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EULÁLIA HENRIQUES MAIMONE: PIONEIRA DA PSICOLOGIA EDUCACIONAL E ESCOLAR EM MINAS GERAIS

Eulália Henriques Maimone: pionera de la Psicología Educacional y Escolar en Minas Gerais

RESUMO

A pesquisa histórica sobre Psicologia Educacional e Escolar no Brasil ainda é insipiente ante a historiografia de outros campos do conhecimento psicológico. Abordagens biográficas, por exemplo, são ainda mais escassas. A fim de contribuir para suprir a lacuna, este artigo apresenta elementos históricos da trajetória de Eulália Henriques Maimone: professora, pioneira e protagonista na área de Psicologia Educacional e Escolar em Minas Gerais (Triângulo Mineiro), com seu trabalho na Universidade Federal de Uberlândia. O estudo recorreu à entrevista do tipo "história de vida" - própria da metodologia da História Oral. A entrevistada foi a primeira formadora de psicólogos em Psicologia Educacional e Escolar, além de fundar a representação estadual da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional na região. Os primeiros anos de atuação, os desafios e os enfrentamentos por que ela passou ilustram o reconhecimento e a criação de espaços de discussão e aprimoramento dessa área da psicologia.

Palavras-chave:
História da psicologia; psicologia educacional; psicologia escolar

RESUMEN

La investigación histórica sobre Psicología Educacional y Escolar en Brasil aún es poco desarrollada delante la historiografía de otros campos del conocimiento psicológico. Abordajes biográficos, por ejemplo, son aún más escasas. Con la finalidad de contribuir para suplir la laguna, este artículo presenta elementos históricos de la trayectoria de Eulália Henriques Maimone: profesora, pionera y protagonista en el área de Psicología Educacional y Escolar en Minas Gerais (Triángulo Minero), con su trabajo en la Universidad Federal de Uberlândia. El estudio recurrió a la entrevista del tipo "historia de vida" - propia de la metodología de la Historia Oral. La entrevistada fue la primera formadora de psicólogos en Psicología Educacional y Escolar, además de fundar la representación estadual de la Asociación Brasileña de Psicología Escolar y Educacional en la región. Los primeros años de actuación, los desafíos y los enfrentamientos por el cual ella, pasó a ilustrar el reconocimiento y la creación de espacios de discusión y mejoramiento de esa área de la psicología.

Palabras clave:
Historia de la psicología; psicología educacional; psicología escolar

ABSTRACT

The historical research on educational and school psychology in Brazil is still incipient when compared to the history of other fields of psychological knowledge. Biographic approaches, for example, are even scarcer. In order to contribute to fill the gap, this article presents historical elements of the trajectory of Eulália Henriques Maimone: teacher, pioneer and protagonist in the area of educational and school psychology in Minas Gerais (Triângulo Mineiro region), with his work at the Federal University of Uberlândia. This study relied upon oral history as methodology. The interviewee was the first educator of psychologists in educational and school psychology, in addition to founding the state representation of the Brazilian Association for School and Educational Psychology in the region. The first years of action, the challenges and the coping that she has undergone illustrate the recognition and creation of spaces for discussion and improvement of this area of psychology.

Keywords:
History of psychology; educational psychology; school psychology

INTRODUÇÃO

Há muitos estudos históricos associados à Psicologia no Brasil, mas tendem a ter caráter macro, a mostrar panoramas dos fenômenos, dos fatos e das personagens, dentre outros pontos. Poucos são os estudos sobre desenvolvimentos regionais e locais (cidades, instituições, cursos) ou trajetórias de profissionais, por exemplo. Entendemos que olhar para o particular e o individual pode contribuir, aos poucos, para dar profundidade à compreensão histórica de como pode ter sido a formação de cada contexto cultural e social implicado no desenvolvimento da Psicologia no país; à compreensão da vivência de processos mais amplos por grupos, instituições e indivíduos. Estudos com foco em experiências particulares podem trazer nuances ausentes nos estudos histórico-panorâmicos.

Com efeito, este artigo se propõe a contribuir para suprir tal carência. O estudo aqui relatado1 1 Os autores agradecem à Professora Doutora Maria do Carmo Guedes pela supervisão do projeto: "A História do ensino de Psicologia Escolar no Triângulo Mineiro", fruto da pesquisa de pós-doutorado do primeiro autor, que culminou no presente artigo. objetivou conhecer a trajetória e a biografia de uma das pioneiras da Psicologia da área de Psicologia Educacional e Escolar do Triângulo Mineiro em Minas Gerais: doutora Eulália Henriques Maimone2 2 A grafia Maimoni aparece em algumas referências. . O trabalho foi realizado nos moldes de uma pesquisa qualitativa, a partir da técnica metodológica da história oral de depoimento biográfico. Tendo isso como base, entende-se que essa contribuição também se circunscreve na composição da historiografia do campo da Psicologia Escolar e Educacional dado que a história pessoal se articula à história do campo como apresentar-se-á no presente texto.

A pesquisa teve abordagem qualitativa e foi desenvolvida como estudo de caso de intenções historiográfico-biográficas. O estudo de caso, segundo Bogdan e Biklen (1994Bogdan, R.; Biklen, S. (1994). Investigação qualitativa em educação. Portugal: Porto Editora.), "consiste na observação detalhada de um contexto, um indivíduo, de uma única fonte de documentos ou de um acontecimento específico" (p. 89); de fato, limita-se o grau de generalização ao mínimo, mas os dados fornecidos podem ser analisados em profundidade a fim de conhecer dada realidade. O estudo de caso se inspirou em trabalhos da historiografia da Psicologia como o Dicionário biográfico da Psicologia no Brasil - a pioneiros, e de estudos como os de Campos (2007Campos, R. H. F. (2007).Dicionário biográfico da psicologia no Brasil - Pioneiros. 2ª ed. Brasília. Recuperado de http://newpsi.bvs-psi.org.br/dicionario/saibamais-dicionariopsi.pdf
http://newpsi.bvs-psi.org.br/dicionario/...
), Barbosa (2011Barbosa, D. R. (2011).Estudos para uma história da psicologia educacional e escolar no Brasil. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo. São Paulo, SP.) - baseados em relatos orais de pioneiros - e Prates (2015Prates, E. F. (2015). Os encontros de psicólogos da área de educação (1980-1982): um projeto de psicologia escolar e educacional em São Paulo. Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, SP. ) - sobre a história da relação entre psicologia e educação. Os trabalhos de História Oral de Meihy (1991Meihy, J. C. S. B. (1991). Canto de morte Kaiowá - história oral de vida. São Paulo: Loyola.; 2000) foram basilares para a coleta de material oral. Foram realizadas duas entrevistas nos anos de 2015 e 2016, gravadas em áudio, transcritas e transcriadas (produção textual do relato oral).

