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Reflexos imediatos da indexação internacional e atualização da política editorial dos ABE&M

EDITORIAL

Reflexos imediatos da indexação internacional e atualização da política editorial dos ABE&M

Claudio E. Kater

Disciplina de Endocrinologia e Metabologia, Departamento de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, SP e Editor-chefe, ABE&M

INTERROMPO NOVAMENTE MEU AUTO-INFLIGIDO silêncio editorial para discorrer com leitores e colaboradores dos ABE&M sobre um tema que, como previsível, não apenas eclodiu como veio à tona rapidamente.

A indexação no Medline / Index Medicus / PubMed desde fevereiro passado foi uma promoção do status científico dos ABE&M para o patamar de qualificação internacional, inserindo-os numa arena de grande visibilidade e de alta competitividade. Vínhamos apenas nos acostumando com seu crescente nível de qualidade no país, avalizado pelo reconhecimento da CAPES-CNPq, BIREME e FAPESP como revista científica de prioridade para publicações nacionais, quando, quase subitamente, nos vemos lado a lado com nossos grandes modelos internacionais.

Como disse o Bianco em editorial anterior (ABE&M 2004;48/ 3:335-6), podemos simplesmente nos contentar por termos atingido este velho objetivo - e ficarmos comemorando o fato com auto-elogios inconseqüentes -, ou encarar o desafio e procurarmos efetivamente nos alinhar com as revistas congêneres, melhorando o conteúdo e a qualidade do nosso material. Apenas assim obteremos citações de nossos artigos, cujo recompensa a médio prazo será a elevação do nível de impacto da revista.

Com a contemplação da indexação no Medline, a possibilidade de publicarmos artigos de melhor qualidade agora aumentou. Embora por razões técnicas (simples desinformação) a revista não esteja ainda constando oficialmente da listagem do PubMed (mas estará dentro em pouco), a divulgação em âmbito nacional de sua aceitação para indexação, feita pela Diretoria Nacional da SBEM e por todos quantos sabíamos da notícia fez, num primeiro momento, com que o volume de submissões de artigos para eventual publicação aumentasse sensivelmente.

Para se ter uma idéia aproximada em números, a média de submissões nos anos 90 foi de 56 artigos por ano (menor no início e maior no final da década), incluídos artigos originais, artigos de revisão e relatos de casos clínicos (e excluídos editoriais e cartas ao editor). Durante os anos 2000 e 2001 a média subiu 20-25%, respectivamente para 68 e 72 artigos/ano. Já em 2002 e 2003, estes números surpreendentemente cresceram outros 65%, pulando para 117 e 115 artigos/ano. Quer por que os "Arquivos" efetivamente estão mais atraentes para autores prospectivos, quer pelo conhecimento de nossa recente qualificação internacional, até o final de Julho de 2004 cadastramos 118 artigos que, se extrapolados conservadoramente para todo o ano, deverão atingir o record histórico de mais de 200 submissões de artigos. Portanto, em apenas 3 anos o volume de submissões triplicou. É lícito dizer, também, que a proporção de artigos bons e excelentes (aceitáveis para publicação segundo o julgamento dos revisores) até suplantou a de artigos de nível regular ou insuficiente.

Como editor responsável, e assessorado pelo Conselho Editorial, defini como política editorial da revista, nos anos 90, procurar aceitar um volume razoável de artigos, estimulando nossos revisores a atuarem discreta e sigilosamente como colaboradores dos autores, criticando construtivamente seus artigos menos robustos para que pudessem ser publicados com um padrão apropriado de qualidade. Por conta disso, inúmeros autores, inicialmente inibidos e até constrangidos de submeterem seus primeiros trabalhos ao crivo de qualidade da revista, agradeciam entusiasticamente os comentários, críticas e sugestões dos revisores, modificando seus artigos e agregando maior qualidade ao produto final. Isto vem permitindo oferecer aos leitores uma informação mais confiável e melhor estruturada profissionalmente. Dos poucos e óbvios centros de excelência em pesquisa no país, passamos a receber contribuições de outros, em cidades e estados que nunca antes tinham se manifestado cientificamente nos ABE&M. A revista passou então a ser abrangente, tornando-se realmente um órgão científico representativo das várias tendências e regiões do país. Isto é o que houve de bom em todo esse processo.

Agora, entretanto - e como reflexo da indexação internacional -, os padrões estão sendo revistos e deverão ser atualizados e aperfeiçoados. Sem querermos ser ou parecer presunçosos ou pretensiosos por conta desta nova distinção, somos obrigados a elevar o padrão de qualidade da revista de maneira condizente com sua maior exposição e possível repercussão internacional. Para tanto, precisamos reajustar nosso nível de corte e investir prioritária e sistematicamente na publicação de trabalhos importantes, selecionando aqueles que tragam contribuições e idéias originais e propostas inovadoras.

