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Revalidação de Charmallaspis smithiana (White, 1850) e notas em Braderochus Buquet, 1852 (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae)

Resumos

Charmallaspis smithiana (White, 1850) é removida da sinonímia de C. pulcherrima (Perty, 1832) e revalidada. A variação morfológica em Braderochus salcedoi Bleuzen, 1994, B. jolyi Bleuzen, 1994 e B. retrospinosus (Lameere, 1916) é comentada. A fêmea de B. retrospinousus é descrita pela primeira vez e a distribuição geográfica de B. hovorei Santos-Silva & Martins, 2005 é ampliada dentro da Colômbia.

Mallaspini; Prionini; América do Sul; taxonomia


Revalidation of Charmallaspis smithiana (White, 1850) and notes on Braderochus Buquet, 1852 (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae). Charmallaspis smithiana (White, 1850) is removed from the synonymy of C. pulcherrima (Perty, 1832) and revalidated. The morphological variation in Braderochus salcedoi Bleuzen, 1994, B. jolyi Bleuzen, 1994 and B. retrospinosus (Lameere, 1916) are commented. The female of B. retrospinousus is described for the first time and the distribution of B. hovorei Santos-Silva & Martins, 2005 is widened.

Mallaspini; Prionini; South American; taxonomy


Revalidação de Charmallaspis smithiana (White, 1850) e notas em Braderochus Buquet, 1852 (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae)

Antonio Santos-Silva

Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo, Caixa Postal 42.494, CEP 04218-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: toncriss@uol.com.br

RESUMO

Charmallaspis smithiana (White, 1850) é removida da sinonímia de C. pulcherrima (Perty, 1832) e revalidada. A variação morfológica em Braderochus salcedoi Bleuzen, 1994, B. jolyi Bleuzen, 1994 e B. retrospinosus (Lameere, 1916) é comentada. A fêmea de B. retrospinousus é descrita pela primeira vez e a distribuição geográfica de B. hovorei Santos-Silva & Martins, 2005 é ampliada dentro da Colômbia.

Palavras-chave: Mallaspini; Prionini; América do Sul; taxonomia.

ABSTRACT

Revalidation of Charmallaspis smithiana (White, 1850) and notes on Braderochus Buquet, 1852 (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae). Charmallaspis smithiana (White, 1850) is removed from the synonymy of C. pulcherrima (Perty, 1832) and revalidated. The morphological variation in Braderochus salcedoi Bleuzen, 1994, B. jolyi Bleuzen, 1994 and B. retrospinosus (Lameere, 1916) are commented. The female of B. retrospinousus is described for the first time and the distribution of B. hovorei Santos-Silva & Martins, 2005 is widened.

Keywords: Mallaspini; Prionini; South American; taxonomy.

INTRODUÇÃO

As espécies de Mallaspini são, na maioria, insetos vistosos, de tamanho médio a grande e de hábitos diurnos (Galileo & Martins, 1992). A tribo compreende atualmente 27 espécies e 2 subespécies (não incluída a espécie revalidada neste trabalho), distribuídas em 10 gêneros (Monné, 2006).

Galileo & Martins (l.c.), ao erigirem o gênero Charmallaspis, designaram Prionus pulcherrimus Perty, 1832 como espécie tipo e, acertadamente, alteraram a terminação do nome da espécie para concordar em gênero gramatical com o nome genérico. A terminação "aspis" (aspiV) é um substantivo nominativo singular feminino, que significa escudo. Audinet-Serville (1832) utilizou-a para formar o nome do gênero Mallaspis (malloV + aspiV; lã + escutelo). Monné (l.c.), equivocadamente, corrigiu o nome da espécie: C. pulcherrimus.

Algumas espécies de Braderochus Buquet, 1852, descritas por Bleuzen (1994) são difíceis de reconhecer utilizando-se apenas a chave e as figuras incluídas naquele trabalho. As fêmeas da maioria das espécies desse gênero são morfologicamente muito semelhantes e, considerando-se a variação intra-específica dos caracteres, estabelecer a correlação entre os dois sexos de cada espécie é um processo complexo. As figuras e notas aqui apresentadas, são uma tentativa de facilitar o reconhecimento das espécies desse gênero que, não raramente, são polimórficas.

