Acessibilidade / Reportar erro

Evolução e tendência de estudos sobre governo eletrônico: mapeamento da área - de 1992 a 2018

Evolución y tendencia de los estudios sobre gobierno electrónico: mapeo del área - de 1992 a 2018

Resumo

O tema governo eletrônico (e-gov) aparece com frequência nos círculos acadêmicos, profissionais e políticos; consequentemente, o número de trabalhos publicados sobre a temática tem se ampliado. Nesse contexto, com o presente trabalho pretende-se analisar a evolução e a tendência dos estudos na área de governo eletrônico, com o objetivo de identificar a produção científica desta, por meio da análise de artigos científicos publicados em periódicos, indexados na base de dados Web of Science (WoS) de 1992 a 2018. Para tanto, foram analisados 1.516 artigos científicos publicados em periódicos por meio do software SciMAT. As análises possibilitaram identificar padrões como: frequência de estudos por ano, principais periódicos e autores no campo, assim como os trabalhos mais citados nos artigos constantes da amostra aqui considerada. Além disso, foi realizada uma análise de cocitação de palavras, que permitiu evidenciar os principais temas de pesquisa por período, bem como a evolução do campo de estudo. Os resultados indicam um crescimento das publicações sobre e-gov e o desenvolvimento de diferentes frentes de análise. Os principais temas que indicam tendências para estudos futuros voltados ao e-gov são: social media, technology acceptance model (TAM), transparency, acceptance e information system.

Palavras-chave:
e-government; análise de cocitação; estrutura conceitual

Resumen

El tema del gobierno electrónico (e-gov) aparece con frecuencia en los círculos académicos, profesionales y políticos y, como consecuencia, el número de artículos sobre el tema ha ido en aumento. En este sentido, este texto se propone analizar la evolución y tendencia de los estudios en el área de gobierno electrónico, con el objetivo de identificar la producción científica en esta área, a partir del análisis de artículos científicos publicados en revistas indexadas en la Web de Science (WoS) de 1992 a 2018. Para ello, se analizaron 1.516 artículos científicos publicados en revistas utilizando el software SciMAT. Los análisis permitieron identificar patrones como frecuencia de estudios por año, principales revistas y autores en el campo, así como los trabajos más citados en los artículos de la muestra aquí considerada. Además, se realizó un análisis de cocitación de palabras, que permitió destacar los principales temas de investigación por período, así como la evolución del campo de estudio. Los resultados indican un aumento de publicaciones sobre e-gov y el desarrollo de diferentes frentes de análisis. Las redes sociales, el modelo de aceptación de la tecnología, la transparencia, la aceptación y el sistema de información son los principales temas que presentan tendencias para futuros estudios enfocados en e-gov.

Palabras clave:
gobierno electrónico; análisis de cocitación; marco conceptual

Abstract

The topic of electronic government (e-gov) frequently appears in academic, professional, and political circles. Consequently, the number of papers published on the subject has increased. This text analyzes the evolution and trend of studies on electronic government to identify scientific production based on the analysis of scientific articles published in journals, indexed in the Web of Science (WoS) from 1992 to 2018. We analyzed 1.516 scientific articles published in journals using the SciMAT software. We identified patterns such as frequency of studies per year, main journals and authors in the field, and the most cited works. Word citation analysis was also carried out, which made it possible to highlight the main research themes by period and the evolution of the field of study. The results indicate an increase in publications about e-gov and the development of different analysis fronts. Social media, technology acceptance model (TAM), transparency, acceptance, and information system are the main themes that indicate trends for future studies focused on e-gov.

Keywords:
e-government; cocitation analysis; conceptual framework

1. INTRODUÇÃO

Ao longo das últimas décadas, governos de todo o mundo conduziram diferentes reformas (Siddiquee, 2016Siddiquee, N. A. (2016). E-government and transformation of service delivery in developing countries The Bangladesh experience and lessons. Transforming Government: People, Process and Policy, 10(3), 368-390. Recuperado de https://doi.org/10.1108/TG-09-2015-0039
https://doi.org/10.1108/TG-09-2015-0039...
), buscando alternativas inovadoras de transformação e melhoria em operações e modelos de oferta de serviços públicos (Klievink, Bharosa & Tan, 2016Klievink, B; Bharosa, N; & Tan, Y. H. (2016). The collaborative realization of public values and business goals: Governance and infrastructure of public-private information platforms. Government Information Quarterly, 33(1), 67-79. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2015.12.002
https://doi.org/10.1016/j.giq.2015.12.00...
). Entre as alternativas possíveis, está a adoção de novas tecnologias de informação e comunicação (TICs), focadas em tecnologias da internet (Sun, Ku & Shih, 2015Sun, P. L; Ku, C. Y; & Shih, D. H. (2015). An implementation framework for E-Government 2.0. Telematics and Informatics, 32(3), 504-520. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.tele.2014.12.003
https://doi.org/10.1016/j.tele.2014.12.0...
). Desse modo, tem-se o governo eletrônico (e-gov), entendido como o uso e estudo de TICs baseadas na internet, no contexto do setor público (Sundberg, 2019Sundberg, L. (2019). Value Positions and Relationships in the Swedish Digital Government. Administrative Sciences, 9(24), 1-16. Recuperado de https://doi.org/10.3390/admsci9010024
https://doi.org/10.3390/admsci9010024...
).

O e-gov é visto como uma estratégia de reforma da governança pública (Fan & Yang, 2015Fan, J; & Yang, W. (2015). Study on e-government services quality: The integration of online and offline services. Journal of Industrial Engineering and Management, 8(3), 693-718. Recuperado de https://doi.org/10.3926/jiem.1405
https://doi.org/10.3926/jiem.1405...
), na medida em que oferece perspectivas reais de mudanças efetivas nas práticas governamentais (Siddiquee, 2016Siddiquee, N. A. (2016). E-government and transformation of service delivery in developing countries The Bangladesh experience and lessons. Transforming Government: People, Process and Policy, 10(3), 368-390. Recuperado de https://doi.org/10.1108/TG-09-2015-0039
https://doi.org/10.1108/TG-09-2015-0039...
). Diferente da prestação de um serviço tradicional (off-line), em que servidores do governo e cidadãos comunicam-se frente a frente, os serviços de governo eletrônico não são limitados pela distância e pelos horários de funcionamento, além disso, viabilizam entregas convenientes às demandas do cidadão (Fan & Yang, 2015; Kumar, Sachan & Mukherjee, 2017Kumar, R; Sachan, A; & Mukherjee, A. (2017). Qualitative approach to determine user experience of e-government services. Computers in Human Behavior, 71, 299-306. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.chb.2017.02.023
https://doi.org/10.1016/j.chb.2017.02.02...
). Isso ocorre porque o e-gov pode prover serviços de qualidade para cidadãos quando e onde demandam (Munyoka & Maharaj, 2018Munyoka, W; & Maharaj, M. S. (2018). Privacy, security, trust, risk and optimism bias in e-government use: the case of two Southern African Development Community countries. South African Journal of Information Management, 21(1), 1-9. Recuperado de https://doi.org/10.4102/sajim.v21i1.983
https://doi.org/10.4102/sajim.v21i1.983...
), com acesso 7 dias por semana, 24 horas por dia. Essa estratégia permite ofertar serviços mais efetivos em termos de custo e maior transparência das ações governamentais (Ali, Mehmood, Majeed, Muhammad & Khan, 2019Ali, U; Mehmood, A; Majeed, M. F; Muhammad, S; & Khan, M. K. (2019). Innovative Citizen’s Services through Public Cloud in Pakistan: User’s Privacy Concerns and Impacts on Adoption. Mobile Networks and Applications, 24, 47-68.), possibilitando, ainda, aumento da eficiência gerencial e de sinergia entre as diversas frentes de governo (Pieterson & Ebbers, 2008Pieterson, W; & Ebbers, W. (2008). The use of service channels by citizens in the Netherlands: implications for multi-channel management. International Review of Administrative Sciences, 74(1), 95-110. Recuperado dehttps://doi.org/10.1177/0020852307085736
https://doi.org/10.1177/0020852307085736...
).

Considerando que a área de estudos sobre o e-gov é ampla e multidisciplinar, envolvendo campos como gestão pública e sistemas de informação, nota-se, eventualmente, a existência de pesquisas polarizadas, em que não são consideradas outras áreas do conhecimento que possam estar relacionadas (Homburg, 2018Homburg, V. (2018). ICT, e-government and e-governance: bits & bytes for public administration. In E. Ongaro, & S. Thiel Van (Eds.), The Palgrave Handbook of Public Administration and Management in Europe. London, UK: Palgrave Macmillan.) e que levam ao desenvolvimento de referenciais teóricos de forma mais ou menos isolada. Em linha paralela, Wirtz e Daiser (2018Wirtz, B. W; & Daiser, P. (2018). A meta-analysis of empirical e-government research and its future research implications. International Review of Administrative Sciences, 84(1), 144-163. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0020852315599047
https://doi.org/10.1177/0020852315599047...
) argumentam que as revisões de literatura disponíveis não fornecem, ainda, uma visão abrangente sobre os principais fluxos de pesquisa e direções do e-gov, destacando a necessidade de desenvolvimento de estudos que possam apresentar os principais temas atrelados, visto que o campo é avaliado como difuso pelos autores.

Entende-se que a condução de revisões de literatura, sugeridas por Wirtz e Daiser (2018Wirtz, B. W; & Daiser, P. (2018). A meta-analysis of empirical e-government research and its future research implications. International Review of Administrative Sciences, 84(1), 144-163. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0020852315599047
https://doi.org/10.1177/0020852315599047...
), possibilitam desenvolver estudos impulsionados pelo conhecimento de publicações anteriores, por meio do levantamento de literatura concernente, o que propicia a construção de uma base para pesquisas futuras, aprofundando áreas pouco exploradas e evidenciando direções de estudo mais promissoras (Webster & Watson, 2002Webster, J; & Watson, R. T. (2002). Analyzing the Past to Prepare for the Future: Writing a Literature Review. MISQ Quarterly, 26(2), xiii-xxiii.). Autores como Rodríguez-Bolívar, Alcaide-Muñoz e López-Hernández (2016Rodríguez-Bolívar, M. P; Alcaide Muñoz, L; & López-Hernández, A. M. (2016). Scientometric Study of the Progress and Development of e-Government Research During the Period 2000-2012. Information Technology for Development, 22(1), 36-74. Recuperado de https://doi.org/10.1080/02681102.2014.927340
https://doi.org/10.1080/02681102.2014.92...
) afirmam serem os estudos bibliométricos um caminho importante para analisar o conhecimento acumulado sobre determinada área, por integrarem contribuições e proverem uma visão crítica sobre trabalhos desenvolvidos em um dado campo de estudo, possibilitando o aprimoramento do entendimento sobre a área (Rodríguez-Bolívar, et al; 2016).

