Acessibilidade / Reportar erro

Mineralogia dos greisens da área Grota Rica, Plúton Água Boa, Pitinga, Amazonas

Mineralogy of the greisens of the Grota Rica area, Água Boa Pluton, Pitinga, Amazonas state

Resumo:

O topázio-álcali-feldspato-granito, fácies mais evoluída do plúton Água Boa, foi afetado por processos de alteração hidrotermal, que culminaram com a formação de greisens e veios de quartzo, principais hospedeiros de mineralizações de Sn e, subordinadamente, Zn. Os greisens foram classificados como quartzotopázio-siderofilita-greisen, topázio-siderofilita-quartzo-greisen e topázio-quartzo-greisen. São compostos por quartzo, siderofilita e topázio, acompanhados por quantidades variáveis de fluorita, zinnwaldita, esfalerita, cassiterita, zircão, anatásio e, localmente, Ce-monazita, galena, pirita, calcopirita e bismuto nativo. Estudos de química mineral em microssonda eletrônica permitiram identificar três tipos de micas: (1) siderofilita marrom, presente no topázio-granito; (2) siderofilita verde, encontrada nos greisens; (3) zinnwaldita, fracamente colorida, encontrada como coroas finas e descontínuas em torno da siderofilita verde dos greisens, e encontrada também em veios de quartzo. A composição da siderofilita do granito varia com a proximidade dos greisens, mostrando uma evolução de siderofilita → siderofilita litinífera, com aumento nos conteúdos de VIAl, Li e Si. A siderofilita do greisen foi, por sua vez, parcialmente substituída por zinnwaldita, também com aumento nos teores de VIAl, Li e Si. A cassiterita nos greisens forma cristais euédricos a subédricos em contato reto com siderofilita ou como agregados junto com topázio, quartzo e fluorita. Exibe cristais maclados, zonados e com forte pleocroísmo. As composições muito puras e baixos conteúdos de Nb e Ta, indicam formação em condições hidrotermais.

Palavras-chave:
topázio-álcali-feldspato-granito; greisens; química mineral; Província Estanífera de Pitinga

Abstract:

The topaz-alkali-feldspar-granite, the most evolved facies of the Água Boa pluton, was affected by hydrothermal alteration, represented by greisens and quartz veins, the main host for Sn- and subordinated Zn mineralization. The greisens are classified as quartz-topaz-siderophyllite-greisen, topaz-siderophyllite-greisen and quartztopaz-quartz-greisen. They are composed essentially of quartz, topaz and siderophyllite, accompanied by variable amounts of fluorite, zinnwaldite, sphalerite, cassiterite, zircon and anatase and locally Ce-monazite, galena, pyrite, chalcopyrite and native bismuth. EMPA studies allowed identifying three types of micas: (1) brown siderophyllite from topaz-granite; (2) the green siderophyllite of greisens and (3) zinnwaldite, weakly colored, found as thin and discontinuous rims around green siderophyllite, and quartz vein. The siderophyllite composition of the granite towards greisens shows an evolution of siderophyllite to Li-siderophyllite with increase of VIAl, Li and Si contents. On the other hand, the siderophyllite of the greisen was partially replaced by zinnwaldite, with increase of VIAl, Li and Si contents. The cassiterite in the greisens forms euhedral to subeuhedral, twin and zoned crystals, with strong pleochroism. It occurs as aggregates together with topaz, quart and fluorite. The pure composition and the low content of the Nb and Ta of cassiterite indicate hydrothermal conditions

Keywords:
topaz-alkali-feldspar-granite; greisen; mineral chemistry; Pitinga Tin Province

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Agradecimentos

Agradecemos aos pesquisadores do Grupo de Pesquisa Petrologia de Granitoides (GPPG), pelo apoio nas diversas etapas deste trabalho; ao Grupo Paranapanema S/A, pela liberação dos testemunhos de sondagem e aos geólogos da empresa pelo apoio logístico nas etapas de campo; ao químico Marcos Mansueto e ao Prof. Silvio Vlach do IGc/USP, pelo apoio nas análises de microssonda eletrônica; ao CNPq, pela concessão da bolsa de mestrado à primeira autora; ao Programa de Pós-graduação em Geoquímica e Petrologia e ao Instituto de Geociências (IG/UFPA) pelo suporte técnico. Este trabalho foi desenvolvido no quadro do subprojeto “Depósitos de Estanho da mina Pitinga, Estado do Amazonas”, que faz parte do projeto “Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia”, cuja execução foi apoiada pelo convênio FINEP/DNPM/ADIMB. Este artigo é uma contribuição ao projeto IGCP-510 e ao INCT Geociam (Programa INCT - CNPq/MCT/FAPESPA - Proc. 573733/2008-2). Os agradecimentos são extensivos a Lena V. Monteiro pela revisão do artigo.

