram que a escória da Mannesman foi o tratamento que apresentou maiores teores de Si no solo, extraídos com oxalato de amônio, e o xisto o tratamento com o menor teor. Todavia, avaliando a relação entre a quantidade de Si aplicada sobre o aumento de Si no solo, verifica-se que o termofosfato foi o tratamento que mais elevou o teor deste elemento. Os produtos aplicados forneceram Si para o tomateiro, mas não foram suficientes para aumentar a produtividade. Observou-se boa correlação entre os teores de Si na planta em relação ao Si extraído do solo com oxalato de amônio.

Termos de indexação: xisto, escórias, termofosfato, tomate.

SUMMARY

The objective of this study was to evaluate the reactivity of four Si sources: schist, two types of slag and a thermal-phosphate based on Si availability in the Typic Eutrustults and in the tomato crop uptake. Two experiments were carried out in a randomized block design with the following treatments: check plot, 6 t ha-1 of schist, 6 t ha-1 of Mannesman slag, 6 t ha-1 of Dedini slag and 2.5 t ha-1 of thermal-phosphate. The Si content (SiO2 total) in the products was: schist 530 g kg-1, Mannesman slag 350 g kg-1, Dedini slag 273 g kg-1 and thermal-phosphate 185 g kg-1. Silicon levels in the soil, extracted by ammonium oxalate, were highest in the Mannesman slag treatment, while the schist treatment presented the lowest levels. The relationship among Si application and Si in the soil, however, showed that thermal-phosphate was more efficient compared to the others Si sources. The applied Si sources were able to provide Si for the tomato, but were insufficient to increase yields. A good correlation was observed between the Si plant content and Si extracted with ammonium oxalate from the soil.

Index terms: schist, slag, thermal-phosphate, tomato.

INTRODUÇÃO

A sílica solúvel em solos não tem sido estudada intensivamente, principalmente por não ser o Si considerado essencial às plantas. Contudo, mesmo não sendo essencial, do ponto de vista fisiológico, ao crescimento e desenvolvimento das plantas, o Si, em numerosos casos, demonstrou efeito benéfico sobre o aumento de produção de diversas culturas, como, por exemplo, a cana-de-açúcar, o arroz e outras gramíneas (Epstein, 1994). Acredita-se que o Si possa diminuir a incidência de doenças e até mesmo o ataque de insetos, graças ao seu acúmulo abaixo da cutícula, a qual oferece resistência mecânica contra esses organismos. Além disso, o Si pode interferir na arquitetura das plantas, favorecendo a fotossíntese, ao proporcionar folhas mais eretas, o que significa maior eficiência fotossintética.

Os solos tropicais são, de modo geral, altamente intemperizados, onde os minerais primários facilmente intemperizáveis que contêm Si são quase inexistentes. Esses solos apresentam, em alguns casos, teores menores do que 2 mg kg-1 no extrato saturado (Fox & Silva, 1978).

As escórias básicas de siderurgia podem ser utilizadas como corretivos de solo e como fonte de Si e outros nutrientes. São constituídas principalmente de silicatos de Ca e Mg, podendo conter impurezas, tais como: P, S, Fe, Zn, Cu, B, Mo, Co e outros. Os silicatos comportam-se de maneira similar aos carbonatos no solo e são capazes de elevar o pH, neutralizando o Al trocável e outros elementos tóxicos (Alcarde, 1992).

Durante o processo para a obtenção do ferro-gusa, a sílica do minério de ferro reage com o cálcio do calcário no alto forno, produzindo um silicato de cálcio com impurezas. O material fundido é resfriado, seco e moído. Para cada 4 t de ferro-gusa produzidas, é gerada, em média, 1 t de escória de alto forno (Coelho, 1998). O Brasil é o sexto maior produtor mundial de ferro-gusa, com uma produção anual de cerca de 25 milhões de toneladas, o que corresponde à geração de cerca de 6,25 milhões de toneladas de escória por ano. O estado de Minas Gerais é o maior produtor nacional, responsável por mais da metade de todo ferro-gusa produzido no Brasil.