Os metodólogos convencionais acreditam que o método vem à frente do objeto e pouco valorizam estudos que subvertem essa lógica. Becker (1994Becker, H. S. (1994). Métodos de Pesquisa em ciências sociais. 2 ed. (Estevão, M.; Aguiar, R., Trad.). São Paulo: Hucitec. ) fala que a mera descrição técnica encontrada em muitas pesquisas é inócua diante de um trabalho que busca na metodologia de análise os significados. Uma nova maneira de construção da ciência tem como primazia ir além da descrição técnica para compreensão interpretativa aberta, trazendo as vidas, os significados, as histórias, pensamentos e opiniões. Neste sentido, a história oral (Ver: Meihy, 2000Meihy, J. C. S. B. (2000). Manual de história oral. 3ª. ed. São Paulo: Loyola.; Bosi, 2003Bosi, Ecléa. (2003). O Tempo Vivo da Memória. Ensaios de Psicologia Social. São Paulo: Ateliê Editorial.; Ferreira, Fernandes, & Alberti, 2000Ferreira, M. M.; Fernandes, T. M.; Alberti, V. (Org.). (2000). História Oral: desafios para o século XXI. Rio de Janeiro: Fiocruz/ CPDOC.; Ricouer, 2008Ricouer, P. (2008). A memória, a história e o esquecimento. Campinas: Unicamp.; Thompson, 2002Thompson, P. (2002). A voz do passado: história oral. 3ª. ed. Tradução de Lólio Lourenço de Olvieira. Rio de Janeiro: Paz e Terra) traz uma grande contribuição e o que era tido como imprecisão e limite (o esquecimento, as falhas na memória ou omissões) passa a ser essencial para análise, pois traz a riqueza do modo particular daquele indivíduo contar sua história e falar sobre o tema que o pesquisador lhe propôs de modo único e singular.

No método escolhido as intenções da entrevista delineiam o tipo de história oral que se quer: a temática, a de tradição oral ou a história de vida (Meihy & Holanda, 2007Meihy, J. C. S. B.; Holanda, F. (2007). História oral: como fazer, como pensar. São Paulo: Contexto., p. 15). Adotou-se a "história de vida", aplicada em entrevista semiaberta com uso (consentido) de gravador. Como diz Debert (1986Debert, G. G. (1986). Problemas relativos à utilização da história de vida e história oral. In: Cardoso, R. (Org.), A aventura antropológica: teoria e pesquisa. (pp. 141-56). Rio de Janeiro: Paz e Terra., p. 142): “não se espera que a história de vida nos forneça um quadro real e verdadeiro de um passado próximo ou distante". A expectativa é que, da "experiência concreta de uma vivência específica, possamos reformular nossos pressupostos e nossas hipóteses sobre um determinado assunto" (p.142). Essa modalidade enfoca a experiência e supõe um entrevistador “imbuído de uma sensibilidade que o faça ouvir mais do que falar, estimular mais que perguntar”. Tudo para “conduzir o processo como um todo” e com “negociação” (Evangelista, 2010Evangelista, M. B. (2010). A transcriação em história oral e a insuficiência da entrevista. Oralidades - Revista de História Oral, (4)7, 169-183. , p. 174).

Para Thompson (2002Thompson, P. (2002). A voz do passado: história oral. 3ª. ed. Tradução de Lólio Lourenço de Olvieira. Rio de Janeiro: Paz e Terra) os historiadores que utilizam as histórias orais mudam a forma de historiar por enfocar a experiência comum, a realidade trivial, a visão comum sobre assuntos coletivos. Portelli (1997Portelli, A. (1997). O que faz a história oral diferente. Projeto História (14) fev., 25-39.) afirma que a história oral traz elementos inexplorados da vida cotidiana e em sua opinião nenhuma outra técnica permite tamanho alcance da dimensão da subjetividade e da vivência psicológica.

Na condição de pioneira e expoente da Psicologia Escolar e Educacional em Minas Gerais, em particular no Triângulo Mineiro, Eulália Maimone foi convidada a contar sua trajetória (sua formação e sua carreira acadêmica); ou seja, a relatar recordações dos primórdios da Psicologia Educacional e Escolar no Triângulo Mineiro (criação do curso de Psicologia onde atuou), focando no ensino da Psicologia Escolar/Educacional.

Após a leitura do “Termo de consentimento livre e esclarecido” e a assinatura de autorização para gravação e uso da transcrição das entrevistas, Eulália Maimone foi instada a falar livremente de sua trajetória na área de Psicologia. Além da gravação, foram feitas anotações em diário de campo. Em certos momentos da entrevista, perguntas específicas buscaram esclarecer pontos e adensar a rememoração. O relato teve trechos biográficos imbricados com explicitações sobre a história da Psicologia Educacional e Escolar em Minas Gerais e no Brasil; afinal, ela participou da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE). Houve uma segunda entrevista, a fim de esclarecer pontos da primeira.

Também houve coleta de dados documentais nos arquivos da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em dois momentos. O primeiro foi dedicado ao conhecimento dos arquivos e de sua organização; o segundo, à coleta - na qual foi usado diário de campo para anotações sobre referências centrais do material documental. O foco da coleta foi o período dos pedidos de autorização e reconhecimento do curso de Psicologia e primeiros projetos pedagógicos (de 1975Pessoti, I. (1975). Dados para uma história da Psicologia no Brasil. Psicologia, 1(1), 1-14. até a década de 1990, ou seja, até a primeira reforma curricular).

De início, a transcrição dos relatos orais adotou a literalidade como critério; a intenção foi facilitar a apresentação dos dados. Depois, houve a transcriação. Com efeito, nos procedimentos da História Oral, a transcrição é etapa afim à textualização como forma de sistematizar as informações levantadas; isto é, ela entra nos pressupostos postulados por Meihy (2000Meihy, J. C. S. B. (2000). Manual de história oral. 3ª. ed. São Paulo: Loyola.) quanto à pré-entrevista (preparação), entrevista e pós-entrevista (transcrição, posterior transcriação e análise).

Transcrição e textualização pressupõem uniformização textual e supressão de elementos-guia, como as perguntas feitas, para chegar a um relato encadeado e linear. Tais etapas supõem mudar códigos (do fonético ao ortográfico), o que tem levado teóricos da História Oral a reunirem instrumentos, procedimentos e técnicas que permitam legitimar ao máximo esse tipo de trabalho com o texto. A possibilidade de transcriar só é viável quando quem escreve o texto final for alguém que se envolveu em todas as etapas do trabalho. Essa condição é essencial à composição no texto final (Evangelista, 2010Evangelista, M. B. (2010). A transcriação em história oral e a insuficiência da entrevista. Oralidades - Revista de História Oral, (4)7, 169-183. ).

A transcriação permite ainda a supressão de partes e apresentação de trechos que interessam aos objetivos do estudo e, além disso, as contribuições da entrevista, o texto final aqui apresentado foi recriado com base nos documentos analisados (Barbosa & Souza, 2009Barbosa, D. R.; Souza, M. P. R. (2009). História da Psicologia: contribuições da etnografia e da história oral. Temas em Psicologia, 17(1), 81-91. ). A análise dos dados seguiu a descrição qualitativa do relato com inferências e discussões possíveis à luz da literatura da área e do que foi encontrado nos documentos escritos.