Em razão da importância do tema e-gov para o setor público brasileiro, torna-se relevante mapear os estudos nesta área. Partindo do pressuposto de que o conhecimento de determinada área de estudo pode ser identificado por meio da análise de suas publicações científicas, tem-se o seguinte questionamento básico neste estudo: qual o perfil e a evolução do campo de estudos na área de e-government no período de 1992 a 2018?

Com o objetivo de responder esta questão, este trabalho debruça-se sobre a produção científica na área de governo eletrônico, por meio da análise de artigos científicos publicados em periódicos indexados na base de dados Web of Science (WoS) no período de 1992 a 2018. Pretende-se, dessa forma, identificar a evolução e a tendência dessa área, além de apresentar futura agenda de pesquisa.

Na busca desse objetivo, foram realizadas análises bibliométrica e de cocitação de palavras-chave, tendo sido delimitado em 26 anos (1992-2018) o período do levantamento. Em seguida, por sua ampla recorrência no referencial teórico levantado, foram aplicadas as palavras-chave ‘electronic government’; ‘e-government’; ‘e-gov’; e ‘digital government’ na base de dados multidisciplinar WoS, desenvolvida pela Thomson Scientific Institute for Science Information (ISI).

Os resultados do presente trabalho possibilitam a confirmação e a complementação de achados anteriores, tais como os de Barbosa (2017Barbosa, A. R. (2017). Perfil da produção científica brasileira sobre governo eletrônico. Revista Eletrônica Gestão e Serviços, 8(1), 1785. Recuperado dehttps://doi.org/10.15603/2177-7284/regs.v8n1p1785-1810
https://doi.org/10.15603/2177-7284/regs....
), Cunha, Coelho e Przeybilovicz (2017Cunha, M. A; Coelho, T. R; & Przeybilovicz, E. (2017). Get into the club: Positioning a developing country in the international e-Gov research. Electronic Journal of Information Systems in Developing Countries, 79(1), 1-21. Recuperado de https://doi.org/10.1002/j.1681-4835.2017.tb00580.x
https://doi.org/10.1002/j.1681-4835.2017...
), Dias (2019Dias, G. P. (2019). Fifteen years of e-government research in Ibero-America: a bibliometric analysis. Government Information Quarterly, 36(3), 400-411. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.05.008
https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.05.00...
), e Macadar, Luciano e Lopes (2017Macadar, M. A; Luciano, E. M; & Lopes, K. M. G. (2017). Utilização de teorias nas pesquisas em governo eletrônico: reflexões iniciais sobre pesquisas brasileiras. Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, 16(1), 1-23. Recuperado de https://doi.org/10.21529/RESI.2017.1601001
https://doi.org/10.21529/RESI.2017.16010...
), entre outros. Este estudo vai além, ao conduzir comparações por subperíodos, apontando as lacunas, conforme sugerido por Przeybilovicz, Cunha e Coelho (2015). Ademais, a análise de cocitação de palavras é uma técnica pouco usada no contexto do e-gov, o que diferencia o presente artigo de trabalhos anteriores.

2. GOVERNO ELETRÔNICO - E-GOV

O e-gov é reconhecido como um elemento-chave no processo de reestruturação do setor público (Pardo, Nam & Burke, 2012Pardo, T. A; Nam, T; & Burke, G. B. (2012). E-Government Interoperability: Interaction of Policy, Management, and Technology Dimensions. Social Science Computer Review, 30(1), 7-23. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0894439310392184
https://doi.org/10.1177/0894439310392184...
), tornando-se um importante componente da agenda de modernização deste setor (N. C. M. Q. F. Ferreira, F. A. F. Ferreira, Marques, Ilander & Cipi, 2015Ferreira, N. C. M. Q. F; Ferreira, F. A. F; Marques, C. S. E; Ilander, G. O. P. B; & Cipi, A. (2015). Challenges in the Implementation of Public Electronic Services: Lessons from a Regional-Based Study. Journal of Business Economics and Management, 16(5), 962-979. Recuperado dehttps://doi.org/10.3846/16111699.2014.920718
https://doi.org/10.3846/16111699.2014.92...
; Szkuta, Pizzicannella & Osimo, 2014Szkuta, K; Pizzicannella, R; & Osimo, D. (2014). Collaborative approaches to public sector innovation: A scoping study. Telecommunications Policy, 38(5), 558-567. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.telpol.2014.04.002
https://doi.org/10.1016/j.telpol.2014.04...
). Isso pode ser observado pelo crescente volume de pesquisas no tema (Arduini & Zanfei, 2014Arduini, D; & Zanfei, A. (2014). An overview of scholarly research on public e-services? A meta-analysis of the literature. Telecommunications Policy, 38(5-6), 476-495. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.telpol.2013.10.007
https://doi.org/10.1016/j.telpol.2013.10...
), que, inicialmente, concentravam-se em questões tecnológicas e operacionais e recentemente têm migrado para questões mais amplas, envolvendo aspectos institucionais e políticos (Savoldelli, Codagnone & Misuraca, 2014Savoldelli, A; Codagnone, C; & Misuraca, G. (2014). Understanding the e-government paradox: Learning from literature and practice on barriers to adoption. Government Information Quarterly, 31(Supp.1), S63-S71. Recuperado dehttps://doi.org/10.1016/j.giq.2014.01.008
https://doi.org/10.1016/j.giq.2014.01.00...
).

Apesar da crescente popularidade nos círculos acadêmicos, profissionais e políticos, o e-gov ainda não possui uma definição universal, apenas um entendimento geral que o relaciona a entregas eletrônicas de informações e serviços governamentais (Siddiquee, 2016Siddiquee, N. A. (2016). E-government and transformation of service delivery in developing countries The Bangladesh experience and lessons. Transforming Government: People, Process and Policy, 10(3), 368-390. Recuperado de https://doi.org/10.1108/TG-09-2015-0039
https://doi.org/10.1108/TG-09-2015-0039...
). Neste artigo, entende-se o e-gov como a aplicação generalizada e intensiva de TICs nos processos de governo, com o objetivo de habilitar e melhorar a eficiência e efetividade de transações, comunicações e oferta de serviços públicos para os cidadãos, empregados, organizações e agências.

Diante do exposto, acredita-se que o e-gov cria valor agregado ao promover mudanças positivas que possuem como objetivos: aumentar o acesso ao governo; apoiar a accountability pública e política; incrementar a participação dos cidadãos; melhorar a cooperação e a relação interorganizacional; assim como proporcionar a interação entre o governo e a sociedade (cidadãos, organizações) para uma entrega de serviços públicos mais efetiva, acessível e responsiva às necessidades da população (Bekkers & Homburg, 2005Bekkers, V; & Homburg, V. (2005). E-government as an information ecology. In V. Bekkers, & V. Homburg(Eds.), The information ecology of e-government(pp. 1-20). Washington, DC: IOS Press.; Gil-García & Pardo, 2005Gil-García, J. R; & Pardo, T. A. (2005). E-government success factors: Mapping practical tools to theoretical foundations. Government Information Quarterly, 22(2), 187-216. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2005.02.001
https://doi.org/10.1016/j.giq.2005.02.00...
; United Nations [UN], 2016United Nations. (2016). UN e-government survey 2016: e-government in support of sustainable development. Recuperado de https://publicadministration.un.org/egovkb/en-us/reports/un-e-government-survey-2016). Diferente da prestação de um serviço tradicional (off-line), em que servidores do governo e cidadãos comunicam-se frente a frente, os serviços do governo eletrônico não são limitados pela distância e pelos horários de funcionamento, possibilitando entregas convenientes às demandas do cidadão (Fan & Yang, 2015Fan, J; & Yang, W. (2015). Study on e-government services quality: The integration of online and offline services. Journal of Industrial Engineering and Management, 8(3), 693-718. Recuperado de https://doi.org/10.3926/jiem.1405
https://doi.org/10.3926/jiem.1405...
; Kumar et al; 2017Kumar, R; Sachan, A; & Mukherjee, A. (2017). Qualitative approach to determine user experience of e-government services. Computers in Human Behavior, 71, 299-306. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.chb.2017.02.023
https://doi.org/10.1016/j.chb.2017.02.02...
).

Destaca-se que, à medida que são ofertados serviços de governo com utilização de sistemas de informação automatizados, em oposição à intervenção direta humana (sistema tradicional off-line), ocorre uma influência importante na produtividade da entrega dos serviços (Savona & Steinmueller, 2013Savona, M; & Steinmueller, W. E. (2013). Service output, innovation and productivity: A time-based conceptual framework. Structural Change and Economic Dynamics, 27, 118-132. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.strueco.2013.06.006
https://doi.org/10.1016/j.strueco.2013.0...
). Sistemas de e-gov influenciam o aprimoramento dos serviços públicos e a efetividade dos programas e políticas públicas, em especial pela sua habilidade em compartilhar e integrar informações entre múltiplas organizações governamentais e não governamentais (Pardo et al; 2012Pardo, T. A; Nam, T; & Burke, G. B. (2012). E-Government Interoperability: Interaction of Policy, Management, and Technology Dimensions. Social Science Computer Review, 30(1), 7-23. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0894439310392184
https://doi.org/10.1177/0894439310392184...
).

2.1. Estudos Bibliométricos sobre o e-gov

Estudos brasileiros (Coelho, Przeybilovicz, Cunha & Echternacht, 2016Coelho, T. R; Przeybilovicz, E; Cunha, M. A; & Echternacht, T. H. S. (2016, April 19). Positioning Brazil in International eGov Research: A Proposal Based from Literature Review. In Proceedings of the 49º Hawaii International Conference on System Sciences, Koloa, HI, USA. Recuperado dehttps://doi.org/10.1109/HICSS.2016.336
https://doi.org/10.1109/HICSS.2016.336...
; Cunha et al; 2017; Macadar et al; 2017Macadar, M. A; Luciano, E. M; & Lopes, K. M. G. (2017). Utilização de teorias nas pesquisas em governo eletrônico: reflexões iniciais sobre pesquisas brasileiras. Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, 16(1), 1-23. Recuperado de https://doi.org/10.21529/RESI.2017.1601001
https://doi.org/10.21529/RESI.2017.16010...
) e internacionais (Alcaide-Muñoz, Rodríguez-Bolívar, Cobo & Herrera-Viedma, 2016Rodríguez-Bolívar, M. P; Alcaide Muñoz, L; & López-Hernández, A. M. (2016). Scientometric Study of the Progress and Development of e-Government Research During the Period 2000-2012. Information Technology for Development, 22(1), 36-74. Recuperado de https://doi.org/10.1080/02681102.2014.927340
https://doi.org/10.1080/02681102.2014.92...
; Dias, 2019Dias, G. P. (2019). Fifteen years of e-government research in Ibero-America: a bibliometric analysis. Government Information Quarterly, 36(3), 400-411. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.05.008
https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.05.00...
; Rodríguez-Bolívar et al; 2016Rodríguez-Bolívar, M. P; Alcaide Muñoz, L; & López-Hernández, A. M. (2016). Scientometric Study of the Progress and Development of e-Government Research During the Period 2000-2012. Information Technology for Development, 22(1), 36-74. Recuperado de https://doi.org/10.1080/02681102.2014.927340
https://doi.org/10.1080/02681102.2014.92...
) buscaram analisar a produção científica na área temática de e-gov. Dias (2019)Dias, G. P. (2019). Fifteen years of e-government research in Ibero-America: a bibliometric analysis. Government Information Quarterly, 36(3), 400-411. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.05.008
https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.05.00...
apresenta estudo bibliométrico no contexto da comunidade ibero-americana e analisa 1129 documentos presentes na base Scopus, publicados entre 2003 e 2017. As análises incluem autores, instituições e países com maior produtividade; áreas de pesquisa mais relevantes; temas de pesquisa específicos; e padrões de cooperação internacional.

