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PROPAGAÇÃO DE PORTA-ENXERTOS DE VIDEIRA MEDIANTE ESTAQUIA SEMILENHOSA

Resumos

Avaliaram-se os efeitos de tipos de estaca (com ferimento; base com nó; base com entrenó), de concentrações de ácido indolbutírico (AIB) (zero, 500, 1.000 e 2.000 mg/L) e de áreas foliares (zero, 25, 50, 75 e 100 cm2) na estaquia semilenhosa de alguns porta-enxertos de videira. O tipo de estaca não afetou a porcentagem de enraizamento e a retenção foliar, mas foi encontrado maior número de raízes emitidas com a utilização do ferimento, para o `Jales', e do nó na base das estacas, para o `Campinas'. O AIB também não afetou o enraizamento, mas incrementos na sua concentração promoveram aumento na emissão de raízes (raízes/estaca) e também na mortalidade de estacas. A presença da folha revelou-se fundamental para o enraizamento das estacas, não ocorrendo formação de raízes em estacas sem folha. O aumento da área foliar não afetou a porcentagem de enraizamento, mas influenciou positivamente o número, a massa e o volume de raízes emitidas por estaca. As mudas obtidas pela estaquia semilenhosa apresentaram diâmetro do caule insuficiente para a enxertia lenhosa de inverno. Os resultados mostraram que a estaquia semilenhosa é viável para a multiplicação rápida dos porta-enxertos de videira, mas não permite que a enxertia seja realizada no mesmo ano. As estacas podem ser preparadas apenas com uma gema e uma folha, que não deve ser cortada para não reduzir o crescimento das raízes.

videira; porta-enxertos; estaquia; auxina; enraizamento


Cutting type (with a wound; with a node or an internode in the basal portion), indolbutiric acid concentrations (IBA) (zero, 500, 1,000 and 2,000 mg/L) and leaf area (zero; 25; 50; 75 and 100 cm2) effects have been evaluated in semihardwood cuttings of grapevine rootstocks. Cutting type has not significantly affected neither rooting percentage nor leaf retention, but a higher root number/cutting has been found in `Jales' (with a wound) and in `Campinas' (with a node in the basal portion). Similar results have occurred as to the IBA concentrations used, however, the higher ones have led to increase in cutting mortality. No rooting has been observed in leafless cuttings but trends of increasing budding and decreasing mortality have been detected in the presence of the higher leaf areas. Plants resulting from semihardwood cuttings have shown stalk diameter inadequate for winter grafting. Finally, results have indicated that rooting semihardwood cuttings is effective for rapid multiplication of grapevine rootstocks but does not allow grafting in the same year.

grapevine; rootstocks; cuttings; auxin; rooting


PROPAGAÇÃO DE PORTA-ENXERTOS DE VIDEIRA MEDIANTE ESTAQUIA SEMILENHOSA(1 (1 ) Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor. Trabalho apresentado no XIV Congresso Brasileiro de Fruticultura, Curitiba (PR), 1996. Recebido para publicação em 3 de fevereiro e aceito em 8 de agosto de 1997. )

LUIZ ANTONIO BIASI(2 (1 ) Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor. Trabalho apresentado no XIV Congresso Brasileiro de Fruticultura, Curitiba (PR), 1996. Recebido para publicação em 3 de fevereiro e aceito em 8 de agosto de 1997. ), CELSO VALDEVINO POMMER(3 (1 ) Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor. Trabalho apresentado no XIV Congresso Brasileiro de Fruticultura, Curitiba (PR), 1996. Recebido para publicação em 3 de fevereiro e aceito em 8 de agosto de 1997. ,5 (1 ) Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor. Trabalho apresentado no XIV Congresso Brasileiro de Fruticultura, Curitiba (PR), 1996. Recebido para publicação em 3 de fevereiro e aceito em 8 de agosto de 1997. ) e PERCY ANTONIO GERARDO SALAS PINO(4 (1 ) Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor. Trabalho apresentado no XIV Congresso Brasileiro de Fruticultura, Curitiba (PR), 1996. Recebido para publicação em 3 de fevereiro e aceito em 8 de agosto de 1997. )

