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O bom professor e sua prática

RESENHA

O bom professor e sua prática

Elizabeth Teixeira

Enfermeira, professora Adjunto da FEP, professora visitante da UFPa, Livre Docente em Enfermagem, Mestre em Educação

INTRODUÇÃO

CUNHA, Maria Isabel da. O bom professor e sua prática.2 ed. São Paulo: Papirus, 1992.182p.

A autora trata em seu livro do Bom Professor. Sua opção pela prática docente deveu-se ao fato de ter sido esta mesma prática parte de sua caminhada e assim, o fazer do professor sempre foi uma vivência/experiência pessoal, bem como uma inquietação/motivação para uma investigação mais intensa. Sua obra nos revela uma nova concepção da prática docente, pois a autora adotou como sujeitos de seu estudo 21 professores apontados por seus alunos como aqueles que melhor se desenvolveram em seus cursos, ou seja, os bons professores que tiveram. Ela nos revela como vivem, pensam e fazem educação estes bons professores.

Sua trajetória como professor e supervisora, estudante de Curso de Magistério, Curso de Pedagogia, Mestrado e Doutorado foram fundamentais para garantir sua preocupação com a prática dos professores. Seu livro é um convite à reflexão e nos encanta com sua simplicidade e seriedade científica.

A importância e o significado do papel do professor são ressaltados pela autora, e a necessidade sentida de desvendar o cotidiano desses professores como uma forma de construção de conhecimentos, pudemos constatar e concluir.

DO ESTUDO

Sua opção metodológica foi pela pesquisa qualitativa, e devido ao interesse pelo cotidiano do professor, a autora se aproximou de um estudo com caráter etnográfico. Foram escolhidos professores de 2º e 3º graus. Tais professores foram apontados por um grupo de alunos concluintes de uma Instituição. Superior (Cursos de Pedagogia, Agronomia, Veterinária, Direito, Arquitetura e Medicina) e de quatro instituição de 2º grau. Após a sondagem com os alunos, a autora identificou seus sujeitos, entrevistou-os, bem como desenvolveu observações em sala de aula, laboratórios, etc. Para orientar sua coleta e análise, construiu um roteiro de informações a serem levantadas junto aos docentes. A análise do discurso foi utilizada como ferramenta para trabalhar a linguagem dos informantes.

Os Bons Professores: como são eles?

As características principais: conhecimento de sua matéria de ensino/habilidade para organizar suas aulas e manutenção de relações positivas: contudo, quando os alunos verbalizam o porquê da escolha do professor, enfatizam os aspectos afetivos. Quem são os Bons Professores: A maior parte (80%) é do sexo masculino, entre 26 e 60 anos, com uma incidência maior entre 35 e 45 anos. A maioria atua em tempo integral, possui curso de pós-graduação e participa das associações de classe. Todos assinam revistas especializadas e mais de 50% já produziu textos/trabalhos científicos. As histórias de vida: reconhecem ter sido influenciados pela família; muito cedo tiveram a certeza da profissão, gostam do que fazem especialmente o contato com os alunos e mantém uma boa interação com a matéria.

Influências principais: de ex-professores; de suas histórias como aluno; de outros colegas docentes; de sua experiência e formação pedagógica recebida: Os professores tendem a repetir práticas de pessoas que admiram. Visão social dos professores: há uma relação escola/sociedade; há um valor social na escola/educação; a remuneração baixa é desestimulante; na parte de ensino acho que o grande mal é a separação entre a teoria e a prática. A prática pedagógica: o prazer de estar em sala de aula é uma constante; gostam de estar com os alunos; se percebem como articuladores do processo de aprendizagem, se dizem exigentes e valorizam esta característica. Reconhecem que a ação do aluno é fundamental para a aprendizagem; há uma relação afetiva entre professor e matéria de ensino. O procedimento mais usual é partir da prática para a teoria. O planejamento é muito necessário; valorizam o seu estudo constante e a revisão de seu fazer na sala de aula; procuram partir do concreto para o abstrato. Dificuldades enfrentadas: questão salarial e desvalorização da profissão. Os modelos encontrados nas instituições (leis, regimentos, etc); condições de trabalho, falta de formação pedagógica. Do ponto de vista pedagógico, a avaliação é a principal dificuldade. Opinião sobre como formariam professores: gostar de ensinar, gostar de gente; domínio do conteúdo, capacidade de interpretá-lo e localizá-lo histórica e socialmente; o gosto pelo estudo.

Os Bons Professores: o Seu Fazer

Os procedimentos: A exposição oral com uma preocupação, com o clima favorável no ambiente escolar e com a participação dos alunos. As habilidades: Organização do contexto da aula, explicitam aos alunos o objetivo de ensino. Localizam historicamente o conteúdo, estabelecendo relações com outras áreas. Hábeis em incentivar a participação dos alunos, em usar as indagações para conduzir a aula e transferir indagações entre os alunos. Usam do reforço ao acerto, valorizam as experiências dos alunos, usam de exemplos/situações vividas, fazem relações/pontes teoria-prática.

Em menor significação observou habilidades docentes de estímulo à divergência e à criatividade, bem como à preocupação em instalar a dúvida entre os alunos... poucos admitem que as concepções dos alunos possam ser diferentes das dele... este é um dos limites para que haja a prática de reinventar o conhecimento em aula. (p.145)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É certo que vivemos um momento de transição, e os bons professores encontram-se numa relação dialética entre comportamentos enraizados e desejos/sonhos de construir uma nova escola/educação. Mas estão tentando, buscando, ousando.

Há uma idéia de dever-ser, entre alunos e professores, e esta é construída socialmente em cada tempo, lugar, sociedade. Há conflitos e buscas de novos dever-ser: sem dúvida a partir de condições dadas, concretas, do cotidiano e estudar o cotidiano do professor revela práticas concretas, desvela atividades, valores, etc.

As relações positivas são uma exigência contudo os alunos querem é um professor intelectualmente capaz e afetivamente seguro. Verificou-se que as instituições não tem claro um projeto de ser/fazer educação e assim os docentes buscam construir os seus projetos individuais.

Entre muitas das conclusões da autora destacamos: não temos ainda bons professores que estejam mais voltados a desenvolver habilidades nos alunos; os bons professores sentem dificuldade de fazer o aluno chegar ao conhecimento e também de estimular os alunos a fazerem suas próprias pesquisas.

Para uma ação dialética, transformadora, seria preciso deslocar do professor para o aluno a produção do conhecimento. Seria necessário modificar o paradigma que é presente historicamente nas concepções escolares.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Fev 2015
  • Data do Fascículo
    Mar 1994
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