Níveis de metionina + cistina para frangos de corte nos períodos de 22 a 42 e de 43 a 49 dias de idade

Levels of methionine + cystine for broilers from 22 to 42 and 43 to 49 days old

MONOGÁSTRICOS

Níveis de metionina + cistina para frangos de corte nos períodos de 22 a 42 e de 43 a 49 dias de idade¹

Levels of methionine + cystine for broilers from 22 to 42 and 43 to 49 days old

Valene da Silva Amarante Júnior^I; Fernando Guilherme Perazzo Costa^II; Leilane da Rocha Barros^III; Germano Augusto Jerônimo do Nascimento^III; Patrícia Araújo Brandão^III; José Humberto Vilar da Silva^IV; Walter Esfrain Pereira^V; Ricardo Vianna Nunes^VI; Janaine Sena da Costa^VII

^IAluno do Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia (UFRPE/UFC/UFPB)

^IIProfessor do Departamento de Zootecnia do CCA/UFPB. E.mail: [e-mail] do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – CCA/UFPB

^IVProfessor do Centro de Formação e Tecnólogo – CFT/UFPB

^VProfessor do Departamento de Ciências Fundamentais e Sociais do CCA/UFPB

^VIProfessor do Departamento de Zootecnia/UNIOESTE, M.C. Rondon, PR

^VIIAluno do curso de Zootecnia do CCA/UFPB

RESUMO

Foram conduzidos dois experimentos com o objetivo de determinar as exigências de metionina + cistina (Met + Cis) para frangos de corte machos da linhagem Ross, dos 22 a 42 e dos 43 a 49 dias de idade. Utilizaram-se, em cada experimento, 900 frangos com peso médio inicial de 0,800 kg, aos 22 dias, e de 2,540 kg, aos 43 dias de idade, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, com seis tratamentos, seis repetições e 25 aves por unidade experimental. Os tratamentos consistiram de seis diferentes níveis de metionina sintética (0,00; 0,04; 0,081; 0,121; 0,162 e 0,202%), correspondendo aos níveis de 0,664; 0,704; 0,744; 0,784; 0,824 e 0,864% e 0,603; 0,643; 0,683; 0,723; 0,763 e 0,803% de Met + Cis total nas dietas para as fases de 22 a 42 e de 43 a 49 dias, respectivamente. Foram avaliados consumo de ração, ganho de peso, conversão alimentar, rendimento de carcaça e dos principais cortes, sendo as exigências de met + cis estimadas por meio de modelos de regressão. Considerando-se os dados obtidos, as exigências nutricionais de met + cist total foram estimadas em 0,823%, para máximo desempenho e rendimento de peito, no período 22 a 42 dias de idade, e de 0,727%, para máximo desempenho e mínima deposição de gordura abdominal, no período de 43 a 49 dias de idade.

Palavras-chave: aminoácidos sulfurosos, características de carcaça, desempenho, exigências nutricionais, frangos de corte

ABSTRACT

Two experiments were conducted with the objective of evaluating the methionine + cystine (Met + Cis) requirements, for Ross broilers, males, from 22 to 42 and 43 to 49 days old. Nine hundred broilers averaging initial body weight of 0.800 kg at 22 days old and 2.540 kg at 43 days old were used in each experiment and allotted to a completely randomized experimental design, with six treatments, six replicates and 25 birds for experimental unit. The treatments consisted of six different sinthetic methionine levels (0.00, 0.04, 0.081, 0.121, 0.162 and 0.202%), corresponding to the levels of 0.664, 0.704, 0.744, 0.784, 0.824 and 0.864% and 0.603, 0.643, 0.683, 0.723, 0.763 and 0.803% dietary total methionine + cystine, for the phases from 22 to 42 and from 43 to 49 days old, respectively. Feed intake, body weight gain, feed:gain ratio, carcass yield and the prime cuts yield were evaluated. The methionine + cystine requirements were estimated by regression models. Considering the performance data, the nutritional requirements of total methionine + cystine were 0.823% for high performance and breast yield values, in the period from 22 to 42 days old, and 0.727% for the high performance and low requirements of abdominal fat, in the period from 43 to 49 days old.