O termofosfato obtido pela fusão de rocha fosfatada com serpentinito (silicato de magnésio) a 1.500 ºC também apresenta considerável quantidade de Si em sua composição (SiO2 = 25 dag kg-1). A adição de termofosfato ao solo como fonte de Si mostra-se satisfatória para a cultura do arroz, segundo Freire et al. (1985).

O xisto betuminoso é uma rocha essencialmente silto-argilosa denominada "folhelhos oleígenos", com conteúdo apreciável de matéria orgânica (1428 dag kg-1) e que, sob aquecimento, pode produzir óleo, gás e S. A fração clástica é formada principalmente por quartzo de grãos muito finos e quantidades variáveis de sericita, moscovita, clorita, argilo-mineral (ilita dominante) e plagioclásio, fazendo com que tenha mais de 50 % de Si. O Brasil dispõe da segunda maior reserva de folhelhos oleígenos (xisto) do mundo, constituindo os depósitos da formação Irati a maior reserva brasileira de combustíveis e produtos sulfurosos (Prien, 1975; Bigarella, 1975). O principal problema, que limita o desenvolvimento da indústria do xisto, é a disposição do xisto retortado (xisto após a retirada do óleo e S) no ambiente, para não afetá-lo ecologicamente (Gratt, 1985; Stark & Redente, 1986). A alta alcalinidade deste resíduo, valores de pH ao redor de 12, é um dos fatores que impedem, de maneira severa, a revegetação direta (Reddy & Lindsay, 1986).

O Si apresenta-se em determinados compostos (silicatos/escórias) fortemente ligado ao mineral e, portanto, pouco aproveitável pelas plantas. Assim sendo, os teores totais de Si nem sempre indicam seu potencial de uso como fertilizante silicatado. Portanto, é preciso identificar e avaliar o potencial agronômico dessas fontes por meio de métodos químicos e biológicos.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho foi realizado em duas áreas correspondentes a dois experimentos com as seguintes características: Experimento 1 - instalado em 1997 no município de Piracicaba (SP) sobre um Argissolo Vermelho-Amarelo eutrófico abrúptico "A" moderado textura arenosa/média, cujas características químicas na camada de 0-20 cm são: pH (CaCl2) 5,2; M.O. (g kg-1) 15; P (mg dm-3) 111; K (mmolc dm-3) 1,7; Ca (mmolc dm-3) 29; Mg (mmolc dm-3) 14; e H + Al (mmolc dm-3) 20; e Experimento 2 instalado em 1998 no município de Tabapuã (SP) também sobre um Argissolo Vermelho-Amarelo eutrófico "A" moderado textura arenosa/média, cujas características químicas são as seguintes: pH (CaCl2) 5,0; M.O. (g kg-1) 17; P (mg dm-3) 90; K (mmolc dm-3) 2,8; Ca (mmolc dm-3) 28; Mg (mmolc dm-3) 9; e H + Al (mmolc dm-3) 34.

Os tratamentos constaram de: testemunha, 6 t ha-1 de xisto, 6 t ha-1 de escória da Mannesman, 6 t ha-1 de escória da Dedini e 2,5 Mg ha-1 de termofosfato. As concentrações de Si (SiO2 total) nos produtos foram: xisto = 530 g kg-1, escória da Mannesman = 350 g kg-1, escória da Dedini = 273 g kg-1 e termofosfato = 185 g kg-1. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados com quatro repetições. Os experimentos foram instalados em casa de vegetação (plasticultura), de estrutura metálica na forma de arco com 7 m de largura por 60 m de comprimento, altura do vão central com 4,5 m, e cobertura com plástico transparente de 150 µm e com as laterais fechadas com tela de sombrite preto a 30 %.

