EFEITO DO TAMANHO DO RIZOMA-SEMENTE, DA ÉPOCA E DO LOCAL DE PLANTIO, NA PRODUÇÃO DE RIZOMAS DE MANGARÁ

EFEITO DO TAMANHO DO RIZOMA-SEMENTE, DA ÉPOCA E DO LOCAL DE PLANTIO,NA PRODUÇÃO DE RIZOMAS DE MANGARÁ(¹)

DOMINGOS ANTONIO MONTEIRO(²) e VALDEMIR ANTONIO PERESSIN(²,³)

RESUMO

As características culinárias peculiares dos rizomas de mangará ( Xanthosoma mafaffa Schott ), mais conhecido como mangarito, fazem com que seja muito apreciado pela população rural paulista que o produz. Pode, no entanto, popularizar-se como produto hortigrangeiro nacional, caso haja aumento da produção e da qualidade comercial de seus rizomas mediante progresso tecnológico. Neste trabalho, estudou-se o efeito de dois tamanhos de rizoma-semente (grande e pequeno, 5 e 2 g respectivamente), de três épocas de plantio (início, meado e fim de outubro de 1985), em três locais do Estado de São Paulo, sem a utilização de irrigação complementar. Serra Negra, com solo aluvial e produtividade média de 17,1 t/ha, ofereceu as melhores condições para o desenvolvimento da planta, seguida de Monte Alegre do Sul, que alcançou 10,2 t/ha em um Podzólico Vermelho-Amarelo orto. Nesses dois locais, as produções decresceram na medida em que se atrasou o plantio. Em Itu, num solo Podzólico Vermelho-Amarelo variação Laras, não houve produção por deficiência hídrica. Em geral, os rizomas-semente do tipo grande superaram os pequenos em termos de produção e houve interações entre o tamanho dos rizomas-semente e a época de plantio; observou-se que o efeito do tamanho da muda foi sempre mais evidenciado na primeira época de plantio.

Termos de indexação: Xanthosoma mafaffa Schott, mangará, mangarito, rizoma-semente, época de plantio, produção de rizomas.

ABSTRACT

THE EFFECT OF CORMEL SEED SIZE, PLANTING TIME AND SITE ON TANNIA CORMS PRODUCTION

Tannia or yutia (Xanthosoma mafaffa Schott) is actually produced as a self supply food for farmers and for consumption in local markets. Research progresses for increasing tannia corms yields will possibly result in a new option in marketing, as a profitable vegetable. Three field trials, without irrigation, were carried out in different locations of the São Paulo State, to study the effects of climate, cormel size and soil type on plant growth and corm production. In the experiment at Itu, plants did not grow well because of the soil (sandy well drained soil) and climate (Cwa type) conditions. At Serra Negra, in a climate Cfa type and alluvial soil, the final corm yield was 17,1 t/ha, while at Monte Alegre do Sul, in an Ortho-Red Yellow Podzolic soil, the yield was 10,2 t/ha. Larger cormel seeds (5 g), resulted in higher corm yields. Although these tests indicated that better yields were obtained with earlier planting dates, interaction among the seed weight, and planting time and site was observed.

Index terms:Xanthosoma mafaffa Schott, tannia, yutia, edible aroid, cormel seed, planting time, production.

1. INTRODUÇÃO

O gênero Xanthosoma, da família Araceae, inclui muitas espécies, entretanto, o mangará (Xantho- soma mafaffa Schott) (Hoehne, 1937) é uma das mais difundidas e cultivadas (Coursey, 1968; Pena, 1970).

Pelas características culinárias peculiares de seus rizomas, o mangará, mais conhecido por mangarito, é muito apreciado pela população rural e só é comercializado, sazonalmente, nos locais próximos às áreas de produção. Todavia, progressos tecnológicos que levem ao aumento da produção e da qualidade comercial dos rizomas, poderão torná-lo um produto mais popular para o mercado horti-granjeiro nacional.

