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Consulta de enfermagem na promoção da saúde sexual

Consulta del Enfermería en la promoción de la salud sexual

Nursing appointment (consultation) for the promotion of sexual health

Resumos

Nesta produção acadêmica, apresentam-se fundamentos e instrumentos metodológicos para a realização da consulta de enfermagem voltada à saúde sexual de adultos e adolescentes. A proposta sistematizada orienta-se por uma perspectiva promocional de saúde sexual e por um conceito abrangente de sexualidade. Dá-se ênfase ao reconhecimento de vulnerabilidades relacionadas, a uma abordagem ampla de necessidades, e à dimensão inter-relacional e educativa na atuação de enfermeiras(os).

sexualidade; cuidados de enfermagem; promoção da saúde; cuidados primários de saúde


En esta producción académica, se presentan las referencias y los instrumentos para la realización de la consulta de enfermería dirigida a la salud sexual de adultos y de adolescentes. La propuesta se orienta para una perspectiva del promocional de la salud sexual y para un concepto amplio de la sexualidad. El énfasis se da al reconocimiento de susceptibilidad, a un acercamiento amplio de necesidades en el campo, y a las relaciones y a la dimensión educativa en el trabajo de enfermeras(os).

sexualidad; atención de enfermería; promoción de la salud; atención primaria de salud


Methodological bases and instruments are presented in this academic paper for holding a nursing consultation focused on the sexual health of adults and adolescents. The systematized proposal is based on a promotional perspective of sexual health and on a comprehensive concept of sexuality. Emphasis is placed on the recognition of related vulnerabilities, on an ample approach of needs, and on the inter-relational and educative dimension and educative dimension in the work of nurses.

sexuality; nursing care; health promotion; primary health care


REVISÃO/REVIEW/REVISIÓN

Consulta de enfermagem na promoção da saúde sexual

Nursing appointment (consultation) for the promotion of sexual health

Consulta del Enfermería en la promoción de la salud sexual

Edir Nei Teixeira Mandú

Enfermeira/ABEn-MT. Doutora em enfermagem pela USP/Ribeirão Preto, professora da Faculdade de Enfermagem e Nutrição da UFMT

E-mail do autor: enmandu@terra.com.br

RESUMO

Nesta produção acadêmica, apresentam-se fundamentos e instrumentos metodológicos para a realização da consulta de enfermagem voltada à saúde sexual de adultos e adolescentes. A proposta sistematizada orienta-se por uma perspectiva promocional de saúde sexual e por um conceito abrangente de sexualidade. Dá-se ênfase ao reconhecimento de vulnerabilidades relacionadas, a uma abordagem ampla de necessidades, e à dimensão inter-relacional e educativa na atuação de enfermeiras(os).

Descritores: sexualidade; cuidados de enfermagem; promoção da saúde; cuidados primários de saúde

ABSTRACT

Methodological bases and instruments are presented in this academic paper for holding a nursing consultation focused on the sexual health of adults and adolescents. The systematized proposal is based on a promotional perspective of sexual health and on a comprehensive concept of sexuality. Emphasis is placed on the recognition of related vulnerabilities, on an ample approach of needs, and on the inter-relational and educative dimension and educative dimension in the work of nurses.

Descriptors: sexuality; nursing care; health promotion; primary health care

RESUMEN

En esta producción académica, se presentan las referencias y los instrumentos para la realización de la consulta de enfermería dirigida a la salud sexual de adultos y de adolescentes. La propuesta se orienta para una perspectiva del promocional de la salud sexual y para un concepto amplio de la sexualidad. El énfasis se da al reconocimiento de susceptibilidad, a un acercamiento amplio de necesidades en el campo, y a las relaciones y a la dimensión educativa en el trabajo de enfermeras(os).

