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Towards a social science of language - papers in honor of William Labov volume 1: variation and change in language and society

Linguistic Theory; Labovian Sociolinguistics; Linguistic Variation and Change and Social Organization; Variation, Change and Linguistic Structure; Afro-American Varieties of English

Teoria Lingüística; Sociolingüística Laboviana; Variação e Mudança Lingüística e Organização Social; Variação, Mudança e Estrutura Lingüística; Variedades Afro-Americanas do Inglês

RESENHA/REVIEW

GUY, G. R.; C. FEAGIN, D. SCHIFFRIN & J. BAUGH (eds.) (1996) Towards a Social Science of Language - Papers in Honor of William Labov Volume 1: Variation and Change in Language and Society. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 436 págs.

Resenhado por/by Marco Antônio de OLIVEIRA

(Universidade Federal de Minas Gerais)

PALAVRAS-CHAVE: Teoria Lingüística; Sociolingüística Laboviana; Variação e Mudança Lingüística e Organização Social; Variação, Mudança e Estrutura Lingüística; Variedades Afro-Americanas do Inglês.

KEY WORDS: Linguistic Theory; Labovian Sociolinguistics; Linguistic Variation and Change and Social Organization; Variation, Change and Linguistic Structure, Afro-American Varieties of English.

Este é o primeiro volume1 1 Devido aos vários problemas de edição que o volume em questão apresenta, esta resenha era, originalmente, muito maior. Por razões de espaço precisei reduzi-la a seu tamanho atual, procurando preservar apenas o que era absolutamente essencial para orientar a leitura do texto original. , de uma série de dois, dedicado a William Labov. Trata-se de uma homenagem bastante justa a um dos lingüistas de maior importância para a área em todos os tempos, cujo trabalho vem ampliando, desde o início da década de 60, nosso conhecimento sobre um dos pontos centrais da lingüística, a mudança lingüística. O trabalho de Labov configurou um paradigma diferente, de natureza dinâmica, onde a língua deixa de ser vista como uma estrutura estática e passa a ser vista como um sistema em constante mutação e profundamente comprometido com a estrutura social em que se insere. Os volumes que compõem esta homenagem são, portanto, uma tentativa de resgatar a dívida imensa que a lingüística e os lingüistas (mesmo aqueles que têm outra inclinação teórica são unânimes em reconhecer a importância de seu trabalho) têm para com Labov.

Os textos apresentados no Volume 1 são trabalhos de colegas e ex-alunos de Labov. São todos eles trabalhos de base empírica (em maior ou menor grau) que procuram retomar pontos teóricos desenvolvidos a partir dos textos escritos por Labov. Portanto, a linha mestra que costura todos os textos desta primeira coletânea pode ser encontrada nos textos de Labov, às vezes num pé de página, como sugestão para algum ponto não resolvido no momento e, às vezes, em temas maiores, que se manifestaram como uma preocupação mais abrangente em sua obra.

Esta primeira coletânea se divide em três partes. A primeira parte, The Social Organization of Variation and Change, trata das correlações entre variação/mudança lingüística e organização social, sendo composta de 8 textos; a segunda parte, The Linguistic Structure of Variation and Change, focaliza aspectos estruturais das línguas examinadas nos 6 textos que a compõem; a terceira parte, African-American Varieties of English, composta de 5 textos, concentra trabalhos que focalizam aspectos do Black English Vernacular (BEV), assim como trabalhos que retomam pontos interessantes na área da crioulística e na área da política educacional. As três partes da coletânea são precedidas por um Prefácio de Gregory R. Guy e um texto introdutório de Michael B. Kac, e seguidas de uma bibliografia completa dos trabalhos de Labov no período de 1963 a 1994.

No geral, o volume é excelente, trazendo ótimas contribuições para os estudos sociolingüísticos. Contudo, encontramos alguns problemas num ou noutro texto, problemas estes que poderiam ter sido evitados. Alguns destes problemas me parecem ser de natureza editorial (como alguns problemas ortográficos do tipo "verbal dual" em vez de "verbal duel", ou alguns dados equivocados que ficaram sem correção), enquanto outros poderiam ter sido evitados pelos autores (como algumas tabelas bastante confusas que aparecem num ou noutro ponto). Há também casos de textos que me pareceriam melhor colocados numa seção diferente daquela em que estão. Ignorados estes problemas menores, o livro é, como um todo, de leitura obrigatória.

A primeira seção do livro tem como pano de fundo a concepção Laboviana do que seja lingüística, assim como as relações entre os fenômenos lingüísticos e os fenômenos sociais. Para Labov, sociolingüística é lingüística (cf. Labov, 1972:183). Esta maneira de caracterizar a sociolingüística deixa claros dois pontos: primeiro, os interesses de Labov se localizam na estrutura lingüística, e não nos fenômenos de natureza sociológica, distinguindo-se, pois, dos interesses de áreas como as da etnografia da fala e da sociologia da linguagem; segundo, para Labov, o estudo da estrutura lingüística deve se dar em termos do exame dos fatos lingüísticos, conforme manifestados no dia-a-dia das pessoas, no contexto social da comunidade de fala (entendida como sendo um grupo que compartilha um mesmo sistema normativo de valores na interpretação dos fenômenos lingüísticos). Isto não significa, contudo, que Labov tenha pretendido desenvolver uma espécie de teoria da fala, ou do uso. Para Labov, o estudo dos fenômenos da fala valem por aquilo que eles podem nos dizer sobre a estrutura lingüística. E é exatamente neste contexto que Labov procura, através do estudo da variação lingüística, esclarecer-nos sobre a questão da mudança lingüística, usando o presente para explicar o passado.

A primeira seção do livro se inicia com o texto de Trudgill, Dialect Typology: isolation, social network and phonological structure. Após uma introdução na qual Trudgill salienta a importância do trabalho de Labov na demonstração das bases sociais da mudança lingüística, o autor salienta que este ponto tem sido ignorado pelos trabalhos em tipologia lingüística e por muitos trabalhos em lingüística histórica. Trudgill sugere em seu texto que um exame comparativo das diferenças entre as sociedades humanas pode ser fundamental para o entendimento de certos processos históricos e das diferenças tipológicas entre as línguas. A questão geral à qual Trudgill nos remete é: tipos diferentes de sociedades dão origem a tipos diferentes de estruturas lingüísticas? E, em caso afirmativo, estas diferentes estruturas lingüísticas resultariam de tipos diferentes de mudança lingüística? Como se pode observar, Trudgill remove as ligações entre variação e mudança lingüísticas, por um lado, e variação social, por outro lado, da esfera de uma simples correlação, recolocando a questão em termos de causa e efeito. E, para responder às questões colocadas, Trudgill examina fenômenos de natureza fonológica.

Na discussão dos fenômenos fonológicos, Trudgill aborda tanto o eixo diacrônico quanto o eixo sincrônico, tomando como contraponto o texto clássico de Kroch (1978) sobre diferenças entre dialetos sociais e a noção de ideologia como explicação para estas diferenças. Além disso, Trudgill se vale também dos trabalhos de J. Milroy (1982 e 1992) e L. Milroy (1980) sobre redes sociais (social networks). Os processos considerados são os processos articulatórios de fusão e simplificação, e os de assimilação, que são processos bastante freqüentes nas línguas do mundo.

Tomando, primeiramente, os processos de fusão vocálica e de simplificação consonantal (fusão de /o: / e / ou / do inglês médio, fusão entre / w / e / wh / , cancelamento do / h / pré-vocálico e cancelamento do / r / pós-vocálico), Trudgill nos mostra que, realmente, o dialeto padrão britânico (RP) resistiu aos três primeiros casos, o que poderia indicar aí um efeito da ideologia das classes altas. Contudo, Trudgill nos faz ver que: (a ) outros dialetos regionais do inglês britânico também resistiram aos mesmos processos, e ( b ) no caso do cancelamento do / r / pós-vocálico, que foi incorporado ao RP, vários dialetos regionais não incorporaram este fenômeno. Estes dois fatos colocam em dúvida um possível efeito do fator ideologia como elemento de resistência aos processos articulatoriamente motivados. No entanto, Trudgill observa que estes mesmos dialetos regionais têm uma característica em comum: são geograficamente periféricos e pouco expostos ao contato, e conclui que as variedades que mais resistem às fusões e simplificações são aquelas que estiveram menos sujeitas ao contato entre dialetos (e, inversamente, as fusões e simplificações seriam mais comuns nas situações de forte contato dialetal).

O mesmo tipo de correlação aparece no exame dos fenômenos de assimilação, nas mudanças sonoras não naturais (ou 'ligeiramente incomuns', para usar a terminologia de Andersen, 1988) e nos casos de variação sincrônica. Portanto, através do exame de alguns casos de cunho diacrônico, Trudgill sugere que características sociais tais como (a) grau de contato com outras línguas e dialetos, e (b) grau de coesão da rede social, são fatores determinantes na formatação das estruturas fonológicas/lingüísticas.

Do ponto de vista sincrônico a história se repete, o que nos mostra uma correlação interessante entre tipo de sociedade e tipo de mudança lingüística. As mudanças ocorridas em línguas e dialetos com alto grau de contato podem ser explicadas em termos de um aprendizado imperfeito por parte de alguns adultos. Mas no caso de línguas e dialetos isolados, as inovações, assim como sua institucionalização, não podem ser explicadas em termos de aprendizado imperfeito. E, conforme mostra o texto, há uma diferença tipológica em termos dos fenômenos envolvidos nas duas situações. Trudgill propõe, então, que mais pesquisas sejam feitas na direção proposta em seu texto, proposta esta que abre mais espaço para os fatores de natureza sociológica na visão Laboviana da mudança lingüística.

O segundo texto é de autoria de Anthony Kroch, Dialect and Style in the Speech of Upper Class Philadelphia, no qual o autor se propõe às seguintes questões: (1) há uma fronteira, baseada em classe social, além da qual as características do vernáculo urbano de Filadélfia não são encontradas?, e (2) o que faz com que as características de fala da classe alta de Filadélfia sejam reconhecidas como tal?

No caso da primeira questão há uma tentativa óbvia de estabelecer, para as fronteiras dos dialetos sociais, as características refratárias encontradas nas fronteiras geográficas e étnicas. Embutidas nesta questão estão outras perguntas, a saber: (a) há traços dialetais característicos e exclusivos da classe alta de Filadélfia?, (b) estes traços seriam compartilhados com outros grupos de classe alta de outras cidades da costa leste dos Estados Unidos? E, (c) em termos de normas de avaliação compartilhadas, a classe alta de Filadélfia forma uma comunidade com outras classes altas, de outras cidades, ou com o restante da população local? Já no caso da segunda questão, se estas características são reconhecidas, resta saber em que elas consistem.

Caracterizada a classe alta, Kroch utiliza, como informantes, 6 homens e 4 mulheres, nascidos entre 1910 e 1923, além de 5 filhos destes informantes, nascidos entre 1937 e 1949. Além destes, foram utilizados 10 outros informantes pertencentes à classe média alta, que funcionaram como grupo de comparação. Além disso, os informantes de Kroch puderam ser comparados, para a análise dos núcleos vocálicos, com os informantes das classes trabalhadoras, disponíveis a partir do trabalho de Labov no projeto LCV (Linguistic Change and Variation), e medidos da mesma maneira.