Barbosa (2017Barbosa, A. R. (2017). Perfil da produção científica brasileira sobre governo eletrônico. Revista Eletrônica Gestão e Serviços, 8(1), 1785. Recuperado dehttps://doi.org/10.15603/2177-7284/regs.v8n1p1785-1810
https://doi.org/10.15603/2177-7284/regs....
) buscou explorar, por meio da análise bibliométrica, a produção científica brasileira presente em 20 periódicos publicados entre 2005 e 2015. Cunha et al; (2017Cunha, M. A; Coelho, T. R; & Przeybilovicz, E. (2017). Get into the club: Positioning a developing country in the international e-Gov research. Electronic Journal of Information Systems in Developing Countries, 79(1), 1-21. Recuperado de https://doi.org/10.1002/j.1681-4835.2017.tb00580.x
https://doi.org/10.1002/j.1681-4835.2017...
), em uma revisão de literatura de publicações brasileiras e internacionais sobre e-gov, apuraram quais temas, teorias e metodologias foram usados e como as redes de colaboração entre autores e instituições se configuram. Macadar et al. (2017Macadar, M. A; Luciano, E. M; & Lopes, K. M. G. (2017). Utilização de teorias nas pesquisas em governo eletrônico: reflexões iniciais sobre pesquisas brasileiras. Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, 16(1), 1-23. Recuperado de https://doi.org/10.21529/RESI.2017.1601001
https://doi.org/10.21529/RESI.2017.16010...
) discutem, por meio de uma revisão de literatura, a utilização de teorias no campo de pesquisa de e-gov, tendo como base 96 artigos publicados entre 2003 e 2014 em periódicos brasileiros.

Em publicações brasileiras e internacionais, Coelho et al. (2016Coelho, T. R; Przeybilovicz, E; Cunha, M. A; & Echternacht, T. H. S. (2016, April 19). Positioning Brazil in International eGov Research: A Proposal Based from Literature Review. In Proceedings of the 49º Hawaii International Conference on System Sciences, Koloa, HI, USA. Recuperado dehttps://doi.org/10.1109/HICSS.2016.336
https://doi.org/10.1109/HICSS.2016.336...
) identificaram redes e estruturas de colaboração entre autores, países e instituições. Anteriormente, Przeybilovicz et al. (2015Przeybilovicz, E; Cunha, M. A; & Coelho, T. R. (2015). O desenvolvimento dos estudos sobre governo eletrônico no Brasil: um estudo bibliométrico e sociométrico. Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, 14(3), 3-24. Recuperado de https://doi.org/10.1087/20110303
https://doi.org/10.1087/20110303...
) detalharam como o campo de estudos sobre e-gov está estruturado no Brasil, utilizando pesquisa bibliométrica e sociométrica, com base em 124 artigos publicados em anais de congressos e periódicos entre 2007 e 2012. O trabalho apresentou aspectos relacionados a quantidade anual e onde foram publicados os artigos; domínio conceitual e substantivo dos trabalhos, abordagens metodológicas; e redes de cooperação entre autores e instituições.

O presente estudo difere dos acima citados por considerar um maior período de tempo e maior número de artigos, publicados em revistas de alto impacto, bem como por apresentar resultados referentes à análise de cocitação de palavras-chave, ainda pouco utilizada neste contexto de pesquisa.

3. ESTUDOS BIBLIOMÉTRICOS E SOFTWARES DE ANÁLISE

Na literatura estão presentes diferentes maneiras de avaliar o conhecimento científico e de mensurar os fluxos de informação. Dentre elas, tem-se a bibliometria (Francisco, 2011Francisco, E. R. (2011). RAE-Eletrônica: exploração do acervo à luz da bibliometria, geoanálise e redes sociais. RAE-Revista de Administração de Empresas, 51(3), 280-306. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0034-75902011000300008
https://doi.org/10.1590/S0034-7590201100...
), conjunto de métodos utilizados para analisar a literatura acadêmica de maneira quantitativa (Bellis, 2009Bellis, N. de. (2009). Bibliometrics and Citation Analysis: From the Science Citation Index to Cybermetrics. Lanham, Maryland: Scarecrow Press.). No contexto da pesquisa bibliométrica, o Science Mapping permite identificar grupos inter-relacionados de publicações, autores ou periódicos (Eck & Waltman, 2017Eck, N. J; & Waltman, L. (2017). Citation-based clustering of publications using CitNetExplorer and VOSviewer. Scientometrics, 111(2), 1053-1070. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s11192-017-2300-7
https://doi.org/10.1007/s11192-017-2300-...
), possibilitando estudos cientométricos voltados para a análise de cocitação de autores, de documentos, de palavras, entre outras variações. Com a utilização de suas respectivas técnicas, é possível obter gráficos ou redes, hierarquias, estruturas temporais, visualizações geoespaciais, assim como visualizações coordenadas de vários tipos (Chen, 2017Chen, C. (2017). Science Mapping: A Systematic Review of the Literature. Journal of Data and Information Science, 2(2), 1-40. Recuperado dehttps://doi.org/10.1515/jdis-2017-0006
https://doi.org/10.1515/jdis-2017-0006...
).

Na análise de cocitação, as palavras-chave descrevem o conteúdo de um documento e, por isso, podem ser usadas para mensurar a similaridade existente entre pares de documentos (Hoz-Correa & Mu, 2018Hoz-Correa, A. De, & Mu, F. (2018). Past themes and future trends in medical tourism research : A co-word analysis. Tourism Management, 65, 200-211. Recuperado dehttps://doi.org/10.1016/j.tourman.2017.10.001
https://doi.org/10.1016/j.tourman.2017.1...
). Mapas construídos com a análise de cocitação de palavras, como ocorre no presente estudo, servem como uma ferramenta de previsão de tendências futuras (Garfield, 1994Garfield, E. (1994). Scientography: Mapping the Tracks of Science. Current Contents: Social & Behavioural Sciences, 7(45), 5-10), uma vez que o objetivo dessa técnica é interconectar os conceitos mais significativos (Muñoz-Leiva, Viedma-del-Jesús, Sánchez-Fernández & López-Herrera, 2012Muñoz-Leiva, F; Viedma-del-Jesús, M. I; Sánchez-Fernández, J; & López-Herrera, A. G. (2012). An application of co-word analysis and bibliometric maps for detecting the most highlighting themes in the consumer behaviour research from a longitudinal perspective. Quality and Quantity, 46(4), 1077-1095. Recuperado dehttps://doi.org/10.1007/s11135-011-9565-3
https://doi.org/10.1007/s11135-011-9565-...
).

Estudos como os de Garfield (1994Garfield, E. (1994). Scientography: Mapping the Tracks of Science. Current Contents: Social & Behavioural Sciences, 7(45), 5-10) e Muñoz-Leiva et al. (2012Muñoz-Leiva, F; Viedma-del-Jesús, M. I; Sánchez-Fernández, J; & López-Herrera, A. G. (2012). An application of co-word analysis and bibliometric maps for detecting the most highlighting themes in the consumer behaviour research from a longitudinal perspective. Quality and Quantity, 46(4), 1077-1095. Recuperado dehttps://doi.org/10.1007/s11135-011-9565-3
https://doi.org/10.1007/s11135-011-9565-...
) afirmam que esses mapas favorecem novos entendimentos sobre a estrutura do campo de estudo, destacando a divisão de uma dada área em diversas subáreas e a relação entre elas. Ainda, para esses autores, os mapas longitudinais ilustram os avanços no conhecimento científico ao longo do tempo, além de revelarem tendências emergentes. O estudo longitudinal, em períodos de tempo consecutivos, detecta os subcampos de estudo que são mais proeminentes, produtivos e de alto impacto (Gutiérrez-Salcedo, Martínez, Moral-Munoz, Herrera-Viedma & Cobo, 2018Gutiérrez-Salcedo, M; Martínez, M. A; Moral-Munoz, J. A; Herrera-Viedma, E; & Cobo, M. J. (2018). Some bibliometric procedures for analyzing and evaluating research fields. Applied Intelligence, 48, 1275-1287. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s10489-017-1105-y
https://doi.org/10.1007/s10489-017-1105-...
).

Para a realização das análises bibliométricas com utilização do science mapping, foi escolhido para este trabalho, entre diversos softwares disponíveis na internet, o SciMAT (Cobo, López-Herrera, Herrera-Viedma & Herrera, 2012Cobo, M. J; López-Herrera, A. G; Herrera-Viedma, E; & Herrera, F. (2012). SciMAT: A New Science Mapping Analysis Software Tool. Journal of the American Society for Information Science and Technology, 63(8), 1609-1630. Recuperado de https://doi.org/10.1002/asi.22688
https://doi.org/10.1002/asi.22688...
), útil para conduzir o mapeamento da ciência em estudos de diferentes áreas, inclusive, e-gov (Alcaide-Muñoz et al; 2016Alcaide-Muñoz, L; Rodríguez-Bolívar, M. P; Cobo, M. J; & Herrera-Viedma, E. (2016). Science Mapping Tools: Their Application to e-Government Field. In Proceedings of the 17º Annual International Conference on Digital Government Research, Puebla, Mexico. Recuperado de https://doi.org/10.1145/2912160.2912172
https://doi.org/10.1145/2912160.2912172...
). Ao realizar desde o pré-processamento dos dados até a visualização dos resultados no fluxo de análise (Gutiérrez-Salcedo et al; 2018Gutiérrez-Salcedo, M; Martínez, M. A; Moral-Munoz, J. A; Herrera-Viedma, E; & Cobo, M. J. (2018). Some bibliometric procedures for analyzing and evaluating research fields. Applied Intelligence, 48, 1275-1287. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s10489-017-1105-y
https://doi.org/10.1007/s10489-017-1105-...
), o SciMAT atendeu ao objetivo deste trabalho, uma vez que analisou o progresso do tópico de pesquisa específico, o e-gov, bem como rastreou subtemas emergentes, permitindo uma visão temporal da evolução e da continuidade da base intelectual deste campo de estudo, com a análise de cocitação de palavras (Rodríguez-Bolívar, Alcaide-Muñoz & Cobo, 2018Rodríguez-Bolívar, M. P; Alcaide-Muñoz, L; & Cobo, M. J. (2018). Analyzing the scientific evolution and impact of e-Participation research in JCR journals using science mapping. International Journal of Information Management, 40, 111-119. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.ijinfomgt.2017.12.011
https://doi.org/10.1016/j.ijinfomgt.2017...
).

