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Estudo comparativo de complicações durante o uso do aparelho de Herbst com cantiléver e com splint inferior de acrílico removível

Resumos

OBJETIVO: verificar e comparar os tipos de complicações durante o tratamento com o aparelho de Herbst com cantiléver (CBJ) e com splint removível inferior. MÉTODOS: vinte e um pacientes tratados consecutivamente com o CBJ foram comparados a vinte e um pacientes tratados consecutivamente com o aparelho de Herbst com coroas de aço nos primeiros molares superiores e com splint de acrílico inferior removível. A idade inicial média para o grupo com CBJ foi de 12 anos e 3 meses, e para o grupo com splint foi de 11 anos e 3 meses. Ambos os grupos utilizaram o aparelho por um período de 12 meses. A partir da ficha clínica dos pacientes foi realizado um levantamento de ocorrências de complicações acontecidas durante o tratamento com os aparelhos de Herbst. RESULTADOS: o número total de ocorrências de complicações foi de 24 para o grupo com CBJ e de 53 para o grupo com splint. O teste de Mann-Whitney (p<0,05) demonstrou diferença significativa entre os dois tipos de tratamento em relação ao total de ocorrências de complicações durante o tratamento. A prevalência de pacientes que apresentaram alguma complicação durante o tratamento foi de 66,67% para os pacientes tratados com CBJ, e de 85,71% para os pacientes tratados com splint. CONCLUSÕES: o grupo com CBJ apresentou menor número de complicações durante o tratamento com o aparelho de Herbst. Em ambos os grupos, nenhum paciente apresentou individualmente um grande número de complicações. O aparelho CBJ é preferível ao modelo com splint de acrílico inferior removível, devido à economia de tempo clínico e laboratorial.

Aparelho de Herbst; Classe II; Complicações


OBJECTIVE: To assess and compare the type of complications during Herbst treatment with Cantilever Bite Jumper (CBJ) and removable mandibular splint. METHODS: Twenty one consecutive Herbst patients treated with the CBJ were compared with twenty one patients consecutively treated with Herbst with stainless steel crowns on the maxillary first molars and a removable mandibular acrylic splint. The initial mean age for the CBJ group was 12 years and 3 months and for the Splint group was 11 years and 3 months. Both groups used the Herbst appliance for 12 months. Based on the patients' clinical records an occurrence survey of complications during Herbst treatment was performed. RESULTS: There were 24 complications for the CBJ and 53 for the Splint group, which were statistically different (Mann-Whitney test, p<0.05). The prevalence of patients exhibiting complications during treatment was 66.67% in the CBJ and 85.71% in the Splint group. The frequencies of complications were also statistically different between the groups. CONCLUSIONS: The CBJ exhibited a significantly smaller number of complications during Herbst appliance treatment than the removable mandibular splint. Herbst appliance with first molar crowns and a cantilever on the mandibular molars is preferable to the removable mandibular acrylic splint because of savings in clinical and laboratory time.

Herbst appliance; Class II; Complications


ARTIGO INÉDITO

Estudo comparativo de complicações durante o uso do aparelho de Herbst com cantiléver e com splint inferior de acrílico removível

Alexandre MoroI; Guilherme JansonII; Ricardo MorescaIII; Marcos Roberto de FreitasIV; José Fernando Castanha HenriquesV

IDoutor em Ortodontia pela Faculdade de Odontologia de Bauru - USP. Professor Associado da UFPR - Graduação e Pós-graduação em Ortodontia. Professor Titular da Universidade Positivo - Graduação e Pós-graduação em Ortodontia

IIProfessor Titular e Chefe do Departamento de Odontopediatria, Ortodontia e Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia de Bauru - USP. Coordenador do Curso de Mestrado em Ortodontia

IIIDoutor em Ortodontia pela Faculdade de Odontologia de São Paulo - USP. Professor Adjunto da UFPR - Graduação e Pós-graduação em Ortodontia. Professor Titular da Universidade Positivo - Graduação e Pós-graduação em Ortodontia

IVProfessor Titular do Departamento de Odontopediatria, Ortodontia e Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia de Bauru - USP. Coordenador do Curso de Doutorado em Ortodontia

VProfessor Titular do Departamento de Odontopediatria, Ortodontia e Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia de Bauru - USP

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Alexandre Moro Rua Cel. Dulcídeo, 1558 - Água Verde CEP: 80.250-100 - Curitiba / PR E-mail: alexandremoro@uol.com.br

RESUMO

OBJETIVO: verificar e comparar os tipos de complicações durante o tratamento com o aparelho de Herbst com cantiléver (CBJ) e com splint removível inferior.