Referências

  • Almeida F.F.M., Hasui Y., Brito Neves B.B., Fuck R.A. 1981. Brazilian structural Provinces: An introduction. Earth Sciences Reviews, 17:1-29.
  • Almeida M.E. 2006. Evolução Geológica da porção centro-sul do escudo das Guianas com base no estudo Geoquímico, Geocronológico (Evaporação de Pb e U-Pb ID-TIMS em zircão) e isotópico (Nd-Pb) dos granitoides Paleoproterozoicos do sudeste de Roraima Tese de Doutorado, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Pará, Belém, 227 p.
  • Araújo Neto H., & Moreira H.L. 1976. Projeto Estanho Abonari Manaus, ME/DNPM/CPRM, Relatório final, 232 p.
  • Borges R.M.K. 1997. Petrografia e química mineral dos greisens associados ao Granito Água Boa - Mina Pitinga (AM): Um estudo dos processos de formação de greisens Dissertação de Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Pará, Belém, 190 p.
  • Borges R.M.K. 2002. Greisens e epissienitos potássicos associados ao Granito Água Boa, Pitinga (AM): Um estudo dos processos hidrotermais geradores de mineralizações estaníferas Tese de Doutorado, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Pará, Belém, 383 p.
  • Borges R.M.K., Dall’Agnol R., Costi H.T. 2003. Geologia, petrografia e química mineral das micas dos greisens estaníferos associados ao plúton Água Boa, Pitinga (A M). Revista Brasileira de Geociências, 33(1):51-62.
  • Borges R.M.K., Villas R.N.N., Fuzikawa K., Dall’Agnol R., Pimenta M.A. 2009. Phase separation, fluid mix ing, and origin of the greisens and potassic episyenite associated with the Água Boa plúton, Pitinga tin province, Amazonian Craton, Brazil. J. S. Am. Earth. Sci, 27:161-183.
  • Cerný P., & Burt D.M. 1984. Paragenesis, crystalochemical characteristics, and geochemical evolution of micas in granite pegmatites. In: Bailey S.W. (ed.) Micas - Reviews in Mineralogy New York, Mineralogical Society of American, p. 257-298.
  • Cesbron F.P. Lanthanides, Tantalum and Niobium. 1989. In: Möller R., Cerný P., Saupé F. (eds.) Mineralogy of the Rare Earth Elements Brelin, Springer-Verlag, p. 3-26.
  • Costi H.T., Borges R.M.K., Dall’Agnol R. 2005. Depósitos de estanho da Mina Pitinga, Estado do Amazonas. In: Marini O.J., Queiroz E.T., Ramos B.W. (eds.) Caracterização de depósitos minerais em distritos mineiros da Amazônia Brasília, DNPM/CT-Mineral FINEP/ADIMB, p. 391-475.
  • Costi H.T., Dall’Agnol R., Moura C.A.V. 2000. Geology and Pb-Pb Geochronology of Paleoproterozoic Volcanic and Granitic rocks of Pitinga Province, Amazonian Craton, Northern Brazil. International Geology Reviews, 42:832-849.
  • Costi H.T., Dall’Agnol R., Borges R.M.K., Minuzzi O.R.R., Teixeira J.T. 2002. Tin-Bearing Sodic Episyenites Associated with the Proterozoic, A-Type Água Boa Granite, Pitinga Mine, Amazonian Craton, Brazil. Gondwana Research, 5:435-451.
  • Costi H.T., Dall’Agnol R., Pichavant, M, Ramo, O.T. 2009. The peralkaline tin-mineralized madeira cryolite albite-rich granite of Pitinga, Amazonian craton, brazil: petrography, mineralogy and crystallization processes. The Canadian Mineralogist, 47:1301-1327.
  • Daoud W.K. 1988. Granitos Estaníferos de Pitinga, Amazonas: Contexto Geológico e Depósitos Minerais Associados Dissertação de Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade de Brasília, Brasília, 194 p.
  • Daoud W.K., & Antonietto Jr. A. 1985. Geologia do Granito Água Boa, Pitinga, AM. In: SBG, Simpósio de Geologia da Amazônia, 2, Anais, p. 17-33.