A obtenção das mudas de tomate foi feita pelo plantio em bandeja de isopor com 128 células, usando-se como substrato o plantmax da Eucatex. Vinte e cinco dias após a germinação das sementes, foi realizado o transplante das mudas, colocando-as em linhas duplas com espaçamento de 0,5 x 0,5 x 1,25 (0,5 m entre plantas, 0,5 m na linha dupla e 1,25 m entre as linhas duplas de plantio). As parcelas constaram de uma linha dupla de 6 m de comprimento, perfazendo uma área de 10,5 m2 por parcela. A adubação básica de plantio e os tratamentos foram aplicados a lanço na área total da parcela, antes do plantio, e incorporados com enxada rotativa a uma profundidade de 12 cm, no experimento 1, e de 17 cm, no experimento 2. Nesta adubação, foram aplicados 450 kg ha-1 de P2O5 na forma de superfosfato triplo, exceto no tratamento com termofosfato, em que o P2O5 foi fornecido pelo mesmo. A adubação NK foi aplicada via fertirrigação no sistema de gotejamento, seguindo as recomendações de Trani & Raij (1996) para a cultura do tomate.

Além das adubações NPK, foram feitas, semanalmente, após o início da frutificação, adubações via foliar com Ca (CaCl2 a 0,15 dag L-1), Mg (Profol Mg a 0,05 dag L-1), B (Ácido bórico a 0,07 dag L-1) e Mn (Profol Mn a 0,05 dag L-1). No experimento 1, as aplicações de Mg e Mn iniciaramse com a colheita, quando foram verificados, em algumas plantas, sintomas de deficiência destes elementos, portanto após a coleta das amostras de folhas. Já no experimento 2, estas aplicações ocorreram desde o início das pulverizações.

No período do aparecimento do primeiro fruto maduro, foram realizadas as amostragens de folhas, coletando-se a folha logo abaixo e oposta ao segundo cacho floral (Malavolta et al., 1997). Para a determinação dos elementos, foram separados folíolos e pecíolos em amostras distintas, e os teores dos macronutriente (N, P, K, Ca, Mg e S) e de micronutrientes (B, Cu, Fe, Mn e Zn) foram determinados conforme métodos apresentados por Malavolta et al. (1997). O Si foi determinado pelo método descrito por Korndörfer et al. (1999), que consiste basicamente na extração do Si no material vegetal por digestão com água oxigenada e hidróxido de sódio em autoclave. A determinação foi feita pela formação do complexo BETA-molibdosilicato amarelo e leitura em espectrofotômetro a 410 nm.

As colheitas foram realizadas duas vezes por semana, num período de pouco mais de dois meses, até atingir a nona penca. Logo após o final das colheitas, procedeu-se à amostragem de solo nas profundidades de 0-10 e 10-20 cm, retirando-se as amostras entre as linhas duplas de plantio com o amostrador de solo do tipo "sonda". As amostras de solo foram analisadas quimicamente, conforme método de Raij & Quaggio (1983), para as seguintes determinações: pH (CaCl2), P, K, Ca, Mg, H + Al; S-SO4, conforme Vitti (1989); e os micronutrientes: B, pelo método da água quente (Berger & Truog, 1939), e Cu, Fe, Mn e Zn, pelo método DTPA (Lindsay & Morvell, 1978). Calcularam-se a soma de bases (SB), a capacidade de troca catiônica (CTC) e os valores da saturação por bases (V). A análise do Si no solo foi efetuada extraindo-se o elemento com oxalato de amônio 0,2 mol L-1 a pH 3,0, conforme Smith (1984). A determinação foi feita pela formação do complexo BETA-molibdosilicato reduzido pelo ácido ascórbico ou "azul-de-molibdênio", procedendo-se à leitura no colorímetro a 810 nm (Kilmer, 1965).

RESULTADO E DISCUSSÃO

Efeito dos tratamentos no solo

Na análise do solo do experimento 2 (Quadro 1), constataram-se aumentos significativos do pH com a aplicação do termofosfato, nas duas profundidades, e com a escória da Mannesmam, na profundidade de 10-20 cm. No experimento 1, essas variações não foram observadas.