ELEMENTOS CONTEXTUAIS DA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL

No Brasil, desde os tempos coloniais e século XIX, identifica-se a produção de saberes psicológicos (3 3 Em razão de limites gráfico-editoriais, segue-se uma menção breve de outros textos de Massimi: “História das idéias psicológicas no Brasil em obras do período colonial” (1984), a organização do livro “Navegadores, colonos, missionários na Terra de Santa Cruz: um estudo psicológico da correspondência epistolar” (1997), o artigo “Historiar a psicologia: assumindo uma perspectiva e um lugar de observação” (2000) e a obra em co-autoria: “História da psicologia no Brasil: novos estudos” (2004). Massimi, 1990Massimi, M. (1990). História da psicologia brasileira: da época colonial até 1934. São Paulo: EPU.; Antunes, 2014Antunes, M. A. M. (2014). A Psicologia no Brasil: uma leitura histórica sobre sua constituição. Ed. digital. São Paulo: Educ.). Segundo Antunes (20144 4 A produção de Antunes inclui: "A consolidação da psicologia no Brasil (1930-1962): sistematização de dados e algumas aproximações analíticas", artigo de 2006; "Psicologia e educação no Brasil: um olhar histórico-crítico", capítulo do livro Psicologia escolar: teorias críticas, de 2008 e os artigos "Psicologia escolar e educacional: história, compromissos e perspectivas", também de 2008 e “A psicologia no Brasil: um ensaio sobre suas contradições”, de 2012. ), o processo histórico da Psicologia no Brasil pode ser estudado em seis períodos: 1) pré-institucional; 2) institucional; 3) da autonomização; 4) da consolidação; 5) da profissionalização; 6) da ampliação dos campos de atuação profissional e compromisso social. Ao estudo aqui apresentado interessaram os períodos 3, 4 e 5. Tais períodos têm como marco cronológico os anos 1930, quando a Psicologia se projeta como área autônoma do saber e consolida práticas tradicionais de atuação: na escola, na clínica e na organização do trabalho. É na fase 4 que a Psicologia estabelece-se como disciplina em cursos superiores e Escolas Normais; na publicação de estudos em periódicos e, além disso, têm lugar os primeiros congressos da área. Esse contexto de desdobramentos criou condições para que a Psicologia fosse, então, reconhecida como campo profissional autônomo e para que fossem criados cursos de formação profissional (fase 5) que culmina com a criação da Lei 4.119/1962.

A partir dos anos 1980-90, com a ampliação dos campos de atuação, pesquisa e qualificação do ensino, ocorreram mudanças importantes para consolidar e ampliar o acesso aos serviços, que se torna objeto de democratização. Chamada a ocupar espaços no campo das políticas públicas, a psicologia consolida o escopo de atuação e produção científica a fim de cumprir o compromisso social com os interesses e as demandas da população.

A relação entre psicologia e a educação se traduziu na constituição da área chamada Psicologia Educacional e Escolar, dentre outras áreas. Barbosa (2011Barbosa, D. R. (2011).Estudos para uma história da psicologia educacional e escolar no Brasil. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo. São Paulo, SP.), ao tratar da história dessa área, propôs esta periodização: 1) colonização, saberes psicológicos e educação (1500-1906); 2) psicologia em outros campos de conhecimento (1906-30); 3) desenvolvimentismo - o movimento dos educadores da escola nova e os psicologistas na educação (1930-62); 4) psicologia educacional e a psicologia do escolar (1962-81); 5) período de crítica (1981-90); 6) psicologia educacional e escolar: a reconstrução (1990-2000); 7) virada do século: novos rumos?

O período 1930-62 foi de intensa produção teórica e prática em Psicologia Educacional e Escolar. Na articulação com o movimento da escola nova, a Psicologia foi eleita como saber fundamento ao projeto dos escolanovistas. Cresceu o grau de intervenções no ensino, sobretudo mediante aplicação de técnicas como a psicometria (Barbosa, 2011Barbosa, D. R. (2011).Estudos para uma história da psicologia educacional e escolar no Brasil. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo. São Paulo, SP.). O quarto período, que abrange o regime de governo civil militar, apresenta avanços no campo dos estudos psicométricos. Instauram-se a produção de teorias e práticas de caráter classificatório, ajustatório, normatizador e normalizador. É a fase mais criticada de inserção do psicólogo na educação.

No período da crítica (1981-90), essa Psicologia Educacional e Escolar ideologicamente aliada a propósitos de exclusão, que marcava vidas com rótulos, discriminações e perpetuava processos de exclusão, foi objeto de denúncia e revisão. A crítica levou à busca de uma nova prática do psicólogo escolar; e se refletiu na criação, em 1990, da ABRAPEE, criação de sua revista e promoção de eventos e encontros entre profissionais da área (Barbosa, 2011Barbosa, D. R. (2011).Estudos para uma história da psicologia educacional e escolar no Brasil. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo. São Paulo, SP.).

É importante destacar que, nos anos 1980, por iniciativa do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo e Sindicato dos Psicólogos de São Paulo, foram realizados encontros para discutir temáticas da Psicologia Educacional e Escolar entre 1980 e 1982 (cf. Prates, 2015Prates, E. F. (2015). Os encontros de psicólogos da área de educação (1980-1982): um projeto de psicologia escolar e educacional em São Paulo. Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, SP. ). Nesse período, houve desdobramentos nas teorias e nas práticas. Alguns autores, em função desse processo, distinguem dois tipos de Psicologia Educacional e Escolar: uma que seria crítica, outra que não o seria ou que seria a tradicional.

Com o movimento da crítica, contrapunha-se o trabalho do psicólogo que se coadunava com processos ajustatórios, excludentes e discriminatórios ao do psicólogo atuante com fins de humanização, conscientização, produção de autonomia e autogestão, útil a uma educação justa, emancipatória e de qualidade para todos. O psicólogo educacional e escolar crítico não foca sua atenção apenas no aluno, mas em processos de escolarização e no trabalho coletivo com todos os personagens envolvidos nesse processo (comunidade escolar, aprendizes, educadores, familiares, políticas públicas de educação).

Nos anos 2000, a procura por novos rumos de intervenção e produção de conhecimentos em Psicologia Educacional e Escolar ajudou a ampliar o pensamento crítico sobre a percepção da dialética dos fenômenos, de forma a considerar as dimensões históricas, sociais e culturais. O que passa a definir o psicólogo escolar não é seu local de trabalho - a escola; mas sim o compromisso com a educação e a percepção de sua importância para promover a humanização e conscientização dos sujeitos de forma a contribuir para emancipação deles (Tanamachi & Meira, 2008Tanamachi, E. R.; Meira, M. E. M. (Org.). (2008). A atuação do psicólogo como expressão do pensamento crítico em Psicologia e Educação. Em Meira, M. E. M.; Antunes, M. A. M. (Org.), Psicologia Escolar: práticas críticas. São Paulo: Casa do Psicólogo.).

