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Adubação do milho: II - Adubação mineral quantitativa

Mineral fertilizers for corn

Resumos

O milho figura entre as seis principais culturas do Estado de São Paulo, oferecendo a região sul, onde mais ampla é a área de solos do glacial, excepcionais vantagens para seu cultivo, dada a topografia, facilidade de acesso e proximidades do mercado. Solos do glacial, porém, em geral apresentam baixa fertilidade. A partir de 1946/47 foram conduzidos ensaios em Campinas, Ipanema e Eng. Hermilo - localidades situadas em solos dêsse tipo - em blocos ao acaso, com quatro repetições, canteiros com 30 m² de área útil. Foram estudados 10 tratamentos, a saber : três níveis de azôto, cinco de fósforo e quatro de potássio. O efeito do azôto e do potássio foi estudado comparando-se fórmulas em que o fósforo figurava no nível mais elevado. O azôto foi aplicado na forma de salitre do Chile, com 15,5% de N ; o fósforo, na forma de superfosfato, com 20,8% de P2O5 e o potássio, na de cloreto de potássio, com 61% de K2O. As doses básicas de N, P2O5 e K2O estudadas foram, respectivamente, 25, 25 e 45 kg/ha desses elementos. Os adubos foram aplicados nos sulcos de plantio. Em Campinas, os ensaios foram conduzidos durante cinco anos ; em Ipanema e em Eng. Hermilo, em quatro anos consecutivos. Nesta última localidade o ensaio foi plantado mais um ano (1951/52), sem aplicação de adubos, para estudos do efeito residual. Tanto em Campinas com em Ipanema e Eng. Hermilo, os dados obtidos, analisados estatisticamente, deram resultados altamente significativos (coeficientes de variação : 13,5, 5,2 e 12,8%, respectivamente) e concordes : (a) em Campinas e Ipanema o azôto deu resultados favoráveis ; (b) a reação à aplicação de fósforo foi muito pronunciada, nas três localidades ; (c) não houve, em geral, reação para aplicação de potássio. Em Campinas, para uma aplicação de 75 kg/ha de P2O5, tivemos aumento de 620 kg/ha na produção de grãos ; em Ipanema, para igual dose desse elemento, o aumento foi de 1.380 kg/ha e em Eng. Hermilo de 1.540 kg/ha. Nesta última localidade a aplicação de 100 kg/ha de P2O5 fêz, praticamente, dobrar a produção por área. As doses mais econômicas de P2O5, para as citadas localidades, foram de 80, 70 e 90 kg/ha, se computarmos a Cr$l,80 e Cr$2,50 o quilo respectivamente, os preços do milho e do adubo (preços de 1953). O efeito relativo do fósforo foi mais acentuado em Ipanema e Eng. Hermilo, do que em Campinas. O azôto melhorou a produção em Campinas e em Ipanema. A aplicação de 25 kg/ha dêsse elemento já deu acréscimo significativo à produção. A aplicação de 50 kg/ha de N aumentou de 700 kg/ha a média de produção de milho em Ipanema, localidade cujo solo é arenoso, claro. O potássio não trouxe aumento de produção em nenhuma das localidades citadas. Êste nutriente até mesmo apresentou efeitos depressivos sobre a produção, mormente em Ipanema e Eng. Hermilo. O que foi dito no item acima se refere às médias gerais. Devemos, contudo, salientar que embora cada ensaio tenha sido realizado sempre na mesma área, o efeito do potássio, e mesmo do azôto, variou extraordinariamente conforme o ano. O freqüente efeito nulo ou negativo da adubação potássica e, por vezes, também da adubação azotada, não parece ter sido causado por desequilíbrio na relação N:P:K, visto como o fósforo - o elemento que mais reagiu em tôdas as terras estudadas - figurou com dose suficiente (100 kg/ha de P2O5) nos tratamentos em que se procurou determinar, por comparação, a reação do potássio e do azôto. Analisando mais detalhadamente efeitos depressivos das adubações potássica e azotada, verificou-se, em Campinas, que em ano de poucas chuvas (1947/48) a germinação foi grandemente prejudicada pelo salitre do Chile e pelo cloreto de potássio, provavelmente devido ao excesso de concentração de sais solúveis provocado pela aplicação dos adubos nos sulcos de plantio. À vista dos dados disponíveis não se encontra uma explicação segura para o que ocorreu nos outros três anos (1948/49, 1949/50 e 1950/51). Em Eng. Hermilo notou-se também, pelo menos em 1947/48, que o "stand" ficou prejudicado, provavelmente pela aplicação de salitre do Chile e cloreto de potássio nos sulcos. Correlacionando a produção de grãos com a de palha, em Campinas, verifica-se que os mais altos níveis são alcançados quando, a par de elevada dose de P2O5 (100 kg/ha), é feita também adubação azotada e potássica, embora pequena (25 kg de N e 45 kg de K2O). O índice de espigas, o rendimento de grãos, a altura das plantas e das espigas, a produção de colmos e a produção por planta foram, em maior ou menor grau, afetados principalmente pela ausência de fósforo.