RESUMO

Avaliaram-se os efeitos de tipos de estaca (com ferimento; base com nó; base com entrenó), de concentrações de ácido indolbutírico (AIB) (zero, 500, 1.000 e 2.000 mg/L) e de áreas foliares (zero, 25, 50, 75 e 100 cm2) na estaquia semilenhosa de alguns porta-enxertos de videira. O tipo de estaca não afetou a porcentagem de enraizamento e a retenção foliar, mas foi encontrado maior número de raízes emitidas com a utilização do ferimento, para o `Jales', e do nó na base das estacas, para o `Campinas'. O AIB também não afetou o enraizamento, mas incrementos na sua concentração promoveram aumento na emissão de raízes (raízes/estaca) e também na mortalidade de estacas. A presença da folha revelou-se fundamental para o enraizamento das estacas, não ocorrendo formação de raízes em estacas sem folha. O aumento da área foliar não afetou a porcentagem de enraizamento, mas influenciou positivamente o número, a massa e o volume de raízes emitidas por estaca. As mudas obtidas pela estaquia semilenhosa apresentaram diâmetro do caule insuficiente para a enxertia lenhosa de inverno. Os resultados mostraram que a estaquia semilenhosa é viável para a multiplicação rápida dos porta-enxertos de videira, mas não permite que a enxertia seja realizada no mesmo ano. As estacas podem ser preparadas apenas com uma gema e uma folha, que não deve ser cortada para não reduzir o crescimento das raízes.

Termos de indexação: videira, porta-enxertos, estaquia, auxina, enraizamento.

ABSTRACT

GRAPEVINE ROOTSTOCK PROPAGATION BY ROOTING OF SEMIHARDWOOD CUTTINGS

Cutting type (with a wound; with a node or an internode in the basal portion), indolbutiric acid concentrations (IBA) (zero, 500, 1,000 and 2,000 mg/L) and leaf area (zero; 25; 50; 75 and 100 cm2) effects have been evaluated in semihardwood cuttings of grapevine rootstocks. Cutting type has not significantly affected neither rooting percentage nor leaf retention, but a higher root number/cutting has been found in `Jales' (with a wound) and in `Campinas' (with a node in the basal portion). Similar results have occurred as to the IBA concentrations used, however, the higher ones have led to increase in cutting mortality. No rooting has been observed in leafless cuttings but trends of increasing budding and decreasing mortality have been detected in the presence of the higher leaf areas. Plants resulting from semihardwood cuttings have shown stalk diameter inadequate for winter grafting. Finally, results have indicated that rooting semihardwood cuttings is effective for rapid multiplication of grapevine rootstocks but does not allow grafting in the same year.

Index terms: grapevine, rootstocks, cuttings, auxin, rooting.

1. INTRODUÇÃO

Os porta-enxertos de videira, de maneira geral, não apresentam grandes dificuldades de enraizamento quando propagados pela estaquia lenhosa. Essa característica foi herdada de seus progenitores, principalmente das espécies Vitis riparia e Vitis rupestris, que enraízam facilmente. Já os híbridos de Vitis berlandieri enraízam com mais dificuldade (Williams & Antcliff, 1984).

A estaquia semilenhosa é utilizada para a multiplicação rápida, quando se dispõe de pouco material vegetativo, e para a propagação de novos cultivares livres de vírus (Alley, 1980).

O uso de estacas com folhas, coletadas durante o período de crescimento vegetativo, permitiu bons resultados de enraizamento em diversos cultivares da espécie Vitis rotundifolia (Goode Junior & Lane, 1983), as quais apresentam extrema dificuldade de enraizamento por meio de estacas lenhosas (Goode Junior et al., 1982).

A estaquia semilenhosa pode ser um método interessante para a obtenção rápida de grande quantidade de porta-enxertos em regiões onde não há disponibilidade para novos plantios. Objetivou-se, com este trabalho, verificar o comportamento de alguns porta-enxertos normalmente utilizados no Brasil, quando propagados pela estaquia semilenhosa.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Os experimentos foram desenvolvidos em uma câmara de nebulização intermitente, com controle automático de rega, na Seção de Viticultura do IAC, de novembro de 1995 a março de 1996.

Coletaram-se estacas de plantas-matrizes livres de vírus, sendo usados ramos com 0,5 a 1 m de comprimento e crescimento vertical, preparando-as a partir de regiões dos ramos com caule verde, porém lignificado, e com apenas uma folha completamente desenvolvida, desprezando a porção mais tenra do ápice.

A estaquia foi realizada em bandejas de isopor com 72 células, sendo utilizada apenas metade das células para não sobrepor as folhas das estacas. O substrato foi a mistura comercial "Multiplant" da empresa Terra do Paraíso.