Descriptores: sexualidad; atención de enfermería; promoción de la salud; atención primaria de salud

1 Introdução

As práticas em saúde das várias profissões buscam, apoiadas em processos assistenciais e tecnológicos diversos, satisfazer necessidades e antecipar-se e/ou solucionar problemas priorizados social, política e tecnicamente. A consulta de enfermagem é uma desses processos que compõe a histórica atenção clínico-educativa em saúde, comumente realizada de forma individualizada como parte dos cuidados primários dos serviços de saúde.

No denominado campo da ginecologia, a consulta de enfermagem, nos limites sociais das competências da enfermeira(o), tem se voltado sobretudo à prevenção e resolução de um conjunto de problemas da biodinâmica feminina, de comprovada relevância epidemiológica, afeitos ao sistema genital e desenvolvimento sexual. Assim é que questões como DSTs e aids, transtornos genitais, câncer de mama e colo uterino, controle da fertilidade, dentre outras, ocupam um espaço privilegiado no seu encaminhamento.

Com esse contorno, desconsideram-se nas consultas vários direitos e necessidades mais abrangentes em saúde sexual, relativos às suas bases sociais, às inter-relações, à realização pessoal, ao prazer, às interações corporais sexuais, à dimensão afetiva - constituintes da sexualidade de homens e mulheres.

Em uma perspectiva de cuidados integrais, contudo, a abordagem desses aspectos na prestação da atenção coletiva e individual é um diferencial, na medida em que resgata dimensões sociais e subjetivas da vida humana. De modo que a ação profissional da enfermeira(o) na consulta à saúde sexual deve contemplar, o mais amplamente possível, aspectos biológicos, sociais, subjetivos e de comunicação pertinentes às experiências eróticas, à autopercepção corporal, às trocas afetivas e relacionais humanas significativas, lidando com vulnerabilidades, potenciais, necessidades e/ou problemas relacionados.

Esse ponto de vista remete à necessidade de construir ou realçar alternativas metodológicas que possibilitem tal abordagem pela enfermeira(o) através da prática de consulta. Metodologias correspondem, em sentido amplo, à operacionalização de um conjunto de passos, à aplicação de determinados instrumentais, e a um conjunto de referências que dão sentido e sustentação ao caminho traçado/trilhado (1-2). Ou seja, metodologias articulam referências que delimitam a trajetória e o uso de determinados procedimentos, instrumentos e conteúdos na abordagem de uma dada realidade (no caso, a vida e saúde sexual), segundo a perspectiva ou conjugação de perspectivas adotadas.

Assim, a seguir, evidenciam-se algumas proposições em torno da consulta de enfermagem em saúde sexual, assumindo uma perspectiva promocional de atenção. Tais proposições podem ser utilizadas na construção concreta de trajetórias, conteúdos, escolhas e usos de instrumentais aplicáveis às consultas.

De modo especial, valorizam-se aspectos relacionados a vulnerabilidades e aos potenciais das pessoas no campo em questão, apoiados no desenvolvimento de inter-relações e ações educativas adequadas ao incremento de capacidades como as de interpretação, confrontação, e participação ativa no controle da própria sexualidade, dos cuidados públicos e ambientes sociais e institucionais à saúde sexual.

2 Objetivos da consulta de enfermagem à promoção da saúde sexual

O encaminhamento da consulta de enfermagem, tendo como finalidade última a promoção da saúde sexual, deve desdobrar-se em objetivos amplos, que considerem pelo menos quatro aspectos essenciais: os direitos sexuais históricos; processos geradores de vulnerabilidades e potenciais de enfrentamento; perfis sócio-epidemiológicos específicos; necessidades e demandas dos sujeitos alvos de cuidados.

Os direitos sexuais históricos(3) referem-se à necessidade de prazer corporal, e de livre expressão do potencial sexual e reprodutivo (sem coerção, discriminação, exploração e abusos relacionados ao sexo, gênero, à orientação sexual, idade, raça, classe social, religião, a deficiências mentais ou físicas). Dizem respeito ao direito ao desenvolvimento de habilidades para a tomada de decisão autônoma e ética sobre a própria vida sexual e ao acesso a informações baseadas no conhecimento científico ético. Além disso, abarcam o acesso à educação sexual durante toda a vida, à prevenção e ao tratamento de todos os problemas sexuais, preocupações e desordens.

