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Feminine after cricothyroid approximation?

REFLETINDO SOBRE O NOVO

Feminine after cricothyroid approximation?

Comentado por: Mônica Medeiros de Britto Pereira

Professora Adjunto da Universidade Veiga de Almeida - UVA - Rio de Janeiro (RJ), Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Mônica Medeiros de Britto Pereira R. Ibituruna, 108, casa 3, conj. 202 Tijuca, Rio de Janeiro - RJ, CEP 20271-020 E-mail: monicabp@uva.br

O transexualismo, também chamado de disforia de gênero, ou ainda desordem de identidade de gênero se constitui em um distúrbio de identidade sexual, onde há uma incompatibilidade entre o sexo anatômico do indivíduo e sua identidade de gênero. Apesar de este ser um distúrbio conhecido há muito tempo, sempre foi cercado de tabus. Atualmente este assunto tem tido uma melhor aceitação na sociedade e mais recursos de tratamentos como o psiquiátrico, endocrinológico, cirúrgico e fonoaudiológico estão disponíveis para o indivíduo transexual. No que se refere ao tratamento fonoaudiológico, este pode ser um novo campo de atuação, ainda não explorado no Brasil.

No transexualismo masculino para feminino (M > F) a pessoa apesar de ser anatomicamente do gênero masculino apresenta identidade do gênero feminino. Em relação à voz, se faz necessária uma adequação, pois a freqüência fundamental (F0) do homem é mais baixa do que a da mulher, sendo este parâmetro o maior responsável pela diferença entre os padrões vocais de homens e mulheres. Neste caso pode ser utilizado o recurso da Aproximação Cricotireoidea, também denominada de Tireoplastia tipo IV, que promove a elevação da freqüência fundamental tornando a voz mais feminina. Entretanto, o aumento da F0 apenas terá valor se indicar com clareza que se trata de uma voz feminina, caso contrário o indivíduo irá necessitar de uma terapia vocal e da fala. Neste sentido, o artigo em questão teve por objetivo investigar a efetividade da Aproximação Cricotireoidea (CA) na feminização da voz do ponto de vista perceptivo. O que se pretendeu investigar é o quão feminino uma voz pode ser percebida, após a cirurgia de Aproximação Cricotireoidea.

O método da pesquisa envolveu um grupo de juízes que deveriam julgar a voz de indivíduos transexuais M > F após a cirurgia de Aproximação Cricotireoidea em comparação com a voz de homens e mulheres biológicos. O grupo de juizes foi constituído por 42 estudantes, distribuídos igualmente em homens e mulheres, com média de idades em torno de 21 anos. Os participantes da pesquisa foram nove transexuais M > F (média de idade 43,7 anos) com diagnóstico confirmado de disforia de gênero recrutados na Ghent University Hospital. Todos haviam sido submetidos ao procedimento de Aproximação Cricotireoidea a pelo menos um mês antes. A F0 média durante a leitura, extraída antes da cirurgia, variava de 96,64 Hz a 148,78 Hz, o que situava os participantes em um intervalo de pitch considerado como masculino. Após a cirurgia a F0 subiu de 96,64 para 241,7 Hz (média 169,1 Hz).

Participaram também do estudo nove indivíduos do sexo masculino e nove do sexo feminino. Todos os 27 participantes, vestidos de mulher, tinham o holandês como língua nativa e foram filmados sentados de forma que apenas a cabeça e o ombro pudessem ser visualizados, lendo um texto.

Os 27 vídeos foram apresentados de forma aleatória ao grupo de juizes, em um primeiro momento apenas em áudio e depois também na modalidade audiovisual, com um intervalo de 15 minutos entre as duas apresentações. Os juizes não foram informados sobre os propósitos da pesquisa e sabiam apenas que deveriam julgar a voz dos participantes em uma escala visual de 100 mm onde os extremos correspondiam a "muito masculina (0)" e "muito feminina (100)".

Os dados demonstraram que os juizes classificaram as vozes dos transexuais M > F entre as vozes dos participantes do sexo masculino e feminino, nas duas modalidade de apresentação, sendo a diferença entre os grupos significativa (Mann-Whitney Utest, p<0,001). Visando descobrir de qual gênero a voz dos transexuais de aproximava mais, foi calculado para cada um dos nove participantes transexuais a diferença em relação às médias dos escores dos grupos de homens e mulheres biológicos. A diferença em relação aos dois grupos foi calculada estatisticamente nas duas modalidades de apresentação (áudio e audiovisual). Foi observado que na modalidade áudio a diferença em relação aos participantes do sexo masculino foi menor do que em relação ao sexo feminino, mas esta diferença não foi significativa. Para a modalidade audiovisual não foi observada diferença com relação aos escores do sexo feminino e masculino.

As análises ainda buscaram investigar a extensão da correlação da percepção de feminilidade com a média da F0. Correlações positivas foram observadas em ambas as modalidades de apresentação, no entanto foram mais altas para o grupo de participantes do sexo masculino do que para o grupo de transexuais. Para o grupo do sexo feminino, não foi observado correlação significativa em nenhuma das duas modalidades.

Finalmente, foi observado que os juízes tenderam a julgar a voz dos transexuais como mais feminina na modalidade audiovisual demonstrando a influência da aparência física.

O estudo concluiu que o procedimento de Aproximação Cricotireoidea é uma opção viável para elevar o pitch da voz de indivíduos transexuais M > F, mas não suficiente para criar uma voz que é percebida como totalmente feminina. Além do pitch outras características vocais devem ser modificadas. Além disso, no presente estudo, a aparência física também demonstrou ser importante na percepção da voz.

  • Endereço para correspondência:
    Mônica Medeiros de Britto Pereira
    R. Ibituruna, 108, casa 3, conj. 202
    Tijuca, Rio de Janeiro - RJ, CEP 20271-020
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Jul 2008
    • Data do Fascículo
      Jun 2008
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