Em todos os experimentos, 21 dias após a estaquia, avaliaram-se os seguintes parâmetros: enraizamento (porcentagem de estacas que emitiram pelo menos uma raiz), retenção foliar (porcentagem de estacas que não perderam a folha), brotação (porcentagem de estacas cuja gema localizada junto à folha apresentou pelo menos uma folha verde visível), mortalidade (porcentagem de estacas que morreram), número de raízes (contadas apenas as principais que se originaram diretamente da estaca), massa de raízes (obtida pela pesagem em balança analítica de todas as raízes de uma estaca) e volume de raízes (obtido pela diferença de volume avaliado pela colocação das raízes dentro de uma proveta com água).

2.1. Efeito do tipo de estaca

Instalaram-se três experimentos, um com o porta-enxerto `Tropical' (IAC 313), outro com o `Jales' (IAC 572) e o último, com o `Campinas' (IAC 766), sendo o delineamento, em todos os experimentos, inteiramente casualizado com quatro repetições e doze estacas por parcela.

Os tratamentos consistiram nos seguintes tipos de estaca:

1) Estaca com ferimento: realizado por meio de quatro cortes, feitos com bisturi, em lados opostos da base da estaca, com 2 cm de comprimento.

2) Estaca com nó na base: mediante um corte horizontal logo abaixo de um nó localizado na base da estaca.

3) Estaca com entrenó na base: apenas com uma gema no ápice e a base terminando no entrenó.

2.2. Efeito do ácido indolbutírico

Realizaram-se dois experimentos para verificar o efeito do AIB em diversos porta-enxertos: o primeiro foi um fatorial (4 x 4), onde se combinaram quatro concentrações de AIB (0, 500, 1.000 e 2.000 mg/L) com quatro porta-enxertos: `Jales', `Campinas', `Kober 5BB' e `Ripária do Traviú'. No segundo, utilizaram-se as mesmas concentrações de AIB para o porta-enxerto `Tropical'. Em ambos, o delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com quatro repetições e doze estacas por parcela.

As soluções de AIB foram diluídas em álcool 50% e o tratamento das estacas, por imersão rápida (cinco segundos) da base.

2.3. Efeito da área foliar

Instalaram-se dois experimentos, um com o porta-enxerto `Jales' e outro, com o `Campinas'. O delineamento experimental, em ambos, foi em blocos ao acaso com quatro repetições e doze estacas por parcela. Os tratamentos foram as seguintes áreas foliares: 0, 25, 50, 75 e 100 cm2.

Para obter a área foliar desejada, as folhas foram cortadas com tesoura, de acordo com moldes de área conhecida e com formato quadrado.

Antes da estaquia, trataram-se todas as estacas por imersão em solução de Benlate 50 (1 g/L).

2.4. Avaliação do desenvolvimento das mudas obtidas

As mudas dos porta-enxertos `Tropical', `Jales' e `Campinas' foram obtidas mediante estacas com apenas uma gema no ápice, uma folha inteira e a base terminando no entrenó. Após 21 dias, as que possuíam melhor desenvolvimento radicular foram transferidas, individualmente, para sacos plásticos contendo um substrato preparado, sete meses antes do plantio, pela mistura de 4 kg de torta de mamona, 0,5 kg de calcário dolomítico e 0,5 kg de adubo formulado 4-14-8 para cada 100 kg de terra de subsolo.

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com três repetições e dez plantas por parcela, sendo os tratamentos os três porta-enxertos avaliados.

O experimento foi estimado 140 dias após sua instalação, mediante porcentagem de sobrevivência, comprimento médio da brotação, diâmetro médio da brotação medido 3 cm acima do local de inserção, massa fresca da parte aérea e do sistema radicular e volume do sistema radicular.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Efeito do tipo de estaca

O tipo de estaca não afetou a porcentagem de enraizamento em nenhum dos três cultivares, a qual permaneceu em todos acima de 80%. O mesmo ocorreu com a retenção foliar, que não foi afetada pelo tipo de estaca, mantendo valores próximos ao enraizamento (Quadro 1).


A diferença entre os tratamentos foi verificada apenas quanto ao número de raízes por estaca: para o `Jales', houve um estímulo significativo para a maior emissão através do ferimento na base das estacas, tendência também observada para o `Tropical', porém não significativa. O ferimento na base das estacas mostra-se benéfico para o enraizamento de diversas espécies lenhosas, por estimular a divisão celular e a formação de calos. Segundo Hartmann et al. (1990), a atividade celular na área lesionada é estimulada por aumento da taxa respiratória, elevação nos teores de auxinas, carboidratos e etileno, resultando na formação de raízes nas margens da lesão.