Os fenômenos lingüísticos analisados foram (a) o núcleo vocálico (de 150 a 200 por informante) de 30 classes de palavras, em termos de sua freqüência (através de um Real Time Analyzer), da análise de seus três primeiros formantes, das médias dos formantes para cada um dos informantes e da normalização destas médias, tanto para cada um dos informantes quanto para cada uma das 30 classes de palavras, e (b) propriedades prosódicas (prolongamento da pronúncia das vogais, laringalização da voz e o uso freqüente do acento enfático, que é deslocado do núcleo da FN para o adjetivo) e propriedades lexicais (uso de modificadores de intensificação, tais como very, extremely, large, serious, enormous, oustanding e outros).

No caso das vogais, Kroch observou que a pronúncia da classe alta era menos extremada do que a das outras classes, sendo, contudo, mantidas as mesmas posições em termos das classes de palavras. Ou seja, as classes alta e trabalhadora, por exemplo, falam um mesmo dialeto fonológico (sendo que no caso das (cinco) mudanças em progresso identificadas em Filadélfia, as mulheres estão na liderança na classe trabalhadora, enquanto que os homens lideram na classe alta), mas não têm as mesmas realizações fonéticas. O melhor exemplo disso, no texto, é a discussão sobre o tensionamento do a breve. Este tensionamento é um fenômeno estigmatizado. Neste caso, a classe alta aproxima o a breve tenso do a breve frouxo, sem fundir os dois (i.é, sem causar uma alteração fonológica e, portanto, mantendo o padrão de Filadélfia), o que Kroch interpreta como uma resposta da classe alta à estigmatização do fenômeno. A conclusão de Kroch é a de que a qualidade da vogal não é o que distingue a fala da classe alta.

Voltando-se para as propriedades prosódicas e lexicais, Kroch conclui que estas, sim, distinguem a fala da classe alta. Segundo Kroch, a diferença é de estilo (no sentido de Hymes, 1974) e não de dialeto. As propriedades prosódicas e lexicais mencionadas anteriormente são, todas elas, quantificadas no texto, podendo-se observar a enorme diferença quantitativa envolvendo os informantes de classe alta, que favorecem estas propriedades, e aqueles de classe média alta, que as desfavorecem. Estas propriedades estão ligadas à ênfase exagerada que se sobrepõe à fala da classe alta, produzindo um efeito interacional intenso, dando uma impressão geral de relaxamento e autoconfiança e impondo-se como correlatos psicológicos de poder e riqueza.

Fica claro, a partir do texto de Kroch, que a classe alta de Filadélfia é socialmente exclusivista e tem uma consciência forte de sua identidade como grupo à parte. Mesmo assim ela é parte da comunidade de fala de Filadélfia, alinhando-se ao padrão lingüístico regional e nacional e opondo-se ao padrão local através dos recursos identificados no texto.

O terceiro texto é de Penelope Eckert, (ay) Goes To the City. Exploring the Expressive Use of Variation. O texto de Eckert é particularmente interessante, na medida em que retoma e amplia algumas das idéias fundamentais contidas no trabalho de Labov, que explicita a interação entre processos lingüísticos, processos sociais e a variação/mudança lingüística. Em seu trabalho, de natureza etnográfica, na comunidade de Martha's Vineyard, Labov apontou razões sociais para a variação no núcleo dos ditongos (ay) e (aw), mostrando como as variáveis lingüísticas podem veicular significados sociais localmente fundamentados. Já em seu trabalho mais amplo, em New York City, Labov mostrou que a variação lingüística estava correlacionada, nos grandes centros, a fatores como classe social, sexo, etnia, idade e estilo, o que implicou, também, no desenvolvimento de métodos apropriados para pesquisas de larga escala. Em ambos os casos foi possível demonstrar uma relação sistemática entre a variação lingüística e a dinâmica social. Inserida neste quadro, Eckert levanta uma série de questões ainda pouco exploradas. Sua questão básica é a seguinte: se a variação funciona como um recurso simbólico em nível local, quais são a natureza e os limites deste potencial simbólico? A esta questão Eckert junta mais outras, a saber:

(a) Dadas duas variáveis simbolicamente marcadas, que tipo de relação pode se estabelecer entre elas?

(b) Qual é a natureza da relação entre um valor simbólico local e os padrões globais que aparecem em estudos de larga escala?

(c) Como tudo isso se reflete no uso real da variação na prática social?

É com estas questões em mente que Eckert retoma a variável (ay), conforme usada nos subúrbios de Detroit. Trabalhos anteriores já haviam demonstrado, para a fala dos adolescentes destes subúrbios, algo muito parecido com aquilo que Labov havia mostrado em Martha's Vineyard: o alçamento do núcleo do ditongo (ay) estava correlacionado a uma atitude de orientação na direção do padrão de Detroit. Partindo daí, Eckert procura refinar esta generalização através de uma pesquisa envolvendo adolescentes de uma escola localizada em um subúrbio de população branca. Estes adolescentes se subdividem em dois grupos principais: os 'jocks' e os 'burnouts'. Os 'jocks' se caracterizam por incorporarem uma cultura de classe média, por participarem das redes sociais limitadas à escola, pela baixa expectativa que têm em relação aos amigos e ao subúrbio (dos quais pretendem se desligar quando entrarem para a faculdade) e por não deixarem o subúrbio nem mesmo para diversão, pois consideram a área urbana de Detroit um lugar perigoso. Os 'burnouts', por sua vez, se caracterizam por incorporarem uma cultura típica da classe trabalhadora, por não manterem ligações sólidas com a escola e com as redes sociais que ela desencadeia, por se ligarem às suas comunidades e bairros de origem, onde pretendem permanecer após concluirem a faculdade, e por ultrapassarem os limites do subúrbio em termos de suas redes sociais, atingindo a área urbana de Detroit, cujos adolescentes são, para os 'burnouts', mais aptos para a vida, mais 'durões', mais espertos e mais livres. Como se pode ver, os 'burnouts' são muito mais 'orientados' em relação a Detroit do que os 'jocks', em termos dos valores simbólicos.

Em termos da variável (ay), neste estudo, dois processos podem ocorrer: ( 1 ) a semivogal pode ser eliminada, e ( 2 ) o núcleo pode ser alçado. Estes dois processos ocorrem em contextos segmentais complementares e veiculam valores sociais diferentes. O cancelamento da semivogal não diferencia significativamente os 'jocks' dos 'burnouts', como um todo. Contudo, há uma diferença significativa de sexo, com os meninos na liderança. Quando são combinados os efeitos de sexo e grupo (que é a categoria social de Eckert) encontramos a seguinte ordenação: M-jock > M-burnout > F-burnout > F-jock. A diferença entre M-jock e M-burnout não é estatisticamente significativa, mas a diferença entre F-burnout e F-jock é. Eckert interpreta este resultado dizendo que esta variável se associou, de algum modo, ao valor autonomia, sendo que as meninas 'jock' constituem a categoria social mais restritiva. Vale lembrar aqui a semelhança entre este comportamento F-jock e o comportamento da classe média, principalmente entre as mulheres.

O alçamento do núcleo de (ay) é um caso mais complexo. Aqui, todos os informantes produzem um[Ã], que é a variante comum. Contudo, há outras variantes tais como [ « ] (mais alçada ainda), [Ã2] (mais posteriorizada) e [I] (arredondada), chamadas por Eckert de variantes extremas. No caso do alçamento extremo as diferenças de grupo e de sexo são, independentemente, significativas, com 'burnouts' > 'jocks' e F > M. Quando os efeitos destes dois fatores são combinados, vamos encontrar as meninas 'burnout' com larga liderança, na seguinte ordenação:

Segundo Eckert, as diferenças entre M-burnouts e M-jocks, no caso do alçamento extremo, não são estatisticamente significativas (NB: os cálculos para esta afirmação não são fornecidos no texto) e, assim sendo, são as meninas 'jock' que ocupam a última posição. Para Eckert, a grande diferença de comportamento entre F-jock e F-burnout se deve à sujeição, por parte das primeiras, às normas socialmente aceitas e esperadas, em termos do comportamento feminino e, por parte das últimas, pela rejeição a estas mesmas normas. Contudo, esta explicação fica um pouco enfraquecida pela ausência das evidências para se colocar as meninas 'jock' na última posição na ordenação acima. Na hipótese de a interpretação dada estar correta, permanece uma pergunta: qual é o significado social que o grupo 'burnout' está construindo, particularmente as meninas, através, principalmente, do alçamento extremo do núcleo de (ay)? Para responder a esta pergunta, Eckert se vale da noção de 'comunidade de prática', caracterizada como um agregado de pessoas que se juntam em torno de um objetivo comum. Esta atividade conjunta em torno de um objetivo comum acaba gerando 'modos de se fazer as coisas', modos de falar, crenças e valores, tudo isto formando o conjunto de práticas. Esta noção serve, portanto, para identificar uma população em termos de práticas sociais, nas quais os traços lingüísticos se encaixam. Assim, o significado social da variação se forma dentro da comunidade de prática. O uso real das variáveis lingüísticas é parte da prática das comunidades, e é aí que elas adquirem significado social. Sua propagação não se dá, pois, de pessoa para pessoa; as variáveis são incorporadas e manipuladas pelas comunidades de prática na construção do significado local. Para confirmar suas idéias sobre a relação entre variação lingüística e comunidade de prática Eckert se vale de dois conjuntos de fatos. O primeiro conjunto se refere a temas culturais marcantes na identificação do grupo 'burnout': pouca importância dada à escola; amigos e inimigos; categorias sociais; brigas e o fato de ficar fora de casa a noite toda sem o conhecimento dos pais. Nas entrevistas em que estes temas culturais aparecem Eckert notou um aumento no uso das formas extremas de alçamento do núcleo de (ay), mesmo na fala lenta (muito embora o texto não forneça tabelas comparativas para que o leitor possa apreciar o alcance da afirmação feita). O segundo conjunto se refere ao uso interacional do alçamento extremo. Nestes casos, Eckert notou que a maioria destas formas extremas (novamente, nenhuma tabela comparativa é dada para isto) ocorreu sob acento enfático, com palavras e frases que correspondiam a momentos particularmente dramáticos nas narrativas. Nestes casos, o tópico da discussão se revestia de um conteúdo cultural claro para os 'burnouts'.

O texto de Eckert, mesmo sem algumas tabelas cruciais para comparações, fornece indícios de um processo de construção de uma identidade 'burnout', um tipo de prática na qual as variáveis desenvolvem um significado social, numa linha muito parecida com o que se pode ver no texto de Kroch sobre o dialeto da classe alta de Filadélfia. É interessante observar, também, a semelhança entre a abordagem de Eckert e aquela desenvolvida pelos Milroy em Belfast.