Os acrônimos utilizados no texto correspondem: AMNH, American Museum of Natural History, Nova York, Estados Unidos; BMNH, The Natural History Museum, Londres, Inglaterra; FAUV, Facultad de Agronomia, Universidad Central de Venezuela, Maracay, Venezuela; MEFA, Museo Entomológico de la Faculdad de Agronomía de la Universidad Nacional Colombia, Bogotá, Colômbia; MZSP, Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.

Mallaspini

Charmallaspis smithiana (White, 1850) revalidada

(Figs. 1-3, 30 )









Pyrodes Smithianus White, 1850:12; 1853:50; Bates, 1869:51; Gemminger & Harold, 1872:2781; Ross, 1910:21 (cat.).

Pyrodes smithianus; Lacordaire, 1869:178; Lameere, 1909:49; Günther, 1940:464 (distr.); Galileo & Martins, 1992:320 (syn.); Monné, 2006:48 (cat.) (in syn.).

Pyrodes (Pyrodes) smithianus; Lameere, 1913:54 (cat.); 1915:284; 1919:103; Melzer, 1919:116.

Pyrodes smithiana; Blackwelder, 1946:555 (cat.).

Fêmea (Fig. 1). Tegumento verde metálico, ou dourado-esverdeado (élitros mais esverdeados), ou ainda dourado-esverdeado com reflexos violáceos.

Região dorsal da cabeça (Fig. 2) com pontos relativamente grossos, muito abundantes e confluentes (maiores na área entre a borda posterior dos olhos e o occipício). Área hipostomal com pontuação bem marcada e abundante. Gula com pontos esparsos. Antenas atingem apenas o quarto basal dos élitros; antenômero III (Fig. 3) suavemente mais largo do que o IV.

Pronoto (Fig. 2) com pontuação bem marcada e muito abundante no disco, mais grossa e esparsa na área entre o centro do disco e as laterais, e anastomosada nas laterais. Prosterno com pontos grossos e confluentes nas laterais e mais finos e dispersos em direção ao centro do disco. Metasterno com pontos relativamente grossos e abundantes nas laterais e mais finos e esparsos em direção à sutura metasternal. Metepisternos com pontuação subigual àquela das laterais do metasterno, porém mais cerrada em toda superfície. Escutelo (Fig. 2) com pontos abundantes e bem marcados. Élitros (Fig. 1) inteiramente vermiculados, com pontos finos e abundantes em toda a superfície; cada élitro com quatro carenas, das quais as duas mais internas são mais nítidas (as duas mais externas podem ser apenas indicadas). Urosternitos fina e abundantemente pontuados.

Dimensões em mm (). Comprimento total, 29,0-45,5; comprimento do protórax, 5,0-7,7; largura do protórax na frente, 6,0-8,0; largura do protórax atrás, 8,0-11,6; largura umeral, 10,2-15,5; comprimento elitral, 18,0-28,2.

Material examinado (MZSP). BRASIL. Pará: Belém, , II.1957, Dirings; ("Granja St. Hort.", Estrada de Ferro Bragança), , II.1956, Dirings; , VIII.1956, Dirings.

Distribuição geográfica (Fig. 30 ). Aparentemente, a distribuição geográfica dessa espécie é bastante restrita. As duas localidades citadas na literatura (Pará: Caripi e Benevides) e as das três fêmeas ora examinadas, são próximas ou na própria cidade de Belém.

Tipo e localidade-tipo. White (1850) descreveu Pyrodes smithianus proveniente do Brasil ("a specimen was found... on Caripi, an island thirty miles from Para"). White (1853) manteve a citação: "Hab. Brazil; Caripi near Para (J.P. George Smith, Esq.)". Lameere (1909) comentou: "Cette espèce n'est connue que d'une seule localité, Caripi, près de Para, sur le fleuve des Amazones". Galileo & Martins (1992) escreveram equivocadamente: "proveniente de Ilha Capiri ("30 miles from Pará")".

Bates (1864) esclareceu sobre a localidade-tipo: "There are three villages on the coast of Carnapijó, and several planters' houses, formerly the centres of flourishing estates... One of the largest of these establishments is called Caripi...Most of the occasional English and American visitors to Para had made some stay at Caripi, and it had obtained quite a reputation for the number and beauty of the birds and insects found there". Atualmente essa localidade faz parte do município de Barcarena.

Lameere (1909) comentou que havia duas fêmeas depositadas no BMNH, das quais uma é o holótipo, e Lameere (1915) mencionou que havia mais uma fêmea da coleção Gounelle em Paris, proveniente de Benevides (Pará, Brasil). Bates (1869) também coletou essa espécie em Caripi: "I found one specimen of this species on the foliage of a low tree, at Caripi, near Pará. Unfortunately it was not reserved for my private collection, and I have drawn up the above diagnosis from the type specimen in the British Museum, which was found by Mr. J.P.G. Smith, also at Caripi".

