Interpretação como des-ocultamento: contribuições do pensamento hermenêutico e fenomenológico-existencial para análise de dados em pesquisa qualitativa,

Szymanski, Luciana; Szymanski, Heloisa; Fachim, Felipe Luis

doi:10.1590/1980-6248-2018-0014

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Sumário

ARTIGOS • Pro-Posições 30 • 2019 • https://doi.org/10.1590/1980-6248-2018-0014 copiar

Interpretação como des-ocultamento: contribuições do pensamento hermenêutico e fenomenológico-existencial para análise de dados em pesquisa qualitativa¹ 1 Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); Plano de Incentivo à Pesquisa (PIPEq) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); Plano de Incentivo à Pesquisa Aplicada à Docência (Pipad) – PUCSP. ,² 2 Normalização, preparação e revisão textual: Aline Maya (Tikinet) – aline@tikinet.com.br

Interpretation as de-concealment: contributions of hermeneutic and phenomenological-existential thought for data analysis in qualitative research

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Resumo

Este artigo pretende refletir sobre procedimentos de análise e interpretação de dados em pesquisa nos campos da educação e da psicologia. O caminho que adotamos parte inicialmente de uma reflexão sobre o sentido da investigação e análise nas pesquisas qualitativas, em especial na perspectiva fenomenológico-existencial de Martin Heidegger e hermenêutica de Hans-Georg Gadamer, entendendo que existe um diálogo profícuo entre esses pensamentos, apesar de suas especificidades. Para que pudéssemos aprofundar a reflexão proposta, apresentamos, a título de exemplo, trechos de análise de uma pesquisa de cunho interventivo, realizada em parceria com uma instituição escolar, especificamente sobre o tema adolescência na escola, cujos procedimentos de interpretação e análise foram construídos alinhados às concepções epistemológicas propostas.

Palavras-chave
pesquisa qualitativa; fenomenologia; hermenêutica; psicologia; educação

Falas da entrevistada (questões entre colchetes)	Interrogações de sentido	Possíveis respostas à interrogação	Impressões (liberdade para expressar o conflito das novas impressões com o conhecimento prévio)
[O que pensa da escola?] Eu penso que essa escola é muito boa. Ela ensina muitas coisas que… por exemplo muitas coisas que a pessoa não sabe a escola ensina. Ensina a ler, a escrever, ensina a fazer um monte de coisa.	A que vem esse lugar: escola?	Um lugar que serve para passar saberes para quem não os tem – ler, escrever e um indefinido “monte de coisas”. Um lugar onde quem sabe ensina quem não sabe. O texto traz um discurso “oficial” sobre o que é uma escola e inclui uma avaliação da instituição.	A escola se propõe a ensinar muita coisa, mas muito do que se aprendeu lá não foi intenção da escola ensinar (essa observação decorre da primeira leitura do texto integra).
Eu gosto de ficar nos projetos que tem na escola, e eu não gosto quando não tem aula. Porque… na quinta-feira passada não teve aula porque a caixa d’água estourou, aí acabou a água, aí não teve aula.	O que induz a jovem a ir à escola para os projetos? Que vivências escolhe dizer para expressar o que pensa da escola? O que a faz não gostar de se privar de vir à escola?	Projetos – dos quais se pode participar espontaneamente. Em relação a estes expressa seu prazer. E não gosta quando não tem aula. Prefere vir à escola.	Pesquisadores acham curioso uma adolescente que sente prazer em ir à escola devido a uma visão prévia de que escola é a priori difícil para adolescentes.

Falas da entrevistada (questões entre colchetes)	Interrogações de sentido	Possíveis respostas à interrogação	Impressões (liberdade para expressar o conflito das novas impressões com o conhecimento prévio)
[Quando não tem projetos, o que você costuma fazer?] Quando não tem projeto eu fico em casa. Eu fico mexendo no celular e ajudo a minha mãe. Eu limpo a casa, passo roupa, faço tudo lá. Passo pano no chão, varro a casa, cuido dos meus irmãos. São três, comigo quatro. É um de 4 [anos], um de 5, um de 10, e eu, de 12. E sou a única menina.	Quais as alternativas de atividades fora do período escolar? Que responsabilidades tem em casa a jovem? Como a escola aparece a partir de sua vida doméstica? Como se mostram as tarefas domésticas?	O texto trouxe os afazeres de seu cotidiano em casa, que é preenchido por tarefas domésticas e uso do celular. É responsável também em casa. A escola ocupa um lugar em que, no seu cotidiano, centraliza ofertas de lazer e socialização, pois não são lembradas outras atividades fora da escola, que são apresentadas como descrições, sem avaliação positiva ou negativa, como parte da vida doméstica. Sua condição de filha mais velha e menina inclui o cuidado com os irmãos mais novos.	Se estivesse entrevistando um menino, possivelmente essa questão não seria trazida à tona!

Falas da entrevistada (questões entre colchetes)	Unidades de sentido	Constelações
[O que pensa da escola?] Eu penso que essa escola é muito boa. Ela ensina muitas coisas que… por exemplo muitas coisas que a pessoa não sabe a escola ensina. Ensina a ler, a escrever, ensina a fazer um monte de coisa.	Escola como lugar de ensino Sentimento positivo em relação à escola	“Minha escola”
Eu gosto de ficar nos projetos que tem na escola, e eu não gosto quando não tem aula. Porque… na quinta-feira passada não teve aula porque a caixa d’água estourou, aí acabou a água, aí não teve aula.	Projetos
[Quando não tem projetos, o que você costuma fazer?] Quando não tem projeto eu fico em casa. Eu fico mexendo no celular e ajudo a minha mãe. Eu limpo a casa, passo roupa, faço tudo lá. Passo pano no chão, varro a casa, cuido dos meus irmãos. São três, comigo quatro. É um de 4, um de 5, um de 10, e eu, de 12. E sou a única menina.	Tarefas domésticas Atividades de menina/mulher	“Escola e gênero”

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