Também devem nortear a consulta de enfermagem e os objetivos a atingir os processos socioculturais, institucionais, familiares, subjetivos e comportamentais geradores de vulnerabilidades(4) ou promotores de potenciais de enfrentamento dos problemas no campo em questão. O reconhecimento de suscetibilidades e/ou potenciais particulares é uma perspectiva importante à adoção de processos interacionais e educativo-assistenciais apropriados ao acolhimento de necessidades, possíveis nos limites da atenção individual.

Dessa forma, a consulta de enfermagem em saúde sexual, de um modo geral, deve ter por objetivos:

- a promoção de percepções e relações favoráveis ao livre, saudável e prazeroso exercício da sexualidade;

- a geração da autonomia, autocontrole corporal e responsabilização com a vida e saúde sexual;

- a ampliação da participação dos sujeitos alvos da atenção na tomada de decisão e controle em torno de questões relativas à sua vida e saúde sexual;

- o reconhecimento de direitos sexuais, do direito à atenção à saúde e à proteção contra abusos do corpo;

- a prevenção e controle dos sofrimentos e desgastes psico-emocionais, relacionais e orgânicos;

- a redução de problemas como a aids, o câncer de mama e colo uterino, DSTs, contracepção indiscriminada, gestação indesejada e abortos provocados, violências domésticas e sexuais, desigualdades de poder entre homens e mulheres ou outros de qualquer ordem, problemas psico-emocionais e sexuais.

Do ponto de vista operacional, o encaminhamento da consulta de enfermagem deve buscar estabelecer inter-relações favoráveis à abordagem da saúde sexual, buscando a participação ativa daqueles que são alvos das ações. Deve considerar a dimensão relacional da sexualidade e saúde sexual e adotar medidas educativo-assistenciais de menor risco e desconforto, articulando os necessários apoios locais, e em outros serviços e/ou setores.

Na eleição concreta dos objetivos de atendimento e na definição e uso de tecnologias assistenciais deve-se ter em mente a dimensão biológica, subjetiva e sociocultural da sexualidade em suas especificidades, considerando a inserção social dos sujeitos e suas peculiares histórias de vida. Esses são aspectos que integram a complexidade dos sujeitos alvos de cuidados (mulheres e homens), sendo importantes no reconhecimento das peculiaridades relativas às vulnerabilidades, necessidades e problemas relacionados ao exercício da sexualidade.

Assim, a definição dos objetivos da consulta de enfermagem em cada localidade e serviço de saúde deve igualmente considerar: o perfil sócio-epidemiológico dos sujeitos que serão alvos de atenção; os recursos sociais e de saúde disponíveis; o direcionamento político nacional, estadual e local para a atenção à saúde/saúde sexual; e as demandas expressas dos sujeitos que serão alvos dos cuidados de enfermagem.

3 Inserção da consulta de enfermagem em saúde sexual nos serviços de saúde

A consulta de enfermagem voltada à saúde sexual deve fazer parte do conjunto de ações planejadas à atenção à saúde, e se articular a outras ações/medidas internas e externas ao setor/serviço, envolvendo a equipe de saúde, práticas interdisciplinares e intersetoriais. O acesso das pessoas à consulta de enfermagem em saúde sexual deve ser complementado por outras modalidades assistenciais e de acesso ao serviço/atenção que permitam respostas mais abrangentes de enfrentamento de vulnerabilidades e necessidades vividas.

Nesse sentido, dentre outros aspectos, são importantes:

- o acesso abrangente e facilitado aos vários atendimentos, ações e serviços;

- uma equipe integrada e capacitada (para diagnóstico, tratamento, ações educativas, acolhimento, organização da atenção, vigilância à saúde, etc.);

- a adoção sistemática de medidas de biossegurança;

- uma vigilância epidemiológica permanente (de investigação e interrupção de cadeias de transmissão, de registro, notificação compulsória e complementar, de análise de problemas, sua incidência e causas, de definição e monitoramento de medidas de controle, e de distribuição das informações);

- referências articuladas e asseguradas para exames, condutas mais complexas, apoio psico-emocional, educação coletiva em saúde;

- medidas promocionais gerais e específicas articuladas a outros setores (investimento na melhoria da qualidade de vida/vida sexual).