Discussão. Galileo & Martins (1992) examinaram um slide do holótipo de P. smithianus, sinonimizaram-na com Charmallaspis pulcherrima (Perty, 1832), mas não comentaram o motivo da sinonimização. Uma das fêmeas relacionadas na lista de material examinado abaixo, foi estudada por Galileo & Martins (l.c.), que concluíram tratar-se de uma variação de C. pulcherrima (comunicação pessoal). No entanto, C. smithiana difere de C. pulcherrima: pontuação abundante e bem marcada (Figs. 1, 2) na cabeça, no pronoto, no escutelo e no esterno; élitro (Fig. 1) com pontuação muito grossa, confluente e abundante em toda superfície e com quatro carenas; marginação da sutural elitral saliente em toda extensão ou quase toda. Em C. pulcherrima (Figs. 4, 5) a pontuação da cabeça, do pronoto, do escutelo e do esterno é mais rasa e, freqüentemente, mais esparsa, os élitros (Fig. 4) são rugosos no terço basal e lisos ou fracamente rugosos no restante, sem carenas nítidas e a marginação da sutura não é destacada. Nas três fêmeas de C. smithiana examinadas, o antenômero III (Fig. 3) é suavemente mais largo do que nas mais de vinte fêmeas de C. pulcherrima (Fig. 6) da coleção MZSP. Outra diferença observada é a cor dos élitros: nas fêmeas de C. pulcherrima é azul-metálica, ou azul-metálica com reflexos violáceos, ou uma dessas duas cores com uma larga faixa transversal amarelada (examinei apenas uma fêmea com élitros verde-metálicos e larga faixa transversal amarelada e, apenas uma outra com os élitros inteiramente azul-esverdeados). Nenhuma das fêmeas de C. smithiana apresenta a cor azul e/ou a faixa transversal amarelada.

Lameere (1909) escreveu sobre C. smithiana: "Cette espèce ne diffère de la précédente que par les côtés du prothorax aussi arrondis en avant chez la femelle qu'ils le sont chez le mâle du P. pulcherrimus, et par les élytres très rugueuses avec deux côtes et la suture élevées sur chacune d'elles". Na verdade, o protórax das fêmeas de C. smithiana e machos e fêmeas de C. pulcherrima são variáveis. Em uma das fêmeas de C. smithiana, as duas carenas elitrais mais externas são apenas indicadas e, nas outras duas, são menos nítidas do que as duas internas, o que provavelmente ocorre nas fêmeas examinadas por Lameere (l.c.).

Prionini

Braderochus jolyi Bleuzen, 1994

(Figs. 7, 9, 13, 21, 22, 24, 26, 28, 31)

Braderochus jolyi Bleuzen, 1994:51; Monné, 1995:62 (cat.); Monné & Hovore, 2005:17 (checklist); Monné, 2006:78 (cat.).

Os machos examinados e comparados com a fotografia de um dos parátipos (Figs. 7, 21) e do holótipo (Figs. 9, 13), mostram que a espécie é polimórfica. Cabeça: sulco dorsal entre os olhos mais largo do que a metade da base do antenômero III ou mais estreito; tubérculos anteníferos com pontos rasos ou relativamente profundos. Antenas: pontos finos, que entremeiam a pontuação mais grossa do escapo e antenômeros III-V, presentes ou ausentes; sulco dorsal do antenômero III nítido ou apenas indicado; ápice interno dos antenômeros VII-X (Fig. 13) arredondado ou aguçado [como no holótipo de B. salcedoi (Fig. 12)]. Pronoto: gibosidades muito destacadas (Fig. 21) ou apenas destacadas; área do disco entre as gibosidades com ou sem (Fig. 21) área sublisa e brilhante (no espécime que apresenta tal área, essa possui pontos grossos e abundantes); pilosidade da região central do disco evidente ou pouco conspícua; espinhos das margens laterais longos, curtos, ou muito curtos. Élitros: margens laterais fortemente convergentes para o ápice ou apenas convergentes (Fig. 7); epipleuras nitidamente salientes na metade basal ou apenas salientes (Fig. 7). Urotergito VIII (Fig. 26) com ápice truncado ou suavemente arredondado. Parâmeros (Fig. 28) uniformemente afilados para o ápice ou não (ápices estreitos ou não). Fêmures: pontuação fina muito abundante e evidente ou mais esparsa e pouco evidente; face ventral dos profêmures com ou sem espinhos curtos. Tíbias: pontuação variável como nos fêmures. Tarsos: ápice dos lobos dos tarsômeros (Fig. 9) com ou sem espinho moderadamente fino e destacado.