Key Words: broilers, carcass characteristics, performance, nutritional requirements, sulfurous amino acids

Introdução

A resposta de um animal a um nutriente limitante, como a metionina, em geral segue a lei dos retornos decrescentes. Isso significa que o desempenho animal melhora de forma não-linear com o aumento da suplementação dietética de metionina até que o potencial máximo de crescimento do animal, sob as condições de manejo a que está submetido, seja totalmente expresso e que maior adição de metionina não promove qualquer resposta adicional em desempenho (Brugalli, 2003).

Em relação à proteína da dieta, Boomgaardt & Baker (1973) constataram que as exigências em proteína diminuem com o avanço da idade, na medida em que há aumento potencial da exigência de aminoácidos essenciais. No entanto, Silva et al. (1995) observaram maior exigência de Met + Cis quando as aves foram alimentadas com ração contendo maior nível protéico.

O grau de desequilíbrio de aminoácidos resulta em reações variadas por parte das aves, fazendo com que o consumo seja alterado. Edmonds & Baker (1987) verificaram que o excesso de 4% de metionina em ração à base de milho e farelo de soja provoca redução no ganho de peso, porém 0,5% de excesso de metionina sobre a exigência do NRC (1984) não prejudicaria o desempenho das aves (Han & Baker, 1993).

Basicamente, as rações avícolas são formuladas à base de milho e farelo de soja, fontes de energia e proteína, respectivamente. Entretanto, esses ingredientes não fornecem os aminoácidos essenciais em quantidades suficientes para um ótimo desempenho animal. Porém, diversos fatores, como estresse, linhagem, ambiente térmico, teor de proteína da ração, energia e, principalmente, os alimentos utilizados nas formulações influenciam a exigência de aminoácidos (Conhalato et al., 1999). Além disso, o nível adequado de met + cist depende da finalidade de produção (ave inteira ou produtos processados) e dos custos de produção em relação à receita.

A metionina é o primeiro aminoácido limitante em rações para aves à base de milho e farelo de soja, destacando-se por participar na síntese de proteína, ser precursora da cisteína e doadora de radicais metil (Warnick & Anderson, 1968). No período de crescimento, as aves utilizam grandes quantidades de aminoácidos sulfurosos, principais limitantes nas rações, que, geralmente são suplementadas com aminoácidos sintéticos disponíveis no mercado (Silva et al., 1999).

Portanto, objetivou-se, neste trabalho, determinar a exigência de met + cist em rações para frangos de corte nas fases de 22 a 42 e de 43 a 49 dias de idade e seu efeito sobre o desempenho e as características de carcaça.

Material e Métodos

Os experimentos foram conduzidos no Aviário Experimental do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba. As aves foram alojadas em um galpão de alvenaria, coberto com bagaço de cana, com 36 boxes de dimensões de 1,40 x 1,80 m, dividido por mureta de alvenaria de 0,30 cm e com piso de cimento.

Durante o período experimental, foi adotado o programa de luz contínua (24 horas de luz natural + artificial). As leituras de temperatura e umidade máximas e mínimas foram registradas diariamente utilizando-se um termômetro de bulbos seco e úmido (Tabela 1).

Durante as fases pré-inicial (1 a 7 dias de idade) e inicial (8 a 21 dias de idade), as aves receberam rações comerciais com 23 e 21% de PB e 2.930 e 3.050 kcal/kg de EM, respectivamente. As aves utilizadas nas duas fases experimentais (22 a 42 e 43 a 49 dias de idade) não foram as mesmas, sendo, portanto, realizados dois experimentos distintos. A água e a ração foram fornecidas à vontade.