A escória da Mannesmam apresentou aumentos significativos do Ca2+ na camada de 0-10 cm nos dois experimentos, enquanto com a escória da Dedini, esses aumentos ocorreram significativamente nas duas profundidades. O xisto e o termofosfato, embora apresentem Ca na sua composição, não diferiram da testemunha. Os tratamentos também proporcionaram aumentos nos teores de Mg2+ no solo, mas aumentos significativos só foram observados com o tratamento da Mannesmam (0-10 cm) e Dedini (1020 cm), no experimento 1, e com o termofosfato, no experimento 2 (duas profundidades). Os aumentos nos teores de Ca2+ e Mg2+ refletiram-se na soma de bases, principalmente nos tratamentos com escórias e termofosfato, demonstrando o efeito corretivo destes produtos, pois estes são formados basicamente por CaSiO3 (Coelho, 1998) e com propriedades corretivas semelhantes às do calcário (Alcarde, 1992). Os efeitos sobre o pH do solo não foram mais significativos em decorrência da elevada saturação por base inicial dos solos. O tratamento com xisto não apresentou efeito sobre o pH, provavelmente por causa da baixa concentração de carbonatos e da baixa reatividade dos silicatos. Por outro lado, o xisto propiciou aumentos significativos no teor de S do solo, favorecidos pelos 3,2 dag kg-1 de S em sua composição.

As fontes utilizadas aumentaram os teores de Si no solo (Quadro 2). Verificou-se que a escória da Mannesman foi o tratamento que mais liberou Si para o solo, sendo estatisticamente diferente da testemunha na profundidade de 0-10 cm, no experimento 1, e nas duas profundidades, no experimento 2, seguida do termofosfato que, também, diferiu da testemunha no experimento 2 nas duas profundidades. É preciso lembrar que, no caso do termofosfato, a quantidade aplicada foi inferior à das demais fontes e os teores totais de Si neste material inferiores aos dos demais.


O xisto é o produto dente os materiais testados que apresenta a maior concentração de Si; no entanto, este Si aparentemente não é solúvel para as plantas porque os teores no solo estão bem próximos aos da testemunha. Esta baixa reatividade do xisto, associado à liberação de S, pode explicar a falta de efeito sobre o pH do solo. O S do xisto encontra-se principalmente na forma elementar e de sulfeto, no solo estes compostos formam sulfato (SO4), podendo baixar o pH, conforme demonstrado por Mello et al. (1989). Embora não-significativo com relação à testemunha, o tratamento com xisto chegou a apresentar redução do pH no solo.

Verificou-se que o termofosfato foi a fonte mais eficiente na liberação de Si para o solo, pois, na correlação entre o Si aplicado e o teor de Si no solo, observou-se que o xisto liberou 0,58 e 1 %, a escória da Mannesman 6 e 12 %, a escória da Dedini 5 e 4 % e o termofosfato 8 e 37 % nos experimentos 1 e 2, respectivamente, na camada de 0-10 cm. Na camada de 10-20 cm, observou-se que o xisto liberou 0,2 e 1 %, a escória da Mannesman 0,04 e 6 %, a escória da Dedini 2 e 2 % e o termofosfato 3 e 18 %, nos experimentos 1 e 2, respectivamente.

Efeito dos tratamentos nas plantas

Observou-se resposta semelhante com relação ao xisto nas análises do material vegetal, nas quais se percebeu o aumento dos teores de S tanto nas folhas como nos pecíolos (Quadro 3). O termofosfato, ao contrário do xisto, apresentou redução do teor de S na maioria das análises do material vegetal. Isto fez com que este tratamento diferisse significativamente do xisto, com exceção do pecíolo no experimento 1 (Quadro 3). Verificou-se, também, uma redução nos teores de P com a aplicação do termofosfato, sendo esta redução significativa nos pecíolos, quando comparado à testemunha e ao xisto no experimento 1 e, somente ao xisto no experimento 2. Isto se deve à menor solubilidade imediata do termofosfato com relação à fonte de fósforo utilizada nos outros tratamentos (superfosfato triplo). Resultados semelhantes foram obtidos por Pereira (1995) em milho e Prochnow (1996), em que a menor liberação de P do termofosfato, após sua aplicação, reflete na sua disponibilidade para as plantas, principalmente quanto se trata de culturas de ciclo curto.