A fêmea examinada (Fig. 22) difere daquela figurada por Bleuzen (1994), principalmente pela forma dos espinhos laterais do pronoto, que são mais curtos (principalmente os anteriores).

O último segmento dos palpos maxilares dos machos é notavelmente alargado para o ápice, enquanto que o das fêmeas é apenas alargado para o ápice.

Discussão. Os dois machos examinados mostram que a forma do ápice dos lobos do tarsômero III é variável, inclusive no mesmo espécime, conforme também ocorre em outros gêneros de Prionini (e.g. Derobrachus Audinet-Serville, 1832). No espécime maior, que no aspecto geral concorda com o holótipo, o ápice dos lobos do metatarsômero III é fortemente prolongado e aguçado, embora não haja um espinho nítido, enquanto no mesotarsômero III o ápice dos lobos é apenas estreito (sem espinho) e nos protarsômeros é variável: apenas estreito nos dois lobos do tarsômero esquerdo (sem espinho); com espinho curto no lobo interno do tarsômero direito e apenas estreito no lobo externo desse mesmo tarsômero. No espécime menor, o ápice dos lobos do meso e metatarsômero III apresenta espinho nítido (principalmente nos metatarsômeros) e os protarsômeros não apresenta espinho. Luis José Joly T. (FAUV) enviou-me fotografias da genitália de um macho de B. jolyi e de um macho de B. salcedoi (Figs. 24-29). Comparando-se essas fotografias com a genitália dos dois machos de B. jolyi da coleção do MZSP, observa-se que, nessa espécie, há variação na forma dos parâmeros, do urotergito VIII e do lobo médio. O urotergito VIII dos machos de B. jolyi (coleção MZSP) é muito semelhante àquele fotografado (Fig. 26, FAUV) e consideravelmente diferente daquele de B. salcedoi (Fig. 25, FAUV). O lobo ventral da porção apical do lobo médio do macho grande (MZSP) assemelha-se mais àquele de B. salcedoi (Fig. 227, FAUV) e o do macho pequeno (MZSP) assemelha-se ao de B. jolyi (Fig. 24, FAUV). Os parâmeros do macho grande (MZSP) são muito semelhantes aos da fotografia recebida (Fig. 28, B. jolyi da coleção FAUV), mas, no macho pequeno (MZSP), os parâmeros são muito mais semelhantes àqueles de B. salcedoi (Fig. 29, FAUV). Essas variações sugerem que a genitália dos machos não apresenta caracteres utilizáveis na separação das duas espécies.

Material examinado e distribuição (Fig. 31): VENEZUELA. Tachira: Tachira, , [sem data de coleta e nome do coletor] (MZSP); Sucre: entre Los Altos e Santa Fé (500 m), , 16.VII.1974, J. Salcedo, J. Clavijo col. (MZSP). GUIANA. Cuyuni-Mazaruni: rio Membaru (alto rio Mazaruni), , 22.II.1939 (AMNH).

Braderochus salcedoi Bleuzen, 1994

(Figs. 8, 10-12, 23, 25, 27, 29, 31)

Braderochus salcedoi Bleuzen, 1994:52; Monné, 1995:63 (cat.); Monné & Hovore, 2005:17 (checklist); Monné, 2006:78 (cat.).

Bleuzen (1994) escreveu: "The whole of the lobes of the tarsi of the legs has a very spiny end, often similar to claws". Não examinei nenhum espécime desta espécie, mas, o estudo de fotografia do holótipo macho (FAUV), feita por Marco Gaiani Pacheco, mostra que o ápice dos lobos dos tarsômeros III é realmente diferente nos holótipos de B. salcedoi (Fig. 10) e B. jolyi (Fig. 9), mas, conforme observado em B. jolyi, é provável que esse caráter também seja variável em B. salcedoi.

