Acessibilidade / Reportar erro

Macro e micromorfologia de ferricretes nodulares desenvolvidos de arenito do grupo Bauru, formação Adamantina

Macro and micromorphology of nodular ferricretes developed over sandstone in the north of são paulo, Brazil

Resumos

Nas paisagens do norte do estado de São Paulo, sob domínio do Planalto Ocidental, ferricretes ocorrem em diferentes níveis topográficos e, apesar de pouco documentados, constituem feições que se repetem com freqüência sobre os arenitos cretácicos do Grupo Bauru, Formação Adamantina. Realizou-se um estudo morfológico, em diferentes escalas de observação, a fim de elucidar a gênese desses ferricretes (plintita e petroplintita) encontrados no terço inferior de uma vertente dominada por solos com B textural. A área estudada localiza-se na Estação Experimental de Agronomia de Pindorama, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), região norte do estado de São Paulo. Dois perfis foram selecionados para a descrição morfológica detalhada e para as observações micromorfológicas com lupa binocular e microscópio petrográfico. As evidências macro e micromorfológicas dos ferricretes revelam uma origem associada à lixiviação do ferro ferroso a montante da paisagem e reprecipitação na zona de vadosa. Esses ferricretes apresentaram diferentes fábricas internas, a maioria dos quais com estruturas de degradação, evidenciando o desmantelamento atual da couraça. As diferenças nas fábricas internas estão relacionadas com a distribuição do esqueleto e do plasma: alguns apresentam esqueleto bem selecionado, com predominância de areia muito fina, enquanto em outros predomina a areia média; outros, ainda, mostram esqueleto pouco selecionado, assemelhando-se ao fundo matricial interglebular; a maioria mostra alguns volumes ocupados apenas por plasma. Demonstra-se que fatores pedo-lito-biológicos estão envolvidos nessa diversidade entre ferricretes de um mesmo horizonte, formando in situ glébulas tão distintas em suas fábricas, que podem ser erroneamente interpretadas como provenientes de diferentes locais da paisagem, transportadas e depositadas nas baixas encostas durante a gênese dos ferricretes.

gênese de ferricretes; micromorfologia; petroplintita; laterita; relações solo-paisagem


On the landscape of the Eastern Plateau, north of the State of São Paulo, Brazil, there are ferricretes in different elevations. Although these features are relatively frequent over the cretaceous sandstone (Adamantina Formation, Bauru Group), little investigation has been carried out on their genesis. A morphological study at different levels of observation was conducted in order to elucidate the genesis of ferricretes (plinthite and petroplinthite), occurring at the toeslope of a landscape where soils with argillic horizon predominate, at the Pindorama Experimental Station of the Agronomic Institute (IAC). Two soil profiles were selected for detailed morphological description and samples taken for micromorphological observation using a binocular (reflected light) and a petrographic microscope. The macro and micromorphological evidence showed that ferricrete genesis is associated with the removal of ferrous iron from the upper slope position by throughflow and re-precipitation in the vadose zone. These ferricretes showed different internal fabrics, most having structures of degradation, giving evidence that the ironstone layer is currently being broken down. The fabric differentations are related to the skeleton and plasma distribution. Some ferricretes have well selected skeleton, with predominance of very fine sand, others have predominance of medium-size sand and yet others have poorly selected skeletons, resembling the matrix-s interglaebules. Most of the glaebules show some volume occupied by plasma only. It is shown that pedo-lito-biological factors are involved in the diversity of ferricretes of one soil horizon. Thus, "in situ" glaebules well differenciated in their fabric may be mistakenly interpreted as having been originated at different landscape positions and deposited at the lower positions during ferricrete formation.

ferricretes formation; micromorphology; petroplinthite; laterite; soil-landscape relationships


SEÇÃO V - GÊNESE, MORFOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO DO SOLO

Macro e micromorfologia de ferricretes nodulares desenvolvidos de arenito do grupo Bauru, formação Adamantina(1 (1 ) Parte da Tese de Mestrado, apresentada pelo primeiro autor ao curso de pós-graduação em Solos e Nutrição de Plantas da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ/USP. )

Macro and micromorphology of nodular ferricretes developed over sandstone in the north of são paulo, Brazil