Os dados técnicos sobre seu cultivo são escassos e, segundo Eny (1967), para sua propagação e plantio podem ser usados tanto os rizomas primários como os secundários. No entanto, os estudos realizados por Vasconcelos (1972) estabeleceram algumas bases racionais para a cultura, como a profundidade de plantio, o espaçamento, o tipo e o tamanho de rizomas-semente. Neste estudo, concluiu-se que os rizomas-semente do tipo primário, com aproximadamente 40 e 13 g, foram mais produtivos que os rizomas-semente secundários, com cerca de 4,5 e 1,5 g.

Sabe-se, no entanto, que os rizomas-semente primários obtidos na cultura anterior, além dos problemas fitossanitários, dificilmente são o bastante, em termos numéricos, para a implantação da nova cultura. Tendo em vista esses aspectos encontrados na literatura, o presente trabalho teve por objetivo avaliar os efeitos do tamanho dos rizomas-semente secundários e de épocas de plantio em três localidades paulistas na produção de rizomas de mangará.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Os experimentos foram desenvolvidos no Estado de São Paulo em locais cujos solos, classificados e mapeados pela Comissão de Solos (1960) ao nível de grande grupo, pertencem às seguintes unidades taxonômicas: Aluvial, em Serra Negra; Podzólico Vermelho-Amarelo orto, em Monte Alegre do Sul e Podzólico Vermelho-Amarelo variação Laras, em Itu.

O clima, segundo Köppen, é do tipo Cfa para Serra Negra e Monte Alegre do Sul (ambos pertencentes à região de Monte Alegre do Sul) e do tipo Cwa para Itu (localizado na região de Tietê). As precipitações pluviais das regiões, no período estudado, apresentaram-se compatíveis com os valores médios dos últimos trinta anos (Figura 1) e os experimentos foram desenvolvidos sem irrigação complementar.

Figura 1.
A: Total de chuvas mensais de setembro de 1985 a junho de 1986 e médias dos últimos trinta anos nas regiões de Monte Alegre do Sul (M.A.S.) e Tietê (T.); B: Balanço hídrico dos últimos trinta anos nas regiões de Monte Alegre do Sul e Tietê. Fonte: Seção de Climatologia Agrícola, IAC.

Avaliaram-se dois tamanhos de propágulos: 2 e 5 g, denominados, respectivamente, pequenos e grandes, os quais foram plantados em três épocas, ou seja, início, meado e fim de outubro de 1985 e colhidos em junho de 1986.

Utilizou-se o delineamento estatístico de blocos ao acaso com cinco repetições por local e seis tratamentos dispostos em fatorial 2 x 3 (tipo de muda x época de plantio). Cada ensaio foi constituído por trinta parcelas, cada uma formada de uma linha dupla de 2,0 m de comprimento, espaçadas de 0,20 m entre si, deixando-se uma separação lateral de 0,6 m entre outras duas fileiras duplas consideradas bordaduras. O plantio foi feito em sulcos de 6 a 8 cm de profundidade, utilizando dez rizomas-semente por metro, equivalendo a quarenta por parcela, resultando em uma área útil de colheita de 1,6 m².

Antes do plantio, os solos foram tratados com 6,0 kg por hectare de pentacloronitrobenzeno (PCNB) por meio de pulverização e incorporação a 10 cm de profundidade. Para a adubação, aplicaram-se 150 kg/ha de P₂O₅ na forma de superfosfato simples e 150 kg/ha de K₂O na forma de cloreto de potássio, no sulco de plantio. Os tratos culturais, exceto a não-utilização de irrigação complementar, foram realizados de conformidade com Monteiro & Peressin (1995). Além da produção total de rizomas secundários (filhos), avaliou-se a de rizomas-semente primários (mães).

Os rizomas secundários foram classificados em tipo comercial e refugo, respectivamente, os retidos e os não retidos em peneira de malha quadrada de 1,2 cm de lado, de acordo com Vasconcelos (1972). As produções, por parcela, foram transformadas em toneladas por hectare.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A brotação dos rizomas nos experimentos de Serra Negra e Monte Alegre do Sul foi normal, ao passo que em Itu não houve brotação em nenhum dos plantios. É possível que as perdas nos plantios de Itu sejam devidas ao tipo de clima (Cwa, segundo Köppen), à falta de irrigação complementar necessária (evidenciada na figura 1) e recomendada por Monteiro & Peressin (1995) e, ainda, ao tipo de solo (Podzólico Vermelho-Amarelo variação Laras).

