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Oncidium: a orquídea em expansão no cenário florícola

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Ronan C Colombo

Amplamente difundida em todos os continentes, as orquídeas se encontram entre as plantas mais desejadas pelos consumidores e apresentam alto valor agregado, podendo ser comercializadas em vasos ou na forma de hastes cortadas para decoração. Essas plantas, além de apresentarem flores exóticas e de cores vibrantes, têm maior durabilidade em relação a outras flores comumente encontradas em floriculturas e outros mercados. Contudo, a degradação dos habitats naturais e a ampla coleta predatória têm levado muitas dessas espécies à ameaça de extinção.

O gênero Oncidium sp. é um dos maiores gêneros da família Orchidaceae. Nativo do continente americano, apresenta distribuição dos Estados Unidos à Argentina, com grande expressividade no Brasil, que concentra cerca de um terço das espécies válidas. Os oncidiuns são classificados como ervas epífitas, na sua maioria, mas podem ocorrer espécies terrícolas e rupícolas; com pseudobulbos desenvolvidos, mas que podem estar ocasionalmente reduzidos em tamanho; folhas em número de um a três crescendo a partir do ápice do pseudobulbo; inflorescência racemosa ou panícula, florífera, compartilhando características com os gêneros Miltonia Lindl. e Odontoglossum Humboldt, Bonpland & Kunth. Em relação ao número de espécies validadas para o gênero, existe discrepância entre autores; porém, estima-se que existam entre 300 a 350 espécies e centenas de híbridos, sendo esses os mais importantes do ponto de vista comercial.

A hibridação em oncidiuns pode ser intragenérica, quando os parentais são oncidiuns de espécies distintas ou intergenéricas, quando o cruzamento se dá entre um Oncidium e uma orquídea de outro gênero afim. Dessa forma, os híbridos intergenéricos compreendem a 'Aliança Oncidium', aqui representada pelos principais cruzamentos: Alieceara (Brassia x Miltonia x Oncidium), Beallara (Brassia x Cochlioda x Miltonia x Oncidium x Odontoglossum), Brassidium (Brassia x Oncidium), Burrageara (Cochlioda x Miltonia x Oncidium x Odontoglossum), Colmanara (Miltonia x Odontoglossum x Oncidium), Miltonidium (Miltonia x Oncidium), Odontocidium (Odontoglossum x Oncidium) e Wilsonara (Cochlioda x Oncidium x Odontoglossum).

Apesar das centenas de híbridos e espécies de Oncidium, as orquídeas de maior expressividade no mercado mundial continuam a ser as Phalaenopsis híbridas, que representaram cerca de 305 milhões de vasos no ano de 2014, sendo o Brasil responsável pela produção de 7,8 milhões de vasos. No que se refere aos híbridos da 'Aliança Oncidium', as estatísticas são mais escassas, porém, estima-se que no Brasil sejam produzidos cerca de um milhão de vasos ao ano.

A produção de orquídeas no Brasil, dentre elas os oncidiuns, se concentra, em quase sua totalidade, no estado de São Paulo. No entanto, outros pólos de produção de orquídeas têm se consolidado no País, como em Minas Gerais e Bahia. Haja vista que essas plantas podem ser produzidas em pequenas áreas, quando comparadas a outras culturas agrícolas, os pólos produtores estão se fixando bem mais próximos aos grandes centros de distribuição e comercialização. Ademais, nessas regiões, há mais mão de obra disponível e os custos de produção acabam sendo reduzidos devido à redução das distâncias.