Feitas essas considerações, passa-se à apresentação do processo de levantamento da amostra.

4. LEVANTAMENTO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO SOBRE E-GOV

Para efetuar o levantamento do conhecimento científico sobre e-gov, conduziu-se uma busca de artigos científicos na base ISI-WoS no início do mês de dezembro de 2018. Comumente usada neste tipo de trabalho (Chen, 2017Chen, C. (2017). Science Mapping: A Systematic Review of the Literature. Journal of Data and Information Science, 2(2), 1-40. Recuperado dehttps://doi.org/10.1515/jdis-2017-0006
https://doi.org/10.1515/jdis-2017-0006...
), essa base abrange diferentes áreas de estudo relacionadas ao e-gov, como administração, ciências da informação e gestão pública (Khiste & Amanullah, 2017Khiste, G. P; & Amanullah, A. (2017). Analysis of Knowledge Management output in Web of Science during 2007 to 2016. International Research: Journal of Library & Information Science, 7(4), 45-46.). Ademais, permite o levantamento de metadados bibliométricos das publicações, como referências citadas, ano de publicação, autores, palavras-chave e resumos, possibilitando a realização de análises quantitativas de forma mais rápida e com maior acurácia (Haunschild, Hug, Brändle & Bornmann, 2018Haunschild, R; Hug, S. E; Brändle, M. P; & Bornmann, L. (2018). The number of linked references of publications in Microsoft Academic in comparison with the Web of Science. Scientometrics, 114(1), 367-370. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s11192-017-2567-8
https://doi.org/10.1007/s11192-017-2567-...
).

Após a definição da base de dados, foram definidas as palavras-chave ‘electronic government’; ‘e-government’; ‘e-gov’; e ‘digital government’, assim como nos trabalhos de Rodríguez-Bolívar et al. (2016Rodríguez-Bolívar, M. P; Alcaide Muñoz, L; & López-Hernández, A. M. (2016). Scientometric Study of the Progress and Development of e-Government Research During the Period 2000-2012. Information Technology for Development, 22(1), 36-74. Recuperado de https://doi.org/10.1080/02681102.2014.927340
https://doi.org/10.1080/02681102.2014.92...
) e de Dias (2019Dias, G. P. (2019). Fifteen years of e-government research in Ibero-America: a bibliometric analysis. Government Information Quarterly, 36(3), 400-411. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.05.008
https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.05.00...
) - publicados em revistas de alto impacto, com objetivos semelhantes aos propostos no presente estudo -, que buscaram, de forma geral, identificar as tendências nos tópicos de pesquisa sobre e-gov e metodologias aplicadas. Foram considerados todos os estudos, independentemente do idioma ou data de publicação. Trabalhos publicados em eventos científicos, sumários de comunicação, carta do editor, artigos de cunho profissional, livros e revisões de livros não foram incluídos na análise. Com esses critérios, teve-se como resultado a seleção de 2.721 artigos, publicados em 819 periódicos.

A seguir, foram aplicados os filtros Qualis Capes de B1 para cima e o fator de impacto igual ou maior que 0,8 no Journal Citation Reports (JCR). Esse critério baseia-se na última avaliação de periódicos da CAPES (2017) referente à Área de Administração Pública e de Empresa, Ciências Contábeis e Turismo, em que periódicos com fator de impacto no JCR maior ou igual a 0,7 tiveram classificação igual ou maior que B1. Com isso, procurou-se atribuir um peso maior de reconhecimento científico a este estudo. Nessa etapa, a amostra caiu para 1.768 artigos, com publicação em 357 periódicos, a qual foi modificada para 1.516 trabalhos, publicados em 328 periódicos, entre brasileiros e internacionais, após a leitura e a análise dos títulos e resumos dos artigos e exclusão daqueles duplicados ou não relativos à temática do estudo.

FIGURA 1
PROCESSO DE DEFINIÇÃO DA AMOSTRA: ELEMENTOS DE BUSCA, FILTROS E RESULTADOS

De posse da amostra, os metadados das publicações disponibilizados pela base WoS foram inseridos no software SciMAT (Cobo et al; 2012Cobo, M. J; López-Herrera, A. G; Herrera-Viedma, E; & Herrera, F. (2012). SciMAT: A New Science Mapping Analysis Software Tool. Journal of the American Society for Information Science and Technology, 63(8), 1609-1630. Recuperado de https://doi.org/10.1002/asi.22688
https://doi.org/10.1002/asi.22688...
), como será descrito a seguir.

4.1 Adequação da base de dados para análise: pré-processamento

Definida a amostra de artigos, conduziu-se uma sequência de atividades voltadas para o pré-processamento dos dados (Rodríguez-Bolívar et al; 2018Rodríguez-Bolívar, M. P; Alcaide-Muñoz, L; & Cobo, M. J. (2018). Analyzing the scientific evolution and impact of e-Participation research in JCR journals using science mapping. International Journal of Information Management, 40, 111-119. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.ijinfomgt.2017.12.011
https://doi.org/10.1016/j.ijinfomgt.2017...
), como a limpeza no banco de dados de palavras-chave constantes nos trabalhos (total de 4.908 palavras e termos), tendo sido retiradas as duplicadas (ex.: escritas com caixa alta ou não - trust e TRUST) e ajustados os erros de digitação (ex.: e-govenment). Em seguida procedeu-se à criação dos grupos de palavras para a realização das análises estatísticas.

O intervalo de tempo analisado, de 1992 a 2018, foi dividido em cinco períodos, conforme o Quadro 1. Importante destacar que não foram encontrados trabalhos nos anos de 1993, 1995 e 2000. A definição dos períodos de análise ocorreu após diversos testes no software; essa configuração permitiu que fosse criado cluster no primeiro período (1992 a 1999), no qual há baixo número de artigos. Entre os períodos 2 e 4, optou-se por conjuntos de 5 anos, enquanto o período 5 agregou os anos finais constantes na amostra.

QUADRO 1
DIVISÃO DE PERÍODOS PARA ANÁLISE TEMPORAL

A seção seguinte seção apresenta a etapa de análise dos dados.

5. ANÁLISE DOS DADOS

Do conjunto de documentos científicos analisados, o SciMAT gerou uma base de conhecimento em que foram armazenadas relações existentes entre as diferentes entidades (autores, palavras-chave, periódicos, referências, entre outros), e as palavras-chave constituíram um termo descritivo da análise. De maneira a gerar uma estrutura longitudinal de análise do campo de estudo (Alcaide-Muñoz, Rodríguez-Bolívar, Cobo & Herrera-Viedma, 2017Alcaide-Muñoz, L; Rodríguez-Bolívar, M. P; Cobo, M. J; & Herrera-Viedma, E. (2017). Analysing the scientific evolution of e-Government using a science mapping approach. Government Information Quarterly, 34(3), 545-555. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2017.05.002
https://doi.org/10.1016/j.giq.2017.05.00...
, p. 547), foram conduzidos os seguintes passos:

  • Agrupamento de redes de palavras-chave, fortemente relacionadas entre si e que correspondem a centros de interesse ou problemas de pesquisa objeto de interesse dos pesquisadores;

  • Visualização de temas e redes temáticas - por meio de diagramas estratégicos, que mostram os clusters detectados em cada período de análise, em um espaço bidimensional - e categorização destes conforme medidas de densidade e centralidade;

  • Criação de mapa que mostra a evolução temporal dos temas de pesquisa.

A análise de cluster agrupou elementos conectados automaticamente pelo software SciMAT; o nome atribuído a cada cluster foi relacionado a palavra e/ou tema mais recorrente.

Para favorecer a compreensão dos resultados apresentados a seguir, faz-se necessário definir as medidas de análise utilizadas, responsáveis por evidenciar a contribuição de diferentes clusters para a estruturação da rede geral (Alcaide-Muñoz et al; 2017Alcaide-Muñoz, L; Rodríguez-Bolívar, M. P; Cobo, M. J; & Herrera-Viedma, E. (2017). Analysing the scientific evolution of e-Government using a science mapping approach. Government Information Quarterly, 34(3), 545-555. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2017.05.002
https://doi.org/10.1016/j.giq.2017.05.00...
; Callon, Courtial & Laville, 1991Callon, M; Courtial, J. P; & Laville, F. (1991). Co-word analysis as a tool for describing the network of interactions between basic and technological research: The case of polymer chemistry. Scientometrics, 22(1), 155-205. Recuperado dehttps://doi.org/10.1007/BF02019280
https://doi.org/10.1007/BF02019280...
):

  • Centralidade - mensura o grau de interação de uma rede com outra e pode ser vista como a medida da importância de um tema dentro do contexto total de um campo de pesquisa. Quanto maior o número e a força dessas relações, mais o cluster irá designar um conjunto de problemas de pesquisa considerado crucial pela comunidade científica ou tecnológica;

  • Densidade - mensura a força interna de uma rede e pode ser interpretada como a medida de desenvolvimento de um tema. Quanto mais fortes forem esses vínculos, mais os problemas de pesquisa correspondentes ao cluster constituem um todo coerente e integrado. Pode-se dizer que a densidade fornece uma boa representação da capacidade do cluster de se manter e se desenvolver ao longo do tempo no campo em consideração.

Feitas essas considerações, parte-se para a apresentação e análise dos resultados encontrados.

5.1 Aspectos relacionados às publicações

A presente seção destaca os resultados encontrados nas análises realizadas. Observa-se no Gráfico 1 que, desde 1992, há um crescimento constante no número de publicações relacionadas ao e-gov, à exceção do ano de 2018, o que pode estar relacionado ao momento em que foi feita a coleta (início de dezembro de 2018).

GRÁFICO 1
FREQUÊNCIA ABSOLUTA DE ARTIGOS POR ANO DE PUBLICAÇÃO

Ressalta-se que, dos 328 periódicos internacionais e nacionais selecionados, 11 (3,3% do total) publicaram 20 artigos ou mais e a maioria (56,1%) publicou apenas um artigo. Dentre os periódicos com mais publicações, destaca-se o Government Information Quarterly, com 346 artigos (23% da amostra), conforme o Quadro 2, a seguir.