É nesse contexto que se situa a profissional Eulália Maimone e seu trabalho no campo da Psicologia na região do Triângulo Mineiro. Trabalho que lhe trouxe o adjetivo de pioneira, alusivo à condição de estar entre os primeiros a executarem dada prática em dado território. Assim, ela foi pioneira como profissional da Psicologia, seja como psicóloga atuante, como docente ou atuando em instituições do campo da Psicologia. Também foi pioneira ao participar do início da criação da ABRAPEE; sendo a primeira representante de Minas Gerais na associação. A representação estadual de Minas Gerais é a primeira instituída na ABRAPEE e existe até os dias atuais. Convém esclarecer, de antemão, que este estudo centra-se nos primórdios da atuação de Eulália Maimone, ou seja, em sua formação inicial e nos anos iniciais de sua prática profissional, como se lê a seguir.

RESULTADOS: DOCUMENTOS E RELATOS ORAIS

Com base nas fontes documentais, foi possível entender que a graduação em Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia é a segunda a ser criada na região do Triângulo Mineiro. Foi autorizada a funcionar pelo parecer 84, de dezembro de 1975, mesmo ano de criação (Pereira, 2011Pereira, M. S. (2011). Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia. In: Jacó-Vilela, Ana Maria. (Org.). Dicionário histórico de instituições de Psicologia no Brasil. Brasília: Imago, v.1, p. 315-17.). Primeiramente, foi criada a graduação em Psicologia das Faculdades Integradas de Uberaba, atual Universidade de Uberaba/UNIUBE, fundada em 1972, quando foi também autorizada a funcionar, pelo decreto 71.356/72 (Cordeiro & Silva Neto, 2011Cordeiro, E. G.; Silva Neto, W. M. F. (2011). Departamento de Psicologia da Universidade de Uberaba. In: Jacó-Vilela, A. M. (Org.), Dicionário histórico de instituições de Psicologia no Brasil. Vol. 1. (pp. 149-50). Brasília: Imago.).

A entrada da primeira turma no curso da UFU ocorreu no primeiro semestre de 1976 (Pereira, 2011Pereira, M. S. (2011). Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia. In: Jacó-Vilela, Ana Maria. (Org.). Dicionário histórico de instituições de Psicologia no Brasil. Brasília: Imago, v.1, p. 315-17.). O curso compunha a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Uberlândia. Sua fundação coube às irmãs missionárias de Jesus Crucificado, em especial Ilar Garotti. A junção da faculdade citada com quatro faculdades particulares formou a Universidade de Uberlândia, em 1969 (Pereira, 2011). Em 1978, ela se tornou Universidade Federal de Uberlândia.

A licenciatura em Psicologia, segundo Pereira (2011Pereira, M. S. (2011). Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia. In: Jacó-Vilela, Ana Maria. (Org.). Dicionário histórico de instituições de Psicologia no Brasil. Brasília: Imago, v.1, p. 315-17.), foi criada para suprir o quadro docente de escolas secundárias de formação docente. Mas já estava nos planos que os graduandos pudessem obter grau de psicólogo. Os primeiros cursos de Psicologia tinham como interesse inicial subsidiar a formação de educadores. A autorização da habilitação em formação de psicólogo foi pedida em 20 de fevereiro de 1978 (parecer 2/78).

Em 20 de março de 1979, foi solicitado ao Conselho Federal de Educação (processo 442/79) o reconhecimento do curso com habilitação: licenciatura e formação de psicólogo. O pedido foi aprovado em 1º de janeiro de 1979, com nota no Diário Oficial de 4 de março de 1981.

A estrutura do curso seguia normas do currículo mínimo, ou seja, duração de cinco anos e formação em áreas como psicologia clínica, escolar e industrial (Silva Neto, 2014Silva Neto, W. M. F. (2014).Supervisão de estágio em psicologia escolar: contribuições da psicologia crítica à formação e à prática do supervisor. Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas, SP.). Com efeito, no Departamento de Psicologia da UFU, Eulália Maimone foi a primeira psicóloga titulada; ou seja, pós-graduada, no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (mestrado em 1977 e doutorado em 1979), sob orientação de Geraldina Porto Witter, também considerada pioneira na área. Assim, ela atuou como primeira docente titulada da área no curso de Psicologia da UFU. Participou da fundação da Sociedade de Psicologia do Triângulo Mineiro como membro da diretoria e foi presidente da ABRAPEE.

Portanto, o nome Eulália Maimone se associa ao pioneirismo e protagonismo na história da Psicologia em seu território, com produções e práticas no campo educacional e escolar, participação em órgãos ou instituições da área e na atuação docente. Esses atributos parecem justificar a escolha do objeto deste estudo.

A experiência de Eulália Maimone como professora incluiu lecionar disciplinas ligadas à psicologia educacional e escolar, inclusive como supervisora de estágio. Ela contou sua trajetória de formação, sempre ligada à área educacional, e sua contratação pela UFU, em 1979.5 5 No início dos cursos não havia, como hoje, concursos públicos de ampla concorrência. O professor poderia ser convidado e contratado; em alguns casos se passava por uma comissão avaliativa para ingresso como docente no ensino superior. Porém, diferentemente do que ocorre, esse professor se titulava no decorrer do exercício docente.

Egressa da primeira turma de Psicologia da Faculdade de Ciências e Letras de Ribeirão Preto (1964-8) - depois incorporada à Universidade de São Paulo -, Eulália Maimone, uma vez diplomada, tornou-se professora da primeira turma de Psicologia da atual Universidade Estadual de São Paulo (UNESP/Assis). Esta, à época de contratação de Eulália Maimone, abrangia os Institutos Isolados de Ensino Superior do Estado de São Paulo, unificados em 1976. Convém reiterar que ela foi, também, a primeira professora titulada da UFU, a partir de 1979.

Eulália Maimone se referiu a dificuldades enfrentadas: eram relativas, em especial, a recursos estruturais e financeiros, assim como à mudança na concepção de Psicologia Educacional e Escolar, área cujos projetos tiveram sua participação. Eis como se referiu à escolha pela graduação em Psicologia e pela atuação no campo da Psicologia da Educação:

[...] Eu fiz curso de formação para o magistério. Era chamado curso clássico, científico e normal. Nós estudávamos as disciplinas do curso Normal, que são disciplinas que nos outros cursos - clássico e científico -, não existiam, que eram justamente Psicologia da Educação e Filosofia da Educação. [...] Eu acho que meu interesse, além de querer trabalhar na área de educação, tinha muita coisa da Psicologia no curso Normal. Era aquela Psicologia voltada para aqueles conceitos de memória, inteligência, por exemplo. Depois, tinha a Psicologia da Educação e os filósofos da educação, e eu acho que ninguém era psicólogo ali. Até a professora que dava Psicologia para nós não era psicóloga.

[...] Só que eu estava sem saber que rumo eu iria tomar depois que eu terminei o curso. Eu até pensei em estudar em Belo Horizonte [...], mas eu acho que nem em Belo Horizonte tinha curso de Psicologia [...] Aí - você vê o que aconteceu... eu fui fazer um curso de magistério para esperar o que ia acontecer. Eu fiz um curso de aperfeiçoamento, logo em seguida do curso Normal.

[...] Você tinha que ter terminado o curso de formação de magistério ou tinha que ser professora da rede, sabe? Sendo professora do estado ou do município, você também podia se inscrever nesse curso. [...] tinha de novo Psicologia [...] desde o começo já havia Psicologia Escolar, embora não se chamasse assim. (Depoimento de Maimone para este trabalho, 2015-2016, s. p.).