Para cada fase avaliada (22 a 42 e 43 a 49 dias de idade), foram utilizados 900 frangos de corte machos da linhagem Ross, em um delineamento experimental inteiramente casualizado, distribuídos aleatoriamente em seis tratamentos, seis repetições e 25 aves por unidade experimental. Os pesos iniciais das aves foram de 800 g para a fase de 22 a 42 e 2.540 g para a fase de 43 a 49 dias de idade. Os animais foram submetidos a dietas basais (Tabela 2), calculadas para atender às exigências preconizadas por Rostagno et al. (2000), exceto para Met + Cis. As rações foram formuladas à base de milho e farelo de soja e suplementadas com seis níveis de Met + Cis (0; 0,04; 0,08; 0,12; 0,16 e 0,20%) sob a forma de DL-Metionina (99%) em substituição ao amido de milho, correspondendo aos níveis de 0,664; 0,704; 0,744; 0,784; 0,824 e 0,864% e 0,603; 0,643; 0,683; 0,723; 0,763 e 0,803% de Met + Cis total nas dietas para as fases de 22 a 42 e de 43 a 49 dias, respectivamente.

Ao final de cada fase, foram avaliados o consumo de ração, o ganho de peso e a conversão alimentar. Em seguida, após jejum de oito horas, foram abatidas quatro aves por unidade experimental, com o peso médio da parcela, para determinação dos rendimentos de carcaça (em relação ao peso vivo das aves ao abate), de peito, coxa, sobrecoxa com pele e ossos e dos pesos de coração, fígado, moela e gordura abdominal (em relação ao peso da carcaça eviscerada e sem resfriamento).

As análises estatísticas foram realizadas por meio de análise de variância, para as características avaliadas, e por modelo de regressão polinomial para as estimativas da exigência de metionina + cistina, utilizando-se o programa computacional SAS (Statistical Analysis System, 1996).

Resultados e Discussão

Os níveis de metionina + cistina, no período de 22 a 42 dias de idade, não apresentaram efeito significativo sobre a mortalidade (0,8%). Na Tabela 3, constam as médias dos dados de desempenho dos frangos. O consumo de ração não apresentou diferença significativa (P>0,05) entre tratamentos, pressupondo que, neste estudo, a variação nos níveis de Met + Cis das rações não apresentou magnitude suficiente para alterar os mecanismos do apetite, indicando que o consumo alimentar das aves foi suficiente apenas para satisfazer as necessidades energéticas.

Houve efeito (P<0,05) dos níveis crescentes de Met + Cis na ração sobre o ganho de peso das aves ( = 1,6138 + 8,2158X – 5,4222X²; R² = 0,7891), comprovando que houve aumento quadrático até o nível de 0,758%. Estes resultados estão de acordo com os obtidos por Wheeler & Latshaw (1981), que relataram que o aumento do nível de Met + Cis na dieta favorece o ganho de peso corporal e diminui o consumo de ração, e Rodrigueiro et al. (2000). Houve efeito significativo (P<0,05) para conversão alimentar (= 6,2684 – 11,889X + 7,8943X²; R² = 0,8878), com redução de forma quadrática para conversão alimentar até o nível de 0,753%, refletindo melhora na conversão alimentar até esse nível.

Na Tabela 4 estão apresentadas as médias relativas dos dados de avaliação de carcaça. Os rendimentos de coxas e sobrecoxas não foram influenciados (P>0,05) pelos níveis de Met + Cis da ração, corroborando os resultados obtidos por Barbosa (2000), que não verificou efeito tratamentos para essas variáveis. O rendimento de carcaça foi influenciado (P<0,01) pelo aumento dos níveis de Met + Cis da ração ( = 75,691 + 8,7405X, R² = 0,7607), considerando o nível de 0,864% é o melhor nível para máximo rendimento de carcaça. Rodrigueiro et al. (2000) verificaram efeito quadrático dos níveis de Met + Cis sobre o rendimento de carcaça, estimando a exigência de 0,814%.

O aumento linear do rendimento de carcaça proporcionado pelo avanço nos níveis de Met + Cis ocorreu provavelmente em virtude da otimização da deposição de tecido magro na carcaça. Esta maior exigência em relação àquelas obtidas na avaliação de desempenho pode ser explicada por Fischer (1994), que afirma que os efeitos do incremento progressivo dos níveis de aminoácidos dietéticos nas aves seguem seguinte hierarquia: exigência para máximo crescimento, exigência para melhor conversão alimentar, exigência para melhor carcaça, com menos gordura, exigência para ótima composição de carcaça e exigência para maior porcentagem de peito.