  • Feio G.R.L., Dall’Agnol R., Borges R.M.K. 2007. Greisens associados ao topázio-granito do plúton Água Boa, Província Estanífera de Pitinga: Petrografia e Balanço de massa. Revista Brasileira de Geociências, 37(3):2-17.
  • Feio G.R.L. 2007. Petrografia e Geoquímica dos greisens associados ao topázio-granito do plúton Água Boa, Província Estanífera de Pitinga (AM) Dissertação de Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Pará, Belém, 132 p.
  • Feio G.R.L., Dall’Agnol R., Borges R.M.K. 2006. Estudos dos minerais acessórios de epissienitos e greisens da Província estanífera de Pitinga. In: SBG, Simpósio de Geologia da Amazônia, 9, Belém, Resumos Expandidos, 1 CD-Rom.
  • Ferron J.M.T.M. 2006. Geologia regional, Geoquímica e Geocronologia Pb-Pb de rochas graníticas e vulcânicas paleoproterozóicas da Província Pitiga, Cráton Amazônico Tese de Doutorado, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 331 p.
  • Ferron J.M.T.M., Neto A.C.B., Lima E.F.de., Costi H.T., Moura C.A.V., Prado M., Pierosan R., Galarza M.A. 2006. Geologia e Geocronologia Pb-Pb de rochas graníticas e vulcânicas ácidas a intermediárias Paleoproterozóicas da Província Pitinga, Cráton Amazônico. Revista Brasileira de Geociências, 36(3):499-512.
  • Foster M.D. 1960. Layer charge relations in the dioctahedral and trioctahedral micas. American Mineralogist, 45:383-398.
  • Gibbs A.K., & Barron C. 1983. The Guiana shield reviewed. Episodes, 6:7-14.
  • Haapala I. 1997. Magmatic and postmagmatic processes in tin-mineralized granites: topaz bearing leucogranite in the Eurajoki Rapakivi Granite stock, Finland. Journal of Petrology, 12:1645-1649.
  • Horbe M.A., Horbe A.C., Teixeira J.T., Costi H.T. 1985. Granito Madeira: Petrologia, Petroquímica e Mineralizações. In: SBG, Simp. Geol. Amazônia, 3, Anais, p. 284-320.
  • Horbe M.A., Horbe A.C., Costi H.T., Teixeira J.T. 1991. Geochemical characteristics of cryolite-tin-bearing granites from Pitinga Mine, northwestern Brazil - A review. Journal of Geochemical Exploration, 40:227-249.
  • Lenharo S.L.R. 1998. Evolução magmática e modelo metalogenético dos granitos mineralizados da região de Pitinga, Amazonas, Brasil Tese de Doutorado, Escola Técnica da Universidade de São Paulo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 290 p.
  • Lenharo S.L.R., Moura M.A., Botelho N.F. 2002. Petrogenetic and mineralization processes in Paleo to Mesoproterozoic rapakivi granites: examples from Pitinga and Goiás, Brazil. Precambrian Research, 119:277-299.
  • Lenharo S.L.R., Pollard P.J., Born H. 2003. Petrology and textural evolution of granites associated with tin and raremetals mineralization at the Pitinga mine, Amazonas, Brazil. Lithos, 66:37-61.
  • Minuzzi O.R.R. 2005. Gênese e evolução da mineralização de criolita, pirocloro e columbita da subfácies albita granito de núcleo, mina Pitinga, Amazonas, Brasil Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 182 p.
  • Minuzzi O.R.R., Bastos Neto A.C., Formoso M.L.L., Andrad S., Janasi V.A., Flores J.A.A. 2008. Rare earth element and yttrium geochemistry applied to the genetic study of cryolite ore at the Pitinga mine (Amazon, Brazil). An. Acad. Bras. Ciênc 80:719-733.
  • Möller P., Dulski P., Skacki W., Malow G., Riedel E. 1988. Substitution of tin in cassiterite by tantalum, niobium, tugsten, iron and manganese. Geochemical et Cosmochimica Acta, 52:1497-1503.
  • Moura M.A., & Botelho N.F. 1994. Estudo de micas litiníferas e sua importância para a caracterização das rochas da zona greisenizada principal do Maciço Estanífero de Mangabeira, GO. Boletim de Geociências do CentroOeste, 17:39-48.