A palavra de ordem é "subir o sarrafo". Não no sentido pejorativo e contra-producente do termo, mas com o intuito precípuo de poder proporcionar aos nossos leitores informações substanciais e aos nossos colaboradores, um foro profissional de divulgação científica com maior visibilidade no exterior e possibilidade de amplo intercâmbio de informações. Apenas assim a perspectiva de crescimento dos nossos (futuros) índices de citação e de impacto será atingida.

Para tanto, o corpo de revisores (pareceristas) tem recebido orientação para adequar e aprimorar o sistema de "peer review". Não gostaríamos, com isso, de coibir a submissão de trabalhos que possam parecer mais simples ou menos originais, mas precisamos, mais que tudo, que os manuscritos a serem submetidos o sejam com o maior profissionalismo e o maior grau de qualidade possível. Neste particular, preciso ressaltar que ainda hoje continuamos recebendo artigos que: (i) não se fazem acompanhar por uma carta de apresentação do trabalho, da instituição ou com a assinatura de consentimento dos próprios autores; (ii) não apresentam a formatação mínima necessária, de acordo com as instruções contidas na revista (resumo e abstract, descritores e keywords, título conciso do manuscrito em português e inglês, formatação correta das referências, etc); (iii) não trazem ilustrações (gráficos, figuras, fotos) preparadas com um mínimo de cuidado e esmero; ao não obedecer ao padrão de qualidade exigido nas normas da revista, fazem com que muitas vezes as ilustrações ao ser publicadas estejam pouco nítidas e com baixa definição (muitas fotos e radiografias vêm até desfocadas); (iv) apresentam interpretações de dados por métodos estatísticos impróprios (mesmo ressalvando eventuais controvérsias da utilização de certos procedimentos estatísticos na interpretação de resultados da pesquisa clínica e básica).

Para corrigir estas falhas, é imprescindível que os autores - não sendo eles necessariamente experientes no tema -, recorram a profissionais que os auxiliem em: (i) uma correta e, no mínimo, inteligível tradução do artigo para o inglês (quando for o caso), ou ao menos na confecção do abstract e título do artigo naquele idioma; (ii) confeccionar um gráfico ou ilustração de maneira diligente, precisa e absolutamente competente, utilizando programas (softwares) modernos e respeitando o tamanho e a formatação exigidos; (iii) fotografar pacientes, radiografias e fotomicrografias com equipamento profissional, empregando boa iluminação e papel fotográfico de qualidade; (iv) digitar ou datilografar o texto do manuscrito com esmero, clareza e até uma certa elegância (por que não?), além de imprimi-lo numa boa impressora usando papel de boa qualidade. Estas recomendações seriam plenamente dispensáveis não fossem alguns (poucos) artigos que recebemos tão pobre e displicentemente escritos, digitados e encaminhados.

A responsabilidade pela citação e correção das referências bibliográficas é, evidentemente, do autor do artigo. Embora nossos revisores de texto façam o possível para detectar e corrigir falhas e imperfeições, muitas das referências citadas não podem ser verificadas com o rigor exigido para uma publicação internacional. Nunca se esquecer que os índices de citação dos autores de artigos científicos e, em última análise do próprio autor do trabalho, baseiam-se numa correta e completa apresentação destas referências. Neste aspecto há que se ter, de agora em diante, o máximo cuidado. Autores não gostam de não ver seus nomes citados nas referências (muito menos de maneira incorreta!) e há que se respeitar essa vaidade. Por isso, seguimos o modelo do grupo Vancouver, no qual explicitamos os nomes de até 6 autores, colocando um et al. ao final destes quando o artigo apresenta muitos autores. Citar apenas o primeiro autor (ou os 3 primeiros) é certamente mais prejudicial aos demais autores do que os 6 primeiros, como preferimos. É possível que, proximamente, passemos a recomendar a inclusão de todos os autores do trabalho.

AÇÕES E ATITUDES EM ANDAMENTO

Editores Associados: Desde há alguns meses contamos com a colaboração efetiva de três excelentes editores-associados: Ana Claudia Latronico, Mario J.A. Saad e Omar M. Hauache, convidados para compartilhar responsabilidades e as tarefas de análise e julgamento dos manuscritos. Também com eles está sendo discutida esta nova política editorial que irá nortear direções e decisões dos ABE&M, em especial a implantação de novas normas e regulamentos para submissão e aceitação de artigos na revista.

Conselho Editorial Nacional: A cada dois anos modificamos a constituição desse Conselho (bem como do Internacional), visando contemplar valores emergentes e outros pesquisadores nacionais que estejam colaborando de maneira efetiva com a revista. A composição deste Conselho não obedece a regras específicas, a não ser a qualificação e produtividade científica de seus elementos. Procuramos, no entanto, seguir algum preceito de distribuição geográfica englobando serviços e escolas médicas qualificadas. Porquanto a incorporação de um novo colega neste Conselho não deixe de representar o reconhecimento do seu valor pela comunidade científica, a exclusão de outros para lhes darem lugar (já que a lista não é infinita) não implica, de forma alguma, em demérito ou desqualificação. Certamente prestaram um valioso serviço durante o tempo em que serviram (geralmente mais do que 6 anos) e são agora merecedores de algum descanso e tranqüilidade, acompanhados do nosso agradecimento. No final a regra é a de sempre, os mais velhos cedem lugar aos mais novos; os primeiros, embasados na sua insubstituível experiência acumulada jamais deixarão de ser consultados em ocasiões oportunas, enquanto os últimos passarão a experimentar agora a muitas vezes incômoda posição de tomar decisões mais sérias envolvendo colegas.

