Acessibilidade / Reportar erro

O "paradoxo" e a "galinha": o controle organizacional e as comunidades de prática

Resumos

Uma comunidade de prática (CdP) pode ser entendida como qualquer grupo cujas pessoas, possuindo prática e referência epistemológica em comum, reúnem-se regularmente para refletir sobre essa prática, aprendendo coletivamente a entendêla e, principalmente, a fazê-la melhor. Mas o que acontece com uma CdP quando ela é "descoberta", incentivada e gerida por uma organização? De que forma a cultura e o controle organizacionais tomam parte nessa relação? Os estudos organizacionais sobre CdP’s têm tido, predominantemente, uma abordagem funcionalista. Partindo de outra perspectiva, este texto pretende fazer uma análise teórico-conceitual sobre as CdP’s e sua relação com as organizações da produção e do trabalho, particularmente no que se referem a aspectos de controle organizacional presentes em tal relação, e tomando como base obras e estudos organizacionais recentes sobre o assunto. Conclui-se que a gestão de CdP’s nas organizações é uma impossibilidade conceitual, resultando num paradoxo: ao gerir-se uma CdP, ela deixa de existir.


A community of practice (CoP) can be understood as any group whose members, sharing common practice and epistemological reference, meet regularly to reflect together on their practice, learning to understand it and, mainly, to make it better. But what it happens to a CoP when it is "discovered", stimulated and managed by an organization? And how organizational culture and control interfere in this relationship? Organizational studies on CoP’s have predominantly had a functionalist approach. In this text, the intention is to make theoretical analysis on CoP’s and its relationship with organizations, focusing, however, on aspects of organizational culture and control. Support was sought on recent works of organizational studies. Conclusion was draw that CoP’s management by organizations is a conceptual impossibility, resulting in a paradox: in case of being managed, CoP dies.


ARTIGO

O "paradoxo" e a "galinha": o controle organizacional e as comunidades de prática1 1 Os autores agradecem as contribuições ao texto realizadas pelo prof. Pedro Lincoln C. L. de Mattos; e as inspirações teóricas dadas em aula pelos professores Cristina Amélia P. de Carvalho e Marcelo Milano F. Vieira.

Guilherme Lima MouraI, Lourdes Magalhães C. de O. AndradeII

IProf. UFPE/CAA/Núcleo de Gestão e Doutorando Lingüística UFPE/CAC/PPGL

IIMestra UFPE/PROPAD

RESUMO

Uma comunidade de prática (CdP) pode ser entendida como qualquer grupo cujas pessoas, possuindo prática e referência epistemológica em comum, reúnem-se regularmente para refletir sobre essa prática, aprendendo coletivamente a entendêla e, principalmente, a fazê-la melhor. Mas o que acontece com uma CdP quando ela é "descoberta", incentivada e gerida por uma organização? De que forma a cultura e o controle organizacionais tomam parte nessa relação? Os estudos organizacionais sobre CdP’s têm tido, predominantemente, uma abordagem funcionalista. Partindo de outra perspectiva, este texto pretende fazer uma análise teórico-conceitual sobre as CdP’s e sua relação com as organizações da produção e do trabalho, particularmente no que se referem a aspectos de controle organizacional presentes em tal relação, e tomando como base obras e estudos organizacionais recentes sobre o assunto. Conclui-se que a gestão de CdP’s nas organizações é uma impossibilidade conceitual, resultando num paradoxo: ao gerir-se uma CdP, ela deixa de existir.

ABSTRACT

A community of practice (CoP) can be understood as any group whose members, sharing common practice and epistemological reference, meet regularly to reflect together on their practice, learning to understand it and, mainly, to make it better. But what it happens to a CoP when it is "discovered", stimulated and managed by an organization? And how organizational culture and control interfere in this relationship? Organizational studies on CoP’s have predominantly had a functionalist approach. In this text, the intention is to make theoretical analysis on CoP’s and its relationship with organizations, focusing, however, on aspects of organizational culture and control. Support was sought on recent works of organizational studies. Conclusion was draw that CoP’s management by organizations is a conceptual impossibility, resulting in a paradox: in case of being managed, CoP dies.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

REFERÊNCIAS

ANTONELLO, C. S.; RUAS, R. Formação gerencial: pós-graduação lato sensu e o papel das comunidades de prática. XXVI Encontro Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração (ENANPAD). Anais eletrônicos Salvador: ANPAD, 2002.

ARGYRIS, C. Enfrentando Defesas Empresariais. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

BRONZO, M.; GARCIA, F. C. As bases epistemológicas do pensamento administrativo convencional e a crítica à teoria das organizações. In: RODRIGUEZ, S. B.; CUNHA, M. P. (org.). Estudos organizacionais: novas perspectivas na administração de empresas. São Paulo: Iglu, 2000.

CARVALHO, C. A. Poder, conflito e controle nas organizações modernas. Série Apontamentos (25), Maceió: Editora da UFAL, 1998.

CARVALHO, R. Controle Organizacional: evolução, transformações e perspectivas. In: ENCONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS, 2., 2002, Recife. Anais... Recife: Observatório da Realidade Organizacional: PROPAD/UFPE: ANPAD, 2002. 1 CD.