Eulália Maimone recordou como foi seu curso de formação/graduação, a participação no movimento estudantil e os primeiros contatos com a ciência psicológica e a Psicologia Educacional e Escolar:

A gente usava um espaço também ali [nas dependências do curso de Medicina em Ribeirão Preto], no prédio central, o biotério. Então podíamos utilizar os animais do biotério para fazer experimentos. Como não tinha caixa de Skinner, não tinha nenhum outro equipamento, a Teresa Lemos montou; ela vinha do Rio de Janeiro para dar aula para nós, tinha feito doutorado nos Estados Unidos... ela mandou construir as gaiolas de obstrução, como eram chamadas na época, para fazer os experimentos, obstruindo em certos momentos a passagem do animal. Por exemplo, um deles tinha a ninhada de um lado e a mãe do outro lado; e no meio tinha uma parte eletrificada, para ver até que ponto vai a força do instinto maternal, se ela passaria pelo choque; e, também, utilizava privação de água, privação de alimentos, dentre outros experimentos, por exemplo, para ver o que o ratinho fazia para chegar lá no alimento. Verificava-se quanto tempo ele precisaria de privação... Eu fiz essa parte, depois eu nem quis fazer os exercícios da caixa de Skinner porque, mais tarde, foram compradas e foi montado o laboratório; e tudo dependente da medicina. Nós não tínhamos prédio, nada!

Então, era assim... O nosso diretor era o doutor Luciano, que era um belga e professor da faculdade de Medicina. Ele trouxe professores belgas. [...] As duas professoras brasileiras que nós tínhamos na época eram essa Tereza, que depois foi para Ribeirão Preto, para a USP [Universidade de São Paulo] de Ribeirão, ficou lá até aposentar... e a Telma, que fazia o doutorado na França. Então, volta e meia nós ficávamos sem professor porque ela passava tempos na França. Mas não era psicóloga. A Tereza era psicóloga, mas a Telma, não! Ela era filósofa. E aí o que aconteceu... nós tivemos as disciplinas básicas todas com professores estrangeiros, porque não havia no Brasil psicólogo formado. (Depoimento de Maimone para este trabalho, 2015-2016, s. p.).

Essa passagem deixa entrever eventos e fatos da história da Psicologia no Brasil. Muitos dos primeiros graduados eram formados em Pedagogia ou Filosofia, nas então Faculdades de Filosofia, Letras e Ciências Humanas ou eram formados por estrangeiros. Os primeiros psicólogos foram regularizados apenas partir de 1966 por uma comissão criada para dar os primeiros títulos de psicólogo a quem trabalhava ou atuava na área da Psicologia. A presença de professores estrangeiros em cursos de graduação foi notável em várias instituições do país.

Sobre a Psicologia Educacional e Escolar, eis o que disse Maimone:

[...] Eu fiquei esperando avidamente que chegasse a professora de Psicologia Escolar [...]. Nós podíamos fazer o curso de Psicologia e podíamos fazer o bacharelado ou a licenciatura. Aí, você poderia ser só bacharel, ou bacharel e licenciado, ou bacharel-psicólogo. Eu fiz, é lógico, as disciplinas pedagógicas. [...] Fiz disciplinas que eu gostei muito: Sociologia da Educação, Filosofia da Educação. Mas, para o curso de Psicologia Escolar, foi uma pedagoga; e essa professora foi uma decepção completa! Ela ia dar aula para a turma, e eles não aceitavam... O pessoal sabia que ela não era psicóloga, e a gente queria uma psicóloga [...] Aí, eu acho que eu só fui mesmo poder me satisfazer nessa área quando eu terminei o curso de Psicologia e fui indicada para ser diretora de uma escola de Ribeirão Preto. (Depoimento de Maimone para este trabalho, 2015-2016, s. p.).

A entrevistada contou que principiou sua prática profissional como professora na rede municipal de educação no período noturno, enquanto ainda cursava a graduação. Segundo disse, ela pediu ao prefeito de Ribeirão Preto para continuar como psicóloga na escola e criou ali um serviço de Psicologia Escolar com estagiárias do curso de Psicologia de 1969 a 1972. Ela se recordou de Geraldina Porto Witter, que ministrou Psicologia Educacional e Escolar na licenciatura e de quem Eulália Maimone foi aluna ouvinte, depois monitora voluntária e enfim orientanda de mestrado e de doutorado.

Em 1972, a professora Eulália Maimone ingressou como docente nos Institutos Isolados de Ensino Superior do Estado de São Paulo, na cidade de Assis. O ingresso pontuava os candidatos por títulos. Segundo palavras dela, o fato de estar cursando mestrado contribuiu para sua entrada na instituição, que principiava a formação em Psicologia:

Eu fui da primeira turma de Ribeirão Preto a dar aulas lá. E dei aula para a primeira turma em Assis [...] os alunos faziam licenciatura ou bacharelado. Eu sei que eles faziam até certo ponto da graduação em Assis e, depois, iam para São Paulo terminar o curso, em geral para a PUC [Pontifícia Universidade Católica]. Eles faziam isso para terminar a formação com o título de psicólogo, porque não tinha em Assis.

Com a chegada de novos professores, preparados para dar estágio, era necessário montar uma clínica-escola. Eles começaram com uma clínica, mas depois se tornou um Centro de Psicologia Aplicada. Eu trabalhei nesse Centro, na implantação e na área escolar. Minha parte era a área escolar, e também lecionávamos.

[...] Eu era coordenadora da parte de Psicologia Aplicada, que existe até hoje [...]. Eu fui convidada para ser coordenadora. Eu acabei indo e começamos o trabalho. Então, a Geraldina Porto Witter me incentivou a fazer o mestrado na USP de São Paulo. Ela insistiu que eu e a Vera [Sobral] fôssemos. Na primeira vez, eu pensei: “Eu não estou preparada". Ela me explicou como era o exame para entrar lá na USP. Eu tive que rever todo o conteúdo de psicologia, eles cobravam tudo do curso de Psicologia. [...] Eu não tinha muita esperança de entrar porque eles já falavam que quem entrava lá eram só alunos deles mesmo, da USP. E acabava acontecendo isso mesmo [...]

Então foi dado um curso lá, na USP, eu acho que foram três ou quatro meses, e a Geraldina Porto Witter veio fazer o curso. [...] Foi bom para mim porque eu estava revendo todas as disciplinas, e isso era o que eles faziam no curso [...] repassavam [...] toda essa base. [...] E ainda assim havia dez vagas. Eu achava muito pouco, eu prestei por prestar mesmo... não imaginava que conseguiria passar. [...]

Eu terminei em 1978 meu doutorado, em outubro [...] Nós não escolhíamos orientador, eles que nos escolhiam. A Geraldina Porto Witter me escolheu e comecei a fazer com ela. Nessa época, eu fui para a UNESP de Assis [...] E eu gostava do trabalho. Eu fiz muitos trabalhos em Assis... [...] Eu vim para a UFU em março, defendi o doutorado no ano seguinte, em abril. (Depoimento de Maimone para este trabalho, 2015-2016, s. p.).