M. R. CoelhoI; P. Vidal-TorradoII ; F. S. B. LadeiraIII

IAssistente Técnico de Pesquisa Científica e Tecnológica do Centro de Solos e Recursos Agroambientais, Instituto Agronômico de Campinas - IAC. Caixa Postal 28, CEP 13020-900 Campinas (SP). E-mail: mrcoelho@barao.iac.br

IIProfessor do Departamento de Ciência do Solo, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ/USP. Caixa Postal 09, CEP 13418-900 Piracicaba (SP). Bolsista do CNPq. E-mail: pablo@carpa.ciagri.usp.br

IIIDoutorando do Curso de Pós-graduação em Geografia Física do Departamento de Geografia, Universidade de São Paulo - USP. E-mail: fsbladeira@terra.com.br

RESUMO

Nas paisagens do norte do estado de São Paulo, sob domínio do Planalto Ocidental, ferricretes ocorrem em diferentes níveis topográficos e, apesar de pouco documentados, constituem feições que se repetem com freqüência sobre os arenitos cretácicos do Grupo Bauru, Formação Adamantina. Realizou-se um estudo morfológico, em diferentes escalas de observação, a fim de elucidar a gênese desses ferricretes (plintita e petroplintita) encontrados no terço inferior de uma vertente dominada por solos com B textural. A área estudada localiza-se na Estação Experimental de Agronomia de Pindorama, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), região norte do estado de São Paulo. Dois perfis foram selecionados para a descrição morfológica detalhada e para as observações micromorfológicas com lupa binocular e microscópio petrográfico. As evidências macro e micromorfológicas dos ferricretes revelam uma origem associada à lixiviação do ferro ferroso a montante da paisagem e reprecipitação na zona de vadosa. Esses ferricretes apresentaram diferentes fábricas internas, a maioria dos quais com estruturas de degradação, evidenciando o desmantelamento atual da couraça. As diferenças nas fábricas internas estão relacionadas com a distribuição do esqueleto e do plasma: alguns apresentam esqueleto bem selecionado, com predominância de areia muito fina, enquanto em outros predomina a areia média; outros, ainda, mostram esqueleto pouco selecionado, assemelhando-se ao fundo matricial interglebular; a maioria mostra alguns volumes ocupados apenas por plasma. Demonstra-se que fatores pedo-lito-biológicos estão envolvidos nessa diversidade entre ferricretes de um mesmo horizonte, formando in situ glébulas tão distintas em suas fábricas, que podem ser erroneamente interpretadas como provenientes de diferentes locais da paisagem, transportadas e depositadas nas baixas encostas durante a gênese dos ferricretes.

Termos de indexação: gênese de ferricretes, micromorfologia, petroplintita, laterita, relações solo-paisagem.

SUMMARY

On the landscape of the Eastern Plateau, north of the State of São Paulo, Brazil, there are ferricretes in different elevations. Although these features are relatively frequent over the cretaceous sandstone (Adamantina Formation, Bauru Group), little investigation has been carried out on their genesis. A morphological study at different levels of observation was conducted in order to elucidate the genesis of ferricretes (plinthite and petroplinthite), occurring at the toeslope of a landscape where soils with argillic horizon predominate, at the Pindorama Experimental Station of the Agronomic Institute (IAC). Two soil profiles were selected for detailed morphological description and samples taken for micromorphological observation using a binocular (reflected light) and a petrographic microscope. The macro and micromorphological evidence showed that ferricrete genesis is associated with the removal of ferrous iron from the upper slope position by throughflow and re-precipitation in the vadose zone. These ferricretes showed different internal fabrics, most having structures of degradation, giving evidence that the ironstone layer is currently being broken down. The fabric differentations are related to the skeleton and plasma distribution. Some ferricretes have well selected skeleton, with predominance of very fine sand, others have predominance of medium-size sand and yet others have poorly selected skeletons, resembling the matrix-s interglaebules. Most of the glaebules show some volume occupied by plasma only. It is shown that pedo-lito-biological factors are involved in the diversity of ferricretes of one soil horizon. Thus, "in situ" glaebules well differenciated in their fabric may be mistakenly interpreted as having been originated at different landscape positions and deposited at the lower positions during ferricrete formation.

Index therms: ferricretes formation, micromorphology, petroplinthite, laterite, soil-landscape relationships.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à turma da Estação Experimental de Agronomia de Pindorama, especialmente aos colegas Dr. Antonio Lúcio Mello Martins e Dr. Luís Cláudio Paterno, pelo apoio logístico nos trabalhos de campo. À Prof. Dra. Selma Simões de Castro, pelas valiosas sugestões nas análises micromorfológicas.