Já para o `Campinas', o maior número de raízes foi observado nas estacas com nó na base, superior ao daquelas com ferimento, e estas, por sua vez, mostraram número de raízes acima daquelas com entrenó na base (Quadro 1).

Apesar de apresentar menor número de raízes, as estacas com entrenó na base foram mais práticas para a estaquia semilenhosa dos porta-enxertos, já que seu preparo é rápido, simples, podendo-se, de cada nó com folha, obter uma estaca. A execução do ferimento é bastante trabalhosa e, para o preparo de estacas com nó na base, perde-se muito material de propagação, obtendo-se, praticamente, metade do número de estacas preparadas com entrenó.

Estacas semilenhosas de diversos cultivares de videira com a base terminando no entrenó já foram utilizadas com sucesso por Egger et al. (1985) e Moretti & Borgo (1985), sendo também recomendadas por Alley (1980) para a multiplicação rápida de videiras.

3.2. Efeito do ácido indolbutírico

Não houve interação significativa entre os porta-enxertos e as concentrações de AIB no primeiro experimento, permitindo análise independente de cada fator. O `Jales' apresentou a maior porcentagem de estacas enraizadas (89,6%), significativamente superior ao `Campinas' e ao `Kober 5BB', não diferindo, porém do `Ripária do Traviú'. O `Jales' também revelou a maior retenção foliar, o que permitiu, provavelmente, o maior enraizamento e o maior número de raízes emitidas por estaca (Quadro 2).


Esses resultados foram semelhantes aos de Alvarenga & Fortes (1976), que trabalharam com os mesmos porta-enxertos, mas utilizaram estacas lenhosas, encontrando a seguinte ordem decrescente de enraizamento: `Jales' (97%), `Campinas' (92,5%), `Ripária do Traviú' (72,5%) e `Kober 5BB' (44,1%). O `Kober 5BB' também foi inferior ao `Ripária do Traviú' no experimento de Alvarenga (1976), mas, neste caso, o enraizamento foi bastante inferior, atingindo, em média, 29,6 e 20% respectivamente. Tais resultados são muito diferentes daqueles obtidos por Terra et al. (1981), que, tratando estacas lenhosas desses porta-enxertos, apenas por imersão da base em água durante 24 horas, obtiveram maior enraizamento com o `Kober 5BB' (86,6%), seguido pelo `Campinas' (78,3%), `Jales' (54,4%) e `Ripária do Traviú' (53,3%). Em outro ensaio, realizado por Terra et al. (1988), o `Kober 5BB' chegou a apresentar 98,7% de estacas lenhosas enraizadas em agosto, sendo superior ao `Campinas' (90%), `Ripária do Traviú' (90%) e `Jales' (88,7%).

Observa-se que há grandes diferenças entre os resultados de enraizamento obtidos por diversos autores, mas, também, pode-se constatar que o potencial de enraizamento de todos os porta-enxertos é alto e, possivelmente, tais diferenças ocorram em vista da condição fisiológica da planta-matriz no momento da coleta das estacas (Moe & Andersen, 1988) e de as condições ambientais proporcionadas ao enrai-zamento (Loach, 1988) também serem diferentes em cada trabalho. Terra et al. (1988) encontraram grandes variações no enraizamento de estacas quando coletadas em diferentes épocas do ano, acontecendo o mesmo no trabalho de Goode Junior & Lane (1983).

Nos diversos experimentos realizados neste trabalho, também se observaram pequenas diferenças de enraizamento para um mesmo cultivar, as quais, possivelmente, devem estar associadas às diferentes épocas de instalação. De forma geral, porém, o enraizamento foi alto, sendo encontrados resultados até de 100% para o `Tropical' (Quadro 3), `Jales' e `Campinas' (Quadro 4).



O `Ripária do Traviú' apresentou a maior porcentagem de estacas brotadas (69,3%). Quanto à mortalidade das estacas, não houve diferença entre os porta-enxertos (Quadro 2).