  • Rieder M., Cavazzini G., D’Yakonov Y.S., FrankKamenetskii V.A., Gottardi G., Guggenheim S., Koval P., Müller G., Neiva A.M.R., Radoslovich E.W., Robert J.L., Sassi F.P., Takeda H., Weiss Z., Wones D.R. 1998. Nomenclature of the micas. The Canadian Mineralogist, 36:905-912.
  • Santos J.O.S., Hartmann L.A., Gaudette H.E., Groves D.I., McNaugthon N.J., Fletcher L.R.A. 2000. New understanting of the Provinces of Amazon Craton based on Integration of Field Mapping and U-Pb and Sm-Nd geochronology. Gondwana Research 3(4):453-488.
  • Santos J.O.S., Hartmann L.A., MCnaughton N.J., Fletchu I.R. 2002. Timing of mafic magmatism in the Tapajós Province (Brazil) and implications for the evolution f the Amazon Craton: evidence from baddeleyite and zircon U-Pb SHRIMP geochronology. Journal of South American Earth Sciences, 15:409-429.
  • Souza V.S., & Botelho N.F. 2002. Geologia do depósito de estanho do Bom Futuro (Rondônia) e composição dos fluidos nos sistemas de veios e greisens. In: Klein E.L., Vasquez M.L., Rosa-Costa L.T. (eds.) Contribuições à Geologia da Amazônia Belém, SBG-NO, p. 199-214.
  • Sparrenberger I. 2003. Evolução da mineralização primária estanífera associada ao Maciço Granítico Santa Bárbara, Rondônia Tese de Doutorado, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 252 p.
  • Stone M., Exley C.S., George M.C. 1988. Compositions of trioctahedral micas in the Cornubian batholith. Mineralogical Magazine, 52:175-182.
  • Sun S., Yu J. 1999. Fe-Li micas: a new approach to the substitution series. Mineralogical Magazine, 63(6):933-945.
  • Tassinari C.C.G., & Macambira M.A. 2004. Evolução Tectônica do Craton Amazônico. In: Mantesso-neto V., Bartorelli A., Carneiro C.D.R., Brito Neves B.B. de (eds.) Geologia do Continente Sul Americano: Evolução da obra de F.F.M. de Ameida São Paulo, BECA, p. 471-486.
  • Tindle A.G., & Webb P.C. 1990. Estimation of lithium contents in trioctahedral micas using microprobe data: application to micas from granitic rocks. European Journal of Mineralogy, 2:595-610.
  • Tischendorf G., Gottesmann B., Forster H.J., Trumbull R.B. 1997. On Li-bearing micas: Estimating Li from electron microprobe analysis and an improved diagram for graphical representation. Mineralogical Magazine, 61:809-834.
  • Tischendorf G., Rieder M., Forster H.J., Gottesmann B., Guidotti C.V. 2004. A new graphical presentation and subdivision of potassic micas. Mineralogical Magazine, 68(4):649-667.
  • Tuttle O.F., & Bowen N.L. 1958. Origin of granite in the light of experimental studies in the system NaAl Si3O8 - KAlSi3O8 - SiO2 - H2O. Geol. Soc. Amer. Mem., 74:1-153.
  • Valério C.S., Souza V.S., Macambira M.J.B. 2009. The 1.90-1.88 Ga magmatism in the southernmost Guyana Shield, Amazonas, Brazil: Geology, geochemistry, zircon geochronology, and tectonic implications. Journal of South American, 28(3):304-320.
  • Veiga Jr. J.P., Nunes A.C.B., Souza E.C.D., Santos J.O.S., Amaral J.E. de, Pessoa M.R., Souza S.A.S. 1979. Projeto sulfetos de Uatumã Manaus, DNPM/CPRM, Relatório técnico final 6, 1.635 p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2011

Histórico

  • Recebido
    01 Mar 2011
  • Aceito
    13 Out 2011
Sociedade Brasileira de Geologia R. do Lago, 562 - Cidade Universitária, 05466-040 São Paulo SP Brasil, Tel.: (55 11) 3459-5940 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: sbgeol@uol.com.br