O quarto texto da primeira parte é de Raymond Mougeon & Édouard Beniak, Social Class and Language Variation in Bilingual Speech Communities. Trata-se de um texto bastante interessante por colocar a questão da variação/mudança lingüística em um contexto bilíngüe, investigando o impacto que o bilingüismo, o contato e o uso lingüísticos têm na estratificação social e na mudança lingüística. Para tanto, os autores partem de dois pontos já estabelecidos na literatura sociolingüística: (a) quando a variação lingüística envolve uma variante padrão e uma não-padrão, numa situação estável, observa-se a estratificação social da fala (cf. Labov, 1966), numa correlação direta entre status social alto e freqüências altas da variável padrão (e, inversamente, uma correlação direta entre status social mais baixo e maior incidência de formas não-padrão); (b) quando a variação lingüística envolve mudança, o fator classe social desempenha um papel importante no surgimento das inovações lingüísticas, que se difundem gradualmente através do espectro social (cf. Guy, 1989). A partir destas duas âncoras, os autores se propõem mostrar os vários modos pelos quais tanto a estratificação social da fala quanto a mudança lingüística podem ser afetados pelo contato intenso do francês com o inglês e pelas restrições impostas à alocação funcional do francês numa comunidade bilíngüe no Estado de Ontario, Canadá. Em termos de contato lingüístico, o que temos, no caso estudado, é uma minoria de fala francesa numa região dominada pelo inglês. Estes falantes do francês, além disso, estão sujeitos a restrições funcionais severas, seja pela falta de escolarização em francês, o que afeta as gerações mais velhas, seja pela mudança em direção ao inglês nos domínios sociais privados, por parte das gerações mais jovens. Segundo os autores, estes dois fatores relativos às restrições funcionais acabam por obscurecer a estratificação social. O que os autores procuram entender, portanto, é a interação entre o contato maciço com o inglês e as restrições impostas ao francês, por um lado, e o fator classe social, por outro lado, no surgimento e na difusão de mudanças lingüísticas no francês do Ontario.

Os informantes utilizados na composição do corpus examinado são adultos (caracterizados pela pouca escolarização em francês (mas não necessariamente na mesma proporção) e pelo uso do francês em casa e em outros domínios informais) e adolescentes (caracterizados por terem sido expostos à escolarização em francês desde o jardim de infância (mas não necessariamente com o mesmo volume de exposição), diferenciando-se, contudo, quanto ao uso do francês em situações informais, variando desde aqueles que usam unicamente o francês nestas situações até aqueles que limitam o uso do francês ao contexto escolar).

As variáveis lingüísticas examinadas são 3: (1) ditongação de vogais longas, la rose [ rowz ] vs. [ roúz ], um processo não-padrão no francês de Montreal ; (2) possessivo em à vs. possessivo em de , le char à mon père vs. l'auto de mon père ; (3) vas vs. vais na 1ª pessoa do presente do indicativo, je vas à Montrèal vs. je vais à Montrèal.

No caso da ditongação das vogais longas, os autores observaram que a maioria dos adultos com alto índice de ditongação era constituída por aqueles cuja escolarização se deu apenas parcialmente em francês, fato que não transpareceu na diferenciação destes mesmos adultos em termos de classe social. Portanto, não é o tempo de escolarização e, sim, o tempo de escolarização em francês que tem conseqüências no uso da variante ditongada; quanto menor o tempo, maior a incidência de ditongação, o que mostra que a restrição funcional devida à escolarização deixa marcas na variação em questão.

O segundo tipo de restrição funcional imposta ao francês - a sua substituição, por parte dos adolescentes, pelo inglês nos domínios sociais privados - é examinada em termos da variação envolvendo o possessivo em à (não-padrão) vs. o possessivo em de (padrão). Dividindo os adolescentes em 3 grupos, irrestritos, semi-restritos e restritos, conforme o grau de utilização, maior ou menor, do francês nos domínios sociais privados, e subdividindo cada um destes 3 grupos em 3 classes sociais, média, média-baixa e trabalhadora, os autores observaram que: (a) entre os irrestritos e os semi-restritos existe a estratificação social encontrada em comunidades monolíngües, com o decréscimo de à da classe média-baixa para a classe trabalhadora (na classe média não há, na verdade, nenhuma ocorrência de à , o que indica um alto nível de saliência sociolingüística associado a esta variável); (b) quando a alternância entre à e de é vista em termos do grau de restrição ao uso do francês, observa-se a ausência completa de à no grupo restrito, independentemente das diferenças de classe (o que mostra como as restrições funcionais ao uso do francês podem alterar a estratificação social da fala); (c) a ausência, não prevista, de à entre os adolescentes de classe trabalhadora do grupo restrito se explica pela restrição funcional (e não em termos de classe social), uma vez que para o grupo restrito o uso do francês se limita à escola, um ambiente formal no qual não cabe a variante não-padrão. O que este caso sugere é que a limitação do uso de uma língua minoritária a contextos formais como a escola pode contribuir para a eliminação de variações estáveis antigas, tornando-se, assim, um desencadeador de mudanças.

O passo seguinte consiste do exame de alguns casos de surgimento de novas variantes. No caso de línguas minoritárias, o que se observa é o surgimento de variantes morfologicamente mais regulares e semanticamente mais transparentes do que as já existentes, sendo que estas inovações surgem entre aqueles falantes que mostram um grau significativo de restrição quanto ao uso de línguas minoritárias.

O que se conclui do exame destes casos é que, como afirmam os autores, o contato lingüístico e as restrições funcionais se mostram como sendo as causas externas principais de vários tipos de inovações e mudanças lingüísticas, e que o fator classe social desempenha um papel secundário no surgimento destas mudanças. Para os autores, as mudanças que podem ser observadas nas comunidades bilíngües podem ser radicais e definitivas, uma vez que elas se justificam no fenômeno da restrição acentuada ao uso da língua minoritária ou no contato lingüístico intenso, dois processos que podem assumir proporções catastróficas (palavras dos autores). Estas idéias, aliás, estão em ressonância com as idéias expostas por Trudgill em seu texto (cf. também o texto de Haeri, a seguir).

O quinto texto desta primeira parte é de autoria de Niloofar Haeri, "Why do women do this?" Sex and Gender Differences in Speech. No trabalho de Labov (cf. Labov, 1972 e 1990) destaca-se o papel das mulheres na mudança lingüística, com a observação de que, para várias mudanças, elas estão na dianteira dos homens. E Labov se pergunta: por que elas agem assim? A resposta que Labov avança para sua própria pergunta (1972:302) tem um caráter especulativo, conforme ele mesmo salienta, e sugere que as mulheres estão na liderança por uma questão de postura expressiva, que é mais apropriada socialmente para um sexo do que para o outro. Pois é exatamente esta pergunta que o texto de Haeri retoma, numa tentativa de se avançar um pouco mais na questão. O propósito de Haeri é o de desenvolver a noção de postura expressiva, conceituando-a como o resultado da interação entre as diferenças de fala determinadas pelo sexo e a estrutura social. Para Haeri, as diferenças físicas na fala das mulheres acabam envolvidas na construção de diferenças sociais, assumindo um valor icônico. Resta saber como é que esta iconicidade e a estrutura social produzem diferenças expressivas.

A partir do exame de 19 processos variáveis, oriundos de diferentes comunidades, 13 dos quais envolvendo a anteriorização da variável e 6 envolvendo sua posteriorização, Haeri observa que as mulheres lideram 12 dos 13 primeiros, enquanto os homens lideram 5 dos 6 últimos. Portanto, uma generalização pode ser feita aqui: a anteriorização exibe um valor icônico "feminino", enquanto a posteriorização exibe um valor icônico "masculino". Assim, pode-se dizer que a postura expressiva feminina se dê através da anteriorização, enquanto que a postura expressiva masculina se dê através da posteriorização. Esta generalização se sustenta em duas bases diferentes: a primeira, mais óbvia, diz respeito às diferenças anatômicas entre os tratos vocais dos homens e das mulheres, cujas diferenças de tamanho acabam produzindo, para as vogais, diferenças acústicas acentuadas entre as falas dos dois sexos. Vários estudos fonéticos confirmam isso (cf. Mattingly, 1966; Fant, 1973). Contudo, as diferenças encontradas nos estudos sociolingüísticos ultrapassam aquilo que poderia ser atribuído às diferenças no trato vocal. Assim, Haeri usa uma segunda base para sustentar sua generalização, fundamentada em convenções lingüísticas e arquétipos de sexo, que são culturalmente determinados. Conforme afirma Haeri, as diferenças anatômicas provocam construções sociais que, por sua vez, estimulam uma certa manipulação destas mesmas diferenças.

Para justificar esta sua segunda base, de caráter menos óbvio, Haeri analisa dois processos correntes no árabe do Cairo. No primeiro deles, temos a faringalização, um fenômeno gradiente, que vai da faringalização zero até graus cada vez mais fortes de recuo da língua em direção à faringe, na produção dos chamados fonemas 'enfáticos' do árabe, /T, D, S, Z/. A faringalização é um caso de posteriorização que, segundo estudos anteriores (cf. Royal, 1985), tem as suas realizações mais fortes significativamente associadas à fala dos homens, que utilizam estas realizações mais fortes para parecerem mais durões. Já os casos de faringalização fraca (ou mesmo 'zero') se associam à fala das mulheres e também à fala das classes média-alta e alta. Portanto, as faringalizações mais fortes se transformam numa postura expressiva associada aos homens (em oposição às mulheres) e, em especial, aos homens que não pertencem às classes mais altas.

O segundo processo analisado é o da palatalização de /t, tt, T, d, dd, D/ diante de /y, i/ , claramente um fenômeno de anteriorização. Também aqui estamos diante de um fenômeno gradiente que, em sua versão fraca, resulta numa fricção adicionada à oclusão e, em sua versão forte, resulta numa africada. Este processo está claramente associado às mulheres (.77) e não aos homens (.18). No caso da palatalização mais fraca, o processo é liderado pelas mulheres da classe média alta, seguidas pelos homens desta mesma classe, constituindo-se, assim, numa postura expressiva com marcas feminina e classe alta. No caso da palatalização forte, por outro lado, o processo é liderado pelas mulheres da classse média baixa que, num certo sentido, retomaram o processo de palatalização, levando-o de fricção adicionada a africada. É interessante, e importante, observar que, no caso da palatalização forte, as mulheres da classe média alta não estão seguindo as mulheres da classe média baixa. Se o valor icônico fosse apenas feminino, isto seria um mistério mas, aqui, outro fator, classe social, também controla o processo. Note-se ainda a relação estreita entre algumas características da classe média alta e as características femininas (cf. também o texto de Kroch, mencionado anteriormente).

O texto de Haeri mostra, portanto, que os processos de anteriorização e posteriorização são baseados em diferenças anatômicas que, por sua vez, interagem com a estrutura social, não podendo ser explicados unicamente em termos de valores icônicos fundamentados em diferenças de sexo.

Embora bastante interessante, a análise de Haeri deixa sem explicação alguns casos mencionados no próprio texto, como a palatalização de /t, d, s, z/ diante de /yu/ em Sydney (fenômeno que também ocorre no inglês americano em palavras como tune). Além disso, há casos que não são contemplados, como, por exemplo, os casos que envolvem cancelamento. Quais seriam as expectativas aqui? Estes casos não tiram o mérito do texto de Haeri. Ao contrário, estimulam a pesquisa em termos da questão inicial levantada por Labov: por que as mulheres agem assim?

O sexto trabalho desta primeira parte é de autoria de Claude Paradis, Interactional Conditioning of Linguistic Heterogeneity. Paradis retoma em seu texto uma das técnicas desenvolvidas por Labov, a entrevista sociolingüística. Para Paradis, a entrevista sociolingüística, enquanto técnica de elicitação de dados, tem limitações, uma vez que ela apenas se aproxima da produção lingüística encontrada nas interações naturais.