O tratamento das estacas com AIB não afetou a porcentagem de enraizamento, retenção foliar e brotação das estacas para os porta-enxertos cultivares Jales, Campinas, Ripária do Traviú e Kober 5BB (Quadro 2), acontecendo o mesmo com o `Tropical' para enraizamento e retenção foliar (Quadro 3). Esses resultados concordam com os obtidos por Harmon (1943), que, trabalhando com 31 porta-enxertos, concluiu que o AIB não foi suficientemente vantajoso para ser utilizado na propagação comercial de porta-enxertos de videira. Terra et al. (1981), testando o AIB para os mesmos porta-enxertos deste experimento, comprovaram que a simples imersão da base das estacas em água, por 24 horas, proporcionou igual enraizamento ao obtido com essa auxina. Leonel & Rodrigues (1993) também não observaram aumento significativo no enraizamento de estacas do porta-enxerto `Ripária do Traviú' com a aplicação de soluções de AIB.

O aumento da concentração de AIB causou uma elevação na mortalidade das estacas dos porta-enxertos `Jales', `Campinas', `Ripária do Traviú' e `Kober 5BB', sendo encontrada uma regressão linear significativa para essa variável (Figura 1). Isso evidencia um efeito tóxico das concentrações mais elevadas de AIB, também observado por Leonel & Rodrigues (1993) com o `Ripária do Traviú' e por Silva et al. (1986) com os porta-enxertos `SO4' e `Rupestris du Lot'.

Figura 1.
Efeito de concentrações de ácido indol-butírico (AIB) na mortalidade de estacas semi-lenhosas dos porta-enxertos `Jales', `Ripária do Traviú', `Campinas' e `Kober 5BB'.

O `Tropical' apresentou-se mais tolerante a doses altas de AIB, pois, mesmo com a maior concentração (2.000 mg/L), a mortalidade foi nula e não diferiu significativamente dos demais tratamentos (Quadro 3).

Apesar do aumento da mortalidade, o AIB provocou maior emissão de raízes por estaca, também sendo encontrada uma regressão linear no experimento com os porta-enxertos `Jales', `Campinas', `Ripária do Traviú' e `Kober 5BB' (Figura 2), tendência também observada para o `Tropical', porém não significativa (Quadro 3). O efeito positivo do AIB, no aumento do número de raízes formadas por estaca, já foi observado por Harmon (1943), Tizio et al. (1961) e Silva et al. (1986) em estacas lenhosas.

Figura 2.
Efeito de concentrações de ácido indol-butírico (AIB) no número de raízes emitidas por estacas semilenhosas dos porta-enxertos `Jales', `Ripária do Traviú', `Campinas' e `Kober 5BB'.

No trabalho de Silva et al. (1986) com os porta-enxertos `SO4', `RR 101-14' e `Rupestris du Lot', apenas ocorreu redução na emissão de raízes com concentrações de AIB superiores a 2.000 mg/L, o que está de acordo com os resultados deste experimento, dentro do mesmo intervalo.

3.3. Efeito da área foliar

A presença da folha nas estacas foi indispensável para a formação de raízes, não ocorrendo enraizamento em estacas sem folha, para os cultivares Jales e Campinas. Entre os demais tratamentos, com diversas áreas foliares, não houve diferença significativa, sendo observados níveis elevados de enraizamento já com a menor área foliar de 25 cm2 (Quadro 4).

O efeito benéfico da presença das folhas em estacas semilenhosas para o enraizamento, já é bem conhecido, sendo atribuído à produção de auxinas e co-fatores de enraizamento, que são transportados para a base das estacas (Breen & Muraoka, 1974; Altman & Wareing, 1975), e pela continuação do processo de fotossíntese, responsável pela síntese de carboidratos necessários como fonte de energia para formação e crescimento das raízes (Haissig, 1984; Davis, 1988).

A importância das folhas para o enraizamento já foi demonstrada na estaquia de abacateiro (Reuveni & Raviv, 1981), araçazeiro (Nachtigal et al., 1994) e goiabeira (Pereira et al., 1983).

Nas estacas do porta-enxerto `Jales', apenas houve brotação quando elas possuíam folha, não havendo diferença entre as áreas foliares testadas. Já para o `Campinas', mesmo as estacas sem folha brotaram em média 14,6%, diferindo apenas da área de 25 cm2 , com 66,7% de estacas brotadas (Quadro 4).

A falta da folha nas estacas provocou alto índice de mortalidade, cerca de 50%, para ambos os cultivares. Com a folha, a mortalidade permaneceu igual ou abaixo de 2,1%, não ocorrendo diferença entre as áreas foliares testadas (Quadro 4).

