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Revisão historiográfica da arte brasileira do século XIX

Historiographical revision of the 19th century Brazilian art

Resumos

Este artigo discute alguns pontos primordiais na revisão crítica da arte brasileira do século XIX e início do XX. São eles: a questão de uma melhor conceituação do termo acadêmico em relação aos estilos artísticos; a dificuldade de entender a produção artística brasileira fora do esquema sequencial de estilos - usualmente utilizado para a apresentação da arte europeia; e a discussão sobre o papel da Academia Imperial de Belas Artes e o projeto cultural do Império de construção de uma identidade nacional - destacando, neste último tópico, a relação entre a produção artística e as teorias sociais da época.

Historiografia e crítica de arte; estilos artísticos; arte brasileira do século XIX; Academia Imperial de Belas Artes


This article discusses the fundamental aspects of the critical revision of Brazilian art in the 19th and early 20th Centuries, namely: the issue of a better conceptualization of the term academic when used with reference to artistic styles; the difficulty of understanding Brazilian artistic production outside the sequential schema of styles - generally used to represent European art; and the discussion concerning the role of the Academia Imperial de Belas Artes (Imperial Academy of the Fine Arts) and the Empire's cultural project for the construction of a national identity - with special attention to the relationship between the artistic production and the social theories of the day.

Historiography and art criticism; artistic styles; 19th-century Brazilian art; Academia Imperial de Belas Artes (Imperial Academy of the Fine Arts)