Outro ponto importante é o melhoramento genético com espécies nativas, que apresentam inflorescências atrativas e características agronômicas desejáveis, sendo esta uma importante estratégia para garantir melhor adaptabilidade das cultivares obtidas às condições brasileiras de cultivo. Ainda que não se explore muito as espécies brasileiras, é importante ressaltar o potencial desses materiais em programas de melhoramento genético de orquídeas, como o programa recorrente na Universidade Estadual de Londrina (UEL), que já lançou duas potenciais cultivares: Miltonidium Pomini UEL e O. sarcodes Lindl. x O. Aloha 'Iwanaga', apresentado à comunidade como Nova Cultivar em Horticultura Brasileira 33: 131-134, 2015. Com isso, é possível valorizar os materiais nativos e seus híbridos e importar menos materiais genéticos que, algumas vezes, não se adaptam às nossas condições de cultivo. Além disso, a promoção de programas locais pode alavancar outro setor da produção, as biofábricas de plantas, uma vez que a propagação das orquídeas é feita em condições assépticas e controladas. Também, é importante ressaltar que para a multiplicação de materiais híbridos e manutenção das suas características emprega-se técnicas de clonagem in vitro, e para isso, as biofábricas são indispensáveis.

Embora exista ampla diversidade de oncidiuns, apenas algumas espécies são exploradas comercialmente como plantas envasadas e para corte, dentre elas Oncidium varicosum Lindl., O. flexuosum Lodd. e seus híbridos; visto que essas cultivares apresentam como vantagem florescimento em praticamente todo o ano, exceto em períodos de invernos rigorosos. Tais cultivares são muito apreciadas, principalmente, no mercado de flor de corte, pois, as hastes são bem ramificadas e apresentam grande número de flores abertas e botões, concomitantemente. São popularmente conhecidas como chuva de ouro, devido à coloração amarela intensa de suas flores.

Com relação aos híbridos, as plantas mais exploradas são O. Aloha 'Iwanaga' e O. 'Sharry Baby', além de Beallara, Brassidium, entre outras. Por não existir um padrão oficial para a classificação e comercialização dessas plantas, os produtores acabam adotando como critério o número de hastes, de forma que, quanto mais hastes, mais valorizada é a planta.

Algumas dessas plantas também podem ser empregadas em paisagismo, visto que certas espécies e, ou, híbridos apresentam rusticidade e são de fácil cultivo, como a espécie brasileira O. baueri Lindl., que apresenta de uma a três hastes florais com um a três metros de comprimento, surgindo da base dos pseudobulbos, com mais de oitenta flores cada, de coloração amarela ouro e máculas castanhas.

Objetivando-se ampliar a literatura referente à propagação de orquídeas nativas e híbridas em grande escala e visando a produção comercial dessas como uma alternativa viável de agronegócio foram publicados pelo grupo da UEL os livros: 'Orquídeas: o Gênero Oncidium no Paraná', 'Produção de Orquídeas em Laboratório' e 'Cultivo de Orquídeas'.

Assim, verifica-se que o gênero Oncidium tem se consolidado entre as orquídeas mais populares e muitos avanços já estão sendo obtidos. Porém, temos uma flora, ainda, muito pouco explorada e estudada. Certamente, existam materiais promissores que possam ser comercializados como cultivares envasadas e, ou, para corte das hastes. Dessa forma, novos mercados podem ser abertos e podemos passar de importadores a exportadores; fortalecendo a floricultura brasileira, gerando empregos e divisas.

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    Ricardo Tadeu de Faria (engenheiro agrônomo, Dr. em Genética e Biologia Molecular, Universidade Estadual de Londrina, faria@uel.br)
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    Ronan Carlos Colombo (engenheiro agrônomo, doutorando em Agronomia na Universidade Estadual de Londrina, ronancolombo@yahoo.com.br).
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    As idéias aqui expressas e as informações apresentadas são de responsabilidade dos autores.
  • Errata

    No título do artigo da capa do volume 33 número 4, outubro a dezembro de 2015, onde se lê "Híbrido de Oncidium sarcodes x Oncidium aloha 'Iwanagawa'", leia-se "Oncidium: a orquídea em expansão no cenário florícola".
    In the title of the cover article in volume 33, n. 4, October-December 2015, where it is read "Hybrid of Oncidium sarcodes x Oncidium aloha 'Iwanagawa'", it should be read "Oncidium: the booming orchid in the floriculture scenario".

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2015
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