Apesar de o tamanho da área foliar não afetar a porcentagem de enraizamento, houve forte efeito sobre a emissão e crescimento das raízes, avaliado por número, massa e volume de raízes por estaca. Entre esses parâmetros e as áreas foliares, em ambos os porta-enxertos, encontraram-se regressões quadráticas significativas.

O aumento do tamanho da área foliar foi acompanhado pelo incremento do número de raízes emitidas por estaca até os valores de 91,4 cm2 para o `Campinas' e 91,9 cm2 para o `Jales', quando passou a sofrer uma redução (Figura 3).

Figura 3.
Efeito da área foliar sobre o número de raízes emitidas por estaca dos porta-enxertos `Jales' e `Campinas'.

Nesses valores de máximo, estimou-se uma emissão de 15,2 raízes por estaca para o `Campinas' e 6,4 para o `Jales'. Apesar da grande superioridade daquele para esse parâmetro, a diferença entre os porta-enxertos é bem menor quando observada a massa e o volume de raízes (Figuras 4 e 5), demonstrando uma compensação do `Jales' pela maior emissão de raízes secundárias.


Figura 4. Efeito da área foliar sobre a massa de raízes emitidas por estaca dos porta-enxertos `Jales' e `Campinas'.


Figura 5. Efeito da área foliar sobre o volume de raízes emitidas por estaca dos porta-enxertos `Jales' e `Campinas'.

O aumento da área foliar também foi acompanhado pelo aumento da massa (Figura 4) e do volume (Figura 5) das raízes formadas, com tendências muito semelhantes, já que tais parâmetros são estreitamente relacionados. Os valores máximos para ambos os porta-enxertos extrapolaram a maior área foliar utilizada, sendo então apenas verificado o aumento de massa e volume dentro do intervalo de área foliar utilizado.

3.4. Avaliação do desenvolvimento das mudas obtidas

O pegamento das mudas obtidas pela estaquia semilenhosa foi elevado e não diferiu entre os cultivares, ocorrendo perdas, embora não significativas, apenas com o `Jales' (Quadro 5), o que demonstra boa tolerância ao transplante, pois as mudas foram levadas diretamente da câmara de nebulização para os sacos ao ar livre.


O `Campinas' apresentou maior crescimento da brotação da estaca, que atingiu, em média, 61,7 cm, superior ao `Jales', mas não diferiu do `Tropical'. Entretanto, quando observada a massa da parte aérea e do sistema radicular e o volume de raízes, não houve diferenças entre os porta-enxertos (Quadro 5).

Nesse estádio de desenvolvimento, as mudas apresentaram diâmetro da brotação inferior a 0,5 cm, o que inviabiliza a sua imediata enxertia lenhosa, mas esta técnica permite a obtenção rápida de grande quantidade de mudas a partir de poucas matrizes. O processo já é utilizado em outros países quando se dispõe de pouco material vegetativo (Alley, 1980) ou quando o sistema de produção de mudas envolve a enxertia verde, que consiste na união do garfo com um porta-enxerto de mesma consistência e possuindo uma folha (Anaclerio et al., 1992).

4. CONCLUSÕES

1. A estaquia semilenhosa é viável para a multiplicação rápida de porta-enxertos de videira, obtendo-se altos níveis de enraizamento em apenas 21 dias.

2. O uso de auxinas não é necessário para estimular o enraizamento.

3. As estacas podem ser preparadas simplesmente com uma gema e uma folha adulta no ápice.

4. As folhas das estacas não devem ser cortadas para não reduzir o crescimento das raízes.

5. A enxertia lenhosa de inverno não é possível no mesmo ano de obtenção das mudas dos porta-enxertos pela estaquia semilenhosa, em vista do pequeno diâmetro atingido.

(2) Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo, Setor de Ciências Agrárias/UFPR, Caixa Postal 2959, 80001-970 Curitiba (PR).

(3) Seção de Viticultura, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP).

(4) Faculdade de Ingenieria Agronómica/UNA. Casilla 1618. Assunción, Paraguay.

(5) Com bolsa de produtividade científica do CNPq.

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  • (1
    ) Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor. Trabalho apresentado no XIV Congresso Brasileiro de Fruticultura, Curitiba (PR), 1996. Recebido para publicação em 3 de fevereiro e aceito em 8 de agosto de 1997.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Jun 1999
    • Data do Fascículo
      1997

    Histórico

    • Aceito
      08 Ago 1997
    • Recebido
      03 Fev 1997
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