Tal solo apresenta o horizonte superficial arenoso, com baixa capacidade de retenção de água, estando, pois, sujeito a aquecimento rápido pela insolação, condições que levam à desidratação e apodrecimento dos propágulos. Vasconcelos (1972), trabalhando em local com clima da mesma classificação de Itu e em solo com maior capacidade de retenção de água na camada superficial, considerou que para obter sucesso na experimentação, a irrigação complementar se faz indispensável.

Quanto aos dois outros experimentos, localizados em região de clima Cfa, segundo Köppen, e em solo com boa capacidade de retenção de água, houve melhores condições para o desenvolvimento das plantas. Os dados de precipitação pluvial e o balanço hídrico evidenciam maior disponibilidade de água nessa região (Figura 1). Os resultados de produção desses experimentos, com as respectivas análises das variâncias por local, encontram-se nos quadros 1 e 2.

O efeito do tamanho da muda, quando avaliado dentro da época de plantio e local, mostra a superioridade dos rizomas do tipo grande, os quais proporcionam, de maneira geral, maior produção de rizomas primários e de rizomas secundários dos tipos comercial e total, com redução da porcentagem de rizomas secundários do tipo refugo. As mudas maiores, com mais reservas nutritivas e, principalmente, umidade, enfrentaram melhor as variações ambientes, como o calor e a umidade do solo, ocorridas no período da instalação do ensaio. Vasconcelos (1972), estudando a influência do tamanho da muda sobre a produção de rizomas secundários do tipo comercial, mediante irrigação complementar, também obteve melhores resultados quando utilizou mudas do tipo rizoma secundário de cerca de 4,5 g em comparação com as de aproximadamente 1,5 g, como as usadas no presente ensaio.

Em relação à época de plantio, verificou-se decréscimo da produção de rizomas primários e secundários tipo comercial e total, quando se comparou a primeira época (início de outubro) com a terceira (fim de outubro), em ambos os locais, para os dois tamanhos de rizoma-semente utilizados.

Embora tenha havido interações entre o tamanho da muda e a época de plantio, nos dois locais, para os parâmetros analisados, essas interações refletem provavelmente as respostas diferenciadas do tamanho dos rizomas-semente às condições edafo-climáticas, uma vez que os referidos parâmetros apresentaram diferentes tendências em cada local. Tais interações só não foram significativas em Monte Alegre do Sul e Serra Negra para, respectivamente, produção de rizomas primários e rizomas secundários total. Todavia, independentemente dessas interações, os melhores resultados foram alcançados com o plantio de rizomas-semente de tamanho grande e na primeira época de plantio.

A análise conjunta da variância da produção de mangará, nas localidades de Serra Negra e Monte Alegre do Sul, consta do quadro 3. Em função desses resultados, elaborou-se a figura 2.

Figura 2.
Produção de rizomas dos tipos primário (A), secundário total (B), secundário de mercado (C) e porcentagem de refugo (D) em função da época de plantio (E1, E2 e E3, início, meado e fim de outubro respectivamente) e do tamanho dos rizomas-semente (MG: muda grande; MP: muda pequena). Médias para Monte Alegre do Sul e Serra Negra.

O efeito de local foi altamente significativo, evidenciando a superioridade das condições edafoclimáticas de Serra Negra para o desenvolvimento e produção de rizomas secundários do tipo mercado e total de mangará e de rizomas do tipo primário. Por outro lado, a produção de rizomas secundários do tipo refugo foi menor em Serra Negra, como é desejável na prática.

A interação entre a época de plantio e a localidade também foi significativa, exceto para rizomas primários, indicando que o efeito deletério da época mais tardia foi maior em Monte Alegre do Sul, cujas condições foram menos favoráveis.