  • 1
    1 BARATA, Mário. Século XIX. Transição e início do século XX. In ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil São Paulo: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1, p. 377-451.
  • 2
    2 LEITE, José Roberto Teixeira. A "Belle Époque". In: ABRIL CULTURAL. Arte no Brasil Rio de Janeiro, 1979. v. 2, p. 556-605.
  • 3
    3 BELLORI, Giovanni Pietro. Le vite de'pittori, scultori et architetti moderni Roma: Arnaldo Forni Editori, 1977. (Fac-símile da edição de 1692).
  • In: PEREIRA, Sonia Gomes. História, arte e estilo no século XIX. Revista Concinnitas, Rio de Janeiro, n. 8, p. 128-141, 2005.
  • 4 SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas: forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro. São Paulo: Duas Cidades, 1981. p. 13-28.
  • 5 ALONSO, Angela. Ideias em movimento: a geração de 1870 na crise do Brasil-Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002. p. 21-49.
  • 6 WINCKELMANN, Johan Joachin. Riflessioni sulla bellezza e sul gusto della pintura (publicado em alemão em 1762 e em italiano em 1780). A sua obra mais importante, História da arte antiga, é de 1764. In: PEREIRA, Sonia Gomes. História, arte e estilo no século XIX op. cit. p. 128-141.
  • 7 VASAI, Giorgio. Vidas dos mais excelentes arquitetos, pintores e escultores, original de 1550. In: PEREIRA, Sonia Gomes. op. cit. p. 128-141.
  • 8 SEMPER, Gottfried. O estilo nas artes técnicas e arquitetônicas (dos volumes editados em 1861 e 1863). In: PEREIRA, Sonia Gomes. op. cit. p. 128-141.
  • 9 TAINE, Hippolyte. Filosofia da arte (original de 1865). In: PEREIRA, Sonia Gomes. op. cit. p. 128-141.
  • 10 Cf. LEVY, Carlos Roberto Maciel. Exposições Gerais da Academia Imperial e da Escola Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro: Edições Pinakotheke, 1990;
  • OUCHI, Cristina Rios de Castro. O papel da estampa didática na formação artística na Academia Imperial de Belas Artes: o acervo do Museu D. João VI. Rio de Janeiro: EBA/UFRJ;
  • PEREIRA, Sonia Gomes. Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro: revisão historiográfica e estado da questão. Revista Arte & Ensaios, Rio de Janeiro, n. 8, p. 72-83, 2001;
  • PEREIRA, Sonia Gomes. Victor Meirelles e a Academia Imperial de Belas Artes. In: TURAZZI, Maria Inez (org.). Victor Meirelles û novas leituras. São Paulo: Studio Nobel, 2009. p. 46-63;
  • GALVÃO, Alfredo. Manuel de Araújo Pôrto-Alegre û sua influência na Academia Imperial de Belas Artes e no meio artístico do Rio de Janeiro. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n. 14, p. 19-120, 1959.
  • 11 GUIMARÃES, Manoel Salgado. Nação e civilização nos trópicos: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o projeto de uma história nacional. Estudos históricos: caminhos da historiografia. São Paulo: Vértice, 1988.
  • 12 RICUPERO, Bernardo. O romantismo e a ideia de nação no Brasil (1830-1870) São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. XVII-XLII.
  • 16 Cf. de Adolfo Morales de los Rios Filho: Grandjean de Montigny e a evolução da arte brasileira Rio de Janeiro: A Noite, s.d. [1941]; O ensino artístico: subsídio para a sua história û um capítulo: 1816-1889. Anais do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v. 8, p. 3-430, 1942 (Anais do Terceiro Congresso de História Nacional, realizado em outubro/1938);
  • O Rio de Janeiro da Primeira República: 1889-1930. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 272, p. 3-200, julho-setembro/1966; v. 273, p. 3-116, outubro-dezembro/1966; v. 274, p. 3-86, janeiro-março/1967.
  • E também: ACQUARONE, Francisco. História das artes plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Editoria Americana, 1980 (reedição);
  • PALHARES, Taisa (org.). Arte brasileira na Pinacoteca do Estado de São Paulo: do século XIX aos nossos dias. São Paulo: Cosac Naify/Imprensa Oficial/Pinacoteca, 2009;
  • PEREIRA, Sonia Gomes. Desenho, composição, tipologia e tradição clássica û uma discussão sobre o ensino acadêmico do século 19, Revista Arte & Ensaios, Rio de Janeiro, n. 10, p. 40-49, 2003.
  • 17 Vejam-se BARATA, Mário. Manuscrito inédito de Lebreton sobre o estabelecimento de dupla Escola de Artes no Rio de Janeiro em 1816. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n. 14, p. 283-307, 1959;
  • SANTOS, Renata. A imagem gravada: a gravura no Rio de Janeiro entre 1808 e 1853. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2008.
  • 18 TAUNAY, Afonso de E. A Missão Artística de 1816 Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1959. (Publicações da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1956.
  • 19 Para o efetivo desenvolvimento da Imprensa Régia, criada em 1808, vieram de Portugal para o Brasil, em 1809, Romão Elói de Almeida, primeiro gravador figurista, e Paulo dos Santos Ferreira Souto, primeiro gravador arquiteto. Ambos haviam atuado na Tipografia do Arco do Cego em Lisboa. Com um conhecimento tão específico, estes dois gravadores foram ainda solicitados pelo Real Arquivo Militar, também criado em 1808. A estes profissionais da gravura em metal, juntaram-se João José de Souza, João Caetano Rivara, Brás Sinibaldi, Antônio do Carmo e José Joaquim Marques. Romão Elói, por exemplo, realizou as treze estampas da obra Elementos de geometria, de Adrien Marie Le Gendre. A Paulo dos Santos Ferreira Souto foram encomendados o Mapa geográfico da capitania do Maranhão e parte das capitanias circundantes, para servir à viagem feita pelo coronel Berford, e a célebre Planta da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro de 1808 João José de Souza gravou, entre 1816 e 1818, 54 retratos a buril ou talho-doce para a obra publicada em fascículos: Coleção de retratos de todos os homens que adquiriam nome pelo gênio, talento, virtudesà Ver IPANEMA, Rogéria Moreira de. Arte da imagem impressa: a construção da ordem autoral e a gravura no Brasil do século XIX. 2007. 238 f. Tese (Doutorado em História Social) û Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Universidade Federal Fluminense, 2007. p. 71-73.
  • 20 Rogéria de Ipanema, em sua tese de doutorado, analisou requerimentos para a concessão do título "imperial" entre as datas 1854 e 1889: são 191 processos dirigidos ao imperador, com entrada no Ministério do Império, que se encontram reunidos em quatro volumes no Arquivo Nacional. (IPANEMA, Rogéria Moreira de. op. cit. p. 86-138).