The response of corn to mineral fertilizers was studied in a series of trials conducted for four consecutive years at Campinas and Ipanema, and for five consecutive years at Engenheiro Hermilo. Ten different treatments were compared, and the basic fertilizer treatment (1-1-1) had 25, 25, and 45 kg/ha of N, P2O5, and K2O, applied respectively as ammonium sulphate, superphosphate, and potassium chloride. Corn responded best to phosphorus, as it can be seen ir: figures 1 and 2. The average yield increase per hectare in the three localities, due to the application of 75 kg/ha of P2O5, was as follows : Campinas, 620 kg ; Ipanema, 1,380 kg ; and Engenheiro Hermilo, 1,540 kg. Nitrogen increased corn yields only at Campinas and Ipanema. Potash did not induce any response in the three above-mentioned localities. There were indications that the application of the fertilizer in the furrows at planting time, although it was thoroughly mixed with the soil, impaired the stand in dry years.


Adubação do milho. II - Adubação mineral quantitativa(* (* ) O primeiro trabalho desta série foi publicado em Arch, fitotécn. 4 : 407-418. 1951. )

Mineral fertilizers for corn

G. P. Viégas

Engenheiro agrônomo. Seção de Cereais, Institido Agronômico

RESUMO

O milho figura entre as seis principais culturas do Estado de São Paulo, oferecendo a região sul, onde mais ampla é a área de solos do glacial, excepcionais vantagens para seu cultivo, dada a topografia, facilidade de acesso e proximidades do mercado. Solos do glacial, porém, em geral apresentam baixa fertilidade.

A partir de 1946/47 foram conduzidos ensaios em Campinas, Ipanema e Eng. Hermilo - localidades situadas em solos dêsse tipo - em blocos ao acaso, com quatro repetições, canteiros com 30 m2 de área útil. Foram estudados 10 tratamentos, a saber : três níveis de azôto, cinco de fósforo e quatro de potássio. O efeito do azôto e do potássio foi estudado comparando-se fórmulas em que o fósforo figurava no nível mais elevado. O azôto foi aplicado na forma de salitre do Chile, com 15,5% de N ; o fósforo, na forma de superfosfato, com 20,8% de P2O5 e o potássio, na de cloreto de potássio, com 61% de K2O. As doses básicas de N, P2O5 e K2O estudadas foram, respectivamente, 25, 25 e 45 kg/ha desses elementos. Os adubos foram aplicados nos sulcos de plantio. Em Campinas, os ensaios foram conduzidos durante cinco anos ; em Ipanema e em Eng. Hermilo, em quatro anos consecutivos. Nesta última localidade o ensaio foi plantado mais um ano (1951/52), sem aplicação de adubos, para estudos do efeito residual.

Tanto em Campinas com em Ipanema e Eng. Hermilo, os dados obtidos, analisados estatisticamente, deram resultados altamente significativos (coeficientes de variação : 13,5, 5,2 e 12,8%, respectivamente) e concordes : (a) em Campinas e Ipanema o azôto deu resultados favoráveis ; (b) a reação à aplicação de fósforo foi muito pronunciada, nas três localidades ; (c) não houve, em geral, reação para aplicação de potássio.

Em Campinas, para uma aplicação de 75 kg/ha de P2O5, tivemos aumento de 620 kg/ha na produção de grãos ; em Ipanema, para igual dose desse elemento, o aumento foi de 1.380 kg/ha e em Eng. Hermilo de 1.540 kg/ha. Nesta última localidade a aplicação de 100 kg/ha de P2O5 fêz, praticamente, dobrar a produção por área. As doses mais econômicas de P2O5, para as citadas localidades, foram de 80, 70 e 90 kg/ha, se computarmos a Cr$l,80 e Cr$2,50 o quilo respectivamente, os preços do milho e do adubo (preços de 1953).

O efeito relativo do fósforo foi mais acentuado em Ipanema e Eng. Hermilo, do que em Campinas.

O azôto melhorou a produção em Campinas e em Ipanema. A aplicação de 25 kg/ha dêsse elemento já deu acréscimo significativo à produção. A aplicação de 50 kg/ha de N aumentou de 700 kg/ha a média de produção de milho em Ipanema, localidade cujo solo é arenoso, claro.