Os níveis de Met + Cis influenciaram o rendimento de peito, que aumentou de forma quadrática (P<0,05), resultando em exigência de 0,823% ( = 8,5281 + 92,134X – 55,99X²; R² = 0,91) (Figura 1), sendo superior às demais estimativas. Este resultado corrobora aqueles encontrados Sibbald & Wolinetz (1986), que afirmam que o requerimento de aminoácidos essenciais, sobretudo dos sulfurosos e de lisina, para o máximo rendimento de carne de peito estão acima do considerado adequado para o crescimento.

Os níveis de Met + Cis na dieta proporcionaram efeito linear sobre a porcentagem de gordura abdominal ( = 3,0923 – 1,294X; R² = 0,99), considerando o nível de 0,864% como ótimo para deposição mínima de gordura abdominal. O resultado obtido assemelha-se aos observados por Moran Jr. (1994) e Rodrigueiro et al. (2000). Entretanto, Barbosa (2000) não verificou efeito dos níveis de Met + Cis sobre essa variável.

Os níveis de metionina + cistina no período de 43 a 49 dias de idade não apresentaram efeito significativo sobre a motalidade (0,87%). Na Tabela 5, encontram-se as médias dos dados de desempenho. Houve efeito (P<0,05) do aumento dos níveis de Met + Cis na dieta sobre o ganho de peso das aves ( = 2,3231 + 7,8535X – 5,3981X²; R² = 0,88), que aumentou de forma quadrática até o nível de 0,727%. Os resultados apresentaram também efeito (P<0,05) dos níveis de Met + Cis na ração sobre a conversão alimentar ( = 18,346 – 44,325 + 30,551X²; R² = 0,73) das aves, ocorrendo redução quadrática até o nível de 0,725% e indicando que houve melhora nesta variável à medida que os níveis de Met + Cis se aproximaram da exigência. Estes resultados são inferiores ao nível 0,742% de Met + Cis total recomendado por Rostagno et al. (2000), ressaltando-se que a metionina é importante no desenvolvimento corporal, porém, em excesso, pode inibir o crescimento (Scott et al., 1982).

Na Tabela 6, constam as médias relativas dos dados de avaliação de carcaça. Os níveis de Met + Cis não influenciaram (P>0,05) o rendimento de carcaça e partes nobres das aves. Estes resultados estão de acordo com aqueles relatados por Moran Jr. (1992) e Barbosa (2000), que também não observaram efeito dos níveis de Met + Cis sobre o rendimento de carcaça, partes nobres e gordura abdominal de frangos de corte de 42 a 48 dias de idade. Mori et al. (1999), por sua vez, não observaram efeito sobre o rendimento de peito.

Houve efeito quadrático (P<0,01) dos níveis de Met + Cis sobre a porcentagem de gordura abdominal (Figura 2), que reduziu até o nível de 0,723%, conforme a equação = 6,0907 – 11,937X + 8,2589X². Este resultado é similar aos obtidos por Skinner et al. (1992), Moran Jr. et al. (1992) e Kerr & Kidd (1999), que também verificaram aumento do percentual de gordura abdominal de frangos na fase final. Segundo Leeson (1995), o desequilíbrio de componentes dietéticos, sobretudo de aminoácidos, limita o crescimento de tecido magro e direciona as calorias para os adipócitos, o que provavelmente deve ter ocorrido após o atendimento do nível de exigência dos frangos.

Conclusões

Os dados de desempenho e características de carcaça, nas condições em que foram realizados os dois experimentos, demonstram que é possível a utilização de um nível nutricional de 0,823% de Met + Cis total (0,739% de Met + Cis digestível) para o máximo desempenho e rendimento de peito em rações de frangos de corte machos Ross, no período de 22 a 42 dias de idade e o nível de 0,727% de Met + Cis total (0,655% de Met + Cis digestível) para o máximo desempenho e mínima deposição de gordura abdominal, no período de 43 a 49 dias de idade.

Literatura Citada

Recebido em: 19/07/04

Aceito em: 28/02/05

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1

Parte da tese de Doutorado do primeiro autor.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  10 Nov 2005
• Data do Fascículo
  Ago 2005

Histórico

• Aceito
  28 Fev 2005
• Recebido
  19 Jul 2004