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Ensinar longe da escola: ensaio sobre as representações em E. Durkheim1 1 Émile Durkheim nasceu em 1858 em Épinal, na região da Lorena, noroeste da França. Estudou na École Normale Supérieure, em Paris, e lecionou filosofia por alguns anos no ensino liceal. É considerado o grande impulsionador da sociologia na França, notadamente reconhecido pela sua responsabilidade em credenciá-la junto às instituições acadêmicas de prestígio. O avanço dos estudos sociológicos realizados por Durkheim foi alcançado por intermédio de sua atuação no domínio pedagógico, já que foi durante sua atuação como professor de Pedagogia e Ciências Sociais na Universidade de Bordéus (1887-1902) que publicou suas principais obras sociológicas. Em 1902 foi convidado a lecionar Sociologia e Pedagogia na Sorbonne, como assistente de Ferdinand Buisson na cátedra de Ciências da Educação. Em 1906 fundou o periódico L’Année Sociologique, mesmo ano em que, com a morte de Buisson, assume a referida cátedra, a qual é transformada, em 1910, em cátedra de Sociologia. Publicou obras de relevo para o campo das Ciências Sociais, como As regras do método sociológico, A divisão do trabalho social, A evolução pedagógica, O suicídio, Educação e sociologia e As formas elementares de vida religiosa, traduzidas para diversas línguas. e R. Chartier2 2 Roger Chartier nasceu em 1945 na cidade de Lyon, França. Estudou na Escola Normal Superior de Saint Cloud e na Universidade de Sorbonne. Historiador, foi titular da cátedra “A escrita e as culturas na Europa moderna” junto ao Collège de France, também foi, entre outras atividades, professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales. É autor de uma vasta obra, desenvolvida na perspectiva da história cultural, investigando o mundo da escrita, o livro, as práticas de leitura, a materialidade dos escritos, a autoria e os gêneros literários, sobretudo na Europa do Antigo Regime. Suas primeiras publicações datam dos anos 1970 e compreendem sobretudo trabalhos com outros historiadores. Ele ainda conta com produções mais individuais, que datam principalmente dos anos 1980 em diante e inspiram ainda hoje inúmeras pesquisas em história da educação, daí tomá-lo como um autor central na formação de redes e centros de pesquisa. Ele atua no cruzamento de várias disciplinas, além da história, entre as quais podemos citar a sociologia, a linguística e a pedagogia. Entre seus livros, podemos citar: O sociólogo e o historiador (2012); A mão do autor e a mente de editor (2014); Inscrever e apagar: cultura escrita e literatura (2007); A história ou a leitura do tempo (2009) e vale destacar sua famosa conferência no Collège de France, proferida em 2007 e intitulada “Escutar os mortos com os olhos”.

RESUMO

Após meses com as salas de aula fechadas, professores e alunos ainda não vislumbram quando se poderá voltar às escolas. Roger Chartier, no artigo “Mundo pós-pandemia”, publicado em 1º de junho na página virtual do Sesc-SP, destaca a “infinita tristeza do ensino” no isolamento. Na esteira dessa percepção, vimos desde a interrupção das aulas avaliações as mais diversas sobre o papel da instituição escolar e da socialização que ela realiza para a formação educacional da infância e juventude. Interessados em alargar a visão sobre o tema, propomos historicizar o que chamamos aqui de “imagem da sala de aula”. Para concretizar nosso propósito, escolhemos para análise as imagens presentes nas famosas histórias em quadrinhos francesas do Petit Nicholas, assinadas por René Goscinny e ilustradas por Jean-Jacques Sempé entre 1956 e 1964. Tais imagens serão interpeladas com o auxílio da noção de representação, na voz de autores há muito tempo lidos e relidos entre os educadores: Émile Durkheim e Roger Chartier. O uso do conceito de representação nos será útil para explorar as múltiplas respostas dos autores de seus respectivos tempos históricos sobre os problemas e as potências da escola. Lembrando as palavras de Ítalo Calvino (1993), convém dedicarmos um tempo para revisitar leituras importantes de nossa formação. As referências permanecem as mesmas, mas nossas trajetórias e desafios mudam. A atual situação é um convite à releitura dessas obras “clássicas” que, pela sua fecundidade, sobretudo quando explicam a força da representação, permitem refletir sobre a construção do desejável em educação hoje.

PALAVRAS-CHAVE:
Imagem da sala de aula; Representações coletivas; Émile Durkheim; Roger Chartier

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