Eulália Maimone começa sua trajetória docente em Assis e depois vem para Uberlândia. Ela defendeu no mestrado a dissertação intitulada “Estudo comparativo de quatro modalidades de um programa de remediação verbal aplicada a crianças carentes culturais” (1977Maimone, E. H. (1977). Estudo comparativo de quatro modalidades de um programa de remediação verbal aplicado a crianças carentes culturais. Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo, SP.) e, no doutorado, a tese “Influência de histórias infantis no desempenho verbal de escolares: análise quanto a aspectos qualitativos e quantitativos dos textos com relação ao contador da história e ao nível sócio-econômico e sexo dos sujeitos” (1980Maimone, E. H. (1980). Influência de histórias infantis no desempenho verbal de escolares: análise quanto a aspectos qualitativos e quantitativos dos textos, com relação ao contador da história e ao nível sócio-econômico e sexo dos sujeitos. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo. São Paulo, SP.). Disse que defendeu rapidamente porque não teve bolsa e negociou com a chefia do departamento em Assis para que pudesse realizar os estudos:

[...] Lá, em Assis, também eu não tive bolsa. Negociei com o chefe do departamento para não bater horário. Eu fiquei viajando durante sete anos... No mestrado fazíamos os testes e depois passávamos dois anos cursando as disciplinas. E só então começava a escrever a dissertação. No dia da defesa do mestrado, eu estava com meu segundo filho com 20 dias de nascido. Eu fui para a casa da Geraldina. Ela adorava levar a gente para a casa dela. Nós já discutíamos como iria ser meu doutorado, senão eu não teria conseguido. Eu fiz o doutorado em dois anos. Defendi em 1980, comecei em 1978. Eu já estava na UFU, vim em 1979, e estava grávida do terceiro filho. Passei mal no dia da defesa, mas ninguém percebeu... (Depoimento de Maimone para este trabalho, 2015-2016, s. p.).

A partir de 1979, Eulália Maimone passou a ministrar aulas na UFU. Ela lembra que, nesse período, foram contratados muitos professores, cuja maioria não tinha título de doutorado. Segundo disse, era mais valorizado o tempo de serviço do que a titulação, diferentemente do que ocorre hoje. Ela rememorou os primeiros anos, inclusive da criação e do funcionamento do serviço de Psicologia Aplicada. Disse que não havia ainda espaço para salas de professores e que poucas eram as salas de aula.

Para terminar o doutorado, como ela disse, teve dificuldades porque os textos eram escritos a mão para ser datilografados depois e, então, enviados à orientadora pelo correio para que fossem corrigidos. Cumprir as tarefas do doutorado na UFU exigia avançar até tarde da noite.

Um dia... um colega professor na UFU estava trabalhando e começou a ouvir uns barulhos [...] bem de madrugada. E ele ficou pensando: “O que será isso?”. Era o pessoal da limpeza. [...] E de repente o pessoal veio chegando e escutou o barulho da máquina, viu luz acesa e pensou que era fantasma e saiu todo mundo correndo. Já pensou? Eles não pensaram que um professor estaria trabalhando àquela hora, não é? [...]

Aos poucos, fomos conseguindo o que precisávamos. O primeiro computador [...] Foi assim: no tempo em que o Antônio Ribeiro [colega professor na UFU] chegou, sei que ele veio para cá para ser diretor científico... e ele instituiu uma verba para pesquisa, porque não tinha nada ainda.

[...] A ideia do Centro de Psicologia Aplicada apareceu antes do mestrado. Nós chegamos a montar o projeto, eu, a Olga Inácio Barbosa [professora da UFU] e mais uma pessoa. [...] Quem mais? Quem é a terceira pessoa que dava aula para química? Quem é? Não lembro... Eu sei que nós chegamos a fazer o projeto [...] do Centro de Psicologia Aplicada, e o centro não saiu do papel... (Depoimento de Maimone para este trabalho, 2015-2016, s. p.).

Ainda com uma perspectiva de trabalhar no campo prático com a Psicologia Educacional e Escolar, Eulália Maimone lembrou-se de que participou de um projeto intitulado Saúde Escolar:

[...] nós fizemos um projeto de saúde escolar [...] nós participávamos do programa de saúde escolar, que quem coordenava mesmo era a faculdade de Medicina e a Odontologia participava [...] tinham um programa de prevenção.

Então o pessoal da Medicina cuidava da parte de alimentação, e tinha os agentes de saúde das escolas. Eles faziam um trabalho para ver verminose [...] exames de fezes, dentre outros. E a Odontologia trabalhava saúde bucal. Quando estava nascendo o primeiro molar, cuidavam desse primeiro molar por ser o primeiro dente permanente... E faziam todo um trabalho de higiene e escovação. E eles queriam que a faculdade de Psicologia participasse. E nós começamos a participar com as "dificuldades de aprendizagem". [...] através das UDAs [unidades de didática avançada].

[...] Cinco áreas foram mapeadas em Uberlândia nas periferias. Sei que eram cinco áreas e tinha os supervisores da Odontologia e da Medicina para as cinco áreas; e nós, da Psicologia, entramos nisso. [...] A escola tinha que chegar à UDA e, ali, colocar os problemas, as queixas, o que eles queriam. E eles buscavam profissionais que pudessem atender à demanda. Tínhamos condução, mas era a faculdade de Medicina que conseguia. Ao invés de retirar a criança e ir para a UDA, onde não tínhamos espaço para trabalhar, nós íamos com as crianças para uma escola referenciada pela UDA. Nós ouvíamos a queixa e, depois, a gente ia para a escola.

[...] O pessoal da Medicina avaliava e falava: “Não, essa criança não tem nada de saúde que possa estar prejudicando o aprendizado". Então chamavam a gente. Colocaram psicólogos nessas unidades, mas eles trabalhavam com ludoterapia. Não era possível atender a todos. Ludoterapia! Você acredita? Olha a imagem que eles estavam passando de psicólogo para a comunidade... (Depoimento de Maimone para este trabalho, 2015-2016, s. p.).

Eulália Maimone disse que, nesse projeto inicial, já havia a preocupação de não só atender à "criança-problema”, mas ainda verificar as condições de ensino, compreender o papel do professor e atuar numa perspectiva mais ampliada de compreensão do processo de escolarização:

Nós chegamos fazendo tudo diferente. Começaram a ir muitas crianças para esta unidade. Entrevistamos a professora dos meninos [...] só de crianças que haviam repetido, as crianças ficavam "jogadinhas" naquela sala. A professora odiava. Mas o professor que pegava uma sala dessas sentia como um castigo mortal... Nós conseguíamos levar leite para as crianças. Levávamos bolachas, suco, porque nós trabalhávamos com eles e dávamos um lanche, depois continuava o trabalho.