O potássio não trouxe aumento de produção em nenhuma das localidades citadas. Êste nutriente até mesmo apresentou efeitos depressivos sobre a produção, mormente em Ipanema e Eng. Hermilo.

O que foi dito no item acima se refere às médias gerais. Devemos, contudo, salientar que embora cada ensaio tenha sido realizado sempre na mesma área, o efeito do potássio, e mesmo do azôto, variou extraordinariamente conforme o ano.

O freqüente efeito nulo ou negativo da adubação potássica e, por vezes, também da adubação azotada, não parece ter sido causado por desequilíbrio na relação N:P:K, visto como o fósforo - o elemento que mais reagiu em tôdas as terras estudadas - figurou com dose suficiente (100 kg/ha de P2O5) nos tratamentos em que se procurou determinar, por comparação, a reação do potássio e do azôto.

Analisando mais detalhadamente efeitos depressivos das adubações potássica e azotada, verificou-se, em Campinas, que em ano de poucas chuvas (1947/48) a germinação foi grandemente prejudicada pelo salitre do Chile e pelo cloreto de potássio, provavelmente devido ao excesso de concentração de sais solúveis provocado pela aplicação dos adubos nos sulcos de plantio. À vista dos dados disponíveis não se encontra uma explicação segura para o que ocorreu nos outros três anos (1948/49, 1949/50 e 1950/51).

Em Eng. Hermilo notou-se também, pelo menos em 1947/48, que o "stand" ficou prejudicado, provavelmente pela aplicação de salitre do Chile e cloreto de potássio nos sulcos.

Correlacionando a produção de grãos com a de palha, em Campinas, verifica-se que os mais altos níveis são alcançados quando, a par de elevada dose de P2O5 (100 kg/ha), é feita também adubação azotada e potássica, embora pequena (25 kg de N e 45 kg de K2O).

O índice de espigas, o rendimento de grãos, a altura das plantas e das espigas, a produção de colmos e a produção por planta foram, em maior ou menor grau, afetados principalmente pela ausência de fósforo.

SUMMARY

The response of corn to mineral fertilizers was studied in a series of trials conducted for four consecutive years at Campinas and Ipanema, and for five consecutive years at Engenheiro Hermilo. Ten different treatments were compared, and the basic fertilizer treatment (1-1-1) had 25, 25, and 45 kg/ha of N, P2O5, and K2O, applied respectively as ammonium sulphate, superphosphate, and potassium chloride.

Corn responded best to phosphorus, as it can be seen ir: figures 1 and 2. The average yield increase per hectare in the three localities, due to the application of 75 kg/ha of P2O5, was as follows : Campinas, 620 kg ; Ipanema, 1,380 kg ; and Engenheiro Hermilo, 1,540 kg.

Nitrogen increased corn yields only at Campinas and Ipanema. Potash did not induce any response in the three above-mentioned localities. There were indications that the application of the fertilizer in the furrows at planting time, although it was thoroughly mixed with the soil, impaired the stand in dry years.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

LITERATURA CITADA

Recebido para publicação em 3 de fevereiro de 1955.

Agradecemos aos srs. Engs. Agrs. Erik Smith, H. Vaz de Arruda, E. S. Freire pelo valioso auxílio prestado na elaboração do presente trabalho. Consignamos igualmente nossos agradecimentos ao Sr. Osvaldo R. Miranda, que nos proporcionou amplas facilidades à realização das experiências em Eng. Hermilo.

  • 1.  CAMARGO, T. A. & HERMANN, J. Experiências com diversas formas de adubos fosfatados. In Camargo, T. A. Relatório dos trabalhos executados nos anos de 1925 e 1926 no Instituto agronômico. Campinas, Instituto agronômico, 1927. p. 213-239.
  • 2  GOOR, Q. A. N. VAN DEN. Agricultural research on maize. Landbouw, Buitenz. 24 : 293-460. 1952.
  • 3.  JENNY, H. Factors of soil formation. New York, McGraw-Hill Book Co., 1941. p. 249-251.
  • 4.  PAIVA, J. E. (neto) & CATANI, R. A. Observações gerais sôbre os grandes tipos de solos do Estado de São Paulo. Bragantia 11 : [ 227 ] - 253. 1951.
  • 5.  SAYRE, J. D. Mineral accumulation in corn. Plant Physiol. 23 : 267-281. 1948.
  • 6.  SETZER, J. Os solos do Estado de São Paulo. Rio de J., Conselho nacional de geografia o estatística, 1949. p. 53-68.
  • (*
    ) O primeiro trabalho desta série foi publicado em Arch, fitotécn. 4 : 407-418. 1951.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Maio 2010
    • Data do Fascículo
      1955
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