QUADRO 2
PERIÓDICOS, NÚMERO DE ARTIGOS PUBLICADOS E ÁREA CATALOGADA NA BASE WOS

Entre os 2758 autores, a maior parte publicou apenas um artigo. Os autores que mais publicaram foram Vishanth Weerakkody (89%, 23 trabalhos, Universidade de Bradford/Reino Unido) e Christopher G. Reddick (21 trabalhos, Universidade do Texas/Estados Unidos) - Quadro 3.

QUADRO 3
AUTORES QUE PUBLICARAM 10 OU MAIS ARTIGOS SOBRE A TEMÁTICA

O Quadro 4apresenta os dez trabalhos mais citados pela amostra analisada.

QUADRO 4
TRABALHOS MAIS CITADOS NA AMOSTRA

Considerando esses resultados, é possível visualizar a pluralidade de áreas que estudam e-gov e são consideradas ou utilizadas para analisá-lo, reforçando o relatado por Dias (2019Dias, G. P. (2019). Fifteen years of e-government research in Ibero-America: a bibliometric analysis. Government Information Quarterly, 36(3), 400-411. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.05.008
https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.05.00...
) e Rodríguez-Bolívar et al. (2016Rodríguez-Bolívar, M. P; Alcaide Muñoz, L; & López-Hernández, A. M. (2016). Scientometric Study of the Progress and Development of e-Government Research During the Period 2000-2012. Information Technology for Development, 22(1), 36-74. Recuperado de https://doi.org/10.1080/02681102.2014.927340
https://doi.org/10.1080/02681102.2014.92...
).

5.2 Análise dos temas de pesquisa: cocitação de palavras

Após as análises sobre as publicações, apresentam-se os resultados relacionados aos temas de pesquisa mais explorados nos 1516 artigos selecionados. A análise das palavras-chave (co-word analysis) possibilitou o exame temporal da evolução dos temas, sendo os artigos divididos nos cinco períodos apresentados no Quadro 1.

Os diagramas estratégicos, mapas estratégicos, permitem visualizar o campo de pesquisa como um conjunto de temas, mapeados e classificados em quatro grupos, categorizados em termos de densidade e centralidade: (I) motor cluster (quadrante superior direito, com alta densidade e forte centralidade; ‘temas motores’); (II) clusters altamente desenvolvidos e isolados (quadrante superior esquerdo, com importância marginal para o campo de pesquisa; ‘temas especializados’); (III) clusters em declínio ou emergentes (quadrante inferior esquerdo, com baixa densidade e baixa centralidade; ‘temas emergentes ou em desaparecimento’); e (IV) clusters básicos e transversais (quadrante inferior direito, com temas importantes porém não desenvolvidos; ‘temas transversais e gerais’) (Alcaide-Muñoz et al; 2017Alcaide-Muñoz, L; Rodríguez-Bolívar, M. P; Cobo, M. J; & Herrera-Viedma, E. (2017). Analysing the scientific evolution of e-Government using a science mapping approach. Government Information Quarterly, 34(3), 545-555. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2017.05.002
https://doi.org/10.1016/j.giq.2017.05.00...
; Cobo et al; 2012Cobo, M. J; López-Herrera, A. G; Herrera-Viedma, E; & Herrera, F. (2012). SciMAT: A New Science Mapping Analysis Software Tool. Journal of the American Society for Information Science and Technology, 63(8), 1609-1630. Recuperado de https://doi.org/10.1002/asi.22688
https://doi.org/10.1002/asi.22688...
). Ressalta-se que a esfera representa um cluster de palavras (ou tema) e o nome de cada um destes está relacionado a palavra e/ou tema mais recorrente; o volume das esferas corresponde ao número de artigos associados - quanto maior a esfera, maior o número de artigos que citaram tal palavra como palavra-chave - (Cobo, López-Herrera, Herrera-Viedma & Herrera, 2011; Cobo et al; 2012).

No mapa estratégico do período entre 1992 e 1999 (Figura 2), o cluster electronic government information mostra-se como tema motor, com ele estão relacionados: acessibilidade, internet, libraries e informação.

FIGURA 2
MAPAS ESTRATÉGICOS DO PERÍODO 1992-1999

No mapa estratégico do período 2001-2005 (Figura 3), estão os clusters innovation, democracy e e-government, dos quais apenas o primeiro enquadra-se como tema motor, relacionando-se às palavras modelo, tecnologia, governo local, serviços, administração pública e usabilidade. O cluster electronic government information deixa de aparecer nesse período, dando origem aos clusters digital government e e-government, que, embora utilizados sem distinção, apresentam-se com diferentes enfoques. O primeiro, localizado no quadrante esquerdo inferior (temas emergentes ou em desaparecimento), está vinculado a palavras como interoperabilidade, segurança, dados, compartilhamento de informações, sistemas de informação, acessibilidade e colaboração, referindo-se, em geral, a aspectos técnicos e de software. Já o cluster e-government associa-se a termos como e-serviços, internet, cidadãos, website, TICs, informação e política (policy).

FIGURA 3
MAPA ESTRATÉGICO DO PERÍODO 2001-2005

No mapa estratégico do período de 2006 a 2010 (Figura 4), encontram-se 14 clusters, dos quais e-government, adoption, performance e users podem ser considerados clusters motores. Dentre eles, o cluster e-government, pelo volume da esfera e a localização no extremo do quadrante direito superior, assume a primeira posição como tema motor, vinculado a termos como modelo, internet, cidadãos, TICs, informação, administração pública e tecnologia, repetindo alguns que apareceram no período anterior. O cluster adoption, proveniente do cluster innovation (período 2001-2005), associa-se aos termos: determinantes, aceitação, riscos, idade, unified theory of acceptance and use of technology (UTAUT), inovação e confiança. Ao cluster performance conectam-se os termos experiência, satisfação, ação coletiva, liderança, projetos, qualidade e sistemas. Por fim, estão associados ao cluster users, também proveniente do cluster innovation (período 2001-2005), os termos e-serviços, usabilidade, expectativa, comércio, cliente e/ou consumidor, website e comportamento planejado. Como temas especializados, nesse período, aparecem os clusters design, participation e e-government adoption, enquanto, policy, transformation e services podem ser classificados como temas que estão emergindo ou desaparecendo (quadrante inferior esquerdo).

Nota-se, ainda, que os clusters democracy, innovation e digital government, presentes no período de 2001 a 2005 deixam de aparecer entre 2006 e 2010. O cluster democracy compartilha elementos com os clusters design e cities/counties; o cluster innovation com os clusters adoption, users, e-government services e cities/counties; enquanto o cluster digital government relaciona-se a inter-organization, service e design, demonstrando as relações existentes entre esses clusters e entre períodos.

FIGURA 4
MAPA ESTRATÉGICO DO PERÍODO 2006-2010FONTE: RESULTADOS DA PESQUISA VIA SCIMAT

No quarto mapa estratégico do período 2011-2015 (Figura 5), aparecem como temas motores: e-government, integration, technology acceptance model (TAM), social media, risks, political participation e information system. Nesse período, e-government relaciona-se a termos como TICs, internet, serviços, confiança, adoção, gestão pública e modelo, enquanto o termo integration atrela-se a benefícios, governo digital, compartilhamento de informações, sucesso, software, organizações e desempenho. Technology acceptance model (TAM) relaciona-se a usuários, indivíduo, motivação, expectativas, aprendizagem, facilidade percebida e UTAUT. Risks vincula-se a determinantes, redes sociais, projetos, governo, custos, oportunidades e sucesso de sistemas de informação; political participation está associado aos termos participação cidadã, e-participação, e-governança, sociedade, votação, cidadãos e uso da internet; enquanto information system associa-se a estratégia, tecnologia, países em desenvolvimento, design, enterprise-systems, implementação e gestão. Por fim, social media associa-se a civil, transparência, participação, engajamento, web-2.0, Twitter e Facebook.

Como temas especializados aparecem culture, benchmarking, website e corruption. Foram considerados temas emergentes ou que estão desaparecendo (quadrante inferior esquerdo): public participation, business, privacy, decision making, community e usability. Nota-se que, com exceção do cluster e-government, todos os demais presentes no período 3 (2006 -2010) deixam de existir no período 4.

FIGURA 5
MAPA ESTRATÉGICO DO PERÍODO 2011-2015

O quinto mapa estratégico do período de 2016-2018 (Figura 6) evidencia sete clusters considerados motores: tehcnology acceptance model (TAM), social media, transparency, acceptance, information system, risks e challenges. TAM, framework teórico frequentemente utilizado em pesquisas na área de Sistemas de Informação, associa-se a termos como usuários, confiança, facilidade de uso, adoção, serviços de e-gov, comportamento planejado, comércio. Social media, por sua vez, vincula-se a governo local, e-gov, web-2.0, participação, engajamento, Twitter e Facebook, enquanto transparency conecta-se a municípios, governo local, confiança política, accountability, governança, governo aberto e perspectivas. Acceptance vincula-se a intenção, atitudes, comportamento, UTAUT, qualidade, sistemas e modelo. Information system relaciona-se a satisfação do cidadão, cortes, identidade, gestão, administração pública, projetos e tecnologia; enquanto risks vincula-se a temas como extensão, fiscal e/ou taxas, sucesso, adoção do e-gov, determinantes, satisfação e países em desenvolvimento (um pouco diferente dos termos relacionados no período anterior). Por fim, challenges está associado a e-governança, ambiente, big-data, capacidades, aspectos geográficos, organizações e Geographic Information System (GIS).

Democracy, website e implementation aparecem como temas especializados; perspective, internet e public services como temas transversais, que precisam ser mais desenvolvidos. Colaboration, performance, digital divide e impact mostram-se como temas que estão surgindo ou deixando de ser pesquisados.

Ao visualizar as figuras 5 e 6 conjuntamente, percebe-se a continuidade da presença de alguns clusters. TAM e social media mantêm-se como temas motores; além disso, assumem maior densidade e centralidade no mapa. Information system e risks também continuam como temas motores, ocupando posição similar ao período anterior (Figura 5). Website e public services mantêm-se na mesma localização, enquanto digital divide sai da posição entre os quadrantes superior e inferior direito e passa ao quadrante inferior esquerdo, tornando-se um tema em declínio.

Nota-se, nos cinco mapas estratégicos apresentados, que diversos clusters repetem-se ao longo dos períodos, podendo variar os quadrantes em que estão alocados, como no caso de digital divide (quadrante inferior direito no período 2011-2015 e quadrante inferior esquerdo no período 2016-2018). Constata-se, também, que diferentes termos relacionados aos clusters motor variam de quadrante de período a período, indicando variações nos principais direcionamentos dados pelos estudos em cada período. Assim, em alguns períodos, um dado cluster pode ser considerado motor e, em outro, pode estar em quadrante diferente, como performance, que é cluster motor no período 3 e tema emergente ou em desaparecimento no período 5.

