Acessibilidade / Reportar erro

Parasitemia em pacientes chagásicos crônicos avaliada pelo indice de triatomíneos infectados no xenodiagnóstico

Resumos

Como parte de um estudo pré-terapêutico da infecção chagásica crônica, a parasitemia de 206pacientes (85 homens e 121 mulheres, com idades de 7 a 80 anos, média de 37,4 ± 14,6) do município de Virgem da Lapa, Minas Gerais, foi avaliada pelo índice de ninfas de triatomíneos infectadas nos xenodiagnósticos aplicados. Cada paciente foi submetido a três exames no período de 12 meses. Em cada exame foram aplicadas 40 ninfas de 3.° ou 4.° estádios de Triatoma infestans. A parasitemia de cada paciente foi classificada arbitrariamente, de acordo com o percentual de ninfas positivas no total de examinadas nos três xenos, em: não detectada - todas as ninfas negativas; baixa - quando o valor era maior que zero ou até igual a 2,0%; média - quando maior que 2,0% ou até igual a 7,0%; e alta- quando era maior que 7,0%. Com esses critérios a parasitemia não foi detectada em 105 (51,0%) pacientes, foi baixa em 55 (26,7%), média em 27 (13,1%) e alta em 19 (9,2%). Não houve diferença nos níveis da parasitemia em relação ao sexo dos pacientes, mas em relação aos grupos etários foi maior a freqüência da parasitemia baixa no grupo de 60 ou mais anos. A parasitemia alta foi mais freqüente no grupo de pacientes com cardiopatia crônica chagásica. A "parasitemia persistente" (todos os xenopositivos) foi observada em todos os pacientes com parasitemia alta, em 22,2% dos que apresentaram parasitemia média e em nenhum com parasitemia baixa.

Doença de Chagas; Xenodiagnóstico; Parasitemia; Triatoma infestans


As part of a pre-treatment study of chronic Chagas infections, the parasitemia of 206 patients (85 men and 121 women, aged 7 to 80y)from Virgem da Lapa, Minas Gerais State Brazil, was evaluated by three xenodiagnoses per patient during a one year period. Each time, 40 3rd or 4th instar nymphs of Triatoma infestans were applied. The parasitemia was arbitrarily classified as: not detected (when all nymphs were negative), low (when the number of infected nymphs was less than 2%), medium (when it was higher than 2% and up to 7%) and high (when higher than 7%). The parasitemia was not detected in 105 (51%) of the patients, and was considered low in 55 (26,7%), medium in 27 (13.1%) and high in 19 (9,2%). There was no significant differences in levels of parasitemia in relation to sex or age, but the high parasitemia was more frequent among the patients with chagasic cardiomyopathy. Persistent parasitemia (all three xenodiagnoses positive) was observed in 100% of the patients with high parasitemia, in 22.2% with medium and in none with low parasitemia.

Chagas' disease; Xenodiagnosis; Parasitemia; Triatoma infestans


ARTIGOS

Parasitemia em pacientes chagásicos crônicos avaliada pelo indice de triatomíneos infectados no xenodiagnóstico

José Borges PereiraI; Henry Percy Faraco WillcoxI; Carlos Brisola MarcondesII; José Rodrigues CouraI

IDepartamento de Medicina Tropical do Instituto Oswaldo Cruz, Caixa Postal 926, Rio de Janeiro

IINúcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa

RESUMO

Como parte de um estudo pré-terapêutico da infecção chagásica crônica, a parasitemia de 206pacientes (85 homens e 121 mulheres, com idades de 7 a 80 anos, média de 37,4 ± 14,6) do município de Virgem da Lapa, Minas Gerais, foi avaliada pelo índice de ninfas de triatomíneos infectadas nos xenodiagnósticos aplicados. Cada paciente foi submetido a três exames no período de 12 meses. Em cada exame foram aplicadas 40 ninfas de 3.° ou 4.° estádios de Triatoma infestans. A parasitemia de cada paciente foi classificada arbitrariamente, de acordo com o percentual de ninfas positivas no total de examinadas nos três xenos, em: não detectada - todas as ninfas negativas; baixa - quando o valor era maior que zero ou até igual a 2,0%; média - quando maior que 2,0% ou até igual a 7,0%; e alta- quando era maior que 7,0%. Com esses critérios a parasitemia não foi detectada em 105 (51,0%) pacientes, foi baixa em 55 (26,7%), média em 27 (13,1%) e alta em 19 (9,2%). Não houve diferença nos níveis da parasitemia em relação ao sexo dos pacientes, mas em relação aos grupos etários foi maior a freqüência da parasitemia baixa no grupo de 60 ou mais anos. A parasitemia alta foi mais freqüente no grupo de pacientes com cardiopatia crônica chagásica. A "parasitemia persistente" (todos os xenopositivos) foi observada em todos os pacientes com parasitemia alta, em 22,2% dos que apresentaram parasitemia média e em nenhum com parasitemia baixa.