O objetivo de Paradis, em seu texto, consiste em estabelecer uma correlação direta entre a natureza dos dados sociolingüísticos e a natureza de quatro entrevistas, diferenciadas em termos do tipo de contexto interacional de cada uma delas. Os dados lingüísticos se referem à produção de vogais envolvidas num processo de variação e mudança no francês canadense de duas cidades (Chicourtimi e Jonquière) do Québec.

O corpus utilizado consiste de 12.000 vogais acentuadas, analisadas acusticamente, provenientes da fala de 43 falantes nativos do francês, classificados por idade, sexo e classe social.

O quadro conceitual utilizado se vale de alguns conceitos básicos como o princípio da cooperação, que rege qualquer interação verbal. O nível de cooperação estabelecido pode variar de acordo com o modo pelo qual os interlocutores (entrevistador e entrevistado) avaliam a situação de interação. Um dos fatores envolvidos nesta avaliação é o ambiente psicológico da interação (aquilo que Hymes, 1972, chama de scene). Goffman (1967) define este ambiente psicológico em termos das noções de line - um padrão de ações verbais e não-verbais que expressa o modo como alguém percebe uma situação e, a partir daí, avalia os participantes, especialmente a si mesmos - e de face - o valor social positivo que alguém reivindica para si mesmo, em termos da postura que os outros supõem que ele tomou durante a interação. A idéia básica aqui é a de que os valores sociais são construídos durante as interações, através de pedidos e respostas, verbais e não-verbais. Manter a face é, pois, uma condição para se conduzir uma interação.

Durante as entrevistas conduzidas nas duas cidades, foram observadas interpretações e avaliações contextuais variadas por parte dos entrevistadores e dos entrevistados, o que resultou numa grande diversidade de padrões (ou lines). As questões levantadas por Paradis foram: (a) é possível determinar, com base nas pistas lingüísticas e extra-lingüísticas, quais são os padrões de ação (lines) apresentados pelos interlocutores e, conseqüentemente, que valores sociais (face) cada um está reivindicando para si mesmo?, e (b) em caso positivo, é possível correlacionar a fala de um entrevistado aos padrões (line) que estão sendo sustentados pelos participantes, estabelecendo-se o nível de significância desta correlação? Para Paradis, ambas as questões devem ser respondidas afirmativamente, e é isto que ele procura sustentar no restante de seu texto, examinando mais detidamente as entrevistas de 4 informantes do sexo masculino, com idades de 29, 32, 33 e 35 anos, todos eles de classe média-média e com empregos de prestígio (engenheiro, dentista, médico e diretor de programação de estação de rádio, respectivamente), sendo que todos eles foram entrevistados por uma mesma entrevistadora.

As hipóteses que orientaram a análise foram três: (1) Os quatro informantes, socialmente semelhantes, não interagem do mesmo modo com a entrevistadora que, por sua vez, não mostra o mesmo comportamento, verbal e não-verbal, de entrevista para entrevista; (2) O tipo de fala usado por cada interlocutor é uma função da line e da face que cada qual sustenta ou reivindica; (3) A line sustentada e a face reivindicada por cada entrevistado pode ser inferida diretamente da line sustentada pela entrevistadora em cada situação. Line e face são, assim, construídas durante a interação, podendo variar, para um mesmo falante, de um contexto interacional para outro.

Para diferenciar as interações, nas quatro entrevistas selecionadas, Paradis se vale de uma série de pistas, ligadas ao conceito de deferência (cf. Goffman, 1967): tomada de turno (quanto maior a participação do entrevistador, menor a diferença de face entre entrevistador e entrevistado); uso do 'hum' fático (quanto maior o seu uso, maior o envolvimento com a fala do entrevistado); formas de tratamento (tu è relação mais próxima, solidariedade - vous è relação menos próxima, não-solidariedade entre entrevistador e entrevistado); e outras. Nas quatro entrevistas temos, então, um rapport diferenciado envolvendo entrevistadora e entrevistado, sendo uma entrevista de rapport alto, uma de rapport baixo e duas de rapport intermediário.

Na análise acústica das vogais em questão fica claro, no texto de Paradis, que há uma correlação estreita entre as diferenças envolvendo o segundo formante destas vogais e as diferenças entre as entrevistas. Na entrevista de rapport maior (menos formal) as vogais são mais centralizadas; já na entrevista de rapport menor (mais formal) as vogais são mais periféricas, estando as vogais das outras duas entrevistas, de rapport médio, numa posição intermediária no espaço fonológico.

Se Paradis está certo, então podemos dizer que a entrevista sociolingüística não se presta ao controle que estamos acostumados a atribuir a ela, uma vez que as interações não são governadas unicamente por seus objetivos, mas também, ou principalmente, pelo rapport que os interlocutores desenvolvem e mantêm. Esta crítica, em termos gerais, tem sua razão de ser; mas, convém lembrar, Labov sempre sugeriu que os dados obtidos nestas entrevistas podem, e devem, ser suplementados por dados de outras fontes. Além disso, as entrevistas sociolingüísticas permitem que se coletem dados que sejam comparáveis, o que nem sempre ocorre quando os dados são obtidos apenas nas observações casuais.

O texto de Paradis é, sem dúvida, estimulador. É possível que os conhecimentos já acumulados nas área da análise conversacional, por exemplo, nos permitam reformular as técnicas de entrevista sociolingüística, o que nos permitiria utilizar um paradigma analítico mais interessante, semelhante àquele utilizado pelos Milroy em Belfast.

O sétimo texto desta primeira parte é de autoria de Crawford Feagin, Peaks and Glides in Southern States Short-a. O tema do texto é o polêmico short-a do inglês, que tem feito muita tinta correr há muitos anos. Na variedade de inglês do Norte dos Estados Unidos o short-a pode ser alçado, [ Q > E« > i«], refletindo uma mudança já antiga na região e diferenciando esta variedade das demais variedades do inglês. Mas, segundo Feagin, a pronúncia do short-a é um fenômeno ainda mais complexo nos Estados do sul dos Estados Unidos. No sul o short-a é freqüentemente longo; pode ser um monotongo; pode ser uma vogal seguida de um glide anterior; pode ser uma vogal seguida de um glide central; ou pode ser um tritongo. E, segundo Feagin, investigadores diferentes, trabalhando com falantes diferentes, acabaram por relatar situações diferentes para o short-a. Labov (1989), por sua vez, sugere que o short-a cindiu-se em três fonemas diferentes, / Q / ; / Qi / e / Q«/ . Feagin, por sua vez, diz que o fenômeno, embora complexo, pode ser resolvido através de uma abordagem cuidadosa, reduzindo a aparente confusão a um padrão. É esta, portanto, a intenção de Feagin: esclarecer a questão de uma vez por todas.

Os dados examinados por Feagin são retirados das entrevistas com 10 informantes brancos da localidade de Anniston, Alabama, divididos igualmente por sexo, idade e classe social, sendo que cada um deles forneceu entre 150 e 200 casos de short-a. Os pontos de interesse são: ( 1 ) a realização fonética do short-a; ( 2 ) os diferentes tipos de glide encontrados com o short-a, o contexto de cada um deles e o papel do ritmo no seu aparecimento. Feagin observa, de início, que o desenvolvimento das variedades do inglês do norte e do sul não é semelhante. No norte o contato do inglês se deu com línguas européias, enquanto que no sul ele se deu com línguas africanas. Além disso, há, entre as duas variedades, diferenças profundas que afetam a pronúncia do short-a (como, por exemplo, o fato de o short-a e um /l, r, m, n/ seguinte serem tautossilábicos no norte mas não no sul).

No caso de Anniston os casos encontrados são os seguintes: monotongo [ Q ]; ditongo com glide anterior [ Qi ]; ditongo com glide central [ Q« ]; núcleo acompanhado de dois glides: [Q: ] ~ [ iQiY« ] . Quando se considera apenas a qualidade do núcleo da vogal encontramos sete realizações: [ Q ]; três variantes alçadas [ E ] , [ e ] e [ i ]; e três variantes posteriorizadas [ a ], [ I ] e [ Ã ] . Estas seis últimas variantes são de ocorrência reduzida, sendo que as três variantes alçadas estão confinadas a umas poucas palavras, em que can't, after, had, Dad(dy) e that('s) lideram (e, aqui, Feagin omite qualquer tipo de comentário em termos de difusão lexical...). Embora a ditongação do short-a seja um fenômeno comum a todas as variedades do inglês americano, a ditongação com glide anterior é restrita ao inglês dos estados americanos do sul.

Concentrando-se, num primeiro momento, na ditongação do short-a, Feagin considera os efeitos estruturais que favorecem este processo, concluindo que: (a) a ditongação só acontece em sílabas fechadas; (b) é altamente favorecida pelos segmentos sonoros, podendo-se ver que nos ambientes onde a variedade do norte alonga o short-a a variedade do sul o ditonga (muito embora o maior efeito seja dado pelo / k /, no geral o vozeamento me pareceu ser o maior efeito favorecedor da ditongação); (c) os tipos de glide, anterior ou central, estão numa espécie de distribuição complementar em termos de seus ambientes favorecedores; (d) os glides complexos não apresentam nenhum favorecimento segmental significativo para seu aparecimento, sendo, contudo, favorecidos nas sílabas que contêm um alongamento extra combinado com acento tônico, e mais característicos da fala das mulheres do que da fala dos homens; (e) é favorecida por traços prosódicos como a extensão da palavra (monossílabos > dissílabos > trissílabos > tetrassílabos > pentassílabos) combinada com o ritmo (stress timed) de fala.

Em termos dos condicionamentos não-estruturais para a ditongação, as conclusões de Feagin são: ( a ) o fenômeno é mais característico das mulheres do que dos homens, principalmente entre os velhos; (b) a diferença entre os jovens é pequena, o que pode indicar uma mudança no sentido da obliteração da diferença entre os sexos; (c) a ditongação está se caracterizando como um marcador social, relacionado à classe trabalhadora; (d) trata-se de um fenômeno urbano (vs. rural) ou de um fenômeno recente (Feagin não se decide aqui).

No que se refere ao alçamento, as conclusões de Feagin são: (a) o fenômeno é liderado pelas meninas da classe trabalhadora; (b) é favorecido nas palavras can (v.) > after > Daddy ; (c) trata-se de um caso de 'change from below' ; (d) é desfavorecido pelos jovens da classe alta, o que Feagin explica em termos de uma orientação em direção a um padrão não-local; (e) trata-se de um fenômeno incipiente, que pode indicar uma mudança em seus estágios iniciais.

O texto de Feagin apresenta muitos problemas. O número de informantes utilizados na pesquisa me pareceu pequeno para o volume de detalhes que o texto pretendeu analisar. Além disso, não me pareceu que o texto esclareceu os pontos complexos e obscuros que ele pretendia esclarecer. Por exemplo, a maior parte das afirmações sobre os correlatos sociais dos fenômenos examinados são inconclusivas. Aliás, a própria Feagin reconhece (pg. 154) que é preciso investigar mais os problemas tratados. Outro ponto que mereceria atenção da autora se refere à qualidade de suas tabelas. Algumas são de interpretação muito difícil (e.g.m, Table 1, pg. 139), enquanto que outras trazem dados que não respaldam o texto que se segue (e.g.m Table 9, pg. 153). Feagin também deixa de explorar o modelo difusionista como alternativa de explicação para alguns casos que ela mesma aponta sobre o alçamento do short-a. Para finalizar, pareceu-me que o texto de Feagin deveria ter sido colocado na segunda parte da coletânea, uma vez que seu ponto forte ( ? ) é a análise estrutural do short-a.