Em relação aos demais elementos, não se verificaram diferenças significativas nos tratamentos, com exceção de alguns elementos em determinadas análises, como o B na folha no experimento 1, o Cu na folha no experimento 2 e o K no pecíolo no experimento 2, os quais apresentaram diferenças significativas em algum tratamento, sem se repetirem nas demais análises.

Assim como no solo, o tratamento com a escória da Mannesman foi o que apresentou maiores teores de Si nas folhas do tomateiro, seguido pelo tratamento da escória Dedini (Quadro 4). O termofosfato também apresentou resultados próximos aos das escórias, demonstrando a grande liberação de Si por este produto, já que apresentava a menor concentração de Si em sua composição e a dose aplicada também foi menor.


O xisto também aumentou o teor de Si nas folhas das plantas, diferindo da testemunha. O aumento de Si nas plantas foi mais expressivo que no solo, o que fez com que houvesse maior dispersão dos pontos na correlação entre solo e planta. Mesmo assim, observa-se, nas figuras 1 e 2, que houve razoável correlação entre o Si liberado ao solo e o Si absorvido pelas plantas.



No caso dos tratamentos com escórias, o extrator, além de extrair o Si "disponível" do solo, também pode extrair o Si das escórias que ainda não reagiram no solo e, portanto, superestimar a eficiência agronômica destes. Korndörfer et al. (1999) demonstraram a importância de se escolher um extrator adequado para a análise de Si no solo, neste caso, o ácido acético 0,5 mol L-1 apresentou boa correlação entre o Si liberado ao solo e o Si absorvido pelas plantas. Em outro trabalho, Korndörfer & Gascho (1999), usando diferentes escórias e Wollastonita (silicato de cálcio), também obtiveram boa correlação entre Si absorvido e Si liberado no solo extraído pelo ácido acético 0,5 mol L-1; observaram, porém que as escórias apresentaram maiores teores de Si no solo proporcionalmente ao absorvido, enquanto a Wollastonita apresentou maiores teores de Si absorvido pelas plantas em relação ao extraído do solo.

Efeito das fontes de silício na produção de tomate

Apesar das elevadas produtividades, não foi possível observar diferenças significativas na produção de tomate (Quadro 5). Notou-se, no entanto, ligeira superioridade dos tratamentos nos experimentos, em comparação à testemunha. Estes resultados contrariam outros em que são demonstrados os efeitos das escórias sobre a produção agrícola (Anderson et al., 1987; Rodriguez et al., 1994; Prado & Fernandes, 2000). A ausência de pragas e doenças durante a fase experimental e os altos teores iniciais de Si no solo podem ter contribuído para minimizar os efeitos do Si sobre a produção. O arroz é a única cultura que apresentou níveis críticos para o Si, segundo Korndörfer et al. (2001), estimados em torno de 20 mg kg-1 de solo.


CONCLUSÕES

1. As escórias, o xisto e o termofosfato foram capazes de liberar Si para o solo e aumentar a absorção de Si pelas plantas do tomateiro; no entanto, esta maior absorção foi insuficiente para influir na produtividade.

2. O xisto, apesar do alto teor de SiO2 na sua composição não foi capaz de corrigir a acidez do solo, tal como aconteceu com o termofosfato e as escórias.

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Recebido para publicação em outubro de 2001 e aprovado em outubro de 2002.

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  • (1
    ) Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor, defendida junto à Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ/US. Apoio FAPESP.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Out 2012
    • Data do Fascículo
      Fev 2003

    Histórico

    • Aceito
      Out 2002
    • Recebido
      Out 2001
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