Palavras-chave: Doença de Chagas. Xenodiagnóstico. Parasitemia. Triatoma infestans.

ABSTRACT

As part of a pre-treatment study of chronic Chagas infections, the parasitemia of 206 patients (85 men and 121 women, aged 7 to 80y)from Virgem da Lapa, Minas Gerais State Brazil, was evaluated by three xenodiagnoses per patient during a one year period. Each time, 40 3rd or 4th instar nymphs of Triatoma infestans were applied. The parasitemia was arbitrarily classified as: not detected (when all nymphs were negative), low (when the number of infected nymphs was less than 2%), medium (when it was higher than 2% and up to 7%) and high (when higher than 7%). The parasitemia was not detected in 105 (51%) of the patients, and was considered low in 55 (26,7%), medium in 27 (13.1%) and high in 19 (9,2%). There was no significant differences in levels of parasitemia in relation to sex or age, but the high parasitemia was more frequent among the patients with chagasic cardiomyopathy. Persistent parasitemia (all three xenodiagnoses positive) was observed in 100% of the patients with high parasitemia, in 22.2% with medium and in none with low parasitemia.

Keywords: Chagas' disease. Xenodiagnosis. Parasitemia. Triatoma infestans.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Recebido para publicação em 3/8/88.

  • 1. Albuquerque RDR, Fernandes LAR, Funayama GK, Ferriolli Filho F, Siqueira AF. Hemoculturas seriadas com o meio de Warren em pacientes com reação de ' Guerreiro Machado positiva. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 14: 1-5, 1972.
  • 2. Almeida SP, Miles MA, Marsden PD. Verificação da susceptibilidade à infecção por Trypanosoma cruzi, dos estágios evolutivos de Rhodnius neglectus Revista Brasileira de Biologia 33: 43-52, 1973.
  • 3. Almeida SP, Sherlock IA, Fahel E. Novo procedimento do xenodiagnóstico na forma crônica da doença de Chagas. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 74: 285- 287, 1976.
  • 4. Alvarenga NJ, Bronfen E. Interação do Trypanosoma cruzi com diferentes vetores: uso para o xenodiagnóstico. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 17: 145-149, 1984.
  • 5. Alvarenga NJ, Cuba CC, Barreto AC, Marsden PD, Macedo V. Valor comparativo entre Dipetalogaster maximus e Triatoma infestans no diagnóstico parasitológico de pacientes chagásicos crônicos com sorologia positiva. In: Resumos do XIII Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e II Congresso da Sociedade Brasileira de Parasitologia, Brasília, Distrito Federal, 1977.
  • 6. Bronfen E, Dias JCP, Gouveia SC. Infecção experimental de Triatoma infestans e Panstrongylus megistus pela cepa Y do Trypanosoma cruzi (Silva e Nussenzweig, 1953). Revista de Patologia Tropical 13: 1-7, 1984.
  • 7. Brumpt E. O xenodiagnóstico. Aplicação ao diagnóstico de algumas infecções parasitárias e em particular à tripanosomose de Chagas. Anais Paulista de Medicina e Cirurgia 3: 97-102, 1914.
  • 8. Cançado JR, Barra UD, Mourão OG, Alvares JM, Oliveira JPM, Machado JR, Salgado AA. Bases para a avaliação do tratamento específico da doença de Chagas - humana segundo a parasitemia. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 7: 155-166, 1973.
  • 9. Castro CN. Influência da parasitemia no quadro clínico da doença de Chagas. Revista de Patologia Tropical 9: 73-136, 1980.
  • 10. Castro CN, Alves MT, Macêdo VO. Importância da repetição do xenodiagnóstico para avaliação da parasitemia na fase crônica da doença de Chagas. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 16: 98-103, 1983.
  • 11. Cerisola JA, Neves da Silva N, Prata A, Shenone H, Rohwedder R. Evalución mediante xenodiagnóstico de la efectividad del nifurtímox en la infección chagásica crónica humana. Boletin Chileno de Parasitologia 32: 51-62, 1977.
  • 12. Chiari E, Brener Z. Contribuição ao diagnóstico parasitológico da doença de Chagas na sua fase crônica. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 8: 134-138, 1966.
  • 13. Coura JR, Abreu LL, Dubois LEG, Correia-Lima F, Arruda Junior E, Willcox HPF, Anunziato N, Petana W. Morbidade da doença de Chagas. II - Estudos Vseccionais em quatro áreas de campo no Brasil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 79: 101-124, 1984.