O oitavo e último texto da primeira parte da coletânea é de autoria de Junko Hibiya, Denasalization of the Velar Nasal in Tokyo Japanese: Observations in Real Time. Hibiya retoma o quadro proposto por Weinreich, Labov & Herzog (1968) e analisa a variável (ng) do japonês de Tóquio, onde um processo de desnasalização levou [ -N- ] a [ - g - ] em posição interna de palavra. Uma vez que esta variável mostra uma correlação significativa com o fator idade, Hibiya se pergunta se se trata de um fenômeno de age-grading ou de um caso de mudança sonora.

Hibiya inicia seu texto referindo-se a dois estudos anteriores. No primeiro deles , foi possível mostrar que para os informantes de idade entre 12 e 24 anos esta mudança já estava completada, com [ -N- ] subsistindo apenas entre os informantes mais velhos. No segundo estudo, de sua própria autoria, Hibiya (1988) mostrou que uma estratificação etária ainda estava presente entre 62 informantes analisados, com idade entre 14 e 81 anos, em que os informantes mais jovens apresentavam mais ocorrências de [ -g- ] do que os informantes mais velhos. Para responder à questão colocada, Hibiya se vale de quatro fontes extremamente confiáveis, mostrando que a mudança que levou [ -N- ] a [ - g - ] teve início em Tóquio entre os falantes nascidos nas décadas de 1910 e 1920. Com isto, temos evidência de tempo real, que confirma a desnasalização de [ -N- ] em [ - g - ] como um caso de mudança que está se completando na geração mais jovem de hoje.

O texto de Hibiya é um ótimo exemplo de como se utilizar de fontes históricas para montar um argumento para mudança lingüística de termos da evidência de tempo aparente, o que nem sempre é fácil.

A segunda seção da coletânea é composta por textos voltados para os aspectos estruturais da variação e mudança lingüísticas, aspectos estes que têm como referência as propostas contidas na obra de Labov. Conforme já foi acentuado antes, são as preocupações de natureza estrutural que constituem o cerne da obra de Labov, cujo objetivo sempre foi o de entender a estrutura e a evolução lingüística. Neste quadro, Labov pode ser apontado como sendo o responsável por inúmeras propostas conceituais e metodológicas (por exemplo, a natureza sistemática da variação, a noção de variável lingüística, as regras variáveis e a análise quantitativa, entre outros).

Esta segunda seção é, ao mesmo tempo, brilhante e problemática. Dos textos que a compõem, quatro lidam com fenômenos de mudança lingüística, um lida com a variação lingüística, enquanto que o último tenta mostrar as vantagens de um certo tipo de dados (ou tipos específicos de fonologias) para o funcionamento mais preciso de um sistema de reconhecimento automático de fala.

Outro ponto a ser destacado é que nem sempre os textos são de fácil leitura, seja pelos dados lingüísticos que são considerados, de línguas pouco acessíveis (hebraico, inglês antigo e sueco antigo), seja pelos aspectos técnicos pouco conhecidos envolvidos em alguns deles (e.g., automatic speech recognition). Mas é também nesta seção que encontramos os maiores problemas de edição de toda a coletânea, que acabaram escapando ao revisor, complicando ainda mais a leitura. Felizmente, é também nesta seção que encontramos dois textos que se utilizam de dados do português brasileiro, sendo ambos textos brilhantes.

O primeiro texto da segunda seção é de autoria de Charles Ferguson, Variation and Drift: Loss of Agreement in Germanic. A partir da observação inicial de que as línguas germânicas têm se alterado, desde o Proto-Germânico (PG), trocando uma estrutura gramatical relativamente sintética por uma estrutura relativamente analítica, Ferguson nota que a morfologia flexional teria ficado cada vez mais simples, com grande redução no fenômeno da concordância gramatical. Esta mudança estrutural ao longo dos séculos é classificada por Ferguson como uma espécie de deriva.

Trabalhando dentro do quadro desenvolvido por Weinreich, Labov & Herzog (1968), Ferguson retoma duas questões lá colocadas: (1) por que acontece uma mudança num traço estrutural, numa língua particular, numa determinada época, sendo que o mesmo não acontece em outras línguas que apresentam o mesmo traço, ou nesta mesma língua em época diferente?, e (2) como é que uma dada mudança histórica adquire nova significância quando vista como parte de uma tendência de longo termo?

Concentrando-se na perda gradual da concordância gramatical, Ferguson nos remete ao inglês e ao sueco, examinando a concordância Sujeito/Verbo e a concordância das formas adjetivais fortes e fracas dentro da frase nominal, fenômenos estes que se estruturavam de forma bastante complexa no PG. O sueco perdeu todos os traços de concordância (pessoa e número) entre o Sujeito e o Verbo, mantendo um número reduzido, porém sólido, de contrastes entre as declinações forte e fraca do adjetivo. O inglês, por sua vez, perdeu todos os traços deste contraste (presentes no inglês antigo), retendo, porém, a marca de concordância nas formas verbais do Presente do Indicativo com sujeito de 3PS, (-s).

O caso da concordância Sujeito/Verbo é tratado através de dois processos de redução. No primeiro, há uma convergência de formas (no inglês antigo as diferentes formas do plural convergem na forma da 3PP do PG; no sueco convergem as formas do singular numa única forma, baseada na forma da 2PS do PG (contrariando as expectativas em termos de marcação e naturalidade, já que o plural é mais marcado que o singular...), com redução, em ambos os casos, do número das formas verbais distintas e do número das categorias envolvidas. O segundo processo de redução tomou caminhos diferentes nas duas línguas. No inglês houve uma fusão das vogais átonas em que /a, o, u, e/ > / e / [ « ] , seguida de duas inovações inesperadas: ( a ) -th > -s nas terminações verbais, e ( b ) limitação de -s à 3PS2 2 Esta discussão fica um pouco difícil de ser seguida devido a falhas na Tabela 1 de Ferguson (pg. 175), que escaparam ao revisor. Passo, portanto, ao leitor as formas corretas para o Presente do Indicativo do verbo bindan : 1PS binde; 2PS bindest; 3PS bindeth; 1, 2 e 3 PP bindath. . A mudança ( a ), que veio do norte para o sul, é uma mudança 'natural' já que th é mais marcado que s . Já no caso da mudança ( b ) temos uma construção marcada, não-natural, assumindo o status de padrão, constituindo-se numa espécie de anomalia. Na verdade este padrão 'anômalo' concorreu com outros dois, muito mais naturais: ausência de marca em todas as formas ou presença de marca em todas as formas. Para Ferguson, o padrão atual é resultante do espraiamento do padrão dos dialetos centrais, acrescido da mudança de -th em -s. No caso do sueco, houve primeiro uma fusão das formas do plural, seguida pela substituição destas mesmas formas pelas formas do singular já no século 17.

No caso das formas adjetivais, uma inovação não-esperada começa já no PG: cada adjetivo apresentava uma declinação forte, ligada a FN's indefinidas e com um número maior de formas distintas, e uma declinação fraca, ligada a FN's definidas e com um número menor de formas distintas. Esta era uma forma de marcar a definitude, tendo precedido o surgimento do artigo definido em PG. No inglês estas diferenças desapareceram devido a três tendências: (1) fusão das vogais átonas; (2) perda e regularização das terminações, conduzindo a um contraste relativamente uniforme entre singular e plural; e (3) perda do sistema de gênero. Posteriormente o [ « ] final foi eliminado, igualando as formas de singular e plural nas duas declinações. No sueco houve (1) perda e fusão de algumas terminações flexionais; e (2) redução na categoria de gênero, permanecendo, contudo, o contraste entre formas fortes e fracas, com -a para todas as formas fracas e, nas formas fortes, -f ( gênero comum), -t (neutro) e -a (plural).

A partir do exame dos casos comentados acima, Ferguson tece uma série de considerações de natureza teórica. Em primeiro lugar, é preciso que as teorias morfológicas consigam fornecer explicações satisfatórias para os vários tipos de deriva. A deriva morfológica tende a ser simplificadora, mas há casos de 'complicação'. Dois exemplos disso são a criação das declinações adjetivais forte e fraca no PG e a criação do sufixo -s na 3PS do Presente do Indicativo em inglês. Ferguson observa também que as línguas de simplificação lenta, como o islandês e o faroês, são línguas de pouquíssimo contato com outras línguas. Já as línguas como o inglês e o sueco, que aceleraram suas simplificações, fizeram isso em períodos de contato com o francês normando e o médio baixo alemão, respectivamente. Note-se aqui que estas propostas de Ferguson encontram ressonância nas propostas encontradas nos textos de Trudgill e Mougeon & Beniack, e se baseiam no aprendizado imperfeito por parte dos bilíngües parciais.

Com relação às inovações não-esperadas (como o -s do inglês), elas parecem seguir a mesma rota das inovações naturais, iniciando-se num grupo social, em alguns estilos de fala e, daí, propagando-se para outros contextos. O caso do inglês pode ser caracterizado, portanto, como uma marca de identidade de grupo, um marcador sociolingüístico.

Remetendo às questões iniciais, o texto de Ferguson deixa claros três pontos: (a) as derivas se caracterizam por uma multiplicidade de mudanças aparentemente separadas; (b) estas diferentes mudanças interagem entre si, alimentando-se mutuamente e fundindo-se umas com as outras; e (c) são fenômenos de longo termo. Na verdade, as derivas só poderão ser bem compreendidas se abordadas por estudos variacionistas cuidadosos.

O segundo texto da segunda seção é de autoria de Fernando Tarallo, Turning Different at the Turn of the Century: 19th Century Brazilian Portuguese. Trata-se de mais um texto brilhante - infelizmente o último! - produzido por Tarallo, cujo objetivo é o de demonstrar a existência de diferenças gramaticais importantes entre o português europeu (PE) e o português brasileiro (PB), diferenças estas que se revelam mais claramente no final do século 19 e início do século 20, sugerindo a emergência de uma sintaxe diferenciada no PB3 3 Uma versão algo diferente do texto em questão chegou a ser publicada em 1993 (cf. Tarallo, 1993). Outras versões deste mesmo texto, em inglês e em português, também chegaram a circular entre os lingüistas brasileiros. .

O quadro teórico que orienta o texto de Tarallo tem um caráter propositalmente híbrido, combinando a noção de encaixamento lingüístico e o princípio uniformitário da lingüística laboviana (cf. Weinreich, Labov & Herzog (1968); Labov (1972, 1982 e 1987) com o quadro chomskyano de princípios e parâmetros, nos termos propostos por Tarallo e Kato (1989).

Para demonstrar o ponto pretendido, Tarallo considera quatro mudanças ocorridas no PB: (1) rearranjo no sistema pronominal, com o surgimento de objetos nulos e aumento na freqüência de ocorrência de sujeitos lexicais; (2) mudança nas estratégias de relativização, em função das mudanças no sistema pronominal; (3) reorganização nos padrões básicos da ordem de palavras, com a emergência de uma ordem SVO predominante e a fixação do princípio de adjacência na marcação do caso acusativo, e (4) mudança no padrão da ordem das palavras em perguntas diretas.