Os machos de B. salcedoi (Fig. 8) e B. jolyi (Fig. 7) diferem principalmente pela escultura do pronoto. B. salcedoi apresenta pontos grossos e muito evidentes em toda a superfície (Fig. 23), que também não é microesculturada, e as áreas laterais não são nitidamente rugosas. Em B. jolyi (Fig. 21), embora a escultura da área central do disco seja variável, a das laterais é sempre nitidamente rugosa e a superfície é total ou parcialmente microesculturada (o que lhe confere aspecto opaco). Os antenômeros III-VI (Fig. 8) também são mais largos do que em B. jolyi (Fig. 7). Não pude examinar uma fotografia detalhada do parátipo fêmea, para comparar detalhes com aqueles das fêmeas de B. jolyi, exceto o pronoto (Fig. 11). No entanto, comparando-se o comprimento das antenas dos machos de B. jolyi (Fig. 7) e B. salcedoi (Fig. 8), observa-se que são muito semelhantes. Nas outras espécies de Braderochus, nas quais a fêmea é conhecida, o comprimento das antenas entre os dois sexos, em geral, não é notavelmente diferente, como se observa nos tipos de B. salcedoi figurados por Bleuzen (l.c.). Assim, não desconsidero a possibilidade do parátipo fêmea de B. salcedoi, que se assemelha muito às fêmeas de B. retrospinousus, não ser realmente dessa espécie. Também existe a possibilidade do holótipo de B. salcedoi ser um exemplar aberrante de B. jolyi, devido às variações morfológicas observadas nessa última e pela distribuição geográfica coincidente das duas espécies (Fig. 31).

Braderochus retrospinosus (Lameere, 1916)

(Figs. 14-20, 31)

Titanus (Braderochus) retrospinosus Lameere, 1916:233; 1919:126.

Titanus retrospinosus; Blackwelder, 1946:556 (cat.).

Braderochus retrospinosus; Bleuzen, 1994:51; Monné & Giesbert, 1994:13 (cat.); Monné, 1995:63 (checklist); Monné & Hovore, 2005:17 (checklist); Monné, 2006:78 (cat.).

Fêmea (Figs. 16, 17). Tegumento castanho, mais escuro na região dorsal da cabeça, das mandíbulas, de partes dos antenômeros basais, do pronoto, dos úmeros e das pernas.

Região dorsal da cabeça (Fig. 20) rugosa entre a borda anterior dos olhos e o occipício e com diminutas asperezas (rugosidades mais fortes na região entre os olhos e asperezas mais abundantes entre a borda posterior dos olhos e o occipício); área entre a base dos tubérculos anteníferos e a região média dos olhos, com sulco largo e profundo, gradualmente estreitado e mais raso em direção à borda posterior dos olhos; pilosidade curta e moderadamente abundante. Tubérculos anteníferos salientes, brilhantes e com pontos rasos e esparsos. Olhos grandes e salientes. Mandíbulas com pontuação grossa e confluente na base e gradualmente mais fina e esparsa em direção ao ápice e borda interna.

Antenas (Figs. 16, 17) atingem o meio dos élitros. Escapo com pontos moderadamente grossos e esparsos na face dorsal, denticulado na face látero-interna e borda interna da face ventral. Antenômero III 1,7 vez mais longo do que o escapo; face dorsal plana, principalmente nos 2/3 apicais; face ventral com sulco longitudinal e pequenas asperezas, muito dispersas, na margem interna. Antenômeros IV-V com algumas asperezas diminutas na borda inferior da face látero-interna. Antenômeros V-X serreados.

Face ventral do tórax com pilosidade curta e muito abundante, principalmente no metasterno e metepisternos. Protórax, a cada lado, com três espinhos moderadamente curtos, dos quais os dois posteriores são mais próximos entre si do que do anterior e o central localiza-se no nível visivelmente mais baixo do que os demais. Pronoto fortemente convexo (em uma das fêmeas, apenas convexo); disco com duas gibosidades salientes e pontuado-escabrosas; área entre as gibosidades com pontuação rasa, grossa e confluente; áreas laterais apenas ásperas e com algumas regiões escabrosas.

Élitros com pêlos curtos e pouco evidentes na base e raros pêlos microscópicos no restante (em uma das fêmeas, a base é quase glabra e o restante é glabro); margens laterais nitidamente alargadas nos dois terços basais e convergentes para o ápice; ângulo sutural com espinho curto ou apenas indicado; quinto basal suavemente rugoso ou apenas pontuado; região próxima aos úmeros, rugosa; toda superfície restante microesculturada; carenas elitrais nítidas. Pernas longas; fêmures com diminutos dentículos esparsos na face ventral. Metatarsômeros I-III com ápices fortemente aguçados e salientes.

