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Nota sôbre Psychodopygus squamiventris (Lutz & Neiva, 1912) e espécies afins (Diptera, Psychodidae)

Some data on Psychodopygus squamiventris (Lutz & Neiva, 1912) and related species (Diptera, Psychodidae)

Resumos

Reestuda-se a questão de Psychodopygus squamiventris (Lutz & Neiva, 1912), estabelecendo a validade dessa identificação para exemplares de várias procedências. Firma-se o conceito de novas sinonímias.

Psychodopygus; Psychodopygus squamiventris; Phlebotominae; Diptera; Psychodidae; Psychodopygus maripaensis


The taxonomic status of Psychodopygus squamiventris (Lutz & Neiva, 1912) is studied and new criteria for the identification of some of the knew material is established. The Amapa and French Guyana specimens belong to this species, and Phlebotomus maripaensis Floch & Abonnenc, 1946, represents the squamiventris male, droping so in its synonymi.

Psychodopygus; Phlebotominae; Psychodopygus squamiventris; Diptera; Psychodidae; Psychodopygus maripaensis


NOTAS E INFORMAÇÕES / NOTES AND INFORMATION

Nota sôbre Psychodopygus squamiventris (Lutz & Neiva, 1912) e espécies afins (Diptera, Psychodidae)

Some data on Psychodopygus squamiventris (Lutz & Neiva, 1912) and related species (Diptera, Psychodidae)

Oswaldo Paulo Forattini

Do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP – Av. Dr. Arnaldo, 715, São Paulo, SP - Brasil

RESUMO

Reestuda-se a questão de Psychodopygus squamiventris (Lutz & Neiva, 1912), estabelecendo a validade dessa identificação para exemplares de várias procedências. Firma-se o conceito de novas sinonímias.

Unitermos:Psychodopygus*; Psychodopygus squamiventris*; Phlebotominae *; Diptera; Psychodidae; Psychodopygus maripaensis.

SUMMARY

The taxonomic status of Psychodopygus squamiventris (Lutz & Neiva, 1912) is studied and new criteria for the identification of some of the knew material is established. The Amapa and French Guyana specimens belong to this species, and Phlebotomus maripaensis Floch & Abonnenc, 1946, represents the squamiventris male, droping so in its synonymi.

Uniterms: Psychodopygus *; Phlebotominae*; Psychodopygus squamiventris*; Diptera; Psychodidae; Psychodopygus maripaensis.

Como já foi assinalado por FAIRCHILD e HERTIG1 (1951), nenhuma outra espécie de Phlebotominae neotropicais tem sido objeto de tantas dúvidas como Psychodopygus squamiventris, descrita por LUTZ e NEIVA3 (1912). Conhecida apenas pelo sexo feminino, a ela foram atribuídas várias identificações cuja confirmação nem sempre foi obtida posteriormente. Entre os estudos levados a efeito destacam-se o supracitado1, que se baseou em material da Colombia, e a mais recente revisão de MARTINS et al.5 (1968) com a redescrição do material típico. Nesses estudos, procurou-se caracterizar a espécie lançando mão de elementos vários cuja validade, como veremos a seguir, parece ser bastante variável.

Para mencionar sòmente os trabalhos que, até agora, se ocuparam mais devidamente com essa questão taxonômica, o material identificado até o momento como P. squamiventris e que tem sido objeto dessas várias considerações, é o seguinte:

a) número indeterminado de exemplares fêmeas coletados no Rio Trombetas, Estado do Pará, Brasil (LUTZ e NEIVA 3, 1912);

b) número indeterminado de exemplares fêmeas coletados em Salto Augusto, Estado de Mato Grosso, Brasil (LUTZ e NEIVA 3 1912);

c) cêrca de 50 exemplares fêmeas e um exemplar macho coletados em Villavicencio, Meta, Colômbia (FAIRCHILD e HERTIG1, 1951);

d) 88 exemplares fêmeas coletados em Campo Verde, Território Federal do Amapá, Brasil (FORATTINI 2, 1960);

e) 19 exemplares fêmeas coletados em Caracaraí e Boa Vista, Território Federal de Roraima, e em Manaus, Estado do Amazonas, Brasil (MARTINS et al.5, 1968).