4 Sujeitos alvos da consulta

A consulta de enfermagem à saúde sexual deve se constituir em um espaço reservado de atendimento dirigido a mulheres e homens. Cada sujeito deve saber que tem um espaço próprio e reservado em que será respeitada a sua privacidade. Sempre que interessar, entretanto, a participação conjunta de companheiros e/ou de seus familiares (particularmente no caso dos adolescentes) no atendimento deve ser garantida, tratando-se cada participante como alvo de atenção. É desejável que os envolvidos conheçam, aceitem, e participem ativamente das propostas de atendimento do serviço/de enfermagem.

5 Abordagem interacional e educativa na consulta

Uma nova abordagem interacional deve ser desenvolvida, permeada pela contínua ação reflexiva e criativa dos profissionais. É precisolevar em consideração que a consulta de enfermagem deve se constituir, eminentemente, em um espaço de expressão/captação de necessidades e de resolução de problemas do âmbito da competência profissional de enfermeiras(os), mediados estes pela participação ativa dos sujeitos alvos de cuidados.

Para isso, é fundamental tornar a consulta um momento de troca e crescimento de todos os envolvidos - homens, mulheres e enfermeira(o). A abordagem tradicional (centrada no profissional, interrogativa, informativa) deve ser substituída por uma relação favorável à construção conjunta de novos conhecimentos, valores, sentimentos e possibilidades práticas no campo da saúde sexual, cabendo à enfermeira(o) o papel de facilitadora e aos sujeitos da atenção o de líderes de seu próprio processo.

Nesse sentido, são importantes o estabelecimento de vínculo e uma relação de confiança. A interação entre os envolvidos na consulta deve se basear na troca, e no respeito à privacidade e ao modo de ser e se colocar das pessoas. As observações e posturas da enfermeira(o) devem traduzir respeito aos sentimentos, valores, conhecimentos e dilemas expressos/vividos. Devem ser evitados os juízos de valor, as reprovações, imposições, práticas discriminatórias ou que gerem desigualdades. As mensagens precisam ser claras e objetivas e as informações sempre discutidas e fundamentadas. A base da relação deve ser o diálogo, fundamentado na escuta livre de pré-julgamentos, na atenção às diversas formas de expressão e no acolhimento do que se expressa.

Num primeiro contato, na consulta, é importante deixar claro qual o suporte que cada um pode ter do atendimento. Deve-se buscar, em todo os contatos, acordos em torno da continuidade dos encontros e do encaminhamento dos passos e ações seguintes, com base na interlocução sobre necessidades, desejos, dificuldades, riscos, problemas, alternativas possíveis e seus benefícios. O tempo dispensado ao atendimento deve possibilitar as trocas e a realização das ações necessárias.

É imprescindível evitar a prática do interrogatório no levantamento de vulnerabilidades e necessidades, tomando-se o roteiro de atendimento e as perguntas mais importantes que o próprio sujeito e a interação com ele. A confiança e a troca são construídas de modo gradativo. Questões de sexualidade são culturalmente tidas como da ordem do íntimo e privado, comumente requerendo, no seu trato, que o vínculo e a confiança no profissional estejam bem estabelecidos. Assim, é preciso fugir dos esquemas que procuram esgotar informações num primeiro contato. Além disso, deve-se avançar no processo respeitando a iniciativa e o direito das pessoas de falarem ou não sobre suas vidas e sexualidade.

Deve-se trabalhar todo tempo com a expressão de valores, conhecimentos, comportamentos, sentimentos, dificuldades e interesses, sendo a escuta profissional um meio essencial para que isso ocorra. Esta deve ser acompanhada de troca e reflexão, de modo a favorecer o autocontrole corporal, a responsabilização e a participação ativa dos sujeitos alvos de cuidados nas questões e decisões que lhes digam respeito.

