Ao Editor
A endocardite infeciosa da tricúspide é rara(1,2) e, geralmente, está associada ao uso de drogas injetáveis e à manipulação de dispositivos intravenosos.(1-3)
Os autores apresentaram o caso de um homem de 37 anos, toxicodependente e portador de hepatite C, com quadro agudo de febre, dispneia e tosse hemoptoica. À admissão hospitalar, encontrava-se confuso, polipneico, febril, taquicárdico e hipotenso. O murmúrio respiratório estava diminuído, e ele apresentava crepitações na base pulmonar esquerda à auscultação.
Analiticamente, destacam-se: leucocitose com neutrofilia, elevação da proteína C-reactiva, trombocitopenia, lesão renal, acidose metabólica com acidemia, hipercaliemia e hiperlactacidemia. Apresentava condensações pulmonares bilaterais e derrame pleural esquerdo na radiografia torácica (Figura 1A).
Foi admitido em unidade de cuidados intensivos por choque séptico com disfunção multiorgânica. Durante o internamento, foi efetuado ecocardiograma, que revelou vegetação móvel de 20mm de maior diâmetro na válvula tricúspide (Figura 2). Posteriormente, em hemoculturas, foi isolado Staphylococcus aureus sensível à meticilina.
Apesar da antibioterapia dirigida instituída, o doente evoluiu desfavoravelmente. Para além de suporte aminérgico e ventilatório, teve necessidade de técnica de substituição renal. As condensações pulmonares evoluíram para múltiplas lesões cavitadas, pneumotórax recorrentes e enfisema subcutâneo extenso (Figuras 1B e 3).
S. aureus é o agente mais comum na endocardite infeciosa associada ao uso de drogas injetáveis.(1-3) Febre, embolismos pulmonares e bacteremia são sinais de endocardite infeciosa direita.(1-3) Os eventos pulmonares estão presentes em 80% dos casos,(1-3) podendo também apresentar anemia e hematúria.(1) O sopro cardíaco só aparece em fase avançada da doença.(1)
Sónia Chan
Serviço de Medicina 1, Centro Hospitalar de Leiria - Leiria, Portugal.
Catarina Faria
Serviço de Medicina 2, Centro Hospitalar de Leiria - Leiria, Portugal.
Filipa Alçada
Serviço de Medicina 2, Centro Hospitalar de Leiria - Leiria, Portugal.
REFERÊNCIAS
- 1 Heydari AA, Safari H, Sarvghad MR. Isolated tricuspid valve endocarditis. Int J Infect Dis. 2009;13(3):e109-11.
- 2 Deser SB, Demirag MK. Isolated tricuspid valve infective endocarditis: a rare entity. Med Case Rep. 2016;2(4):1-2.
- 3 Ozkara C, Dogan OF, Furat C. Isolated tricuspid valve infective endocarditis in young drug abusers. World J Cardiovasc Dis. 2012;2:201-3.