  • 21 No processo de requerimento do título de "imperial" em 1863, a firma Fleiuss Irmãos & Linde apresenta-se da seguinte forma: "Fleiuss Irmãos & Linde, proprietários do Instituto Artístico, estabelecido no Largo de S. Francisco de Paula, n. 16, tendo concorrido, por diversas vezes, para o engrandecimento da arte neste país, já publicado as Recordações da Exposição Nacional, obra que, todo o tempo, dará uma ideia exata da Primeira Exposição deste Império;á já publicado em cromolitografia os estudos da Comissão Científica, que ultimamente visitou o Norte do Brasil û obra também que servirá de importante estudo às gerações que se sucederem à presente; já publicado outros diversos trabalhos artísticos, que comemoram fatos e acontecimentos notáveis do país; e já finalmente criado uma escola de xilografia, donde poderão sair artistas, que ganhem honestamente o pão, dando ao mesmo tempo grande incremento a uma arte tão pouco conhecida entre nósà" Mais adiante, a firma define melhor os seus serviços: "àO nosso Instituto Artístico ocupa-se com a Pintura em óleo e aquarela, a litografia em todos os ramos artísticos, com exceção de trabalhos mercantis, a fotografia, a xilografia, a gravura em madeira, a tipografia. Na pintura, temos recebido já a grande medalha de ouro pela Academia de Belas Artes. Na litografia temos fora dos trabalhos avulsos uma grande quantidade de obras: àRecordações da Exposição Nacional, todos os trabalhos da Comissão Científica, contendo já mais que cento e vinte quadros executados em cromolitografia, palestras, Flora Brasileira do Conselheiro Doutor Freire Alemão, a Semana Ilustrada (jornal humorístico) e grande quantidade de retratos, da família imperialà Temos inaugurado uma escola de gravura em madeira, que já conta oito alunos e será aumentada a número de quinze. Está se fazendo atualmente uma obra científica do doutor Capanema e uma grande obra para a S. Exa. o senhor ministro da Marinha, todas as gravuras em madeira, uma arte até agora desconhecida no Brasilà" Em seguida, descreve a equipe e as instalações: "A pintura é executada pelos proprietários do Instituto Fleiuss Irmãos & Linde. A litografia é executada por seis pessoas, três alemães, um brasileiro, dois portugueses. A impressão é feita pro nove pessoas, quatro brasileiros e cinco portugueses. A xilografia está executada por oito pessoas, todas brasileiras. A fotografia por um alemão. A tipografia por quatro pessoas, três brasileiros e um português. Caixeiros de escritório, quatro pessoas todas brasileiros. A casa está dividida em uma sala de desenho, uma sala de tipografia, uma dita de pintura, uma de xilografia, duas de fotografia, duas de impressão litográfica, duas para os trabalhos feitos, uma para litografia, um laboratórioà". (IPANEMA, Rogéria Moreira de. op. cit. p. 134-137.
  • 22 Cf. CHIARELLI, Tadeu (coord.). Boletim do Grupo de Estudos do Centro de Pesquisa em Arte & Fotografia São Paulo: ECA/USP, 2006, n. 1;
  • INSTITUTO MOREIRA SALLES. Georges Leuzinger. Cadernos de fotografia brasileira, Rio de Janeiro, n.3, junho/2006;
  • FABRIS, Annateresa (org.). Fotografia: uso e funções no século XIX. São Paulo: EDUSP, 1991. (Coleção Texto & Arte, 3);
  • TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos û a fotografia e as exposições na era do espetáculo. Rio de Janeiro: Funarte/Rocco, 1995;
  • VASQUEZ, Pedro Karp. O Brasil na fotografia oitocentista São Paulo: Metalivros, 2003.
  • 24 A disciplina de paisagem, flores e animais û nem sempre com exatamente este nome û constou do currículo da Academia desde 1816 , apresentando a seguinte sucessão de professores até a Reforma de 1890: Nicolas Taunay, Félix Taunay, Augusto Müller, Agostinho José da Motta, Zeferino da Costa, Leôncio da Costa Vieira, George Grimm, Vitor Meireles, Rodolfo Amoedo e Antônio Parreiras. Alguns destes artistas já praticavam a pintura ao ar livre em seu próprio trabalho ou queriam praticá-la no ensino, como se vê nas constantes reclamações de Zeferino da Costa sobre a falta de recursos da Academia para o deslocamento dos alunos para a pintura ao natural. Mas realmente é com Grimm que esta prática se torna regular no ensino. Ver GALVÃO, Alfredo. Subsídios para a história da Academia Imperial de Belas Artes Rio de Janeiro: ENBA/Universidade do Brasil, 1954. p. 47-51.
  • 25 RICUPERO, Bernardo. O romantismo e a ideia de nação no Brasil (1830-1870) op. cit. p. 113-152.
  • 29 Vejam-se ERMAKOFF, George. O negro na fotografia brasileira do século XIX Rio de Janeiro: G. Ermanoff Casa Editorial, 2004;
  • ERMAKOFF, George. Rio de Janeiro: 1840-1900 û uma crônica fotográfica. 2. ed. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2009;
  • FREITAS, Marcus Vinicius de. Hartt: expedições pelo Brasil imperial. São Paulo: Metalivros, 2001;
  • FABRIS, Annateresa. Identidades virtuais: uma leitura do retrato fotográfico. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004;
  • FABRIS, Annateresa (org.). Modernidade e modernismo no Brasil São Paulo: Mercado de Letras, 1994. (Coleção Arte: ensaios e documentos);
  • COSTA, João Cruz. Contribuição à história das ideias no Brasil Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1956. (Coleção Documentos Brasileiros, 86).
  • 31 Cf. REYNAUD, Françoise; TURAZZI, Maria Inez; VASQUEZ, Pedro et al. O Brasil de Marc Ferrez São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2005;
  • FERREZ, Gilberto. O Rio antigo do fotógrafo Marc Ferrez: paisagens e tipos humanos do Rio de Janeiro û 1865-1918.á Rio de Janeiro: Editora Ex Libris, 1984;
  • TURAZZI, Maria Inez. Marc Ferrez São Paulo: Cosac Naify, 2000. (Série Espaços da Arte Brasileira);
  • VASQUEZ, Pedro Karp. Mestres da fotografia no Brasil: coleção Gilberto Ferrez. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1995 (Catálogo de exposição.
  • 32 Em anúncio de 1886, no Almanaque Laemmert, o fotógrafo Christiano Jr. anuncia: "Variada colleção de costumes e typos de pretos, cousa muito própria para quem se retira para a Europa". Ver KOUTSOUKOS, Sandra Sofia Machado. Typos de pretos no estúdio do photographo: Brasil, segunda metade do século XIX. Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, v. 39, 2007. p. 477.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Maio 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 2012

Histórico

  • Recebido
    17 Mar 2011
  • Aceito
    08 Dez 2011
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