O estudo de MARTINS et al.5 (1968) permitiu a caracterização completa, nos padrões atuais, do sexo feminino desta espécie. Continuando êsses estudos, os citados autores chegaram à conclusão que, mediante critérios de medição, seria possível a identificação e o estabelecimento da situação taxionômica de squamiventris e das espécies próximas. Assim procedendo, concluiram êles que:

1 – A espécie Psychodopygus chagasi, conhecida sòmente pela fêmea, é o representante dêsse sexo de P. unisetosus que assim cairia na sinonímia daquela.

2 – O material identificado como Psychodopygus squamiventris por FAIRCHILD e HERTIG1 (1951) na realidade representa espécie nova, descrita posteriormente por MARTINS4 (1970) com o nome de Psychodopygus fairtigi.

3 – O material identificado como Psychodapygus squamiventris por FORATTINI2 (1960) representa o sexo feminino de P. maripaensis.

4 – É altamente provável que Psychodopygus squamiventris represente o sexo feminino de P. complexus.

Os critérios quantitativos adotados para atingir essas conclusões foram o número de dentes verticais da armadura bucal da fêmea e o comprimento, em micra, do terceiro segmento antenal dos mesmos exemplares.

Diante dêsses estudos minuciosos que vieram trazer bastante luz sôbre o assunto, resolvemos levar a efeito algumas verificações no material por nós disponível. Êste, em relação à questão squamiventris, constou dos seguintes exemplares:

a) 12 exemplares fêmeas coletados em Campo Verde, Território Federal do Amapá, Brasil (FORATTINI2, 1960).

b) 2 exemplares fêmeas coletados em Restrepo, Meta, Colômbia, por P. C. A. Antunes, em 1935.

c) Um exemplar fêmea identificado como P. maripaensis coletado em Crique Virgile, Guiana Francesa, em 27-2-1959, e que nos foi gentilmente cedido por E. Abonnenc.

O estudo dêsse material e os dados de MARTINS et al.5 (1968), permitiram-nos algumas conclusões que passaremos a expor.

Inicialmente, somos de opinião que o emprêgo de dados quantitativos para a caracterização específica, baseados em medidas de partes do corpo do flebotomíneo, constitui método, além de pouco prático, grandemente sujeito a falhas. E isso pela simples razão de que não dispomos de dados satisfatórios sôbre a densidade populacional dessas espécies o que, já de início, torna bastante problemática a obtenção de amostra representativa. São pois, realmente muito tênues as garantias de que, as medidas levadas a efeito em certo número de espécimens sejam suficientes para escoimar a provável variabilidade do caráter. Obedecendo a essa ordem de idéias, admitimos como de algum valor relativo, o número de dentes da armadura bucal, mas temos dúvida que, mesmo essa qualificação reduzida, possa ser atribuída ao comprimento do terceiro artículo antenal.

A filiação dos sexos, pela captura simultânea de machos e fêmeas, parece-nos, em falta de outros, orientação bastante lógica e, nesse particular, concordamos com os supracitados autores.

A redescrição da fêmea de Psychodopygus squamiventris trouxe, a nosso ver, valiosos dados morfológicos principalmente quanto ao aspecto dos dutos individuais das espermatecas e, secundàriamente, ao número de dentes verticais da armadura bucal.

Levando, pois em conta tais critérios, o estudo de nosso material forneceu os seguintes resultados:

1 – Os exemplares do Amapá, identificados como squamiventris por FORATTINI2 (1960) são indistinguíveis da descrição dessa espécie feita por MARTINS et al.5 (1968). A única diferença, aliás já apontada por êsses autores, que reside nos comprimentos dos terceiros artículos antenais é, em nossa opinião, inconsistente, pelo menos no estado atual dos conhecimentos.

2 – O mesmo pudemos verificar em relação à fêmea da Guiana Francêsa, identificada como maripaensis.

3 – Os exemplares de Restrepo, mesma região de Villavicêncio, Colômbia, superpõem-se aos descritos para esta última por FAIRCHILD e HERTIG 1 (1951).

Diante disso, cabem algumas considerações. A redescrição de Psychodopygus squamiventris constituiu-se em informação de grande valor e permitiu caracterizar a fêmea desta espécie. Isso pôde-se fazer através o nítido aspecto dilatado apresentado pela porção membranosa dos dutos individuais das espermatecas. Assim sendo, e utilizando o critério das capturas simultâneas, somos levados a concluir que os exemplares do Amapá, determinados por FORATTINI 2 (1960) pertencem realmente a esta espécie. Os machos identificados nessa mesma ocasião como maripaensis podem representar, na realidade, o sexo masculino de squamiventris. Ao lado disso, o exemplar fêmea da Guiana Francêsa determinado como daquela espécie, embora êsse sexo não tenha sido descrito para ela, sobrepõem-se àqueles do Amapá. Por conseguinte, pelo menos tentativamente, parece lógico supor que maripaensis tenha que passar à sinonímia.