Conforme explicitado no início da seção de análise dos dados, apresenta-se o mapa que mostra a evolução temporal dos temas de pesquisa, aqui chamado de mapa evolutivo, que tem como base a análise de cocitação de palavras.

FIGURA 6
MAPA ESTRATÉGICO DO PERÍODO 2016-2018

Contudo, para a análise do mapa evolutivo, é preciso fazer algumas considerações: a maior densidade das linhas retrata a força do relacionamento entre os clusters, quanto mais densa, maior a força da relação entre eles; as linhas sólidas evidenciam que clusters compartilham um elemento principal (normalmente o mais significativo do cluster); e as linhas pontilhadas demonstram que os temas compartilham elementos comuns, mas não o elemento principal (Cobo et al; 2011Cobo, M. J; López-Herrera, A. G; Herrera-Viedma, E; & Herrera, F. (2011). Science Mapping Software Tools: Review, Analysis, and Cooperative Study Among Tools. Journal of the American Society for Information Science and Technology, 62(7), 1382-1402. Recuperado de https://doi.org/10.1002/asi
https://doi.org/10.1002/asi...
, 2012Cobo, M. J; López-Herrera, A. G; Herrera-Viedma, E; & Herrera, F. (2012). SciMAT: A New Science Mapping Analysis Software Tool. Journal of the American Society for Information Science and Technology, 63(8), 1609-1630. Recuperado de https://doi.org/10.1002/asi.22688
https://doi.org/10.1002/asi.22688...
). A medida de força para mensurar a relação entre os clusters é o inclusion index, o qual verifica os elementos comuns entre dois temas (Cobo et al; 2011). A Figura 7 evidencia os clusters de temas e a evolução ao longo dos períodos analisados.

FIGURA 7
EVOLUÇÃO TEMÁTICA DO CAMPO DE PESQUISA DO GOVERNO ELETRÔNICO

A Figura 7 permite visualizar relações entre os clusters. No primeiro período, 1992-1999, o termo electronic government information destacou-se em 15 artigos. Importante ressaltar que, na década de 1990, iniciava-se a discussão sobre governo eletrônico, em especial devido ao avanço da internet (Ali et al; 2019Ali, U; Mehmood, A; Majeed, M. F; Muhammad, S; & Khan, M. K. (2019). Innovative Citizen’s Services through Public Cloud in Pakistan: User’s Privacy Concerns and Impacts on Adoption. Mobile Networks and Applications, 24, 47-68.), o que explica o reduzido número de trabalhos incluídos na amostra e a presença de apenas um cluster.

No segundo período, 2001-2005, com 155 artigos, foram encontrados quatro clusters, em dois deles (e-government e digital government) foram incorporados elementos oriundos do cluster electronic government information do primeiro período.

De 2006 a 2010, terceiro período, com 331 artigos, nota-se um aumento significativo no número de clusters, bem como o surgimento de temas como performance, management, transformation, e-government adoption e participation, sem apresentar elementos compartilhados com clusters anteriores.

O período 4, 2011-2015, com 542 trabalhos, apresenta o maior número de clusters, 22. Dentre eles, benchmarking é o único que não compartilha elementos com clusters do período anterior. Já no período 5, 2016 a 2018, com 473 trabalhos, todos os 19 clusters compartilham elementos com os clusters do quarto período.

Analisando a evolução temática do campo governo eletrônico, observa-se que nenhum dos clusters apareceu em todos os cinco períodos e que e-government apresentou maior frequência, constando dos períodos 2, 3 e 4.

No período 1, o único cluster presente - electronic government information - compartilha elementos com os clusters e-government e digital government. Nos períodos 2, 3 e 4, o cluster e-government compartilha elemento principal período a período; enquanto no período 5 deixa de existir e passa a compartilhar elementos principais com os clusters social media e internet, mesmo que com pouca força. Tal mudança pode indicar a pulverização do e-gov em temas diversos.

Digital government deixa de existir no período 3, mas compartilha elemento principal em relação moderada com o cluster inter-organization, e este, igualmente, com o cluster privacy. Este compartilha elemento principal, em relação fraca, com o cluster public services.

Innovation, no período 2, compartilha elementos principais com os clusters services e adoption do período 3. Adoption compartilha elementos principais com os clusters e-government (relação fraca) e risks (relação moderada) no período 4. Este último continua presente no período 5. Social media (período 4) compartilha elementos principais com os clusters policy e participation, do período 3. Nota-se que social media (período 4) compartilha elemento principal com social media (período 5) e transparency (período 5).

No período 3, está presente o cluster participation, que compartilha elemento principal tanto com o cluster community (período 4) quanto com o cluster social media. Community, por sua vez, compartilha elemento principal (relação de força média) com o cluster collaboration.

Observa-se grande variedade de temas sendo analisados e estudados no âmbito da área de pesquisa do e-gov, envolvendo as mais diferentes frentes de pesquisa. É possível notar evolução na quantidade de temas explorados no contexto do e-gov, na medida em que este, tendo como foco inicial a comunicação governo para governo (G2G), agrega, em seguida, serviços para empresários (Government to Business [G2B]) e cidadãos (Government to Citizens [G2C]), com o objetivo de prover melhores serviços para esses públicos (Ali et al; 2019Ali, U; Mehmood, A; Majeed, M. F; Muhammad, S; & Khan, M. K. (2019). Innovative Citizen’s Services through Public Cloud in Pakistan: User’s Privacy Concerns and Impacts on Adoption. Mobile Networks and Applications, 24, 47-68.). Dessa maneira, ao ampliar a variedade de atores relacionados, ampliou-se, também, a dos temas correlatos.

Complementarmente, as análises dos mapas estratégicos reforçam que o e-gov é um campo multidisciplinar e abrange uma grande variedade de tópicos de pesquisa (Alcaide-Muñoz et al; 2017Alcaide-Muñoz, L; Rodríguez-Bolívar, M. P; Cobo, M. J; & Herrera-Viedma, E. (2017). Analysing the scientific evolution of e-Government using a science mapping approach. Government Information Quarterly, 34(3), 545-555. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2017.05.002
https://doi.org/10.1016/j.giq.2017.05.00...
; Coelho et al; 2016Coelho, T. R; Przeybilovicz, E; Cunha, M. A; & Echternacht, T. H. S. (2016, April 19). Positioning Brazil in International eGov Research: A Proposal Based from Literature Review. In Proceedings of the 49º Hawaii International Conference on System Sciences, Koloa, HI, USA. Recuperado dehttps://doi.org/10.1109/HICSS.2016.336
https://doi.org/10.1109/HICSS.2016.336...
; Dias, 2019Dias, G. P. (2019). Fifteen years of e-government research in Ibero-America: a bibliometric analysis. Government Information Quarterly, 36(3), 400-411. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.05.008
https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.05.00...
; Rodríguez-Bolívar et al; 2016Rodríguez-Bolívar, M. P; Alcaide Muñoz, L; & López-Hernández, A. M. (2016). Scientometric Study of the Progress and Development of e-Government Research During the Period 2000-2012. Information Technology for Development, 22(1), 36-74. Recuperado de https://doi.org/10.1080/02681102.2014.927340
https://doi.org/10.1080/02681102.2014.92...
).

6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Foi possível identificar que os temas proeminentes e que irão estruturar e dar forma ao campo de conhecimento do e-gov nos próximos anos são tehcnology acceptance model (TAM), mídias sociais, transparência, aceitação e sistemas de informação, denotando o intuito de investigar aspectos como confiança, facilidade de uso, possibilidades de adoção, assim como comportamento planejado em relação ao serviço. Tal frente de estudos mostra-se importante, visto que, apesar de haver diferentes vantagens na oferta de serviços de e-gov, o número de cidadãos que os utiliza é fundamental para avaliar a sua efetividade (Kurfalı, Arifoğlu, Tokdemir & Paçin, 2017Kurfalı, M; Arifoğlu, A; Tokdemir, G; & Paçin, Y. (2017). Adoption of e-government services in Turkey. Computers in Human Behavior, 66, 168-178. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.chb.2016.09.041
https://doi.org/10.1016/j.chb.2016.09.04...
).

A temática das mídias sociais no contexto do e-gov ganha destaque no período deste estudo, evidenciando a necessidade de os governos estarem atentos à comunicação na esfera digital, uma vez que esta supera, a cada dia, as mídias tradicionais (Valaei & Baroto, 2017Valaei, N; & Baroto, M. B. (2017). Modelling continuance intention of citizens in government Facebook page: a complementary PLS approach. Computers in Human Behavior, 73, 224-237. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.chb.2017.03.047
https://doi.org/10.1016/j.chb.2017.03.04...
) e facilita a interação, a participação e o engajamento dos cidadãos em questões do governo, considerando-se seus diferentes níveis de gestão (federal, estadual e municipal).

O termo ‘aceitação’, relacionado a intenção, atitudes, comportamento, qualidade, sistemas e UTAUT (framework teórico também frequentemente utilizado em diferentes pesquisas da área de Sistemas de Informação), torna-se destaque na evolução dos estudos sobre e-gov no período 2016-2018. Neste período é possível identificar, na análise de intenções, atitudes e comportamentos dos usuários em relação ao e-gov, uma tendência voltada para a qualidade do serviço, tanto no contexto interno ao governo (colaboradores) quanto externo (sociedade em geral).

Estudos sobre sistema de informação representando tecnologia, identidade, gestão, satisfação do cidadão, administração pública, projetos e cortes (courts), assim como mídias sociais, tornaram-se mais densos no período final do estudo, inferindo-se que pesquisas buscam analisar relações entre o sucesso dos sistemas de informação e a satisfação do cidadão, que pode estar, ainda, atrelado à questão da aceitação dos serviços de e-gov.

Foram, ainda, identificados, com certa frequência, estudos voltados à identificação eletrônica (e-ID), os quais, segundo Melin, Axelsson e Söderström (2016Melin, U; Axelsson, K; & Söderström, F. (2016). Managing the development of e-ID in a public e-service context. Transforming Government: People, Process and Policy, 10(1), 72-98. Recuperado de https://doi.org/10.1108/tg-11-2013-0046
https://doi.org/10.1108/tg-11-2013-0046...
), são construídos com base nas características dos cidadãos, seguindo uma linha mais técnica, tendendo identificar a percepção dos usuários dos serviços de e-gov, visto que há preocupações com segurança e privacidade.

Ainda, no período final desta pesquisa, o termo transparência, associado a accountability, governança, confiança política, governo aberto, governo local e municípios, assume posição de centralidade, apontando a tendência de estudos sobre o uso das TICs por parte dos governos para ampliar a divulgação de informações e materiais públicos ao maior número de pessoas possível. Outra linha de estudos observada envolve os movimentos anticorrupção dentro do contexto das estratégias de e-gov, iniciativas de governo aberto e esforços de transparência em termos de dados, informações e processos políticos. Na visão de Nam (2018Nam, T. (2018). Examining the anti-corruption effect of e-government and the moderating effect of national culture: A cross-country study. Government Information Quarterly, 35(2), 273-282. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2018.01.005
https://doi.org/10.1016/j.giq.2018.01.00...
), o e-gov possui significativo potencial para controlar a corrupção por meio da transparência.