No trabalho nós tirávamos as crianças das salas para avaliar, mas a maioria das vezes a gente tinha que ir com a professora. A gente observava na sala, para ver como era. A professora passava a ser nossa cliente... para mudarmos alguma coisa ali, a escola tinha que mudar. [...] Eu não concordava com os psicólogos trabalharem ludoterapia com essa demanda. O que eles queriam? Eles queriam que a gente tratasse, que fizesse terapia nas crianças como no posto de saúde, e ir chamando ali uma por uma...

Depois as coisas começaram a piorar. Perdemos a condução; nós conseguimos, no serviço social da UFU, o passe [cartão para transporte gratuito de ônibus] para as mães trazerem as crianças de ônibus. As pessoas reclamavam na clínica [serviço-escola da UFU] porque usávamos muitas salas no mesmo horário. Mas eu não tinha o que fazer. As crianças tinham que vir em horário de aula, deixavam de ir à escola para ir à universidade, e os alunos atendiam as crianças em grupo ou individualmente. Havia muitas crianças com dificuldades de fala, e não tínhamos fonoaudiólogos na época. [...] pagar fonoaudiólogo particular era muito caro!

Eu ficava com as mães, formava um grupo de mães, enquanto os meninos estavam na sala realizando atividades. Nós dávamos supervisão. Eu comecei a ter esse interesse na participação dos pais na vida escolar da criança. (Depoimento de Maimone para este trabalho, 2015-2016, s. p.).

É interessante notar que a entrevistada já realizava à essa época uma Psicologia Escolar e Educacional com a preocupação de abranger todos os envolvidos no processo de escolarização. A entrevistada disse que, naquela ocasião, usavam uma escala de observação de professores, faziam observação em sala de aula e filmagens e que, depois, utilizavam diretrizes para avaliar a situação-problema; isso sem enfocar apenas na chamada "criança-problema” ou focando em fazer diagnóstico da criança, da professora. O trabalho consistia em algo mais ampliado de observar todas as variáveis que pudessem contribuir para a produção do fracasso escolar.

Eulália Mainone conta também da sua participação em uma associação criada no Triângulo Mineiro para congregar os psicólogos e mantinha uma revista científica, a Sociedade de Psicologia do Triângulo Mineiro - a SPTM:

[...] Tem a SPTM, que eu acho que é importante falar pois... são vinte anos... Tínhamos pouquíssimas revistas... Nós não tínhamos onde publicar... (Depoimento de Maimone para este trabalho, 2015-2016, s. p.).

Essa sociedade de Psicologia foi fundada em 1994, em Uberlândia, por um grupo de professores da UFU. Um dos objetivos iniciais era promover pesquisas relacionadas à Psicologia. Em 24 anos de história, promoveu 20 reuniões a fim de incentivar o intercâmbio entre docentes, pesquisadores e estudantes da região. Também publicou uma revista, a partir de 1998, que já tem 30 edições. Estudantes e professores participaram das reuniões e da revista, nas quais puderam, respectivamente, apresentar e publicar pesquisas. Houve um incentivo à produção de conhecimento científico coerente com os objetivos da sociedade; mas não sem desafios para sua manutenção ante as demandas da produção atual, sobretudo quanto à avaliação da revista (Silva Neto et al., 2015Silva Neto, W. M. F.; Sivieri-Pereira, H. O.; Fernandes, J. B. S.; Silva Júnior, M. J., & Torres, A. L. (2015). Os vinte anos de história da Sociedade de Psicologia do Triângulo Mineiro (1994-2014): desafios para a propagação do conhecimento científico. Em Anais da 45ª Reunião Anual da Sociedade de Psicologia.).6 6 6A SPTM realizou sua última reunião em 2017, quando se decidiu por sua extinção.

Além de fazer parte da Sociedade de Psicologia do Triângulo Mineiro, Eulália Maimone participou também dos primórdios da ABRAPEE, entidade da qual ela foi a primeira profissional do Triângulo Mineiro a participar mais ativamente. Disse ela:

Faz parte da história... Tinha os Boletins Informativos da ABRAPEE, que a Geraldina Porto Witter era responsável e ela imprimia... Eu que cuidava dessa parte e mandava os Boletins para quem estava na lista [...]. Então, quando eu fui falar, em 1990, que a ABRAPEE foi fundada... eu falei sobre isso... o primeiro núcleo, se chamava “núcleo” na época. O “primeiro núcleo estadual da ABRAPEE” foi estabelecido em Minas Gerais. [...] Nessa época a Raquel Guzzo e a Solange Wechsler incentivaram a formar o núcleo aqui em Minas Gerais. Estavam nesse primeiro núcleo de Minas Gerais: a Celia Vectore, a Maria José Ribeiro e a Eleonora Estela Toffoli Ribeiro [todas docentes da UFU]. Nós fizemos parte do primeiro núcleo, que atualmente não tem mais, ficou sendo “representação estadual” da ABRAPEE (Depoimento de Maimone para este trabalho, 2015-2016, s. p.).

A produção da Revista da ABRAPEE e a participação em congressos de Psicologia Escolar apontam que muitas/os psicólogas/os e docentes de Minas Gerais, em particular do Triângulo Mineiro, têm pesquisado na área da Psicologia Educacional e Escolar. Compreende-se que a representação estadual da ABRAPEE contribuiu para a produção desses pesquisadores. Mesmo que faltem estudos acerca desse impacto na área, observa-se que, enquanto em outros estados a ABRAPEE produziu um ou dois encontros regionais, em Minas foram mais de cinco. Além disso, a presença de professores mineiros nos congressos estaduais e na diretoria da associação é expressiva. Muitos ex-alunos das instituições de ensino superior como a UFU e a Universidade de Uberaba (UNIUBE) participaram da construção dos outros oito cursos de Psicologia que hoje existem na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba: dois cursos em Patos de Minas, três em Uberlândia, um em Uberaba, um em Ituiutaba.

Sobre a possibilidade de ter havido impacto nesse processo, eis o que disse Eulália Maimone:

Eu vejo a UFU assim... você não pode falar também da UNIUBE porque começou antes... e antes era mais Ribeirão Preto [com a USP]. Ribeirão que influenciava muito... Eu não sei agora. [...] para montar o laboratório experimental, foi um colega nosso que foi para lá, sabe? [...] o pessoal da USP de São Paulo é que foi para Ribeirão, montar tudo lá...

Aqui no Triângulo Mineiro foi uma mistura [...] a partir daqui... esses oito cursos de Psicologia [...] acho que pode ter tido uma influência sim [sobre a formação de cursos]. (Depoimento de Maimone para este trabalho, 2015-2016, s. p.).

O relato de Eulália Maimone deixa entrever que, a partir da presença dela, bem como de suas alunas e colegas da UFU, foi se formando um grupo de pesquisadores e uma geração de professores, psicólogos e estudantes atuantes na área, a ponto de atualmente na UFU haver doze docentes que têm como escopo de seu trabalho a Psicologia Escolar e Educacional7 7 7Ver: http://www.ip.ufu.br/escolar-educacional. . Ela recorda que, no início do núcleo/representação estadual da ABRAPEE em Uberlândia, eles entravam em contato com os psicólogos atuantes na saúde pública para que estes compreendessem que questões escolares não eram algo apenas da criança, do corpo da criança; ou seja, não se podia culpabilizar, mais uma vez, a vítima pelo fracasso que era produzido por uma conjuntura maior. Nas palavras dela:

[...] quando começou esse núcleo, uma coisa que a gente fazia também era entrar em contato com os psicólogos que ficavam nos postinhos [centros de saúde/unidades básicas de saúde...]. O professor mandava para o médico quando tinha problema de aprendizagem. Mas esses psicólogos da rede de saúde pública não trabalham muito na linha de escolar... (Depoimento de Maimone para este trabalho, 2015-2016, s. p.).