Quanto ao material da Colômbia estudado por FAIRCHILD e HERTIG 1 (1951) não vemos como distinguir as fêmeas das de squamiventris. O mesmo podemos dizer dos espécimens examinados por nós e acima referidos. Quanto ao sexo masculino, descrito naquela ocasião pelos citados autores a custa de um único exemplar, duas são as atitudes a tomar: ou êle pertence a essas fêmeas ou não. Em qualquer dos dois casos, embora muito próximo de Psychodopygus complexus, trata-se de espécie distinta, Psychodopygus fairtigi. Assim sendo, se pertencer aos exemplares femininos coletados juntamente com êle, fairtigi será flebotomíneo com fêmeas indistinguíveis de squamiventris. Na segunda hipótese, tratar-se-á de espécie conhecida apenas pelo sexo masculino. Até que novos conhecimentos possam ser adquiridos, adotaremos o primeiro ponto de vista, acompanhando neste particular a MARTINS et al.5 (1968). Em vista disso, o material procedente de Salto Augusto, Mato Grosso, Brasil, constituído por espécimens femininos indistinguíveis dos colombianos, deverão ser identificados a fairtigi.

A respeito de Psychodopygus chagasi, também redescrito por MARTINS et al.5 (1968), parece lícito admitir, seguindo a mesma ordem de idéias e, de acôrdo com as verificações dêsses mesmos autores, que tem em P. unisetosus o seu representante masculino.

Em conclusão, o conjunto de espécies afins de Psychodopygus squamiventris, são difìcilmente distinguíveis pelo sexo feminino. No estado atual dos conhecimentos e em nossa opinião, apresentam a seguinte situação taxionômica:

1 – Psychodopygus ( Psychodopygus) squamiventris (LUTZ & NEIVA, 1912). Sinonímia: Phlebotomus maripaensis FLOCH & ABONNENC, 1946.

2 – Psychodopygus (Psychodopygus) chagasi (LIMA, 1941). Sinonímia: Flebotomus (Psychodopygus) unisetosus MANGABEIRA, 1941.

3 – Psychodopygus(Psychodopygus) complexus (MANGABEIRA, 1941). Conhecida apenas pelo sexo masculino.

4 – Psychodopygus(Psychodopygus) bernalei (OSORNO-MESA, MORALES-ALARCÓN & OSORNO, 1967). Conhecida apenas pelo sexo masculino.

5 – Psychodopygus (Psychodopygus) fairtigi (MARTINS, 1970). Sinonímia : Phlebotomus squamiventris LUTZ & NEIVA, 1912 (pro-parte); Phlebotomus squamiventris FAIRCHILD & HERTIG, 1951 (nec LUTZ & NEIVA, 1912).

Recebido para publicação em 5-4-1971

  • 1. FAIRCHILD, G. B. & HERTIG, M. Notes on the Phlebotomus of Panama (Diptera, Psychodidae). VII The subgenus Shannonomyina Pratt. Ann. ent. Soc. Am., 44: 399-421, 1951.
  • 2. FORATTINI, O. P. Notas sôbre Phlebotomus do Território Amapá, Brasil (Diptera, Psychodidae). Studia Ent., 3:467-80, 1960.
  • 3. LUTZ, A. & NEIVA, A. Contribuição para o conhecimento das espécies do gênero Phlebotomus existentes no Brasil. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 4:467-80, 1912.
  • 4. MARTINS, A. V. Lutzomyia (Psychodopygus) fairtigi n. sp. from Colombia. Proc. ent. Soc. Wash., 72:279, 1970.
  • 5. MARTINS, A. V. et al. Notas sôbre os flebotomos do grupo squamiventris do subgênero Psychodopygus Mangabeira, 1941 (Diptera, Psychodidae). Bol. Museu Hist. nat. Minas Gerais, 1:1-33, 1968.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Set 2006
  • Data do Fascículo
    Jun 1971

Histórico

  • Recebido
    05 Abr 1971
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