MÉTODOS: vinte e um pacientes tratados consecutivamente com o CBJ foram comparados a vinte e um pacientes tratados consecutivamente com o aparelho de Herbst com coroas de aço nos primeiros molares superiores e com splint de acrílico inferior removível. A idade inicial média para o grupo com CBJ foi de 12 anos e 3 meses, e para o grupo com splint foi de 11 anos e 3 meses. Ambos os grupos utilizaram o aparelho por um período de 12 meses. A partir da ficha clínica dos pacientes foi realizado um levantamento de ocorrências de complicações acontecidas durante o tratamento com os aparelhos de Herbst.

RESULTADOS: o número total de ocorrências de complicações foi de 24 para o grupo com CBJ e de 53 para o grupo com splint. O teste de Mann-Whitney (p<0,05) demonstrou diferença significativa entre os dois tipos de tratamento em relação ao total de ocorrências de complicações durante o tratamento. A prevalência de pacientes que apresentaram alguma complicação durante o tratamento foi de 66,67% para os pacientes tratados com CBJ, e de 85,71% para os pacientes tratados com splint.

CONCLUSÕES: o grupo com CBJ apresentou menor número de complicações durante o tratamento com o aparelho de Herbst. Em ambos os grupos, nenhum paciente apresentou individualmente um grande número de complicações. O aparelho CBJ é preferível ao modelo com splint de acrílico inferior removível, devido à economia de tempo clínico e laboratorial.

Palavras-chave: Aparelho de Herbst. Classe II. Complicações.

INTRODUÇÃO

Desde que Pancherz13; em 1979, reintroduziu o aparelho de Herbst3 na prática clínica, ele tem despertado grande interesse. Já foram propostas várias alterações em seu sistema telescópico e, também, diferentes formas de inserção de seu mecanismo nas arcadas dentárias4-12. Ainda, durante os últimos 20 anos, em grande número de pesquisas1,11,13,15,16,19 têm sido avaliados os efeitos dentários e esqueléticos do tratamento com esse aparelho.

Mais recentemente, duas investigações2,17 sobre a taxa de complicações durante o tratamento com o Herbst revelaram que o padrão de complicações depende do tipo de aparelho utilizado, sendo observadas mais fraturas nos pacientes que usaram o aparelho com bandas. Mais descolagens foram encontradas nos pacientes que fizeram uso do splint metálico. Apesar de não ter ocorrido diferença na frequência geral de complicações quando comparados o aparelho com bandas e o modelo com splint metálico, foi recomendado o uso desse a fim de poupar tempo tanto de atendimento clínico quanto de laboratório.

Em 2007, Schiöth et al.18 compararam a prevalência do tipo e da frequência das complicações com o uso dos splints metálicos total (canino a molares) e reduzido (canino a segundo pré-molar). Concluíram que o descolamento do splint superior é a principal complicação durante o uso do aparelho de Herbst com splint metálico. A redução do comprimento do splint inferior não aumenta a prevalência das complicações, mas reduz os gastos, e seu uso pode ser recomendado.

Durante os últimos anos, tivemos a oportunidade de testar vários modelos de desenho de inserção do sistema telescópico do Herbst para o tratamento da Classe II. O objetivo era achar um modelo que fosse mais adequado à realidade brasileira, sendo que dois modelos ganharam a nossa preferência: o aparelho de Herbst com cantiléver (CBJ)5,10 e o aparelho de Herbst com splint inferior removível de acrílico9.

Até o presente momento, nenhum estudo comparou as complicações do aparelho de Herbst com cantiléver e as do modelo com splint inferior removível de acrílico. Sendo assim, o objetivo deste estudo é comparar as complicações desses dois tipos de aparelho de Herbst a fim de avaliar se um aparelho resulta em mais quebras do que o outro, se a prevalência geral de pacientes que exibiram complicações é diferente entre os grupos, e se um modelo estaria mais indicado do que o outro para o tratamento da Classe II.