O texto de Tarallo mostra que essas quatro mudanças não foram fenômenos isolados. Em termos estruturais elas mostram uma clara interação (cf. texto de Ferguson), numa relação feeding, o que acaba conduzindo a uma certa coincidência temporal entre elas. E é exatamente este feixe de mudanças que mostra como o PB estava se diferenciando do PE no final do século XIX, da seguinte maneira: (a)- passando de +pro-drop para –pro-drop; (b)- tornando mais rígida a ordem SVO e (c)- aumentando o escopo das regras de cancelamento, às custas das regras de movimento.

Há dois pontos, contudo, que precisam ser apontados aqui. O primeiro deles se refere à base quantitativa para as afirmações qualitativas de Tarallo: boa parte dos casos analisados compara dados da escrita com dados da fala. Já que não podemos recuperar dados da fala dos séculos passados, por que não se utilizou, também, de dados escritos de textos recentes? Isto teria fortalecido consideravelmente a análise. O segundo caso se refere à conclusão de que o PB estaria passando de +pro-drop para -pro-drop. A discussão aqui envolve a própria noção de mudança paramétrica utilizada, que não é compartilhada por outros pesquisadores de inclinação gerativista. Para este caso, remeto o leitor ao texto de Nicolau (1997).

Os textos 3 e 4 da segunda seção devem ser considerados em conjunto, uma vez que, retomando uma proposta inicial de Labov, acabam chegando a conclusões diferentes.

O terceiro texto é de Gregory R. Guy, Form and Function in Linguistic Variation. A pergunta básica que este texto pretende responder é: qual é a relação entre forma lingüística e função comunicativa? Para esta pergunta há duas respostas possíveis: (a)- existe uma relação entre função e forma, em que a primeira determina a segunda, ou (b)- função e forma são independentes entre si: as estruturas formais e os processos gramaticais operam independentemente dos usos funcionais ou comunicativos.

Trazendo o problema para o âmbito da sociolingüística, Guy se coloca a seguinte pergunta: a variação e a mudança lingüística são restringidas por fatores funcionais? A resposta de Guy a esta pergunta é a de que os mecanismos formais de produção lingüística não estão sujeitos a condicionamentos funcionais, embora a utilidade funcional da linguagem esteja preservada, a longo prazo, pela interação entre a produção variável e os processos normais de percepção e aquisição. Ou seja, em termos de produção, a natureza do fenômeno é puramente formal, mas as considerações funcionais afetam a percepção e a aquisição. Para provar seu ponto, Guy se vale de fenômenos variáveis, do inglês e do português, uma vez que com dados variáveis se torna possível examinar se as posições formal e funcional fazem previsões diferentes, testando-as sob vários ângulos.

O pano de fundo para a discussão de Guy é o trabalho de Kiparsky (1982), em termos da proposta da Condição de Distintividade (CD). Para Kiparsky (a)- a CD bloqueia a aplicação de regras nos ambientes em que estas poderiam apagar distinções morfológicas na superfície; (b)- algumas categorias são mais resistentes à obliteração do que outras (por exemplo, Tense e Número são categorias resistentes, enquanto que Caso é uma categoria fraca). O ponto mais relevante aqui é o seguinte: a CD é compensatória? Labov (1972:223) escreve:

"It is important to note that in the course of language evolution, change does go to completion, and variable rules have become invariant. When this happens, there is inevitably some other structural change to compensate for the loss of information involved".

Contudo, é exatamente esta idéia de mudança compensatória que Guy pretende rejeitar (ao contrário de Steiner, no texto 4), sob a alegação de que este tipo de fenômeno estaria na contramão do espírito neogramático e da visão modular da gramática. Examinando três casos de variação (t/d-deletion no inglês, o cancelamento do -s e a desnasalização de átonas finais no português brasileiro) Guy aponta que todos eles se qualificam como fenômenos interessantes para o exame dos efeitos funcionais - se existirem -, uma vez que nestes casos os processos atingem marcadores morfológicos, obliterando oposições.

No caso do inglês, é bem conhecido o fato de que a regra de cancelamento de t/d atinge menos freqüentemente as formas nas quais t/d é a única marca de passado (casos como walked, missed), do que aquelas em que t/d não é a única marca de passado ( casos como kept > kep' , left > lef' ). Este fato poderia confirmar a CD, uma vez que alvos com peso funcional mais alto se mostrariam mais resistentes ao cancelamento do que aqueles de peso funcional mais baixo. Guy, porém, reanalisa estes fatos num outro quadro, diferenciando formas como walked e missed de formas como kept e left em termos puramente formais (dentro do modelo da fonologia lexical), mostrando que é a forma morfológica que condiciona a aplicação da regra de cancelamento, e não a diferença funcional entre os dois conjuntos. Para comprovar sua análise, Guy compara formas idênticas que têm peso funcional diferente, o Passado e o P. Passado do inglês. Numa abordagem funcionalista iríamos prever que o cancelamento seria favorecido pelas formas do P. Passado, enquanto que pela abordagem formal iríamos prever que não haveria nenhuma diferença entre os dois casos, em termos de cancelamento. E é exatamente isto que acontece: nenhuma diferença significativa entre as taxas de cancelamento nos dois casos.

Voltando-se para os fatos do português (seções 3, 4 e 5), Guy chega à mesma conclusão: a explicação formal se mantém não só nos casos em que uma explicação funcional se mantém, mas também nos casos em que esta última não funciona (ou funciona às custas de formulações defeituosas).

Mas se os efeitos funcionais não contam para a produção, onde é que eles se manifestam? Afinal, todas as línguas conseguem evitar disfunções generalizadas, e se a CD não consegue restringir a produção, como é que podemos recuperar o irrecuperável? A resposta de Guy é: não podemos; parte dos casos são, de fato, "casos perdidos". Contudo, os fatores funcionais atuam , segundo Guy, na aquisição e na percepção. Na percepção, como alguns casos não são ouvidos, o único afetado é o ouvinte e o máximo que pode acontecer são alguns casos leves de má comunicação. Por outro lado, estes casos perdidos têm efeito na aquisição. Aí, as crianças em fase de aprendizado se guiam através dos casos que elas percebem. Assim, são construídas gramáticas nas quais a CD é, ou parece ser, verdadeira. A hipótese de Guy é a de que os princípios da GU não permitem a construção de restrições funcionais à variação, mas os aprendizes procurarão construir mecanismos formais que satisfaçam as funções necessárias que são percebidas.

As conclusões de Guy são, no mínimo, instigantes, ou seja: os falantes podem, eventualmente, violar a CD, mas as gramáticas criadas pelos aprendizes procurarão garantir a CD, adaptando, para esta finalidade, qualquer mecanismo formal, permitido pela GU, que preserve a funcionalidade. Se Guy está certo - e seu texto é realmente convincente - há mais a ser pesquisado na querela entre formalistas e funcionalistas.

O quarto texto é de autoria de Richard Steiner, The History of the Ancient Hebrew Modal System and Labov's Rule of Compensatory Structural Change, e tem como ponto de partida a mesma citação de Labov apresentada em relação ao texto de Guy. Steiner, contudo, chega a uma conclusão diferente daquela de Guy, argumentando a favor de uma mudança estrutural compensatória no hebraico.

Os fatos nos quais Steiner se baseou são, resumidamente, os seguintes: havia, no Proto Semítico Ocidental, do qual o hebraico é um rebento, uma distinção trinária no Imperfeito, envolvendo as formas do Indicativo, do Jussivo e do Subjuntivo. No hebraico pré-bíblico esta oposição trinária é substituída por uma oposição binária na qual as formas do Jussivo e do Subjuntivo se fundem, dando origem ao Volitivo, opondo-se às formas do Indicativo. Posteriormente, outras mudanças aconteceram, culminando na eliminação da oposição entre o Indicativo e o Volitivo em todas as pessoas, exceto na 1a (Singular e Plural), dando origem ao sistema do hebraico bíblico. Acontece, porém, que as formas da 2a PSmasc., 3a PSmasc. e 3a PSfem. permaneceram distintas no Indicativo X Volitivo para uma parte dos verbos (verbos fracos e verbos na voz ativa causativa4 4 Ou verbos Hif³il, conforme está no texto, o que dificulta a vida do leitor. ), numa situação muito parecida àquela envolvendo casos como keep X kep' no inglês (considerando-se a regra de cancelamento de t/d). Contudo, no hebraico dos manuscritos do Mar Morto, nem estas distinções conseguiram sobreviver, surgindo o Imperfeito (Indicativo + Volitivo).

No hebraico moderno, porém, houve uma reversão deste status quo, através de uma mudança estrutural compensatória que refez a oposição entre o Indicativo Futuro (X irá) e o Volitivo Futuro (oxalá X vá). Esta mudança estrutural compensatória constou, basicamente, de uma reestruturação do sistema de TENSE , com as formas do Imperfeito marcando o Volitivo Futuro e, por outro lado, sendo o Indicativo Futuro marcado por outras formas (Particípio, Construções Perifrásticas e algumas formas do Imperfeito). Ou seja, quando a necessidade foi criada, outras formas vieram resgatar a distinção entre o Indicativo e o Volitivo.

O texto de Steiner comprova, em princípio, a idéia de Labov, e se coloca em oposição às idéias de Guy. Como as divergências entre formalistas e funcionalistas não devem ser encaradas como questão de fé, penso que os textos de Steiner e Guy podem nos servir de estímulo para discussões mais proveitosas. Afinal, ambos os autores conhecem bastante o assunto do qual estão tratando.

O quinto texto desta seção é de Malcah Yaeger-Dror, Phonetic Evidence for the Evolution of Lexical Classes: The Case of a Montreal French Vowel Shift. Trata-se de um texto que lida com os princípios de mudança vocálica estabelecidos em LYS (1972), focalizando um caso do francês de Montreal, onde as vogais médias longas, que são instáveis, são examinadas em termos de seu condicionamento lexical no que se refere à sua dispersão no espaço fonético. O pano de fundo para a discussão deste caso é o trabalho de Labov (1981), no qual se aceita que alguns tipos de mudança vocálica tenham um caráter difusionista, avançando gradualmente pelo léxico, sem condicionamento fonológico. Nestes casos, há uma cisão numa classe de palavras, com algumas palavras mudando numa outra direção, enquanto as outras permanecem onde estavam. Yaeger-Dror se concentra nos casos que ela denomina de exceções lexicais (aquelas palavras que lideram a mudança de classe ou aquelas que resistem à mudança quando a maioria das palavras já mudou de classe). O caso examinado envolve o rebaixamento das vogais médias longas do francês de Montreal, onde ( E:), (O:/¿ ) e (O:/ I:) estão mudando de [e:i,O:¥, O:U], que são pronúncias ditongadas variáveis mais antigas, para as formas mais recentes [ Q:-i, A:¥, A:u], respectivamente. Estas mudanças seriam, na perspectiva de Labov (1981), mudanças de natureza neogramática, uma vez que acontecem dentro de uma mesma subclasse de vogais. Além disso, segundo Labov, quando temos uma "change from below" - e é este o caso em questão - a mudança é mais "natural" e menos propensa a mostrar condicionamento lexical. Contudo, após uma análise perceptual e uma análise acústica, Yaeger-Dror mostra que há um condicionamento lexical que complica a regularidade neogramática pressuposta para este caso. Por exemplo, no caso de ( E: ) a palavra guerre apresenta um percentual de não-rebaixamento de 61% entre os homens e 33% entre as mulheres, enquanto que a palavra terre apresenta um percentual de não-rebaixamento de 28% entre os homens e 0% entre as mulheres! Fica claro que as mulheres lideram (e, em alguns casos, já completaram) o processo de rebaixamento. Mas fica claro, também, que algumas palavras, como terre, já migraram para outra classe, enquanto que outras palavras, como guerre, são mais conservadoras. A mesma diferença pode ser vista, em relação ao não-rebaixamento, em pares como:

entre outros. O texto de Yaeger-Dror acaba sugerindo algo que já foi proposto anteriormente (cf. Oliveira, 1991): todas as mudanças são, em seu estágio inicial, lexicalmente condicionadas, embora possamos ter efeitos regulares (neogramáticos) a longo prazo.