Macho (Figs. 14, 15). Acréscimos à descrição original e à revisão de Bleuzen (1994): artículo apical dos palpos maxilares apenas alargado para o ápice; antenas podem atingir a base do terço apical dos élitros; antenômeros III-V ou III-VI denticulados na face ventral; borda anterior do pronoto sinuosa (Figs. 18, 19); escultura e pilosidade dos élitros e ápices dos metatarsômeros como nas fêmeas; ápice elitral com ou sem espinho sutural.

Dimensões em mm (/). Comprimento total (inclusive mandíbula), 65,2-85,9/80,8-81,0; comprimento do protórax no centro, 7,3-9,7/8,4-8,6; largura anterior do protórax (ápice dos espinhos anteriores), 14,6-21,5/16,1-17,2; largura posterior do protórax (ápice dos espinhos posteriores), 17,9-22,9/20,0-20,7; largura umeral, 17,6-23,5/22,0-22,7; comprimento dos élitros, 44,0-58,1/56,5-57,5.

Material examinado (Fig. 31). COLÔMBIA. Casanare: , 19.IV.1970, C. Rodriguez col. (MZSP). Meta: San Carlos de Guaroa (350 m; 3º43'08"N, 73º18'31"W), , 2.IV.2005, J. Contreras col. (MEFA); El Guamal (518 m; 3º51'N, 73º45'W), , 29.III.1994, R. Bernal col. (MEFA); ("Inspección de policía Humadea"; 518 m; 3º51'N, 73º45W), , 6.V.1999, O. Higuera & R. Quevedo col. (MZSP – retido); Cumaral (La Cabaña; 480 m; 4º17'N, 73º33'W), , III.1999, A. Vergara col. (MEFA); San Martin (419 m; 3º42'N, 73º42'W), , 6.IV.1998, [sem nome do coletor] (MEFA); San Juan de Arama (4º02'24"N, 74º15'11"W), , [sem nome do coletor] (MEFA); Vichada: Puerto Carreño (Finca la Morena; 90 m; 6º12'N, 67º23'W), , 23.IX.1998, J. Herrera & Martinez col. (MEFA); Cundinamarca: La Mesa (1298 m; 4º38'05"N, 74º27'57"W), , 30.IV.1995, Bonilla col. (MZSP – retido).

Discussão. Espécie conhecida apenas pelo holótipo macho, figurado por Bleuzen (1994). As fêmeas dessa espécie assemelham-se às de B. salcedoi, pelo comprimento das antenas, mas diferem: escapo com dentículos na face ventral; metatarsômero III mais estreito e curto. Nas fêmeas de B. salcedoi, o escapo não possui dentículos na face ventral e o metatarsômero III é mais largo e longo.

Braderochus hovorei Santos-Silva & Martins, 2005

(Fig. 31)

Braderochus hovorei Santos-Silva & Martins, 2005:237; Monné & Hovore, 2005:17 (checklist); Monné, 2006:78 (cat.).

Espécie descrita dos Departamentos de Santander, Boyacá e Meta na Colômbia. Amplia-se a distribuição para o Departamento de Cundinamarca. Todos os espécimes estudados são machos e mostram uma notável uniformidade na morfologia externa.

Material examinado (excluindo-se a série típica) (Fig. 25). COLÔMBIA. Cundinamarca: La Mesa (Laguna Pedro Palo; 4º38'05"N, 74º27'57"W, 1298 m), U, 11.III.1995, D. Angel col. (MEFA); San Francisco (4º58'39"N, 74º17'34"W; 1570 m), , 12.X.1995, J. Gómez col. (MEFA).

AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Luis José Joly T. (FAUV) pela doação de espécimes para a coleção do MZSP e informações fundamentais sobre B. jolyi e B. salcedoi; ao Dr. Marco Gaiani Pacheco (FAUV) pela execução das fotografias dos tipos de B. jolyi e B. salcedoi; à Dra. Erika Valentina Vergara Navarro (MEFA) pelo empréstimo de material para estudo; ao Dr. Ubirajara R. Martins, pelo constante incentivo e incansável disposição para colaborar com o autor.

Recebido em: 25.09.2006

Aceito em: 01.11.2006

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Jan 2007
    • Data do Fascículo
      2006

    Histórico

    • Aceito
      01 Nov 2006
    • Recebido
      25 Set 2006
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