Adicionalmente, temas como internet e serviço público mostraram-se importantes para o campo - identificando-se nesta pesquisa como temas transversais e gerais -, já que o e-gov provê serviços por meios eletrônicos e, dentre estes, a internet é o meio mais popularizado.

No último período aqui estudado, 2016-2018, destacam-se temas associados como coprodução, governo, privacidade, serviços online, futuro, negócios e rural, o que amplia a tendência de estudos ao evidenciar a relação existente entre e-gov e coprodução de serviços públicos, assim como a influência das diferentes frentes de e-gov na coprodução (ex.: mídias sociais, wikis e websites, e a coprodução de serviços públicos). Isso leva, ainda, a estudos sobre como a ampliação do e-gov (serviços online) influencia a percepção da sociedade acerca da melhoria dos serviços públicos, ou a percepção dos colaboradores e servidores públicos sobre dada solução de e-gov.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do presente texto - estudar a produção científica na área de governo eletrônico, por meio da análise de artigos científicos publicados em periódicos indexados na base de dados WoS - foi alcançado por meio da análise bibliométrica de cocitação de palavras e de cluster, viabilizada pelo software SciMAT. Examinar a evolução temática do campo de pesquisa do e-gov ao longo de 26 anos em 1.516 publicações (de 1992 a 2018) aqui selecionadas permitiu visualizar, por meio de análise longitudinal, a construção, bem como a estrutura conceitual desse campo de pesquisa (Cobo et al; 2012Cobo, M. J; López-Herrera, A. G; Herrera-Viedma, E; & Herrera, F. (2012). SciMAT: A New Science Mapping Analysis Software Tool. Journal of the American Society for Information Science and Technology, 63(8), 1609-1630. Recuperado de https://doi.org/10.1002/asi.22688
https://doi.org/10.1002/asi.22688...
). Além disso, foi possível identificar mudanças e evolução, bem como tendências e inter-relações entre os tópicos relevantes do campo de estudo.

Os resultados do estudo levam à conclusão de que o e-gov é uma área científica bastante estudada, o que se justifica pelo aumento gradual do número de estudos publicados em periódicos a partir de 1992. Confirmando e reforçando achados de estudos anteriores, como o de Rodríguez-Bolívar et al. (2016Rodríguez-Bolívar, M. P; Alcaide Muñoz, L; & López-Hernández, A. M. (2016). Scientometric Study of the Progress and Development of e-Government Research During the Period 2000-2012. Information Technology for Development, 22(1), 36-74. Recuperado de https://doi.org/10.1080/02681102.2014.927340
https://doi.org/10.1080/02681102.2014.92...
), notou-se que o campo de pesquisa do e-gov pode ser considerado eclético e interdisciplinar, envolvendo diferentes disciplinas e metodologias, cada qual contribuindo para teorias e abordagens específicas. Observa-se a presença de grande número de temas novos a cada período, ressaltando-se temas que não se repetem, o que pode indicar que o campo ainda não está maduro, permitindo, portanto, diferentes frentes de análise dentro da temática.

7.1 Limitações do estudo

Cabe apontar limitações deste estudo. A coleta dos artigos conduzida no início de dezembro de 2018 pode não ter abrangido textos publicados no mesmo mês e/ou não disponibilizados na plataforma naquele momento. Aponta-se, ainda, a possibilidade de o conjunto de palavras-chave utilizado não ter representado toda a pesquisa publicada, uma vez que se trata de uma área de estudo ampla e multidisciplinar e que foi utilizada uma só base de dados (WOS).

7.2 Agenda de estudos futuros

Os resultados apontaram os temas mais proeminentes e que irão estruturar e dar forma ao campo de conhecimento do e-gov nos próximos anos: TAM, mídias sociais, transparência, aceitação e sistemas de informação. Tendo como base esses grandes grupos temáticos, é possível assinalar possibilidades de estudos futuros.

No contexto do framework teórico TAM, pode-se pensar em pesquisas futuras focadas no usuário dos serviços e voltadas à investigação de aspectos como confiança, facilidade de uso, possibilidades de adoção, comportamento planejado ao serviço, bem como averiguar e evidenciar quais elementos influenciam a adoção dos diferentes serviços de e-gov. Em relação ao termo “aceitação”, há espaço para explorar a temática tanto em termos tecnológicos, como em termos de qualidade do serviço, atrelando-o ao framework UTAUT.

Outro caminho de pesquisa válido está relacionado às mídias sociais, as quais têm ganhado destaque no contexto do e-gov (Gao & Lee, 2017Gao, X; & Lee, J. (2017). E-government services and social media adoption: Experience of small local governments in Nebraska state. Government Information Quarterly, 34(4), 627-634. Recuperado dehttps://doi.org/10.1016/j.giq.2017.09.005
https://doi.org/10.1016/j.giq.2017.09.00...
). É possível aprofundá-lo em estudos sobre a forma como governos usam redes sociais, como Twitter e Facebook, e como elas podem facilitar a interação, a participação e o engajamento dos cidadãos em questões do governo. Pode-se, ainda, analisar como as mídias sociais complementam os serviços de e-gov já existentes e, também, quais ferramentas de mídia social melhor se adéquam aos diferentes tipos de serviço de e-gov oferecidos (Gao & Lee, 2017; Valaei & Baroto, 2017Valaei, N; & Baroto, M. B. (2017). Modelling continuance intention of citizens in government Facebook page: a complementary PLS approach. Computers in Human Behavior, 73, 224-237. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.chb.2017.03.047
https://doi.org/10.1016/j.chb.2017.03.04...
).

No que tange ao tema “sistemas de informação”, pesquisas futuras podem examinar como a administração pública gerencia seus projetos de e-gov e como as particularidades de cada órgão ou esfera podem impactar nos resultados alcançados diante do que foi planejado.

Há, ainda, possibilidades de encaminhamentos mais genéricos, como a condução de análise comparativa entre os estudos brasileiros e internacionais, a utilização de um maior número de bases de dados, bem como análise, separadamente, das relações existentes entre clusters que compartilham elementos principais entre si ao longo dos períodos e sua flutuação ao longo do tempo, além do exame da produção científica em anos posteriores a 2018, utilizando outros termos-chave para a busca de artigos associados à temática. Complementarmente, pode-se pensar em estudos que explorem o que significa para a construção do campo de conhecimento o termo “governo eletrônico” abranger áreas de conhecimento e temas de pesquisas diversos, incluindo uma perspectiva crítica.