Sobre o Serviço de Psicologia Aplicada, Eulália Maimone recordou de sua chegada a Uberlândia e de seus objetivos:

Quando eu vim para Uberlândia, eu também tinha por objetivo montar a clínica [o serviço-escola da UFU] [...] era para ser Centro de Psicologia Aplicada8 8 A matriz curricular da UFU referente ao projeto pedagógico de 1975 continha estágios supervisionados nas três áreas exigidas pelo antigo currículo mínimo, a saber: clínica, escolar e industrial. .

Então, eu tive que ir para São Paulo e Belo Horizonte, no ano de 1972, para fazer inscrição no Conselho Regional de Psicologia e ser instruída sobre quais as funções eu responderia no cargo de coordenadora da clínica, pois naquela época não havia escritório na região do Triângulo Mineiro (Depoimento de Maimone para este trabalho, 2015-2016, s. p.).

Essa passagem permite entender que Eulália Maimone contribuiu, também, para constituir-se como referência técnica responsável pelo serviço-escola o que colaborou também para a expansão da área escolar e educacional em Minas Gerais em seus primórdios. Sua influência e do grupo que se forma na UFU com suas colegas do núcleo da ABRAPEE amplia a participação e o fomento à inserção de profissionais na área, para a colaboração da inserção de serviços práticos em Psicologia Escolar e Educacional já nos moldes que hoje denominamos de Psicologia Escolar e Educacional crítica. Isso se deu, sobretudo, pela visão que foram construindo de diferenciação do que ocorria no projeto Saúde Escolar, pois, aos poucos, foi sendo construído um outro modelo de atuação no serviço-escola (naquela época denominada "clínica") da Universidade Federal de Uberlândia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É possível observar que quando o curso de Psicologia da UFU foi criado e instalado, nos anos 1970, havia disciplinas relacionadas com o contexto educacional, porque o curso fornecia, também, a titulação de licenciado. Como era um dos objetivos formar professores, havia vínculos fortes entre a Psicologia e a Educação. O relato de Eulália Maimone revela como foi sua contribuição para a criação e o estabelecimento de um grupo pioneiro da área escolar na Universidade e no Triângulo Mineiro, por conseguinte.

O relato de Eulália Maimone mostra que ela trabalhou contra a visão mais clínica de atuação do psicólogo, buscando elaborar projetos de estágios supervisionados que objetivassem intervir numa perspectiva institucional e nas relações e processos de escolarização como um todo, abrangendo o aprendiz, os professores e o acompanhamento dos responsáveis pelas crianças encaminhadas para atendimento psicológico. A entrevistada revela o quanto a Psicologia Educacional e Escolar mudou progressivamente o foco de atenção: dos problemas de aprendizagem das chamadas crianças-problema (ou alunos-problema) para uma visão mais contextual.

É possível observar o quanto algumas abordagens teóricas eram mais incidentes nos anos 1960 e outras nos anos 1970 e o quanto, a partir da década de 1980, as críticas a essa Psicologia Educacional e Escolar tradicional foi se adensando, seja com a produção acadêmica e científica, seja em proposições de práticas. O relato de Eulália Maimone (vida, formação escolar e atuação profissional) mostra a importância da participação de um território, o Triângulo Mineiro, em mudanças e discussões nacionais, especialmente no contexto propiciado pela ABRAPEE, a partir da criação e desenvolvimento de um núcleo estadual para discussões, promoção de cursos de formação como a pós-graduação e realização de eventos de âmbito regional.

Cabe destacar as dificuldades de iniciar um campo e do trabalho pioneiro quando os modelos estão em processo de construção e exigem criar, implementar, divulgar e formar novos adeptos. Ao contar a experiência no curso da UFU, Eulália Maimone disse como foram importantes esses primeiros passos para construir o que hoje vemos organizado nas instituições superiores de ensino de Psicologia e, também - por que não dizer? -, na própria Psicologia no Brasil.

Fica aqui, como destaque, a importância de expor relatos como o de Eulália Maimone porque ajudam a compor a história da Psicologia em territórios como o Triângulo Mineiro, Minas Gerais e colaboram para instigar outros pesquisadores a ver, nos temas apresentados, pontos de partida promissores para desenvolver estudos sistemáticos que, no futuro, exponham mais da história da Psicologia forjada fora de centros urbanos de mais projeção no país.

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  • 1
    Os autores agradecem à Professora Doutora Maria do Carmo Guedes pela supervisão do projeto: "A História do ensino de Psicologia Escolar no Triângulo Mineiro", fruto da pesquisa de pós-doutorado do primeiro autor, que culminou no presente artigo.
  • 2
    A grafia Maimoni aparece em algumas referências.
  • 3
    Em razão de limites gráfico-editoriais, segue-se uma menção breve de outros textos de Massimi: “História das idéias psicológicas no Brasil em obras do período colonial” (1984), a organização do livro “Navegadores, colonos, missionários na Terra de Santa Cruz: um estudo psicológico da correspondência epistolar” (1997), o artigo “Historiar a psicologia: assumindo uma perspectiva e um lugar de observação” (2000) e a obra em co-autoria: “História da psicologia no Brasil: novos estudos” (2004Bernardes, J. S. (2004). O debate atual sobre a formação em Psicologia no Brasil: permanências, rupturas e cooptações nas políticas educacionais. Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, SP.).
  • 4
    A produção de Antunes inclui: "A consolidação da psicologia no Brasil (1930-1962): sistematização de dados e algumas aproximações analíticas", artigo de 2006; "Psicologia e educação no Brasil: um olhar histórico-crítico", capítulo do livro Psicologia escolar: teorias críticas, de 2008 e os artigos "Psicologia escolar e educacional: história, compromissos e perspectivas", também de 2008 e “A psicologia no Brasil: um ensaio sobre suas contradições”, de 2012.
  • 5
    No início dos cursos não havia, como hoje, concursos públicos de ampla concorrência. O professor poderia ser convidado e contratado; em alguns casos se passava por uma comissão avaliativa para ingresso como docente no ensino superior. Porém, diferentemente do que ocorre, esse professor se titulava no decorrer do exercício docente.
  • 6
    6A SPTM realizou sua última reunião em 2017, quando se decidiu por sua extinção.
  • 7
    7Ver: http://www.ip.ufu.br/escolar-educacional.
  • 8
    A matriz curricular da UFU referente ao projeto pedagógico de 1975 continha estágios supervisionados nas três áreas exigidas pelo antigo currículo mínimo, a saber: clínica, escolar e industrial.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Nov 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    07 Ago 2019
  • Aceito
    17 Nov 2020
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