CRUBELLATE, J. M. "Remendo novo em roupa velha": controle social normativo em organizações econômicas e a emergência de novos modelos estruturais. In: ENCONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS, 2., 2002, Recife. Anais... Recife: Observatório da Realidade Organizacional : PROPAD/UFPE : ANPAD, 2002. 1 CD.

DELLAGNELO, Eloise; MACHADO-DA-SILVA, Clóvis. Literatura sobre novas formas organizacionais: onde se encontram as evidências empíricas de ruptura com o modelo burocrático de organizações? XXIV Encontro Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração (ENANPAD). Anais Recife: ANPAD, 2000.

EASTERBY-SMITH, M.; SNELL, R.; GHERARDI, S. Organizational learning: diverging communities of practice? Management Learning. v.29, n.3, p.259-272, 1998.

FERREIRA, A. B. de H. et al. Dicionário Aurélio básico. São Paulo: Nova Fronteira, 1997.

FOX, S. From management education and development to the study of management learning. In: BURGOYNE, J.; REYNOLDS, M. (Ed.). Management learning: integrating perspectives in theory and practice. London: Sage, 1997.

FREITAS, M.E. Cultura organizacional: identidade, sedução e carisma? Rio de Janeiro: FGV, 1999.

GHERARDI, S.; NICOLINI, D.; ODELLA, F. Toward a social understanding of how people learn in organizations. Management Learning, v.29, n.3, p.273-297, 1998.

GRANDORI, Anna. Inventing effective organization forms. 11th EGOS Colloquium (European Group for Organizational Studies) "The production and diffusion of managerial and organizational knowledge". Paris, 6-8 de julho, 1993.

GUERREIRO RAMOS, Alberto. A nova ciência das organizações: uma reconceitualização da riqueza das nações. São Paulo: FGV, 1981.

LAVE, J.; WENGER, E. Situated learning: legitimate peripheral participation. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.

MEDEIROS, E. G.; ENDE, M. V.; SILVA, S. O. da. Cultura nas organizações. Disponível em: <http://gestor.adm.ufrgs.br/adp/culturaorg_adpo14_2000_1.html>. Acesso em: 26 dez. 2003.

MOTTA; F. C. P.; VASCONCELOS, I. F. G. de. Teoria geral da administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002;

MOURA, G. L. "Somos uma comunidade de prática?": um estudo de caso envolvendo aprendizagem e consultores organizacionais In: ENCONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS, 3., 2004, Atibaia. Anais eletrônicos : ANPAD, 2004.

ORWELL, G. A revolução dos bichos. Virtual Books On Line, 2000. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/cultvox>. Acesso em: 01 dez. 2004.

PAGÈS, M. et al. O poder das organizações. São Paulo: Atlas, 1993.

SILVA, R. C. da. Controle organizacional, cultura e liderança: evolução, transformações e perspectivas. In: ENCONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS, 2., 2002, Recife. Anais eletrônicos... Recife: Observatório da Realidade Organizacional : PROPAD/UFPE : ANPAD, 2002. 1 CD.

VIEIRA, Marcelo M. F.; MISOCZKY, Maria C. Instituições e Poder: explorando a possibilidade de transferências conceituais. In: ENCONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS, 2000, Curitiba. Anais... Curitiba: ANPAD, 2002.

WEBER, Max. Os fundamentos da organização burocrática: uma construção do tipo ideal. In: CAMPOS, Edmundo (org.). Sociologia da burocracia. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

WENGER, E. C.; SNYDER, W. M. Comunidades de prática: a fronteira organizacional. Aprendizagem Organizacional / Harvard Business Review. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

YI, J. Q. Facilitating learning and knowledge creation in community of practice: a case study in a corporate learning environment. In: COAKES, E.; WILLIS, D.; CLARKE, S. (ed.). Knowledge management in the sociotechnical world: the grafitti continues. London: Springer-Verlag, 2002.

  • ANTONELLO, C. S.;
  • ARGYRIS, C.
  • BRONZO, M.;
  • CARVALHO, C. A.
  • CARVALHO, R.
  • DELLAGNELO,
  • EASTERBY-SMITH,
  • FERREIRA, A. B.
  • FOX,
  • FREITAS, M.E.
  • GHERARDI,
  • GRANDORI,
  • GUERREIRO RAMOS,
  • LAVE,
  • MEDEIROS, E. G.;
  • MOTTA; F. C. P.;
  • MOURA, G. L.
  • ORWELL, G. A
  • PAGČS, M. et al.
  • SILVA, R. C. da.
  • VIEIRA, Marcelo
  • WEBER, Max. Os
  • WENGER, E. C.;
  • YI, J.
  • 1
    Os autores agradecem as contribuições ao texto realizadas pelo prof. Pedro Lincoln C. L. de Mattos; e as inspirações teóricas dadas em aula pelos professores Cristina Amélia P. de Carvalho e Marcelo Milano F. Vieira.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Out 2014
    • Data do Fascículo
      Mar 2006
    Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia Av. Reitor Miguel Calmon, s/n 3o. sala 29, 41110-903 Salvador-BA Brasil, Tel.: (55 71) 3283-7344, Fax.:(55 71) 3283-7667 - Salvador - BA - Brazil
    E-mail: revistaoes@ufba.br