REFERÊNCIAS

  • Alcaide-Muñoz, L; Rodríguez-Bolívar, M. P; Cobo, M. J; & Herrera-Viedma, E. (2016). Science Mapping Tools: Their Application to e-Government Field. In Proceedings of the 17º Annual International Conference on Digital Government Research, Puebla, Mexico. Recuperado de https://doi.org/10.1145/2912160.2912172
    » https://doi.org/10.1145/2912160.2912172
  • Alcaide-Muñoz, L; Rodríguez-Bolívar, M. P; Cobo, M. J; & Herrera-Viedma, E. (2017). Analysing the scientific evolution of e-Government using a science mapping approach. Government Information Quarterly, 34(3), 545-555. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2017.05.002
    » https://doi.org/10.1016/j.giq.2017.05.002
  • Ali, U; Mehmood, A; Majeed, M. F; Muhammad, S; & Khan, M. K. (2019). Innovative Citizen’s Services through Public Cloud in Pakistan: User’s Privacy Concerns and Impacts on Adoption. Mobile Networks and Applications, 24, 47-68.
  • Arduini, D; & Zanfei, A. (2014). An overview of scholarly research on public e-services? A meta-analysis of the literature. Telecommunications Policy, 38(5-6), 476-495. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.telpol.2013.10.007
    » https://doi.org/10.1016/j.telpol.2013.10.007
  • Barbosa, A. R. (2017). Perfil da produção científica brasileira sobre governo eletrônico. Revista Eletrônica Gestão e Serviços, 8(1), 1785. Recuperado dehttps://doi.org/10.15603/2177-7284/regs.v8n1p1785-1810
    » https://doi.org/10.15603/2177-7284/regs.v8n1p1785-1810
  • Bekkers, V; & Homburg, V. (2005). E-government as an information ecology. In V. Bekkers, & V. Homburg(Eds.), The information ecology of e-government(pp. 1-20). Washington, DC: IOS Press.
  • Bellis, N. de. (2009). Bibliometrics and Citation Analysis: From the Science Citation Index to Cybermetrics Lanham, Maryland: Scarecrow Press.
  • Callon, M; Courtial, J. P; & Laville, F. (1991). Co-word analysis as a tool for describing the network of interactions between basic and technological research: The case of polymer chemistry. Scientometrics, 22(1), 155-205. Recuperado dehttps://doi.org/10.1007/BF02019280
    » https://doi.org/10.1007/BF02019280
  • Chen, C. (2017). Science Mapping: A Systematic Review of the Literature. Journal of Data and Information Science, 2(2), 1-40. Recuperado dehttps://doi.org/10.1515/jdis-2017-0006
    » https://doi.org/10.1515/jdis-2017-0006
  • Cobo, M. J; López-Herrera, A. G; Herrera-Viedma, E; & Herrera, F. (2011). Science Mapping Software Tools: Review, Analysis, and Cooperative Study Among Tools. Journal of the American Society for Information Science and Technology, 62(7), 1382-1402. Recuperado de https://doi.org/10.1002/asi
    » https://doi.org/10.1002/asi
  • Cobo, M. J; López-Herrera, A. G; Herrera-Viedma, E; & Herrera, F. (2012). SciMAT: A New Science Mapping Analysis Software Tool. Journal of the American Society for Information Science and Technology, 63(8), 1609-1630. Recuperado de https://doi.org/10.1002/asi.22688
    » https://doi.org/10.1002/asi.22688
  • Coelho, T. R; Przeybilovicz, E; Cunha, M. A; & Echternacht, T. H. S. (2016, April 19). Positioning Brazil in International eGov Research: A Proposal Based from Literature Review. In Proceedings of the 49º Hawaii International Conference on System Sciences, Koloa, HI, USA. Recuperado dehttps://doi.org/10.1109/HICSS.2016.336
    » https://doi.org/10.1109/HICSS.2016.336
  • Cunha, M. A; Coelho, T. R; & Przeybilovicz, E. (2017). Get into the club: Positioning a developing country in the international e-Gov research. Electronic Journal of Information Systems in Developing Countries, 79(1), 1-21. Recuperado de https://doi.org/10.1002/j.1681-4835.2017.tb00580.x
    » https://doi.org/10.1002/j.1681-4835.2017.tb00580.x
  • Dias, G. P. (2019). Fifteen years of e-government research in Ibero-America: a bibliometric analysis. Government Information Quarterly, 36(3), 400-411. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.05.008
    » https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.05.008
  • Eck, N. J; & Waltman, L. (2017). Citation-based clustering of publications using CitNetExplorer and VOSviewer. Scientometrics, 111(2), 1053-1070. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s11192-017-2300-7
    » https://doi.org/10.1007/s11192-017-2300-7
  • Fan, J; & Yang, W. (2015). Study on e-government services quality: The integration of online and offline services. Journal of Industrial Engineering and Management, 8(3), 693-718. Recuperado de https://doi.org/10.3926/jiem.1405
    » https://doi.org/10.3926/jiem.1405
  • Ferreira, N. C. M. Q. F; Ferreira, F. A. F; Marques, C. S. E; Ilander, G. O. P. B; & Cipi, A. (2015). Challenges in the Implementation of Public Electronic Services: Lessons from a Regional-Based Study. Journal of Business Economics and Management, 16(5), 962-979. Recuperado dehttps://doi.org/10.3846/16111699.2014.920718
    » https://doi.org/10.3846/16111699.2014.920718
  • Francisco, E. R. (2011). RAE-Eletrônica: exploração do acervo à luz da bibliometria, geoanálise e redes sociais. RAE-Revista de Administração de Empresas, 51(3), 280-306. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0034-75902011000300008
    » https://doi.org/10.1590/S0034-75902011000300008
  • Gao, X; & Lee, J. (2017). E-government services and social media adoption: Experience of small local governments in Nebraska state. Government Information Quarterly, 34(4), 627-634. Recuperado dehttps://doi.org/10.1016/j.giq.2017.09.005
    » https://doi.org/10.1016/j.giq.2017.09.005
  • Garfield, E. (1994). Scientography: Mapping the Tracks of Science. Current Contents: Social & Behavioural Sciences, 7(45), 5-10
  • Gil-García, J. R; & Pardo, T. A. (2005). E-government success factors: Mapping practical tools to theoretical foundations. Government Information Quarterly, 22(2), 187-216. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2005.02.001
    » https://doi.org/10.1016/j.giq.2005.02.001
  • Gutiérrez-Salcedo, M; Martínez, M. A; Moral-Munoz, J. A; Herrera-Viedma, E; & Cobo, M. J. (2018). Some bibliometric procedures for analyzing and evaluating research fields. Applied Intelligence, 48, 1275-1287. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s10489-017-1105-y
    » https://doi.org/10.1007/s10489-017-1105-y
  • Haunschild, R; Hug, S. E; Brändle, M. P; & Bornmann, L. (2018). The number of linked references of publications in Microsoft Academic in comparison with the Web of Science. Scientometrics, 114(1), 367-370. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s11192-017-2567-8
    » https://doi.org/10.1007/s11192-017-2567-8
  • Homburg, V. (2018). ICT, e-government and e-governance: bits & bytes for public administration. In E. Ongaro, & S. Thiel Van (Eds.), The Palgrave Handbook of Public Administration and Management in Europe London, UK: Palgrave Macmillan.
  • Hoz-Correa, A. De, & Mu, F. (2018). Past themes and future trends in medical tourism research : A co-word analysis. Tourism Management, 65, 200-211. Recuperado dehttps://doi.org/10.1016/j.tourman.2017.10.001
    » https://doi.org/10.1016/j.tourman.2017.10.001
  • Khiste, G. P; & Amanullah, A. (2017). Analysis of Knowledge Management output in Web of Science during 2007 to 2016. International Research: Journal of Library & Information Science, 7(4), 45-46.
  • Klievink, B; Bharosa, N; & Tan, Y. H. (2016). The collaborative realization of public values and business goals: Governance and infrastructure of public-private information platforms. Government Information Quarterly, 33(1), 67-79. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2015.12.002
    » https://doi.org/10.1016/j.giq.2015.12.002
  • Kumar, R; Sachan, A; & Mukherjee, A. (2017). Qualitative approach to determine user experience of e-government services. Computers in Human Behavior, 71, 299-306. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.chb.2017.02.023
    » https://doi.org/10.1016/j.chb.2017.02.023
  • Kurfalı, M; Arifoğlu, A; Tokdemir, G; & Paçin, Y. (2017). Adoption of e-government services in Turkey. Computers in Human Behavior, 66, 168-178. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.chb.2016.09.041
    » https://doi.org/10.1016/j.chb.2016.09.041
  • Macadar, M. A; Luciano, E. M; & Lopes, K. M. G. (2017). Utilização de teorias nas pesquisas em governo eletrônico: reflexões iniciais sobre pesquisas brasileiras. Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, 16(1), 1-23. Recuperado de https://doi.org/10.21529/RESI.2017.1601001
    » https://doi.org/10.21529/RESI.2017.1601001
  • Melin, U; Axelsson, K; & Söderström, F. (2016). Managing the development of e-ID in a public e-service context. Transforming Government: People, Process and Policy, 10(1), 72-98. Recuperado de https://doi.org/10.1108/tg-11-2013-0046
    » https://doi.org/10.1108/tg-11-2013-0046
  • Muñoz-Leiva, F; Viedma-del-Jesús, M. I; Sánchez-Fernández, J; & López-Herrera, A. G. (2012). An application of co-word analysis and bibliometric maps for detecting the most highlighting themes in the consumer behaviour research from a longitudinal perspective. Quality and Quantity, 46(4), 1077-1095. Recuperado dehttps://doi.org/10.1007/s11135-011-9565-3
    » https://doi.org/10.1007/s11135-011-9565-3
  • Munyoka, W; & Maharaj, M. S. (2018). Privacy, security, trust, risk and optimism bias in e-government use: the case of two Southern African Development Community countries. South African Journal of Information Management, 21(1), 1-9. Recuperado de https://doi.org/10.4102/sajim.v21i1.983
    » https://doi.org/10.4102/sajim.v21i1.983
  • Nam, T. (2018). Examining the anti-corruption effect of e-government and the moderating effect of national culture: A cross-country study. Government Information Quarterly, 35(2), 273-282. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.giq.2018.01.005
    » https://doi.org/10.1016/j.giq.2018.01.005
  • Pardo, T. A; Nam, T; & Burke, G. B. (2012). E-Government Interoperability: Interaction of Policy, Management, and Technology Dimensions. Social Science Computer Review, 30(1), 7-23. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0894439310392184
    » https://doi.org/10.1177/0894439310392184
  • Pieterson, W; & Ebbers, W. (2008). The use of service channels by citizens in the Netherlands: implications for multi-channel management. International Review of Administrative Sciences, 74(1), 95-110. Recuperado dehttps://doi.org/10.1177/0020852307085736
    » https://doi.org/10.1177/0020852307085736
  • Przeybilovicz, E; Cunha, M. A; & Coelho, T. R. (2015). O desenvolvimento dos estudos sobre governo eletrônico no Brasil: um estudo bibliométrico e sociométrico. Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, 14(3), 3-24. Recuperado de https://doi.org/10.1087/20110303
    » https://doi.org/10.1087/20110303
  • Rodríguez-Bolívar, M. P; Alcaide-Muñoz, L; & Cobo, M. J. (2018). Analyzing the scientific evolution and impact of e-Participation research in JCR journals using science mapping. International Journal of Information Management, 40, 111-119. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.ijinfomgt.2017.12.011
    » https://doi.org/10.1016/j.ijinfomgt.2017.12.011
  • Rodríguez-Bolívar, M. P; Alcaide Muñoz, L; & López-Hernández, A. M. (2016). Scientometric Study of the Progress and Development of e-Government Research During the Period 2000-2012. Information Technology for Development, 22(1), 36-74. Recuperado de https://doi.org/10.1080/02681102.2014.927340
    » https://doi.org/10.1080/02681102.2014.927340
  • Savoldelli, A; Codagnone, C; & Misuraca, G. (2014). Understanding the e-government paradox: Learning from literature and practice on barriers to adoption. Government Information Quarterly, 31(Supp.1), S63-S71. Recuperado dehttps://doi.org/10.1016/j.giq.2014.01.008
    » https://doi.org/10.1016/j.giq.2014.01.008
  • Savona, M; & Steinmueller, W. E. (2013). Service output, innovation and productivity: A time-based conceptual framework. Structural Change and Economic Dynamics, 27, 118-132. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.strueco.2013.06.006
    » https://doi.org/10.1016/j.strueco.2013.06.006
  • Siddiquee, N. A. (2016). E-government and transformation of service delivery in developing countries The Bangladesh experience and lessons. Transforming Government: People, Process and Policy, 10(3), 368-390. Recuperado de https://doi.org/10.1108/TG-09-2015-0039
    » https://doi.org/10.1108/TG-09-2015-0039
  • Sun, P. L; Ku, C. Y; & Shih, D. H. (2015). An implementation framework for E-Government 2.0. Telematics and Informatics, 32(3), 504-520. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.tele.2014.12.003
    » https://doi.org/10.1016/j.tele.2014.12.003
  • Sundberg, L. (2019). Value Positions and Relationships in the Swedish Digital Government. Administrative Sciences, 9(24), 1-16. Recuperado de https://doi.org/10.3390/admsci9010024
    » https://doi.org/10.3390/admsci9010024
  • Szkuta, K; Pizzicannella, R; & Osimo, D. (2014). Collaborative approaches to public sector innovation: A scoping study. Telecommunications Policy, 38(5), 558-567. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.telpol.2014.04.002
    » https://doi.org/10.1016/j.telpol.2014.04.002
  • United Nations. (2016). UN e-government survey 2016: e-government in support of sustainable development Recuperado de https://publicadministration.un.org/egovkb/en-us/reports/un-e-government-survey-2016
  • Valaei, N; & Baroto, M. B. (2017). Modelling continuance intention of citizens in government Facebook page: a complementary PLS approach. Computers in Human Behavior, 73, 224-237. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.chb.2017.03.047
    » https://doi.org/10.1016/j.chb.2017.03.047
  • Webster, J; & Watson, R. T. (2002). Analyzing the Past to Prepare for the Future: Writing a Literature Review. MISQ Quarterly, 26(2), xiii-xxiii.
  • Wirtz, B. W; & Daiser, P. (2018). A meta-analysis of empirical e-government research and its future research implications. International Review of Administrative Sciences, 84(1), 144-163. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0020852315599047
    » https://doi.org/10.1177/0020852315599047

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    Sep-Oct 2021

Histórico

  • Recebido
    13 Jun 2020
  • Aceito
    05 Jul 2021
Fundação Getulio Vargas Fundaçãoo Getulio Vargas, Rua Jornalista Orlando Dantas, 30, CEP: 22231-010 / Rio de Janeiro-RJ Brasil, Tel.: +55 (21) 3083-2731 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: rap@fgv.br