Recebido para publicação em abril de 2000

Aprovado em dezembro de 2000

  • BATISTA, M.A. & SANTOS, M.C. Morfologia e gênese de dois solos com plintita da Região Meio-Norte do Brasil. R. Bras. Ci. Solo, 9:287-296, 1995.
  • BEAUVAIS, A. & COLIN, F. Formation and transformation processes of iron duricrust systems in tropical humid environment. Chem. Geol., 106:77-101, 1993.
  • BELLINFANTE, N.; PANEQUE, G. & CLEMENTE, L. Estudio de las concreciones de un suelo de perfil complejo situado en la terraza del Guadalquivir de San Pablo (Sevilla). An. Edafol. Agrobiol., 29:477-483, 1970.
  • BIGARELLA, J.J.; BECKER, R.D & PASSOS, E. Estrutura o origem das paisagens tropicais e subtropicais: Intemperismo biológico, pedogênese, laterização, bauxitização e concentração de bens minerais. Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina, 1996. 2v.
  • BOULET, R.; CHAUVEL, A. HUMBEL, F.X. & LUCA, Y. Analyse structurale et cartographie en pédologie. Cah. ORSTOM Ser. Pédol., 19:309-351, 1982.
  • BOURMAN, R.P. Modes of ferricrete genesis: evidence from southeastern Australia. Z. Geomorphol., 37:77-101, 1993.
  • BOURMAN, R.P.; MILNES, A.R. & OADES, J.M. Investigations of ferricretes and related surficial ferruginous materials in parts of southern and eastern Australia. Zeitschrift Für Geomorphologie. Laterites, Some aspects of current reserch, 1987 p.1-24. (Supplementband, 64)
  • BREWER, R. Fabric and mineral analysis of soils. New York, Robert E. Krieger Publishing Company, 1976. 482p.
  • CASTRO, S.S. Impregnação de amostras de solos para confecção de lâmina delgada. B. Inf. SBCS, 10:44, 1985.
  • CASTRO, S.S. Micromorfologia de solos - Pequeno guia prático para descrição de lâminas delgadas. São Paulo, 1989a. 87p. Mimeografado.
  • CASTRO, S.S. Sistema de transformação pedológica em Marília: B latossólicos e B texturais. São Paulo, 1989b, 274p. (Tese de Doutorado)
  • COELHO, M.R. Caracterização e gênese de ferricretes desenvolvidos do arenito Bauru, Formação Adamantina (Ka), no município de Pindorama (SP). Piracicaba, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", 1998. 233p. (Tese de Mestrado)
  • CURI, N.; LARACH, J.O.I.; KÄMPF, N.; MONIZ, A.C. & FONTES, L.E.F. Vocabulário de ciência do solo. Campinas, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1993. 90p.
  • DANIELS, R.B.; PERKINS, H.F.; HAJEK, B.F. & GAMBLE, E.E. Morphology of discontinuous phase plinthite and criteria for its field identification in the Southeastern United States. Soil Sci. Soc. Am. J., 42:944-949, 1978.
  • EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos, Rio de Janeiro. Sistema brasileiro de classificação de solos. Brasília, Produção de Informação, 1999. 412p.
  • FAO/UNESCO/ISRIC. Soil map of the world. Wageningen, ISRIC, 1994. 140p.
  • IBANGA, I.J. The physical, chemical, and mineralogical properties of laterite samples formed in various environments. Raleigh, University of Raleigh, 1980. 120p. (Tese de Doutorado)
  • JIMENEZ-RUEDA, J.R. & DEMATTÊ, J.L.I. Solos originários de lamitos da formação Marília (Grupo Bauru) da região de Monte Alto, SP. R. Bras. Ci. Solo, 12:161-170, 1988.
  • LADEIRA, F.S.B. Estudo micromorfológico de um Latossolo Roxo no município de Guaíra - SP. São Paulo, Universidade de São Paulo, 1995. 93p. (Tese de Mestrado)
  • MARQUES Jr., J. Distribuição e atributos dos solos em relação à forma e evolução de uma vertente em Monte Alto, SP. Piracicaba, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", 1995. 228p. (Tese de Doutorado)