Também é importante considerar os efeitos dos espaços físicos no respeito aos direitos e necessidades das pessoas. As consultas de enfermagem, preferencialmente, devem ser realizadas em um ambiente privado, preparado especialmente para o atendimento à saúde sexual. Para isso, considerar tanto as características das pessoas a serem atendidas como a necessidade de pôr à sua disposição tecnologias assistenciais e educativas diversas.

6 Conteúdo da consulta: diagnóstico de vulnerabilidades, necessidades e problemas

6.1 O que explorar

- Vulnerabilidades e potencialidades sociais, institucionais, subjetivas/ comportamentais e biológicas.

- Manifestações orgânicas e subjetivas sugestivas de necessidades no campo da saúde sexual.

- Condições gerais de saúde.

- Demandas e interesses explícitos e não explícitos.

6.2 Elementos a serem abordados na consulta de enfermagem, de acordo com os objetivos assistenciais e as especificidades das situações que se apresentarem

- Processos sociais vividos, potenciais e possíveis suscetibilidades: condições de vida, ambiente e interações familiares, práticas de lazer, situação de trabalho, acesso a serviços sociais/de saúde, situações de estresse enfrentadas, expectativas em relação ao futuro/projetos de vida.

- Comportamentos, sentimentos e percepções na esfera da sexualidade: preconceitos, estereótipos, tabus, repressões, medos, desinformação e dúvidas em relação ao exercício da sexualidade, reprodução e maternidade/paternidade; recusa ou uso não habitual do preservativo em relações sexuais; parcerias sexuais diversas; valores, intranqüilidades, possíveis tabus e experiências negativas em torno de práticas sexuais; história de gravidez indesejada e abortos forçados; padrões de feminilidade e masculinidade.

- Auto-imagem e aceitação corporal: auto-estima, autoconfiança, valores que os sujeitos têm sobre si, imagens corporais idealizadas, preocupações e distúrbios relativos à imagem corporal.

- Processos psico-emocionais: processos relacionais familiares, no trabalho, na comunidade; depressão, irritabilidade, ansiedade, insônia; possíveis vivências de processos de violência intra e extrafamiliar (física, psicológica, sexual); dependência de substâncias psicoativas; ambigüidades em torno do exercício da sexualidade e reprodução; características psico-emocionais relacionadas à fase vital; aspirações sexuais e reprodutivas; preocupações no atendimento com a privacidade e exposição do corpo.

- Capacidade de negociação em torno da sexualidade: negociação para trocas sexuais prazerosas, autoproteção das DSTs/aids, gravidez indesejada; co-responsabilidades na tomada de decisão em questões de sexualidade e reprodução; potenciais de enfrentamento de adversidades.

- Comportamentos, sentimentos e percepções em relação à anticoncepção: conhecimentos, valores e práticas anticonceptivas; uso associado de anticoncepção e proteção das DSTs/aids (preservativos); dificuldades, medos, mitos, preconceitos, preocupações, informações/desinformações e dúvidas sobre os anticonceptivos; percepção de vantagens/desvantagens e aceitabilidade dos métodos; reconhecimento de seus efeitos no organismo; condições de uso (clandestinidade, intermitência, continuidade, acesso ao recurso e ao acompanhamento dos serviços de saúde).

- Comportamentos, sentimentos e percepções em relação aocâncer genital: conhecimentos/desinformações, valores e comportamentos em relação ao câncer genital, sua prevenção e tratamento; medos e tabus; práticas de auto-exame e de realização do colpocitológico.

- Comportamentos, sentimentos e percepções em relação às DSTs e aids: conhecimentos/desinformação, interpretações, sentimentos e comportamentos em relação às DSTs/aids, sua prevenção e tratamento; dificuldades na procura dos serviços; medo de possíveis julgamentos e preconceitos em relação à situação vivida; medo das conseqüências e repercussões familiares frente ao problema vivido; desconfiança e conflito em relação ao/a companheiro/a.