  • 14. Cuba CC, Alvarenga NJ, Barreto AC, Marsden PD, Macedo V, Gama MP. Dipetalogaster maximus (Hemiptera,Triatominae) for xenodiagnosis of patients with serologically detectable Trypanosoma cruzi infection. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene 73: 524-527, 1979.
  • 15. Dias E. Técnica do xenodiagnóstico na moléstia de Chagas. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 35: 335- .345, 1940.
  • 16;. Guedes AS. Determinação do índice de infecção de triatomíneos por Schizotrypanum cruzi pelo exame , simples das fezes obtidas por expressão e por dissecação do intestino posterior do inseto. Dados preliminares. Revista Brasileira de Malariologia e Doenças Tropicais 4: 464-465, 1952.
  • 17. Marsden PD, Mott KE, Prata A. The prevalence of Trypanosoma cruzi parasitaemia in 8 families in an endemic area. Gazeta Médica da Bahia 69:65-69,1969.
  • 18. Neal RA, Miles RA. The sensitivity of culture methods to detect experimental infections of Trypanosoma cruzi and comparison with xenodiagnosis. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 19: 170-176,1977.
  • 19. Pereira JB, Coura JR. Morbidade da doença de Chagas. Estudo seccional em uma área endêmica, Virgem da Lapa, Minas Gerais. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 19: 139-148, 1986.
  • 20. Pereira JB, Coura JR. Morbidade da doença de Chagas em populações urbanas do Sertão da Paraíba. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 20:101-107, 1987.
  • 21. Perlowagora-Szumlevicz A, Muller AC. Experiments in a search for an insect model for xenodiagnosis. I - The prevalence and intensity of infection with T. cruzi in nine f vectors species. In: Anais do Congresso Internacional sobre a doença de Chagas, Rio de Janeiro, p E 11-E 17, 1979.
  • 22. Perlowagora-Szumlevicz A, Muller CA. Studies in search of a suitable experimental insect model for xenodiagnosis of hosts with Chagas' disease. 2 - Attempts to . upgrade the reliability and the efficacy of xenodiagnosis in chronic Chagas' disease. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 82: 259-272, 1987.
  • 23. Pifano CF. El diagnóstico parasitológico de la enfermedad de Chagas em fase crónica. Estúdio comparativo entre la gota gruesa, el xenodiagnóstico, el hemocultivo y las inoculaciones experimentales em animates sensibles. Abstract In Tropical Disease Bulletin 52:880-881, 1955.
  • 24. Salgado AA. Consideraciones sobre metodologia y sensibilidad del xenodiagnóstico. Boletin Chileno de Parasitologia. 24: 9-13, 1969.
  • 25. Salgado AA. Xenodiagnosis in the selection of patients and evaluation of treatment. In: American Trypanosomiasis Research, Belo Horizonte, p. 223, 1975.
  • 26. Schenone H, Alfaro E, Reyes H, Taucher E. Valor del xenodiagnóstico en la infección chagásica crónica. Boletin Chileno de Parasitologia 23: 149-154, 1968.
  • 27. Schenone H, Alfaro E, Rojas A. Bases y rendimento del xenodiagnóstico en la infección chagásica human. Boletin Chileno de Parasitologia 29: 24-26, 1974.
  • 28. Schenone H, Rojo M, Rojas A, Concha L. Positividad diurna y nocturna del xenodiagnóstico en un paciente con infección chagásica crónica de parasitemia permanente. Boletin Chileno de Parasitologia 32: 63-66, 1977.
  • 29. Sherlock IA. Parasitemia constante durante 24 horas consecutivas na infecção experimental pelo Trypanosoma cruzi Re vista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 17: 137-144, 1984.
  • 30. Sherlock IA, Álmeida SP. Diferenças de susceptibilidade à infecção com T. cruzi entre espécies de triatomíneos alimentados em cão, tatu e camundongo infectados. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 7: 87-98, 1971.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Maio 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 1989

Histórico

  • Recebido
    03 Ago 1988
  • Aceito
    03 Ago 1988
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical - SBMT Caixa Postal 118, 38001-970 Uberaba MG Brazil, Tel.: +55 34 3318-5255 / +55 34 3318-5636/ +55 34 3318-5287, http://rsbmt.org.br/ - Uberaba - MG - Brazil
E-mail: rsbmt@uftm.edu.br