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Editorial

Editorial

"Quem se aventurar a ler os mais respeitados periódicos da área de administração dificilmente experimentará qualquer sensação de prazer. A leitura será no mínimo tediosa. A maioria avassaladora dos artigos fará cair no sono o mais insone dos mortais.

Dos periódicos ditos científicos, constatará o desafortunado leitor, qualquer traço de humanidade terá sido cuidadosamente extirpado. Ali serão encontradas apenas hipóteses, equações e correlações. Qualquer traço da realidade não passará de mera coincidência. E nos periódicos mais preocupados com a aplicação de conhecimentos o quadro não é menos árido. Proliferam ali as receitas de sucesso e os modismos empresariais.

Se o caso for de periódicos brasileiros, então a boa vontade deverá ser redobrada. Porque aqui abundam reproduções mal informadas e desatualizadas do que se produz fora, uma cópia esmaecida de um mundo que não existe além de alguns domínios do bunker acadêmico americano.

John Van Maanen, um grão-vizir do campo, chegou a propor uma moratória de dez anos para trabalhos teóricos e metodológicos. Segundo ele, deveria haver maior investimento em narrativas descritivas sobre a vida organizacional. Esta seria uma forma de evitar a proliferação de teorias medíocres.

Diante de tal quadro, deveras desolador, deve-se perguntar: onde fica a boa teoria? Aquela que se faz com especulações, que desafia o status quo e apresenta perspectivas novas aos fenômenos estudados? Em algum ponto da história parece que estes valores se perderam. Como reverter tal situação?"

O trecho acima foi escrito por Carlos Osmar Bertero, Miguel P. Caldas e este editorialista e publicado num relatório de pesquisa. Quis o destino – e convites sem possibilidade de recusa – que o primeiro se tornasse membro do Conselho Editorial da RAE, o segundo, Editor Associado e o último, Editor. As funções poderiam ser alteradas, mas o compromisso com a mudança certamente seria o mesmo.

Renovação

Este número dá continuidade a uma série de mudanças na RAE. O projeto gráfico segue a transição programada: homogeneizamos a diagramação e introduzimos sinalizadores nas seções.

Surgem também, nesta edição, os primeiros frutos da reaproximação com o mundo empresarial, por meio de parcerias firmadas com as Editoras Atlas e Saraiva, com a revista Forbes, com o Instituto Ethos e com a PricewaterhouseCoopers (PWC). Desta última parceria, originou-se o Prêmio PWC de Monografias, um estímulo adicional à geração e disseminação de idéias sobre inovação em gestão.

O projeto editorial apresenta três novas seções: "Documento" passa a explorar a nossa herança intelectual, "Pensata" reserva espaço para ensaios críticos e "Indicações Bibliográficas" responde a uma solicitação constante de nossos leitores.

No âmbito do relacionamento com assinantes, iniciamos amplo programa de divulgação da revista visando um contato mais próximo com estudantes, professores e pesquisadores.

Acreditamos, porém, que o caminho de mudança mais importante relaciona-se ao processo de publicação. Graças ao esforço da equipe RAE, com apoio dos Editores Associados, dos avaliadores e, obviamente, dos autores, implantamos o sistema de double blind review, essencial para garantir a qualidade dos trabalhos.

Alimento para a mente e para a alma

"Uma boa teoria explica, prediz e deleita." Refletindo a frase do conhecido teórico organizacional Karl Weick, esta edição da RAE traz significativo número de trabalhos empíricos.

Em recursos humanos, Estelle M. Morin estuda os sentidos do trabalho para os administradores. Com base em uma pesquisa de campo, constrói um retrato vivo do vínculo indivíduo–trabalho.

Em trilha paralela à do artigo anterior, José Humberto Viana Lima Júnior e Angelo Brigato Ésther exploram o tema do prazer e da dor no trabalho. Seu objeto de estudo é o trabalho de enfermagem. Suas reflexões estimulam o leitor a vôos similares sobre outras profissões.

Na área da mercadologia, André Torres Urdan e Melby Karina Huertas Zuñiga tratam da relação entre os serviços de assistência técnica e a lealdade à marca. Neste artigo, os autores unem rigor científico e pertinência para a prática administrativa.

No domínio dos negócios digitais, Alberto Luiz Albertin apresenta artigo que tem como foco identificar os componentes de valor estratégico da tecnologia de informação. Objetivo ambicioso e relevante, num campo às vezes marcado por incômoda distância entre discurso e prática.

No âmbito da administração hospitalar, Ana Maria Malik e João Pedro Teles apresentam um estudo revelador sobre práticas gerenciais realizado em 159 hospitais. A pesquisa mostra um quadro pouco desenvolvido e de muitas oportunidades para melhoria dos serviços.

Documento presta uma homenagem ao saudoso professor Maurício Tragtenberg. Quatro trabalhos recuperam a personalidade e as idéias de um dos principais pensadores brasileiros em Administração: Antonio José Romera Valverde traz um relato pessoal sobre o mestre Tragtenberg, sua trajetória de vida e seu carisma. Fernando C. Prestes Motta nos mostra Tragtenberg como pensador crítico. José Henrique de Faria explora, a partir de sua leitura das idéias de Tragtenberg, os temas poder e participação. Concluindo, Ana Paula Paes de Paula propõe uma atualização das idéias de Tragtenberg, aplicando-as ao "estado das coisas" da pesquisa e do ensino em Administração.

Em Pensata, Carlos Osmar Bertero revê uma figura de linguagem conhecida dos teóricos organizacionais: a metáfora da orquestra.

A evolução recente das organizações e das orquestras tem paralelos instigantes, como demonstra o autor.

Convite

Finalmente, cabe, neste Editorial, renovar o convite a pesquisadores de todas as instituições. Nosso projeto de fazer uma revista relevante e crítica só será viável com a participação de toda a comunidade. Boa leitura!

Thomaz Wood Jr.

Editor e Diretor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Set 2011
  • Data do Fascículo
    Set 2001
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