- Comportamentos, sentimentos e percepções em relação ao climatério/andropausa: conhecimentos/desinformação, valores, sentimentos, preconceitos e comportamentos em relação ao climatério/andropausa e seu cuidado.

- Atividades físicas: sedentarismo e atividades físicas.

- Comportamentos alimentares: valores, hábitos e características familiares e pessoais de alimentação, acesso a alimentos, distúrbios alimentares e preocupações em torno da imagem e peso.

- História familiar de doenças: situações de hipertensão, doença cardiovascular, hipercolesterolemia, diabetes, câncer genital, saúde mental e outros.

- História prévia obstétrica: acontecimentos da gravidez, parto e pós-parto.

- História de doenças: situações de hipertensão, doença cardiovascular, tuberculose/uso de medicação específica, câncer, DSTs, hepatite viral, hipercolesterolemia, diabetes, imunodepressão, saúde mental, uso de fármacos e hormônios, e outros.

- Condições sistêmicas gerais: condições de funcionamento dos sistemas corporais, particularmente alterações do sistema digestivo, cardiovascular e nervoso (cefaléia, cansaço, nervosismo, tonteira, etc.) e urinário.

- Condições do sistema genital: características do ciclo menstrual e das perdas vaginais, distúrbios menstruais, sintomas inflamatórios ou infecciosos, lesões, nódulos, desconforto, alterações genitais e no interesse sexual.

6.3 O que observar de modo específico

Posturas e reações através do processo de comunicação corporal, identificando possíveis medos, ansiedades, reações à consulta, processos significativos não explícitos verbalmente e que possam estar relacionados a problemas enfrentados ou à procura do serviço.

6.4 Exame físico

Na avaliação de necessidades e problemas, o profissional deve levar em consideração possíveis medos e constrangimentos, sobretudo em torno da avaliação física. A conversa e explicações em torno de cada momento da avaliação são fundamentais para ajudar a relaxar, para pôr a par do que vai ser feito, e obter consentimento e participação. Todos os elementos que estão sendo avaliados devem ser objeto de troca. Aproveitar o momento para identificar percepções e vivências em torno do corpo e conversar sobre elas. Em momento apropriado, deve-se dialogar sobre os sentidos, cobranças e repressões socioculturais em torno do corpo. Se necessário, a participação em ações futuras como, por exemplo, em atividades educativas grupais, deve ser discutida por ambos como uma possibilidade.

6.5 Elementos específicos a serem observados/avaliados

- Alterações de pele e mucosas - sugestivas das DSTs/aids.

- Condições do sistema cardiovascular - PA, varizes, retenção hídrica, enfartamento ganglionar.

- Condições nutricionais: alterações de peso.

- Condições psico-emocionais: dificuldades de comunicação; processos de dependência-independência; comportamentos de agressividade, nervosismo, depressão, ansiedade, hiperatividade, apatia; manifestações de possíveis abusos físicos, sexuais, psicológicos, medos e preocupações.

- Alterações genitais: Nos homens, investigar alterações urinárias (dificuldades para expelir urina, jato fraco ou aumento das micções), varicocele, hidrocele, fimose, excesso de prepúcio, e secreções e lesões características das doenças sexualmente transmissíveis, conversando sobre o auto-exame genital e outras possíveis alterações. Nas mulheres, realizar sistematicamente o exame das mamas (a presença de cistos, nódulos, secreções, sinais inflamatórios, mudanças na pele e vascularização), aproveitando a ocasião para conversar sobre auto-exame; realizar o exame ginecológico (inspecionar a vulva e vagina, conversar sobre auto-exame) e a coleta de material para exame colpocitológico (CCO). Tanto nos homens quanto nas mulheres, investigar alterações de pele e mucosas (lesões, traumas, processos inflamatórios e infecciosos, parasitas, etc.), manifestações de desconforto, disfunções, e características de perdas genitais, distinguindo problemas de situações fisiológicas.