MATERIAL E MÉTODOS

Amostra

A amostra utilizada no presente estudo foi dividida em dois grupos (Fig. 1). O Grupo I consistiu de pacientes leucodermas de ambos os sexos (15 homens e 6 mulheres), portadores de má oclusão de Classe II, com uma média de idade no início do tratamento de 12 anos e 3 meses. Esses pacientes foram tratados com o aparelho de Herbst com cantiléver (CBJ) (Ormco® - Glendora, EUA), constituído de quatro coroas de aço nos primeiros molares superiores e inferiores. Os molares superiores eram conectados com um arco transpalatino. Os molares inferiores foram conectados por meio de um arco lingual que passava na face lingual dos incisivos inferiores, sem possuir um apoio oclusal nos dentes posteriores. Os sistemas telescópicos dos lados direito e esquerdo foram presos com parafusos do tipo "allen" nos pivôs superiores e inferiores. O tratamento desses pacientes foi realizado na clínica de pós-graduação em Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru-USP.


O Grupo II consistiu de pacientes leucodermas de ambos os sexos (11 homens e 10 mulheres), portadores de má oclusão de Classe II, com uma média de idade no início do tratamento de 11 anos e 3 meses. Esses pacientes foram tratados com o aparelho de Herbst com coroas de aço nos primeiros molares superiores e splint de acrílico inferior removível. Os molares superiores eram conectados com um arco transpalatino. O sistema telescópico utilizado nesse aparelho de Herbst foi o de tipo I da Dentaurum® (Ispringen, Alemanha). Os sistemas telescópicos dos lados direito e esquerdo foram presos com parafusos tipo fenda nos pivôs superiores e inferiores O tratamento desses pacientes foi realizado na clínica particular de apenas um profissional.

Em ambos os grupos, os pacientes utilizaram o aparelho de Herbst por um período de 12 meses. Em ambos os grupos, as coroas de aço foram cimentadas com Fuji Ortho® LC (GC America Inc., Chicago, EUA). Todos os pacientes foram tratados até atingir uma relação molar de Classe I sobrecorrigida.

A partir da ficha clínica dos pacientes, foi realizado um levantamento da ocorrência de complicações acontecidas durante o tratamento com o aparelho de Herbst.

Para as variáveis qualitativas (prevalência de complicações e agrupamento de complicações), os tratamentos foram comparados utilizando-se o teste de Fisher ou o teste de Qui-quadrado. Valores de p<0,05 indicaram significância estatística.

Para a comparação, em relação ao total, da ocorrência de complicações no tratamento com os dois tipos de aparelho de Herbst, foi usado o teste não-paramétrico de Mann-Whitney, o que se justifica pela ausência da condição de normalidade dessa variável em cada grupo.

RESULTADOS

Após a avaliação das fichas clínicas dos pacientes, observou-se que o número total de ocorrências de complicações foi de 24 para o grupo com CBJ e de 53 para o grupo com splint.

Na Tabela 1 estão descritos os tipos de complicações e o número de ocorrências para os aparelhos de Herbst CBJ e com splint.

A fim de avaliar a prevalência de complicações em cada tipo de tratamento, testou-se a hipótese nula - de que a probabilidade de ocorrência de alguma complicação é igual para os dois tipos de tratamento - versus a hipótese alternativa de probabilidades diferentes. Na Tabela 2 e na Figura 2 são apresentados os resultados.


O resultado do teste estatístico indicou a aceitação da hipótese nula no nível de significância de 0,05 (p=0,277). Sendo assim, em relação à probabilidade de ocorrência de alguma complicação durante o tratamento, não pode-se afirmar que exista diferença significativa entre os aparelhos.

Esses resultados podem ser interpretados como a prevalência de pacientes que apresentam alguma complicação durante o tratamento. Essa prevalência é igual a 66,67% para pacientes tratados com CBJ, e 85,71% para pacientes tratados com splint.

Testou-se também a hipótese nula de que o número total de ocorrências de complicações durante o tratamento é igual para os dois tipos de tratamento, versus a hipótese alternativa de totais diferentes. Na Tabela 3 são apresentadas estatísticas descritivas e o valor de p do teste estatístico.

O resultado do teste estatístico indicou a rejeição da hipótese nula no nível de significância de 0,05 (p=0,009). Sendo assim, pode-se afirmar que, em relação ao total de ocorrências de complicações durante o tratamento, existe diferença significativa entre os dois tipos de aparelho.

Agrupando-se as ocorrências de complicações nos intervalos de 0 a 1, 2 a 3, e mais de 3, foi obtida a Tabela 4. Testou-se a hipótese nula de que a distribuição do total de ocorrências é igual para os dois tipos de tratamento, versus a hipótese alternativa de distribuições diferentes.

