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Comércio, crescimento e distribuição. Ensaios sobre estruturas assimétricas

RESENHAS

Solival Silva e Menezes

Economista pela USP e Administrador pela EAESP/FGV; Doutorando no IPE/USP e Mestrando na EAESP/FGV

COMÉRCIO, CRESCIMENTO E DISTRIBUIÇÃO. Ensaios sobre estruturas assimétricas

Maurício Barata de Paula Pinto. São Paulo, IPE/ USP, 1987,135 páginas.

O Brasil é um país que apresenta um alto grau de dependência das transações externas; isso tem motivado muitos estudiosos da Economia Internacional a formularem modelos que expliquem o funcionamento da estrutura do comércio exterior e a analisarem seus efeitos diretos e indiretos sobre o crescimento do produto nacional, o endividamento e sobre outras importantes variáveis da macroeconomia nacional Muitos desses modelos têm como escopo analítico as ferramentas neoclássicas que tratam com rigor as relações funcionais e quase sempre conduzem a um estudo do equilíbrio dos mercados.

Este livro, fruto das pesquisas do economista Maurício Barata, do IPÊ/USP, tem esta mesma preocupação, inclusive utilizando-se do instrumental neoclássico para suas conclusões. É, porém, uma obra diferente das demais, ao reconhecer que as transações entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos não seguem a simetria subjacente às hipóteses neoclássicas.

O professor Barata mostra-se mais cauteloso e acredita que é necessário incluir nos modelos as situações particulares de cada pais participante do comércio internacional, calculando-se os verdadeiros custos e benefícios, quantitativos e qualitativos, envolvidos nas políticas comerciais. Para ele, as hipóteses da teoria neoclássica do comércio internacional e da teoria da política comercial, tais como a da inexistência de defasagens setoriais internas, a do comportamento homogêneo dos agentes econômicos, a da igualdade de remuneração real dos fatores, dentre outras, não se confirmam na prática econômica dos países subdesenvolvidos e isso se deve até mesmo ao fato de a maioria dos modelos ter sido criada longe dessa realidade, isto é, nos próprios países industrializados. E necessário, portanto, abandonar os pressupostos de simetria entre os países participantes das transações internacionais e incorporar, em seu lugar, as diferentes características pertencentes à matriz econômica de cada país ou da região envolvidos no problema.

O autor confessa, também, que está insatisfeito com o estado atual da teoria econômica sobre o comércio internacional e propõe que as análises sejam realizadas utilizando-se dos mesmos métodos usados pela ortodoxia, posto que são métodos muito poderosos que não devem ser abandonados, já que, segundo sua expressa declaração, a escolha do método de análise não interfere nos resultados obtidos, sendo mais importante a seleção de hipóteses adequadas.

Assim, são apresentados três interessantes ensaios, partindo-se do principio de que há diferenças entre os agentes econômicos, que há distintas condições técnicas de produção na economia e, portanto, diferentes condições de equilíbrio de mercado. No primeiro ensaio é apresentada a concepção ricardiana de equilíbrio a longo prazo, precedida de uma especificação da dinâmica clássica para economias fechadas. No segundo, o autor mostra como as conclusões da teoria do equilíbrio geral devem ser modificadas diante da existência de limitações dos fatores de produção; no terceiro, opera com desequilíbrios no balanço de pagamentos e com a existência de bens non tradeable na economia doméstica.

Trata-se de mais uma boa contribuição teórica de um economista brasileiro para enriquecer o debate sobre o comércio exterior, justamente em um país cuja dependência do comércio internacional é extremamente elevada.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 1989
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