  • LEMOS, R.C. & SANTOS, R.D. Manual de descrição e coleta de solo no campo. Terceira edição. Campinas, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo - Centro Nacional de Pesquisa de Solos, 1996. 83p.
  • LEPSCH, I.F.; BUOL, S.W. & DANIELS, R.B. Soil landscape relationships in the Occidental Plateau of São Paulo State, Brazil: Part I. Geomorphic surfaces and soil mapping units. Soil Sci. Soc. Am. J., 41:104-109, 1977a.
  • LEPSCH, I.F.; BUOL, S.W. & DANIELS, R.B. Soil landscape relationships in the Occidental Plateau of São Paulo State, Brazil: Part II. Soil morphology, genesis and classification. Soil Sci. Soc. Am. J., 41:109-115, 1977b.
  • LEPSCH, I.F. & VALADARES, J.M.A.S. Levantamento pedológico detalhado da Estação Experimental de Pindorama, SP. Bragantia, 35:13-39, 1976.
  • McFARLANE, M.J. Laterite and Landscape. New York, Academic Press, 1976. 151p.
  • McFARLANE, M.J. Laterites. In: GOUDIE, A. & PYE, K., eds. Chemical sediments and geomorphology. London, Academic Press, 1983. p.7-58.
  • MILNES, A.R.; BOURMAN, R.P. & NORTHCOTE, K.H. Field relationships of ferricretes and weathered zones in southern south Australia: A contribution to 'Laterite' studies in Australia. Aust. J. Soil Res., 23:441-465, 1985.
  • NAHON, D. Evolution of iron crusts in tropical landscapes. In: COLMAN, S.M. & DETHIER, D.P., eds. Rates of Chemical Weathering of Rocks and Minerals. New York, Academic Press, 1986. p.169-191.
  • ROQUIN, C.; PAQUET, H.; FREYSSINET, P.; BOEGLIN, J.L. & TARDY, Y. Lithodependence and homogeization of mineralogical and chemical composition of ferricretes. Chem. Geol., 84:124-137, 1990.
  • SIVARAJASINGHAM, S.; ALEXANDER, L.T.; CADY, J.G. & CLINE, M.G. Laterite. Adv. Agron., 14:1-60, 1962.
  • SOARES, P.C.; LANDIM, P.M.B.; FÚLFARO, V.J. & NETO SOBREIRO, A.F. Ensaio de caracterização estratigráfica do cretáceo no estado de São Paulo: Grupo Bauru. R. Bras. Geoci., 10:177-235, 1980.
  • TARDY, Y.; KOBILSEK, B. & PAQUET, H. Mineralogical composition and geographical distribuition of African and Brazilian periatlantic laterites. The influence of continental drift and tropical paleoclimates during the past 150 million years and implications for India and Australia. J. Afr. Earth Sci., 12:283-295, 1991.
  • TARDY, Y. Pétrologie des latérites et des sols tropicaux. Paris, Masson, 1993. 459p.
  • TARDY, Y. & NAHON, D. Geochemistry of laterites, stability of Al-Goethite,Al-Hematite, and Fe+3- kaolinite in bauxites and ferricretes: An approach to the mechanism of concretion formation. Am. J. Sci., 285:865-903, 1985.
  • TARDY, Y. & ROQUIN, C. Geochemistry and evolution of lateritic landscapes. In: MARTINI, I.P. & CHESWORTH, W. Weathering Soils & Paleosols. Guelf, Elsevier, 1992. p.407-433.
  • WRIGHT, V.P.; SLOAN, R.J.; GARCÉS, B.V. & GARVIE, L.A.J. Groundwater ferricretes from the Silurian of Ireland and Permian of the Spanish Pyrenees. Sedim. Geol., 77:37-49, 1992.
  • (1
    ) Parte da Tese de Mestrado, apresentada pelo primeiro autor ao curso de pós-graduação em Solos e Nutrição de Plantas da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ/USP.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Out 2014
    • Data do Fascículo
      Jun 2001

    Histórico

    • Aceito
      Dez 2000
    • Recebido
      Abr 2000
    Sociedade Brasileira de Ciência do Solo Secretaria Executiva , Caixa Postal 231, 36570-000 Viçosa MG Brasil, Tel.: (55 31) 3899 2471 - Viçosa - MG - Brazil
    E-mail: sbcs@ufv.br