Em seguida Yaeger-Dror se volta para a questão mais complicada de todas: o que é que pode influenciar o condicionamento lexical, i.é, o que é que expõe ou protege uma palavra em relação a uma mudança? Tentando responder a esta pergunta, Yaeger-Dror descarta, como fatores condicionantes do rebaixamento das vogais médias longas, a freqüência da palavra e a sua etimologia. A sugestão de Yaeger-Dror, como fator condicionante, vai na direção do campo semântico, uma sugestão, aliás, já antecipada em Krishnamurti (1978), num texto não mencionado pela autora.

O texto de Yaeger-Dror é bastante interessante. Ele coloca em foco, novamente, o modelo da Difusão Lexical como alternativa para se entender a mudança lingüística. Muito embora Labov (1981) tenha tentado acomodar os dois modelos de mudança, o neogramático e o difusionista, seu trabalho mais recente (cf. Labov, 1994) faz uma opção clara pelo modelo neogramático. O caso tratado por Yaeger-Dror não oferece apenas uma abordagem alternativa; oferece, isto sim, uma abordagem necessária já que o modelo neogramático e as previsões de Labov (1981) acabam não se sustentando internamente.

O último texto da segunda seção é de Philip Franz Seitz e Matthew Lennig, Phonological Rule Set Complexity in a Very Large Vocabulary Word Recognition System. Trata-se de um texto que toma como problema básico a construção de sistemas de reconhecimento automático de fala (SRAF). Neste caso, qual é a função de um lingüista? Que tipo de informação ele pode fornecer para que um sistema deste tipo funcione com mais eficácia? Concentrando-se nos dicionários dos SRAF, os autores consideram duas possibilidades: ou o dicionário é montado em termos de palavras completas, ou ele é montado em termos de unidades menores do que as palavras. No primeiro caso, o sistema se torna extremamente custoso se o vocabulário considerado for grande. Já no segundo caso temos o problema oriundo da variação de pronúncia das palavras, que deverão ser adequadamente especificadas por mais de uma seqüência de unidades (menores do que as palavras). Para tanto, será necessária uma fonologia que estabeleça os conjuntos destas unidades menores que representem palavras, envolvendo dois estágios: ( 1 )- a especificação das formas básicas para a pronúncia das palavras, a partir das quais as variantes de pronúncia possam ser derivadas por regra, e ( 2 )- a especificação das regras fonológicas que derivem as variantes de pronúncia, e somente elas. Estes dois estágios caracterizam o componente fonológico de um SRAF, que nos dará, em princípio, as formas de superfície. O dicionário, por sua vez, consistirá destas formas de superfície, de sua representação ortográfica e do mapeamento de uma na outra.

Voltando-se para a questão propriamente lingüística, a pergunta dos autores é a seguinte: qual é o tipo de componente fonológico adequado à construção de um SRAF? E para responder a esta pergunta, os autores consideram 3 tipos de componentes fonológicos. Os 3 são idênticos em termos de suas formas básicas, diferindo na quantidade de detalhes que as regras fonológicas incorporam. No primeiro, as formas básicas são mapeadas nas formas de superfície; no segundo, as principais variações de pronúncia são especificadas; e no terceiro, o nível de detalhe das variações de pronúncia é máximo. No primeiro caso não há regras; no segundo caso trabalha-se com 4 regras; no terceiro caso trabalha-se com 11 regras. A partir de um experimento que foi conduzido pelos autores, foi possível constatar que, no geral, não havia diferença entre os 3 modelos em termos do reconhecimento de palavras. Contudo, quando os erros foram observados, constatou-se que a diferença crucial se situava entre o primeiro modelo (forma básica = forma de superfície) e os outros dois. Descartado o primeiro modelo, e não havendo diferenças significativas em termos dos resultados obtidos pelos modelos 2 e 3, os autores concluem que o componente fonológico de um SRAF deve levar em conta apenas as variações mais importantes (no caso do inglês, ( a ) a fusão entre / A / e / I / ; ( b ) a redução de vogais átonas a [ « ] em sílabas iniciais; ( c) / tr / Þ [ tSr ] e / dr / Þ[ dZr ] ; ( d ) Æ Þ [ y ] diante de / u / precedido de consoante apical ou palatal, e.g. [ tun ] ~ [ tyun ] ), desprezando os outros casos (listados na pg. 299).

O texto em questão mostra qual é o papel do lingüista em áreas como a da construção de SRAF. E mais, sugere um tipo específico de lingüista, aquele voltado para o exame de dados que não excluam a variação.

A terceira seção da coletânea é dedicada ao estudo do Inglês Afro-Americano (IAA) e dos crioulos de base inglesa. Nesta seção, todos os textos retomam pontos desenvolvidos por Labov, seja em termos de seus trabalhos sobre o IAA, principalmente as questões envolvendo a cópula, seja em termos de suas propostas teóricas, colocadas em vários pontos de sua obra. Esta seção, embora pequena, demonstra, como as anteriores, a importância do trabalho de Labov, que acaba servindo, inclusive, como ponto de partida para novas áreas dentro da lingüística (cf. texto de Baugh).

O texto de abertura é de Derek Bickerton, The Origins of Variation in Guianese, que tem como ponto de partida o trabalho de Weinreich, Labov & Herzog (1968). A idéia principal, da qual Bickerton parte, é a de que a variação sincrônica e a mudança diacrônica estão intimamente relacionadas, sendo que a variação sincrônica muitas vezes reflete algum tipo de mudança. Uma das primeiras preocupações de Bickerton era, exatamente, a de explicar o enorme volume de variação encontrado no crioulo da Guiana, variação esta que poderia ser vista como uma espécie de continuum que ia desde uma variedade muito próxima do inglês padrão (exceto por algumas nuances fonológicas) até variedades radicalmente diferentes e incompreensíveis para um falante do inglês padrão. Este continuum foi objeto de estudo de Bickerton em vários trabalhos importantes publicados na década de 70 (cf. Bickerton, 1971, 1973 e 1975). Nestes estudos, seguindo o modelo proposto em Weinreich, Labov & Herzog (1968), Bickerton havia analisado a grande variação no continuum como sendo resultante de uma série de eventos históricos envolvendo, de um lado, o crioulo, diferente e separado do inglês e, de outro lado, o inglês. Falantes do crioulo, estimulados pela mobilidade social, iriam mudando sua fala, em graus diferenciados, na direção do modelo estabelecido pelo inglês. Outros estudiosos, como DeCamp (1971), também pensavam do mesmo modo, o que acabou originando um modelo explanatório no qual o continuum era gerado, por assim dizer, de baixo para cima, do crioulo inicial, basiletal em direção ao inglês, resultando numa forma acroletal, descrioulizada.

No texto que estamos focalizando aqui, Bickerton propõe uma revisão radical deste modelo inicial, prevendo a criação do continuum de cima para baixo. Na verdade, a semente desta idéia se encontra no trabalho de Alleyne (1971). Basicamente, o quadro teria sido o seguinte: no estágio inicial de colonização, os escravos, que eram a minoria da população, teriam estado em melhores condições de aprender a língua dominante (o inglês); levas subseqüentes de escravos teriam tido um contato cada vez menor com os patrões, aprendendo a língua de segunda mão, com outros escravos; os escravos acabaram se tornando, eventualmente, a maioria da população. Resumindo, se o modelo anterior previa a existência de uma forma basiletal que se formou primeiro, seguida da formação de formas mesoletais que, por sua vez, foram seguidas de formas acroletais, o novo quadro de Bickerton prevê a criação inicial de uma forma acroletal, seguida da formação de uma forma mesoletal e, por fim, a formação de uma forma basiletal. Os primeiros escravos teriam aprendido razoavelmente bem a estrutura do inglês, o que teria servido de input para seus filhos, que desenvolveram as primeiras variantes acroletais do crioulo da Guiana. Daí em diante, cada geração teria como input uma forma mais distanciada do inglês, gerando as variantes mesoletais e, finalmente, as variantes basiletais.

Há uma série de fatos que apontam para a superioridade do novo modelo. Por exemplo, o novo modelo explica melhor o fato de a criação do continuum ter se dado em período tão curto (50 anos ou menos). Ele explica melhor, também, fatos estruturais que são um mistério no modelo tradicional, como a distribuição de did e doz do crioulo da Guiana que, sendo atribuídos ao empréstimo direto do inglês, não mostram distribuição semelhante nas duas línguas. Mas a evidência mais forte para a superioridade do novo modelo vem de estudos sobre os crioulos do francês nas ilhas Maurício e Reunião. Nas ilhas Maurício, os falantes nativos do francês superaram numericamente os escravos por pouco tempo, cerca de 7 anos, enquanto nas ilhas Reunião os falantes nativos do francês superaram numericamente os escravos por cerca de 50 anos e, como resultado, temos nas ilhas Maurício uma língua muito mais diferenciada do francês, em termos estruturais, do que nas ilhas Reunião (cf. Baker & Corne, 1982). A estes casos, Bickerton acrescenta ainda outras evidências provenientes do crioulo do Suriname.

O texto de Bickerton é um ótimo exemplo da integração entre evidência lingüística e evidência sócio-histórica para a análise dos fenômenos lingüísticos, um fato freqüentemente apontado no trabalho de Labov. A isto podemos acrescentar o fator aprendizado, ligando este texto ao texto de Trudgill.

O segundo texto da terceira seção é de autoria de Peter L. Patrick, The Urbanization of Creole Phonology: Variation and Change in Jamaican (KYA). A variável (KYA) indica a presença, no Crioulo Jamaicano ( CJ ) de um glide palatal após uma consoante velar inicial / k-, g- /, quando seguida de uma vogal baixa /a, aa/ numa sílaba acentuada, em posição inicial de palavras de até 3 sílabas. (KYA) só ocorre diante de vogais que são, hoje, um reflexo de vogais que, no séc. XVII eram baixo e anterior. Muito embora o CJ tenha fundido / a / e / I / em / a /, a palatalização só se aplica naquelas palavras que continham / a / no inglês do final do séc. XVII. Assim, cat / kyat / e cot / kat / só se distinguem pela palatalização no CJ. As questões que Patrick levanta são as seguintes: (1) Falantes do CJ que ocupam pontos diferentes do continuum utilizam-se dos mesmos mecanismos lingüísticos para distinguir as classes de palavras? (2) (KYA) é fonologicamente distintivo para todos os falantes? (3) No caso de (KYA) ser redundante ou obsoleto para alguns falantes, ele é utilizado para uma mudança lingüística socialmente motivada? (4) Qual é a relação entre as considerações funcionais que possam envolver traços lingüísticos e o uso destes traços para marcar distinções sociais?