Comissão de Revisores (Pareceristas): Além do Conselho Editorial, mas também englobando membros dele, a revista conta com uma Comissão de Revisores, "experts" em áreas e temas específicos da especialidade (e também de outras especialidades afins), que constantemente nos assessoram no julgamento do mérito científico de manuscritos. O número de pareceristas que consultamos rotineiramente está na faixa dos 300 nomes. Quero deixar assinalado que considero estas pessoas as mais importantes do processo de editoração científica, merecendo toda a nossa gratidão, respeito e consideração. O fato de um colega ter servido como parecerista por algum tempo não garante necessariamente sua entrada para o Conselho Editorial. Embora muitos deles efetivamente passem após algum tempo a figurar no Conselho, tendo assim seu nome listado nos créditos da revista, isto não pode e não deve ser visto como uma promoção!

Exposição Internacional: Embora um "abstract" detalhado e bem escrito em inglês permita ao leitor estrangeiro ter alguma noção do conteúdo do trabalho, a perspectiva do artigo vir a ser citado em outras publicações internacionais é diretamente proporcional à possibilidade da consulta integral dos resultados e conclusões do trabalho. Isto, evidentemente, apenas é possível se o leitor conhecer o nosso idioma. Como esta chance é pequena estamos nos programando para passar a verter todos os futuros artigos publicados para o inglês. Entretanto, como o custo é alto e o interesse pequeno em publicar nos 2 idiomas, estamos viabilizando oferecer apenas online uma versão de textos completos em inglês, para acesso pela comunidade internacional. Estes textos poderão ser construídos no formato "pdf" e colocados lado a lado com os artigos originais em português numa base de dados disponibilizada internacionalmente pela Internet como, por exemplo, a SciELO.

Resumo e Abstract: Enquanto o procedimento acima não está disponível, mas até paralelamente a ele e por justificada solicitação de alguns colaboradores, estamos permitindo um aumento no tamanho dos resumos e abstracts para conter até 200 palavras (com no máximo 1.300 caracteres entre letras e espaços). O objetivo aqui será poder oferecer um maior número de informações para consulta.

Re-programação Visual: Está sendo estudada a possibilidade de uma re-programação gráfica e visual da revista para o próximo ano, incluindo características mais modernas e atuais de legibilidade. A implementação deste projeto permitirá re-posicionar a revista para um novo salto qualitativo e quantitativo com modificações que a tornem equivalentes às melhores congêneres internacionais.

Processamento dos Manuscritos pela Internet: O processo de julgamento de manuscritos nos ABE&M (desde a submissão até a aceitação final e publicação) é muito mais longo do que o necessário. Além da ultrapassada rotina de cartas escritas, impressas e envelopadas e do lento vai-e-vém de correspondências pelo correio, também os editores, revisores e os próprios autores muitas vezes demoram além do razoável para dar andamento ao processo. Para tanto, estamos aguardando o desenvolvimento e disponibilização do processamento eletrônico de manuscritos pela Internet, que está sendo desenvolvido por equipe associada ao SciELO. Como este procedimento deverá ser isento ou ter baixo custo, deixamos por enquanto de lado uma solução caseira, mais onerosa, de desenvolvimento próprio deste programa. De qualquer maneira, nosso prazo para colocá-lo em prática é, no máximo, o início de 2005. Isto deverá agilizar e facilitar todo o processo, otimizando o tempo de todos e economizando verba para outras finalidades.

Ampliação da Indexação: A indexação internacional não deverá se restringir apenas ao PubMed (Medline / Index Medicus) mas deverá incluir proximamente o EMBASE (Excerpta Medica - Elsevier, processo já iniciado) e outros.

E A EDIÇÂO ESPECIAL SOBRE DOENÇAS DA ADRENAL?

A todos aqueles que aguardavam para este número de Agosto de 2004 a Edição Especial sobre "Atualização em Doenças da Adrenal", coordenada pela Profa. Berenice B. de Mendonça e por mim, informo que por razões técnicas e pessoais preferimos publicar agora os inúmeros manuscritos aceitos e aguardando já há algum tempo na fila de espera e protelar a Edição Especial para o mês de Outubro. Assim, pedimos desculpas a todos os colaboradores convidados que enviaram suas contribuições dentro do prazo determinado, mas garantimos a eles e a todos os leitores que aquela edição está sendo preparada com muito carinho.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Mar 2005
  • Data do Fascículo
    Ago 2004
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