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Développement Psycho-Moteur du Premier Âge. Cyrille Koupernik. Um volume com 197 páginas e 58 figuras. Editado por Presses Universitaires de France, Paris, 1954

ANÁLISES DE LIVROS

Développement Psycho-Moteur du Premier Âge. Cyrille Koupernik. Um volume com 197 páginas e 58 figuras. Editado por Presses Universitaires de France, Paris, 1954

Neste livro o autor faz uma síntese pessoal dos vários métodos usados para o estudo do desenvolvimento psicomotor das crianças desde o nascimento até o segundo ano de vida. Os métodos até agora empregados pelos diferentes pesquisadores são de três ordens: 1) métodos longitudinais, nos quais o desenvolvimento psicomotor de uma criança é seguido durante vários anos (Shinn, Pichon); 2) métodos que utilizam o estudo de grupos de crianças de uma determinada idade, podendo ser limitados a um setor do comportamento (Bergeron, Halverson, Mac Graw, Gesell, Buhler, Hetzer, Wolf) ; 3) métodos que partem de uma idéia apriorística procurando justificá-la na história natural do desenvolvimento (teoria do "behaviorismo" de J. Watson, psicanálise). O autor refere-se pormenorizadamente aos trabalhos de Klein e Gesell, enaltecendo o valor da contribuição dêste último que conseguiu criar verdadeira semiologia do comportamento psicomotor. Entretanto, a parte neurológica dos trabalhos de Gesell carece de rigor; por isso o autor apelou para outras fontes no que concerne ao aspecto propriamente neurológico da maturação, baseando-se em Minkowski, Mac Graw e Thomas. E' a Thomas e a Sainte Anne que se deve a formulação mais clara do duplo fenômeno que caracteriza a evolução neurológica da criança: de uma parte desaparecem progressivamente os reflexos arcaicos, inibidos pela entrada em ação de centros superiores que dominam os subcorticais; de outra parte são adquiridas novas aptidões, que constituem os automatismos secundários ou corticais. Além do meio físico é importante considerar também o meio social e afetivo, sendo grande a importância da psicanálise (Freud, Lacan, M. Klein, Hendrick, Hartmann, Lowenstein).

No segundo capítulo o autor expõe as técnicas de exame, no qual têm primacial importância: 1) o interrogatório (hereditariedade, gravidez, parto, primeiros dias após o nascimento, história do desenvolvimento nos primeiros meses, avaliação do clima psicológico familiar) ; 2) o exame psicomotor, distinguindo três estádios no desenvolvimento psicomotor da criança de 0 a 2 anos; 3) o exame neurológico (motilidade geral espontânea, atitudes posturais, locomoção e equilíbrio, reflexos arcaicos, reflexos osteotendinosos, reflexos cutâneos, tono muscular, preensão, mímica facial, visão, audição, musculatura lábio-glosso-faríngea e funções vegetativas) completado pelo exame físico e pelas pesquisas paraclínicas e laboratoriais (radiografias do crânio, exame oftalmológico, eletrencefalograma).

No capítulo 3 o autor estuda o recém-nascido normal sob o ponto de vista dos exames físico e neurológico, passando a considerar, no capítulo seguinte, as seqüências do desenvolvimento, desdobrando-as em motoras, sensorials e intelectuais. No que tange ao desenvolvimento motor, salienta a maturação do contrôle do eixo corporal e o desenvolvimento da preensão, descrevendo tôdas as etapas do contrôle do eixo corporal até a marcha, e as formas de preensão nas diversas idades, assinalando os respectivos desvios patológicos; quanto ao desenvolvimento sensorial limita-se o autor ao estudo da visão e da audição. Quanto às seqüências intelectuais, o autor analisa a evolução dos brinquedos da criança no curso dos dois primeiros anos de vida, a integração psico-visual, a evolução da linguagem e da mímica facial, chamando a atenção para o sorriso da criança, que aparece no fim do 2º mês.

No capítulo 5, Koupernik esquematiza em quatro estádios o desenvolvimento da criança: 1) estado neo-natal, compreendendo o espaço visceral e o espaço externo em contacto (a mãe e o seio materno) ; 2) espaço visual, limitado pelo fim do período neo-natal (6 semanas) e o início da preensão voluntária (entre 2 a 5 meses); 3) espaço manual estático, que inicia a fase motora ativa, podendo a criança servir-se das mãos para aumentar o contacto com o mundo exterior; 4) neste quarto estádio, devem ser considerados o espaço cinético, caracterizado pela linguagem, e o aspecto social, caracterizado pela crise negativista e de oposição que se manifesta ate o quinto ano de vida.

No último capítulo, o autor, procurando as razões da necessidade do estudo pormenorizado do desenvolvimento psico-motor nas crianças, salienta a existência de grande quantidade de crianças inadaptadas e o aumento extraordinário dos casos de neuroses infantis. Admitindo que êsses distúrbios não sejam de origem constitucional, mas originados de uma vida mal preparada, compete aos especialistas limitar-lhes o número e a gravidade pelo estudo das razões e motivos do desenvolvimento psico-motor da criança normal. Para o autor a higiene mental começa no berço.

Assim, êste livro, pequeno e de fácil manuseio, é extremamente útil para neuropediatras e psico-pediatras. Excelente bibliografia completa o volume, sendo de lamentar a não referência a um trabalho de A. B. Lefèvre, de 1950, no qual é detidamente estudado o exame neurológico do recém-nascido normal. O livro termina com um quadro sinótico no qual são assinaladas as principais etapas do desenvolvimento psicomotor da criança.

M. A. Gonçalves Borges

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Abr 2014
  • Data do Fascículo
    Mar 1955
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