Após uma breve discussão da história do (KYA) e de uma descrição sociolingüística de dois falantes (Rose, de orientação urbana, e Tamas, de orientação rural), Patrick apresenta uma análise de comportamento lingüístico destes falantes em termos de seis variáveis. Esta análise nos mostra uma diferença entre eles que é apenas quantitativa: Rose e Tamas apresentam em suas falas os mesmos traços do CJ, embora Rose os apresente em menor proporção. Ou seja, ambos se valem de uma mesma gramática, mas não a utilizam do mesmo modo.

Quanto ao processo de palatalização (KYA), tanto Rose quanto Tamas o aplicam na mesma classe de palavras, a classe-a, mas nunca em palavras da classe-o. Contudo, a maneira com que ambos utilizam o espaço fonológico não é a mesma: uma análise acústica revelou que Rose mantém as duas classes de palavras muito bem separadas quando se considera a vogal, enquanto Tamas 'mistura' as vogais das duas classes (classe-a e classe-o) num mesmo espaço fonológico. Assim, enquanto Rose produz formas como / kyat / 'cat' e / kI:l / 'call' , Tamas produz / kyat / e / ka:l /. Já nos casos em que a palatalização é variável, como diante de -r , em palavras como cart, Rose nunca palataliza, enquanto Tamas palataliza quase sempre (92%). Ou seja, (KYA) é um processo comum a todos os falantes do CJ, mas é usado em contextos diferentes conforme o ponto do continuum do CJ em que o falante se localize.

Estabelecidas as propriedades estruturais da palatalização, em termos de sua localização no continuum do CJ, Patrick se volta para os casos onde a variação é possível, valendo-se, para tanto, dos dados de 14 informantes. Os informantes em questão mostram variação na utilização de (KYA) em palavras da classe /a: / (broad-a, como em can't, e / a: / seguido de -r , como em cart). Patrick nos mostra que, nestes casos, (KYA) funciona como veículo de uma mudança lingüística socialmente motivada, estando a variação ligada a uma questão de orientação (rural vs. urbana, a este propósito, cf. texto de Eckert), e não a diferenças de classe. A orientação urbana deve ser entendida em termos de ambição social, alimentada pela educação, pelo meio urbano e pela fala de prestígio, sendo tudo isso favorecido pelos jovens. Dada uma orientação urbana forte, (KYA) vai cedendo lugar a formas sem palatalização, principalmente diante de -r , em que (KYA) é estigmatizado.

O texto de Patrick é importante na medida em que nos alerta para outras possibilidades de se caracterizar os correlatos sociais da variação lingüística. Basicamente, ele nos mostra que a definição utilizada para se caracterizar o status social nos centros urbanos norte-americanos, baseada em ocupação, educação e renda, nem sempre pode ser transportada para outras realidades.

Os textos 3 e 4 desta seção, Copula Variability in Jamaican Creole and African American Vernacular English: A Reanalysis of DeCamp's Texts, de autoria de John R. Rickford, e Contraction and Deletion in African American Vernacular English: Creole History and Relationship to Euro-American English, de Ralph W. Fasold & Yoshiko Nakano, respectivamente, tratam da questão da cópula no IAA.

O texto de Rickford analisa a cópula no CJ e no IAA, tomando como ponto de partida os dados contidos nos textos de DeCamp (1960) para o CJ. Rickford focaliza a questão da ausência da cópula e mostra que o IAA e o CJ são muito mais parecidos a esse respeito do que anteviam as análises anteriores de Holm (1976,1984), o que o leva a concordar com a hipótese de que o IAA seja uma forma descrioulizada de um crioulo anterior, tipologicamente semelhante ao CJ. O texto de Rickford é um ótimo exemplo de um princípio que Labov sempre repetia em suas aulas: qualquer análise quantitativa deve se basear numa análise qualitativa prévia que esteja livre de problemas de categorização. Assim, retomando as análises de Holm sobre os dados de DeCamp, Rickford nos mostra que algumas das classificações de Holm estavam equivocadas e que, corrigidos os erros de classificação, o quadro antevisto por Holm fica muito mais claro em termos das semelhanças entre o CJ e o IAA quanto à ausência da cópula. As palavras finais de Rickford resumem bem a sua mensagem: "...we cannot afford to neglect fundamental issues about how to define and count tokens of our variables, or we may see oases which turn out to be mirages, and we miss mountains that are literally staring us in the face".

O texto de Fasold & Nakano retoma a questão da contração e cancelamento de be no IAA. Conforme é sabido, a análise minuciosa que Labov (1969, 1972) faz do fenômeno prevê que o cancelamento das formas is e are seja precedido de sua contração, sendo várias as evidências oferecidas para esta proposta. A análise de Labov possibilitou, também, algumas generalizações sobre este processo. E são exatamente estas generalizações que os autores retomam para discutir a análise de Labov. As generalizações em questão são as seguintes: (1) o cancelamento de are no Inglês Euro-Americano (IEA) do sul dos Estados Unidos é uma conseqüência da vocalização de are; (2) as restrições gramaticais à contração e ao cancelamento no IAA são, em conjunto, idênticas às restrições impostas à contração na variedade não-padrão no IEA (principalmente quando se trata do ambiente seguinte a be); (3) o cancelamento de is e are é impossível no IAA exatamente em que a contração é impossível no IEA, e (4) a contração é favorecida por uma vogal precedente enquanto que o cancelamento é favorecido por uma consoante precedente.

A generalização (1) foi questionada por Wolfram (1974), mostrando-se insustentável. A generalização (2) foi alvo de uma reanálise por parte de Romaine (1982). Romaine propõe uma análise alternativa na qual as formas ausentes são, simplesmente, ausentes, como num crioulo, e não derivadas por cancelamento. As forma contraídas, por outro lado, resultam de um processo de contração, aplicado a formas plenas que, por sua vez, teriam sido inseridas. Portanto, onde Labov tem contração > cancelamento, Romaine tem inserção > contração. Fasold & Nakano não decidem por uma ou outra análise, de modo taxativo (muito embora tentem argumentar, num exercício de ginástica de possibilidades, em favor da análise de Labov), mas admitem que a proposta de Romaine enfraquece um pouco a generalização (2). As generalizações (3) e (4), por outro lado, não foram questionadas. Os autores mostram, contudo, que não há, para o ambiente gramatical seguinte a is/are (cf. generalização (2)), nenhuma hierarquia interna clara para a contração. Na verdade, os cálculos de regressão do programa Varbrul acabaram descartando este grupo de fatores por não contribuir significativamente no processo de contração, o que alinha o IAA com os crioulos.

O texto de Fasold & Nakano é, na verdade, uma comprovação da exatidão da análise que Labov fez deste fenômeno, análise esta que Rickford considera "a high point in his (Labov's) career...". E, de fato, o é.

O último texto desta seção - e do livro - é de autoria de John Baugh, Dimensions of a Theory of Econolinguistics. O título parece um tanto pomposo mas há razões para isso: Baugh, de fato, propõe algo novo e importante na lingüística.

Baugh propõe as bases para uma teoria da econolingüística, um novo campo de investigação que se situa entre, e se beneficia de, uma teoria econômica e uma teoria lingüística. Este campo de investigação se fundamenta em dois pontos básicos (e universais, segundo Baugh), freqüentemente negligenciados: (1) o comportamento lingüístico (fala e letramento) é um bem econômico e o seu uso indevido tem um impacto direto nas possibilidades econômicas futuras do indivíduo, e (2) o desenvolvimento lingüístico e o letramento são substancialmente determinados por circunstâncias sociolingüísticas.

Baugh argumenta que as categorias sociais comumente utilizadas na sociolingüística (sexo, idade, educação, ocupação, raça) não são adequadas para um diagnóstico sociolingüístico e propõe que se leve em conta, também, a história lingüística do informante. Baugh classifica, então, os falantes em três categorias lingüísticas: (a) falantes nativos do inglês padrão; (b) falantes nativos de uma forma não-padrão do inglês, e (c) falantes que não têm o inglês como língua nativa. Como as pesquisas educacionais demonstram que os falantes do tipo (a) têm mais sucesso na escola do que os outros dois, Baugh propõe que sejam procuradas as correlações entre as variedades lingüísticas dos indivíduos e outros aspectos de sua situação social.

Em seu texto, Baugh retorna aos informantes que ele havia entrevistado há 10 ou 12 anos, em Los Angeles, todos eles falantes do IAA (categoria (b)), com o objetivo de investigar a relação entre o desempenho e o desenvolvimento lingüísticos destes informantes e suas atividades econômicas. Quatro destes informantes são utilizados no texto de Baugh, com foco nos dados relativos à variação na cópula e à negação não-padrão. A questão a ser respondida era a seguinte: até que ponto a variação entre os afro-americanos corresponde ao seu status econômico? As evidências fornecidas por Baugh mostram uma relação inversa entre o envolvimento de um afro-americano com a cultura dominante (branca) e a sua utilização dos traços do IAA. É interessante observar aqui uma passagem do texto de Baugh (pg. 412): "It is important to note that if we had continued to examine the entire group of informants collectively, we would have masked the econolinguistic variation that is the primary object of these analyses". Esta passagem mostra, claramente, que o indivíduo é uma variável independente, e que a alegada homogeneidade do grupo, conforme quer Labov, pode acabar escondendo fatos importantes. Uma análise de grupo nunca teria fundamentado a proposta maior de Baugh (cf. Oliveira, 1992).

Baugh, ele mesmo um falante nativo do IAA e defensor da idéia de que os estudos lingüísticos desempenham um papel central no combate aos preconceitos contra as minorias, tira em seu texto algumas implicações sociais e educacionais muito importantes. Suas idéias, de fato, entram em ressonância, em vários pontos, com as idéias de Bourdieu (1991) e Coulmas (1992).

Uma palavra final: a grande variação temática dos textos contidos no volume resenhado refletem a, e se ancoram na, imensa obra de Labov. Dificilmente encontraremos alguém que tenha lidado, em lingüística, com tanta variedade de assuntos, e que o tenha feito com tanta competência. Neste sentido, o volume resenhado faz justiça ao trabalho de Labov.

(Recebido em junho de 1999. Aprovado em agosto de 1999)

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  • 1
    Devido aos vários problemas de edição que o volume em questão apresenta, esta resenha era, originalmente, muito maior. Por razões de espaço precisei reduzi-la a seu tamanho atual, procurando preservar apenas o que era absolutamente essencial para orientar a leitura do texto original.
  • 2
    Esta discussão fica um pouco difícil de ser seguida devido a falhas na Tabela 1 de Ferguson (pg. 175), que escaparam ao revisor. Passo, portanto, ao leitor as formas corretas para o Presente do Indicativo do verbo
    bindan : 1PS
    binde; 2PS
    bindest; 3PS
    bindeth; 1, 2 e 3 PP
    bindath.
  • 3
    Uma versão algo diferente do texto em questão chegou a ser publicada em 1993 (cf. Tarallo, 1993). Outras versões deste mesmo texto, em inglês e em português, também chegaram a circular entre os lingüistas brasileiros.
  • 4
    Ou verbos
    Hif³il, conforme está no texto, o que dificulta a vida do leitor.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Out 2000
    • Data do Fascículo
      1999

    Histórico

    • Aceito
      Ago 1999
    • Recebido
      Jun 1999
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