O resultado do teste estatístico indicou a rejeição da hipótese nula no nível de significância de 0,05 (p=0,011). Dessa forma, pode-se afirmar que as distribuições do total de ocorrências de complicações são diferentes para os dois tipos de tratamento.

DISCUSSÃO

Apesar de estar sendo amplamente utilizado na Europa e nos Estados Unidos há mais de duas décadas, somente neste século o aparelho de Herbst passou a ser mais utilizado no Brasil.

Uma das explicações para a demora em adotar essa modalidade terapêutica é o custo do aparelho. Há alguns anos, encontrava-se disponível para venda no Brasil apenas uma marca de sistema telescópico, que custava 10 vezes mais do que nos Estados Unidos. Hoje, podem-se encontrar no Brasil várias marcas de sistemas telescópicos a um custo mais acessível.

O aparelho de Herbst com cantiléver (CBJ) tem como principal vantagem11 a facilidade de confecção, pois os pivôs já vêm soldados na coroa superior e no cantiléver inferior, facilitando muito a sua confecção. Além disso, clinicamente o aparelho mostrou-se bastante resistente. As desvantagens11 do CBJ são as seguintes: o custo elevado do aparelho; a tendência de abaixamento do cantiléver inferior, provocando a inclinação do molar; e a tendência do pivô inferior machucar a bochecha do paciente durante a primeira semana de uso. Já o aparelho de Herbst com splint inferior removível tem como vantagens9: o custo reduzido; a possibilidade de remover o splint para a escovação dos dentes (o que facilita a higiene); adaptação mais fácil para o paciente; e uma curva de aprendizagem menor que a do CBJ para o profissional. A desvantagem9 observada clinicamente no aparelho de Herbst com splint foi uma menor resistência do splint inferior de acrílico.

Para avaliar de forma científica as impressões provenientes do uso clínico, foram comparados dois grupos de pacientes. O grupo CBJ foi tratado pelos alunos dos cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado) em Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru-USP, sob a supervisão de um dos autores. Todos os pacientes foram tratados pelo mesmo protocolo clínico. O grupo Splint foi tratado no consultório particular de um dos autores, utilizando-se o mesmo protocolo clínico.

Ao se avaliar a prevalência de complicações, observou-se que em 7 pacientes (33,3%) do grupo CBJ e em 3 (14,29%) do grupo Splint não houve complicações. Em 14 pacientes do grupo CBJ e 18 do grupo Splint houve algum tipo de complicação. O teste de Fisher demonstrou que não houve diferença significativa entre os grupos e que os dois grupos têm a mesma probabilidade de apresentar alguma complicação durante o tratamento. Em seu estudo, Hägg et al.2 encontraram que, dos 14 pacientes tratados com splint metálico, apenas 2 não apresentaram complicações; e que, dos 14 pacientes tratados com aparelho de Herbst com bandas, apenas 3 não apresentaram complicações. Em 2004, Sanden et al.17 encontraram em seu estudo que 33% dos pacientes que utilizaram o Herbst com bandas e 40% dos pacientes que usaram o Herbst com splint metálico não apresentaram complicações durante o tratamento.

Ao se avaliar o número total de ocorrências de complicações durante o tratamento com os aparelhos de Herbst, foram observadas 24 ocorrências de complicações com o CBJ (média de 1,1 por paciente) e 53 com o splint (média de 2,5 por paciente), tendo sido a diferença estatisticamente significativa. Portanto, a impressão clínica de que o aparelho de Herbst com cantiléver era mais resistente foi comprovada. Hagg et al.2 observaram um total de 53 ocorrências de complicações em 14 pacientes tratados com o aparelho de Herbst com splint metálico (média de 3,7 por paciente), e um total de 41 ocorrências de complicações em 14 pacientes tratados com o aparelho de Herbst com bandas (média de 2,9 por paciente). Sanden et al.17; em 2004, encontraram um total de 379 ocorrências de complicações em 134 pacientes tratados com o aparelho de Herbst com bandas (média de 2,8 por paciente), e 396 ocorrências de complicações em 182 pacientes tratados com o aparelho de Herbst com splint metálico (média de 2,1 por paciente). Portanto, pode-se afirmar que a ocorrência de complicações com o CBJ é menor do que com os aparelhos de Herbst com splint metálico, com splint de acrílico e com bandas.