Segundo Massal & Barrau (1955), o mangará não tolera solos sujeitos a contínuos encharcamentos, porém, o plantio em solos de baixada, não sujeitos a esse fator, como ocorreu nas condições experimentais de Serra Negra, foi mais propício ao cultivo sem a utilização da irrigação complementar. Vasconcelos (1972) enfatiza que, além do fator disponibilidade de água, o teor de matéria orgânica é determinante para a melhoria da produção de mangará. Entre os solos estudados, o aluvial era o que apresentava maior teor de matéria orgânica (Comissão de Solos, 1960).

Observa-se pelo quadro 3 que a interação tipo de semente x época de plantio (Txe) foi significativa para todos os parâmetros estudados. Esses dados podem ser mais bem visualizados na figura 2, por meio da qual se observa que o efeito do tamanho da muda, além de significativo, foi sempre mais evidenciado na primeira época, para os dois locais.

4. CONCLUSÕES

1. Os rizomas-semente do tipo grande (5 g) foram superiores aos pequenos (2 g), pois proporcionaram, de maneira geral, maior produção de rizomas primários e de rizomas secundários dos tipos comercial e total, com redução da porcentagem de rizomas secundários do tipo refugo.

2. O plantio em início de outubro foi o mais propício.

3. A interação tipo de semente x época de plantio foi significativa, observando-se que o efeito do tamanho da muda foi sempre mais evidenciado na primeira época de plantio.

4. O plantio do mangará, em outubro, foi mais viável em Serra Negra, em solo aluvial não sujeito ao encharcamento, do que em Monte Alegre do Sul, em Podzólico Vermelho-Amarelo orto.

5. No município de Itu, em Podzólico Vermelho-Amarelo variação Laras, não houve brotação dos rizomas, em nenhuma época de plantio.

⁽²) Seção de Raízes e Tubérculos, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP).

⁽³) Com bolsa de pesquisa da CAPES.

• COMISSÃO DE SOLOS. Levantamento de reconhecimento dos solos do Estado de São Paulo Rio de Janeiro, Serviço Nacional de Pesquisas Agronômicas, Ministério da Agricultura, 1960. 605p. (Boletim, 12)
• COURSEY, D.G. The edible aroids. World Crops, London, 20:3-8, 1968.
• ENY, B.A.C. Effect of spacing, sett size, ridging and mulching on the development and yield of cocoyam (Xanthosoma sagittifolium Schott). Tropical Agriculture, Trinidad, 44(1): 53-60, 1967.
• HOEHNE, F.C. Botanica e Agricultura no Brasil. Săo Paulo, Editora Nacional, 1937. 410p.
• MASSAL, E. & BARRAU, J. Pacific subsistence crops... taros. South Pacific Commission Quarterly Bulletin, Nanomea, 5:17-22, 1955.
• MONTEIRO, D.A. & PERESSIN, V.A. Mangarito (Xanthosoma sagittifolium Schott). In: INSTITUTO AGRONÔMICO (Campinas). Instruçőes agrícolas para o Estado de Săo Paulo. 6.ed. Campinas, 1995. p.491. (Boletim, 200)
• PENA, R.S. de la. The edible aroids in the Asian Pacific Area. In: INTERNATIONAL SIMPOSIUM ON TROPICAL ROOT AND TUBER CROPS, 2., Honolulu, 1970. Proceedings College of Hawaii of Tropical Agriculture, University of Hawaii, Honolulu, 1970. v.1, p.136-140.
• VASCONCELOS, E.F.C. de. Estudo sobre espaçamento e tipos de rizomas na propagaçăo e produçăo do mangará Xanthosoma mafaffa Schott. Piracicaba, 1972. 139p. Tese (Doutorado em Agronomia). ESALQ-USP, 1972.

⁽¹) Recebido para publicação em 9 de janeiro e aceito em 17 de dezembro de 1996.

) Recebido para publicação em 9 de janeiro e aceito em 17 de dezembro de 1996.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  16 Jun 1999
• Data do Fascículo
  1997

Histórico

• Aceito
  17 Dez 1996
• Recebido
  09 Jan 0000