6.6 Avaliação geral

Esses aspectos específicos devem ser complementados por uma avaliação geral mais abrangente, tendo em vista a identificação e adoção de medidas gerais de saúde.

6.7 Solicitação de exames básicos

Rotineiramente, deve-se solicitar e dispor de exames como:

- Hemograma

- EAS e Parasitológico

- Esfregaço de Papanicolau (deve ser realizado, no mínimo, anualmente)

- VDRL

- Exame microscópico a fresco de conteúdo vaginal

- Outros exames podem ser solicitados, de acordo com as condições e problemas apresentados e as normas e rotinas específicas de atendimento de cada serviço e da consulta de enfermagem (como, por exemplo, a mamografia, a ultrassonografia da área/órgãos pélvicos, densitometria óssea, PSA/proteína prostática, espermograma, glicemia, dosagem de colesterol, exame anti-HIV, bacterioscopia vaginal, dosagem de pH vaginal, teste de "Whiff" ou do odor, etc.).

7 Considerações finais

Não há um modo único e pronto de trabalhar com as pessoas através da consulta de enfermagem voltada à saúde sexual. As experiências, possibilidades e necessidades locais é que devem dar direção, forma e conteúdo ao processo. Na sua condução, é importante estar aberta(o) a novas experimentações, apoiando-se em processos de avaliação e participação, em especial, daqueles que se encontram diretamente envolvidos na atenção à saúde sexual e dos que dela são alvos.

Com o conteúdo proposto, a consulta de enfermagem deve dar destaque às inter-relações e à dimensão assistencial educativa, para que o atendimento não se resuma apenas ao levantamento de informações e diagnóstico em torno delas.

Para tal, é imprescindível a abertura de espaços à expressão de elementos que fazem parte do universo social e afetivo-cultural das pessoas (tais como valores, conceitos, prazeres, medos, vontades, etc.). Mais que isso, o que se expressa deve ser aceito e acolhido, através do respeito à participação daquele que busca apoio e cuidados e do entendimento conjunto dos significados sociais de suas idéias e vivências.

Esse caminho requer o diálogo, que, em si mesmo, é essencial à geração de emancipação, à promoção do bem-estar das pessoas e ao fortalecimento de sua cidadania. Além disso, a construção de novos conhecimentos e valores também deve utilizar como mediadores o contato, os gestos, o olhar. As inter-relações em saúde entre o profissional e aqueles que são alvos de cuidados possui sempre um caráter pedagógico. Assim, esses intermediários podem fazer parte das estratégias fundamentais à abordagem das potencialidades e redução dos sofrimentos das pessoas, pois, através deles, hierarquias podem ser quebradas, e as pessoas valorizadas e respeitadas, restaurando-se, em alguma medida, a sua totalidade (5).

Data de Recebimento: 05/05/2004

Data de Aprovação: 28/12/2004

  • 1. Demo P. Metodologia científica em ciências sociais. 2Ş ed. São Paulo: Atlas;1989.287p.
  • 2. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 2Ş ed. São Paulo: Hucitec;1993.269p.
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    Grupo HERA. Salud, y derechos sexuales y reproductivos de las mujeres: hora de acción. [traducción de Isabel Bericat]. New York: Secretariado de HERA c/o Internacional Women's Health Coalition; [199-]. 20 p.
  • 4. Ayres JR, Junior IF, Calazans GFHS. Vulnerabilidade e prevenção em tempo de aids. In: Barbosa RM, Parker R. Sexualidades pelo avesso: direitos, identidade e poder. Rio de Janeiro: IMS/UERJ; São Paulo: Editora 34;1999.p.49-72.
  • 5. Mandú ENT. Dimensões político-éticas na atenção básica à saúde sexual e reprodutiva em Cuiabá [tese de Doutorado em Enfermagem]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 2002. 283 f.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Mar 2009
  • Data do Fascículo
    Dez 2004

Histórico

  • Aceito
    28 Dez 2004
  • Recebido
    05 Maio 2004
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