Ao se avaliar individualmente a ocorrência das complicações mais comuns nos dois grupos, observou-se, para o grupo CBJ, 6 ocorrências de deslocamento da coroa e o afrouxamento do parafuso. Uma possibilidade para se evitar o deslocamento da coroa seria o jateamento da coroa com óxido de alumínio antes da sua cimentação. Quanto aos parafusos, alguns autores12,14 recomendam o uso de cola Ceka Bond® (Preat Corp., Santa Ynez, CA, EUA) antes da fixação do parafuso. Em 5 ocasiões, observou-se lesão no palato devida ao arco transpalatino (ATP), mesmo tendo o ATP sido confeccionado com uma distância de 4mm de afastamento em relação ao palato. Isso ocorre devido à força de intrusão desenvolvida pelo aparelho. Alguns autores12 recomendam a não colocação do ATP; entretanto, corre-se o risco de intruir mais o molar de um lado que do outro.

Para Schiöth et al.18; houve 24 ocorrências de afrouxamento do parafuso. Para explicar essa maior ocorrência, poder-se-ia especular que o parafuso tipo fenda é menos eficiente do que o tipo "allen". Outra explicação estaria no fato de que, como o paciente remove o splint inferior após as refeições para a higiene bucal, a remoção e a colocação podem acabar forçando o sistema telescópico e facilitar o afrouxamento do parafuso. Outra ocorrência bastante frequente com o splint foi a sua fratura, em 13 ocasiões. Isso aconteceu apesar de os aparelhos terem sido confeccionados com um fio de reforço por lingual dos dentes anteriores inferiores, e o acrílico ter sido mais espesso na região anterior do splint. Da mesma forma que no grupo CBJ, em 6 ocasiões o grupo Splint apresentou lesão no palato devida ao arco transpalatino. Cabe ressaltar também que, apesar de o splint inferior ser removível, dois pacientes não o utilizaram corretamente e relataram ter ficado alguns períodos sem usá-lo. Teoricamente, isso não deveria acontecer, pois a coroa superior com o tubo fica cimentada no molar superior e, se paciente não colocar o splint, o tubo pode machucar o vestíbulo inferior.

Schiöth et al.18; ao comparar as complicações com o uso dos splints metálicos total (canino a molares) e reduzido (canino a segundo pré-molar), dividiram os pacientes em quatro categorias de acordo com a frequência das complicações: baixa frequência (1 a 3 complicações), frequência moderada (4 a 6 complicações), alta frequência (7 a 10 complicações), muito alta frequência (mais de 10 complicações). A maioria dos pacientes avaliados teve baixa frequência e em torno de 10% dos pacientes dos dois grupos18 tiveram alta frequência. Sanden et al.17 encontraram que 55% dos pacientes experimentaram de 1 a 3 complicações, 29% de 4 a 6, 13% de 7 a 10, e 3% mais de 10 ocorrências de complicações. Ao analisar os 14 pacientes tratados com CBJ e 19 pacientes tratados com splint que apresentaram complicações, resolvemos dividi-los em três grupos: 0-1, 2-3, ou mais que 3 complicações durante o tratamento com o aparelho de Herbst. No grupo CBJ nenhum paciente apresentou individualmente mais de 3 ocorrências de complicações, o que demonstra o bom desempenho clínico do aparelho. No grupo Splint, 33% do pacientes tiveram mais de 3 ocorrências de complicações durante o tratamento, e o número máximo de 6 foi observado em dois pacientes. Ao comparar os resultados desse estudo com os de Schiöth et al.18 e Sanden et al.17; pode-se concluir que os aparelhos de Herbst com cantiléver e com splint inferior apresentaram bom desempenho clínico quando comparados ao aparelho de Herbst com splint metálico e com bandas.

CONCLUSÕES

» O grupo CBJ apresentou um menor número de complicações durante o tratamento com o aparelho de Herbst.

» Em ambos os grupos, nenhum paciente apresentou, individualmente, um grande número de complicações.

» O aparelho de Herbst com coroas de aço nos primeiros molares e cantiléver nos molares inferiores (CBJ) é preferível ao modelo com splint inferior removível de acrílico, devido à economia de tempo clínico e laboratorial.

Enviado em: junho de 2008

Revisado e aceito: outubro de 2008

[Material suplementar]

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  • 3. Herbst E. Atlas y tratado de Ortodoncia. Madrid: Librería Académica; 1912.
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  • Endereço para correspondência:
    Alexandre Moro
    Rua Cel. Dulcídeo, 1558 - Água Verde
    CEP: 80.250-100 - Curitiba / PR
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Mar 2011
    • Data do Fascículo
      Fev 2011

    Histórico

    • Recebido
      Jun 2008
    • Revisado
      Out 2008
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